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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS THIAGO MAZZO PELUZZO ESTUDOS MOLECULARES EM ATAXIA DE FRIEDREICH CAMPINAS 2017

ESTUDOS MOLECULARES EM ATAXIA DE FRIEDREICHrepositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/325522/1/Peluzzo_ThiagoMazzo_M.pdfAos demais familiares, amigos, funcionários e professores da

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

THIAGO MAZZO PELUZZO

ESTUDOS MOLECULARES EM ATAXIA DE FRIEDREICH

CAMPINAS

2017

THIAGO MAZZO PELUZZO

ESTUDOS MOLECULARES EM ATAXIA DE FRIEDREICH

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do

título de Mestre em Ciências.

ORIENTADOR: PROF. DR. MARCONDES CAVALCANTE FRANÇA JUNIOR.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

ALUNO THIAGO MAZZO PELUZZO, E ORIENTADO PELO

PROF. DR. MARCONDES CAVALCANTE FRANÇA JUNIOR.

CAMPINAS

2017

BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

THIAGO MAZZO PELUZZO

ORIENTADOR: PROF. DR. MARCONDES CAVALCANTE FRANÇA JUNIOR

MEMBROS:

1. PROF. DR. MARCONDES CAVALCANTE FRANÇA JUNIOR

2. PROF. DR. JONAS ALEX MORALES SAUTE

3. PROFA. DRA. CLÁUDIA VIANNA MAURER MORELLI

4. PROF. DR. JOSÉ LUIZ PEDROSO

5. PROF. DR. ANDRÉ SCHWAMBACH VIEIRA

Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Médica da Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 05 de julho de 2017

Dedico aos que identificam na Ciência uma

resposta plausível aos acontecimentos dessa

vida e a todos que de alguma forma

contribuíram para esse estudo.

EPÍGRAFE

“Algumas regras para a vida:

- Questione a autoridade.

- Nenhuma ideia é verdadeira só porque alguém diz que é, incluindo eu.

- Pense por si próprio, questione a si próprio.

- Não acredite em algo só porque quer acreditar, acreditar em algo não o torna verdadeiro.

- Teste ideias pelas evidências adquiridas, pela observação e experimentação.

- Se uma ideia prevalecente falhar num teste bem desenvolvido, está errada. Supere.

- Siga as evidências onde quer que elas levem, se não houver evidências, evite julgamento.

E talvez a regra mais importante de todas:

- Lembre-se, você pode estar errado.”

(Neil deGrasse Tyson)

AGRADECIMENTOS

Consigo me lembrar do dia em que fui aprovado no vestibular da UNICAMP. Todo

um mundo novo. Novas pessoas, novas amizades, novos lugares... Mas minha cabeça

continuava na genética. Eu amo a biologia como um todo. Amo as suas interações – todas elas

– e, ainda assim, meu fascínio pela genética se manteve. Com o primeiro estágio na área, tive

meu primeiro contato com a genética médica, com os pacientes e com a clínica. Nas palavras

de Fernando Pessoa: “Primeiro, estranha-se, depois entranha-se”. Nesse local me vi trilhando

um novo caminho - para mim, pelo menos - e assim se segue até o presente momento em que

entrego essa dissertação.

Não há como dizer que a realização de todo esse trabalho se fez somente com meus

méritos pessoais, seria prepotência – e, no fim das contas – uma mentira. Meus eternos

agradecimentos vão para todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para que eu

chegasse até aqui e, por isso, gostaria de citar algumas delas:

Primeiramente, aos meus pais pelo suporte emocional, financeiro e todos os outros que

puderem se encaixar aqui. Rosângela Maria Mazzo Peluzzo e Djalma Roberto Peluzzo, vocês

são o meu norte e sempre serão. Espero ter vocês ao meu lado por mais todo um sempre.

Aos meus irmãos que, mesmo distantes geograficamente, aqui no meu coração, a

distorção do espaço-tempo nos mantém sempre próximos.

À Fernanda Mendes por estar presente ao meu lado, dando apoio profissional e

pessoal. Por topar me acompanhar nessa caminhada e sempre me ajudar, fazendo com que ela

fosse, na maioria das vezes, mais leve e fácil de ser digerida.

Ao meu orientador Prof. Dr. Marcondes Cavalcante França Jr. pela oportunidade de

trabalhar juntos nesse projeto tão interessante. Por todo conhecimento e instrução ao longo

dessa jornada.

Ao Dr.Wilson Marques Junior da USP-RP e a Dra. Laura Bannach Jardim da UFRGS

por cederem as amostras e os dados clínicos para que a realização desse projeto fosse

possível.

À Dra. Luciana Cardoso Bonadia, por ser um exemplo íntegro de profissional que

quero seguir pelo resto de minha vida. Por todas as conversas sobre assuntos diversos,

regados a altas doses de café e risadas. Por todas as dúvidas tiradas e todas os conselhos

proporcionados. Por ser também, com o passar dos anos, um exemplo de mãe a quem já me

espelho quando penso na criação do meu filho. Poderia me estender nesses pontos

infinitamente, pois não há palavras que descreverão toda minha gratidão a você.

À Dra. Simoni Avansini por todo o conhecimento, por todas discussões

metodológicas, todas as pesquisas e papers indicados. Pelos sorrisos mesmo nas horas de

desespero. Pelo companheirismo a todo momento.

À Dra. Tânia Kawasaki de Araujo, por ter me ouvido sempre. Ter esclarecido todas as

minhas dúvidas. Ter respondido meus chamados inúmeras vezes pelo laboratório e sempre ter

me atendido de forma pronta, prestativa e com um sorriso no rosto, independente do dia e

horário. Por ser uma profissional exemplar na qual também me espelho.

Ao Me. Alexandre Hilário Berenguer de Matos pela força tanto teórica quanto

experimental. Certamente, esse trabalho não seria o mesmo se não fosse por toda sua ajuda.

À banca examinadora da qualificação por todas as sugestões e contribuições para a

melhoria tanto da escrita como da apresentação dessa dissertação.

À República Rapina, incluindo todos os seus moradores e ex-moradores que, junto

comigo, em dezembro de 2009 fundaram essa fraternidade com o objetivo de, além de dividir

o mesmo teto, formar uma família. Vida longa à Rapina.

A todos os colegas do laboratório que, de alguma forma, participaram tanto desse

projeto como da minha vida, no dia-a-dia, no cafezinho no espaço gourmet, nos quitutes nas

tardes quentes pela FCM, pelas conversas sobre assuntos diversos. Beijos a todos vocês:

Cynthia, Taty, Karina, Stéphanie, Luciana, Marcella, Marina, Saul, Paty, Danny, Fábio,

André e Maria.

Aos demais familiares, amigos, funcionários e professores da FCM, que não citarei um

por um, para que ninguém se zangue, mas que tiveram seus papéis essenciais na minha vida,

na minha história e na minha formação.

À CAPES e a FAPESP por todo o fomento dessa pesquisa.

