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1 ESTUDANTES ATENDIDOS PELO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC): uma reflexão necessária. Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos 1 Kátia Valéria Nunes de Morais 2 Resumo Este trabalho é fruto de um levantamento exploratório preliminar junto às fichas de inscrição e aos questionários de visitas domiciliares dos candidatos deferidos e incluídos no Programa de Residência Universitária da UFC, no ano de 2013. Tal proposta objetiva apontar o perfil do estudante residente e inferir sobre a importância da assistência estudantil para a permanência e êxito no percurso acadêmico. Além disso, tem o intuito de suscitar o debate acerca das ações que possam fortalecer a política de assistência estudantil na UFC, no sentido de atender as reais necessidades do estudante. Palavras-chave: assistência estudantil, ensino superior, vulnerabilidade social Abstract This work is the result of a preliminary exploratory survey together with the registration forms and the questionnaires of home visits of the candidates accepted and included in the UFC University Residency Program, in the year 2013. This proposal aims to show the profile of the resident student and infer about the importance of student assistance for the permanence and success in the academic course. In addition, it aims to raise the debate about the actions that can strengthen the student assistance policy in the UFC, in order to meet the real needs of the student. Keywords: Student assistance, higher education, social vulnerability 1 Doutora em Ciências Sociais. Assistente Social na Universidade Federal do Ceará (UFC). [email protected] 2 Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Graduanda em Serviço Social na Universidade Estadual do Ceará (UECE). [email protected]

ESTUDANTES ATENDIDOS PELO PROGRAMA DE … fileGeórgia Patrícia Guimarães dos Santos1 ... Ceará (UECE). [email protected]. 2 Introdução A Universidade Federal do Ceará

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ESTUDANTES ATENDIDOS PELO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC): uma reflexão necessária.

Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos1 Kátia Valéria Nunes de Morais2

Resumo

Este trabalho é fruto de um levantamento exploratório preliminar junto às fichas de inscrição e aos questionários de visitas domiciliares dos candidatos deferidos e incluídos no Programa de Residência Universitária da UFC, no ano de 2013. Tal proposta objetiva apontar o perfil do estudante residente e inferir sobre a importância da assistência estudantil para a permanência e êxito no percurso acadêmico. Além disso, tem o intuito de suscitar o debate acerca das ações que possam fortalecer a política de assistência estudantil na UFC, no sentido de atender as reais necessidades do estudante. Palavras-chave: assistência estudantil, ensino superior, vulnerabilidade

social Abstract

This work is the result of a preliminary exploratory survey together with the registration forms and the questionnaires of home visits of the candidates accepted and included in the UFC University Residency Program, in the year 2013. This proposal aims to show the profile of the resident student and infer about the importance of student assistance for the permanence and success in the academic course. In addition, it aims to raise the debate about the actions that can strengthen the student assistance policy in the UFC, in order to meet the real needs of the student. Keywords: Student assistance, higher education, social vulnerability

1 Doutora em Ciências Sociais. Assistente Social na Universidade Federal do Ceará (UFC). [email protected]

2 Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Graduanda em Serviço Social na Universidade Estadual do

Ceará (UECE). [email protected]

2

Introdução

A Universidade Federal do Ceará (UFC), criada em 1954, é composta

atualmente por sete campi – três em Fortaleza (Benfica, Pici e Porangabussu) e os

localizados nos municípios de Sobral, Quixadá, Cratéus e Russas. Considerando os dados

de 2014, divulgados no site da Instituição, o Anuário Estatístico de 2015 registra que 25.719

estudantes estavam matriculados entre os 103 cursos presenciais de graduação3 (74

bacharelados, 27 licenciaturas e 01 tecnólogo). No ano de 2014, foram 5.339 ingressantes

via Sistema de Seleção Unificado (SiSu).

Em 2011, a UFC foi pioneira na adoção integral ao SiSU, o que para a Instituição

significou uma efetiva ação na busca da democratização do acesso ao ensino superior,

destacada em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (2013-2017)4. Tal documento

ressalta uma proposta acerca dos compromissos sociais por meio da política de inclusão

social, do programa de assistência estudantil e dos projetos de extensão universitária.

