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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE FSICA
Dissertao de Mestrado
ESTUDOS DE ESPALHAMENTO DE RAIOS X NOS PROCESSOS DE
INTERCALAO DE GUA DA ARGILA EXPANSVEL
MONTEMORILONITA: SIMULAO E EXPERIMENTO
RODRIGO MAIA DIAS LEDO
Orientador
GERALDO JOS DA SILVA
Co-orientador:
DEMTRIO ANTNIO DA SILVA FILHO
Braslia, 09 de setembro de 2014.
UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE FSICA
Dissertao de Mestrado
ESTUDOS DE ESPALHAMENTO DE RAIOS X NOS PROCESSOS DE
INTERCALAO DE GUA DA ARGILA EXPANSVEL
MONTEMORILONITA: SIMULAO E EXPERIMENTO
RODRIGO MAIA DIAS LEDO
Orientador
GERALDO JOS DA SILVA
Co-orientador:
DEMTRIO ANTNIO DA SILVA FILHO
Braslia, 09 de setembro de 2014.
Estudos de Espalhamento de Raios X nos Processos de Intercalao de gua da Argila
Expansvel Montemorilonita: Simulao e Experimento.
Por
Rodrigo Maia Dias Ledo
Dissertao submetida ao Instituto de Fsica da Universidade de Braslia como parte dos
requisitos para a obteno do grau de Mestre em Fsica
Aprovada por:
Prof. Dr. Geraldo Jos da Silva
IF/UnB
Prof. Dr. Geraldo Magela e Silva
IF/UnB
Prof. Dr. Luciano Ribeiro
UnUCET/UEG
Prof. Dr. Fernando de Albuquerque de Oliveira
Coordenador de Ps-Graduao
Instituto de Fsica
Todo o poder do mundo no pode alterar o destino.
Michael Corleone (O Poderoso Chefo Parte III)
Agradecimentos
Agradeo primeiramente a Deus, pois sem Ele no teria foras para completar esse projeto.
Aos meus pais, Ramiro e Ivanete, que me ensinaram a trabalhar, lutar e sonhar. Dizem que os
filhos se espelham nos pais desde os primeiros momentos de nossas vidas. Isso a mais pura
verdade. Os pais so nossos exemplos de pessoas a serem seguidas, nossos heris que no
mediram esforos para cuidar e educar os filhos. Digo a vocs que sem seus conselhos e
orientaes no conseguiria dar nenhum dos passos que dei. Obrigado.
minha esposa Tas, o presente que Deus me deu. Obrigado pela pacincia, amor, carinho,
companheirismo, ajuda e apoio nos momentos de desnimo. Compartilho com voc esse
momento de alegria e felicidade. Caminharei ao seu lado todos os meus dias.
Aos meus irmos, Rben, Helena, Roger e Rebeca pelo apoio familiar, conversas e momento
de descontrao e de amizade, acima de tudo.
Aos meus sogros Luciano e Mirna Flores, e meus cunhados, Alice, Lucas, Clarissa e Daniel.
Ao nobre professor orientador Dr. Geraldo Jos da Silva, pelas inmeras conversas, aulas,
ensinos, orientaes e, principalmente, disposio para ouvir e ajudar. Registra-se minha
admirao e respeito.
Ao professor e co-orientador Dr. Demtrio Antnio da Silva Filho pelas conversas e
orientaes cruciais e necessrias para a base do trabalho.
Aos colegas de pesquisa, Leander Michels, Giovanni Grassi, Mario Alto e Cyntia Larisse,
pelas conversas, brincadeiras e momentos de estudo.
Aos meus amigos Luciano Leal, Guilherme Gomide, Stephanie Lamounier, Eduardo Moreira
e Fernando Barbosa, cuja amizade vem desde os tempos da graduao e permanecer por toda
a vida.
Aos demais professores do Instituto de Fsica da UnB que fizeram parte da minha formao.
Sandra e ao Thales, da Secretaria de Ps-Graduao da Fsica pelos auxlios, ajuda e que
mesmo em situaes difceis (algumas provocadas por ns mesmos), no desanimam e sempre
tentam ajudar os alunos, por isso tm o meu respeito pelo trabalho.
Aos demais colegas de graduao e mestrado que fizeram parte, mesmo que por um singelo
momento, dessa caminhada rdua e promissora.
Universidade de Braslia, em especial ao Instituto de Fsica e ao Instituto de Qumica por
permitir a utilizao do aparelho de Raio-X.
Por fim, a todos aqueles que lero o presente trabalho. Obrigado a todos.
i
Abreviaturas
MMT: Montemorilonita
WL: Water Layer (camada de gua)
DRX: Difrao de Raios X
Na-MMT: Sdio-Montemorilonita
DNA: Deoxyribonucleic Acid (cido Desoxirribonucleico)
REM: Radiao Eletromagntica
FWHM: Full Width at Half Maximum (Largura meia altura)
DM: Dinmica Molecular
MM: Mecnica Molecular
MS: Materials Studio
QD: Quantum Dynamics (Dinmica Quntica)
GO: Geometry Optimization (Otimizao de Geometria)
PD: Powder Difraction (Difrao de P)
MH20: Massa de gua absorvida pela argila
MCLAY: Massa da argila sem considerar a gua
Li-Fh: Litio-Fluohectorita
SAXS: Small Angle X-ray Scattering (Espalhamento de Raios X a Baixo ngulo)
ii
Resumo
Neste incio de sculo, com o avano tecnolgico dos computadores e dos mtodos
computacionais, as simulaes moleculares atingiram um nvel de sofisticao tal que
propriedades estruturais, mecnicas e dinmicas dos materiais podem ser estudadas de maneira
no antes realizada. Associadas a isso, tcnicas experimentais, do ponto de vista do seu
fundamento terico, esto sendo utilizadas para sugerir aos pesquisadores experimentais novos
procedimentos de observao que podem ser utilizados para averiguar os comportamentos
previstos. Do ponto de vistas experimental, com o advento de novas tcnicas e mtodos
qumicos mais elaborados, amostras limpas esto sendo obtidas e com isso espera-se que
experimentos sugiram simulaes. Entretanto, esta relao sinergtica simulao-experimento,
requer um claro entendimento das escalas temporais e espaciais existente entre os dois regimes.
Este trabalho pretende ser um exemplo deste relacionamento. O objeto deste estudo baseado
na argila natural expansvel Montemorilonita (MMT), muito explorada no s do ponto de vista
experimental como terico, com a utilizao de um campo de fora bem estabelecido
(CLAYFF).
Este trabalho est dividido em duas etapas distintas. Na primeira etapa, simulamos processos
de intercalao de gua nas CNTP usando o programa Materials Studio e o pacote
computacional FORCITE. Foram gerados os espectros por difrao de raios X dos resultados
das simulaes, considerando a amostra um p perfeito, e a partir da sugeriu-se
comportamentos e regies do espectro de raios X que podero ser utilizados experimentalmente
para o estudo da dinmica da intercalao de gua neste tipo de argila via amplitudes dos picos
de reflexo de alta ordem. Tambm foi possvel sugerir regies destes espectros que permitem
estudar o tamanho e sua polidisperso nas vrias direes dos respectivos eixos cristalogrficos.
Experimentos de raios X utilizando o Difratmetro Bruker do Instituto de Quimica-UnB foram
realizados para uma amostra da argila natural Montemorilonita e os resultados so comparados
com a simulao. Numa segunda etapa, resultados experimentais do comportamento quadrtico
do strain em funo dos estados de hidratao para a argila sinttica Fluorohectorita sugeriram
estudo semelhante, atravs da simulao, para a Na-MMT e o resultado indica que o processo
de intercalao da gua poderia ser uma das causas do comportamento observado. Tambm,
como exerccio de pura simulao, estudou-se o comportamento das distncias interplanares da
Na-MMT para as presses atmosfrica (1atm) e abissal (1000 atm) e foi observado que h
diferenas pontuais nas caractersticas expansivas da argila. Finalmente, procedimentos
experimentais utilizando raios X de sincrotron so sugeridos para trabalhos futuros no sentido
de tornar quantitativa a comparao dos resultados acima obtidos.
Palavras-Chave: Argila Natural, Montemorilonita, Dinmica Molecular, Espectros de Raios X.
iii
Abstract
Early in this century, with the advance of the computer technology and computational methods,
molecular simulations reached a level of sophistication such that structural, mechanical and
dynamic properties of materials can be studied in a manner not done before. Associated with
this, experimental techniques, from the point of view of its theoretical basis, are being used to
suggest to experimental researchers new procedures of observation that can be used to ascertain
the expected behaviors. From experimental point of view, with the advent of new techniques
and more complex chemical methods, pure samples are being obtained and it is expected that
experiments suggest simulations. However, this simulation-experiment synergistic relationship,
requires a clear understanding of temporal and spatial scales that exist between the two regimes.
This study intends to be an example of this relationship. The object of this study is based on
expandable Montmorillonite natural clay (MMT), which is widely exploited by the
experimental point of view as well as theoretical, using a well-established forcefield
(CLAYFF).
This study is divided into two distinct stages. In the first stage, we simulate the process of
intercalation of water at NTP using the Materials Studio software and the computational module
FORCITE. X-ray spectrum were generated by powder diffraction using the results of
simulations process and thereafter behaviors and regions of X-ray spectrum were suggested that
may be used experimentally to study the water intercalation dynamics at this type of clay by
watching the amplitudes of higher order reflection peaks. Also it was possible to suggest some
regions of the spectrum that allow to study the size and their polydispersity in various directions
of the respective crystallographic axes. X-ray experiments using the UnB Chemistry Institutes
Bruker diffractometer were performed for a natural clay sample of Montmorillonite and the
results were compared with the simulated ones. In the second stage, strainss experimental
results of quadratic behavior as a function of hydration states for the Fluohectorite synthetic
clay suggested a similar study by simulation for the Na-MMT and the results indicates that the
water intercalation process could be one of the causes of the of the observed behavior. Also, as
an exercise of pure simulation, the behavior of interlayer distances of Sodium Montmorillonite
(Na-MMT) were studied at room (1 atm) and at abyssal pressures (1000 atm) and it was
observed that there are slight differences in swelling characteristics of the clay. Finally,
experimental procedures using synchrotron X-ray are suggested for future works in order to
make a quantitative comparison of the results obtained above.