RESUMO

A ataxia de Friedreich (AF) é a ataxia hereditária autossômica recessiva mais comum

em populações caucasianas, causada por expansões (GAA) em homozigose no 1º íntron do

gene frataxin (FXN) (OMIM: 606829) em aproximadamente 96% dos pacientes afetados. Os

outros 4% dos pacientes são heterozigotos compostos para a expansão num dos alelos e

mutações pontuais no gene FXN no outro. Em ambos os casos há uma expressão diminuída da

proteína frataxina. A AF trata-se de uma doença neurodegenerativa, de início precoce e

evolução progressiva. A principal característica patológica é a morte dos neurônios dos

gânglios dorsais, seguida da degeneração da coluna posterior da medula espinhal e dos tratos

espinocerebelares, culminando com atrofia medular, especialmente na região cervical e

torácica. Dentre os sintomas da AF estão a instabilidade da marcha e a incoordenação de

movimentos como os primeiros sinais. Porém, também são evidentes: a perda da sensibilidade

vibratória e proprioceptiva, a fraqueza muscular, geralmente associada à escoliose, arreflexia

difusa com sinal de Babinski, disfunções cognitivas sutis, tremores de extremidades, disfagia,

disartria, pés cavos, cardiomiopatia e diabetes. Estudos de identificação das mutações

pontuais em heterozigotos compostos estão se mostrando uma abordagem promissora para

elucidar as vias metabólicas de ação da proteína frataxina. Além disso, há implicações para o

diagnóstico molecular e aconselhamento genético. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi

investigar a frequência, perfil mutacional e fenotípico de uma amostra de pacientes brasileiros

heterozigotos compostos para a AF. Para tanto, recrutamos pacientes de três centros de

referências no país (Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, Universidade de São

Paulo Campus Ribeirão Preto-USP-RP e Universidade Federal do Rio Grande do Sul-

UFRGS). Aqueles com apenas uma expansão identificada foram submetidos ao

sequenciamento dos 5 exons e transições exon-intron do gene FXN (técnica de Sanger). Foi

identificada uma nova variante (c.482+1G>T) em um paciente heterozigoto composto para

AF, considerada patogênica de acordo com os critérios da American College of Medical

Genetics and Genomics (ACMG). Também encontramos uma mutação já descrita

previamente na literatura em outros dois pacientes não-relacionados (c.157delC). A

frequência observada de heterozigose composta foi de 2,87% (5/174); quando considerados

somente os casos em que mutações foram encontradas, a taxa diminui para 1,72% (3/174).

Estes são dados inéditos na população brasileira, com relevância para a escolha de técnicas

adequadas de diagnóstico molecular e orientação sobre aconselhamento genético em nossa

população.

Palavras-chave: Ataxia de Friedreich; Análise de Sequência de DNA; Biologia Molecular.

ABSTRACT

Friedreich Ataxia (FRDA) is the most common autosomal recessive ataxia in

Caucasian populations. It is caused by a homozygous GAA expansion in the first intron of the

frataxin gene (FXN) (OMIM: 606829) in 96% of the affected individuals. The remaining

patients are compound heterozygous: they have a GAA expansion in one allele and a point

mutation in the other. As a result, there is a dramatic reduction of the frataxin expression in

both situations. FRDA is a neurodegenerative disease characterized by early onset and

progressive ataxia. Death of the dorsal ganglia neurons, followed by degeneration of the

posterior spinal cord and spinocerebellar tracts, culminating in spinal cord atrophy, especially

in the cervical and thoracic regions, are the most common pathological features for this

disease. The first symptoms of FRDA are gait instability and limb incoordination. However,

other manifestations are also often found: loss of vibratory and proprioceptive sensation,

muscle weakness, usually associated with scoliosis, diffuse areflexia with Babinski sign,

subtle cognitive dysfunction, tremor, dysphagia, dysarthria, pes cavus, cardiomyopathy and

diabetes. Looking at FXN point mutations is a promising strategy to uncover the metabolic

pathways related to frataxin. In addition, it has obvious implications for clinical diagnosis and

genetic counseling. We therefore designed this study to determine the frequency, phenotypic

and mutational profile of Brazilian patients that presented compound heterozygosity for FXN.

To accomplish that, we recruited patients from 3 national reference centers (State University

of Campinas-UNICAMP, São Paulo University at Ribeirão Preto-USP-RP and Federal

University of Rio Grande do Sul-UFRGS). Those patients with a single identified expansion

underwent sequencing of all 5 exons and exon-intron boundaries at FXN (Sanger technique).

We identified a novel variant (c.482+1G>T) considered pathogenic following American

College of Medical Genetics and Genomics (ACMG) guidelines. In addition, another

pathogenic variant previously described in the literature (c.157delC) was found in 2 unrelated

subjects. Compound heterozygosity accounted for 2.87% (5/174) of all patients; however,

when considered only cases in which point mutations were found, the rate decreases to 1,72%

(3/174). These are novel data for the Brazilian population. From a clinical perspective, they

will help clinicians to choose the adequate techniques for FRDA diagnosis and proper genetic

counseling in our country.

Key-words: Friedreich Ataxia; Sequence Analysis, DNA; Molecular Biology

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura 3D da proteína frataxina, retirada do Protein Data Bank (PDB) com

código de entrada 1EKG (mature human frataxin)... ............................................................... 18

Figura 2: Gel em poliacrilamida mostrando ensaios de PCR para a amplificação das

expansões em pacientes com AF. As setas vermelhas apontam as expansões dos pacientes

testados, com tamanhos que variam entre 2500pb até mais de 3500pb ................................... 20

Figura 3: As figuras mostram os resultados de um teste de TP-PCR para um controle e um

paciente com Ataxia de Friedreich. Os picos dos eletroferogramas mostram a presença do

tripleto GAA. A presença de vários picos significa a presença de repetições dos tripletos. (a)

Teste de TP-PCR para uma amostra controle, nele, a presença de poucos picos revela que a

expansão GAA existente é pequena. (b) Teste de TP-PCR para um paciente de AF em que é

possível verificar várias expansões GAA no gene FXN ........................................................... 21

Figura 4: (a) Eletroferograma do exon 4 do paciente 94, em que a mutação c.482+1G>T em

heterozigose está evidenciada pela seta em vermelho. (b) Eletroferograma do exon 4 de um

controle. A base nitrogenada situada na posição equivalente à alteração descrita acima está

evidenciada pela seta em vermelho .......................................................................................... 32

Figura 5: Eletroferograma do exon 1 do paciente 431 em que é possível verificar a deleção de

um C em heterozigose na posição 157, mudando todo o frame de leitura a partir do ponto

evidenciado pela seta vermelha ................................................................................................ 32

Figura 6: Gel de eletroforese: no primeiro poço à esquerda está o ladder utilizado e os

tamanhos das bandas em pb. No poço 1 está presente a amostra do paciente 94 após a digestão

com a enzima de restrição MvaI, onde é possível observar a presença de duas bandas, uma de

279pb – referente ao amplicon do alelo em que está presente a mutação c.482+1G>T – e uma

banda de 218pb – referente ao alelo selvagem do paciente e que com a presença do sítio de

restrição da enzima, há o corte. No poço 2 observa-se a digestão do amplicon de um paciente

que não tem a mutação c.482+1G>T e por isso só é visualizada uma banda, pois a enzima

MvaI corta toda a amostra. Para fim de comparação, no poço 3 é possível observar um

amplicon (279pb) da PCR do exon 4 do gene FXN sem o tratamento com a enzima .............. 33

Figura 7: Resultados obtidos através da utilização do algoritmo ESE Finder: na figura 7a, é

possível observar, destacado em vermelho, o sítio em que a mutação c.482+1G>T foi

encontrada. Nesse caso, foi inserida no algoritmo uma sequência de até 5000 nucleotídeos

(limitação do algoritmo) na qual foram selecionados excertos anteriores e posteriores ao exon

4 da sequência selvagem do gene FXN. Como resultado, foram obtidos 10 pontos de

prováveis sítios de splicing e foi atribuída uma pontuação para cada um deles (score) com o

intuito de classifica-los por ordem de importância. O sítio em que a mutação c.482+1G>T foi

encontrada obteve a maior pontuação dentre eles. Na figura 7b, em que a sequência de 5000

nucleotídeos inserida no algoritmo foi a mutada (com a inserção da variante c.482+1G>T), os

resultados obtidos foram nove prováveis sítios de splicing e suas pontuações. A perda do sítio

de splicing, onde a nova variante foi encontrada, está evidenciado pelas setas vermelhas.