Sobre a assistência ao estudante, a UFC tem buscado seguir as orientações

propostas pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil- PNAES (Decreto n.º7.234, de

19/07/2010), instituído pelo Ministério da Educação (MEC), cujos objetivos visam ampliar as

condições de permanência dos estudantes no ensino superior, minimizando os efeitos das

desigualdades sociais, que possam dificultar a permanência na vida acadêmica.

De acordo com o PNAES, há dez áreas prioritárias para a assistência estudantil:

moradia estudantil; alimentação; transporte; saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche;

3 Disponível em http://www.ufc.br/a-universidade/ufc-em-numeros/6906-dados-basicos-2014. Acesso em 07 out.

2016 4 http://www.ufc.br/images/_files/a_universidade/plano_desenvolvimento_institucional/pdi_ufc_2013-2017.pdf

Acesso em 09/11/2013.

3

apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação. O Programa

estabelece que essas ações atenderão aos estudantes matriculados em cursos presenciais

de graduação, que deverão ser selecionados, sobretudo, por critérios socioeconômicos.

Logo, o Plano de Desenvolvimento Institucional (2013-2017) indica que:

A UFC atualmente contempla ações nas áreas de moradia, alimentação, apoio pedagógico, esporte, assistência à saúde e de acessibilidade que beneficiam, diretamente, estudantes vinculados ou não aos programas de assistência estudantil. Os estudantes vinculados aos Programas de Residência Universitária, Auxílio-Moradia, Restaurante Universitário (RU), Bolsa de Iniciação Acadêmica, Apoio Pedagógico e Assistência à Saúde são o foco principal das ações da PRAE. Ações nas áreas de cultura, esporte e acessibilidade são também desenvolvidas pela PRAE e por outras unidades da UFC, sempre focando as necessidades dos estudantes (UFC, 2012, p. 37).

Vale destacar, considerando o Anuário Estatístico de 2015, que no ano de 2014,

a UFC abrangeu 1.200 estudantes com a Bolsa de Iniciação Acadêmica; 870 beneficiários

do Programa de Moradia Estudantil (residência universitária, auxílio moradia no interior e em

Fortaleza), somando-se a 902 Bolsas na área do desporto.

Destas ações nos interessa concentrar a análise no Programa de Residência

Universitária da UFC, tendo em vista a busca do aumento de vagas, com a construção de

novas casas5, bem como a necessidade de melhorias na infraestrutura dos imóveis

existentes. Atualmente, a Instituição conta com 11 residências universitárias, que totalizam

438 vagas. Este trabalho, portanto, é fruto de um levantamento exploratório, realizado de

modo preliminar em 2013, junto às fichas de inscrição e aos questionários de visitas

domiciliares dos candidatos deferidos e incluídos no Programa de Residência Universitária

da UFC. Tal proposta objetiva apontar o perfil do estudante residente e inferir sobre a

importância da assistência estudantil para a permanência e êxito no percurso acadêmico.

Além disso, tem o intuito de suscitar o debate acerca das ações que possam fortalecer a

política de assistência estudantil na UFC, no sentido de atender as reais necessidades do

5 Em 2011 houve a inauguração de um prédio com capacidade para 198 estudantes, no Campus PICI-Fortaleza

e já se encontra em andamento a construção de duas residências no Bairro Benfica (Fortaleza) com capacidade total para 119 estudantes.

4

estudante, buscando como diretriz a universalidade de atendimento nos benefícios e

serviços sociais e não a seletividade meramente por critérios de renda per capta.

Residentes: quem são e de onde vem?

O Programa de Residência Universitária (PRU) é parte integrante da Pró-Reitoria

de Assuntos Estudantis - PRAE6 da UFC e visa atender aos estudantes provenientes do

interior do Ceará ou de outros Estados, que estejam cursando prioritariamente a primeira

graduação; que não tenham núcleo familiar morando na capital cearense, além de

apresentarem condição socioeconômica insuficiente para sua manutenção.

