8

Click here to load reader

Estudos No Evangelho de Joao 18

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João (18)

“EU LHES TENHO DADO A TUA PALAVRA....” (Jo 17.1-26) [14]

E) A Unidade e a nossa Responsabilidade:

1) UM ESFORÇO INTENSO E PERSEVERANTE: (EF 4.3)

Paulo diz algo revelador a respeito da unidade cristã: “Esforçando-vos diligentemente (Spouda/zw) por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3). Analisemos um pouco esta palavra: Os verbos spouda/zw1

e speu/dw,2 o substantivo spoudh/,3 o advérbio spoudai/wj4

e o adjetivo spoudai=oj5 significam “correr”, “apressar-se”, “fazer todo o esforço e empenho possível”, “urgenciar”, “ser zeloso, diligente”, “esforço” e “aplicação”. Denota uma diligência que se esforça por fazer todo o possível para alcançar o seu objetivo. O particípio presente aponta na direção de nossa responsabilidade de mantermos esta atitude constantemente. Ilustremos com algumas manifestações da igreja que revelam a sua solicitude, esforço diligente por preservar a unidade:

a) Zelo em socorrer os irmãos: 1) Paulo, preso em Roma pede a Timóteo esta urgência em encontrá-lo: “Procura (Spouda/zw) vir ter comigo depressa” (2Tm 4.9); “Apressa-te (Spouda/zw) a vir antes do inverno.....” (2Tm 4.21). Em outro contexto, havia solicitado o mesmo a Tito: “Quando te enviar Ártemas ou Tíquico, apressa-te (Spouda/zw) a vir até Nicópolis ao meu encontro. Estou resolvido a passar o inverno ali” (Tt 3.12).

1O verbo Spouda/zw, que é bem traduzido por “esforçando-vos diligentemente” (ARA), tem a sua

ênfase enfraquecida em ACR, ARC e BJ , que o traduzem por “procurando”. Spouda/zw ocorre 11 vezes no NT (* Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14). 2 *Lc 2.16; 19.5,6; At 20.16; 22.18; 2Pe 3.12.

3* Mc 6.25; Lc 1.39; Rm 12.8,11; 2Co 7.11,12; 8.7,8,16; Hb 6.11; 2Pe 1.5; Jd 3.

4*Lc 7.4; Fp 2.28; 2Tm 1.17; Tt 3.13.

5* 2Co 8.17,22 (duas vezes).

Page 2: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 2

Destacamos aqui a necessidade do companheirismo fraterno. Paulo, o grande apóstolo, sentia falta de seus amigos e discípulos; de Timóteo e Tito. Muitos o haviam abandonado; no entanto Lucas permanecia com ele (2Tm 4.11). A Timóteo solicita de modo especial que traga Marcos (2Tm 4.11), a “capa (...) bem como os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). O inverno se aproximava; Paulo desejava a sua capa para aquecer o seu corpo e os livros, pergaminhos e amigos, para aquecer a sua alma saudosa. Ninguém é totalmente insensível às condições climáticas e, ninguém está além da necessidade de amizade e solidariedade. Paulo não pediu aos seus amigos que cuidassem de sua libertação; contudo, sentia falta de sua companhia. A prisão seria menos úmida e nociva, ainda que por um breve período, na companhia de seus amigos. Quão bom é podermos contar com nossos amigos e, quão necessário é que nossos amigos saibam o quanto eles são importantes para nós e que também eles podem contar com a nossa solicitude em aliviar as suas cargas com os nossos recursos, com a nossa atenção e solidariedade.

2) Paulo descreve a amizade benfazeja de Onesíforo, quem o procurou

solicitamente quando muitos de seus amigos o haviam abandonado: “Estás ciente de que todos os da Ásia me abandonaram; dentre eles cito Fígelo e Hermógenes. Conceda o Senhor misericórdia à casa de Onesíforo, porque, muitas vezes, me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas algemas; antes, tendo ele chegado a Roma, me procurou solicitamente (spoudai/wj) até me encontrar. O Senhor lhe conceda, naquele Dia, achar misericórdia da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso” (2Tm 1.15-18).

