ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO DA ÁGUA DE TRÊS.pdf

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    UNIVERSIDADE DO AMAZONAS

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

    MESTRADO EM QUMICA DE PRODUTOS NATURAIS

    ESTUDO FSICO-QUMICO DA GUA DE TRS

    IGARAPS DA REGIO DO DISTRITO INDUSTRIAL

    DE MANAUS - AM

    CRISTINE DE MELLO DIAS

    Dissertao apresentada Coordenao do

    Curso de Mestrado em Qumica de Produtos

    Naturais (UA), como parte dos requisitos para

    obteno do ttulo de mestre em Qumica de

    Produtos Naturais, rea de Concentrao em

    Qumica Ambiental.

    Manaus

    Estado do Amazonas - Brasil

    Junho/2001

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    UNIVERSIDADE DO AMAZONAS

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

    MESTRADO EM QUMICA DE PRODUTOS NATURAIS

    ESTUDO FSICO-QUMICO DA GUA DE TRS

    IGARAPS DA REGIO DO DISTRITO INDUSTRIAL

    DE MANAUS - AM

    CRISTINE DE MELLO DIAS

    Orientador: Dr. GENILSON PEREIRA SANTANA

    Dissertao apresentada Coordenao do

    Curso de Mestrado em Qumica de Produtos

    Naturais (UA), como parte dos requisitos para

    obteno do ttulo de mestre em Qumica de

    Produtos Naturais, rea de Concentrao em

    Qumica Ambiental.

    Manaus

    Estado do Amazonas - Brasil

    Junho/2001

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    DIAS, Cristine de Mello

    ESTUDO FSICO QUMICO DA GUA DE TRS IGARAPES DAREGIO DO DISTRITO INDUSTRIAL DE MANAUS (AM)

    Cristine de Mello Dias

    Manaus, FUA, 2001.

    Dissertao de Mestrado, 114 p.

    1. Qumica Ambiental 2. Distrito Industrial 3. Manaus/AM

    4. Igarap 5. E.A.A. 6. Metais Pesados

    SINOPSE

    Foram coletadas nos meses de maio, julho, setembro e novembro de 2000amostras de gua nos trs principais igaraps do Distrito Industrial de Manaus.

    Os resultados mostraram de uma maneira geral que esses igaraps esto com os

    valores de pH, temperatura e de concentrao de matria orgnica total alterados

    em relao aos igaraps naturais que compem o sistema hdrico de Manaus. Nos

    trs igaraps verificou-se tambm que os teores de alguns metais pesados (Zn,

    Ni, Cu, Mn, Fe, Pb e Cr) esto acima dos limites recomendados pela resoluo

    No 20 de 1986 do CONAMA. E as indstrias do Distrito Industrial so as

    principais responsveis pela contaminao dos trs igaraps.

    Palavras chave: Distrito Industrial, Manaus, gua, EAA, Igarap, Metais

    Pesados

    Keywords: Industrial District, Manaus, water, Stream, AAS, Heavy

    Metals

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    Dedico este trabalho:

    Aos meus pais Dias e Dulcy, pelo

    apoio e incentivo;Ao Ricardo pelo companheirismo

    e compreenso nas horas de

    ausncia.

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    Agradecimentos

    A Deus pela sua presena e pelo seu amor em todas as horas.

    Ao professor Dr. Genilson Pereira Santana, pela orientao, amizade e

    dedicao durante o desenvolvimento deste trabalho;

    minha famlia, pelo apoio fundamental e compreenso em todas as horas.

    Central Analtica da Universidade do Amazonas e aos estagirios Alzerina,

    Christiane, Fatimrison, Marcelo e Vera, pela ajuda no laboratrio e nas medidas de

    espectroscopia de infravermelho e espectrometria de absoro atmica;

    Embrapa e aos tcnicos Vitoriano e Concita pela utilizao do

    Espectrmetro de Absoro Atmica;

    Aos colegas do curso de Mestrado em Qumica de Produtos Naturais pela

    amizade e apoio durante todo esse perodo;

    A CAPES pela concesso do auxlio financeiro;

    Minha gratido a todos, que direta ou indiretamente, contriburam para arealizao deste trabalho;

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    Resumo

    As guas de trs dos principais igaraps do Distrito Industrial de Manaus foramestudadas, nos meses de maio, julho, setembro e novembro de 2000, sendo

    determinados o pH, temperatura, matria orgnica e alguns metais pesados. Em cada

    igarap foram retiradas 10 amostras de gua a 50 m de distncia, em mdia. As

    medidas de pH, temperatura e matria orgnica foram realizadas no dia da coleta nas

    amostras no filtradas. Os metais pesados Fe, Zn, Mn, Ni, Cd, Cr, Cu e Pb foram

    determinados por espectrometria de absoro atmica em amostras filtradas em

    filtro 0,45 m e no filtradas, sendo pr-concentradas 4 vezes. As funes orgnicas

    das estruturas qumicas do material particulados retido no filtro foram caracterizadas

    por espectroscopia na regio do infravermelho (IV). Os resultados indicam que cada

    igarap, devido atividade antrpica, tem suas propriedades fsicas e qumicas

    alteradas de modo particular. No Igarap 03 o valor de pH permaneceu em torno de

    6,00, a matria orgnica apresentou bruscas alteraes, com valores entre 1,52 e

    11,1 mg L-1

    . A temperatura variou bastante nos locais de despejo industrial. Quanto

    aos metais pesados, o Fe, Zn e Mn estavam presentes em todas as coletas, j o Ni,

    Cu, Cr, e Pb foram detectados somente na segunda coleta. No Igarap 04 as

    oscilaes de pH foram de 2,26 a 7,35 e a matria orgnica ao longo do Igarap no

    obedeceu a um comportamento padro. Os metais pesados estavam presentes

    praticamente em todas as coletas, com exceo do Cu, Cr e Pb que foram detectados

    esporadicamente. O Igarap 05 foi caracterizado por uma distribuio

    completamente aleatria dos parmetros analisados, tanto ao longo do Igarap

    quanto entre as coletas, com exceo da temperatura e das funes orgnicas do

    material particulado. O estudo do material particulado por IV mostrou a existncia

    de caulinita e matria orgnica em todos os Igaraps. Nos Igaraps 04 e 05 os

    espectros indicaram a presena de funes fenlicas e nitrogenadas.

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    Abstract

    The water of three main streams of the Industrial District in Manaus was

    analyzed during the months of May, July, September and November 2000. Ten

    samples of each stream were collected every 50 meters, in average.

    Determinations of pH, temperature, organic matter and heavy metals were

    performed and, with the exception of heavy metals analysis, all were analyzed at

    the same day of sampling, in non-filtered samples. The heavy metals Fe, Zn, Mn,

    Ni, Cd, Cr and Pb were determined by atomic absorption spectrometry in

    samples filtered in the filter 0,45 m and non-filtered, pre-concentrated four

    times. The organic functions of chemical structures of colloidal particles were

    studied by infrared spectroscopic (IR). The results show that each stream has its

    physical and chemical properties altered by anthropogenic activity. The organic

    matter ratio between 1.52 and 11.1 mg L-1

    . The temperature was highly near the

    industrial district. Fe, Zn and Mn were detected in all the samples and Ni, Cu, Cr

    and Pb were detected only during the second sampling. In the stream number 4

    oscillations of pH (2.26 up to 7.35) were observed and the organic matter values

    were not consistent to the expected pattern along the stream. The heavy metals

    were detected in all the analyzed samples with the exception of Cu, Cr and Pb

    that were sporadically observed. The stream number 5 is characterized by a

    random distribution of the analyzed parameters, with the exception of

    temperature and organic functions of colloidal particles, that have shown

    kaolinite and organic matter in all samples. Sometimes, fenolic and nitrogened

    groups were identified.

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    1. Introduo

    O monitoramento da contaminao em sistemas aquticos exige umacompanhamento constante, principalmente nas grandes cidades. A atividade,

    entendida como transformao de recursos naturais em bens teis sociedade,

    vem provocando impactos ambientais significativos, tanto como consumidora de

    recursos naturais no renovveis quanto como agente poluidor (CASTRO, 2000).

    Os reservatrios naturais vm sendo usados como depositrios de uma

    variedade de subprodutos, provenientes da atividade antrpica. A presena deelementos potencialmente txicos responsvel por efeitos adversos sobre o

    ambiente, com repercusso na economia e na sade pblica. A introduo de

    metais, particularmente nos sistemas aquticos ocorre naturalmente atravs de

    processos geoqumicos e da atividade humana, que reflexo de sua ampla

    utilizao pela indstria (YABE e OLIVEIRA, 1998).

    Os efeitos das alteraes das condies naturais de um ambiente aqutico so

    maiores em cidades como Manaus, cercadas por rios e igaraps. As conseqncias

    dessa poluio representam um grande risco sade pblica.

    No caso especfico de Manaus, os igaraps comearam a sofrer os impactos

    da urbanizao e modernizao da cidade a partir da metade do sculo XIX,

    especialmente com os aterros dos igaraps do centro da cidade. Os problemas de

    contaminao aumentaram com a criao da Zona Franca em 1967 devido ao

    fluxo migratrio oriundos de todas as partes do Brasil, resultando na expanso de

    novas reas de ocupaes urbanas, inclusive as margens dos igaraps (VALLE,

    1999).

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    Introduo

    A atividade industrial tambm foi intensificada s margens dos igaraps,

    principalmente prximo ao Igarap do Quarenta. Historicamente este Igarap vem

    sendo conhecido pela quantidade de moradores s suas margens e tambm pela

    quantidade de lixo domstico e despejo industrial no seu leito (BRANDO, 1999;VALLE, 1998; VALLE, 1999; SILVA, 1992; SILVA & SILVA, 1993 e SILVA,

    1996, etc).

    Portanto, desde 1992, o Igarap do Quarenta objeto de diversos estudos,

    no somente sob os aspectos sociais, mas tambm da qualidade do micro-

    ecossistema existente nesta regio. As principais concluses de muitos trabalhos

    publicados consideram o Distrito Industrial como foco de poluio por metais

    pesados. Restando identificar quais so os metais pesados que esto contaminando

    as suas guas e quais indstrias so responsveis por esse processo.

    As guas dos igaraps da regio do Distrito Industrial so o principal veculo

    de transporte desses elementos, pois os resduos lquidos e particulados so

    despejados em seus leitos, na sua maioria, sem qualquer tipo de tratamento.

    Uma das consequncias dessa contaminao que em alguns locais j noexistem mais a fauna e flora caractersticas da regio. Hoje, as espcies que

    sobrevivem acumulam em seus organismos alguma quantidade de metal pesado

    (CASTRO, 2000 e SILVA, 1992).

    Em 1998, foi iniciado um estudo mais aprofundado no Distrito Industrial de

    Manaus, com o objetivo de detectar o impacto da atividade antrpica nesta rea.

    Foram analisados os solos, guas, sedimentos e plantas (gramneas), cujos

    resultados mostraram que o micro-ambiente dessa regio est completamente

    alterado, com Pb, Cr e Ni distribudos em todas as matrizes estudadas (CASTRO,

    2000, SAMPAIO, 2000 e SANTOS, 2000).

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    Introduo

    Entretanto, esses estudos no realizaram um acompanhamento dos despejos

    desses rejeitos da sua periodicidade anual. Normalmente, foram feitas uma ou

    duas coletas em locais prximos ao Igarap do Quarenta.

    Sendo assim, os resultados apresentados nesta dissertao foram obtidos

    durante quatro coletas realizadas no ano de 2000, em trs igaraps localizados na

    regio do Distrito Industrial de Manaus.