Note-se que, em ambas as figuras, são apresentados os mesmos prováveis sítios de splicing

para humanos e para camundongos, respectivamente, confirmando a preservação evolutiva da

sequência entre essas espécies .................................................................................................. 35

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Resumo das mutações pontuais/inserções/deleções descritas no HGMD em

heterozigotos compostos para o gene FXN até maio de 2017 com a adição das duas novas

variantes descritas no trabalho de Galea e colaboradores em 2016. Adaptado de: Gellera C,

Castellotti B, Mariotti C, Mineri R, Seveso V, DiDonato S, et al. Frataxin gene point

mutations in Italian Friedreich ataxia patients. Neurogenetics. 2007;8(4):289–99. ................ 22

Tabela 2: Sequencias dos primers utilizados para a realização da PCR e suas temperaturas

ótimas de ancoramento. ........................................................................................................... 27

Tabela 3: Número de pacientes, famílias, homozigotos e heterozigotos compostos estudados

para AF e o centro de origem da coleta dos dados obtidos (com a exclusão do paciente

UNICAMP02 do número total de pacientes, de famílias e de heterozigotos compostos)........ 29

Tabela 4: Pacientes heterozigotos compostos estudados nos quais as mutações de ponto

foram encontradas, juntamente com seus dados clínicos. O paciente 431 é proveniente do HC-

UNICAMP; o paciente POA1, do Hospital de Clínicas da UFRGS; e o paciente 94, do

Hospital de Clínicas da USP-Ribeirão Preto. ........................................................................... 30

Tabela 5: Dados clínicos dos pacientes heterozigotos compostos nos quais não foram

encontradas mutações de ponto no gene FXN, juntamente com os dados do paciente

UNICAMP02, que serviram de base para sua exclusão como possível heterozigoto composto

.................................................................................................................................................. 31

Tabela 6: Algoritmos utilizados para prever a provável patogenicidade da mutação

c.482+1G>T e seus resultados. ................................................................................................. 34

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ACMG American College of Medical Genetics

AF Ataxia de Friedreich

A Base nitrogenada Adenina

C Base nitrogenada Citosina

G Base nitrogenada Guanina

T Base nitrogenada Timina

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CGH Comparative genomic hybridization

SDS Dodecilsulfato de Sódio

(GAA)>36 Expansão GAA no 1º íntron do gene FXN com mais de 36 repetições

FRDA Friedreich’s Ataxia

FXN Gene que codifica a proteína Frataxina

°C Graus Celsius

μg Microgramas

μL Microlitros

mL Mililitro

MLPA Multiplex ligation-dependent probe amplification

ng Nanogramas

PVS1 Null variant – Very Strong Pathogenic (by ACMG)

pb Pares de base

pmoles Picomoles

% Porcentagem

PCR Reação em cadeia da Polimerase

RNAm RNA mensageiro

s Segundos

CDS Sequência codificante do DNA

TA Temperatura de Ancoramento

HGMD The Human Gene Mutation Database

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

USP-RP Universidade Estadual de São Paulo – Ribeirão Preto

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 17

1.1 Histórico .......................................................................................................................... 17

1.2 Aspectos Genéticos ......................................................................................................... 17

1.3 A Proteína Frataxina ....................................................................................................... 17

1.4 Aspectos Clínicos ............................................................................................................ 18

1.5 O Diagnóstico Molecular da AF ..................................................................................... 20

1.6 Os Heterozigotos Compostos .......................................................................................... 21

1.7 Aconselhamento Genético .............................................................................................. 23

1.8 Justificativa ..................................................................................................................... 24

2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 25

2.1 Geral ................................................................................................................................ 25

2.2 Específicos ...................................................................................................................... 25

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 26

3.1 Casuística e Coleta de Amostras ..................................................................................... 26

3.2 Extração do DNA Genômico .......................................................................................... 26

3.3 Amplificação por PCR .................................................................................................... 27

3.4 Detecção de Mutações: Sequenciamento dos Produtos de Amplificação ...................... 28

3.5 Análise de Dados ............................................................................................................ 28

4. RESULTADOS ................................................................................................................... 29

5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 37

6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 41

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 42

8. ANEXO I ............................................................................................................................ 48

17

1. INTRODUÇÃO

1.1 Histórico

A Ataxia de Friedreich (AF) foi descrita pela primeira vez em 1863 por Nikolaus

Friedreich em Heidelberg, Alemanha, e foi aceita como uma nova doença em 1877 após suas

publicações1. Friedreich descreveu as características clínicas e patológicas fundamentais da

doença, a saber: idade de início dos sintomas na puberdade; atrofia degenerativa da coluna

posterior da medula espinhal, que leva à ataxia progressiva, perda de sensibilidade e fraqueza

muscular; escoliose; deformidades nos pés e sintomas cardíacos1. Ao longo dos anos, estudos

foram surgindo dando mais aprofundamento na clínica e na patologia da doença, porém foi

em 1988 que a doença foi associada a alterações no braço longo do cromossomo 91,2. Quase

uma década depois, em 1996, a sequência do gene frataxin (FXN) foi primeiramente descrita

por Campuzano e colaboradores, sendo a mutação característica da doença identificada1,3. A

partir disso, inúmeros estudos moleculares foram realizados e foi possível tanto conhecer

melhor o substrato molecular da doença, suas vias metabólicas e de ação da proteína

frataxina, quanto correlacionar a presença/ausência da sua expressão com o quadro clínico e

patológico apresentado pelos pacientes.

1.2 Aspectos Genéticos

A AF é a ataxia autossômica recessiva hereditária mais comum na maioria das

populações, possuindo uma prevalência estimada entre 1:50000 e 1:29000 em populações

caucasianas4. É causada por uma mutação que consiste em uma expansão instável e em

homozigose (em aproximadamente 96% dos casos)4–6 da repetição de trinucleotídeos GAA no

primeiro íntron do gene FXN que está localizado no cromossomo 9q13-213. Esse gene

codifica uma proteína de 210 aminoácidos chamada frataxina e essa mutação resulta na sua

expressão reduzida3. Os outros 4% dos pacientes são heterozigotos compostos para uma

mutação pontual, deleção ou inserção, no gene FXN em um dos alelos e uma expansão

(GAA)>36 no outro5,7.

Na literatura, indivíduos normais carregam alelos que variam de 5 até 33 repetições de

GAA. Alelos com expansões entre 34 e 65 repetições são considerados pré-mutados e alelos

com mais de 66 repetições são considerados expandidos, causadores da doença, com

penetrância completa. As expansões podem passar de 1.300 repetições em alguns pacientes5.

1.3 A Proteína Frataxina

18

A frataxina (Figura 1) é uma proteína da matriz mitocondrial, relacionada ao

transporte de ferro e metabolismo de sulfeto ferroso I (FeS)3,4. Assim, pacientes com AF, por

possuírem níveis reduzidos desta proteína, apresentam prejuízo na atividade de enzimas

dependentes de FeS, como as da cadeia respiratória, e acúmulo de ferro intramitocondrial

observado no coração, fígado, núcleo denteado e fibroblastos8. O ferro acumulado, por sua

vez, ao reagir com oxigênio, causa oxidação de elementos celulares; combinado aos defeitos

na cadeia respiratória, há produção de radicais livres, degeneração e morte celular4.

A proteína está expressa em altos níveis no coração do adulto e na medula espinhal,

assim como no gânglio da raiz dorsal e na camada granulosa do cerebelo e também em

tecidos com alta taxa metabólica1,7. A expressão reduzida da frataxina nos lugares onde ela é

altamente expressa explica os achados anátomo-patológicos da doença.

Figura 1: Estrutura 3D da proteína frataxina, retirada do Protein Data Bank (PDB) com

código de entrada 1EKG (mature human frataxin).

1.4 Aspectos Clínicos

Os efeitos sobre o sistema neuromuscular são os mais evidentes na AF. A principal

consequência da alteração genética é a morte dos neurônios dos gânglios dorsais, seguida por

19

degeneração da coluna posterior da medula espinhal e dos tratos espinocerebelares. Assim, o

achado anátomo-patológico mais característico da doença é a atrofia medular, especialmente

na região cervical e torácica. Os núcleos profundos do cerebelo e suas vias eferentes, assim

como os tratos córtico-espinais também sofrem degeneração em estágios mais avançados da

doença9.

Os sintomas de AF geralmente se iniciam de forma precoce e tem caráter

progressivo10. Na maioria dos casos, a instabilidade da marcha e a incoordenação de

movimentos são os primeiros sinais. Porém, também são evidentes a perda da sensibilidade

vibratória e proprioceptiva; a fraqueza muscular, geralmente associada à escoliose; arreflexia

com presença do sinal de Babinski; disfunção cognitiva sutil; tremores de extremidades;

disfagia; disartria; pés cavos; cardiomiopatia e diabetes 8,10.

A disfunção cardíaca pode causar a morte prematura a uma minoria significante de

pacientes, particularmente aqueles em que a AF se manifesta de forma precoce. Os

ecocardiogramas dos pacientes mostram uma hipertrofia concêntrica dos ventrículos ou uma

hipertrofia assimétrica do septo cardíaco. Em muitos casos, essa cardiomiopatia progride para

um estágio dilatado com insuficiência cardíaca às vezes grave 10. A causa mortis mais comum

nos pacientes com AF se dá pelo desenvolvimento desse fenótipo cardíaco11. A gravidade da

doença e a idade de início dos sintomas estão relacionadas com o comprimento da repetição

do tripleto GAA, especialmente no menor alelo12.

20

1.5 O Diagnóstico Molecular da AF

Testes moleculares para a detecção das expansões em AF são realizados a partir de

quatro técnicas: (i) reação em cadeia da polimerase (“Polymerase chain reaction” – PCR)

(Figura 2); (ii) PCR de longo alcance (“long-range PCR” - LR-PCR); (iii) “triplet repeat

primed PCR” (TP-PCR) (Figura 3); e/ou (iv) “Southern blotting”13. Todas essas técnicas têm

como objetivo primário verificar a presença dos alelos expandidos para o gene FXN. Como

objetivo secundário, elas tentam quantificar o número exato de expansões que cada alelo

contém.

Figura 2: Gel em poliacrilamida mostrando ensaios de PCR para a amplificação das

expansões em pacientes com AF. As setas vermelhas apontam as expansões dos pacientes

testados, com tamanhos que variam entre 2500pb até mais de 3500pb.

21

Figura 3: As figuras mostram os resultados de um teste de TP-PCR para um controle e

um paciente com Ataxia de Friedreich. Os picos dos eletroferogramas mostram a

presença do tripleto GAA. A presença de vários picos significa a presença de repetições

dos tripletos. (a) Teste de TP-PCR para uma amostra controle, nele, a presença de

poucos picos revela que a expansão GAA existente é pequena. (b) Teste de TP-PCR para

um paciente de AF em que é possível verificar várias expansões GAA no gene FXN.

1.6 Heterozigotos Compostos

Nos indivíduos heterozigotos compostos para a AF, 51 mutações

pontuais/inserções/deleções no gene FXN foram descritas no The Human Gene Mutation

Database (HGMD) até o momento5,7. Um resumo dessas alterações genéticas segue abaixo,

apresentado na Tabela 1.

Tabela 1: Resumo das mutações pontuais/inserções/deleções descritas no HGMD em

heterozigotos compostos para o gene FXN até maio de 2017 com a adição das duas novas

variantes descritas no trabalho de Galea e colaboradores em 2016. Adaptado de: Gellera

C, Castellotti B, Mariotti C, Mineri R, Seveso V, DiDonato S, et al. Frataxin gene point

mutations in Italian Friedreich ataxia patients. Neurogenetics. 2007;8(4):289–99.

α: Predição de splicing anormal

β: Mutação em sítio doador de splicing

Ω: Dado não fornecido pela literatura

22

Exon

Íntron (IVS) Mutação Efeito Tipo da mutação Referência

Exon 1 c.1 A>C p.M1L (iniciação

incorreta) Missense 14

c.2 T>C p.M1T (iniciação

incorreta) Missense 14

c.2 delT p.M1S (iniciação

incorreta) Missense 15

c.3 G>T p.M1I (iniciação

incorreta) Missense 16

c.3 G>A p.M1I (iniciação

incorreta) Missense 17

c.11-12 delTC p.L4RfsX90 Frameshift 18

c.100 delG p.A34PfsX75 Frameshift 5

c.104 delC p.P35HfsX75 Frameshift 5

c.118 C>T p.R40C Missense 19

c.118 delC p.R40VfsX75 Frameshift 20

c.157 delC p.R53AfsX75 Frameshift 14

c.157 insC p.R53PfsX92 Frameshift 14

g.IVS1+1G>A α β 21

IVS1 g.IVS1+5 G>C α β 22

Exon 2 c.202_205

delGTCAinsTTG p.V68LfsX75 Frameshift 23

IVS2 g.IVS2-1G>A α β 24

Exon 3 c.296_297 insT p.A99VfsX111 Frameshift 20

c.317 T>G p.L106X Nonsense 3

c.317 T>C p.L106S Missense 25

c.317 delT p.L106X Nonsense 23

c.340_352 del13 p.A114TfsX128 Frameshift 23

c.354 C>G p.Y118X Nonsense 5

c.364 G>T p.D122Y Missense 14

Exon 3/IVS3

c.381_384 delTGGG +

g.IVS3+1_+9

delGTACCTCTTc

α β 5

IVS3 g.IVS3+1 G>A α β 26

gIVS3+4857G>A α β 27

g.IVS3-2 A>G α β 3

Exon 4 c.389 G>T p.G130V Missense 14,28–30

c.438 C>G p.N146K Missense 31

c.460 A>T p.I154F Missense 3,32

c.464 T>C p.W155R Missense 33

c.465 G>A p.W155X Nonsense 20

c.467 T>C p.L156P Missense 14

IVS4 g.IVS4+2 T>G α β 29

g.IVS4+3 delA α β 14

Exon 5A c.493 C>T p.R165C Missense 22,29

c.494 G>C p.R165P Missense 34

Ω p.R165D Missense 7

c.517 T>G p.W173G Missense 14

c.544 C>T p.L182F Missense 29

c.545 T>A p.L182H Missense 14

c.548 A>G p.H183R Missense 14

c.557 T>G p.L186R Missense 31

c.576 T>C p.L190P Missense 7

c.593 T>G p.L198R Missense 35

g.120032_122808del Terminação prematura

prevista Deleção do exon 5a 31

23

As diferenças clínicas que os pacientes com AF homozigotos teriam em relação aos

heterozigotos compostos são bem discutidas na literatura. Nela é possível verificar que as

mutações pontuais no gene FXN levam, em geral, a fenótipos brandos, ou relacionados

diretamente ao tamanho da expansão GAA, no caso de mutações missense; Já no caso de

mutações nonsense ou de frameshift, as alterações levam a quadros clínicos mais graves que

os relacionados diretamente às expansões GAA, ou seja, apresentam, por exemplo, uma data

de início dos sintomas da doença mais precoce5,6. Também foi demonstrado que pacientes

homozigotos são mais propensos a desenvolver cardiomiopatia e que grupos de pacientes

heterozigotos compostos, com mutações que levam a não produção da frataxina, tem 4,5

vezes mais disposição para desenvolver diabetes mellitus7.

Pacientes com mutações pontuais no gene FXN em homozigose ainda não foram

observados na literatura. Isso pode ser explicado, por exemplo, pela raridade da ocorrência

dessas mutações, e também pelo fato de que a inativação do gene homólogo ao FXN em

camundongos leva a um quadro de letalidade embrionária1,36, sugerindo que “null mutations”

– aquelas que resultam na completa ausência da proteína – podem levar a um quadro clínico

muito grave ou a um fenótipo letal1.

1.7 Aconselhamento Genético

O aconselhamento genético é uma etapa importante do cuidado clínico de pacientes

acometidos por doenças hereditárias. Esse processo inclui, por exemplo, o aconselhamento de

casais sobre o risco e a probabilidade da recorrência da doença hereditária em questão na sua

prole. No caso da AF, nos deparamos ocasionalmente com indivíduos que já tem a

confirmação genética da doença (homozigoto para a expansão GAA no gene FXN) e querem

orientação acerca do risco para sua prole.

Considerando que a frequência estimada de portadores (indivíduos que carregam a

expansão GAA no gene FXN em um de seus alelos) em populações caucasianas é de 1 em

9037, o procedimento que pode ser realizado para que seja possível um aconselhamento

genético preciso, além da análise em cima das probabilidades (que consideram todas as

variáveis existentes), é um teste para saber se o cônjuge é portador ou não da expansão. Esse

teste somente pode ser realizado com a autorização do cônjuge.

O teste geralmente é efetuado utilizando-se a técnica de LR-PCR ou a de TP-PCR,

pois são ambas de baixo custo e precisas na verificação da presença ou não da expansão. Elas

podem, entretanto, não detectar outros tipos de variantes patogênicas no gene FXN.

24

Desta forma, nosso estudo de heterozigotos compostos tem uma implicação direta no

aconselhamento genético dos pacientes com AF e essa questão será melhor discutida na seção

que diz respeito à discussão dessa dissertação.

1.8 Justificativa

Não existem tratamentos efetivos para a AF. Contudo, o melhor conhecimento

fisiopatológico está possibilitando o desenvolvimento de intervenções terapêuticas10.

A identificação de mutações pontuais no gene FXN vem se mostrando uma forma de

elucidar a importância metabólica da proteína, a correlação estrutura-função e sua associação

com o quadro clínico patológico da doença.

Não dispomos de dados no Brasil sobre a frequência e o perfil mutacional de pacientes

com heterozigose composta. Portanto, um estudo com este foco pode contribuir para o melhor

entendimento da doença em nosso meio, com implicações para a testagem molecular

diagnóstica e para o aconselhamento genético.

25

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

• Caracterização da nossa casuística de pacientes brasileiros heterozigotos compostos

para o gene FXN.

2.2 Específicos

• Determinar a frequência de heterozigotos compostos na nossa casuística e compará-la

em relação à literatura;

• Descrever as novas mutações de ponto encontradas e analisar in silico sua

patogenicidade;

• Caracterizar o fenótipo dos pacientes confirmados heterozigotos.

26

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Casuística e coleta de amostras

Todos os indivíduos participantes deste projeto foram selecionados no ambulatório de

doenças neuromusculares e neurogenética do HC-UNICAMP, no ambulatório de

neurogenética do Hospital de Clínicas da USP-Ribeirão Preto e no ambulatório de

neurogenética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA ligado à Universidade Federal

do Rio Grande do Sul). Todos assinaram previamente um TCLE nos centros em que suas

amostras foram coletadas.

Essas coletas foram realizadas ao longo de 10 anos, entre 2007 e 2017. Na UNICAMP

essas amostras estão armazenadas em biorrepositório aprovado pelo CEP com CAAE número

12112913.3.0000.5404 (Anexo I). Os dados clínicos desses pacientes foram revisados e

discutidos pelo Dr. Marcondes Cavalcante França Jr. da UNICAMP, Dr.Wilson Marques

Junior da USP-RP e Dra. Laura Bannach Jardim do HCPA-UFRGS.

Os critérios de inclusão para a participação nesse estudo foram:

• Pacientes com AF e expansão GAA confirmada em um ou dois alelos;

• Confirmação do fenótipo clínico do paciente no caso do estudo de heterozigoto

composto.

3.2 Extração do DNA genômico

A extração do DNA genômico foi feita a partir de amostras de sangue periférico

coletadas dos pacientes e familiares em tubos com EDTA para evitar a coagulação. O

protocolo de extração com fenol-clorofórmio segue descrito abaixo38:

Aproximadamente 6 a 12 mL de sangue venoso foram colhidos de cada indivíduo

recrutado para o estudo. As amostras foram centrifugadas por 10 minutos a 2500 rpm e a fase

intermediária, contendo os leucócitos, foi transferida para um tubo de propileno com fundo

cônico. O passo seguinte foi a adição das soluções de RSB 1X até completar o volume de

11mL, e de 60µL de Nonidet®. Após homogeneização em agitador durante 10 minutos, a

solução foi centrifugada a 2500 rpm por mais 10 minutos e o sobrenadante foi descartado. Em

seguida, foram adicionados 3mL de solução SDS a 10% e 60µL de proteinase K (100mg/mL).

27

Posteriormente, as amostras foram incubadas a 37° por 24h. Após a incubação, foram

acrescentados 3mL de fenol saturado (pH 7,8), seguido de agitação dos tubos até

homogeneização e centrifugação por 10 minutos a 2500 rpm. Descartada a fração inferior do

tubo, o processo foi repetido com 1,5 mL de fenol saturado (pH7,8) e 1,5 mL de solução de

clorofórmio-álcool isoamílico (proporção 24:1). Após descartar desta a vez a porção superior,

foi adicionado 3 mL de solução clorofórmio-álcool isoamílico (proporção 24:1). Descartada

novamente a parte superior, o DNA genômico foi precipitado com a adição de 6 mL de etanol

absoluto ao tubo. A “nuvem” de DNA foi transferida para tubos criogênicos de 1.5 mL e com

aproximadamente 200-250µL de TE 1X. Esse protocolo permitiu a obtenção de DNA em

altas concentrações, aproximadamente 700μg de DNA genômico a partir de aproximadamente

12 mL de sangue venoso.

3.3 Amplificação por PCR

As reações de PCR foram realizadas para um volume final de 25μl, contendo 10 pmoles de

cada primer específico (Tabela 2), 2,5 nmoles de cada nucleotídeo (dGTP, dCTP, dTTP e

dATP), 1,0U de Taq DNA polimerase (Fermentas), 50 nmoles de MgCl2 e 50ng de DNA. Os

produtos de amplificação foram visualizados em gel de agarose 1% corado com SYBR Safe

(Invitrogen). As condições para a realização da PCR foram: desnaturação inicial a 95ºC por 4

minutos, seguida por 35 ciclos de 30 segundos a 95ºC, 30 segundos à temperatura de

ancoramento específica dos pares de primers e 1 minuto a 72ºC; e, depois dos ciclos, extensão

final a 72ºC por 10 minutos. Para determinar a temperatura de ancoramento ideal dos pares de

primers, foram realizados PCRs em gradientes de temperatura.

Tabela 2: Sequências dos primers utilizados para a realização da PCR e suas

temperaturas ótimas de ancoramento

Primer Sequência Forward Sequencia Reverse TA

Exon 1 5’-CCAGCGCTGGAGGGCG-3’ 5’-CCGCGGCTGTTCCCGG-3’ 56,7ºC

Exon 2 5’-GGCACTCGAATGTAGAAGTAGC-3’ 5’-AGAGGAAGATACCTATGACGTG-3’ 51,5ºC

Exon 3 5’-AAAATGGAAGCATTTGGTAATCA-3’ 5’-AGTGAACTAAAATTCTTAGAGGG-3’ 51,5ºC

Exon 4 5’-GGTGTATTTTGTGTACTTG-3’ 5’-GTCACATTTCGGAAGTC-3’ 51,5ºC

Exon 5 5’-CTGAAGGGCTGTGCTGTGGA-3’ 5’-TGTCCTTAAAACGGGGCT-3’ 51,5ºC

28

3.4 Detecção de mutações: Sequenciamento dos produtos de amplificação

Os produtos de amplificação foram purificados com a utilização da enzima illustra

ExoProStar (GE Healthcare), de acordo com as instruções do fabricante e, em seguida,

sequenciados em ambas as direções em sequenciador automático ABI 3500 (Applied

Biosystems).

A reação de sequenciamento seguiu as recomendações do fabricante. O kit utilizado

foi o BigDye® Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Applied Biosystems). Além do pré-

mix já fornecido no kit, foram adicionados 5 pmoles de primer e 200ng do produto de

amplificação. As condições para a realização do sequenciamento foram: 35 ciclos de 95ºC por

20s, 50ºC por 15s, 60ºC por 1 min. A purificação da reação de sequenciamento foi realizada

com etanol e acetato de amônio 7,5mM, como sugerido pelo fabricante. Após esses passos, as

amostras foram ressuspendidas em formamida para a realização da corrida na plataforma.

3.5 Análise dos dados

Os eletroferogramas gerados pela plataforma de sequenciamento foram analisados

utilizando dois softwares: o FinchTV 1.4.039 e o CodonCode Aligner40.

As mutações encontradas tiveram suas entradas pesquisadas em databases de mutações

nacionais e internacionais para saber se as variantes já haviam sido descritas na literatura.

Aquelas utilizadas nesse estudo foram: 1000 Genomes41, EVS42, BIPMed, ExAC e HGMD43.

As variantes não encontradas na literatura foram submetidas a algoritmos de avaliação

in silico da provável patogenicidade da variante. Aqueles utilizados nesse estudo foram:

NNSplice44, Mutation Taster45, ESE Finder 3.046,47 e NetGene248,49. Ao final, as variantes

foram classificadas de acordo com os critérios do American College of Medical Genetics50.

Novas variantes também foram confirmadas através de reação de digestão enzimática.

Essa confirmação se fez necessária pelo fato das fitas forward e reverse do sequenciamento

automático, em alguns casos, não abrangerem todas as bases dos amplicons, principalmente

aquelas que se encontram próximas à sequência dos primers. Para utilizar uma enzima com

um sítio de clivagem que incluísse as novas variantes deste estudo, utilizamos o algoritmo

Web Cutter 2.051.

29

4. RESULTADOS

Fizeram parte dessa pesquisa 183 pacientes, sendo que 68 pacientes (61 famílias)

foram acompanhados no HC-UNICAMP, 75 no Hospital de Clínicas da UFRGS e 40

pacientes (38 famílias) na USP-Ribeirão Preto.

Dos 183 pacientes estudados, 174 são de famílias não relacionadas e seus diagnósticos

moleculares de AF foram confirmados nos centros em que suas amostras foram coletadas.

Os pacientes considerados heterozigotos compostos tiveram seus quadros clínicos

revisados para a confirmação do fenótipo relacionado à doença. Um desses pacientes – o

UNICAMP02 –, proveniente do HC-UNICAMP, apesar de ter confirmada a presença da

expansão GAA em um de seus alelos, foi excluído como acometido pela AF. Isso se deve ao

fato de que, uma vez obtidos os dados de sua família, foi constatado em seu heredograma que

se tratava de herança autossômica dominante (sua mãe e seu irmão apresentam quadro clínico

semelhante). Outras características clínicas observadas nesse paciente também não condizem

com o esperado para casos de AF, como a presença de atrofia cerebelar e bulbopontina,

sensibilidade inteiramente normal (incluindo eletroneuromiografia) e reflexos exaltados

(Tabela 5). Assim, pelos motivos citados, esse paciente foi excluído do cálculo final da

frequência de heterozigotos compostos. Um resumo da casuística contendo os dados

utilizados para a realização desse cálculo estão apresentados na Tabela 3 abaixo.

Tabela 3: Número de pacientes, famílias, homozigotos e heterozigotos compostos

estudados para AF e o centro de origem da coleta dos dados obtidos (com a exclusão do

paciente UNICAMP02 do número total de pacientes, de famílias e de heterozigotos

compostos).

Centro de

Coleta Pacientes Famílias Homozigotos

Heterozigotos

Compostos

UNICAMP 68 61 66 2

UFRGS 75 75 73 2

USP-RP 40 38 39 1

TOTAL

183 174 178 5

Sendo assim, o cálculo da frequência de heterozigotos compostos na nossa amostra da

população brasileira é de 2,87% (5/174). Se considerarmos somente os pacientes em que

foram encontradas mutações de ponto/inserção/deleção, a taxa é de 1,72% (3/174). As

30

frequências são inferiores àquelas observadas na literatura para populações caucasianas, a

saber, 4%7,14.

Foi realizado o sequenciamento dos cinco exons do gene FXN para os cinco pacientes

heterozigotos compostos que participaram desse estudo, juntamente com o paciente

UNICAMP02, porém mutações (pontuais/inserções/deleções) foram encontradas somente em

três deles. Os resultados podem ser observados na Tabela 4 abaixo.

Tabela 4: Pacientes heterozigotos compostos estudados nos quais as mutações de ponto

foram encontradas, juntamente com seus dados clínicos. O paciente 431 é proveniente

do HC-UNICAMP; o paciente POA1, do Hospital de Clínicas da UFRGS; e o paciente

94, do Hospital de Clínicas da USP-Ribeirão Preto.

Paciente Mutação Início Fenótipo Cardiopatia Diabetes

431 c.157 delC 27 anos Ataxia mista; Reflexos (+);

Sensibilidade alterada - -

POA1 c.157 delC 12 anos Ataxia mista; Reflexos(+/-);

Sensibilidade alterada - +

94 c.482+1G>T 10 anos Ataxia mista; Reflexos (-);

Sensibilidade Alterada + +

Os dados clínicos dos pacientes em que não foram encontradas mutações de ponto

estão descritos na Tabela 5 abaixo. Esses dados serão melhor explorados na seção que

concerne à discussão dessa dissertação.

31

Tabela 5: Dados clínicos dos pacientes heterozigotos compostos nos quais não foram

encontradas mutações de ponto no gene FXN, juntamente com os dados do paciente

UNICAMP02, que serviram de base para sua exclusão como possível heterozigoto

composto.

Paciente Início Padrão de

Herança Fenótipo Cardiopatia Diabetes

UNICAMP01 48 anos Caso Isolado

Ataxia presente;

Reflexos abolidos;

Sensibilidade profunda

alterada

- +

UNICAMP02 32 anos Dominante

Ataxia presente;

Reflexos exaltados;

Sensibilidade normal

- -

POA2 15 anos Caso Isolado

Ataxia presente;

Reflexos preservados;

Sensibilidade reduzida

- -

No paciente 94, foi encontrada uma nova mutação no gene FXN. Essa mutação está

localizada na primeira base nitrogenada logo após o término do exon 4 do gene.

Prioritariamente, as primeiras bases logo antes do começo de um exon, ou logo após o

término dele, são sítios canônicos de splicing e tendem a ser altamente conservados. Assim a

nomenclatura correta para a alteração encontrada é “c.482+1G>T”, onde o “c” significa que a

nomenclatura está tratando do CDS do gene, o “482+1” é referente à posição da alteração no

CDS, em que o exon 4 termina na posição “482” e “+1” refere-se à primeira base após o

término dele e o “G>T” mostra que a mudança se dá pela substituição de uma guanina por

uma timina.

No eletroferograma mostrado na Figura 4a, é possível observar a presença da mutação

em heterozigose. Na Figura 4b é possível observar o eletroferograma de um paciente sem a

mutação, para fim de comparação.

32

Figura 4: (a) Eletroferograma do exon 4 do paciente 94, em que a mutação c.482+1G>T

em heterozigose está evidenciada pela seta em vermelho. (b) Eletroferograma do exon 4

de um controle. A base nitrogenada situada na posição equivalente à alteração descrita

acima está evidenciada pela seta em vermelho.

Os pacientes 431 e POA1 apresentaram a mutação c.157delC, que já foi descrita

previamente na literatura e será melhor discutida na seção de discussão dessa dissertação. Na

figura 5, é possível observar o eletroferograma do paciente 431 e verificar a deleção que muda

o frame de leitura.

Figura 5: Eletroferograma do exon 1 do paciente 431 em que é possível verificar a

deleção de um C em heterozigose na posição 157, mudando todo o frame de leitura a

partir do ponto evidenciado pela seta vermelha.

33

Para a nova variante c.482+1G>T, foram feitas pesquisas em bases de dados nacionais

e internacionais como o 1000 Genomes, ExAC, EVS, HGMD e BIPMed, com o intuito de

saber se essa mutação já havia sido descrita anteriormente e, até o presente momento, essa

variante não se encontra depositada nessas bases de dados.

Para confirmar a presença dessa mutação, conforme descrito na seção de materiais e

métodos dessa dissertação, também foi realizada uma digestão enzimática do produto da PCR

do exon 4 do paciente 94. A enzima de restrição utilizada para esse procedimento foi a MvaI,

selecionada a partir do algoritmo WebCutter 2.0. A sequência do exon 4 foi submetida ao

algoritmo e inúmeras enzimas de restrição com sítios de corte na sequência do nosso

amplicon foram retornadas pelo algoritmo. A enzima MvaI foi selecionada, pois tem o sítio de

restrição que flanqueia as bases onde a nova mutação foi encontrada e também por já existir

alíquota dela no laboratório onde os experimentos foram realizados.

O sítio de restrição da enzima MvaI é CCWGG para a fita forward e é GGWCC para o

seu reverso complementar. W pode ser um A ou um T. No caso da nossa mutação, temos a

sequência CCAGG para a fita selvagem e a sequência CCAGT para a fita mutada, assim,

quando há a presença da mutação na amostra, a enzima de restrição perde seu sítio de ligação

e não realiza o corte do amplicon.

Na Figura 6 é possível visualizar o gel de agarose em que foi testada a enzima MvaI e

a confirmação da presença da mutação.

Figura 6: Gel de eletroforese: no primeiro poço à esquerda está o ladder utilizado e os

tamanhos das bandas em pb. No poço 1 está presente a amostra do paciente 94 após a

34

digestão com a enzima de restrição MvaI, onde é possível observar a presença de duas

bandas, uma de 279pb – referente ao amplicon do alelo em que está presente a mutação

c.482+1G>T – e uma banda de 218pb – referente ao alelo selvagem do paciente e que

com a presença do sítio de restrição da enzima, há o corte. No poço 2 observa-se a

digestão do amplicon de um paciente que não tem a mutação c.482+1G>T e por isso só é

visualizada uma banda, pois a enzima MvaI corta toda a amostra. Para fim de

comparação, no poço 3 é possível observar um amplicon (279pb) da PCR do exon 4 do

gene FXN sem o tratamento com a enzima.

Para analisar a provável patogenicidade da variante encontrada, foram utilizados os

algoritmos Mutation Taster45, NNSplice (Berkeley Drosophila Genome Project)44, ESE

Finder 3.046,47 e NetGene248,49, sendo que os últimos três são específicos para predição de

variações em sítios doadores de splicing. A imagem do resultado obtido através do algoritmo

ESE Finder pode ser observado na Figura 7.

A Tabela 6, que resume os resultados obtidos através da utilização dos algoritmos

selecionados nesse trabalho e que predizem a mutação como altamente patogênica, pode ser

observada abaixo.

Tabela 6: Algoritmos utilizados para prever a provável patogenicidade da mutação

c.482+1G>T e seus resultados.

Algoritmo Mutation Taster NNSplice ESE Finder NetGene2

Alteração

patogênica + + + +

Perda de sítio

doador de Splicing + + + +

35

Figura 7: Resultados obtidos através da utilização do algoritmo ESE Finder: na figura

7a, é possível observar, destacado em vermelho, o sítio em que a mutação c.482+1G>T

foi encontrada. Nesse caso, foi inserida no algoritmo uma sequência de até 5000

nucleotídeos (limitação do algoritmo) na qual foram selecionados excertos anteriores e

posteriores ao exon 4 da sequência selvagem do gene FXN. Como resultado, foram

obtidos 10 pontos de prováveis sítios de splicing e foi atribuída uma pontuação para

cada um deles (score) com o intuito de classifica-los por ordem de importância. O sítio

em que a mutação c.482+1G>T foi encontrada obteve a maior pontuação dentre eles. Na

figura 7b, em que a sequência de 5000 nucleotídeos inserida no algoritmo foi a mutada

36

(com a inserção da variante c.482+1G>T), os resultados obtidos foram nove prováveis

sítios de splicing e suas pontuações. A perda do sítio de splicing, onde a nova variante foi

encontrada, está evidenciado pelas setas vermelhas. Note-se que, em ambas as figuras,

são apresentados os mesmos prováveis sítios de splicing para humanos e para

camundongos, respectivamente, confirmando a preservação evolutiva da sequência

entre essas espécies.

Não foi possível utilizar algoritmos que se baseassem na mudança da sequência de

aminoácidos da proteína, uma vez que essa mutação se encontra num sítio doador de splicing,

e a maioria dos algoritmos são limitados a avaliar a substituição de aminoácidos para prever a

patogenicidade na provável perda ou não da função da proteína.

De acordo com a ACMG, as variantes que resultam na perda de sítios doadores e/ou

receptores de splicing (situadas 1 ou 2 bases depois do fim de cada exon), são classificadas

como PVS1, uma “null variant”. Além disso, esta variante atende um critério moderado de

patogenicidade – ausência em controles nas bases de dados ExAC e 1000 Genomes, e um

critério de suporte – múltiplas linhas de evidência computacional indicam efeito deletério da

variante (vide tabela 6). Portanto, de acordo com os critérios da ACMG, a alteração

c.482+1G>T foi classificada como patogênica.

37

5. DISCUSSÃO

Essa dissertação se constitui como o primeiro estudo de heterozigotos compostos para

AF no Brasil. Nossa casuística foi composta por 183 pacientes, sendo 174 deles pertencentes

a famílias não relacionadas.

Na literatura é possível encontrar uma pequena variação na porcentagem de

heterozigotos compostos nas populações estudadas, Cossée e colaboradores em 199914 e

Galea e colaboradores em 20167 encontraram uma taxa de 4%, enquanto o trabalho de Gellera

e colaboradores em 20075 traz um número em torno de 4,3%. A frequência da nossa amostra

da população brasileira ficou em 2,87% (5/174). Se considerarmos somente os pacientes em

que foram encontradas mutações de ponto/inserção/deleção, a taxa é de 1,72% (3/174).

A frequência encontrada neste estudo ficar abaixo daquela verificada na literatura e

podemos inferir que isso é causado, provavelmente, pela: (i) cobertura das regiões brasileiras

presentes no nosso estudo (Sul e Sudeste), pois, mesmo considerando que muitos pacientes

participantes se locomoveram de outras regiões para comparecer aos nossos centros de coleta,

não podemos garantir que a cobertura do estudo é nacional; e (ii) heterogeneidade de etnias

presentes no nosso país.

Na África e na Ásia, a AF é uma doença incomum e não existem estudos da

frequência de portadores nessas regiões52,53. É esperado que essa frequência seja menor que a

apresentada por populações europeias (aproximadamente 1:90)37, o que reflete diretamente na

frequência de heterozigotos compostos desses continentes, que também é esperado que seja

menor.

Assim, é possível inferir que o resultado de uma frequência de heterozigotos

compostos menor do que aquela encontrada na população europeia e presente nos estudos

citados nessa dissertação é devido à miscigenação da população brasileira, com a mistura das

populações europeias, africanas e asiáticas, por exemplo.

Dos seis pacientes classificados como possíveis heterozigotos compostos que

participaram desse estudo (três coletados no HC-UNICAMP, dois na UFRGS e um na USP-

RP), cinco foram confirmados para essa condição através do teste genético que verificou a

presença de uma expansão GAA no gene FXN em um de seus alelos, juntamente com a

clínica que sugere a AF.

O paciente não confirmado (UNICAMP02) acabou sendo excluído dos cálculos de

frequência e não foi considerado como heterozigoto composto – apesar de também apresentar

a expansão GAA –, uma vez que seus dados clínicos não sugerem quadro de AF pois

38

apresentam: (i) padrão de herança dominante tendo a mãe e um irmão com quadro

semelhante; (ii) sensibilidade normal; (iii) atrofia cerebelar e bulbopontina e (iv) reflexos

exaltados. Esse caso em específico se caracteriza com um achado incidental que, além de se

tratar de um paciente com doença neuromuscular de genética ainda não confirmada, também é

um portador da expansão que, em homozigose, causa a AF.

Dentre os cinco pacientes confirmados, pudemos verificar a presença de mutações

pontuais/inserção/deleção em apenas três deles. Acreditamos que a não verificação de

alterações nos outros dois pacientes é justificada pela limitação da técnica escolhida para a

realização do estudo.

O método de Sanger para sequenciamento de fragmentos de PCR não tem cobertura

sobre grandes inserções ou deleções, por exemplo. E essa técnica tampouco cobre as

alterações do tipo deep intronic (que necessitam da total cobertura intrônica), uma vez que a

nossa cobertura é limitada aos exons do gene estudado.

Vários autores já descreveram deleções no gene FXN através da utilização da técnica

de MLPA31,54–58. Um dos mais recentes estudos desse tipo encontrado na literatura é o de

Dorota Hoffman-Zacharska e colaboradores em 2016 que mostraram uma deleção inteira do

gene FXN em um paciente heterozigoto composto52. Assim, estudos abordando outras

técnicas que não as selecionadas nos nossos experimentos, como o MLPA e/ou CGH Array,

se mostram necessárias para elucidar quais são as alterações no gene FXN desses dois

pacientes nos quais não foram verificadas mutações de ponto.

As três variantes encontradas nesse estudo, uma em cada um dos pacientes

heterozigotos compostos estudados nos quais foram verificadas mutações de ponto, estão

descritas na Tabela 4 que se localiza na seção destinada aos resultados.

A variante c.157delC não teve sua patogenicidade avaliada nos algoritmos utilizados

nesse estudo, pois já havia sido descrita por Cossée e colaboradores em 199914 e também

aparece em outro caso não relacionado no estudo de Gellera e colaboradores em 20075. Ela é

uma variação do tipo frameshift de efeito p.R53AfsX75 que muda todo o read de leitura do

CDS, substituindo uma arginina por uma alanina na posição 53 e terminando num stop-codon

75 posições à frente dessa substituição.

Também no trabalho de Gellera e colaboradores em 20075, há uma sugestão de que

essa variante em questão se encontre situada em um “hot spot” mutacional. Na nossa

casuística isso também pode ser inferido, pois se considerarmos somente os pacientes em que

mutações foram encontradas, notamos uma porcentagem de 66,6% (2/3). Por outro lado, se

39

considerarmos todos os pacientes heterozigotos compostos estudados, essa porcentagem

diminui para 40% (2/5).

Ponderando que há 51 mutações diferentes para o gene FXN descritas na base de

dados HGMD, confirmando uma heterogeneidade de genótipos, verificar a mesma variante

em dois pacientes de famílias não relacionadas na nossa amostra da população brasileira,

também nos permite sugerir que a variante que encontramos se encontra em um “hot spot”

mutacional.

A variante c.482+1G>T encontrada no paciente 94 é uma nova mutação, não tendo

sido descrita anteriormente na literatura até o presente momento. Se trata de uma substituição

de uma guanina por uma timina na posição 482+1, ou seja, na primeira base nitrogenada após

o término do éxon 4 do gene FXN. As primeiras bases, tanto antes do começo de um éxon,

quanto ao seu final, são sítios doadores de splicing, assim mutações nessas posições são

consideradas altamente patogênicas. Para confirmar nossa previsão sobre a variante,

utilizamos algoritmos de predição de patogenicidade. Os resultados podem ser visualizados na

Tabela 6 localizada na seção concernente aos resultados. Segundo os critérios da ACMG, esta

nova variante é classificada como patogênica.

Sendo essa nova mutação encontrada de provável alta patogenicidade, um quadro

clínico agravado dos sintomas seria esperado para esse paciente. Isso foi confirmado no

paciente 94, como observado na tabela 4, que mostra o início dos sintomas aos 10 anos,

fenótipo clássico de AF com presença de diabetes e de cardiomiopatia. Esse paciente chegou a

óbito aos 20 anos.

Comparando o quadro clínico dos três heterozigotos compostos em que pudemos

verificar a presença de mutações no gene FXN (vide Tabela 4 acima), juntamente com aqueles

pertencentes aos pacientes UNICAMP01 e POA2 (vide Tabela 5 acima), apenas um teve

início precoce dos sintomas da doença, mostrando que a nossa casuística não segue o padrão

mostrado pela literatura5,6. Somente um apresentou quadro clínico de cardiomiopatia,

confirmando a tendência descrita na literatura de que a frequência dessa disfunção seria

menor em heterozigotos compostos7.

A presença do quadro clínico de diabetes mellitus é de 9% no trabalho de Cossée e

colaboradores em 199914 e de 8,3% no trabalho de Gellera e colaboradores em 20075. Na

nossa casuística ela se apresenta numa porcentagem de 66,6% (2/3), se considerarmos

somente os pacientes nos quais mutações foram encontradas, e de 60% (3/5) se considerarmos

todos os heterozigotos compostos estudados. Essa porcentagem, em ambos os casos, é alta em

40

comparação com o descrito previamente, mostrando que nossa coorte não segue o padrão

apresentado na literatura.

Ainda que o esperado fosse uma apresentação mais agravada dos quadros clínicos da

doença como resultado das mutações pontuais/inserção/deleção no gene FXN, de modo geral,

não é o que se observa na literatura5,14. Galea e colaboradores em 20167 propuseram que a

presença de um quadro clínico mais grave bem como o aumento da probabilidade de

desenvolvimento da diabete mellitus estaria associada ao impacto do perfil das mutações na

função e estrutura da frataxina, que ocorre quando há presença de mutações que eles

classificam como null mutations (quando elas resultam na não produção da proteína).

Outro ponto importante a ser colocado é que a gravidade do quadro clínico da doença

está associada ao tamanho da expansão GAA no gene FXN, sendo que expansões menores

levam a quadros clínicos mais leves e expansões maiores a quadros clínicos mais graves12.

Pela falta do dado de quantificação da expansão GAA nos nossos pacientes, podemos

apenas inferir que, provavelmente, as expansões presentes nos heterozigotos compostos desse

estudo são menores para os casos de início tardio e maiores para os casos apresentados como

AF clássica. Muito provavelmente, a maioria dos pacientes desse estudo não apresenta uma

expansão enorme, que pudesse levar a um quadro mais grave da doença, como, por exemplo,

o início precoce dos sintomas, como sugere a literatura. No entanto, a quantificação precisa

das expansões GAA no gene FXN desses pacientes se faz necessária em estudos futuros para

melhor avaliação comparativa entre os dados.

O aconselhamento genético para famílias com a AF é feito pela análise das

probabilidades de cada caso analisado nos centros em que os pacientes são acompanhados. Na

maioria dos casos, quando os cônjuges aceitam a realização do teste genético, é feita a busca

pela expansão GAA no gene FXN do cônjuge saudável, com o intuito de classificá-lo como

portador ou não. Mesmo que o cônjuge não seja portador, esse estudo mostra que, ainda

assim, para um aconselhamento genético preciso, é necessária uma busca mais aprofundada

considerando o sequenciamento de seu gene FXN para poder estabelecer se a prole desse

paciente tem chances de herdar sua condição, uma vez que nos casos dos heterozigotos

compostos há uma alta probabilidade de que a mutação pontual tenha sido herdada de seus

parentais.

41

6. CONCLUSÃO

A frequência de heterozigotos compostos para a AF numa amostra da população

brasileira é de 2,87% (5/174). Considerando somente os pacientes em que mutações foram

encontradas, a taxa é de 1,72% (3/174).

Foram encontradas duas mutações: uma deleção já descrita na literatura: c.157delC em

dois pacientes e uma nova mutação c.482+1G>T em um paciente.

Com relação ao fenótipo dos pacientes: dois pacientes apresentaram quadros clássicos,

um apresentou quadro tardio; a cardiomiopatia esteve presente em um paciente e diabetes

esteve presente em dois pacientes.

42

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8. ANEXO I

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50