3) Paulo pede a Tito que encaminhe Zenas e a Apolo, orientando-o para que nada falte àqueles irmãos: “Encaminha (Prope/mpw)6 com diligência (spoudai/wj) Zenas, o intérprete da lei, e Apolo, a fim de que não lhes falte coisa alguma” (Tt 3.13). Aliás, esta era uma característica costumeira em Tito, o zelo e cuidado com os irmãos (2Co 8.16-17). O encaminhar significa mais do que mostrar o caminho ou, colocar na direção correta, antes, suprir as necessidades de alguém para a jornada que tem pela frente. 4) Ainda falando sobre diversos deveres da vida cristã e, em especial descrevendo a fraternidade cristã, Paulo recomenda: “No zelo (spoudh/), não sejais remissos (o)knhro/j = negligentes); sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12.11). (Ver: 2Co 8.7-8). A prontidão em socorrer os nossos irmãos revela a nossa unidade. 5) Paulo ao enviar Tito a Corinto com o propósito de providenciar as ofertas para os pobres da Judéia, assim se refere ao “cuidado”, “diligência” e “solicitude” das igrejas de Macedônia, de Corinto e do próprio Tito: “Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra como no saber, e em todo cuidado, (spoudh/) e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça. Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela diligência (spoudh/) de outros, a sinceridade do vosso amor; pois conheceis a graça

6Prope/mpw * At 15.3; 20.38; 21.5; Rm 15.24; 1Co 16.6,11; 2Co 1.16; Tt 3.13; 3Jo 6.

Page 3: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 3

de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos. (...) Mas graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma solicitude (spoudh/) por amor de vós” (2Co 8.7,8,9,16).7

b) A urgência em corrigir uma injustiça: Pelas evidências que temos, Paulo fez uma visita relâmpago a Corinto – não estando esse fato registrado em Atos. Nesta visita ele foi maltratado e insultado, o que o levou a escrever uma carta a qual não temos no Novo Testamento. Tito que fora o emissário da mesma voltara dizendo que os coríntios haviam se arrependido do mal que fizeram; Paulo então escreve 2ª Coríntios, falando do zelo daqueles irmãos em corrigirem o mal:8 “Porque quanto cuidado (spoudh/) não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto. Portanto, embora vos tenha escrito, não foi por causa do que fez o mal, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que a vossa solicitude (spoudh/) a nosso favor fosse manifesta entre vós, diante de Deus” (2Co 7.11-12). Retomando o texto de Efésios, vemos que Paulo usa esta palavra para se referir ao esforço como o qual devemos nos empenhar por preservar a unidade do Espírito na Igreja. Stott chamou-me a atenção para as palavras de Markus Barth ao comentar essa passagem:

7Paulo relembrando o seu encontro com os apóstolos, diz: “Quando conheceram a graça que me foi

dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei (Spouda/zw) por fazer” (Gl 2.9-10). 8 Paulo escreveu 1 Coríntios estando em Éfeso (1Co 16.8). Paulo falou do seu desejo de ir à Corinto

(1Co 16.5). Depois disso Timóteo deve ter regressado da sua viagem, trazendo más notícias da Igreja. Possivelmente indicando que a carta de Paulo não surtira o efeito desejado e, o próprio Timóteo que lá estivera, também não obtivera êxito (1Co 16.10-11). Paulo então, diante dos fatos, resolve fazer uma viagem relâmpago a Corinto, a fim de colocar as coisas em ordem. Esta viagem não é mencionada por Lucas; nós a sabemos porque Paulo fala da sua possível terceira viagem (2Co 12.14; 13.1-2/1.15), enquanto que Lucas só descreve a primeira. A visita de Paulo foi também frustrada; ele foi insultado (2Co 2.5-11; 7.12; 12.21), sendo menosprezado pelos falsos apóstolos (2Co 11.5;12.11). Parece que estes “apóstolos” condenavam a mensagem cristã e traziam como fonte de sua autoridade, cartas de apresentação (2Co 2.17-3.1-4). De volta a Éfeso, Paulo escreve uma carta, a qual não chegou aos nossos dias, exigindo que o ofensor seja punido (2Co 2.3,4,9; 7.8,12). Tito possivelmente foi o seu emissário juntamente com outro irmão (2Co 7.13; 12.18). Notemos que esta carta mencionada não é 1 Coríntios, porque esta não é uma carta angustiada e marcada pelas lágrimas como Paulo diz ter escrito aquela. Concluído o trabalho em Éfeso, Paulo partiu ansioso para Trôade, objetivando pregar o Evangelho e se encontrar com Tito. Ali teve grande oportunidade. Contudo, o fato de não encontrá-lo, fez com que Paulo partisse para a Macedônia – provavelmente Filipos ou Tessalônica –, a fim de obter informações o mais rápido possível dele. A sua aflição era evidente (2Co 2.12,13). O que inquietava Paulo era: Como a Igreja recebeu a sua carta?. Tito chegou depois de Paulo trazendo boas notícias: A Igreja havia mudado muito apesar de haver uma pequena minoria que permanecia recusando a sua autoridade (2Co 7.5-16).