    O objetivo deste trabalho foi identificar e determinar os nveis das possveis

    fontes de poluio, bem como atribuir tendncias nas mudanas de

    comportamento na estruturao industrial e contribuir para a implementao de

    tecnologias de controle da poluio.

    A escolha por esse tipo de metodologia foi baseada na importncia histrica

    da presena espcies metlicas em guas superficiais que alguns estudos vm

    demonstrando, possibilitando o modelamento de emisses e deposio para as

    estratgias de controle.

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    2. Reviso da Literatura

    Desde os primrdios a natureza vem passando por uma srie de modificaes

    para adequar aos processos pelos quais ela submetida. Dentre esses processos est

    a gua, que cobre quase toda a extenso da Terra (ADRIANO, 2001). Esse lquido,

    chamado solvente universal, possui propriedades fsicas e qumicas bem

    caractersticas. Devido elevada constante dieltrica, tem capacidade de reagir com

    inmeras substncias fazendo com que gua influencie diretamente nos processos

    biogeoqumicos, aquticos, atmosfricos, etc. (ANDREWS & KEGLEY, 1998).

    A acidez da gua um fator importante na avaliao da sua capacidade em

    neutralizar resduos alcalinos ou no tratamento de gua para alimentao de

    caldeiras. A solubilidade de muitos minerais aumenta se os valores de pH forem

    abaixo de 7,00, dependo da concentrao desses metais no ambiente aqutico pode

    ocorrer uma contaminao (MANAHAN, 1999).

    A variao de pH em ambientes aquticos pode resultar de cidos fortes ou

    fracos de origem natural ou antrpica. Um dos mais importantes cidos presentes no

    ambiente aqutico o cido carbnico. Este cido proveniente da dissoluo derochas carbonceas (calcrios), da dissoluo do CO2 da atmosfera e gerado pela

    respirao dos organismos (BAIRD, 1995).

    A alcalinidade natural geralmente provm de ons carbonatos, bicarbonatos e

    hidrxidos, segundo as seguintes reaes:

    HCO3- + H+ CO2 + H2O

    CO32- + H+ HCO3

    -

    OH- + H+ H2O

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    Reviso da literatura

    A capacidade de tamponamento em sistemas de guas naturais, em muitos

    casos, est diretamente relacionada s chuvas cidas. Alguns corpos dgua tm

    maior resistncia chuva cida do que outros. guas de reas de granito contm

    normalmente muito poucos sais dissolvidos que podem agir como tampes. Assim, agua tem baixa capacidade de tamponamento e pouco provvel que a acidez seja

    atribuda chuva cida. Por outro lado, guas correntes de reas calcreas podem

    neutralizar a acidificao devido elevada concentrao de carbonatos dissolvidos

    na gua (HOWARD, 1998).

    Em sistemas naturais, a habilidade da gua de armazenar calor e a energia

    requerida para sua evaporao exerce importante funo na preservao da

    temperatura dos corpos dgua. relativamente difcil alterar a temperatura da gua

    devido sua alta capacidade calorfica (4,19 kJ kg1 K-1) e temperatura de

    vaporizao (2.260 kJ kg-1) (HOWARD, 1998).

    O aumento da temperatura provoca um decrscimo da quantidade de gases

    dissolvidos na gua, principalmente o oxignio. Da o surgimento de bolhas de ar

    durante o aquecimento da gua, antes mesmo de entrar em ebulio.

    Os elementos trao so encontrados nos corpos dgua (Tabela 2.1). Muitos

    desses elementos no permanecem solubilizados por muito tempo, e so acumulados

    normalmente em sedimentos ou plantas. Para avaliar a poluio por elementos trao,

    necessrio verificar a concentrao, intervalo de tempo de introduo desses

    metais, a forma fsica e qumica em que eles se encontram na natureza (Tabela 2.2).

    Todos esses fatores inter-relacionados vo determinar as concentraes desses

    elementos nos sistemas aquticos, e sua disponibilidade relativa, distribuio etoxidade. Em termos de biodisponibilidade, o fator mais importante a forma

    qumica em que o elemento se encontra em soluo. A formao e a existncia de

    determinada forma qumica depende geralmente do pH, solubilidade, temperatura e

    da natureza das espcies qumicas (FIFIELD & HAINES, 1997).

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    Reviso da literatura

    Tabela 2.1.- Concentraes de elementos trao em gua pura, rios e oceanos.

    Concentrao (g dm-3)Elemento trao

    Lagos Rios Oceano

    Li 10 12 200B 10 10 5000Al 10 50 2Ti 5 10 1V 0,5 1 2,5Cr 1 1 0,05Mn 10 7 0,2Fe 500 40 2Co 0,05 0,2 0,02

    Ni 0,5 0,3 0,5Cu 3 5 2

    Zn 15 20 10As 0,5 2 3Se 0,2 0,2 0,1Br 15 20 7000Rb 1 20 120Sr 70 60 8000Mo 0,5 1 10Cd 0,03 0,02 0,1Sb 0,2 0,3 0,2I 2 10 60

    Cs 0,02 0,04 0,1Hg 0,07 0,007 0,03Pb 1 3 0,03

    Adaptada de FIFIELD & HAINES, 1997.

    Dependendo da forma qumica os elementos trao podem ser extremamente

    txicos, como o caso do crmio. O Cr6+ pode provocar cncer pulmonar ao

    contrrio do Cr3+

    que praticamente inerte (HUHEEY et al., 1993). Algunselementos trao tornam-se mais biodisponveis de acordo com o meio em que se

    encontram. O Pb um exemplo, sua concentrao nas guas do mar e dos rios

    muito baixa. Entretanto, em condies cidas, o Pb elementar pode ser liberado para

    o meio atravs da reao:

    2Pb + O2+ 4H+2Pb 2++ 2H2O

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    Reviso da literatura

    A absoro de Pb maior em guas contendo pouco bicarbonato de clcio

    devido acidez dessas guas, e particularmente porque guas duras contm nions

    formadores de sais de Pb insolveis, como PbCO3 e PbSO4. Os sintomas por

    intoxicao por Pb so anemia, anorexia, dores abdominais e distrbios no sistemaneurolgico (COX, 1995).

    Tabela 2.2 Espcies qumicas mais comuns encontradas em guas naturais

    Elementos Trao Espcies qumicasLi Li +

    B B(OH)3, [B(OH)4]-

    Al Al(H2O)6 3+Al(OH)4 -Cr Cr(OH)2(H2O)4

    +, CrO4-2, Cr3+, Cr6+

    Mn Mn2+, Mn2+SO42-, MnCl+

    Fe [Fe(OH)2]+, [Fe(OH)4]

    -

    Co Co2+

    Ni Ni2+Cu Cu2+, Cu(OH)+, Cu2+SO4

    2-, Cu2+CO32-

    Zn Zn(OH)+, Zn(OH)2, ZnCl+, ZnCl2, ZnCO3, Zn

    2+

    Se Se(IV), Se(VI)Rb Rb+

    Mo MoO42-

    Cd CdCl+,CdCl2, CdCl3+,Cd2+

    Cs Cs+

    Hg HgCl2, HgCl3-, HgCl4

    2-, HgOHCl, Hg(OH)2Pb Pb2+, PbCO3, PbCl

    +, PbCl2, PbCl3-, Pb(OH)+,

    Pb(OH)2, Pb(OH)3-, Pb(OH)4

    2+, Pb4(OH)44+

    Adaptada de FIFIELD & HAINES, 1997.

    Existem cerca de vinte elementos que em nveis de trao so consideradostxicos para os humanos, entre eles o Hg, Cd, Pb, As, Mn, Tl, Cr, Ni, Se, Te, Sb, Be,

    Co, Mo, Sn, W e V. Os 10 primeiros so utilizados na indstria e, por isso so os

    mais estudados do ponto de vista toxicolgico. Tais elementos reagem com

    macromolculas e com ligantes presentes em membranas. Essa propriedade permite

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    Reviso da literatura

    a bioacumulao desses elementos e provoca distrbios nos processos metablicos

    dos seres vivos (TAVARES & CARVALHO, 1992).

    Os primeiros metais identificados como sendo bioacumulativos e txicos por

    exposio ambiental foram o Hg, Pb e Cd, todos trs pesados. Portanto, todos os

    outros elementos apresentando tal comportamento foram enquadrados dentro desta

    terminologia (MATTHEWS, 1984). Fazendo com que muitos autores relacionassem

    o termo metal pesado com os efeitos txicos causados em plantas e animais.

    Sendo assim, o selnio (semimetal), o flor (ametal) e o alumnio (metal

    extremamente leve) foram classificados erroneamente como metal pesado; (LAKE,

    1987a e 1987b e EGREJA FILHO, 1993).

    Para ROUSSEAUX (1989), os metais pesados so aqueles que podem formar

    sulfetos insolveis na presena de H2S. Porm, Zn, Cr e outros classificados como

    metais pesados, no precipitam nessas condies (VOGEL, 1981). Existem ainda

    autores que definem esses elementos baseando-se na densidade. Segundo

    TAVARES & CARVALHO (1992), metal pesado aquele que apresenta alto peso

    especfico. COKER & MATTHEWS (1983) consideram metal pesado aquele cuja

    densidade superior a 5,0 g cm-3, totalizando aproximadamente 40 elementos.

    GARCIA, et al.(1990) estabelecem uma densidade mnima de 4,5 g cm-3para que o

    metal seja classificado como pesado.

    De qualquer forma, metal pesado no significa necessariamente metal txico,

    j que muitos so essenciais vida na terra, encontrando-se geralmente em

    concentraes naturais na faixa de ppm ou ppb. Outros no exercem nenhuma

    funo conhecida no ciclo biolgico e esto na faixa de ppb ou ppt. Entretanto, emambos os casos, a presena de concentraes de metais pesados, acima das naturais,

    passa do tolervel ao txico.

    Do ponto de vista biolgico, os elementos trao so melhores classificados

    como essenciais, no-essenciais e txicos. Para o ser humano, os essenciais so

    aqueles que causam anomalias em caso de deficincia: As, Co, Cr, Cu, F, Fe, Mn,8

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    Reviso da literatura

    Mo, Ni, Se, Si, Sn, V e Zn. Alguns elementos no essenciais encontrados nos fluidos

    e tecidos do corpo so: Li, B, Ge, Rb, Sr. E o Cd, Hg e Pb so classificados como

    txicos (COX, 1995).

    Alm dos processos naturais que ocorrem nas guas, existe tambm o homem,

    adicionando condies diferentes ao meio ambiente. No passado as modificaes

    eram realizadas sem nenhum critrio com diversos modelos de desenvolvimento.

    Os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem para a agricultura, a

    pecuria, a indstria e os centros urbanos no levaram em conta o ambiente. Nas

    ltimas dcadas, as substncias qumicas de origem antrpica tm sido uma das

    principais preocupaes dos programas de monitoramento ambiental em todo omundo. Especialmente em ambiente aqutico, onde se tem verificado a presena de

    uma srie de produtos orgnicos e inorgnicos provenientes de atividades industriais

    e agrcolas, bem como do processo de urbanizao na rea das bacias hidrogrficas

    (YABE & OLIVEIRA, 1998 e RESENDE et al.,1997).

    2.1. Caractersticas fsicas e qumicas em ambientes aquticos

    Os vrios tipos de rochas tm sido continuamente sujeitos a vrios processos

    fsicos e qumicos, os quais resultam na formao de camadas de solo ou sedimento.

    Estes por sua vez transformam-se em substratos terrestres e aquticos para plantas,

    que absorvem, deslocam e, em alguns casos, acumulam elementos para o seu

    desenvolvimento. Ao longo de todo esse percurso natural, a gua importante fontede transportede elementos trao.

