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1 EVALDO LOPES Sou evangélico, nortista, negro, professor e acho que em sua grande maioria a aplicação de qualquer reflexão que envolva religiosidade, identidade, corpo e sexualidade tende à caricatura. Vejam, a compreensão de identidade em um país diversificado tende à subjetividade. A própria construção da noção de identidade é necessariamente política e oriunda de interesses de grupos específicos. Infelizmente o resultado é uma imagem coletiva, afetiva e cultural romântica. De um lado, a apatia cultural e política da alienação voluntária de nós, evangélicos, que ignoramos o óbvio: o pentecostalismo é discurso de oprimidos, mas resgata uma aspiração de identidade cultural preciosa, histórica, tribal; de outro, o exagero do movimento negro, que visivelmente deseja poder e tente gerenciar o imaginário afetivo coletivo criando um negro ideal, talvez um pequeno burguês. A realidade é bem maior. Também somos índios. Enfim, estes temas revelam apenas mais uma impotência imanente na escola; esta, discursa como se pudesse verbalizar tantos contextos. Por que não levar o cristianismo negro de Luther King com a mesma determinação que os orixás baianos? E o chamado Black Gospel, febre nas periferias? De Ozéias de Paula, o soul asembleiano a Talles Roberto, o James Brow gospel com letras, atitude no palco, tudo incrivelmente negro, preto, black, atual, marginal, periférico. Não? Por que não?

Evaldo Lopes

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Evaldo Lopes

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Page 1: Evaldo Lopes

1 EVALDO LOPES

Sou evangélico, nortista, negro, professor e acho que em sua grande maioria a

aplicação de qualquer reflexão que envolva religiosidade, identidade, corpo e

sexualidade tende à caricatura.

Vejam, a compreensão de identidade em um país diversificado tende à

subjetividade. A própria construção da noção de identidade é necessariamente política e

oriunda de interesses de grupos específicos. Infelizmente o resultado é uma imagem

coletiva, afetiva e cultural romântica.

De um lado, a apatia cultural e política da alienação voluntária de nós,

evangélicos, que ignoramos o óbvio: o pentecostalismo é discurso de oprimidos, mas

resgata uma aspiração de identidade cultural preciosa, histórica, tribal; de outro, o

exagero do movimento negro, que visivelmente deseja poder e tente gerenciar o

imaginário afetivo coletivo criando um negro ideal, talvez um pequeno burguês. A

realidade é bem maior.

Também somos índios. Enfim, estes temas revelam apenas mais uma impotência

imanente na escola; esta, discursa como se pudesse verbalizar tantos contextos. Por que

não levar o cristianismo negro de Luther King com a mesma determinação que os orixás

baianos? E o chamado Black Gospel, febre nas periferias? De Ozéias de Paula, o soul

asembleiano a Talles Roberto, o James Brow gospel com letras, atitude no palco, tudo

incrivelmente negro, preto, black, atual, marginal, periférico. Não? Por que não?