Conforme indicado na Tabela 01, o PRU em 2013 atendeu 402 estudantes dos

cursos de graduação presencial dos Campi de Fortaleza, dentre eles 104 foram deferidos e

incluídos no Programa nos dois processos seletivos realizados em 2013.

Tabela 01 – Capacidade e Lotação das Residências Universitárias

Endereço Residência Capacidade Gênero Lotação

Av. da Universidade, 2635 REU 2635 21

Masculinas

15

Av. da Universidade, 2133 REU 2133 22 19

Av. Carapinima, 1601 REU 1601 10 09

R. Waldery Uchoa, 140 REU 140 12 07

R. dos Remédios, 148 REU 148 06 06

R. Justiniano de Serpa, 433 REU 433 30 Mistas

26

R. Paulino Nogueira, 125 REU 125 76 76

R. Abdenago Rocha Lima, 420 REU PICI7 198 188

Av. da Universidade, 2216 REU 2216 38 Femininas

33

R. dos Remédios, 250 REU 250 06 06

R. Manuelito Moreira, 25 REU 25 19 17

TOTAL 4388 402

FONTE: Divisão de Gestão de Moradia-DIGEM/PRAE/UFC. Levantamento realizado em nov./2013.

6 A PRAE é composta por três Coordenadorias – Assistência Estudantil, Restaurante Universitário e Desporto. A

Coordenadoria de Assistência Estudantil (CASE) tem sob sua gestão três Divisões, quais sejam: i) de Gestão de Benefícios (DIGEB); ii) de Atenção ao Estudante (atendimento Psicológico e Psicopedagógico); iii) de Gestão de

Moradia (DIGEM). Esta última é responsável pela seleção e acompanhamento social dos beneficiários com a residência universitária. Acessar: www.prae.ufc.br 7 Vale esclarecer que da capacidade das vagas existentes na REU PICI, duas são destinadas a pessoas com

deficiência e oito estão reservadas para hospedagens eventuais aos próprios alunos da UFC (não residentes) ou de outras universidades brasileiras e estrangeiras. 8 Cabe acrescentar que da lotação total, nove estudantes encontravam-se, no momento deste levantamento, em

intercâmbio em outros países, por meio do Programa Ciências Sem Fronteiras.

5

O levantamento preliminar sobre o perfil dos estudantes atendidos pelo PRU

retrata aspectos gerais, tais como situações de vida pessoal e familiar assim como

antecedente escolar. Em alguns indicadores, buscou-se centrar as análises especificamente

nos ingressantes em 2013, como os que se refere à renda per capita.

Primeiramente, aponta-se que da lotação total contamos com um número

significativo de estudantes residentes do gênero masculino (57,7%) em comparação à

quantidade de mulheres (42,3%). Esta configuração persiste quando tratamos apenas dos

ingressantes em 2013, dos quais: 63,5% são homens e apenas 36,5% são mulheres. Este

dado pode ser reflexo de dois principais fatores, quais sejam: 1) em 2011, os homens

representaram 54,42% das matrículas na UFC enquanto as mulheres 45,58%. Em 2014,

essa proporção se manteve, dos matriculados 53,65% eram homens e 46,35% mulheres,

conforme os Anuários Estatísticos de 2012 e 2014; 2) a residência universitária requer uma

maior autonomia e independência afetiva do estudante em relação à família, as vezes

inibida, no caso das mulheres, em virtude da cultura machista, ainda vigente em nossa

sociedade. A família cujo modelo permanece patriarcal tende a postergar a saída da mulher

de casa ou a mantê-la em ambientes mais próximos ou de maior confiança familiar.

Logo, a análise do perfil do residente sobre a perspectiva de gênero abre um

questionamento quanto à necessidade de políticas públicas estruturais de fortalecimento

das mulheres na Educação. No sentido de ampliar as condições materiais que assegurem

seu acesso e permanência no ensino superior, buscando compreender e transformar os

mecanismos socioculturais sutis, subjetivos, que vem contribuindo historicamente para a

reprodução das desigualdades de gênero.