Page 4: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 4

“Dificilmente se pode traduzir com exatidão a urgência contida no verbo grego subjacente. Não somente pressa e paixão, como também um esforço total do homem integral está em mira, envolvendo a sua vontade, o seu sentimento, a sua razão, a sua força física, e a sua atitude total. O modo imperativo do particípio que se acha no texto grego exclui a passividade, o quietismo, uma atitude de ‘vamos ver como fica’, ou uma diligência temperada por uma velocidade bem deliberada. A iniciativa é sua! Faça-o agora! Seja sincero! Você deve fazê-lo! Estou sendo sério! Estas são as implicações do versículo 3”.9

2) PRESERVAR A UNIDADE DO ESPÍRITO: (EF 4.3)

a) O Sentido de “Preservar”: A palavra traduzida por “preservar” é thre/w tem o sentido de guardar com um propósito ou por um tempo determinado (At 25.21;1Pe 1.4; 2Pe 2.4,9,17; 3.7). A idéia é de manter seguro, preso.10 Paulo nos exorta a fazer todo o esforço possível para conservar, preservar a unidade do Espírito. Concluindo este tópico, devemos notar que é esta palavra que Paulo associa com o esforço diligente: esforçai-vos diligentemente por conservar, preservar, segurar.... O quê?

b) “A Unidade do Espírito”: (Ef 4.3) Conforme vimos, Paulo acrescenta: “Do Espírito”, indicando que a unidade cristã procede, é gerada pelo Espírito.

9 Markus Barth, Ephesians, Garden City, New York: Doubleday & Company, (The Anchor Bible),

1974, Vol. II, p. 428. 10Thre/w, além desta tradução tem o sentido de “deter”, “guardar”, “conservar”, “observar”, “reservar”,

“proteger”, guardar com um propósito ou por um tempo determinado (At 25.21;1Pe 1.4; 2Pe 2.4,9,17; 3.7). A idéia é de manter seguro, preso. Lucas assim narra o episódio da prisão de Pedro: “Pedro, pois, estava guardado (thre/w) no cárcere; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele.Quando Herodes estava para apresentá-lo, naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas à porta guardavam (thre/w) o cárcere” (At 12.5-6). Relatando a situação de Paulo e Silas presos, Lucas diz: “E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse (thre/w) com toda a segurança” (At 16.23). Félix, orienta o Centurião no que se refere a Paulo: “E mandou ao centurião que conservasse a Paulo detido (thre/w), tratando-o com indulgência e não impedindo que os seus próprios o servissem” (At 24.23). “Festo, porém, respondeu achar-se Paulo detido (thre/w) em Cesaréia; e que ele mesmo, muito em breve, partiria para lá” (At 25.4). Festo narrando ao rei Agripa o ocorrido com Paulo, diz: “Mas, havendo Paulo apelado para que ficasse em custódia (thre/w) para o julgamento de César, ordenei que o acusado continuasse detido (thre/w) até que eu o enviasse a César” (At 25.21). [Para um estudo mais detalhado, ver: Hermisten M.P. Costa, O Caminhar dos Vocacionados de Deus, São Paulo, 2002, p. 37ss.].