    O ambiente aqutico envolve os organismos vivos e em decomposio,

    substncias qumicas dissolvidas ou adsorvidas, sedimento e solo em contato com a

    gua e material particulado em suspenso. Este ltimo componente exerce grande

    influncia na distribuio e biodisponibilidade de metais pesados.9

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    Reviso da literatura

    Define-se como material particulado em guas, a frao de slidos em

    suspenso, retidos por um filtro de membrana de 0,45 m, enquanto que o filtrado

    contm os chamados ons dissolvidos. Esta uma definio operacional j que

    existem partculas com dimetros menores em gua, seja de natureza inorgnica(argila e outros silicatos; oxihidratos de Fe, Al, Mn) ou orgnica (bactrias,

    polissacardeos, compostos hmicos) (MIEKELEY, 1991).

    A argila considerada a mais importante classe dos minerais que ocorrem

    como matria coloidal em ambientes aquticos, sendo constituda basicamente de

    alumnio hidratado e xido de silcio (Al2(OH)4Si2O5). O Fe e o Mn geralmente

    esto associados aos minerais presentes na argila, principalmente na caulinita.

    Quando esses minerais formam uma camada externa de carga negativa, os ons

    metlicos so atrados e substituem o Al3+e o Si4+(MANAHAN, 1999).

    O material particulado suspenso um agregado de componentes biticos e

    abiticos. Em muitos sistemas representa algumas combinaes de material

    inorgnico como argila, xidos e hidrxidos metlicos, e matria orgnica

    (GRASSI, 2000). Devido sua considervel rea superficial e densidade de stios

    ativos, algumas dessas espcies particuladas possuem alta capacidade de soro paraons metlicos e outras espcies.

    Os ons metlicos polivalentes tm um elevado potencial inico e forte

    tendncia hidrlise, so os que mais fortemente se associam ao material

    particulado. A associao de um on metlico s partculas em suspenso pode

    ocorrer de forma irreversvel. Isso faz com que a matria particulada apresente

    propriedades qumica e de transporte muito distintas, quando comparada com a

    frao em soluo, sendo considerada quimicamente a mais reativa (MIEKELEY,

    1991).

    Todas as guas naturais contm matria orgnica. Protenas, aminocidos,

    gorduras, ligninas, restos de plantas e animais, entre outros, so decompostos

    continuamente, tanto durante a vida dos organismos quanto durante a sua

    10

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    Reviso da literatura

    deteriorizao. Os produtos de degradao e os compostos formados pela

    reassociao desses fragmentos geram uma mistura de complexos de compostos

    orgnicos dissolvidos em gua. Essa matria orgnica abrange um grande intervalo

    de peso molecular, desde as totalmente solveis de baixo peso molecular at ospolmeros, colides e partculas naturais de alto peso molecular (HOWARD, 1998).

    Em alguns casos so naturais, em outros tm sido introduzidas por fontes

    externas como esgotos, poluio industrial e resduos atmosfricos. A matria

    orgnica natural dissolvida em gua proveniente do produto de transformao de

    material biognico e excretas de organismos vivos, que so decompostos em

    substncias menores por bactrias e processos qumicos (HOWARD, 1998).

    Geralmente aceitvel que a maioria das partculas, em sistemas aquticos

    ricos em matria orgnica, seja retida principalmente pelas substncias hmicas

    (TIPPING, 1981). A matria orgnica natural contm stios hidrofbicos e

    hidroflicos. Preferencialmente as estruturas hidroflicas das substncias hmicas so

    agrupadas s partculas superficiais. Os slidos suspensos naturais usualmente tm

    uma camada orgnica particulada, que corresponde de 2 a 3% dos slidos totais

    (GRASSI et al., 2000).

    Estudos a cerca da estrutura da matria orgnica mostram uma complexa

    mistura de molculas aromticas pobres em nitrognio, altamente cidas e derivadas

    dos tecidos das plantas. A caracterizao de matria orgnica dissolvida em gua

    envolve vrias propriedades qumicas como peso molecular, capacidade de interao

    do metal, tcnica espectroscpica e composio do elemento.

    A determinao de matria orgnica particulada em gua geralmente abrange

    vrias caractersticas como composio qumica e distribuio de carbono estvel,

    ou em anlises de grandes classes de compostos como carboidratos ou aminocidos.

    (HEDGES, 1994).

    11

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    Reviso da literatura

    Igualmente s partculas de solo, os slidos suspensos em gua naturais

    tambm tm caractersticas superficiais dependentes de pH, que influenciam na

    reao com prtons e com certos grupos funcionais de substncias hmicas

    (EVANS, 1989 e SPOSITO, 1984). Dessa forma o pH um fator importante nasolubilidade e disponibilidade de metais no ambiente aqutico, alm de exercer forte

    influncia na adsoro de metais em superfcies de xidos e hidrxidos de Fe e Mn.

    De maneira geral, a solubilidade dos metais diminui com o aumento do pH.

    GRASSI, et al. (1997) analisando amostras de gua observaram que um maior

    percentual de Cu permanece em soluo sob valores de pH mais baixos. Cerca de

    75% do Cu estava presente na fase dissolvida em pH 3,00 enquanto que na faixa de

    pH entre 7,00 e 9,00 a absoro do metal no material particulado mxima,

    atingindo 99%.

    SILVA, et al. (2000) compararam a capacidade de complexao do Cu em

    ambientes aquticos diferentes, analisando a influncia do pH e do material

    particulado e dissolvido. Os resultados mostraram que: i) os ambientes compostos

    de guas pretas apresentaram menor capacidade de complexao, apesar do alto teor

    de matria orgnica; ii) os rios de guas brancas, com variveis fsico-qumicas

    semelhantes, apresentaram capacidade de complexao bastante diferenciadas e iii)

    variao da capacidade de complexao em amostras filtradas e no filtradas. Esses

    fatores indicam que o tipo de material particulado presente no meio exerce grande

    influncia no mecanismo de interao entre o Cu e os stios de ligao.

    GRASSI, et al. (2000), analisaram a partio do Cu usando uma camada de

    xido de alumnio nos cidos hmicos como um modelo de fase aqutica. Mostroua forte influncia do pH, concentrao de slidos e concentrao de matria orgnica

    na adsoro desse metal pesado. Observaram tambm que a maior adsoro de Cu

    ocorre quando o pH est prximo do neutro, a quantidade de matria orgnica

    particulada e a concentrao de slido so elevadas.

    12

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    Reviso da literatura

    Os tributrios do rio Amazonas, com baixa concentrao de slidos

    dissolvidos, apresentou teores de Cu variando entre 6 e 37 nmol kg-1 em estudo

    realizado por BOYLE (1979). As maiores concentraes foram encontradas

    prximas a foz do rio Amazonas e na regio de Napo, sendo neste ltimo casoproveniente do intemperismo da regio montanhosa do Equador.

    A partio de Zn e Pb em amostras de rio foi analisada por MLLER & SIGG

    (1990) citado por GRASSI, et al.(2000). As constantes de estabilidade condicional,

    capacidade de ligao e coeficientes de distribuio indicaram comportamentos

    semelhantes entre os dois metais. Os componentes responsveis pela adsoro s

    partculas foram identificados como matria orgnica e xidos de Fe e Mn.

    2.2. Contaminao por metais pesados em ambiente aquticos no

    Brasil

    O Brasil um pas privilegiado por possuir uma infinidade de riquezas

    naturais, principalmente com respeito quantidade de gua. Devido falta de

    cuidados, a contaminao por metais pesados praticamente se espalhou por todo o

    pas. Desde do evento da ECO 92 (Conferncia das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento e Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro), o interesse dos

    pesquisadores brasileiros sobre os nveis de contaminao por esses elementos vem

    crescendo rapidamente. Em praticamente todas as universidades federais existe pelo

    um pesquisador que determina as concentraes de metais pesados em diversos

    materiais (cabelo, solos, sedimentos, gua, ao, etc.). Especificamente sobre a

    determinao de metais pesados em guas brasileiras existem diversos trabalhos

    publicados na literatura.

    Em 1995, JORDO, et al. atriburam as altas concentraes de Zn, Cd, Pb e

    Cu, principalmente contaminao industrial, no sendo descartado a poluio de

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    Reviso da literatura

    esgotos domsticos e outras fontes antrpicas nas guas do Igarap das Trs Pontes

    (MG).

    O rio Piracicaba, localizado tambm em Minas Gerais, foi estudado por

    OBERD, et al. (1995), que encontraram Cd em uma concentrao cerca de 40

    vezes acima do permitido pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente -

    Resoluo 20/86).

    AMARAL & CAMPOS (1995) verificaram os nveis de contaminao por Cd,

    Pb e Al na gua de consumo da cidade de Campos (RJ), rio Paraba do Sul. O estudo

    foi realizado utilizando a espectrometria de absoro atmica, cujos resultados

    revelaram apenas o Al 3 vezes acima dos limites permitidos pelo Conselho Nacionalde Meio Ambiente.

    YABE & OLIVEIRA (1998) estudando a bacia do Igarap Cambe (Londrina

    Norte do Paran) observaram que durante todo ano de 1997 no percurso do Igarap

    havia a presena sistemtica dos elementos Pb, Ni, Cd, Cr e Cu, introduzidos por

    fontes provenientes da urbanizao e industrializao. Esses autores tambm

    encontraram os elementos Fe, Al, Mn, Ca e Mg, existentes em partculas, que eramtransportadas pelas guas do Igarap.

    ANDRADE, et al. (1998) estudando os efeitos causados pelo despejo de

    indstrias txteis no Rio Piautinga (Sergipe) verificaram que a entrada dos efluentes

    causa eutrofizao do sistema, ocorrendo a desnitrificao e perda de nitrognio para

    a atmosfera como N2, N2O e NH3. Essas caractersticas fizeram com que a

    populao de fitoplancton fosse reduzida.

    JORDO, et al.(1999) estudaram a emisso de crmio nas guas de igaraps

    prximos a indstrias de curtumes da Zona da Mata (Minas Gerais). Os seus

    resultados mostraram que essas indstrias esto contaminando as guas dos igaraps

    da regio. Os coeficientes de distribuio obtidos indicam que boa parte do

    transporte desse elemento se deve s formas insolveis.

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    Reviso da literatura

    Na ilha de Santa Catarina, localizada geograficamente distante das maiores

    fontes antrpicas de metais, sujeita apenas a fontes pontuais de contaminao

    (esgotos domsticos, aterro sanitrio, uso de pesticidas, tintas utilizadas pelos

    barcos-anti-encrustantes), foram detectados concentraes muito altas de Cu e Cd,no complexados e complexados com ligantes orgnicos existentes na guas

    (BENDO et al., 2000).

    LIMA, et al.(2000) estudaram as concentraes de Cu e Pb no rio Tubaro

    (SC), os seus resultados mostraram que a biota aqutica desse Rio estava totalmente

    modificada devido aos nveis de contaminao pelos dois elementos. Em

    praticamente todos os pontos coletados os dois metais pesados foram encontrados.

    Nas concluses do trabalho revelam que o lazer, turismo e a produo de camares

    estavam muito prejudicados.

    GRAA, et al.(2000) avaliaram a quantidade de Fe total e Cd em amostras

    de gua do Igarap do Pntano (Alfenas MG) chegaram a concluso de que as

    concentraes de Cd estavam acima dos limites permitidos pelo CONAMA. As

    causas dessa contaminao foram atribudas a atividade txtil da regio.