Entre a faixa etária e o gênero dos ingressantes no PRU, em 2013, a maioria

estava com idade entre 18 a 21 anos (63,5%), apontando que não houve distorção

significativa entre a idade e o nível de escolaridade. Pelo Gráfico 01 apreende-se que entre

as mulheres, a faixa etária predominante foi de 18 a 19 anos (42,1%) enquanto os homens

estavam na idade entre 20 e 21 anos (34,8%).

6

Verificou-se que os 402 residentes estavam inseridos em um universo de 50

cursos de graduação da UFC. O Gráfico 02 revela que 65,9% deles estudavam nos cursos

dos Centros de Agrárias, Humanidades e Ciências; em contrapartida os cursos com menor

número de residentes (2,7%) localizam-se nas unidades acadêmicas do Labomar, da

Faculdade de Direito e da Faculdade de Medicina e Fisioterapia.

Os cursos de Letras (incluindo as diferentes línguas) e Agronomia receberam a

maior parte dos residentes: 59 e 47 estudantes, respectivamente, somando 26,4% dos

residentes. Em seguida, têm-se os cursos de Pedagogia (22 residentes), Geografia (21),

Economia Doméstica (21), Matemática (18), Química (18), Educação Física (13) e Ciências

Econômicas (11). Na área da saúde, cujos cursos são vistos como de elevada concorrência,

7

o PRU contemplou em 2013, 09 alunos da Farmácia; 07 da Enfermagem; 01 da Fisioterapia;

da Odontologia e Medicina, foram 03 residentes em cada um desses cursos.

Estes dados contribuem para subsidiar a localização da construção de novas

residências. Vejamos que dos nove primeiros cursos referidos anteriormente, seis são

ofertados no Campus do Pici. Do total dos estudantes contemplados no PRU em 2013, 56%

estudavam neste Campus; 37,1% no Benfica; 5,7% no Porangabussu e 1,2% no Labomar.

Além disso, 49,4% das residentes do gênero feminino estudavam no Campus do Benfica

enquanto 64,2% dos homens residentes estudavam no Campus do Pici (gráfico 03).

Dos 214 estudantes que moravam nas residências situadas no Bairro Benfica,

47 deles, ou seja, 21,9% estudavam no Campus do Pici. Uns, por opção, permaneceram

morando em um bairro distante do campus onde estuda; com outros, isso ocorreu por falta

de vagas na REU PICI para transferência. Uma parte dos residentes considera o Bairro

Benfica melhor para mobilidade urbana e com equipamentos sócio-culturais mais

significativos para o segmento juvenil. Outros prefeririam, se houvesse possibilidade,

priorizar o menor deslocamento à faculdade, morando no próprio campus onde estuda.

Estes aspectos devem ser considerados quando do planejamento das ações de

assistência estudantil, sobretudo, no que envolve a infraestrutura para moradia, cultura,

lazer e esporte. Haja vista que uma das principais queixas dos residentes que moram no

8

Campus do PICI é a ausência de atividades e equipamentos de entretenimento na própria

residência e/ou em suas proximidades.

No que diz respeito à minimização do desconforto com o deslocamento entre as

moradias e os locais dos cursos, a UFC implantou desde junho/2013 o sistema de

transporte gratuito realizando o trajeto circular Pici-Porangabuçu-Benfica-Pici diariamente,

das 8hs às 18hs9. No entanto, é necessária uma avaliação a fim de apontar se este serviço

tem atendido as demandas dos estudantes e quais ajustes devem ser propostos.

Um dos principais critérios para o estudante se inscrever no processo seletivo ao

PRU-UFC é não ter núcleo familiar morando em Fortaleza, assim, 94,3% dos residentes, no

ano de 2013, eram oriundos de outros municípios cearense. Todavia, 0,7% deles eram de

Fortaleza10 e apenas 5% vieram oriundos de outros estados, como ilustrado pelo gráfico 04.

Dentre estes últimos, tem-se que 60% são da região nordeste (Bahia, Rio Grande do Norte,

Piauí e Maranhão), 15% do norte (Pará) e 25% proviam do sudeste (São Paulo).

Do total de residentes, a maioria tem núcleo familiar nos municípios de Apuiarés

(11,4%) e Pentecoste (10,9%), localizados na Macrorregião Litoral Oeste do Ceará11, que

abrange 27 municípios, dos quais 17 contam com estudantes residentes na UFC. Vale

mencionar, que nestes dois municípios citados desenvolve-se uma das ações de extensão

universitária da UFC, o Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE), o qual

tem contribuído para o ingresso de estudantes carentes nas universidades cearenses12.

9 Ver http://www.ufc.br/noticias/noticias-de-2013/3744-professores-e-servidores-tecnicos-podem-utilizar-sistema-

de-onibus-entre-os-campi Acesso em 10/11/2013. 10

Cabe esclarecer que estes estudantes, apesar de serem oriundos da própria capital, encontram-se nas seguintes situações: os pais, ou pelo menos um deles, já faleceram; os pais são separados, um não mantém contato com os filhos, o outro mora no exterior. 11

A lei complementar n.º 12.896/1999 estabeleceu oito macrorregiões de planejamento, que compõem o Estado

do Ceará, conforme o Instituto de Pesquisas e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Ver: http://www2.ipece.ce.gov.br/estatistica/perfil_regional/Perfil_Regional_R2_Litoral_Oeste_2012.pdf Acesso em 09/12/2013. 12

Ver http://www.prece.ufc.br/?page_id=368 Acesso em 11/11/2013.

9

Em 2013, a Região Metropolitana foi a segunda macrorregião cearense com

maior número de estudantes contemplados com o PRU-UFC, no qual 71% concentravam

sua origem familiar nos municípios de Cascavel (17 residentes), Aquiraz (12), Horizonte

(15), Maranguape (15) e Maracanaú (10).

Outro fator, que contribui para a caracterização do perfil socioeconômico do

estudante e é indicado como elemento prioritário junto ao PNAES13, refere-se ao tipo de

instituição na qual o aluno concluiu o ensino médio. Sobre esta questão, levantaram-se os

dados alusivos somente aos ingressantes no PRU em 2013, considerando como referência

o último ano do ensino médio. Assim, o gráfico 05 demonstra que 79,8% dos novos

residentes à época estudaram em escola pública; 11,5% em escolas privadas mediante

bolsa de estudos e 8,7% em instituições particulares.

Outro

fator relevante para nortear as ações socioeducativas e de cunho financeiro de assistência

ao estudante refere-se ao semestre em que ele está cursando a graduação,

simultaneamente, a sua entrada no Programa de Residência Universitária.

13

Art. 5o Serão atendidos no âmbito do PNAES prioritariamente estudantes oriundos da rede pública de

educação básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, sem prejuízo de demais

requisitos fixados pelas instituições federais de ensino superior (Decreto n.º 7.234, de 19 de julho de 2010).

10

O gráfico 06 revela que 51% dos ingressantes no PRU/UFC em 2013 estavam

no primeiro semestre do curso enquanto 25% encontravam-se no segundo e 24% cursavam

entre o terceiro e o oitavo semestre. Tal constatação sugere uma atenção prioritária para o

primeiro ano da graduação, sobretudo no que diz respeito aos esclarecimentos sobre os

direitos e deveres acadêmicos; à preocupação com a inserção em um ambiente universitário

que traz consigo uma maior liberdade e autonomia em relação à aprendizagem e busca de

novos conhecimentos e a toda situação propícia ao amadurecimento intelectual e emocional

deste estudante que, acima de tudo, enfrenta as transformações de um momento da vida

considerado de transição da juventude para a fase adulta. Assim, as ações que envolvem as

áreas da psicologia e da psicopedagogia tornam-se de suma importância.

A adaptação ao novo estilo de vida e ritmo de estudos pode não ser tão simples

assim. Sair de casa, ingressar na vida acadêmica, lidar com mudanças em si mesmo e se

adaptar ao curso são processos que trazem inquietações e frustações. Logo, não basta

apenas oferecer possibilidade de acesso ao ensino superior, mas é fundamental também

propiciar condições de permanecer nele – seja arcando com os custos de livros, de

refeições, de transporte, moradia, como com o próprio bem estar físico e mental.

Assim, um aporte financeiro nos semestres iniciais é traduzido como um apoio

institucional extremamente relevante, tendo em vista a impossibilidade de bolsas por mérito

acadêmico no período inicial do curso bem como os gastos com material didático (antes,

não previstos), que pesam no orçamento doméstico, uma vez que, como aponta o gráfico

07, estes residentes possui uma renda per capita familiar muito baixa.

11

Constatou-se que a renda per capita predominante entre os ingressantes em

2013 esteve entre R$ 169,51 a R$ 339,00 (entre ¼ do salário mínimo e ½ salário mínimo).

No geral, são 66,3% dos ingressantes no PRU em 2013 com renda per capita de zero a

meio salário mínimo. Somente 7,7% dos ingressos nesse período apresentaram renda per

capita acima de um salário mínimo. Logo, a família desse estudante não possui meios

financeiros suficientes para suprir a manutenção dele na universidade, a assistência

estudantil seria sua única alternativa. Portanto, além da moradia, o residente tem acesso

gratuito às três principais refeições no Restaurante Universitário e a um auxílio financeiro

para custear uma ceia noturna diária e a alimentação nos finais de semana e feriados14.

Para muitos deles, este auxílio é o único recurso para custeio de todas suas necessidades.

Sobre, ainda, a vulnerabilidade socioeconômica, identificou-se qual seria a

principal fonte de renda da família dos ingressantes em 2013 no PRU; quantas eram

beneficiárias do Programa Bolsa Família e quantas recebiam algum benefício da previdência

social (aposentadoria, pensão, auxílio doença, Benefício da Prestação Continuada-BPC).

14

O auxílio financeiro é variável e equivale ao valor de R$ 22,99 por cada dia do fim de semana e feriado;

acrescido de R$ 4,17 referentes a uma ceia noturna (“quarta refeição”) para todos os dias do mês.

12

O gráfico 08 revela que 44,2% das famílias estavam no Programa Bolsa Família

e que 24% recebiam algum benefício previdenciário. Em geral, as ocupações indicadas são

de pouca qualificação e baixa remuneração, havendo uma concentração de atividades da

zona rural. Quando a ocupação se mostra de nível superior, a maior parte concentra-se na

profissão de professor, geralmente com vínculo temporário ou público municipal, os quais

também oferecem condições precárias de trabalho e salários baixos15.

Com relação ao responsável financeiro pelo residente, ingresso em 2013,

verificou-se que o pai (38,5%) ainda se sobressaiu como o principal provedor da família;

seguido, pela mãe (30,8%); posteriormente, por ambos os genitores (11,5%).

Conforme mostra o gráfico 09, 18,3% dos ingressantes no PRU em 2013

dependem economicamente de outros membros da família, enquanto em um caso, o próprio

residente é responsável por seu sustento mediante uma bolsa da universidade.

Além desses indicadores, os estudos socioeconômicos realizados pela equipe

de técnicas do PRU-UFC (serviço social e pedagogia) informam variáveis valorativas que

15

Observou-se que para aumentar sua renda familiar, o/a provedor, cuja atividade exercida é de professor, tende a acumular vários contratos de trabalho e em municípios diferentes.

13

indicam as condições precárias ou insuficientes da infraestrutura do local de moradia

familiar, cujos imóveis foram, na maior parte, cedidos por parentes ou terceiros. Assim,

estas famílias, em sua maioria, dependem dos serviços e equipamentos sociais públicos em

geral, que quando ofertados são de péssima qualidade e de difícil acesso, inclusive, pela

escassez de meios de transporte e precariedade das estradas nos municípios interioranos.

Desta feita, em 2013 já se suscitava a urgência na ampliação das vagas nas

residências universitárias ou da implementação de outros benefícios no Campus Fortaleza,

semelhantes ao auxílio moradia implantado nos campi do interior. Fato este que veio a

ocorrer nos anos subsequentes (2014, 2015 e 2016), haja vista a superlotação das

residências universitárias. Atualmente, o edital para processo seletivo para as residências

universitárias prevê a inclusão de uma lista de espera com recebimento financeiro do auxílio

moradia temporário até o ingresso em uma residência.

O gráfico 10, a seguir, revela os momentos críticos entre a demanda e a oferta

de vagas nas residências universitárias, no período de 2006 a 2013.

Observa-se que, nos anos de 2007, 2008, 2010 e 2011, a UFC teve dificuldades

no atendimento à demanda estudantil por moradia. Em 2007, os estudantes excedentes no

processo seletivo ocuparam a Reitoria, por isso foi alugada uma casa (localizada na Rua

Major Facundo, n.º 2147) que abrigou 29 alunos até sua desativação em 2011, por ocasião

14

da inauguração da residência universitária no Campus do PICI. Em 2010, a Reitoria alugou

um imóvel (Rua Justiniano de Serpa, n.º 433), com vagas para 30 alunos, existente até hoje.

Reafirmando a necessidade de mais vagas nas residências, enquanto o gráfico

10 já apontava a possibilidade de um novo período de estrangulamento entre a oferta e a

demanda de vagas nas residências universitárias em 2014; o gráfico 11 apresenta um

crescimento de 35% no número de inscritos no processo seletivo entre 2009 e 2013,

reafirmando a urgência no aumento do número de residências universitárias.

Neste quesito, vale ressaltar que não estamos nos referindo a concessão do

auxílio financeiro para pagamento de aluguel, pois este torna-se um benefício muito mais

propício aos efeitos das ações políticas e econômicas de cada governo, sendo mais

vulnerável a cortes orçamentários; além de atender mais às necessidades da especulação

imobiliária local do que às do estudante, elevando os preços dos aluguéis, conforme

determina a lei da oferta e da procura no mercado capitalista.

Considerações Finais

A proposta deste estudo exploratório foi de apontar brevemente as condições de

vida dos estudantes, inseridos no Programa de Residência Universitária (PRU) da UFC, no

ensejo de subsidiar ações institucionais, indo ao encontro do objetivo 07 do Plano de

Desenvolvimento Institucional, qual seja:

Definir uma nova agenda de ações de assistência estudantil de modo a contemplar ao máximo as necessidades dos estudantes e levantar as

15

necessidades institucionais para atender à demanda (...) (PDI/UFC, 2012, p. 104).

O PRU-UFC é uma ação imprescindível para a permanência do estudante no

ensino superior, ao contemplar um público de alta vulnerabilidade socioeconômica. Das

solicitações deste benefício em 2013, menos de 20% dos inscritos foram indeferidos por

razões, tais como: suficiência de renda; omissão de informações; falta de documentação; e

incongruência entre as informações prestadas. Assim, é de suma importância o aumento

das vagas e a melhoria da infraestrutura das residências, além de uma maior atenção aos

residentes matriculados no primeiro ano letivo do curso, principalmente no que se refere ao

apoio financeiro e aos atendimentos psicológico e psicopedagógico.

Vários outros indicadores também devem ser pensados, para além do perfil

socioeconômico familiar, quais sejam: o impacto dessa política nas taxas de evasão e

retenção, na melhoria do rendimento acadêmico dos beneficiários, na heterogeneidade

social, cultural, étnica e de gênero entre os estudantes; a identificação de novos desafios na

relação docente-discente e a possibilidade de uma maior proximidade da universidade

pública e da formação acadêmica com a realidade social do país. Estes são apenas outros

caminhos que a pesquisa sobre a política de assistência estudantil pode seguir.

Referências Bibliográficas

IPECE/Ceará. Perfil Básico Regional 2012 – macrorregião litoral oeste.

UFC. Anuário Estatístico 2012 Base 2011. Fortaleza, Ceará.

PDI/UFC. Plano de Desenvolvimento Institucional (2013-2017). Fortaleza, Ceará.