Page 5: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 5

Jesus Cristo diz ao Pai que transmitiu a Sua glória aos seus discípulos para estes fossem “aperfeiçoados (tele/iow)11 na unidade” (Jo 17.23). Na realidade, para que fossem aperfeiçoados na condição de um, tendo o Pai e Filho como modelo (Jo 17.22). Ele já se referira ao Pai dizendo: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Nesta oração Jesus Cristo usara este verbo (tele/iow) para descrever a concretização de Sua missão (Jo 17.4/Jo 19.2812). “A ajuda mútua que as diferentes partes do corpo oferecem umas às outras, não é considerada pela lei da natureza como um favor, mas, sim, como algo lógico e normal, cuja negativa seria cruel”.13 A unidade da Igreja é uma realidade em Cristo; entretanto, cabe à Igreja preservá-la mediante um comportamento fundamentado nos princípios bíblicos. Jesus Cristo na Oração Sacerdotal ora para que a unidade cristã já existente seja aperfeiçoada (Jo 17.22-23).14 Leiamos mais uma vez o que Paulo escreveu aos efésios: “Esforçando-vos diligentemente (Spouda/zw)15 por preservar (thre/w)16 a unidade do Espírito no

11

A palavra tem o sentido de “cumprir”, “completar” (At 20.24); “terminar” (Lc 2.43; 13.32); “realizar” (Jo 4.34; 5.36), “consumar” (Jo 17.4; 19.28; At 19.28; Tg 2.22), “aperfeiçoar”/”tornar perfeito”/”aperfeiçoado” (2Co 12.9; Hb 2.10; 5.9; 7.19; 9.9; 10.1,14;11.40; 12.23; 1Jo2.5; 4.12,17,18); “perfeito” (Hb 7.28; 1Jo 4.18); “perfeição” (Fp 3.12). 12

“Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado (tele/iow), para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede” (Jo 19.28). 13

João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 39. 14

“O que Ele pede em oração aqui é que esta união, que já existe, seja guardada, seja continuada e seja preservada por Seu Pai” [D.M. Lloyd-Jones, Crescendo no Espírito. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006 (Certeza Espiritual: Vol. 4), p. 157]. 15

Spouda/zw, que é bem traduzido por “esforçando-vos diligentemente” (ARA), tem a sua ênfase enfraquecida em ACR, ARC e BJ, que o traduzem por “procurando”. Spouda/zw ocorre 11 vezes no NT (* Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14), tendo o sentido de “correr”, “apressar-se”, “fazer todo o esforço e empenho possível”, “urgenciar”, “ser zeloso, diligente”, “esforço”, “aplicação”. Spouda/zw denota uma diligência que se esforça por fazer todo o possível para alcançar o seu objetivo. Paulo, preso em Roma pede a Timóteo esta urgência em encontrá-lo (2Tm 4.9,21). Depois, em outro contexto, solicita o mesmo a Tito (Tt 3.12). Esta palavra tem também uma implicação ética, visto que está associada, por exemplo, ao esforço que os crentes devem despender em manter a unidade (Ef 4.3), ao zelo em socorrer a outros irmãos (Gl 2.10; 2Co 8.7,8,16) e, em corrigir uma injustiça (2Co 7.11-12). Por sua vez, é recomendado que aquele que lidera (preside), deve fazê-lo com empenho (diligência, zelo) (Rm 12.8). Pedro demonstrou esta mesma diligência em ensinar o Evangelho às Igrejas (2Pe 1.15). Judas revela o mesmo ao escrever a sua epístola (Jd 3). 16Thre/w, além desta tradução tem o sentido de “deter”, “guardar”, “conservar”, “observar”, “reservar”,

“proteger”, guardar com um propósito ou por um tempo determinado (At 25.21;1Pe 1.4; 2Pe 2.4,9,17; 3.7). A idéia é de manter seguro, preso. Lucas assim narra o episódio da prisão de Pedro: “Pedro, pois, estava guardado (thre/w) no cárcere; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele.Quando Herodes estava para apresentá-lo, naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas à porta guardavam (thre/w) o cárcere” (At 12.5-6). Relatando a situação de Paulo e Silas presos, Lucas diz: “E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse (thre/w) com toda a segurança” (At 16.23). Félix, orienta o Centurião no que se refere a Paulo: “E mandou ao centurião que conservasse a Paulo detido (thre/w), tratando-o com indulgência e não impedindo que os seus próprios o servissem” (At 24.23). “Festo, porém, respondeu achar-se Paulo detido (thre/w) em Cesaréia; e que ele mesmo, muito em breve, partiria para lá” (At 25.4). Festo narrando ao rei Agripa o