Keywords: Natural Clays, Montmorillonite, Molecular Dynamics, X-Ray spectra.
iv
Sumrio
Abreviaturas................................................................................................................................. i
Resumo ....................................................................................................................................... ii
Abstract ...................................................................................................................................... iii
Sumrio ...................................................................................................................................... iv
ndice de Figuras ...................................................................................................................... vii
ndice de Tabelas ...................................................................................................................... xii
Captulo 1 Nanosilicatos .......................................................................................................... 1
1.1 Introduo ......................................................................................................................... 1
1.2 Estrutura das Argilas ......................................................................................................... 2
1.3 Poros ................................................................................................................................. 3
1.4 Intercalao de gua ........................................................................................................ 4
1.5 Clula Unitria .................................................................................................................. 6
1.6 Subgrupos ......................................................................................................................... 7
1.7 Montemorilonita ............................................................................................................... 7
1.8 Sdio-Montemorilonita (Na-MMT) ................................................................................. 9
Captulo 2 Raios X ................................................................................................................ 10
2.1 Introduo ....................................................................................................................... 10
2.2 Natureza dos Raios X e Aspetos sob as Vises das Teorias Clssica e Quntica .......... 10
2.3 Interao da Radiao com a Matria ............................................................................. 12
2.4 Espalhamento de Raios X ............................................................................................... 13
2.4.1 Espalhamento por um Eltron .................................................................................. 13
2.4.2 Espalhamento por dois Eltrons ............................................................................... 18
2.4.3 Mdia Orientacional ................................................................................................. 20
2.4.4 Espalhamento por um tomo ................................................................................... 22
2.4.5 Espalhamento por uma Molcula ............................................................................. 23
v
2.4.6 Espalhamento por um Cristal ................................................................................... 24
2.5 Modelagem dos picos de interferncia ........................................................................... 29
2.5.1 Disribuio Gaussiana .............................................................................................. 30
2.5.2 Distribuio Lorentziana .......................................................................................... 30
2.5.3 Convoluo............................................................................................................... 30
2.5.4 Voigt ......................................................................................................................... 30
2.5.5 Pseudo-Voigt ............................................................................................................ 31
2.6 Intensidade de raios X em nanosilicatos lamelares ........................................................ 32
2.7 Frmula de Scherrer e anlise de Williamson-Hall ........................................................ 32
Captulo 3 Mtodos de Simulao ......................................................................................... 37
3.1 Introduo ....................................................................................................................... 37
3.2 Dinmica Molecular ....................................................................................................... 39
3.3 Campo de Fora (Force Field) ....................................................................................... 41
3.3.1 Potencial harmnico linear (interaes de dois corpos) ........................................... 43
3.3.2 Potencial harmnico angular (interaes de trs corpos) ......................................... 44
3.3.3 Potencial de toro (interaes de quatro corpos) .................................................... 44
3.3.4 Potencial de van der Waals (interaes de dois corpos) .......................................... 46
3.4.5 Potencial de Coulomb (interaes de dois corpos) .................................................. 48
3.5 Campos de fora para argilas .......................................................................................... 49
3.5.1 O campo de fora CLAYFF ..................................................................................... 49
3.6 Materials Studio .............................................................................................................. 50
3.6.1 Forcite ...................................................................................................................... 50
3.6.2 Sorption .................................................................................................................... 55
3.6.3 Reflex ........................................................................................................................ 55
Captulo 4 Processos de Simulaes, Resultados e Discusses ............................................ 56
4.1 Introduo ....................................................................................................................... 56
4.2 Simulao de intercalao de gua ................................................................................. 56
vi
4.2.1 Resultados e Discusses da Simulao de Intercalao ........................................... 58
4.2.2 Anlise do comportamento das amplitudes dos picos (00X) da regio de 1 WL .... 64
4.2.3 Anlise do comportamento das larguras dos picos (00X) da regio de 1 WL ........ 70
4.3 Observao de regies do espectro da Na-MMT que propem o estudo da polidisperso
nessa argila ............................................................................................................................ 72
4.4 Anlise do comportamento do strain em funo dos estados de hidratao ................. 79
4.5 Estudo do comportamento da distncia basal para presses abissais. ............................ 82
Captulo 5 Concluses e Propostas Futuras ........................................................................... 84
Referncias Bibliogrficas ........................................................................................................ 88
vii
ndice de Figuras
Figura 1.1 (a) figura esquemtica da estrutura tetradrica com um tomo de
silcio ligado a quatro oxignios, formando a slica. (b) figura esquemtica da
estrutura octadrica com um tomo de magnsio ligado a quatro oxignios e duas
hidroxilas................................................................................................................. ................ .. 2
Figura 1.2 Representao, por simulaes pelo mtodo de Monte Carlo, da
intercalao de gua em uma argila [2]. Os planos superiores e inferiores so as
camadas de argila e so identificadas posteriormente, no centro desses planos se
encontram as molculas de gua, representadas pelas esferas vermelhas
(oxignio) ligadas s esferas brancas (hidrognio), e os ctions representados
pelas esferas azuis. (a) mostra o regime de uma camada de gua e (b) regime de
duas camadas de gua.............................................................................................. ................ .. 5
Figura 1.3 Localizao da insero de gua em uma argila mineral. A figura
apresenta a gua adsorvida na superfcie do gro de argila, a gua absorvida no
espaamento lamelar e a gua cristalina (hidroxila) dentro da estrutura. As folhas
tetradricas e octadricas so representadas pelas camadas t e o respectivamente.. ................ .. 5
Figura 1.4 Representao esquemtica do tamanho das argilas esmectitas em
trs regimes de hidratao diferentes quando absorvem gua: (a) Zero Water
Layer [0 WL]; (b) Um Water Layer [1 WL]; (c) Dois Water Layer [2 WL]........... ................ .. 6
Figura 1.5 Figura esquemtica de uma argila 2:1 do tipo esmectita..................... ................ .. 6
Figura 1.6 (a) gros de argila. (b) partcula de argila na escala microscpica
formada pelo aglomeramento de camadas. (c) configurao de uma camada dentro
da partcula. (d) partcula de argila em escala atmica............................................ ................ .. 7
Figura 1.7 Representao cristalina da Montemorilonita. (a) Montemorilonita
sem partculas de gua, no estgio de 0 WL. (b) Montemorilonita em um estgio
hidratado com partculas de gua entre as camadas de argila.................................. ................ .. 8
Figura 2.1 Representao da onda eletromagntica transversal. Os campos E e
H so perpendiculares entre si e direo de propagao k e oscilam sobre os
eixos x e y respectivamente...................................................................................... ................ .11
viii
Figura 2.2 Esquema de um experimento de espalhamento de forma genrica.
Pode-se determinar a seo de choque d/d que a razo entre as intensidades
do campo incidente e espalhado. O fluxo do feixe incidente 0 o nmero de
partculas por unidade de rea por unidade de tempo. Para uma onda
eletromagntica, o fluxo proporcional a |Ein|2 multiplicado pela velocidade da
luz, c. Esse feixe incidente interage com o objeto alvo para produzir o feixe
espalhado. Um detector registra a intensidade do feixe espalhado, Isc, definido
como o nmero de registros de contagens por segundo, que proporcional a |Erad|2
multiplicado pela rea do detector e a velocidade da luz. O detector localizado
a uma distncia R do objeto alvo e subentende um ngulo slido
............................................................................................................................ ................ .14
Figura 2.3 (a) Campo eltrico incidente de onda plana sobre um eltron,
fazendo-o oscilar ao longo da direo de polarizao do campo, ento ele irradia
uma onda esfrica. (b) Por geometria, sin = . , onde () representa a
polarizao do feixe incidente (espalhado).............................................................. ................ .15
Figura 2.4 Espalhamento elstico de um feixe de raios X em um sistema de dois
eltrons. A radiao incidente caracterizada pelo vetor de onda k, e a frente de
onda representada pelas linhas verticais. O raio X espalhado observado na
direo k ................................................................................................................ ................ .18
Figura 2.5 Definio do vetor Q pela diferena entre os vetores de onda
incidente (k) e espalhado (k)................................................................................... ................ .19
Figura 2.6 Espalhamento elstico por um tomo de um feixe incidente de vetor
de onda k para uma direo dada pela onda espalhada de vetor k........................... ................ .23
Figura 2.7 Espalhamento de raios X por uma molcula, que simplesmente o
agrupamento de vrios tomos ................................................................................ ................ .24
Figura 2.8 Interao da radiao incidente k com os planos cristalinos de uma
rede, formando um ngulo , mostrando que a relao de interferncia resultado
da diferena do caminho ptico percorrido pelos feixes.......................................... ................ .25
Figura 2.9 Rede de Bravais bidimensional sem nenhuma simetria em particular,
apenas sendo uma malha oblqua. (a) Esboo dos stios da rede e os vetores
primitivos a1 e a2. (b) Esboo do vetor Rn, formador da rede, para determinao
de um stio da rede para o caso de n1 = 1 e n2 = 3.................................................... ................ .26
ix
Figura 2.10 Estrutura cristalina sendo uma molcula de 3 tomos a sua unidade
de repetio. As molculas so organizadas ocupando os stios da rede de Bravais,
os quais foram criados pelo vetor Rn........................................................................ ................ .26
Figura 2.11 A posio de um tomo qualquer em relao ao ponto de referncia
da rede dado por Rn + r , onde Rn o vetor de construo dos stios da rede e
r o vetor posio a um dos stios..........................................................................
................