    2.2.1. Poluio de metais pesados em Manaus

    A micro bacia do Igarap do Quarenta, possui 38 Km de extenso, largura

    mdia de 6 metros, profundidade mdia de 50 cm e uma rea total de

    aproximadamente 4.320 hectares (SOUZA, 1999).

    O Igarap do Quarenta faz parte da Bacia Hidrogrfica de Educandos, temnascente no bairro do Zumbi, a nordeste da cidade de Manaus e foz localizada

    prximo Avenida Sete de Setembro, sudoeste de Manaus. Neste ponto ocorre o

    encontro com os Igaraps da Cachoeirinha e do Mestre Chico, formando ento a

    Bacia de Educandos, a qual desgua no Rio Negro (VALLE, 1999).

    15

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    Reviso da literatura

    Desde 1900, com o perodo ureo da borracha, os igaraps de Manaus vm

    sendo utilizados para processos de ocupao humana. Especialmente a partir da

    criao da Zona Franca em 1967 e da instalao do Distrito Industrial esse processo

    no Igarap do Quarenta foi intensificado, totalizando 1.128 habitantes em 1998(SOUZA, 1999).

    Desde o incio da dcada de 90 vrios estudos tm sido realizados neste

    Igarap, principalmente na rea do Distrito Industrial. Os resultados obtidos at o

    momento mostram que as principais caractersticas fsicas e qumicas, tanto do meio

    bitico como do meio abitico, esto alteradas.

    Uma das principais preocupaes a presena de metais pesados, os quaispodem ser absorvidos por elementos constituintes desse ecossistema, como por

    exemplo, a vegetao. Todas as plantas respondem a aumentos na concentrao de

    metais pesados de acordo com a sensibilidade individual, intensidade de exposio e

    a forma em que o metal se encontra (BAKER & WALKER, 1989).

    Estudos revelam que certas plantas aquticas so capazes de absorver, atravs

    de suas razes, substncias orgnicas, nutrientes e metais. A espcie de aguapEichhomia crassipes a que apresenta maior capacidade de absoro de vrios

    metais (LEITE & SANTOS, 1997).

    Anlises qumicas de duas gramneas (Dichorisandra sp e Paspalum sp),

    coletadas ao longo das margens do Igarap do Quarenta, mostraram que o Fe, Zn,

    Cu, Mg e Ca apresentaram teores significativos, distribudos entre as trs partes das

    plantas (raiz, caule e folhas). O Cu apresentou concentraes mais elevadas nas

    razes, o Fe nas raizes e caulees, o Mg nas folhas e o Zn, Cr e Pb nas trs partes das

    plantas. De maneira geral, a distribuio dos metais pesados mostrou predominncia

    de Zn na primeira coleta (fevereiro/1999) e de Fe na segunda coleta (maio/1999). Os

    resultados indicaram tambm que o Cu e o Zn estavam sendo absorvidos em teores

    acima dos necessrios para as gramneas (CASTRO & SANTANA, 2000).

    16

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    Reviso da literatura

    Os metais pesados Cu, Cr, Zn, Cd e Pb foram determinados por SILVA (1992)

    em duas espcies de peixes do Igarap do Quarenta. Uma das espcies era carnvora

    (Hoplias malabaricus) e a outra detritvora (Hoplosternum littorale). Os teores de

    Cd e Pb no indicaram contaminao evidente, sendo encontrados apenas em umdos quatro meses de coleta. As concentraes mais elevadas foram de Zn (81,46

    g.L-1) e Cu (79,48 g.L-1). Os teores de metais pesados encontrados nos peixes

    mostraram-se bastante superiores aos encontrados nas mesmas espcies de peixes

    estudadas em igaraps no contaminados.

    Desses elementos, o que mais preocupa o Cu, pois a concentrao mxima

    permitida pela Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria de 30,0 g.L-1. O

    mesmo autor ressalta ainda, a alta toxidade de Cu na biota aqutica do Igarap do

    Quarenta, pois as vrias formas desse metal causam efeito txico diretamente em

    algumas espcies aquticas, enquanto outras so afetadas indiretamente por

    mudanas nas interaes das comunidades.

    SILVA (1996) determinou a concentrao de metais pesados (Fe, Mn, Cr, Cu,

    Co, Ni, Cd e Zn) em sedimento de fundo e material em suspenso do Igarap do

    Quarenta e Igarap do Barro Branco (no poludo). Os elementos Fe e Mn no

    mostraram enriquecimento e nem acumulao nos ambientes estudados. Segundo o

    autor, isso se deve, provavelmente, facilidade em serem adsorvidos ao material

    particulado, principalmente s partculas cristalinas, sendo transportados ao longo

    dos igaraps.

    Esse estudo mostrou, ainda, que os metais Cr, Cu, Ni, e Zn, contidos no

    material em suspenso do Igarap do Quarenta, possuam valores de concentraoacima dos encontrados nessa mesma regio, sugerindo a influncia antrpica das

    indstrias de galvanoplastia na contaminao deste igarap.

    Em relao aos sedimentos de fundo, a partio geoqumica do Zn mostrou que

    esse metal encontrava-se associado principalmente aos xidos e hidrxidos de Fe-

    Mn. E que aproximadamente 90% do Cu estava disponvel para ser incorporado pela17

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    Reviso da literatura

    biota aqutica. Este elemento no mostrou tendncia a se acumular no perfil dos

    sedimentos indicando, mais uma vez, sua alta disponibilidade biolgica no Igarap

    do Quarenta.

    Esses dados supem uma relao entre os trabalhos de SILVA (1992) e SILVA

    (1996). Baseando-se no fato de o Cu geralmente estar associado s partculas

    potencialmente mveis e, segundo CAMPOS (1990) citado por SILVA (1992), tais

    partculas constiturem a principal fonte de alimentos de peixes detritvoros, pode-se

    considerar o Cu como um dos principais agente poluidores do Igarap do Quarenta.

    VALLE (1998) em uma avaliao fsica e qumica dos solos da bacia do

    Igarap do Quarenta, determinou a concentrao dos metais pesados Co, Cr, Cu, Fe,Mn, Ni, Pb e Zn, na frao trocvel em dois perodos de amostragem. Os resultados

    revelaram que no perodo de estiagem (setembro/1997) os teores de Cu e Pb

    estavam acima dos encontrados em solos da mesma regio. Essas concentraes

    mostraram-se menores no perodo chuvoso (maio/1997). Em contrapartida, o Zn

    apresentou nveis mais elevados no perodo seco, devido reduo do volume de

    gua.

    Em suas concluses, VALLE (1998) no considerou alguns parmetros que

    interferem na mobilidade dos metais pesados presentes no solo. Segundo VAN PUT

    et al.(1994) (citado por NEZ et al., 1999) a liberao de metais pesados do solo

    pode ocorrer atravs de mudanas fsico-qumicas no meio, tais como: fora inica,

    pH e potencial de oxirreduo. Desses processos, os dois ltimos so os mais

    importantes na solubilidade dos metais adsorvidos na superfcie de xidos de Fe e

    Mn.

    SAMPAIO (2000) realizou a caracterizao fsica e qumica dos sedimentos de

    cinco igaraps na rea do Distrito Industrial. Os metais Fe, Zn, Mn e Cu foram

    determinados na frao total dos sedimentos, sendo a maior parte associada frao

    trocvel (pH entre 2,60 e 10,0). Somente o Fe estava presente em todas as fraes

    trocvel nas diversas faixas de pH, principalmente no intervalo de 2,00 - 3,00.18

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    Reviso da literatura

    Esse estudo revelou tambm que, ao contrrio do Fe, a distribuio de Zn no

    foi permanente em todos os intervalos de pH, sendo a maior concentrao em pH

    4,00 6,00. Isso de deve solubilidade do Zn2+ que depende da constante de

    equilbrio da reao (LINDSAY, 1979):

    em que

    As vrias formas em que o Zn pode estar presente no ambiente aqutico

    possibilitam a mobilidade desse metal dependendo do pH. Isso porque o Zn(OH)2

    solvel tanto em meio cido, quanto em meio bsico formando zincatos

    (ALEXEV, 1982).

    Zn2+ + 2OH Zn(OH)2

    Zn(OH)2 + 2H+ Zn2+ + 2H2O

    H2ZnO2 + 2OH- ZnO2

    2- + 2H2O

    ou

    Finalmente, SAMPAIO (2000) determinou tambm os metais pesados Cu, Cd,Zn, Mn, Fe, Pb e Cr em gua dos mesmos igaraps. Os metais Cu, Mn e Fe estavam

    presentes em praticamente todos os pontos de coleta em nveis acima dos permitidos

    pela resoluo 020/86 do CONAMA. O Fe o que apresenta maiores concentraes,

    seguido do Cu e Mn. O Zn foi encontrado somente em dois igaraps e o Cr em

    19

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    Reviso da literatura

    apenas um igarap, ambos em teores acima dos recomendados pelo CONAMA. O

    Cd e o Pb estavam abaixo do limite de deteco da tcnica.

    Esse trabalho ressalta ainda que as guas, anteriormente classificadas como

    escuras, hoje se enquadram nos critrios de guas claras, devido reduo dos

    teores de matria orgnica e aumento dos valores de pH.

    Segundo SIOLI (1985), a caracterstica natural da gua do Igarap do Quarenta

    corresponde aos rios de gua preta. Essa caracterstica ainda pode ser observada na

    rea da nascente at as proximidades do Bairro Armando Mendes II. A partir desse

    ponto a colorao da gua sofre alteraes quando recebe dejetos dos conjuntos

    habitacionais e do Distrito Industrial.

    20

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    3. Metodologia

    3.1. Coleta das amostras

    Para a realizao deste trabalho foram coletadas nos meses de maio, julho,

    setembro e novembro de 2000, amostras de gua em 3 igaraps afluentes do Igarap

    do Quarenta, localizado na regio do Distrito Industrial de Manaus. Como os

    igaraps no tinham nomes oficiais, neste trabalho receberam a designao de 03, 04

    e 05, conforme mostra a Figura 3.1. O Igarap 03 est localizado prximo rua

    Cupiba, o Igarap 04 prximo rua Ip e o Igarap 05 est situado prximo rua

    Abiurana.

    Figura 3.1 Regio onde foram coletadas as amostras de gua.

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    Metodologia

    Em cada igarap foram escolhidos 10 pontos de coleta distantes 50 m um do

    outro. A maior parte desses pontos de amostragens foi escolhida na rea do Distrito

    Industrial e alguns nas proximidades do Igarap do Quarenta. Assim poder-se-ia

    avaliar a distribuio das substncias ao longo de cada igarap e verificar suascontribuies para o Igarap do Quarenta.

    As amostras de gua foram coletadas em uma profundidade de 10 cm,

    armazenadas em garrafas plsticas de polietileno, previamente lavadas com HNO3, e

    levadas imediatamente ao laboratrio para anlises posteriores. Somente os valores

    de temperatura foram medidos em campo.

    O clima da regio amaznica quente e mido, pois devido sua baixalatitude, os raios solares tendem verticalidade em todas as pocas do ano. Portanto,

    a regio possui duas estaes bem definidas: seca e chuvosa, reguladas pela

    pluviosidade e no pela temperatura. A estao chuvosa tem incio em novembro

    estendendo-se at o ms de abril. Os outros meses do ano so caracterizados pela

    estao seca, quando predominam chuvas de carter convectivo geralmente de

    grande intensidade e curta durao (DINIZ, 1986).

    O ndice pluviomtrico mensal medido pelo Instituto Nacional de

    Meteorologia durante o ano de 20001foi bastante variado e pode ser observado na

    Figura 3.2. Os valores de temperatura obtidos pelo mesmo Instituto apresentaram

    carter crescente no decorrer do ano, sendo os maiores valores observados no

    perodo de seca (Figura 3.3).

    22

    1Dados obtidos atravs do endereo eletrnico: www.inmet.gov.br

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    Metodologia

    0

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    150

    200

    250

    300

    350400

    450

    500

    Pluviosidade(mm)

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezMeses

    Figura 3.2 ndice pluviomtrico (mm) do ano de 2000 em Manaus, medido pelo

    Instituto Nacional de Meteorologia.

    24,5

    25,0

    25,5

    26,0

    26,5

    27,0

    27,5

    28,0

    28,5

    Temperatura(oC)

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    Meses

    Figura 3.3 Temperatura mdia (C) do ano de 2000 em Manaus, medida pelo

    Instituto Nacional de Meteorologia.

    23

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    Metodologia

    3.2. Procedimento

    Algumas anlises foram realizadas em amostras no filtradas e outras em

    amostras filtradas em membrana HA, em ster de celulose com 0,45 m de poro e

    47 mm de dimetro. Nas amostras no filtradas foram medidos os valores de pH,

    matria orgnica e metais pesados. Nas amostras filtradas foram determinadas

    somente as concentraes de metais pesados.

    3.2.1. Determinao de pH

    Os valores de pH das amostras no filtradas foram medidos no mesmo dia da

    coleta utilizando-se pHmetro digital HANNA instruments.

    3.2.2. Determinao de Matria Orgnica Total

    Os teores de matria orgnica das amostras no filtradas tambm foram obtidosno mesmo dia da coleta , utilizando-se a determinao por dicromatometria com o

    seguinte procedimento (BAUMGARTEN et al., 1996):

    3.2.2.1. Volatilizao dos cloretos da amostra - mediu-se 50 mL da

    amostra de gua em pipeta volumtrica e transferiu-se para um

    erlenmeyer, onde se adicionou 1 mL de H3PO4concentrado, sendo

    imediatamente aquecido a 105 5

    o

    C por 30 minutos;

    3.2.2.2. Oxidao e titulao da amostra - adicionaram-se ao

    erlenmeyer contendo a amostra 10 mL da soluo oxidante

    (K2Cr2O7/H2SO4 a 0,100 mol L-1) e aqueceu-se por mais 60

    minutos. O erlenmeyer foi deixado em repouso at completo

    24

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    Metodologia

    resfriamento e, posteriormente a mistura foi titulada com sulfato

    ferroso amoniacal, usando a difenilamina como indicador;

    3.2.2.3. Determinao do branco - mediu-se 50 mL de gua destilada

    em pipeta volumtrica, transferiu-se para um erlenmeyer, seguindo

    os procedimentos de volatilizao de cloretos e de oxidao e

    titulao da amostra;

    3.2.2.4. Determinao do rendimento do processo de oxidao -

    utilizou-se uma soluo padro de glicose pura (C6H12O6) e

    prosseguiu-se a anlise a partir do processo de oxidao e titulao

    da amostra. A alquota utilizada no processo corresponde 1.200

    g de carbono de glicose. Este valor foi utilizado para o clculo da

    concentrao de carbono orgnico total.

    3.2.3. Determinao de metais em gua por Espectrometria de

    Absoro Atmica.

    Para esta anlise foram utilizadas amostras no-filtradas e amostras filtradas.

    Uma alquota de 100 mL de cada amostra de gua foi transferida para um

    bquer de 250 mL. O volume da amostra foi reduzido quarta parte em chapa

    aquecedora, a uma temperatura de 110 5 oC. Adicionaram-se 10 mL de HNO3

    concentrado ao bquer e aqueceu-se novamente. O volume final do bquer foi

    transferido para um balo de 25,0 mL e seu volume completado com gua

    desionizada. As amostras foram armazenadas em recipientes plsticos de PVC,

    previamente limpos com HNO3, para determinao dos metais.

    Os metais Zn, Mn, Fe, Cr, Ni, Pb, Cu e Cd, foram analisados por

    espectroscopia de absoro atmica (Perkin Elmer, modelo ASS 3300) pelo mtodo

    25

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    Metodologia

    direto. Na determinao de todos os elementos foi utilizado corretor de fundo e

    chama de ar/acetileno.

    3.2.4. Espectroscopia na regio do infravermelho

    Os resduos retidos nas membranas 0,45 m foram secados em estufa a 100 oC

    por duas horas, resfriados em dessecador e determinados na forma de discos

    prensados com KBr. Esses discos foram preparados pela mistura pulverizada em

    gral de gata, com cerca de 1,00 mg de amostra e 100,0 mg de KBr.

    Os espectros foram obtidos em um aparelho Perkin Elmer FT-IR Spectrum

    2000, sendo efetuadas em mdia 10 varreduras de 400 a 4000 cm -1, com resoluo

    espectral de 4 cm-1.

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    4. Estudo do Igarap 03

    4.1. Descrio dos locais de coleta

    As quatro coletas foram caracterizadas pela presena de guas escuras com

    gramneas e aguaps nas margens do Igarap 03, alm de odor desagradvel de

    esgoto em toda sua extenso. Alguns pontos de coleta encontravam-se poludos com

    lixo principalmente plsticos, sacos de polipropileno, isopor, pneu, papelo, etc. Os

    pontos de coleta 4, 5 e 6 diferenciavam dos outros locais de amostragem por estarem

    localizados em rea encharcada, cujo leito possua maior profundidade e maior

    quantidade de aguaps nas margens.

    Algumas peculiaridades quanto vegetao, odor e cor da gua e presena de

    espuma, observadas durante as coletas, so mostradas no Quadro 4.1.

    Quadro 4.1 Caractersticas de alguns pontos de coleta do Igarap 3 observadas

    durante as coletas.

    Coleta Descrio

    Primeira

    (maio)

    gua marrom, com espuma (pontos 2 e 3), rea encharcadacom aguaps e gramneas ao redor (pontos 4 a 7) e gua claracom leo e forte odor de solvente (ponto 9 Figura 4.1 a).

    Segunda

    (julho)

    gua marrom com algumas algas na superfcie e aguap nasmargens do Igarap. Presena de espuma aps queda dguano ponto de coleta 3 (Figura 4.1 b)

    Terceira

    (setembro)

    Maior quantidade de aguap nas margens e algas na superfcie(ponto 4 Figura 4.1 c). Igarap menos encharcado e comleito mais estreito (pontos 4 a 7).

    Quarta(novembro)

    Superfcie do Igarap completamente coberta com algas epredominncia de aguap nas margens (Figura 4.1 d).

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    Estudo do Igarap 03

    (a) (b)

    (c) (d)

    Figura 4.1 Caractersticas do Igarap 03 (a) Presena de leo durante a

    primeira coleta, (b) presena de espuma (c) rea encharcada com

    algumas algas e (d) grande quantidade de algas na superfcie do

    Igarap.

    28

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    Estudo do Igarap 03

    4.2. Resultados e discusso

    No Igarap 03 os pontos de amostragem 8, 9 e 10 so locais utilizados para

    despejo de rejeitos de algumas indstrias do Distrito Industrial de Manaus. A Tabela4.1 mostra os resultados de alguns parmetros fsicos e qumicos obtidos na coleta

    realizada em maio (primeira coleta).

    Os valores de pH variaram de 6,60 a 7,05 ao longo do Igarap 03. Os pontos de

    coleta 8, 9 e 10 apresentaram valores de pH dentro dos limites exigidos pelo

    Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) resoluo No020/861(Apndice

    01) para lanamentos de efluentes nos corpos dgua.

    Tabela 4.1- Alguns parmetros fsicos e qumicos do Igarap 03 obtidos durante a

    primeira coleta (maio).

    Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH

    1 11,1 (1,0) 26,0 6,892 11,1 (8) 26,0 6,923 9,40 (9) 26,0 6,914 11,9 (7) 26,0 6,725 15,9 (6) 26,0 6,756 9,23 (8) 26,0 6,737 5,90 (7) 26,5 6,698* 22,7 (8) 28,0 6,609* 24,0 (0) 30,0 7,05

    10* 9,15 (7) 32,0 6,67

    *Prximo a esgoto industrial M.O. = matria orgnicaOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicataO sentido do fluxo do Igarap do ponto de coleta 10 ao ponto de coleta 1

    1Todas as citaes do CONAMA nesta dissertao referem-se Resoluo No20 de 18 de junho de 1986.

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    Estudo do Igarap 03

    Todos os valores de pH determinados na gua do Igarap 03 esto acima dos

    encontrados em igaraps naturais existentes em Manaus desde a dcada de 50.

    SIOLI (1956 e 1968), citado por SILVA (1996), encontrou valores de pH entre 3,7 e

    7,8. SHIMIDT (1972) e CAMPOS (1994) encontraram valores de pH variando de3,3 a 5,9 em igaraps da rodovia BR-174 nas proximidades de Manaus. SILVA

    (1992) estudando o Igarap do Candir encontrou valores de pH entre 4,2 e 5,5.

    SILVA (1996) encontrou valores de pH entre 3,7 e 5,5 no Igarap do Barro Branco

    situado na Reserva Florestal Adolfo Ducke. E SAMPAIO (2000) encontrou valores

    entre 4,30 e 6,73 nos igaraps do Distrito Industrial.

    Ao comparamos os resultados determinados para o pH (Tabela 4.1) com os

    valores de igaraps que sofreram ao antrpica na cidade de Manaus (Tabela 4.2),

    verifica-se que os igaraps do Distrito Industrial possuem valores de pH mais

    elevados. Vale ressaltar o tipo de atividade antrpica nessa regio. No Distrito

    Industrial, uma das principais fontes de poluentes a galvanoplastia, cujo processo

    industrial envolve solues bsicas.

    Tabela 4.2- Valores de pH encontrados em Igaraps de Manaus que sofrem a ao

    da atividade antrpica.

    Igarap Faixa de pH Referncia

    Matrinx 4,50 6,85 BARRONCAS (1999)Bolvia 5,97 6,49 BARRONCAS (1999)

    Regio do Distrito* 4,43 5,83 SAMPAIO (2000)Quarenta 6,55 6,73 SAMPAIO (2000)Quarenta 4,90 6,40 SILVA (1996)Quarenta 6,00 6,25 SILVA (1992)

    Puraqueqara** 4,70 5,30 GOMES et al(1999)

    * Igaraps existentes no Distrito Industrial** Bacia Hidrogrfica

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    Estudo do Igarap 03

    Durante a primeira coleta a temperatura da gua permaneceu estvel em

    26,0 oC ao longo do Igarap 03 (pontos de coleta 1-7). Nos pontos de coleta 8, 9 e

    10 a temperatura aumentou de 2 a 6 oC. Esses resultados so comparveis aos

    encontrados h quatro anos no Igarap do Quarenta, que tem o Igarap 03 comoafluente. SILVA (1996) observou valores mnimos de 27,5 1,0 oC e valores

    mximos de 28,0 0,8 oC no Igarap do Quarenta. Sendo os maiores valores

    encontrados prximos a Secretaria de Educao do Amazonas (SEDUC-AM), onde

    no havia cobertura vegetal e as menores temperaturas prximas ao conjunto

    residencial Nova Repblica, onde existiam espcies de palmeiras.

    Outro parmetro que estava alterado neste Igarap era a quantidade de matria

    orgnica total na gua (Tabela 4.1). Os teores encontrados so baixos em relao a

    quantidade de matria orgnica presente em guas pretas (26,6 mg L-1 SHIMIDT,

    1972), comuns em igaraps naturais de Manaus. Comparando os teores de matria

    orgnica dos pontos de amostragem 1 e 2 com os valores encontrados por

    SAMPAIO (2000) no mesmo local, 12,9 mg L-1 verifica-se que os valores no

    variaram significativamente.

    As anlises qumicas de alguns metais pesados foram realizadas na fraes

    filtrada em filtro de 0,45 m de poro e na frao no filtrada. O objetivo desse

    procedimento foi verificar a variao na composio qumica dos colides presentes

    na gua. Uma vez que existe uma grande variedade de substncias orgnicas,

    materiais inorgnicos e poluentes que ocorrem nesta forma em guas naturais e

    esgotos em geral (MANAHAN,1999).

    Na anlise qumica dos metais (Fe, Zn, Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e Cd), realizada em

    maio, as concentraes de Cu, Cr, Pb e Cd estavam abaixo do limite de deteco da

    tcnica. A Tabela 4.3 mostra os resultados encontrados para o Fe, Zn e o Mn.

    31

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    Estudo do Igarap 03

    Tabela 4.3- Teores mdios em mg L-1de Fe, Zn e Mn nas amostras de gua filtradas

    e no filtradas do Igarap 03, obtidos na primeira coleta (maio).

    Fe Zn MnPontos de

    coleta NF F NF F NF F

    1 18,3 (0) 0,301 (50) n.d. n.d. 0,190 (27) n.d.2 16,9 (5) n.d. 0,261 (43) n.d. 0,144 (21) n.d.3 21,7 (3) n.d. 0,169 (30) n.d. 0,235 (0) n.d.4 20,2 (0) 0,214 (203) 0,145 (0) 0,137 (0) 0,203 (0) n.d.5 15,8 (0) 0,214 (186) n.d. n.d. 0,176 (0) 0,153 (21)6 17,9 (4) n.d. 0,153 (8) 0,109 (100) 0,176 (0) 0,095 (0)7 2,67 (20) n.d. 0,359 (237) 0,182 (0) 0,135 (0) 0,095 (0)8* 1,48 (3) n.d. 0,451 (93) 0,345 (76) n.d. n.d.9* 4,97 (0) 0,740 (72) 0,160 (33) n.d. 0,144 (21) n.d.10* 28,0 (2,0) n.d. 0,853 (106) 0,381 (51) 0,298 (14) 0,276 (21)

    NF = no filtrado F = filtrado n.d. = no detectado * Prximo a esgoto industrialOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    Em uma anlise dos resultados ao longo do Igarap 03 (principalmente os

    pontos de coleta 7 a 1) observa-se a presena de Fe, Zn e Mn basicamente na frao

    no filtrada, indicando que esses trs elementos faziam parte das partculas presentes

    na gua, cujo tamanho maior do que 0,45 m. A presena de metais pesados em

    material particulado devido as suas propriedades qumicas bastante comum

    (SANTOS FILHA et al., 1997) . Nos pontos de amostragem 8, 9 e 10, prximos aos

    esgotos industriais, detectou-se os maiores valores de concentrao nas duas fraes

    (filtrada e no filtrada). Porm, nesses trs pontos de coleta as concentraes no

    ultrapassaram os limites permitidos pelo CONAMA para lanamento de rejeitos nos

    corpos dgua.

    A distribuio de Zn nas guas tambm depende do valor de pH. Segundo

    FIFIELD & HAINES (1997), essa caracterstica se deve basicamente forma em

    que o Zn pode estar presente (Zn2+, Zn(OH)+, Zn(OH)2, ZnCl+, ZnCl2 e ZnCO3).

    32

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    Estudo do Igarap 03

    Como o valor de pH na maioria dos pontos de coleta do Igarap 03 permaneceu em

    torno de 7,00, a forma qumica que prevalece o Zn2+(LINDSAY, 1979).

    As concentraes de Fe na frao no filtrada so caracterizadas por uma

    distribuio aleatria, onde o menor valor (1,48 3 mg L-1) foi detectado no ponto

    de coleta 8 e o maior valor (28,0 2,0 mg L-1) encontrado no ponto de coleta 10. O

    comportamento de Fe muito diversificado em ambientes aquticos, dependendo do

    valor de pH do meio. Sua tendncia reduzir para Fe2+formando, principalmente

    dmeros, trmeros, etc. (CORNEL & SCHWERTMANN, 1996).

    Em 1999, SAMPAIO (2000) realizou medidas de alguns metais pesados (Cu,

    Cd, Zn, Mn, Fe, Pb e Cr) neste Igarap, no ms de fevereiro. Apenas o Fe foi

    encontrado com valor de 26,2 0,7 mg L-1. Este valor est acima dos teores de Fe

    encontrados nos pontos de coleta 1 e 2 (Tabela 4.3), localizados na rea onde foram

    coletadas as amostras estudadas pelo mesmo autor.

    A formao geolgica e as condies climticas da regio permitem que

    apenas a caulinita prevalea como uma das principais fases mineralgicas. Alguns

    estudos dessas caulinitas mostram que o Fe est presente em alta concentrao nasua estrutura (SOMBROEK, 1966 e CHIBA, 1980). SANTOS (2000), ao

    caracterizar mineralogicamente o solo da regio do Distrito Industrial, observou que

    as caulinitas eram aperidicas com grau de intemperismo avanado. Este fato

    poderia explicar porque as concentraes desse elemento geralmente so maiores

    nas amostras no filtradas, uma vez que o Fe na Amaznia est presente em

    pequenas quantidades (CHAVES, 2001).

    O Fe, Mn e Zn esto normalmente ligados rede cristalina de sulfetos,

    carbonatos, oxi-hidrxidos, xidos e/ou silicatos. Esses compostos constituem os

    minerais da frao trocvel da frao argila. Dependendo do valor de pH, os

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    Estudo do Igarap 03

    elementos qumicos que fazem parte da estrutura qumica desses minerais so

    facilmente liberados para o meio (ALLOWAY, 1990).

    No intuito de identificar as substncias orgnicas presentes nos resduos que

    ficaram retidos no papel de filtro millipore 0,45 m, foram realizadas medidas

    espectroscpicas na regio do infravermelho. Todos os pontos de coleta do Igarap

    03 apresentaram as mesmas funes. A Figura 4.2 mostra um espectro

    representativo das medidas de todos os pontos de coleta do Igarap 03.

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 50060

    65

    70

    75

    80

    85

    90

    95

    100

    Transmitncia(%)

    Nmero de ondas (cm-1)

    Figura 4.2- Espectro de infravermelho do resduo do filtro de 0,45 m do Igarap

    03, obtido na primeira coleta (maio).

    O espectro de infravermelho revelou bandas fortes em 3696, 3654 e 3621 cm-1

    que correspondem s vibraes de estiramentos de grupos O-H. Em 1098, 1035 e

    1012 cm-1existem bandas intensas que podem ser atribudas aos estiramentos de Si-

    34

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    Estudo do Igarap 03

    O-Si. A banda em 915 cm-1 proveniente das vibraes atribudas s deformaes

    de grupos O-H ligados camada interna e as localizadas camada interna de

    argilominerais do tipo 1:1. A existncia de duas bandas de pouca intensidade em 791

    e 751 cm

    -1

    caracterizam a deformao Si-O-Al. As bandas em 541, 470 e 429 cm

    -1

    podem ser atribudas deformao Al-O-Al. O conjunto dessas bandas caracteriza a

    presena de caulinita na amostra (SILVERSTEIN et al., 1994).

    Alm das bandas relativas caulinita, os espectros na regio do infravermelho

    apresentaram bandas em 2925 e 2856 cm-1correspondentes ao estiramento C-H de

    grupos alifticos. Em 1638 cm-1 existe uma banda que pode ser atribuda ao

    estiramento assimtrico do on COO-. Na regio de 1375 cm-1aparece uma banda

    que pode ser proveniente de estiramentos C-N de grupos amidas e/ou aminas, que

    tambm pode ser atribuda estiramentos simtricos de COO -. Os valores das

    vibraes das bandas so tpicos de substncias orgnicas presentes no resduo.

    Provavelmente parte dessas substncias so cidos hmicos, cidos flvicos (POPPI

    & TALAMONI, 1992), ou derivados deles adsorvidos nas partculas. Tais

    substncias so comuns em guas pretas da regio amaznica (KCHLER et al.,

    2000).

    O ponto de coleta 10, que um local de despejo industrial, ao que tudo indica

    foi desativado a partir da segunda coleta (julho). Por isso, no foi possvel realizar as

    anlises dessas amostras nas coletas seguintes. Portanto, o rejeito industrial

    despejado neste ponto de coleta no influiu mais nas caractersticas da gua do

    Igarap.

    O estudo realizado no ms de julho de 2000 (Tabela 4.4) mostrou que osvalores de pH variaram em torno de 0,3 unidades em relao ao ms de maio, a

    temperatura reduziu cerca de 1,78 0,62 oC e os pontos de coleta 8 e 9 continuaram

    apresentando os maiores valores de temperatura. O rejeito industrial despejado no

    ponto de coleta 8 aumentou 6,4 oC a temperatura mdia da gua do Igarap (24,6

    35

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    Estudo do Igarap 03

    0,3 oC). Este acrscimo foi superior ao limite mximo indicado pelo CONAMA para

    lanamento de rejeitos nos corpos dgua, que de 4 oC acima da temperatura do

    corpo receptor.

    O teor de matria orgnica total reduziu drasticamente em todo o Igarap 03,

    com exceo do ponto de coleta 9, cujo valor foi duas vezes maior que na primeira

    coleta.

    Tabela 4.4 - Alguns parmetros fsicos e qumicos do Igarap 03, obtidos durante a

    segunda coleta (julho).

    Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH

    1 4,29 (3) 24,5 6,642 5,89 (99) 24,5 6,543 4,76 (24) 24,0 6,564 5,37 (70) 24,5 6,445 2,99 (3) 25,0 6,456 3,25 (9) 24,5 6,417 1,30 (0) 25,0 6,49

    8* 8,31 (4) 31,0 6,389* 53,3 (4) 27,5 5,26

    * Prximo a esgoto industrial M.O. = matria orgnicaOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    A anlise de metais pesados (Fe, Zn, Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e Cd) da segunda

    coleta (Tabelas 4.5 e 4.6) foi caracterizada pela presena de Fe, Zn, Mn, Ni, Cr e Cu

    na gua do Igarap 03. As concentraes de Cd e Pb estavam abaixo do limite de

    deteco da tcnica.

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    Estudo do Igarap 03

    Os teores determinados para o Fe, Zn e o Mn so praticamente os mesmos

    encontrados na primeira coleta, sendo que as amostras filtradas apresentaram

    concentraes ligeiramente maiores (Tabela 4.5). Esses teores no ultrapassam os

    limites permitidos pelo CONAMA para despejo de efluentes nos corpos dgua.Porm, esto acima dos valores mximos admissveis para guas de Classe 2,

    destinadas ao abastecimento domstico, recreao, irrigao e aquicultura.

    As indstrias localizadas nas proximidades do Igarap podem estar

    contribuindo para essa contaminao, uma vez que os elementos Fe, Zn e Mn

    existem naturalmente neste ecossistema devido ao intemperismo dos minerais

    presentes no solo.

    Ao comparar as amostras filtradas e no filtradas observou-se a presena de Ni,

    Cr e Cu nas duas fraes e, em alguns casos, na mesma proporo. A deteco de

    Ni, Cr e Cu, nesta coleta, mostra a alterao da composio qumica de ons

    metlicos do Igarap 03 em relao ao ms de maio. Os teores de Cu e Ni estavam

    acima dos limites recomendados pelo CONAMA.

    Durante as coletas foi observado contato direto da populao, principalmentecrianas, com a gua dos Igaraps estudados. Esses fatos podem introduzir excesso

    de Cu no corpo humano, podendo desativar enzimas que contm grupos S-H, reduzir

    a proporo de enzimas transportadoras de eltrons, epilepsia, melanoma, artrite

    reumatide, entre outras leses (SARGENTELLI et al., 1996).

    De acordo com os resultados das anlises qumicas de metais pesados da

    segunda coleta ao longo do Igarap 03, o Cr estava ausente em alguns pontos de

    coleta, principalmente nos pontos 7, 8 e 9 (Tabela 4.6). Desses pontos, os dois

    ltimos esto localizados prximo de esgoto industrial. A ausncia de Cr nesses

    pontos de coleta indica que as empresas que fazem uso desse sistema de descarga

    no utilizam o Cr em seus processos.

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    Estudo do Igarap 03

    Tabela 4.5 Teores mdios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de gua

    filtradas e no filtradas do Igarap 03, obtidos na segunda coleta

    (julho).

    Fe Zn MnPontos decoleta NF F NF F NF F

    1 15,6 (0) 9,56 (2,5) 0,151 (0) 0,075 ((0) 0,186 (110) 0,019 (0)2 15,6 (0) 9,02 (0) 0,130 (0) 0,109 (0) 0,186 () 0,040 (0)3 13,9 (0) 7,38 (0) 0,239 (88) 0,251 (42) 0,207 (0) 0,019 (0)4 15,0 (2,5) 5,74 (0) 0,149 (33) 0,158 (0) 0,193 (32) 0,019 (0)5 12,3 (0) 9,02 (0) 0,608 (398) 0,146 (14) 0,110 (32) 0,019 (0)6 13,9 (0) 5,74 (1,6) 0,151 (0) 0,165 (66) 0,124 (42) n.d.

    7 12,3 (0) 5,74 (0,95) 0,571 (554) 0,144 (0) 0,103 (880) n.d.8* 15,6 (1,6) 7,38 (0) 1,31 (10) 0,761 (71) 0,159 (32) 0,131 (32)9* 3,62 (43) 1,74 (8) 0,728 (37) 0,742 (0) 0,103 (21) 0,103 (0)

    NF = no filtrado F = filtrado n.d. = no detectado *Prximo a esgoto industrialOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    Tabela 4.6 Teores mdios em mg L-1 de Ni, Cr e Cu nas amostras de gua

    filtradas e no filtradas do Igarap 03, obtidos na segunda coleta

    (julho).

    Pontos de Ni Cr Cu

    Coleta NF F NF F NF F

    1 0,254 (59) 0,305 (0) 0,091 (0) 0,184 (0) 0,086 (0) 0,057 (0)2 0,305 (0) 0,267 (0) 0,091 (0) 0,091 (0) 0,067 (44) 0,067 (44)3 0,305 (0) 0,382 (44) 0,091 (0) 0,184 (93) 0,057 (0) 0,135 (0)4 0,382 (0) 0,382 (0) 0,091 (0) 0,184 (0) 0,057 (0) 0,115 (0)

    5 0,382 (0) 0,344 (38) 0,137 (46) 0,091 (53) 0,164 (121) 0,057 (0)6 0,305 (0) 0,344 (0) n.d. 0,091 (0) 0,028 (0) 0,057 (0)7 0,420 (38) 0,344 (0) n.d. n.d. 0,057 (0) 0,086 (29)8* 0,344 (44) 0,344 (22) n.d. n.d. 0,057 (0) 0,028 (0)9* 0,241 (145) 0,344 (0) n.d. n.d. 0,115 (0) 0,086 (0)

    NF = no filtrado F = filtrado n.d. = no detectado *Prximo a esgoto industrialOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    38

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    46/118

    Estudo do Igarap 03

    Nos demais pontos de coleta (6-1) os teores de Cr encontravam-se acima dos

    valores permitidos pelo CONAMA para Cr6+, porm estavam de acordo com os

    limites para o Cr3+. A presena de Cr preocupante uma vez que h evidncias

    epidemiolgicas que a exposio ao Cr

    6+

    pode provocar cncer pulmonar, apesar deas concentraes desse elemento em ambientes aquticos ser muito baixa. O Cr3+,

    por sua vez, moderadamente txico (HUHEEY, 1993 e SALA et al., 1995).

    A espectroscopia na regio do infravermelho das partculas maiores que 0,45

    m (Figura 4.3) mostrou uma banda intensa em 1077 cm-1que pode ser atribuda

    aos estiramentos de Si-O-Si. A banda em 938 cm -1 proveniente vibrao de

    deformao de grupos O-H ligados camada interna. A existncia de uma banda de

    pouca intensidade em 791 cm-1caracteriza a deformao Si-O-Al. A banda em 541

    cm-1pode ser atribuda deformao Al-O-Al. Com isso, atribui-se a presena de

    caulinita.

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 50080

    85

    90

    95

    100

    105

    110

    115

    Transmitncia(%)

    Nmero de ondas (cm-1)

    Figura 4.3- Espectro de infravermelho caracterstico dos resduos retidos no filtro de

    0,45 m do Igarap 03, obtido na segunda coleta (julho).

    39

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    Estudo do Igarap 03

    Nos espectros de infravermelho observaram-se tambm bandas relacionadas

    presena de partculas de matria orgnica. Uma banda que aparece em 1743 cm-1

    caracteriza o estiramento C=O de grupos COOH, uma outra banda na regio de 1527

    cm

    -1

    indica estiramento assimtrico de C=C. Em 1653 cm

    -1

    aparece uma banda quepode ser atribuda ao estiramento assimtrico do on COO-. Em 1449 cm-1 ocorre

    uma banda caracterstica do estiramento de C=C em aromticos.

    No ms de setembro (terceira coleta), os valores de pH ao longo do Igarap 03

    (Tabela 4.7) variaram cerca de 0,2 unidade em relao aos encontrados na segunda

    coleta e a temperatura aumentou em mdia 3,33 1,25 oC.

    Os pontos de coleta 8 e 9 apresentaram temperatura da gua acima da mdiaobservada no Igarap 03 nesta coleta, com valores superiores em 9 e 6 oC,

    respectivamente. Isso se deve ao despejo com temperatura elevada que ocorreu

    nesses locais de coleta. Essas condies esto acima da estipulada pelo CONAMA

    para descarga de efluentes em guas superficiais em que a temperatura dos mesmos

    deve ser inferior a 40 oC, sendo que a elevao da temperatura do corpo receptor no

    pode exceder 3 oC.

    Esses aumentos significativos nos valores de temperatura so prejudiciais ao

    ambiente aqutico. As temperaturas dos animais aquticos (peixes, anfbios, rpteis

    e invertebrados em geral) variam de acordo com as modificaes da temperatura

    ambiental. Alm disso, a gua aquecida possui menos oxignio dissolvido que a

    gua fria, podendo provocar acelerao do seu metabolismo e, consequentemente,

    aumento da demanda de oxignio (MAGOSSI & BONACELLA, 1990).

    Dos quatro meses de coleta, este foi o de maior ndice pluviomtrico (210

    mm), contribuindo para a diluio do carbono orgnico total na gua deste Igarap,

    com exceo do ponto de amostragem 9, onde o teor de matria orgnica

    permaneceu elevado (Tabela 4.7).

    40

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    Estudo do Igarap 03

    Tabela 4.7 - Alguns parmetros fsicos e qumicos do Igarap 03 obtidos durante a

    terceira coleta (setembro).

    Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH

    1 1,52 (0) 28,0 6,762 2,02 (50) 28,0 6,803 0,91 (0) 27,5 6,744 n.d. 27,0 6,555 3,94 (45) 27,0 6,606 0,91 (18) 27,0 6,597 2,93 (57) 27,0 6,63

    8* 7,78 (13) 36,0 6,419* 78,8 (0) 33,0 6,16

    * Prximo a esgoto industrial M.O. = matria orgnicaOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    A Tabela 4.8, referente s anlises qumicas de alguns metais pesados (Fe, Zn,

    Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e Cd), mostra novamente a presena de Fe e Zn ao longo do

    Igarap 03 nas duas fraes (filtrada e no filtrada) e o Mn e o Pb em alguns pontosde coleta. As concentraes de Cu, Cd Ni e Cr estavam abaixo do limite de deteco

    da tcnica.

    O Zn foi encontrado em maiores concentraes nos pontos de coleta 8 e 9. Os

    valores determinados estavam dentro dos padres recomendados pelo CONAMA

    para despejo de efluente industrial. Ao longo do Igarap a concentrao desse

    elemento foi adsorvida pelo sistema. E prximo ao Igarap do Quarenta estava

    dentro do limite recomendado pelo CONAMA para guas destinadas ao

    abastecimento domstico, recreao e irrigao.

    Nesta coleta o Mn s foi determinado nos pontos de coleta 8 e 9. Este metal

    estava abaixo do limite de deteco da tcnica nos outros pontos de coleta (1-7).

    41

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    Estudo do Igarap 03

    Tabela 4.8 Teores mdios em mg L-1de Fe, Zn, Mn, e Pb nas amostras de gua

    filtradas e no filtradas do Igarap 03, obtidos na terceira coleta

    (setembro).

    Fe Zn Mn PbPontosde coleta

    NF F NF F NF F NF F

    1 24,3 (0) 4,26 (1,1) 0,121 (0) 0,085 (57) n.d. n.d. n.d. n.d.

    2 20,2 (0) 2,52 (91) 0,068 (23) 0,053 (44) n.d. n.d. n.d. n.d.

    3 22,7 (0) 1,80 (0) 0,133 (66) n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.

    4 21,1 (0) 0,80 (0) 0,097 (26) 0,085 (32) n.d. n.d. n.d. n.d.

    5 20,5 (1,2) 0,80 (0) 0,053 (51) 0,065 (41) n.d. n.d. n.d. n.d.

    6 22,6 (13) 2,30 (1,8) n.d. 0,136 (0) n.d. n.d. n.d. 0,652 (0)

    7 21,1 (0) 2,33 (37) 0,085 (62) 0,058 (11) n.d. n.d. 1,09 (0) 0,217 (0)8* 14,7 (0) 1,80 (0) 0,700 (100) 0,463 (69) 0,055 (0) 0,055 (0) n.d. n.d.

    9* 19,0 (1,5) n.d. 0,397 (0) 0,237 (0) 0,116 (21) 0,055 (0) 0,217(0) 0,217 (0)

    NF = no filtrado F = filtrado n.d. = no detectado *Prximo a esgoto industrialOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    Ao contrrio das duas primeiras coletas, observa-se a presena de Pb nos

    pontos de coleta 9, 7 e 6. Atribui-se a presena desse elemento atividade antrpica,

    pois o ponto de coleta 9 recebe influncia de esgoto industrial e pode ser a fonte

    desse metal. O teor de Pb aumentou no sentido do curso do Igarap (pontos de coleta

    9-6), indicando que o elemento, apesar de ter sido lanado dentro dos padres

    recomendados pelo CONAMA sofreu acumulao nas guas do Igarap 03. Por

    outro lado, a ausncia de Pb nos pontos de coleta 5-1 indica que esse elemento foi

    sendo acumulado no micro-ecossistema existente nos pontos de coleta 6 e 7. A

    disseminao de Pb em ambientes aquticos depende do valor de pH, que no caso do

    Igarap 03 est em torno de 6,00 e no permite a dissoluo do Pb para o meio

    ambiente (LINDSAY, 1979).

    42

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    Estudo do Igarap 03

    A espectroscopia na regio do infravermelho das partculas maiores que 0,45

    m (Figura 4.4) mostrou bandas em 3696, 3622 e 3656 cm-1que correspondem s

    vibraes de estiramentos de grupos O-H. Os estiramentos de Si-O-Si podem ser

    observados pelas bandas em 1115, 1035 e 1010 cm

    -1

    . As deformaes de grupos O-H ligados camada interna foram detectadas atravs da banda em 914 cm -1. A

    existncia de uma banda de pouca intensidade em 792 cm-1caracteriza a deformao

    Si-O-Al. As bandas em 540, 469 e 427 cm-1podem ser atribudas deformao Al-

    O-Al. Com isso, atribui-se a presena de caulinita.

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    Tra

    nsmitncia(%)

    Nmero de ondas (cm-1)

    Figura 4.4 - Espectro de infravermelho caracterstico dos resduos retidos no filtrode 0,45 m do Igarap 03, obtido na terceira coleta (setembro).

    43

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    51/118

    Estudo do Igarap 03

    O espectro na regio do infravermelho mostrou tambm estiramentos

    referentes matria orgnica. Em 2924 e 2855 cm-1existem bandas que podem ser

    atribudas ao estiramento assimtrico de C-H. A banda que aparece em 1650 cm -1

    pode ser correspondente ao estiramento assimtrico do on COO

    -

    , em 1541 e 1461cm-1as bandas so caractersticas do estiramento C=C de anel aromtico 1382 cm-1

    pode ser proveniente de estiramento C-N de grupos amida e/ou amina.

    Na quarta coleta, realizada no ms de novembro, os valores de pH (Tabela 4.9)

    permaneceram praticamente inalterados em relao aos da terceira coleta, com uma

    variao de 0,3 unidades apenas no ponto de coleta 5.

    Tabela 4.9 - Alguns parmetros fsicos e qumicos do Igarap 03 obtidos durante a

    quarta coleta (novembro).

    Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH

    1 4,26 (12) 28,0 6,732 5,25 (10) 28,0 6,713 3,56 (5) 28,0 6,774 3,27 (18) 28,0 6,575 48,5 (8) 30,0 6,916 3,86 (0) 27,0 6,597 3,17 (8) 27,0 6,518* 4,46 (6) 32,0 6,599* 144 (0) 34,0 5,95

    * Prximo a esgoto industrial M.O. = matria orgnicaOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    A temperatura sofreu algumas variaes, aumentando 3 oC no ponto de coleta

    5 e diminuindo 4 oC no ponto de coleta 8. Os efluentes despejados nos pontos de

    coleta 8 e 9 continuaram aquecendo as guas do Igarap 03 na quarta coleta, pois os

    44

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    Estudo do Igarap 03

    valores de temperatura nesses pontos estavam, respectivamente 4 e 8 oC acima dos

    valores permitidos pelo CONAMA.

    Nesta coleta o contedo de matria orgnica aumentou, mas no atingiu a

    concentrao mdia observada na primeira coleta que foi de 13,03 5,9 mg L-1. O

    ponto de coleta 5 sofreu alterao tambm no teor de matria orgnica, com uma

    concentrao 12 vezes maior que os demais pontos de coleta deste Igarap.

    Os resultados da determinao de metais pesados (Fe, Zn, Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e

    Cd) mostraram que apenas o Fe e o Zn possuam concentraes dentro do limite de

    deteco da tcnica (Tabela 4.10). Os demais elementos apresentaram concentraes

    abaixo do limite de deteco.

    Tabela 4.10 Teores mdios em mg L-1de Fe e Zn nas amostras de gua filtradas e

    no filtradas do Igarap 03, obtidos na quarta coleta (novembro).

    Fe ZnPontos de

    coleta NF F NF F

    1 10,6 (0) 6,91 (1,9) 0,140 (9) 0,103 (0)2 11,9 (9) 4,10 (040) 0,112 (0) 0,149 (33)3 8,63 (4,3) 6,76 (1,0) 0,112 (0) 0,112 (24)4 11,8 (1,0) 5,76 (1,5) 0,103 (0) 0,094 (0)5 7,18 (2,7) 0,02 (0) 0,238 (54) 0,088 (33)6 11,5 (9) 48,1 (28,5) 0,339 (178) 0,177 (0)7 9,53 (1,44) 29,1 (5,3) 0,348 (141) 0,186 (0)

    8* 2,21 (93) 3,57 (2,1) 0,342 (42) 0,419 (35)

    9* 33,5 (6,8) 33,0 (28) 0,508 (0) 0,355 (85)NF = no filtrado F = filtrado *Prximo a esgoto industrialOs nmeros entre parnteses representam o desvio padro de triplicata

    45

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    Estudo do Igarap 03

    Analogamente primeira coleta, os metais detectados estavam associados s

    partculas em suspenso. Apenas os pontos de coleta 6, 7 e 8 apresentaram maior

    concentrao de Fe dissolvido. E o Zn mostrou maior solubilidade nos pontos de

    coleta 2 e 8. O teor desses metais no Igarap 03 encontrava-se dentro dos limitespermitidos pelo CONAMA para despejos de efluentes industriais.

    A espectroscopia na regio do infravermelho do material retido pela filtrao

    mostrou novamente a presena de caulinita e matria orgnica nas amostras do

    resduo do Igarap 03 na quarta coleta (Figura 4.5). Essas substncias foram

    caracterizadas pelas bandas em 3695, 3652 e 3622 cm-1 que correspondem s

    vibraes de estiramentos de grupos O-H. Em 2930 cm-1 encontra-se uma banda

    tpica de estiramentos C-H de grupos alifticos. Os estiramentos de Si-O-Si podem

    ser observados pelas bandas em 1116, 1035 e 1009 cm-1. A banda em 914 cm-1

    corresponde deformaes de grupos O-H ligados camada interna. A existncia de

    uma banda de pouca intensidade em 793 cm-1caracteriza a deformao Si-O-Al. As

    bandas em 540, 469 e 429 cm-1podem ser atribudas deformao Al-O-Al.

    Quanto aos estiramentos correspondentes matria orgnica pode-se

    relacionar as bandas em 1734 e 1651 cm-1 aos estiramentos assimtricos do on

    COO-. Em 1541 e 1522 e 1457 cm-1ocorrem bandas caractersticas de estiramento

    C=C de anel aromtico. Os espectros desta coleta no apresentaram bandas

    provenientes de estiramento C-N de grupos amida e/ou amina e as correspondentes

    ao estiramento assimtrico de C-H (Figura 4.5).

    46

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    54/118

    Estudo do Igarap 03

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 50020

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    Transmitncia(%)

    Nmero de ondas (cm-1)

    Figura 4.5 - Espectro de infravermelho caracterstico dos resduos retidos do filtro

    de 0,45 m do Igarap 03, obtido na quarta coleta (novembro).

    4.3. Consideraes Finais

    Numa avaliao dos resultados obtidos durante as quatro coletas pode-se

    verificar alterao nas caractersticas fsicas e na composio qumica do Igarap 03.

    A concentrao de matria orgnica alterou drasticamente durante o perodo

    estudado, mostrando valores diferentes dos normalmente encontrados em guas

    pretas. A temperatura tambm oscilou bastante, mas o valor de pH permaneceu

    praticamente constante, acima dos valores encontrados nos igaraps de Manaus em

    condies naturais.

    47

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    Estudo do Igarap 03

    A Figura 4.7 mostra que a temperatura da gua do Igarap 03 foi maior que a

    temperatura da cidade de Manaus. Apenas no ms de julho ocorreu situao inversa.

    23

    24

    25

    26

    27

    28

    29

    30

    Temperatu

    ra(oC)

    Mai Jul Set Nov

    Meses de coleta

    Manaus

    Igarap 03

    Figura 4.6 Temperaturas mdias da cidade de Manaus e da gua do Igarap 03

    nos quatro meses de coleta.

    Observa-se tambm uma tendncia no aumento da temperatura, sendo os

    valores mais elevados no ms de novembro. Com isso, pode-se relacionar a

    temperatura da gua do Igarap, principalmente com a temperatura ambiente de

    48

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    Estudo do Igarap 03

    Manaus, pois os valores do ndice pluviomtrico no acompanharam a variao de

    temperatura da gua do Igarap, principalmente nos meses de maio e novembro.

    Os elementos Fe e Zn estavam presentes em todas as coletas, geralmente em

    maior concentrao na frao no filtrada, evidenciando a ao do intemperismo na

    liberao desses elementos para a gua do Igarap 03 (Figura 4.7).

    As concentraes de Fe e Zn tambm variaram durante os perodos das coletas,

    na regio prxima ao Igarap do Quarenta. Entretanto, os teores desses dois

    elementos foram praticamente os mesmos nas amostras coletadas em julho e

    novembro. J em maio, a concentrao de Fe teve seu valor muito acima ao do Zn.

    O mesmo comportamento foi observado por SAMPAIO (2000).

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Concentrao

    (mg.L

    -1)

    Mai Jul Set Nov SAMPAIO

    Meses de coleta

    Fe

    Zn

    Figura 4.7 - Teores mdios de Fe e Zn determinados nos quatro perodos de

    amostragem e determinados por SAMPAIO (2000), na frao no

    filtrada do Igarap 03.

    49

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    Estudo do Igarap 03

    Em determinadas pocas do ano, ocorreu o despejo industrial, principalmente

    de materiais que contm o Ni, Cu, Cr e Pb em sua composio qumica (Figura 4.6).

    Destes quatro elementos apenas o Pb ficou adsorvido neste Igarap prximo ao local

    onde foi despejado. J o Ni, Cu e Cr foram distribudos para o Igarap do Quarenta.

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    1

    Concentrao(mgL-1)

    Fe Zn Mn Ni Cr Cu PbMetais Pesados

    Maio

    Julho

    Setembro

    Novembro

    Figura 4.8 Distribuio de alguns metais pesados nas amostras de gua filtradas

    durante os meses de maio, julho, setembro e novembro no ponto de

    coleta 1, prximo ao Igarap do Quarenta.

    Dessa forma, a contribuio de metais pesados oriundos de atividade antrpica

    para o Igarap Quarenta, atravs do Igarap 03, ocorreu de maneira espordica

    durante o ano de 2000. Com maior ocorrncia no ms de julho, quando foram

    detectados praticamente todos os metais, exceto o Cd e o Pb.

    50

  • 5/20/2018 ESTUDO F SICO-QU MICO DA GUA DE TR S.pdf

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    5. Estudo do Igarap 04

    5.1. Descrio dos locais de coleta

    Durante as quatro coletas as guas do Igarap 04 apresentaram colorao clara

    com forte odor de esgoto e s vezes de solvente. As margens estavam desmatadas

    com algumas gramneas, samambaias e buritizeiros ao longo do curso do Igarap.

    Nas margens e no leito do Igarap havia muito lixo, como sacos de

    prolipopileno, garrafas plsticas e de vidro, pneus e algumas latas. Observou-se

    tambm espuma prxima as quedas dgua existentes no percurso do Igarap.

    No Quadro 5.1 so apresentadas algumas peculiaridades observadas durante as

    coletas. No caso da colorao azulada, observada durante a terceira coleta, pode-se

    atribuir a presena de corantes. Uma vez que, devido a sua prpria natureza, os

    corantes so altamente detectveis a olho nu, sendo visveis em alguns casos mesmo

    em concentraes to baixas quanto 1 ppm (GUARATINI & ZANONI, 2000).

    Quadro 5.1 Caractersticas de alguns pontos de coleta do Igarap 04 observadas

    durante as coletas.

    Coleta Descrio

    Primeira

    (maio)

    gua turva devido chuva no perodo da coleta (pontos

    2 e 3 - Figura 5.1a).

    Segunda

    (julho)

    Presena de espuma (ponto 4 Figura 5.1 b), forte odor de

    solvente (ponto