Page 6: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 6

vínculo (Su/ndesmoj) da paz” (Ef 4.3). A idéia expressa neste substantivo, Su/ndesmoj,17 é a de unir, manter as coisas ligadas, ligar, algemar, prender, amarrar, acorrentar. (*At 8.23; Ef 4.3; Cl 2.19; 3.14). “A paz promove a perpetuação da unidade”.18 A paz enlaça, envolve a unidade com as cordas do amor. (Vd. Cl 3.14).19 Não devemos permitir que a “unidade do Espírito” seja abalada em nosso relacionamento. A unidade é obra do Espírito, mas cabe a nós viver a sua plenitude no vínculo da paz (Rm 12.18) e no amor de Cristo (Jo 13.34-35; 15.12,17). O próprio tempo verbal de “esforçando-vos”, (Spouda/zw) (particípio presente), apresenta o conceito de um esforço contínuo, sem esmorecimento.20 Comentando sobre o egoísmo humano que gera divisões na Igreja e, ao mesmo tempo, a falta de tolerância, Calvino escreve, exortando-nos à amar os nossos irmãos:

“Há tanta rabugice em quase todos esses indivíduos que, estando em seu poder, de bom grado fariam para si suas próprias igrejas, porquanto se torna difícil acomodarem-se aos modos das demais pessoas. Os ricos invejam uns aos outros, e raramente se encontra um entre cem que acredite que os pobres são também dignos de ser chamados e incluídos entre seus irmãos. A menos que haja similaridade em nossos hábitos, ou alguns atrativos pessoais, ou vantagens que nos unam, será muitíssimo difícil manter uma perene comunhão entre nós. Essa advertência, pois, se torna mais que necessária a todos nós, a fim de sermos encorajados a amar, antes que odiar, e não nos separarmos daqueles a quem Deus nos uniu. Torna-se urgente que abracemos com fraternal benevolência àqueles que nos são ligados por uma fé comum. É indubitável que a nós

ocorrido com Paulo, diz: “Mas, havendo Paulo apelado para que ficasse em custódia (thre/w) para o julgamento de César, ordenei que o acusado continuasse detido (thre/w) até que eu o enviasse a César” (At 25.21). 17

O verbo sunde/w ocorre uma única vez no NT (Hb 13.3). Ele é constituído de duas palavras su/n, “junto com” e de/w, “amarrar”, “atar”, “prender”, “algemar”, “casar” (Mt 12.29; 16.19; Lc 13.16; Jo 19.40; At 9.2; 21.11,13,33; Rm 7.2; 1Co 7.27, etc.). Do mesmo modo, o substantivo (Su/ndesmoj) é composto de su/n, “junto com” e desmo/j, “prisão”, “cadeia”, “algemas” (Lc 13.16; At 23.29,31; Fp 1.7,13,14,17; 2Tm 2.9, etc.). No texto de Efésios, Paulo já empregara a expressão para si, como “prisioneiro de Cristo Jesus” (Ef 3.1) e “prisioneiro do Senhor” (Ef 4.1). Em ambos os textos, a palavra é de/smioj, expressão muito utilizada por Lucas e pelo próprio Paulo para falar de suas prisões. Ver: At 16.25; 23.18; 25.14; 27; 28.17; 2Tm 1.8; Fm 1,9. 18

William Hendriksen, Exposição de Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 4.2-3), p. 230. 19 “Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo (su/ndesmoj) da perfeição (teleio/thj)” (Cl 3.14). 20

Lloyd-Jones interpretando o emprego de Spouda/zw no texto, diz: “Devemos apressar-nos a fazer alguma coisa, a mostrar grande interesse, a expressar solicitude - ‘esforçando-vos para guardar’. Acima de tudo mais, diz o apóstolo, como cristãos nesta vocação para a qual vocês foram chamados, apressem-se a fazer isto, sejam diligentes quanto a isto, nunca o esqueçam, seja esta a coisa principal da sua vida; acima de todas as outras coisas, mostrem grande interesse e solicitude com respeito a unidade que existe entre vocês.” (D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, p. 36-37).