.27
Figura 2.12 Representao da condio de interferncia construtiva da lei de
Bragg com a interao da radiao com os planos do cristal................................... ................ .33
Figura 3.1 Conexo entre a teoria, experimento e simulaes computacionais.. ................ .39
Figura 3.2 Visualizao de partculas ligadas sob potencial similar ao da lei de
Hooke, em que d0, d, e kij como sendo, respectivamente, a distncia de equilbrio,
o comprimento da ligao entre dois tomos i e j, a constante elstica da fora. (a)
Mola na posio natural. (b) Mola comprimida....................................................... ................ .43
Figura 3.3 (a) Representao visual das ligaes sequenciais de trs partculas
i, j e k, onde as ligaes qumicas formam um ngulo 0 (ngulo de equilbrio)
que nos mostra a conformao molecular. (b) Representao do campo de fora,
sob a representao de uma mola com constante elstica da fora k, agindo na
estrutura molecular realizando novas conformaes na molcula com alteraes
do ngulo entre as ligaes ijk................................................................................. ................ .44
Figura 3.4 Compao de geometrias entre quatro tomos i, j, k e l sendo ligados
sequencialmente formando o ngulo diedral (a) e sendo ligados com trs
tomos perimetrados a um tomo central com a visulalizao do ngulo de
inverso b).......................................................................................................
................
.45
Figura 3.5 Interao de uma molcula polar (dipolo permanente) com
molculas apolares (dipolo induzido) induzindo um dipolo eltricos nessas........... ................ .47
Figura 3.6 Esboo do grfico de uma funo do tipo =
(
12
12) mostrando o comportamento do potencial de Lennard-Jonnes............
................
.48
Figura 3.7 Modelo esquemtico do algoritmo Leapfrog para evoluo temporal
do sistema ................................................................................................................ ................ .52
Figura 4.1 Estrutura da Na-MMT sob diferentes orientaes cristalogrficas.... ................ .56
Figura 4.2 Corte transversal da argila Na-MMT hidratada com (a) 4, (b) 8, (c)
16 e (d) 20 molculas de gua intercalada............................................................... ................ .58
x
Figura 4.3 Figura em cascata das intensidades de raios X da Na-MMT em
funo do mdulo do vetor de espalhamento (Q) e da relao de massa de gua
(MH2O) pela massa da argila seca (MCLAY)......................................................... ................ .59
Figura 4.4 Espectros de raios X da amostra Na-MMT com 0, 5, 10 e 15
molculas de gua (MH2O / MCLAY = 0, 0.0306, 0.061 e 0.0918). As setas
indicam o pico (001)................................................................................................ ................ .60
Figura 4.5 Relao entre a distncia basal e a quantidade de gua absorvida
pela argila................................................................................................................. ................ .60
Figura 4.6 Relao entre a distncia basal e a quantidade de gua absorvida
pela argila na regio de 1 WL (0,04283 MH2O/MCLAY 0,14684)..............
................
.61
Figura 4.7 Grfico em cascata dos picos (001) na regio de 1 WL..................... ................ .62
Figura 4.8 Ajuste de gaussianas: (a) pico (001) para MH20/MCLAY =
0,1162; (b) pico (005), para MH2O/MCLAY = 0,1224.......................................... ................ .63
Figura 4.9 Grfico em cascata da evoluo da regio onde se localizam os picos
(002) na regio de 1 WL.......................................................................................... ................ .64
Figura 4.10 Evoluo da intensidade do pico (002) em funo da quantidade de
gua absorvia na regio de 1 WL............................................................................. ................ .65
Figura 4.11 Grfico em cascata da evoluo da regio onde se localizam os
picos (003) na regio de 1 WL. ............................................................................... ................ .66
Figura 4.12 Evoluo da intensidade do pico (003) em funo da quantidade de
gua absorvia na regio de 1 WL............................................................................. ................ .66
Figura 4.13 Grfico em cascata da evoluo da regio onde se localizam os
picos (004) na regio de 1 WL................................................................................. ................ .67
Figura 4.14 Evoluo da intensidade do pico (004) em funo da quantidade de
gua absorvia na regio de 1 WL............................................................................. ................ .67
Figura 4.15 Grfico em cascata da evoluo da regio onde se localizam os
picos (005) na regio de 1 WL................................................................................. ................ .68
Figura 4.16 Evoluo da intensidade do pico (005) em funo da quantidade de
gua absorvia na regio de 1 WL............................................................................. ................ .68
Figura 4.17 Grfico em cascata da evoluo dos picos (006) na regio de 1
WL........................................................................................................................... ................ .69
Figura 4.18 Evoluo da intensidade do pico (006) em funo da quantidade de
gua absorvia na regio de 1 WL............................................................................. ................ .69
xi
Figura 4.19 Evoluo dos picos (00X) com o aumento de molculas de gua na
regio de 1 WL......................................................................................................... ................ .71
Figura 4.20 Espectros de simulao da Na-MMT hidratada na regio de 1WL
com variaes de tamanhos das partculas na direo do comprimento C. (a)
espectros sobrepostos; (b), (c), (d) e (e) ampliaes de regies dos espectros........ ................ .74
Figura 4.21 Espectros de simulao da Na-MMT hidratada na regio de 1WL
com variaes de tamanhos das partculas na direo do comprimento B. (a)
espectros sobrepostos; (b), (c), (d) e (e) ampliaes de regies dos espectros........ ................ .75
Figura 4.22 Espectros de simulao da Na-MMT hidratada na regio de 1WL
com variaes de tamanhos das partculas na direo do comprimento A. (a)
espectros sobrepostos; (b), (c), (d) e (e) ampliaes de regies dos espectros........ ................ .76
Figura 4.23 Espectros de raios X da argila Na-MMT aps o processo de
separao em argila decantada e sobrenadante........................................................ ................ .78
Figura 4.24 Grfico experimental da evoluo do strain em funo do estado
de hidratao, cujos dados foram obtidos no LNLS para a Li-Fh. Trabalho
associado a tese de doutorado (em andamento) de G. Grassi.................................. ................ .80
Figura 4.25 Procedimento de anlise de Williamson-Hall das larguras dos picos
da Na-MMT em funo da posio para algumas situaes de inseres de gua
na argila ................................................................................................................... ................ .81
Figura 4.26 Evoluo do strain na Na-MMT em funo da quantidade de gua
absorvida.................................................................................................................. ................ .82
Figura 4.27 Comparao das relaes das distncias basais da Na-MMT quando
submetida a uma presso de 1 e 1000 atm............................................................... ................ .83
Figura 5.1 Variaes da distncia basal em funo da umidade relativa para a
Fluohectorita com diferentes ons intercalantes (Sdio, Ferro, Niquel e Ltio).
Medidas feitas na NTNU/Noruega, em maro de 2013........................................... ................ .85
Figura 5.2 Intensidade do pico ((001)) para a intercalao de CO2 em funo
do tempo para amostras de NaFh e o LiFh (-30 C e 20 bar) demonstrando o quo
mais rpida a amostra de LiFh. A figura mostra que a intensidade ( )I q para as
duas amostras aps 3,5 h. ( esquerda o pico de intercalao; direita o pico da
argila que ainda no est intercalada). Medida realizada na NTNU/Noruega,
dezembro de 2013....................................................................................................
................
.86
xii
ndice de Tabelas
Tabela 4.1 Dimenses da Superclula de Na-MMT........................................... ................ .. 57
Tabela 4.2 Critrios de Convergncia aplicados na Otimizao de Geometria... ................ .. 58
Tabela 4.3 Parmetros de Ajuste no comportamento dos Picos (00X)............... ................ .. 70
1
Captulo 1 Nanosilicatos
Este captulo abarca os aspectos gerais dos nanosilicatos, suas caractersticas (poros,
subgrupos, estruturas, propriedades de absoro e intercalao de gua) e as barreiras
experimentais ao se estudar as argilas sintticas e naturais.
1.1 Introduo
Nos tempos atuais, o desenvolvimento da nanocincia tem gerado avanos tecnolgicos
para a cincia dos materiais e para a indstria. Muitas mudanas significativas em diversas reas
da vida partiram desse ramo cientfico, como por exemplo, a criao de tcnicas e recursos mais
novos e sofisticados na sade e comunicao. O aprofundamento dessa rea de estudo deu
origem a novos materiais e produtos cujo desenvolvimento, at ento, no eram possveis.
Os nanosilicatos fazem parte dessa cincia dos materiais moderna, onde o tetraxido de
silcio (SiO4) constitui-se na principal unidade estrutural, compondo o grupo de minerais mais
abundante na constituio rochosa. Por isso, tm sido amplamente estudados e discutidos pelo
ramo geolgico da cincia. Dentre os nanosilicatos, podemos destacar, especialmente, as
argilas, por ser um material conhecido e utilizado pela humanidade desde a antiguidade. Alguns
autores acreditam que as argilas, ou minerais de argila, quer como sejam encontrados na
natureza ou aps as modificaes, sero considerados como os materiais do sculo XXI, por
serem abundantes, no provocadoras de mudanas ambientais e devido ao seu carter
sustentvel [1].
As argilas so encontradas no solo, por isso, grande parte de seus estudos cientficos se
referem sua interao com a gua e com gases. Dependendo das condies ambientais, elas
podem ser encontradas nas formas rgidas e plsticas (maleveis). Alm do mais, por serem
facilmente encontradas na natureza, as argilas naturais so compostos altamente heterogneos
e coexistem com diversos materiais, como metais amorfos e outros minerais associados, os
quais chamados de impurezas. Com o surgimento de uma qumica mais moderna nas ltimas
dcadas, foi possvel a sintetizao desse tipo de material, tornando-o mais limpo e objeto de
estudo em diversos ramos da cincia, como a qumica, a fsica e a biologia.
As argilas, particularmente, pertencem ao grupo dos filossilicatos, que possui etimologia
grega na palavra phylon (que significa folha), que so silicatos com a propriedade de se
organizarem em forma de folhas empilhadas (tambm chamadas de lamelas, placas ou
2
camadas) empilhadas. Sob a tica atmica, essas folhas so organizadas em sees tetradricas
e octadricas. Os tetraedros so, geralmente, formados pela slica (SiO4), uma estrutura que
possui um tomo de silcio ligado a quatro tomos de oxignio, enquanto que os octaedros so
formados por tomos de magnsio, alumnio ou outro on metlico ligado a seis tomos de
oxignio ou hidroxilas (OH), como mostrado na figura 1.1.
Figura 1.1 (a) figura esquemtica da estrutura tetradrica com um tomo de silcio ligado a quatro
oxignios, formando a slica. (b) figura esquemtica da estrutura octadrica com um tomo de magnsio
ligado a quatro oxignios e duas hidroxilas.
As argilas tambm fazem parte do grupo de sistemas complexos. Um sistema complexo
um sistema composto de uma unio de componentes que, quando unidos, possuem uma ou
mais propriedades no intuitivas das derivaes dos componentes individuais. A estrutura
atmica de algumas argilas d a elas capacidade de incorporar molculas de gua ao seu
conjunto e por isso tambm so chamadas de esmectitas. As esmectitas so ditas expansveis,
pois na presena de gua elas tm a propriedade de alterar o seu volume e, por isso, uma argila
hidratada um sistema complexo.
1.2 Estrutura das Argilas
As partculas de argila, sob condies ambientais de temperatura e presso, se
apresentam no estado slido. Portanto, seus tomos oscilam sobre posies de equilbrio fixas.
A distribuio espacial dessas posies de equilbrio, confere argila uma estrutura fixa.
Microscopicamente, uma partcula de argila formada por camadas empilhadas e apresentam
a caracterstica de estrutura cristalina. Porm, apesar desta caracterstica, vrias partculas de
3
argila no apresentam uma organizao cristalina como um todo, mas uma aleatoriedade do
conjunto.
As argilas se diferenciam em razo da organizao de suas camadas e sua carga lquida.
Podemos considerar dois principais grupos.
O primeiro grupo o de argilas de camadas 1:1. Apresenta predominncia de minerais
de argila, cuja estrutura cristalina caracterizada pela existncia de camadas constitudas pela
alternncia de uma folha tetradrica (com tomos de silcio e oxignio) e de uma folha
octadrica (com tomos de alumnio e hidroxilas), por isso so designadas camadas 1:1.
Geralmente a carga eltrica lquida de argilas desse grupo desprezvel. A argila mais
conhecida desse grupo a caulinita, cuja frmula qumica Al2Si2O5(OH)4, e por ser uma argila
extremamente comum d-se o nome a esse grupo de grupo da caulinita.
O segundo grupo o de argilas de camadas 2:1. As argilas desse grupo so formadas por
camadas em que cada lamela apresenta trs folhas, sendo que uma folha octadrica encontra-se
posicionada entre duas folhas tetradricas opositoras. Estas placas de argilas podem ser neutras
ou possurem carga lquida significativa, devido a uma distribuio de ons metlicos em suas
folhas tetradricas ou octadricas. Nesse ltimo caso, a carga eltrica adquirida pela argila
relativamente baixa e, com isso, ctions se posicionam entre as camadas consecutivas da argila
com a funo de neutralizar a carga do conjunto.
Contudo, esses ctions so livres para se movimentarem, estando presos unicamente pela
interao eltrica com as camadas de argila. A Montemorilonita (MMT) destaca-se como a
principal argila desse grupo, cuja frmula qumica (Na,Ca)0,33(Al,Mg)2Si4O10(OH)2. Por este
motivo, tais argilas recebem o nome de grupo da Montemorilonita. Neste grupo tambm so
encontradas as esmectitas, que so filossilicatos que apresentam a caracterstica de serem
expansveis e que se constituem no foco desse estudo.
1.3 Poros
Se caracterizam como uns dos principais componentes da argila, pois neles ocorrem a
maior parte das interaes das partculas de argila com a gua, por exemplo. Devido a essa
importncia, necessrio a identificao dos tipos de poros, e por isso, eles so classificados
quanto ao seu tamanho, da seguinte forma:
Nanoporos: So poros do tamanho mdio de 10 nm. nessa regio onde a argila pode
intercalar ons e/ou molculas de outros materiais, permitindo assim controlar, at
certo grau, a distncia de separao entre as camadas das argilas.
4
Mesoporos: So poros da ordem de 1 m que se originam dos espaos das partculas
de argila. Esses poros so muito comuns em argilas pilarizadas, que possuem uma
estrutura mais rgida na separao entre as camadas das argilas.
Macroporos: so poros originados do processo de empacotamento das partculas de
argila, ou seja, da organizao macroscpica. responsvel pelos processos de
infiltrao da gua, vapores e gases atravs do solo. Normalmente, no ramo da cincia,
so resultados de m preparao da amostra ou da no uniformidade de suas partculas.
Conclui-se que a gua armazenada na argila se instala nos mesoporos. Porm, os
nanoporos tambm possuem papel relevante no estudo do seu comportamento, como ser
discutido mais adiante.
1.4 Intercalao de gua
A interao de gua com esses materiais se d atravs de dois processos: a absoro e a
adsoro.
O processo de absoro ocorre quando submetemos uma argila umidade. A gua
presente no ar entra na argila atravs dos seus nanoporos e ficam confinadas entre as suas
camadas. Conforme j comentado, argilas no neutras tambm possuem ctions confinados nas
mesmas regies da gua proveniente da umidade. Devido polaridade da molcula de gua e
carga eltrica do ction, quando a argila submetida umidade, os ctions so solvatados pelas
molculas de gua. Este fenmeno de solvatao depende da umidade, da temperatura e da
presso. Conforme esses parmetros so variados, h o surgimento de regimes de hidratao
distintos, caracterizados pela formao de camadas de gua (water layers ou WL) nos
nanoporos, como pode ser observado na figura 1.2.
Em outro processo, a absoro verificada quando a gua se insere nas partculas de
argila ficando confinadas na estrutura cristalina, mais especificamente, nas folhas octadricas.
Enquanto o processo anterior se observa at temperaturas prximas a 120C, este processo
existe at aproximadamente 500C.
5
Figura 1.2 Representao, por simulaes pelo mtodo de Monte Carlo, da intercalao de gua em uma
argila [2]. Os planos superiores e inferiores so as camadas de argila e so identificadas posteriormente, no
centro desses planos se encontram as molculas de gua, representadas pelas esferas vermelhas (oxignio)
ligadas s esferas brancas (hidrognio), e os ctions representados pelas esferas azuis. (a) mostra o regime
de uma camada de gua e (b) regime de duas camadas de gua.
O processo de adsoro observado quando a gua se localiza na superfcie da argila. A
figura 1.3 demonstra as localizaes das molculas de gua a partir da interao com a argila,
atravs dos processos mencionados anteriormente.
Figura 1.3 Localizao da insero de gua em uma argila mineral. A figura apresenta a gua adsorvida
na superfcie do gro de argila, a gua absorvida no espaamento lamelar e a gua cristalina (hidroxila)
dentro da estrutura. As folhas tetradricas e octadricas so representadas pelas camadas t e o
respectivamente.
Como regra geral, todas as argilas adsorvem gua, mas no necessariamente iro
absorv-la. A carga lquida e as interaes coulombianas entre os ctions e as camadas de argila
iro determinar se uma argila sofre ou no a expanso.
Devido organizao de camadas e uma estrutura macroscpica de gros, as argilas
apresentam uma razo superfcie/massa (rea superficial especfica) elevada quando comparada
com outras estruturas lamelares. A substituio de metais no plano cristalino ou mudanas do
ction entre as camadas podem criar uma densidade superficial de carga, que no caso de alguns
subgrupos de argila, afeta o fenmeno de absoro de gua entre as camadas, fazendo com que
6
elas se movam e torne-se possvel o controle da distncia que as separam. A habilidade de
absorver/adsorver substncias, como gua, gases e outros compostos, possivelmente a
caracterstica mais importante das argilas e, devido sua mudana de tamanho, so classificadas
como expansveis e no-expansveis. Aqueles tipos de argilas, tambm chamadas esmectitas,
permitem uma variao considervel do seu volume, conforme a entrada do substrato, conforme
a figura 1.4
Figura 1.4 Representao esquemtica do tamanho das argilas esmectitas em trs regimes de hidratao
diferentes quando absorvem gua: (a) Zero Water Layer [0 WL]; (b) Um Water Layer [1 WL]; (c) Dois
Water Layer [2 WL].
1.5 Clula Unitria
Devido sua estrutura cristalina, as camadas das argilas podem ser facilmente descritas
a partir de uma clula unitria. No caso das esmectitas, argilas de camadas 2:1, sua clula
unitria composta de uma camada octadrica entremeada por duas camadas tetradricas
idnticas, possuindo basicamente 20 tomos de oxignio, 4 grupos de hidroxilas em um arranjo
de 8 tetraedros, 6 octaedros e 4 cavidades hexagonais por tomos de oxignio na superfcie. Um
arranjo dessa estrutura pode ser observado na figura 1.5.
Figura 1.5 Figura esquemtica de uma argila 2:1 do tipo esmectita.
7
Sob a ptica microscpica, os gros de argila se assemelham a placas e se organizam em
pilhas. So estas pilhas que possuem as caractersticas cristalinas da argila. A figura 1.6
demonstra esse tipo de organizao e as vises de uma estrutura de uma argila do tipo
Fluorohectorita (tipo de argila sinttica, semelhante MMT, mas com o grupo OH das
intercamadas substitudos por Flor).
Figura 1.6 (a) gros de argila. (b) partcula de argila na escala microscpica formada pelo aglomeramento
de camadas. (c) configurao de uma camada dentro da partcula. (d) partcula de argila em escala atmica.
1.6 Subgrupos
As esmectitas se diferenciam pelo tipo e proporo dos elementos das camadas
tetradricas e octadricas, por isso so divididas nos seguintes subgrupos: Montemorilonita
[(Na,Ca)0,3 (Al,Fe,Mg)2 Si4 O10 (OH)2], bedeitas [(Al1.46 Fe3+
0,5 Mg0,08)(Al0,36 Si3,64) O10 (OH)2],
hectoritas [(Mg2+2,67 Li1+
0,33) Si4 O10 (F,OH)2], saponitas [Mg2+
3 (Al0,33 Si3,67) O10 (OH)2] e
nontronitas [(Fe3+1,67 Mg2+
0,33) Si4 O10 (OH)2 (Fe3+
2,22)(Al1Si3) O10 (OH)2]. O nosso interesse
para esse trabalho est no subgrupo da Montemorilonita.
1.7 Montemorilonita
A Montemorilonita uma argila natural sendo (Na,Ca)0,3(Al,Fe,Mg)2Si4O10(OH)2 a sua
frmula qumica simplificada. Compe o grupo das esmectitas, argilas do tipo 2:1, com duas
camadas tetradricas interligadas por outra camada octadrica. As suas partculas so de
formato planar com um dimetro mdio de aproximadamente 1m. Esse filossilicato
caracterizado por ter mais do que 50% de carga na camada octadrica, ou seja, as trocas innicas
8
nas placas da argila ocorrem em maior proporo nessa camada. Diferentemente dos
nanosilicatos sintticos (produzidos em laboratrio com grau de pureza elevado), as argilas
naturais so completamente heterogneas, ou seja, apresentam impurezas.
Esse tipo de argila natural possui grandes vantagens: a abuntncia e o custo reduzido.
Com isso, ela possui aplicaes em diversos segmentos econmicos e sociais. Como exemplos
de uso, podemos citar: o industrial, no ramo de perfurao de petrleo; o cientfico, a respeito
da qumica como catalisador em processos de craqueamento cataltico e tambm o
farmacolgico na produo de cosmticos.
Os planos cristalinos da MMT so compostos por duas camadas tetradricas, que possuem
no centro um tomo de silcio ou um tomo de alumnio (silicatos com essa caracterstica
tambm so chamados de aluminosilicatos), envolvendo uma camada octadrica de tomos de
magnsio ou alumnio. A proporo dos tomos de alumnio da camada tetradrica e dos de
magnsio na camada octadrica responsvel pela carga superficial negativa da placa de argila.
Essa carga balanceada pelo ction intercalante.
Figura 1.7 Representao cristalina da Montemorilonita. (a) Montemorilonita sem partculas de gua, no
estgio de 0 WL. (b) Montemorilonita em um estgio hidratado com partculas de gua entre as camadas
de argila.
A MMT um argilomineral dioctadrico no qual um em cada seis alumnios da camada
octadrica substitudo por magnsio, sendo o principal constituinte das bentonitas (argilas
formadas principalmente por esmectitas). De acordo com o tipo de ction trocvel, essas argilas
(a)
(b)
Na, Ca
Si, Al
OH
Al, Fe, Mg
O
H2O
9
podem ser dividas em bentonitas que incham, aumentando em at vinte vezes o volume da
argila seca quando imersa em gua cujo ction trocvel predominante o sdio, e bentonitas
que no incham que cujo ction trocvel predominante o clcio ou o magnsio. Podem ser
tratadas por cidos inorgnicos tornando-se argilas ativadas para descoramento de leos
minerais, animais e vegetais [3]. A figura 1.7 acima nos mostra a viso atmica de uma MMT
sem e com hidratao.
1.8 Sdio-Montemorilonita (Na-MMT)
A argila Sdio-Montemorilonita (Na-MMT) constitui-se no objeto de estudo deste
trabalho. uma argila natural que, devido presena do ction sdio como on intercalante,
apresenta mudanas caractersticas de hidratao a ele. H vrios anos essa argila vem sendo
estudada, por isso muito se conhece de suas caractersticas, o que foi de grande importncia
para a sua escolha neste trabalho, pois o foco em questo a utilizao de ferramentas
computacionais.
Portanto, este trabalho prope um estudo comparativo de simulaes computacionais
para intercalao de gua com situaes experimentais de observao da argila em temperatura
e umidade relativa ambiente, utilizando-se de estudos pela tcnica de Difrao de Raios X
[DRX].
10
Captulo 2 Raios X
Este captulo apresenta os principais aspectos histricos da descoberta dos Raios X, sua
natureza e algumas aplicaes. Tambm sero tratadas as possveis interaes da radiao
eletromagntica com a matria, com enfoque em fenmenos de espalhamento.
2.1 Introduo
Os Raios X foram descobertos por Wilhelm Conrad Rntgen no dia 8 de novembro de
1895 e desde ento se tornaram uma ferramenta valiosa de estudos. Por terem um comprimento
de onda da ordem de ngstrons (10-10 m), possuem uma capacidade enorme de penetrao pelo
fenmeno de difrao. A tcnica de Difrao de Raios X [DRX] (a ser discutida mais adiante)
contribuiu com o desenvolvimento cientfico e que possibilitou o surgimento de diversas
aplicaes, com destaque para a cristalografia, que tem obtido um papel fundamental no
desenvolvimento de vrias reas cientficas, tais como determinar os comprimentos e tipos de
ligaes qumicas e analisar as diferenas em escala atmica entre os diversos materiais,
especialmente minerais e ligas.
Este mtodo tambm o meio utilizado para entender a estrutura e a funo de muitas
molculas biolgicas, incluindo vitaminas, drogas, protenas e cidos nucleicos como o DNA e
a sua estrutura de dupla hlice [4]. Nesse mesmo aspecto da interao da radiao com a
matria, as estruturas dos nano compostos tm sido caracterizadas por essa tcnica, permitindo
uma qualificao de mudanas no espaamento interlamelar. O progresso na interao dos raios
X com a matria e o conhecimento de como explor-lo experimentalmente foi firmado na
dcada de 1970 com a percepo de que a radiao sincrotron emitida por aceleradores de
partculas eram fontes versteis e mais intensas que as anteriormente estudadas [5].
2.2 Natureza dos Raios X e Aspetos sob as Vises das Teorias Clssica e Quntica
Aps a descoberta dos raios X por Rntgen, ainda era desconhecida a natureza de sua
descoberta. Anos depois, chegou-se ao consenso de que os raios X so ondas eletromagnticas
que possuem comprimento de onda da ordem de ngstrons (10-10 m). Sendo uma onda, so
caracterizadas pelo seu comprimento de onda , ou equivalentemente pelo seu nmero de onda
k = 2/ .
11
Segundo a teoria clssica, concentrando-se apenas no campo eltrico, pelo fato de ele
ser um vetor oscilante no tempo e no espao, ele representado como E(r,t), em que r o vetor
posio no espao e t o tempo. Para um certo referencial, o vetor r torna-se dependente apenas
de uma das coordenadas do plano cartesiano, tornando-se r = z.n, onde n o vetor unitrio na
direo do eixo z. Com isso, podemos escrever a amplitude do campo eltrico na forma real
como sendo E0sin(kz) ou na forma complexa E0eikz. A dependncia temporal de uma onda plana
que se propaga na direo z pode ser expressa em uma forma, E0ei(kz-t). Num sistema
tridimensional, a polarizao do campo eltrico escrita em termos do vetor unitrio e do
vetor de onda ao longo da direo de propagao k de forma que:
(, ) = 0(.) . (2.1)
Como as ondas eletromagnticas so transversais, temos que = 0, = =
0. Portanto, os campos eltricos E e magnticos H oscilantes so perpendiculares entre si e
direo de propagao da onda, conforme ilustrado pela figura 2.1.
Figura 2.1 Representao da onda eletromagntica transversal. Os campos E e H so perpendiculares
entre si e direo de propagao k e oscilam sobre os eixos x e y respectivamente.
Agora, sob o olhar da teoria quntica, temos que um feixe monocromtico de raios X
composto por um grupo de ftons, cada um contendo energia e momento k. A intensidade
do fixe depende apenas do nmero de ftons presentes nesse feixe. A equao que relaciona o
comprimento de onda , em , e a energia do fton em keV :
() =
=
12,398
[keV] . (2.2)
12
2.3 Interao da Radiao com a Matria
Na faixa de energias que inclui os raios X e gama, h vrias interaes possveis da
radiao com a matria: interaes com o tomo, com os eltrons atmicos ou ainda com o
ncleo. No entanto, h tambm a possibilidade de no-interao, ou seja, a radiao
eletromagntica (REM) pode atravessar distncias considerveis em um meio material sem
modific-lo e sem se modificar [7]. A REM ionizante tratada, em boa parte dos casos, como
um conjunto de partculas (ftons) com momento definido e podem ocorrer interaes similares
a colises, em que o fton transfere energia e momento para outras partculas. As principais
interaes que ocorrem na matria com ftons de energias na faixa de poucos keV at dezenas de
MeV so:
Espalhamento Coerente (ou efeito Rayleigh): corresponde absoro e re-emisso da
radiao pelo tomo, em uma direo diferente da de incidncia. Somente neste efeito a
radiao tratada como onda, em todos os outros ela considerada como partculas (ftons);
Efeito Fotoeltrico: o fton incidente absorvido pelo tomo e um eltron atmico
arrancado para se mover no material. A energia cintica adquirida por esse eltron a
diferena entre a energia do fton e a energia de ligao do eltron ao tomo;
Efeito Compton (ou espalhamento inelstico): trata-se do espalhamento de um fton por
um eltron livre do material. H transferncia de parte da energia e do momento do fton
para o eltron, e um fton com a energia restante espalhado em outra direo;
Produo de Pares Eltron-Psitron: Neste processo, o fton absorvido e toda sua energia
convertida em massa de repouso e energia cintica de um par partcula/antipartcula
eltron/psitron. interpreta da como a transio de um eltron de um estado de energia
total negativa para um estado de energia total positiva; a diferena de energia entre os dois
esta dos a energia do fton incidente, que absorvido; a lacuna de um eltron no conjunto
de estados de energia negativa observada como um psitron [8]. possvel a criao de
outros pares de partcula/antipartcula, mas a energia necessria do fton muito mais
elevada. O efeito resultado da interao entre o fton e o campo eletromagntico, e ocorre
normalmente nas vizinhanas do ncleo, podendo tambm acontecer devido interao do
fton com o campo de qualquer partcula carregada, incluindo os eltrons atmicos. Neste
caso particular, um eltron atmico tambm ejetado e o efeito chamado de produo de
tripleto. mais provvel quanto mais intenso for o campo;
Reaes Fotonucleares: a principal reao nuclear provocada por ftons a
fotodesintegrao, que equivale a um efeito fotonuclear num paralelo com o efeito
fotoeltrico. O fton com energia maior que a energia de ligao de ncleos absorvido
13
pelo ncleo que libera um prton ou um nutron com energia cintica suficiente para
abandonar o ncleo, que se transforma em outra espcie nuclear.
Todos os fenmenos de efeito fotoeltrico, produo de pares e reaes fotonucleares,
implicam na absoro do fton incidente, enquanto que nos fenmenos de espalhamento
coerente (efeito Rayleigh) e efeito Compton, ocorre um espalhamento da radiao
eletromagntica. Portanto, podemos resumir os efeitos de interao da radiao com a matria
em absoro e espalhamento.
2.4 Espalhamento de Raios X
Quando os raios X so tratados nos estudos de materiais, normalmente utilizam-se
radiaes com energia da ordem de 2 a 10 keV, j descartados os efeitos de produo de pares
e reaes fotonucleares, pois so processos que exigem radiao com energia mdia da ordem
de MeV.
Na descrio de um evento de espalhamento, o campo eltrico oscilante de uma radiao
eletromagntica exerce uma fora na carga eletrnica, originria da Fora de Lorentz, que
acelerada e irradia a onda espalhada (refletida). Segundo a teoria clssica, a onda refletida
possui comprimento de onda igual onda incidente. De modo contrrio, na descrio quntica,
o fton de raios X possui momento k e energia [5]. Essa energia pode ser transferida para
o eltron resultando em um fton espalhado com uma frequncia menor que a do fton
incidente, ocorrendo o espalhamento inelstico. Contudo, pela faixa de energia da radiao,
pode-se fazer a aproximao cinemtica, considerando-se a predominncia do espalhamento
atmico do tipo Rayleigh. Os demais efeitos, como efeito Compton (espalhamento inelstico)
e efeito fotoeltrico, so desconsiderados em virtude da baixa energia do fton incidente.
2.4.1 Espalhamento por um Eltron
O espalhamento mais bsico que se pode considerar o espalhamento singular, ou seja,
o resultante da interao da radiao com uma nica partcula, no caso um eltron-livre. A
habilidade de um eltron espalhar uma onda eletromagntica expressa em termos do
comprimento de espalhamento.
14
A figura 2.2 mostra um experimento de espalhamento genrico. A quantidade
fundamental determinada em um experimento desse tipo a seo de choque diferencial de
espalhamento, que definida por:
(
) =
0
, (2.3)
onde o fluxo 0 representa a intensidade do feixe incidente, que o nmero de ftons que
atravessam uma determinada regio por unidade de tempo. O processo de espalhamento se d
quando os ftons do feixe incidente interagem com o objeto alvo. Isc est relacionado ao nmero
de ftons espalhados por segundo no detector, que est situado a uma distncia R do objeto e
subentende um ngulo slido . A seo de choque , ento, a medida da eficincia no
processo de espalhamento relacionada ao experimento, onde o fluxo do feixe incidente e o
tamanho do detector foram normalizados.
Figura 2.2 Esquema de um experimento de espalhamento de forma genrica. Pode-se determinar a seo
de choque d/d que a razo entre as intensidades do campo incidente e espalhado. O fluxo do feixe
incidente 0 o nmero de partculas por unidade de rea por unidade de tempo. Para uma onda
eletromagntica, o fluxo proporcional a |Ein|2 multiplicado pela velocidade da luz, c. Esse feixe incidente
interage com o objeto alvo para produzir o feixe espalhado. Um detector registra a intensidade do feixe
espalhado, Isc, definido como o nmero de registros de contagens por segundo, que proporcional a |Erad|2
multiplicado pela rea do detector e a velocidade da luz. O detector localizado a uma distncia R do objeto
alvo e subentende um ngulo slido .
Para o caso particular de espalhamento de uma onda eletromagntica detalhado na figura
2.2, uma expresso para 0 pode ser construda em termos do campo eltrico do feixe incidente,
Ein. Como sabemos, a densidade de energia proporcional a |Ein|2, portanto, a densidade de
ftons proporcional a ||2/, enquanto o fluxo 0 a densidade numrica de ftons vezes
15
a velocidade da luz (c). De modo similar, podemos concluir as relaes das intensidades do
feixe espalhado, porm a densidade numrica ser proporcional a |Erad|2. Essa quantidade deve
ser multiplicada pela rea do detector, R2, e a velocidade da luz para obtermos uma relao
para Isc. Com isso, a seo de choque dada por:
(
) =
||22
||2 . (2.4)
Na descrio clssica do efeito de espalhamento, um eltron, quando atingido pela onda
eletromagntica incidente, ser forado a vibrar devido ao campo eltrico do feixe de radiao,
conforme mostra a figura 2.3. O eltron oscilante age como uma fonte e irradia uma onda
esfrica /. O problema ento calcular o campo de radiao em um ponto de
observao X. Inicialmente, consideramos esse ponto no plano da onda incidente, a um ngulo
de 90 - em relao propagao da onda espalhada.
a)
b)
Figura 2.3 (a) Campo eltrico incidente de onda plana sobre um eltron, fazendo-o oscilar ao longo da
direo de polarizao do campo, ento ele irradia uma onda esfrica. (b) Por geometria, sin = . , onde () representa a polarizao do feixe incidente (espalhado).
A onda espalhada tem amplitude proporcional carga eletrnica ( e), e a
acelerao, ax(t), onde t o tempo de acontecimento do evento, anterior ao tempo de
observao t. Essa diferena de tempo proveniente do espao do ponto de emisso at
o ponto de observao que a radiao deve percorrer, a uma velocidade c. O campo de
radiao tem a seguinte forma:
16
(, ) = (
402
) () sin , (2.5)
onde t = t R/c, que o tempo retardado.
A radiao eletromagntica proveniente da agitao eltron irradiado em todas
as direes. A visualizao da propagao dessa radiao pode ser assimilada ao modelo
de uma fonte de emisso de ondas mecnicas bidimensionais (similar a uma fonte
oscilante sobre uma lmina de gua), com uma nica diferena, a emisso
tridimensional. Dessa forma, observa-se uma casca esfrica imaginria que se propaga
com o eltron no centro da emisso. A energia total que est presente nessa casca
esfrica dada pela multiplicao da densidade de energia, proporcional a ||2, pela
rea total da esfera, proporcional a 2. Como 1, ento a energia total
independe de . O fator posterior de sin foi includo para permitir a variao da
acelerao do eltron mediante a posio do ponto de observao. Para um observador
no plano x-z, a acelerao nula quando = 0 e mxima quando = 90. Com isso,
podemos dizer que a acelerao observada a acelerao mxima vezes sin .
A acelerao total dada pela fora dividida pela massa do eltron, com a qual
obtemos:
() = 0
=
(/) =
, (2.6)
onde = 0 o campo eltrico da onda incidente. Utilizando a Equao (2.6) e
substituindo na equao (2.5), obteremos a seguinte expresso:
(, )
= (
2
402)
sin . (2.7)
Se e so, respectivamente, as direes de polarizaes dos campos incidente e irradiado,
ento podemos concluir analisando a figura 2.3 (b) que . = cos(90 + ) = sin . Com
isso, podemos ver que a equao (2.7) vlida para todos os ngulos de observao possveis.
17
O termo entre parnteses na referida equao chamado de comprimento de espalhamento de
Thomson ou raio clssico do eltron1:
0 = (2
402) = 2,82105 , (2.8)
ento, podemos reescrever a equao (2.7) e encontrar um resultado simplificado para a razo
entre os campos incidente e irradiado:
(, )
= 0
|. | , (2.9)
to logo, se aplicarmos esse resultado na equao (2.4), a seo de choque diferencial pode ser
escrita como:
(
) = 0
2|. |2 . (2.10)
O fato |. |2 tem implicaes importantes para escolha da geometria ideal para
diferentes tipos de experimentos de raios X [5]. Esse fator denominado fator de polarizao
para espalhamento P, que possui dependncia da fonte geradora da radiao.
= |. |2 =
1 :
cos2 : 1
2(1 + cos2 )
(2.11)
1 O nome raio clssico do eltron o resultado do clculo clssico da auto-energia eletrosttica
necessria para formar uma partcula carregada, no caso o eltron. Este clculo consiste em
igualar o termo eletrosttico e o termo relativstico:
2 =2
400 .
18
Quando efetuarmos a integrao da seo de choque diferencial sobre todos os ngulos
possveis de espalhamento, obteremos a seo de choque total para o espalhamento.
2.4.2 Espalhamento por dois Eltrons
Conforme discutido no tpico anterior, um objeto constitudo por apenas um eltron,
sendo atingido por uma radiao, o sistema de espalhamento mais elementar possvel. Se
seguimos o mesmo pensamento, um conjunto formado por dois eltrons se torna a estrutura
mais simples possvel de ser concebida. A figura 2.4 esboa essa estrutura.
Figura 2.4 Espalhamento elstico de um feixe de raios X em um sistema de dois eltrons. A radiao
incidente caracterizada pelo vetor de onda k, e a frente de onda representada pelas linhas verticais. O
raio X espalhado observado na direo k.
Considerando-se um sistema de dois corpos, pode-se fixar a origem em um dos eltrons,
enquanto o outro permanecer a uma distncia definida e apontada pelo vetor r. Para determinar
as caractersticas dessa estrutura, necessita-se apenas determinar o vetor r. A figura 2.4 mostra
uma onda incidindo sobre um sistema de dois eltrons
Uma radiao incidente, que caracterizada pelo vetor de onda k, chega ao eltron
posicionado em r depois de ser espalhada pelo eltron na origem. A diferena de fase entre as
ondas incidente e espalhada = ( ). . , que define o vetor transferncia de
momento .
19
Figura 2.5 Definio do vetor Q pela diferena entre os vetores de onda incidente (k) e espalhado (k).
Considerando um espalhamento elstico, temos que || = ||, portanto, podemos
observar que o mdulo do vetor de espalhamento possui uma relao com o ngulo de
espalhamento 2. Com isso, temos que:
Q2 = 2 + 2 2 cos(2) . (2.12)
Aplicando-se a condio de espalhamento elstico, temos que:
Q2 = 2[2 2 cos(2)] , (2.13)
Q2 = 22[1 cos(2)] , (2.14)
Q2 = 22[1 cos2 + sin2 ] , (2.15)
Q2 = 22[sin2 + sin2 ] , (2.16)
Q2 = 42 sin , (2.17)
|| = 2 sin . (2.18)
Sabendo que = 2/, podemos reescrever a equao (2.18) em funo com comprimento de
onda. Portanto, temos que:
|| = 2 sin = (
4
) sin .
(2.19)
A amplitude de espalhamento para um sistema de dois eltrons possui a seguinte forma:
() = 0(1 + .) . (2.20)
Atravs da equao (2.20), podemos concluir que a intensidade vale:
20
() = ()() , (2.21)
() = 02(1 + .)(1 + .) = 20
2[1 + cos(. )] . (2.22)
Para uma distribuio de vrios eltrons, a amplitude de espalhamento pode ser descrita
como sendo um somatrio de das amplitudes de espalhamentos de todos os eltrons contidos
num sistema, sendo escrita conforme abaixo:
() = 0 .
, (2.23)
onde rj representa o vetor posio do j-simo eltron. Caso haja uma distribuio contnua de
eltrons no sistema, a somatria aproximada para uma integral. Portanto, o modelo padro de
difrao de uma amostra pode ser construdo considerando o espalhamento por todos os eltrons
em um tomo [8].
2.4.3 Mdia Orientacional
Para calcular a intensidade do espalhamento do sistema esboado pela figura 2.4,
necessrio especificar o ngulo entre o vetor de espalhamento Q e o vetor posio r. Para muitos
sistemas, como molculas ou agregados em soluo, o vetor r est relacionado de maneira
aleatria ao vetor Q. Pode-se generalizar o resultado obtido na equao (2.22), considerando
um sistema de duas partculas, uma na origem com amplitude de espalhamento f1 e outra na
posio r com amplitude de espalhamento f2. A amplitude de espalhamento dada como sendo:
() = 1 + 2. . (2.24)
Tomando a equao (2.21) que define a intensidade de espalhamento, vemos que:
() = 12 + 2
2 + 12. + 12
. . (2.25)
Se considerarmos que o mdulo do vetor r seja fixo, mas com distribuies que variam
apenas na sua direo, a intensidade medida a mdia orientacional sobre todas as direes
possveis.
21
() = 12 + 2
2 + 212. , (2.26)
onde observamos que:
. = . . (2.27)
A mdia orientacional do fato de fase :
ei. = . sin
sin =
Q cos sin
sin , (2.28)
fcil ver que sin = 4, enquanto que a integral do numerador
Q cos sin = 2 Q cos sin
0
= 2 (1
) = 4
sin Q
Q
Q
Q
. (2.29)
Portanto, aplicando-se na equao (2.28) os resultados obtidos, vemos que a mdia
orientacional do fator de fase
. =
sin Q
Q .
(2.30)
Procedendo-se de modo semelhante, fcil concluir a expresso da equao (2.27).
Generalizando o resultado para um sistema contendo N partculas, com amplitudes de
espalhamento caractersticas a cada uma (1, , ), obteremos o seguinte resultado:
22
,
)sin(
)sin(2
)sin(2
)sin(2
)sin(2
)sin(2
1
1
1
2
2
1
23
23
32
1
1
1
13
13
31
12
1221
22
2
2
1
2
.
1
NN
NN
NN
N
N
N
N
N
N
N
riQN
j
j
Qr
Qrff
Qr
Qrff
Qr
Qrff
Qr
Qrff
Qr
Qrff
Qr
Qrff
fffef
(2.31)
onde 12 = | |, etc. Esse formalismo foi introduzido por Debye em 1915 (DEBYE,
1915). Entretanto, o interesse deste estudo o espalhamento de raios X em eltrons que esto
ligados, e que, portanto, no podem ser considerados como partculas pontuais, e sim como
distribuies de carga, caracterstica dos materiais cristalinos.
2.4.4 Espalhamento por um tomo
Do espalhamento de um eltron, procederemos ao espalhamento proveniente de um
tomo com um nmero Z de eltrons. Partindo de uma viso clssica, podemos definir os
eltrons como uma distribuio de carga ao redor do ncleo, semelhantemente a um a nuvem,
com densidade de partculas (r), conformo podemos ver na figura 2.6. Tomando dr a unidade
de volume diferencial situada a uma distncia r no ncleo atmico, a radiao espalhada pelo
tomo uma superposio de contribuies de diferentes unidades de volume. A carga eltrica
desse elemento de volume e(r)dr, onde a integral de (r) igual ao nmero total de eltrons
Z em um tomo. A amplitude de espalhamento dada por:
0() = (). = {
Z para Q 0
0 Q ,
(2.32)
23
Figura 2.6 Espalhamento elstico por um tomo de um feixe incidente de vetor de onda k para uma direo
dada pela onda espalhada de vetor k.
onde 0() chamado de fator de forma atmica em unidades de comprimento de
espalhamento Thomson, r0. No limite para 0, todos os elementos de volumes espalham
em fase e ento ( = 0) = , em que Z representa o nmero de eltrons do tomo. medida
que Q aumenta de valor, partindo do zero, os diferentes elementos de volume passam a espalhar
a radiao com diferenas de fase e consequentemente, ( ) = 0. O lado direito da
equao (2.32) facilmente observado como uma transformao de Fourier.
2.4.5 Espalhamento por uma Molcula
J introduzido o espalhamento por um eltron e de forma subsequente, por um tomo
composto de Z eltrons, o prximo passo em complexidade naturalmente apresentar o
espalhamento por uma composio de tomos, ou seja, uma molcula. Como o comprimento
de espalhamento de um tomo resultado do fator de forma dele, o comprimento de
espalhamento de uma molcula ser resultado da soma dos fatores de forma de cada tomo.
Definindo j como o nmero do j-zimo tomo de uma molcula, temos que:
Fmol() = ()ei.
, (2.33)
24
Figura 2.7 Espalhamento de raios X por uma molcula, que simplesmente o agrupamento de vrios
tomos.
onde, () o fator de forma do tomo j em uma molcula. Se, experimentalmente, puder
obter a intensidade |Fmol()|2 para vrios valores de Q, ento possvel determinar a posio
rj de cada tomo na molcula. Contudo, o comprimento de espalhamento de uma nica
molcula no suficiente para produzir um sinal mensurvel, nem mesmo se utilizarmos os
feixes de Raios X mais intensos dos sincrotrons hoje existentes. Portanto, necessrio que uma
amostra contenha vrias molculas, tanto para materiais cristalinos como no-cristalinos.
Contudo, h uma expectativa futura que, com o aumento da brilhncia das fontes de radiao,
poderemos ter gerao de sinais de uma simples molcula.
2.4.6 Espalhamento por um Cristal
A cristalinidade de um material cristalino no est relacionada sua aparncia superficial,
pois ela se encontra nos nveis microscpicos, devido ao fato de os ons possurem uma
periodicidade no espao, ou seja, uma organizao em um arranjo. Esta regularidade em nvel
microscpico foi alvo de muitas hipteses para explicar as regularidades geomtricas simples
observadas nos cristais, em que as suas faces planas formam apenas alguns ngulos definidos
entre si. Graas aos trabalhos de William Henry Bragg e seu filho, William Lawrence Bragg,
esta propriedade recebeu confirmao experimental direta em meados de 1913. Fundamentou-
se a matria da cristalografia por DRX e deu-se incio s investigaes de como os tomos se
25
organizam nos slidos [10]. Um tratamento elementar para espalhamento de raios X em uma
rede cristalina o dado pela Lei de Bragg:
= 2 , (2.34)
onde m um nmero inteiro. Esta expresso a condio de interferncia construtiva das ondas
que possuem um ngulo de incidncia em relao a um conjunto de planos cristalinos da rede
separados por uma distncia d, como podemos observar na figura 2.8.
Figura 2.8 Interao da radiao incidente k com os planos cristalinos de uma rede, formando um ngulo
, mostrando que a relao de interferncia resultado da diferena do caminho ptico percorrido pelos
feixes.
A Lei de Bragg muito til em algumas situaes de estudo, porm possui certas
limitaes, principalmente pelo fato de ela no permitir calcular a intensidade de espalhamento
para que interferncias construtivas ocorram. Para conseguirmos isso, precisamos desenvolver,
de modo similar ao que j foi apresentado, a amplitude de espalhamento para um cristal, mas,
antes disso, devemos especificar a estrutura cristalina. Primeiramente, uma rede de pontos deve
ser definida no espao, a qual deve refletir a simetria do cristal, o que nos levar escolha de
uma clula unitria. Essa rede chamada de rede de Bravais, composta por um arranjo infinito
de pontos com arranjo e orientaes discretos, que no podem ser diferenciados por suas
formas. Tambm podemos considerar uma rede de Bravais sendo constituda por todos os
pontos com vetores de posies R da forma = 1 + 2 + 3, onde , e so
26
quaisquer trs vetores linearmente independentes e 1, 2 3 so quaisquer nmeros inteiros
[10]. A figura 2.9 (a) e (b) ilustra uma rede de Bravais de 2 dimenses.
(a)
(b)
Figura 2.9 Rede de Bravais bidimensional sem nenhuma simetria em particular, apenas sendo uma malha
oblqua. (a) Esboo dos stios da rede e os vetores primitivos a1 e a2. (b) Esboo do vetor Rn, formador da
rede, para determinao de um stio da rede para o caso de n1 = 1 e n2 = 3.
Em cada stio da rede de Bravais, estar localizada a unidade de repetio da rede,
podendo ser ela ser um tomo ou agrupamento de tomos (molcula ou agregado inico),
formando ento a rede cristalina. A figura 2.10 apresenta um esboo de uma rede cristalina com
a presena de molculas nos stios da rede de Bravais.
Figura 2.10 Estrutura cristalina sendo uma molcula de 3 tomos a sua unidade de repetio. As molculas
so organizadas ocupando os stios da rede de Bravais, os quais foram criados pelo vetor Rn.
Se considerarmos = 1 + 2 + 3 como sendo os vetores que definem a
rede e rj o vetor posio dos tomos com respeito a qualquer stio particular da rede, ento a
posio de qualquer tomo no cristal dada por + , conforme podemos observar o desenho
mostrado na figura 2.11.
27
Figura 2.11 A posio de um tomo qualquer em relao ao ponto de referncia da rede dado por +, onde o vetor de construo dos stios da rede e o vetor posio a um dos stios.
Com isso, a amplitude de espalhamento do cristal pode ser escrita como sendo
Fcristal() = ().
.
, (2.35)
onde o primeiro termo o fato de estrutura da clula unitria e o segundo a soma sobre os
stios (soma da rede) da rede cristalina. Se observarmos a soma de rede em apenas uma
dimenso, temos:
| .
|
2
= (
. 2 )
(.
2 ) ,
(2.36)
mas, por terem a mesma rea e coordenada mximas, usualmente feita a seguinte
aproximao:
(.
2)
(.
2 ) 2
(.)4 ,
(2.37)
onde N o tamanho da rede. Podemos observar que a intensidade do espalhamento de raios X
em um cristal tem um comportamento tpico de uma gaussiana.
28
Todos os termos da soma sobre os stios da rede cristalina na equao (2.35) so os
fatores de fase localizados no crculo unitrio do plano complexo. Nessa condio, a soma ser
da ordem do nmero de clulas unitrias. O vetor da rede possui a seguinte forma
. = 2 ,
(2.38)
onde , e so os vetores da base da rede cristalina e 1, 2 3 so inteiros. A nica
soluo para a equao (2.38) pode ser obtida introduzindo o conceito de rede recproca.
Como vimos anteriormente, o conjunto de vetores {R} define a periodicidade de uma
rede de Bravais, os quais so obtidos atravs do vetor Rn. Isso quer dizer que para cada R, est
associada uma operao de simetria de translao que deixa a rede invariante. Consideremos
agora uma onda plana tridimensional eik.r. Para um vetor de onda k genrico, esta funo de
onda no ter a mesma periodcidade da rede de Bravais, ou seja, no ser invariante por uma
translao. Contudo, existem um conjunto discreto de vetores G, pertencentes ao universo dos
possveis k, em que isso ocorrer. Esses vetores de onda G definem a rede recproca. Portanto,
a rede recproca o conjunto de todos os vetores de onda G tais que as correspondentes ondas
planas eiG.r tem a mesma periodicidade da rede de Bravais. Matematicamente, a onda plana eiG.r
invariante pelas mesmas operaes de simetrias da rede de Bravais, ou seja:
. = .(+) = . , (2.39)
para todos os pontos R da rede. Assim, temos que:
. = 1 , (2.40)
ou seja,
. = 2 ( ) , (2.41)
que a mesma condio que procuramos, conforme obtivemos na equao (2.38).
Os vetores de base que compem essa nova rede so definidos por
29
= 2
( )
; = 2
( ); = 2
( )
, (2.42)
de forma que qualquer stio na rede recproca dado por
= + + , (2.43)
em que (h,k,l) so nmeros inteiros chamados de ndices de Miller. O produto dos vetores G e
Rn dado por:
. = 2(1 + 2 + 3) = 2 , (2.44)
e com isso, mostramos que a soluo da equao (2.38) requer que
= . (2.45)
Atravs dessa anlise, provamos a condio de Laue, que nos mostra que Fcristal()
no nulo someste se Q coincidir o vetor da rede recproca. Portanto, o espalhamento de um
cristal confinado a pontos distintos no espao recproco. A intensidade em cada ponto
determinada pelo quadrado do fator de estrutura da clula unitria.
2.5 Modelagem dos picos de interferncia
A modelagem de picos de raios X um procedimento padro nas anlises de espectros de
difrao. Muitas funes so utilizadas para ajustar as curvas dos picos, com destaque para a
Gaussiana, a Voigt e a Pseudo-Voigt. Alguns parmetros so importantes na modelagem dos
picos dos espectros, sendo os trs principais: a amplitude do pico, a posio, a largura meia
altura. O primeiro est relacionado quantidade de radiao espalhada, o segudo s distncias
interplanares e o ltimo, s caractersticas de resoluo experimental e tamanho da amostra.
A combinao dos efeitos relacionados largura constituem uma distribuio do tipo
Voigt, a qual uma convoluo de duas funes, a Gaussiana e a Lorentziana. Contudo, mo
existem anlises analticas para uma distribuio do tipo Voigt e sua resoluo matemtica
envolve clculos numricos. Quando esses efeitos no esto presentes, como num caso de
algumas simulaes, a distribuio do tipo Gaussiana, conforme j discutimos anteriormente.
30
2.5.1 Disribuio Gaussiana
A distribuio Gaussina possui a seguinte forma:
(, , ) = 1
2
()
2
22
, (2.46)
onde a posio do pico e a largura a meia altura da Gaussiana.
2.5.2 Distribuio Lorentziana
Tambm chamada de distribuio de Cauchy-Lorentz, a distribuio de
probabilidades de pico singular dada pela funo densidade de probabilidade. A Lorentziana
possui a seguinte forma:
(, , ) =
1
[1 + (
)
2
] ,
(2.47)
onde a posio do pico e a largura a meia altura da Lorentziana.
2.5.3 Convoluo
Convoluo uma operao matemtica que toma duas funes, por exemplo f e g, que
resulta numa terceira e que mede a rea subentendida pela superposio das mesmas em funo
do deslocamento existente entre elas. Ela definida como a integral do produto de uma das
funes por uma cpia deslocada e invertida da outra; a funo resultante depende do valor do
deslocamento. Matematicamente, sua definio
() = ( ) = ()( )
0
. (2.48)
2.5.4 Voigt
A distribuio voigt a convoluo entre a Gaussiana e a Lorentiziana.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%A7%C3%A3o_densidade_de_probabilidade
31
(; ; ; ; ) = ( )(; ; ; ; )
= (; ; )( ; ; ) ,
(2.49)
onde , , e so as posies e larguras da Gaussiana e Lorentziana respectivamente.
Substituindo as funes (; ; ) por (2.44) e (; ; ) por (2.45), temos:
(Q) = 2ln (2)
32
2
2
2
(ln(2)
)2 + (4ln(2)Q Q
)2
,
(2.50)
onde A a rea da curva. Na equao (2.20), a posio do pico, antes dada por , foi substituda
por Qc, pois mais comum em um espectro de raiox-X colocar os dados em funo do vetor de
espalhamento, ou como comumente dito, no espao dos Q, que definido por (2.19). Assim,
pode-se analisa-los independente do tipo de experimento realizado, seja ele nutrons, raios X
ou eltrons. A distncia interplanar obtida isolando o termo sin =
2 na equao (2.34) e
substituindo na equao (2.19). Fazendo uma anlise para o primeiro pico, onde m = 1, temos
que:
= 2
Qc . (2.51)
2.5.5 Pseudo-Voigt
A pseudo-Voigt uma combinao gerada por adio de duas outras funes, o que gera
uma aproximao da funo Voigt. Essa combinao tem a seguinte forma:
(; ; ; ; ) = (1 )(; ; ) + (; ; ) , (2.52)
onde (; ; ) e (; ; ) so as funes gaussiana e lorentziana e o parmetro de
forma que ajusta a contribuio relativa das duas funes. Se o parmetro de forma for zero, o
resultado obtido o de uma Gaussiana pura e se for 1 ser uma Lorentziana pura.
32
Os padres de amostras experimentais de difrao de raios X so normalmente ajustados
com uma funo pseudo-Voigt.
2.6 Intensidade de raios X em nanosilicatos lamelares
A intensidade de espalhamento de raios X, I(Q), depende diretamente de trs fatores: o
fator de esrutura F(Q), do fator de Polarizaao e de Lorentz LP(Q) e da funo de interferncia
(Q). Assim, I(Q) dado por [11]:
() |()|2()(Q) . (2.53)
Muitas funes tm sido usadas para ajuste matemtico em picos de raios X, algumas das
mais conhecidas so a Voigt e a Pseudo-Voigt. Quando observamos um pico experimental de
um espectro de raios X, a largura meia altura (FWHM) possui duas contribuies: a resoluo
instrumental e o tamanho intrnseco da amostra.
O fator de Polarizao e de Lorentz tem a expresso conhecida por
(Q) =
1 2Q2(Q)+1 ,
(2.54)
onde = /4 e P a contribuio da polarizao dada pela expresso (2.11), que depende da
fonte de raios X. O expoente est relacionado ao nmero de cristais com orientao favorvel
para intensidade difratada no detector em um determinado ngulo de Bragg. No limite de
medida de alta resoluo, = 0 significa um cristal perfeito e = 1 significa um p perfeito.
Para nanosilicatos naturais e para medidas com resolues finitas, o valor correto de
desconhecido, mas est entre esses dois limites [11]. Esse um parmetro muito sensvel na
regio de baixos valores de Q e afeta essencialmente o pico (001).
2.7 Frmula de Scherrer e anlise de Williamson-Hall
As larguras dos picos de difrao de raios X de amostras de policristalina esto
intrinsicamente relacionadas com a microdeformao e com o tamanho dos cristais. Aspectos
como esses so geralmente negligenciados. Uma tcnica que auxilia na estimativa da
33
microdeformao, tamanho de cristalito e grau de homogeneidade da amostra o grfico
Williamson-Hall.
Figura 2.12 Representao da condio de interferncia construtiva da lei de Bragg com a interao da