Page 7: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 7

compete cultivar a unidade da forma a mais séria, porque Satanás está bem alerta, seja para arrebatar-nos da Igreja, ou para desacostumar-nos dela de maneira furtiva”.21

Em 19 de agosto de 1561, na Dedicatória de seu comentário do Profeta Daniel, Calvino fala de seu esforço por manter a paz – o que nem sempre tem sido possível –, e, ao mesmo tempo, estimula seus irmãos a não ultrapassarem determinados limites. Escreve:

“Mais ainda, é vossa incumbência, amados irmãos, tomar prudente cuidado para que a verdadeira religião possa novamente readquirir uma posição sã; isto é, até onde cada um tiver o poder e a vocação. Não é necessário dizer o quanto tenho lutado para remover toda e qualquer ocasião geradora de tumultos até agora. Clamo aos anjos e a vós para testemunhardes diante do supremo juiz que não é de minha responsabilidade que o progresso do reino de Cristo não tenha sido calmo e inofensivo. De fato, julgo ser em decorrência de meu cuidado que pessoas particulares ainda não passaram dos limites”.22

A unidade da Igreja revela ao mundo o fato de que Deus nos ama como ama ao Seu Filho unigênito e, que este amor, se revelou de forma insofismável, na vinda do Seu Filho amado para morrer pelos pecadores (Jo 3.16/Jo 17.21-23). Desta forma, a Igreja é o testemunho histórico do amor de Deus. Francis Schaeffer (1912-1984), comentando sobre a nossa responsabilidade, diz:

“Não podemos esperar que o mundo creia que o Pai mandou o Filho, que as reivindicações de Jesus sejam verdadeiras, e que o cristianismo seja verdadeiro, a não ser que o mundo veja alguma realidade na unidade de cristãos verdadeiros”.23

Considerações Pontuais: 1. A gravidade e conforto de nossa situação. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Vivemos num ambiente hostil. A nossa presença como resultante de nosso novo nascimento (Jo 3.3,5; Tt 3.5) se constitui num incômodo para a sociedade que vive tão intensamente de aparência.

A intercessão de Cristo em nosso favor, mesmo nas vésperas de sua crucificação, aponta para a severidade da nossa condição.24 Contudo, temos aqui

21

João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 10.25), p. 272-273. 22

João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, p. 26. 23

F.A. Schaeffer, O Sinal do Cristão, Goiânia, GO.: ABUB/APLIC., 1975, p. 24. Vd. também, A. Richardson, Introdução à Teologia do Novo Testamento, São Paulo: ASTE., 1966, p. 286-287. 24

D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 2), p. 147ss.

Page 8: Estudos No Evangelho de Joao 18

Estudos no Evangelho de João 17 (18) – Rev. Hermisten M.P. Costa - 30/11/2009 - 8

um grande conforto. O Senhor cuida de nós. Ele jamais se esquece do seu povo: “Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente” (Sl 9.18). 2. O Estudo da Palavra de Deus deve ter como objetivo fundamental, nos conduzir a Ele em reverência e adoração; 3. A Palavra de Deus revela-nos Quem é Deus e o que Ele fez; 4. A Palavra de Deus é para ser vivenciada: guardada em nosso coração; 5. O nosso compromisso primeiro é com Deus e com a Sua Palavra; nós não somos do mundo; 6. A Palavra de Deus é a verdade real e verdadeira para todas as épocas e circunstâncias de nossa vida; 7. Cabe a nós proclamar a Palavra de Deus, anunciando-a com fidelidade (Jo 17. 18,20-21); 8. Os crentes são santos em santificação: devemos estudar a Palavra rogando a Deus o discernimento necessário para entendê-la e praticá-la, a fim de que possamos cada vez mais nos aproximar do ideal de santidade proposto por Deus ao Seu povo. 9. Fomos chamados e capacitados por Deus para usar destes recursos no serviço do Reino, nos comprometendo mutuamente em nos ajudar a fim de que possamos amadurecer em nossa fé para a glória de Deus. 10. Devemos nos esforçar por preservar a unidade da Igreja na verdade de Cristo, vivenciando-a em amor.

São Paulo, 30 de novembro de 2009. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa