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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO SALVADOR 2005 Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

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Page 1: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

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SALVADOR 2005

Evolução dos sistemas

de produção : Ford Amazon na Bahia�

Page 2: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

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Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

ORIENTADOR: PROF. FRANCISCO TEIXEIRA

SALVADOR 2005

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Ford Amazon na Bahia�

Page 3: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

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Page 4: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

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Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Administração da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia .

Salvador, 13 de Maio de 2005

Banca Examinadora Francisco Teixeira .................................................................................. Universidade Federal da Bahia - UFBa Gilberto Almeida..................................................................................... Universidade Federal da Bahia - UFBa Nilton Vasconcelos Jr............................................................................. Centro Federal de Educação Tecnológica / BA

Evolução dos sistemas de produção :

Ford Amazon na Bahia�

Page 5: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

Aos meus pais, irmão e avó por me ajudarem,

incentivarem e me compreenderem nesta árdua fase que se completou devido

ao grande esforço deles.

Page 6: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

AGRADECIMENTOS

Ao professor Francisco Teixeira que proporcionou a oportunidade de desenvolver este tema, dedicando-me orientação eficaz e motivação nos momentos de desanimo. Ao NPGA, Núcleo de Pós-graduação em Administração da UFBa, pela oportunidade de ter feito parte deste seleto grupo e pela atenção e simpatia com quem sempre me atenderam. A Jade, especialmente, por ajudar e muito nos telefonemas e e-mails. Aos colegas do Mestrado, pela experiência, companheirismo e oportunidade de crescimento que me proporcionaram, em especial a Absolon, Rogério, Sandro, Jô Vieira, Almir, Luis Avanci e Pessoa, pelas conversas e conselhos ao longo do curso. A Ford Motor Company do Brasil e aos meus colegas de trabalho que me auxiliaram no material apresentado bem como pelos depoimentos que recebi de cada um.

RESUMO

Page 7: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

O escopo deste trabalho pretende discutir se o desempenho do Complexo Industrial

Ford Nordeste deve-se ao fato de termos lançado o Ford EcoSport, um produto

desejado pelo, e moldado ao, gosto do consumidor, não só do Brasil, mas também

da América do Sul ou às inovações de processo ou a ambas. Para sustentar este

trabalho serão explorados os conceitos de sistema de produção, a sua evolução, o

mercado brasileiro atual de veículos de passeio e utilitários.

Palavras-chaves: Toyotismo, Fordismo, Volvísmo , Sistemas de Produção , Complexo

Industrial Ford Nordeste, Henry Ford, Ford na Bahia

Page 8: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

ABSTRACT

The scope of this work endeavors to discuss whether the performance and success

of the CIFN is due to the fact that the Ford EcoSport was designed and launched

according to specific Brazilian and South American customer input, or if its success is

due to process innovations or to both. In order to substantiate this work, production

systems and ideas, along with its evolution through history and the current status and

trends of the Brazilian automotive market will be analyzed.

Keywords: Toyotism, Fordism, Volvism , Production Systems , Complexo Industrial Ford

Nordeste, Henry Ford, Ford in Bahia

Page 9: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS..................................................................................................08

LISTA DE TABELAS.................................................................................................09

LISTA DE GRAFICOS...............................................................................................10

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

2 HISTÓRICO.........................................................................................................15

2.1 FORD NO BRASIL ............................................................................................19

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 33

3.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 33

3.1 SISTEMAS DE GESTÃO DE PRODUÇÃO....................................................... 34

3.1 FORDISMO........................................................................................................36

3.1 O “EFEITO SLOAN” NA GENERAL MOTORS...................................................42

3.1 TOYOTISMO......................................................................................................46

3.1 VOLVISMO.........................................................................................................52

3.1 CONDOMÍNIO INDUSTRIAL...............................................................................56

3.1 COMPLEXO FORD NORDESTE........................................................................60

3.1.1 Dados do complexo......................................................................................61

3.1.2 Os parceiros do complexo...........................................................................63

3.1.3 Aspectos sociais..........................................................................................65

3.1.4 Iniciativas ambientais...................................................................................66

4 METODOLOGIA ............................................................................................... 73

4.1 INTRODUÇÃO....................................................................................................73

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA.......................................................................74

4.3 INSTRUMENTOS...............................................................................................75

4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS..............................75

5 RESULTADOS DA PESQUISA...........................................................................76

5.1 TABULAÇÃO DOS RESULTADOS.....................................................................76

5.1.a – Indicadores de processo............................................................................76

5.1.b – Indicadores de produto..............................................................................80

Page 10: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

6 CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................................96

REFERÊNCIAS.......................................................................................................100

ANEXO....................................................................................................................102

Page 11: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Ford modelo T com Henry Ford em 1921............................................16

Figura 3.1 – Vista área do Complexo Industrial em Gravataí ...................................60

Figura 3.2 – Vista área do Parque Industrial Curitiba (PIC) ......................................61

Figura 3.3 – Lay-out do Complexo Industrial Ford Nordeste.....................................65

Figura 3.4 – Aplicação do wetlands no Complexo Ford Nordeste.............................71

Figura 5.1 – Modelo tradicional – 100 mil carros / ano..............................................80

Figura 5.2 – Modelo Amazon – 250 mil carros / ano.................................................81

Page 12: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 – Ranking do Varejo ( % ).......................................................................31

Gráfico 5.1– Ranking de vendas – 2004 / modelo (veículos utilitários).....................91

Page 13: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 – Quantidade de Itens Finais nas Plantas da Ford no Brasil).................78

Tabela 5.2– Percentual de veículos produzidos por funcionários por ano (Janeiro a

Dezembro de 2004 )..................................................................................................82

Tabela 5.3 – Quantidade de Interações de Engenharia nos veículos Ford).............84

Tabela 5.4 – Ranking de vendas – 2004 / modelo (veículos utilitários).....................90

Tabela 5.5 – Ranking de vendas – 2004 / modelo (carros de passeio)....................92

Tabela 5.6 – Ranking de vendas mensal – 2004 / modelo (carros de passeio)........93

Page 14: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

10

1 INTRODUÇÃO

No atual cenário mercadológico em que convivem as organizações, a busca pelo

real diferencial competitivo, social e ambiental, tem levado essas entidades a

procurar soluções inovadoras no seu meio. A Ford Motor Company do Brasil decidiu

partir para um projeto arrojado com a construção do Complexo Industrial Ford

Nordeste em Camaçari na Bahia, que é um Condomínio Industrial.

O Condomínio Industrial baseia-se no conceito de que os sistemistas

(fornecedores especializados em soluções completas para um determinado sistema,

como, por exemplo, a suspensão do carro, e não apenas especializados em um só

componente como, por exemplo, um amortecedor) estão bem perto da planta da

montadora, instalados na mesma área (ou complexo industrial), embora não

participem da montagem final do veículo. No condomínio, as empresas dividem

custos de infra-estrutura (água, energia, manutenção), de serviços de alimentação,

saúde e transporte, entre outros. Este conceito de condomínio industrial, no setor

automobilístico, já existe em Gravataí, no Rio Grande do Sul, na Fábrica da General

Motors do Brasil. Em Resende, no Rio de Janeiro, na Fábrica de Caminhões da

Volkswagen, é adotado o conceito de consórcio modular. Este sendo precursor do

condomínio, serviu de referência e modelo para o complexo. A sua principal

diferença é o fato que temos a divisão total de responsabilidade entre os sistemistas

ao contrario do condomínio onde a montadora tem a função de agregadora da linha

final. A fábrica de Resende serviu de um laboratório, porem é importante destacar

que em se tratar de uma fábrica de caminhões e ônibus e não de veículos de

Page 15: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

11

passeio, não podemos criar uma correlação como os condomínios de Gravataí e de

Camaçari. Estes produtos não são de larga escala com os veículos de passeio.

Um aspecto que merece menção é que Porter (1989) fez uma análise

fundamental sobre o mercado em geral, não apenas referindo-se ao automobilístico,

constatando que a adversidade é a mola mestra da inovação. Embora este não

tenha sido o único fator de motivação, é inegável que a consciência sobre as

ameaças da competição, que quer expandir o mercado automobilístico existente,

foram um forte estímulo para a inovação tanto de produtos como de processos.

A fim de termos um corte temporal para este estudo, serão analisados todos os

dados disponíveis da Indústria Automobilística Brasileira até Dezembro de 2004.

Desta forma, podemos destacar que a Ford atingiu no final de Abril de 2004 a marca

de 250 mil veículos produzidos no Complexo Industrial Ford Nordeste desde a

inauguração da fábrica em 12 de outubro de 2001. Com crescimento sustentado, a

unidade baiana tem acumulado recordes sucessivos de produção. Das primeiras

250 mil unidades fabricadas, 71% foram do modelo Ford Fiesta, cuja produção foi

iniciada em abril de 2001. Em janeiro de 2004, a fábrica começou a produzir o Ford

EcoSport 4WD.

Para o diretor de Manufatura da Ford Brasil, Emerson Baldin, os 250 mil

veículos produzidos em Camaçari têm um grande significado diante do desafio

enfrentado pela Ford para implantar a primeira indústria automotiva do Nordeste. A

unidade de Camaçari integra em sua linha de produção 27 fornecedores de peças e

serviços, que formam o Complexo Industrial Ford Nordeste.

A planta de Camaçari é resultado de um investimento de US$ 1,2 bilhões da

Ford e US$ 700 milhões dos fornecedores. Emprega mais de 90% de mão-de-obra

local, com mais de 8.100 empregados diretos, e respondeu em 2003 por cerca de

Page 16: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

12

12% das exportações do estado da Bahia. Em agosto de 2004 foi iniciado um

terceiro turno de trabalho para aumentar a produção destinada à exportação. Além

disso, o Ford EcoSport é responsável por 40% da produção da fábrica de Camaçari

e 20% da exportação total da montadora no País.

Este trabalho pretende analisar se o desempenho do Complexo Industrial Ford

Nordeste está relacionado ou não ao fato da Ford Motor Company do Brasil ter

adotado o sistema de modularização veicular e se o mesmo deve então ser

considerado, pelo viés da produção e do produto, mais eficiente do que o sistema

tradicional de produção?

É de vital importância destacar que o sistema de produção adotado neste

Complexo Industrial foi um sistema de modularização na linha de produção

automobilística que difere do modelo tradicional da linha de montagem. Este

sistema de modularização basicamente consiste pelo viés do processo, na divisão

do veículo em módulos onde a responsabilidade deste modulo transferida da

montadora para os sistemistas. Para o produto, existe uma sinergia de

desenvolvimento visto que a interações entre os componentes é muito mais eficaz,

reduzindo o tempo de desenvolvimento do mesmo.

Para atingir o objetivo deste trabalho e levantar os aspectos da implementação

do conceito modular na Indústria Automobilística Brasileira, será utilizada a Ford,

através das suas duas fábricas de São Bernardo do Campo, no Estado de São

Paulo, e o Complexo Industrial Ford Nordeste localizado em Camaçari na Bahia

como exemplo de montadora no Brasil. Este processo terá dois métodos: o

quantitativo e o qualitativo.

Pelo viés qualitativo, haverá alguns depoimentos, tanto dos fornecedores do

Complexo Industrial Ford Nordeste como de executivos da Ford. Da montadora, os

Page 17: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

13

depoimentos serão de Gerente da Engenharia e Gerenciadores de Programas. Dos

fornecedores, os depoimentos serão dos Gerentes das Plantas e Gerenciadores de

Programas. Desta maneira será observado um comparativo com as demais

montadoras do mercado brasileiro.

Já pelo lado quantitativo, visa-se levantar dados de desempenho que possam

ser comparados entre as fábricas para podermos demonstrar qual o verdadeiro

impacto da modularização pelo viés da Engenharia e Logística focando,

principalmente, na redução de complexidade de Engenharia e Logística. Através

deste processo pretende-se avaliar se o processo modular realmente é a tendência

do mercado automobilístico brasileiro e mundial.

Para tanto foi montado um modelo com o intento de definir características

destes processos e a sinergia de desenvolvimento na Engenharia. Além disso, por

meio deste modelo se pode obter a distinção do processo modular versus o

processo tradicional tanto através da participação dos funcionários da Ford como

dos parceiros do Complexo Industrial. Isto será utilizado para a distinção do

processo.

Para falarmos de produto, utilizarmos o Ford EcoSport, Ford Fiesta Hatch e

Ford Fiesta Sedan como exemplo, sendo o Ford EcoSport, o veículo que está

trazendo um diferencial para o mercado brasileiro em virtude principalmente do seu

conceito inovador no segmento e por não existir um outro veículo competitivo

atualmente na sua faixa de preço. Para o Ford EcoSport, serão exploradas algumas

das diferenças marcantes que este produto possui no mercado automobilístico

brasileiro hoje.

Desta forma, será possível argumentar se realmente hoje a adoção do sistema

modular na indústria automobilística mundial é realmente viável.

Page 18: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

14

O estudo será apresentado da seguinte maneira:

• Introdução

- que explica o escopo do estudo;

• Histórico

- que visa ressaltar o desenvolvimento ao longo dos últimos 101 anos da

Ford no mundo e 85 anos de Brasil, passando pelas diversas mudanças

tecnológicas e mercadológicas;

• Fundamentação Teórica

- que engloba os diversos processos e modelos de produção

automobilística, passando pelo Fordismo, Toyotismo, Volvísmo e

finalizando no conceito atual de complexo ou condomínio industrial;

• Metodologia

- que foi aplicada para este trabalho. Serão definidos os indicadores para

comparar as montadoras e o método de obtenção dos mesmos. Com estes

indicadores, será possível analisarmos os resultados obtidos através das

pesquisas internas e dos depoimentos dos executivos da Ford e dos

fornecedores do Complexo de Camaçari;

• Conclusão

- utilizando as informações coletadas durante a confecção deste estudo,

será apresentada a conclusão deste estudo.

Page 19: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

33

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, será visto a fundamentação teórica que será baseada na

literatura disponível a respeito dos sistemas de gestão de produção no setor

automobilístico. Será feita uma revisão ao longo dos mais de 101 anos da Indústria

Automobilística Mundial demonstrando a sua evolução.

Visualiza-se que os sistemas modulares de produção tiveram sua evolução

testada e validada através dos sistemas de produção na Indústria Automobilística e

estes puderam ser adotados ou não em outros setores da indústria. Portanto, é

importante demonstrar esta evolução através do tempo, salientando as principais

características de cada sistema.

Entende-se que é necessário mostrar os contrapontos dos sistemas ressaltando

as suas vantagens e desvantagens, bem como a diferença de opiniões dos autores

mencionados.

Page 20: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

34

3.2 SISTEMAS DE GESTÃO DE PRODUÇÃO

O trabalho será iniciado com o Fordismo e, em seguida, a influência de Alfred

Sloan no comando da General Motors, na década de 40. Depois deste fato a

General Motors se tornou líder do mercado de veículos automotivos.

Além disso, será apresentado o Volvísmo na Suécia, década de 70, que foi uma

alternativa para a linha de produção automotiva aplicada nas fábricas de Kalmar e

Uddevalla.

Já o Toyotismo, em contraponto, é um novo modo de organização da produção

capitalista que se desenvolveu a partir da globalização do capital nos anos 80.

Seu surgimento deu-se no Japão na década de 50, mas só a partir da crise

capitalista dos anos 70 começa a ser traduzido como uma nova ideologia orgânica

da produção de mercadorias. Surgiu como modelo japonês e assumiu uma projeção

global que tende a torná-lo não mais vinculado às suas particularidades originárias.

Um dos seus traços fundamentais é capturar o imaginário da classe trabalhadora

que vive do dia-a-dia e que tende a dissolver as perspectivas classistas da prática

operária e sindical.

Por fim, será apresentado o conceito de Condomínio Industrial que se destaca

pelo sistema de modularização aliado a união dos fornecedores dentro do mesmo

condomínio. Este é implementado na década de 90 e se mostra como um

aprimoramento ao modelo do Toyotismo, otimizando os princípios da logística e da

complexidade tanto de Engenharia como de Logística de componentes, como um

dos seus principais pontos.

Page 21: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

35

Atualmente no Brasil, possuímos algumas fábricas que trabalham com este

conceito de modularização:

• Fábrica da General Motors do Brasil (Gravataí, RS) ;

• Fábrica da Renault (São José dos Pinhais, PR) ;

• Fábrica da DaimlerChrysler (Curitiba, PR) ;

• Fábrica da Volkswagen-Audi (Curitiba, PR) ;

• Fábrica de Volkswagen Caminhões (Resende, RJ) ;

• Complexo Industrial Ford Nordeste (Camaçari, BA) .

Dentre as fábricas acima, será feito um recorte, estudando a da General Motors

do Brasil em Gravataí, a da Volkswagen em Resende e a da Ford em Camaçari que

adotam o conceito de Condomínio Industrial, dividindo com os parceiros o mesmo

local de trabalho.

Page 22: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

36

3.3 FORDISMO

Historicamente, foi graças ao taylorismo-fordismo que o automóvel se tornou um

produto de consumo de massas ou pelo menos ao alcance da classe média. Os

mesmos operários que o fabricavam, graças ao seu baixo preço, aos salários

elevados e às próprias facilidades de crédito introduzidas pela administração da

Ford Motor Company eram compradores em potencial.

Henry Ford trabalhou como engenheiro na fábrica de Thomas Edison, antes de

criar a sua própria empresa (em 1903), revolucionou a indústria automóvel ao

inaugurar em 1913 a primeira linha de montagem em cadeia, na nova fábrica de

Highland Park, Michigan.

É importante recordar-se de que a Frederick W. Taylor (1856-1915),

considerado o pai da administração científica, deve-se sobretudo a criação de "um

sistema, o da racionalização do trabalho, através da medição de tempos e

movimentos, tornando assim possível à substituição progressiva do operário

profissional ou de ofício, por um novo tipo de operário, não qualificado". (GRAÇA,

1991)

Para conceber a idéia do one best way, Taylor estudou várias atividades e, ao

dividi-las em tarefas, determinou a maneira mais eficiente de realizá-las. Usava o

seu método para a compreensão do trabalho e a melhoria na eficiência do

trabalhador. Isto era uma das obsessões e uma das ilusões de Taylor. (GRAÇA,

1991). Isto exemplifica a evolução do Toyotismo partindo dos princípios do

toyotismo-fordismo.

Page 23: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

37

Para Womack (1992) , Taylor considerou a produtividade como solução tanto

para maiores salários quanto maiores lucros, e acreditou que a aplicação de

métodos científicos, em lugar de costumes e regras rudimentares, poderia levar a

esse nível de produtividade sem o dispêndio de mais energia ou esforço por parte

dos indivíduos.

Segundo Lima (1993), o Fordismo tratado de forma econômica e administrativa,

consiste no conjunto de métodos de racionalização da produção, baseado no

princípio de que uma empresa deve dedicar-se apenas a um produto. Para isso,

uma forma seria a empresa adotar a verticalização, chegando até a dominar as

fontes de matéria-prima (borracha, ferro, carvão etc) e os sistemas de transportes

de mercadorias. Para diminuir os custos, a produção deveria ser em massa, a mais

elevada possível, e aparelhada com tecnologia capaz de desenvolver, ao máximo, a

produtividade por operário. O trabalho deveria ser, também, altamente

especializado, cada operário realizando determinada tarefa.

Para a sua análise, Lima (1993) entende que o Fordismo aplica três princípios:

produtividade, intensificação e economicidade. Os dois primeiros referem-se ao

tempo e o terceiro diz respeito ao material.

O princípio da produtividade consiste em aumentar, sucessivamente, a

capacidade de produção de cada elemento produtor. Se o trabalhador consegue, no

mesmo período, com a mesma jornada de trabalho, produzir o dobro do produto

inicial e ao mesmo tempo receber o dobro do seu salário, terá sua vantagem e

proporcionará vantagens ao empregador, pela ampliação da produção, e ao

consumidor, pela possibilidade de redução do preço de custo em face de

distribuição das despesas para uma produção maior.

Page 24: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

38

Na relação entre o capital de giro necessário à fabricação e a duração dos

processos de fabricação está o princípio da intensificação. Se houver redução do

tempo de fabricação, se for acelerado o ritmo do trabalho, o ciclo de produção será

mais rápido e, portanto, o retorno do investimento será mais rápido.

O preceito da economicidade consiste em reduzir ao mínimo o volume da

matéria-prima em curso de transformação. É o princípio complementar da

intensificação. Intensificando-se o trabalho, ritmando-o, pode-se reduzir o volume da

matéria-prima. (CHIAVENATO, 1993)

Segundo Ferreira (1991), as principais características da produção em massa

são:

• a racionalização taylorista do trabalho com uma profunda divisão horizontal -

parcelamento de tarefas e vertical - separação entre planejamento e

execução, e especialização do trabalho;

• desenvolvimento da mecanização através de equipamentos altamente

especializados; padronização em massa do produto final; passagem de um

sistema de tempos alocados, onde o tempo a ser gasto na execução de cada

tarefa é determinado pela gerência, para um sistema de tempos impostos, no

qual a cadência do trabalho é regulada de forma mecânica e externa ao

trabalho;

• salários relativamente elevados e crescentes, incorporando ganhos de

produtividade para compensar o tipo de processo de trabalho predominante.

Womack (1992) adiciona ainda a presença de máquinas caras, pouco

versáteis e especializadas em uma única tarefa e preços mais baixos devido

ao alto nível de produção de bens padronizados.

Page 25: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

39

Dando continuidade ao trabalho, é importante conceituar e compreender o que é

inteligência no processo produtivo e, depois, situá-la no contexto da gestão da

produção e da organização em seu todo. Os conceitos relativos à inteligência, sua

migração e aspectos da inteligência em redes foram extraídos e adaptados de

Sawhney e Parish (2001).

A inteligência é uma capacidade para resolver situações problemáticas novas a

partir do entendimento e reestruturação das informações percebidas e, ao mesmo

tempo, é o conjunto dessas capacidades atribuídas a algo, como um sistema,

processo, equipamento ou alguém. Para esses autores, a inteligência em si é

estática e somente pode ser aplicada onde ela existe ou está localizada.

Numa primeira comparação, o sistema de produção em massa introduzido por

Ford não conseguia reunir adequadamente todas as inteligências necessárias,

porque não possuía uma infra-estrutura que atendesse essa demanda aonde o

operador tivesse uma certa flexibilidade para poder desenvolver tarefas ou trabalhos

diferentes. Assim, as inteligências estaticamente localizadas nos processos

produtivos e, especificamente na linha de montagem dos automóveis, somente

produziam o efeito positivo onde podiam ser aplicadas, porque atuavam de maneira

isolada e tornavam o sistema limitado, quando visto de uma perspectiva gerencial.

Entretanto, onde esses efeitos se fizeram presentes, impactos que

representaram resultados bastante expressivos se fizeram presentes. Conforme

destacado anteriormente, o modelo Fordista foi posteriormente melhorado por Alfred

Sloan, que o complementou em suas lacunas gerenciais.

Page 26: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

40

Aqui cabe diferenciar a natureza das inteligências necessárias para os

processos produtivos e da própria linha de montagem, dos gerenciais. A inteligência

requerida para a linha de montagem tem uma natureza “de base”, diretamente

aplicada ao processamento destinado a produzir bens e serviços, enquanto que a

inteligência dos processos gerenciais tem uma natureza “de frente”, para processar

as informações sobre o que é feito na linha de produção, que é o controle das

atividades e dos recursos que são necessárias para o sistema completo alcançar

seus objetivos.

A inteligência de base se aplica ao fluxo físico de matérias-primas, partes

componentes e aplicação do trabalho, enquanto que a inteligência de frente se

aplica sobre as informações associadas ao fluxo físico, o que é tipicamente

gerencial.

O sistema Fordista de produção tinha muita inteligência “de base” e pouca, ou

nenhuma “de frente”, e como a inteligência estava alocada de forma isolada, a

carência da infra-estrutura para permitir a mobilidade de inteligências dentro ou ao

longo da linha de montagem, acentuava ainda mais suas limitações iniciais, como

um sistema de gestão da produção. A riqueza da inteligência de base do modelo de

Ford estava na “...completa e consistente intercambialidade das peças e na

facilidade de ajustá-las entre si.” (WOMACK 1992).

Foi essa inteligência de base que tornou possível gerar uma outra num nível

mais avançado: tornar possível a linha de montagem móvel.

Quando a produção artesanal de automóveis predominava e tecnologias que

permitissem a padronização das peças não estavam ainda disponíveis, a

inteligência de base passou por um processo de evolução aonde a mesma teve de

Page 27: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

41

evoluir e possibilitou a intercambiabilidade das peças através do uso de máquinas

e ferramentas.

É claro que havia na fábrica de Ford um esforço organizacional para permitir o

gerenciamento da produção, mas este se dava muito mais em função da

“fabricação” porque os princípios que a norteavam eram de fabricação, e não para

proporcionar “facilidades de fabricação”, em que os princípios norteadores são

gerenciais.

Na década de 1930, as relações de trabalho tinham-se degradado muito: os

salários voltaram ao nível de 1913, onde se pagava apenas 5 dólares por dia, não

havia segurança de emprego, nem eram reconhecidos direitos de antiguidade dos

funcionários.

Com o New Deal (1933), um programa econômico e social que introduz o

subsídio desemprego, ajuda aos carentes, projetos de obras públicas etc. o

presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Roosevelt é fortemente

influenciado pelas idéias do economista britânico John Maynard Keynes , que, em

1936, publica a Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda – livro no qual

defende uma política anti desemprego patrocinada pelo governo

Por isso, Henry Ford encontrou dificuldades adicionais que se delongaram até a

década de 50, quando foi permitida a sindicalização do seu pessoal e foi

reconhecida a negociação coletiva. Entretanto em 1939, durante este período de

dificuldades, a Ford Motor Company perde a supremacia no mercado norte-

americano, para a General Motors, com a implementação da teoria de Henry Sloan.

Page 28: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

42

3.4 O “EFEITO SLOAN" NA GENERAL MOTORS

Até os anos 60 a indústria automobilística norte-americana e os seus métodos

eram baseados no taylorismo-fordismo e reinaram sem contestação. O “Efeito

Sloan" basicamente foi a introdução da diversificação na linha de produtos adotando

o conceito da linha de montagem de Henry Ford. Isto foi o fator principal de

diferenciação que a General Motors achou para poder assumir a liderança do

mercado automobilístico.

Além do papel importante que desempenhou na General Motors, Alfred Sloan

foi um dos primeiros gestores que escreveu um livro, Eu e a General Motors

(1963), onde ressaltou a sua contribuição para a teoria e prática da gestão. Neste

livro, Sloan conta a evolução do processo de domínio do mercado automotivo

americano através da diversificação dos produtos, procurando os desejos e anseios

dos consumidores.

Quando Sloan assumiu a direção da General Motors, o mercado

automobilístico era dominado pela Ford, que possuía 60% do mercado, por ser a

pioneira nas técnicas de produção em massa que se baseia principalmente na

estratégia do baixo custo. Ao contrário dos concorrentes restantes, que apostaram

no segmento de carros de luxo, Sloan posicionou-se num nível intermédio até então

inexistente, fabricando carros para “ todos os bolsos e finalidades ”.

O desafio de Sloan na General Motors foi a criação de uma cultura, uma

estratégia e uma direção globais. A solução encontrada, em 1920, foi uma estrutura

organizacional com oito divisões — cinco de automóveis e três de componentes

Page 29: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

43

automotivos —, denominadas, 50 anos mais tarde, unidades estratégicas de

negócio.

Para dar início esta discussão, é importante mencionar que Peter Drucker, em

suas palestras e artigos, citava insistentemente o exemplo da General Motors, que

sob a inspiração de Alfred Sloan adotara uma postura diametralmente oposta a de

Henry Ford.

Embora a importância das economias de escala fosse inegável, a idéia de que

"qualquer americano poderia comprar um carro da cor que quisesse, desde que

fosse preto", frase celebre de Henry Ford, vinha apresentando resultados

decrescentes. O maior indicador disto eram os pátios da Ford, em meados da

década de 30, estavam cheios de modelos A – e posteriormente dos modelos T.

Quando Sloan propôs que a General Motors se estruturasse em torno de cinco

divisões, cada uma voltada para um segmento diferente de mercado (desde os

Oldsmobiles para os ricos até os Chevrolet, para os pobres) muitos analistas

acreditaram que seus objetivos eram descabidos e que nunca uma empresa

direcionada para o mercado de massa poderia sobreviver a tamanha diversificação.

Os resultados todos conhecem: a General Motors ultrapassou a Ford e nunca mais

foi alcançada.

Segundo Caproni (2001), a General Motors nasceu da união de diversos

pequenos produtores de carros para concorrer com a Ford. Alfred Sloan, presidente

da General Motors em 1927, percebeu que clientes diferentes tinham desejos

diferentes em relação a uma mesma necessidade. Isto é, os clientes necessitam de

transporte, mas desejam também escolher a cor e modelo do carro.

Page 30: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

44

Desse modo, a General Motors ofertou carros similares em tecnologia e custo

aos da Ford, porém dando a oportunidade ao cliente de escolher o modelo e a cor

do carro que ele queria. Neste cenário, a Ford não faliu apenas devido ao fato da II

Guerra Mundial necessitar que as empresas americanas se tornassem empresas

especificamente bélicas.

Entretanto, com o término da guerra, a Ford entendeu que o mercado

necessitava receber da montadora opções de modelos e cores em seus carros. Mas

a General Motors, que já havia implementado esta estratégia, acabou por assumir a

primeira posição na venda mundial de carros onde está até hoje. Desta maneira, a

Ford teve de se contentar com o segundo lugar. O efeito Sloan, na verdade, foi a

evolução da linha de montagem adotando-se a uma segmentação do mercado

utilizando o desejo do cliente de ter carros em modelos e cores diferentes. Alem

disso, ele também criou funções na área de Finanças e Marketing da General

Motors. Deste modo, Sloan conseguiu estabelecer uma forma de convivência do

sistema de gerenciar uma organização gigantesca e multifacetada. Por décadas, o

sistema criado por Ford e aperfeiçoado por Sloan funcionou perfeitamente e as

empresas norte-americanas dominaram o mercado de automóveis.

É importante observarmos que até aquele momento pintar um carro era um

procedimento meramente técnico. A cor é uma variável vinculada à emoção, nada

tendo a ver com procedimentos técnicos na produção de carros. A General Motors

acabou encontrando a solução, fora da área técnica, para obter o primeiro lugar em

vendas desbancando a Ford. Sloan, que introduziu o conceito de segmentação de

mercado, dizia: "Um carro para cada bolso e propósito".

Page 31: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

45

Caproni (2001) ressalta que a estratégia de diversificação foi o fator principal

para a conquista da General Motors da liderança do mercado de veículos

automotivos nos Estados Unidos.

A partir de 1970, dá-se início a um novo processo de reestruturação tanto

espacial como organizacional. Este é denominado Toyotismo.

Page 32: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

46

3.5 TOYOTISMO

O sistema de gestão da produção desenvolvido na Toyota Motor Company,

Nagoya, Japão, ficou mundialmente conhecido como “produção enxuta”, expressão

traduzida de lean production , criada por John Krafcik, pesquisador do MIT

(Massachusetts Institute of Technology). (CORIAT, 1994).

Das origens desse método de produção aos dias atuais, novos conceitos foram

agregados, como o de inteligência de redes e de tecnologia de informação,

proporcionando um melhor entendimento da magnitude dos impactos provocados

nas organizações a partir da adoção dos mesmos conceitos. Durante esse mesmo

período, a influência desses conceitos sobre o pensamento administrativo deu

condições para o florescimento de uma bem caracterizada “filosofia de gestão”,

passando a orientar não apenas a produção, mas todas as atividades da

organização como um todo.

Para Coriat (1994), a produção enxuta tem sido vista e analisada por muitos

estudiosos como a antítese da produção em massa, e sob essa visão simplista

surgiram expressões bastante difundidas, como toyotismo em oposição a fordismo

ou taylorismo. Maior amplitude tem ainda o pensamento de que essa é uma nova

fórmula de sucesso adaptada à economia global e ao sistema produtivo flexível .

Também surgiram visões relacionadas às formas de organizar a produção de

bens e serviços segundo as épocas em que estas predominaram. Coriat (1994)

citando Hirata, sugere que o Toyotismo, além de ser uma evolução do fordismo para

Page 33: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

47

o pós-fordismo, é a adequação das técnicas fordistas de produção para um período

histórico e econômico delimitado, que gira em torno dos anos 70 e 80.

Neste período, predominou a redução de custos de fabricação através da

padronização de produtos, frente a uma situação de mercado em expansão onde

era necessário produzir bens em grandes lotes e volumes, caracterizando a

produção em massa. As técnicas da produção enxuta são mais apropriadas para

fabricação a custos baixos de produtos destinados a mercados estagnados, em

crescimento lento ou que estejam em expansão, mas que mesmo assim exigem

uma variedade e diferenciação nos produtos ofertados no mercado. Isto acarretou a

necessidade de produção em pequenos lotes variados.

O conceito japonês de lean production exerceu uma forte influência sobre os

engenheiros de produção e os gestores ocidentais no início da década de 80.

Alguns dos princípios fundamentais do lean production foram então

rapidamente popularizados:

• Organização da produção baseada no team work. As equipes possuem entre

quatro a oito trabalhadores, polivalentes; com líderes escolhidos pela

administração;

• A constituição das equipes (líder e demais elementos) é decidida pelas chefias;

• Kaizen (o processo de melhoria contínua);

• O zero-defeitos, ou seja, garantir a qualidade total do produto através de um

controle minucioso do processo de produção;

• Just-in-time, ou seja, através da redução de estoques logísticos produzindo

exatamente o que o cliente quer e entregar o produto na hora exata sendo

que isto é recíproco com os fornecedores alocados no complexo.

Page 34: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

48

Nos finais dos anos 80 e princípio dos anos 90, as grandes vantagens da lean

production nas famosas transplants (fábricas japonesas construídas na Europa e na

América) eram rapidez, flexibilidade, performance. O sistema já tinha sido,

entretanto, testado nas fábricas da Toyota. (FUJIMOTO, 1999).

Segundo Graça (2000), o sistema só funciona com sucesso caso seja possível

contar com funcionários altamente treinados e motivados, da mesma forma do que

ocorre nas equipes esportivas de alta competição. Em ambos os casos um alto grau

de sinergia no time é necessário. Por outro lado, o trabalho na indústria automotiva

nunca foi fácil devido às duras condições em que é executado. Por isso, a

identificação com a empresa era incentivada à maneira oriental (reforço dos valores

da lealdade, dedicação, etc.): os trabalhadores do lean production tendiam a serem

vistos como uma espécie de samurais dos tempos modernos. A grande diferença é

que estes trajavam o uniforme no trabalho onde aplicavam a sua ética.

Mas os samurais dos tempos modernos também envelhecem e, a pouco e

pouco, vão sendo substituídos pelos robôs ou recolocados em postos de trabalho

mais apropriados devido à idade, enquanto as fábricas se deslocam para novos

mercados emergentes ou que ofereçam vantagens concretas (por exemplo, México

e Brasil).

Com a lean production, o trabalho de montagem continuou a ser especializado

e dividido em parcelas, os postos de trabalho individualizados e os ciclos operatórios

muito curtos (ou seja, com fortes controles de tempo). Isto era visto como uma

vantagem em termos de aprendizagem. A rotação de tarefas era incentivada,

Page 35: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

49

sobretudo como forma de suprir eventuais falhas de mão-de-obra e quebrar a

monotonia dos operadores inerente ao processo.

Rotação e flexibilidade não significam, no entanto, enriquecimento de tarefas.

O novo samurai é flexível e polivalente, mas luta sozinho. Não pode influenciar as

regras do jogo ou a gestão do tempo. O método para operar, bem como o ritmo de

trabalho lhe são impostos e são uniformes. As equipes existem, porem só para a

gestão e garantia da qualidade, podendo, aliás, discutir-se se o trabalho em equipe

é realmente uma forma de trabalho em grupo. O conceito de equipe implica uma

relação de base igualitária, não se confundindo portanto com a relação hierárquica

tradicional.(GRAÇA, 1992).

Além disso, há diferenças fundamentais entre os diferentes modelos de

trabalho em equipe (o modelo escandinavo e o modelo japonês / toyotista). Segundo

Frohlich e Pekruhl (1996), pode-se dizer que observando estes casos extremos de

grupos de trabalho, os métodos de aplicação possuem pouco em comum, a não ser

pelo fato de trabalharem em grupo. Para alguns autores europeus, as diferenças

entre o conceito europeu e japonês de trabalho em grupo são tão distintos que eles

se reservam o direito de mencionar que o termo trabalho em equipe deve ser

utilizado somente para grupos de origem Escandinava que possuem um alto nível

de autonomia enquanto que a solução japonesa deveria ser chamada de trabalho

em grupo.

O fato concreto revelado pela intensidade das discussões e interesse pelo

estudo da produção enxuta é que os métodos empregados promoveram muito mais

do que ganhos de produtividade. Para Skinner (1978) isto se reflete de maneira

marcante sobre a competitividade e influencia a estratégia empresarial das

Page 36: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

50

empresas que passaram a adotá-lo, principalmente porque estas conseguiram

integrar de forma mais adequada a fabricação como parte da estratégia de

negócios, e começaram a desfrutar dos resultados de relacionar o potencial e os

recursos da empresa às oportunidades do mercado.

De acordo com Graça (2000), o lean production (que está hoje espalhado na

Europa e na América) seria uma versão modificada do Taylorismo, reforçada com a

ética do trabalho confuciana aonde a felicidade do trabalhador esta vinculada

apenas no fato que ele cumpriu a sua tarefa de maneira adequada e não na

recompensa financeira que isto possa lhe trazer (no caso das fábricas no Japão e

nas suas transplants).

Entretanto, o que modelo japonês não conseguiu resolver tanto dentro como

fora do Japão:

• O turnover do pessoal (sobretudo dos mais jovens que, tal como os suecos

no final dos anos 60 e princípios de 70, dificilmente se identificavam com o

trabalho taylorizado, isto é, individualizado, especializado, penoso, repetitivo

e monótono);

• O elevado nível de stress no trabalho (em grande parte resultante do ritmo

de produção e da subcarga mental ligada à monotonia e repetitividade das

tarefas);

• A alta incidência de outros riscos profissionais, principalmente os de

aspecto osteomuscular (em conseqüência das posturas corporais exigidas

Page 37: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

51

pelo trabalho de montagem que causam intenso desconforto ). (GRAÇA,

2000).

O modelo do Toyotismo foi adotado por todas as montadoras no Mundo por

apresentar um modelo extremamente competitivo com excelente resultados. Como

exemplo, podemos citar que a industria aeronáutica, através da Boeing e AirBus

estão adotando os princípios do Toyotismo a fim de se manterem no mercado atual.

Foi publicada uma matéria no Wall Street Jornal referenciando a adoção destes

princípios. Desta forma, comprovamos que a industria automobilística se torna um

laboratório para os demais setores, sempre inovando.

Page 38: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

52

3.6 VOLVÍSMO

A seguir, o Volvísmo será explorado fazendo um contraponto com o Fordismo

e Toyotismo. O Volvísmo é um modelo de organização do trabalho alternativo ao

Fordismo na Indústria Automobilística.

Segundo Dundelach e Mortensen (1979), esse modelo fazia parte da estratégia

do grupo sueco Volvo para se afirmar internacionalmente como um pequeno

construtor independente com prestígio e com sentido de responsabilidade social. A

fábrica de Kalmar torna-se, assim, um símbolo das novas formas de organização

do trabalho na Europa e no resto do mundo e, decididamente, o ponto de partida

para a era do pós-fordismo.

Contudo, destacam-se abaixo as seguintes características do modelo

introduzido na Suécia:

• A linha de montagem tradicional é substituída por módulos de montagem

paralelos;

• Equipes de 12 de operários são responsáveis pela construção do chassis;

• Os ciclos de trabalho são de 2 a 4 horas;

• As equipes têm autonomia para distribuir as tarefas entre os membros do

grupo e também de decidir sobre o ritmo de trabalho.

Estas características, sem dúvida, o diferenciam dos demais modelos de

Gestão de Produção, principalmente pelo fato das unidades serem independentes e

autônomas. Segundo Lima (1993), o planejamento de recursos humanos é parte

Page 39: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

53

integral da estratégia de produção. Antes de iniciar o trabalho, cada novo operário

passa por um período de treinamento de quatro meses seguidos posteriormente de

mais três períodos de aperfeiçoamento. Espera-se que, ao final de dezesseis

meses, ele seja capaz de montar totalmente um automóvel. Assim como o modelo

japonês, o Volvísmo é sustentado por uma força de trabalho de alta qualificação,

que possue um alto custo de manutenção por necessitar de treinamentos

constantemente.

Por outro lado, Wood (1992) que considera o Volvísmo não um retorno à

produção manual ou à produção artesanal, como querem alguns, mas sim uma

combinação de aspectos da produção manual com alto grau de automação,

permitindo imensa flexibilidade tanto de produto quanto de processo. De partida,

foram estabelecidas quatro condições para a planta de Uddevalla na Suécia:

• A montagem deveria ser estacionária, ou seja, numa célula de trabalho;

• Os ciclos de trabalho deveriam ter no máximo 20 minutos;

• As máquinas não poderiam fixar o ritmo;

• A montagem não deveria exceder 60% do tempo total de trabalho dos

operários.

O projeto atendeu todos os pedidos do sindicato, exceto o último. O objetivo da

Volvo era projetar um trabalho tão ergonomicamente perfeito, que tornasse os

operários mais saudáveis.

Além desses aspectos, existe toda urna infra-estrutura de apoio. Cada grupo

de trabalho possui salas espaçosas equipadas com cozinha, banheiro, chuveiros e

Page 40: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

54

até um computador. A planta é iluminada com luz natural e os ambientes são

extremamente limpos.

Uma característica interessante é que 45% da mão-de-obra é feminina,

demonstrando que o trabalho não e visto de forma braçal aonde seria necessário a

utilização de mão de obra exclusivamente masculina. Isto é causa e conseqüência

das várias alterações no sistema de produção introduzidas pelo Volvísmo.

A Volvo, depois de implementar o sistema em Kalmar, adotou o sistema em

outra planta, Uddevalla, também na Suécia. Destaca-se especialmente na planta de

Uddevalla, a combinação de aspectos da produção manual com alto grau de

automação. Isto permitiu imensa flexibilidade tanto de produto quanto de processo.

Complementarmente, a re-profissionalização dos operários ajustou-se à

necessidade de enfrentar a demanda por produtos variados, competitivos e de alta

qualidade.

A combinação de alta tecnologia com criativo projeto sócio-técnico, que

examina os processos de trabalho, também possibilitaram uma redução da

intensidade de capital. Além de provar-se uma alternativa economicamente viável,

Uddevalla demonstrou que isto é possível de se atingir através de uma organização

flexível e criativa.

As características do Volvísmo, segundo Ferreira (1991) são: abandono

completo das linhas de montagem baseadas em correias transportadoras e

introdução de um esquema em que a montagem é feita com o produto praticamente

imóvel; estabelecimento de grupos de cinco a dez trabalhadores responsáveis pela

montagem integral de produtos completos.

Page 41: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

55

Neste caso, a idéia é aumentar tanto quanto possível o ciclo de trabalho, de

forma que a atividade exija cada vez mais o uso de conhecimentos e experiência do

trabalhador. Tarefas como decisão de produção diária, manutenção das ferramentas

utilizadas e diversas outras são de responsabilidade do próprio grupo.

Apesar do Volvísmo possuir um conceito eficaz e apresentar um conceito

diferente de organização de trabalho na Europa, este não se traduz para o meio da

alta produção ou produção em escala como o setor automobilístico. Por isso, este

conceito não foi implementado em outras plantas do mundo por não ser um modelo

economicamente viável.

Page 42: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

56

3.7 CONDOMÍNIO INDUSTRIAL

O recente surgimento de unidades do complexo automotivo, com formas

originais de organização da produção, originou este estudo. No Brasil, novas

unidades foram instaladas destacando-se os condomínios industriais da Ford

Nordeste em Camaçari, da Volkswagen em Rezende, da PSA-Peugeot Citroën em

Porto Real e da General Motors em Gravataí. Conforme já mencionado, o precursor

deste conceito de condomínio industrial foi a Volkswagen do Brasil em Resende no

Estado do Rio de Janeiro, que começou com o conceito de Consórcio Modular

Veicular.

A Volkswagen Caminhões e Ônibus possui uma das mais modernas fábricas

do mundo, certificada segundo as normas de qualidade ISO 14001 e ISO TS

16949:2002. Um investimento de US$ 250 milhões: o Consórcio Modular, que traz

para dentro da fábrica os principais fornecedores para a montagem de veículos. A

unidade bate seguidos recordes, aproximando-se da marca dos 130 mil caminhões

e ônibus produzidos. A fábrica foi projetada para montar até 30 mil veículos/ano em

dois turnos de trabalho, mas prevê para 2003 um volume de 26 mil unidades num

único turno.

Com sua linha de montagem construída em apenas 153 dias, a fábrica está na

cidade fluminense de Resende, a 150 km do Rio de Janeiro e 250 km de São Paulo.

Ocupa uma área de 1 milhão de metros quadrados, com 90 mil metros quadrados

de prédios. Hoje, 2.100 pessoas trabalham ali. Noventa e três por cento dos

funcionários são da região. A produção diária é de 112 veículos em um turno de

nove horas.

Page 43: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

57

A empresa oferece ao mercado doméstico uma linha completa de produtos,

com 19 modelos de caminhões, de 8 a 42 toneladas, e cinco chassis para ônibus,

também exportados para mais de 20 países - entre eles: Argentina, Chile, Uruguai,

Bolívia, Colômbia, Venezuela, Paraguai, Equador, República Dominicana, Costa do

Marfim, Nigéria e Arábia Saudita.

Para o consórcio modular foram selecionados sete parceiros para a montagem

de conjuntos completos (kits): Maxion (montagem do chassi), Arvin Meritor (eixos e

suspensão), Remon (rodas e pneus), Powertrain (motores), Delga (armação da

cabina), Carese (pintura) e VDO (tapeçaria). Cabe à Volkswagen o controle de

qualidade e o desenvolvimento do produto, tendo sempre como objetivo a satisfação

do cliente. O Consórcio Modular busca redução nos custos de produção,

investimento, estoques e tempo de produção. E confere maior qualidade ao produto

final.

Entretanto os parceiros não participam do lucro final dos produtos: continuam

sendo fornecedores, só que agora também montam as peças que vendem. Na

fábrica, compartilham com a Volkswagen a infra-estrutura, inclusive restaurante e

ambulatório.

Entretanto esta fábrica teve um problema conceitual de logística, visto que

os fornecedores de componentes não estavam localizados nas imediações da

fábrica ou do Estado. Este fato dificultou o processo em muito em detrimento do

tempo e da cobrança de insumos fiscais de outros estados como, por exemplo,

ICMS.

Já o condomínio industrial, que se entende por uma evolução do sistema

modular, compreende um parque de fornecedores diretos localizados na área da

Page 44: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

58

fábrica montadora. A exigência de que os fornecedores se localizem nas

proximidades das fábricas montadora faz com que a instalação de uma montadora

proporcione elevados benefícios para a economia e o desenvolvimento social de

uma região.

O Condomínio Industrial é composto por uma série de empresas alocadas no

mesmo parque industrial onde é tido uma administração compartilhada. No

condomínio industrial, os sistemistas, que são considerados grupos seletos de

fornecedores que agrupam os componentes do veiculo, também estão bem perto da

planta da montadora, instalados no complexo ou condomínio industrial, embora não

participem da montagem final. No condomínio, as empresas dividem custos de infra-

estrutura, de serviços de alimentação, saúde e transporte, manutenção entre outros.

Segundo Graziadio (1999), no Condomínio Industrial da General Motors do

Brasil em Gravataí, o fornecimento modular corresponde a cerca de 60 % do custo

do veículo. O restante permanece no sistema tradicional, feito por 70 empresas

instaladas no Brasil e outras 15 do exterior (os componentes importados chegam a

20 % do custo do carro). No esquema modular atuam os 16 sistemistas e um

operador logístico, responsável pelo transporte de componentes e módulos dentro

do condomínio e pela coleta de componentes em fornecedores fora do condomínio

industrial.

Em 20 de julho de 2000, foi inaugurada no Brasil a quarta e mais moderna

fábrica da General Motors do Brasil, em Gravataí, localizada a 30 km de Porto

Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. Dispõe de 386 hectares, área construída

de 140 mil m2 e capacidade de 120 mil unidades/ano. Nessa fábrica é produzido o

Celta, um carro sub-compacto, que foi o primeiro veículo a ser comercializado pela

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59

Internet no Brasil, e cujo sucesso garantiu-lhe o 1° lugar de vendas no Brasil da

General Motors do Brasil em 2004. Em Gravataí, é fabricado em média um Celta a

cada dois minutos. No local, trabalham 3,6 mil funcionários, incluindo os sistemistas

que fornecem componentes para a montadora e estão instalados dentro do parque

industrial. Na GM, o número de trabalhadores é de 1,7 mil funcionários.

Para José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors do Brasil,

o grande diferencial da nova fábrica de Gravataí em relação as muitas outras

plantas industriais da General Motors no mundo inteiro é " O processo fabril.

Contrariamente às plantas tradicionais, em Gravataí a General Motors do Brasil

monta subsistemas completos, que são alimentados por um seleto grupo de

fornecedores chamados "sistemistas". No complexo automotivo existem 17

sistemistas ", salientou Pinheiro Neto em entrevista concedida ao jornalista Silvestre

Gorgulho em Setembro de 2000.

A unidade industrial da montadora fica nas proximidades de Porto Alegre. O

Complexo Industrial Automotivo de Gravataí possui os seguintes dados : que no

mesmo terreno de 3,96 km2 -- área de uma fazenda de aproximados 80 alqueires

goianos -- estão os galpões da atividade industrial da GM, apta a retirar dos portões

120 mil unidades/ano do Celta, e as construções industriais e depósitos dos 17

sistemistas acreditados pela montadora. No total representam 85 mil metros

quadrados de área coberta e investimentos de US$ 544 milhões, sendo 360 da GM,

próprios e de empréstimos gaúchos; 117 dos fornecedores e os 77 milhões finais do

governo do Rio Grande do Sul, em obras de infraestrutura. Abaixo temos uma figura

da vista área do Complexo em Gratavaí no Rio Grande do Sul.

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60

FIGURA 3.1 – Vista área do Complexo em Gratavaí no Rio Grande do Sul. fonte:

site da General Motors do Brasil ( www.gm.com.br )

Outro exemplo de condomínio industrial seria a fábrica da Volkswagen no

Paraná. A Volkswagen/Audi em São José dos Pinhais (PR) é uma das mais

modernas do grupo mundial Volkswagen. Com investimentos de US$ 800 milhões e

o lançamento do Volkswagen CrossFox, a fábrica da Volkswagen em São José dos

Pinhais atingiu a sua capacidade total de produção, que é de 810 veículos/dia

(Volkswagen Golf, Audi A3, Volkswagen Fox e Volkswagen CrossFox) em três

turnos. Para atender a este volume de produção, a fábrica contratou mais de 2.000

empregados desde maio de 2004, totalizando 4.200 empregados. Além disso, foram

gerados mais de 10 mil empregos indiretos desde a inauguração em 18 de janeiro

de 1999.

Vale a pena destacar que a fábrica apresenta um layout pioneiro no grupo

Volkswagen: as áreas de Armação, Pintura e Montagem Final convergem para o

Centro de Comunicação, um prédio triangular onde estão concentrados os

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escritórios administrativos, jardins de inverno, lanchonete, agência bancária e

refeitórios.

O objetivo é integrar todas as áreas, tornar mais rápido o fluxo de informações

e favorecer a melhoria contínua da qualidade.

Outro destaque importante da fábrica é que, além de utilizar tecnologias

avançadas como solda a laser e pintura à base de água, a montadora inovou no

sistema de logística ao instalar quatorze fornecedores no terreno da fábrica - de

pneus, bancos, vidros etc -- formando o Parque Industrial Curitiba (PIC). Isto é

mostrado na figura 3.2 onde se pode observar a magnitude deste projeto.

FIGURA 3.2 – Vista área do Parque Industrial Curitiba (PIC) - fonte: site da

Volkswagen do Brasil ( www.vw.com.br )

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Abaixo, alguns dados do parque da Volkswagen:

• Localização: km 6,75 da PR 25 São José dos Pinhais / Curitiba –

Paraná;

• Área Total: 2.000.000 m² ;

• Área Construída: 200.000 m² ;

• Capacidade: 810 veículos/dia ;

• Funcionários: 4200 pessoas.

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3.8 COMPLEXO FORD NORDESTE

A seguir será analisado o Complexo Industrial Ford Nordeste localizado em

Camaçari no Estado da Bahia com suas características próprias. Na figura 3.3 pode

ser visualizado o layout adotado pela Ford em seu Complexo de Camaçari. As

empresas que adotaram este sistema procuram aproveitar as melhores

oportunidades de logística, melhor organização da produção, modularização dos

produtos e proximidade física dos fornecedores.

Segundo informações do PROMO (Centro Internacional de Negócios da

Bahia), órgão vinculado ao Governo da Bahia, o Complexo Industrial Ford Nordeste

representa o maior investimento feito atualmente pela Ford no mundo. O objetivo é

produzir uma nova família de veículos, Amazon, que utiliza o conceito inovador de

Condomínio Industrial, onde a participação de fornecedores ocorre diretamente na

linha de montagem e no processo de produção, e não apenas no fornecimento dos

componentes do veículo, compartilhando das instalações e das responsabilidades

do produto final.

Para avaliar as instalações e iniciar o treinamento dos seus funcionários, o

Complexo Industrial Ford Nordeste iniciou a sua produção de veículos com a pick-

up Ford Courier. A mesma foi produzida ate o lançamento do Novo Ford Fiesta em

Abril de 2002. Sem duvida, este período serviu de adaptação e treinamento para

todos os times e parceiros alocados no site. Em virtude de um processo

extremamente estável e inovador, podemos destacar, que a planta conseguiu

produzir um a unidade denominada “ defeito-zero “. Esta foi avaliada pelo time de

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Qualidade Interna do Complexo Industrial Ford Nordeste e foi constado que a

mesma não possuía nenhum defeito. Um marco pra o site.

Assim, além da filial da Ford, instalaram-se em Camaçari um conjunto de

fornecedores, entre eles: Autometal, Arvin, Benteler, BSB, Colauto, DDOC, Dow,

Ferrolene, Intertrim, Kautex Textron, Lear, Mapri-Textron, Metagal, Pelzer,

Pilkington, Pirelli, SaarGummi, Siebe e Valeo. Outros fornecedores instalaram-se em

demais municípios do estado da Bahia, próximos de Camaçari, como por exemplo:

Borlem, Krupp, Siemens e TWE.

Atualmente, com a implementação do terceiro turno na fabrica, existem mais

de 8100 empregos diretos no Complexo Industrial e foi estimada a geração de 50

mil empregos indiretos. Este último dado foi citado pela própria Ford Motor Company

do Brasil. Estima-se que a maior parte destes empregados são da própria região,

especialmente em Camaçari, Simões Filho, Lauro de Freitas e Dias D'Ávila,

municípios vizinhos onde a fábrica esta situada.

3.8.1 Dados do Complexo

O Complexo possui:

a) 4,7 milhões m² de área total

• 1,6 milhões m² de área industrial, 230.000 m² de área construída;

• 0,7 milhões m² de área para expansão;

• 2,4 milhões m² de área para preservação ambiental interna.

b) Áreas Externas contabilizam 4,6 milhões m² de área de preservação

ambiental.

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FIGURA 3.3 – Lay-out do Complexo Industrial Ford Nordeste - fonte: Intranet da

Ford Motor Company ( www.fab.ford.com )

Abaixo serão vistos alguns números do Complexo:

• 90.000 m3 de concreto;

• 15.000 toneladas de estruturas metálicas;

• 600 toneladas de parafusos de estruturas metálicas;

• 150 km de tubos de conexão;

• 400.000 metros de cabos elétricos;

• milhões de m³ de solo terraplenado;

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• 2.000 estacas para fundações civis;

• Mais de 200 empresas contratadas.

3.8.2 Os parceiros do Complexo

O Complexo tem por princípio a utilização da terminologia de parceiros para

todos os integrantes do mesmo. Para facilitar serão divididos os fornecedores em

Tier 1 e Tier 2. Tier 1 fornece diretamente para a Ford na linha de montagem

enquanto que um Tier 2 são sub fornecedores fornece para o modulo final que é

montado no veículo pelo Tier 1. Abaixo será mostrado cada um deles e a área de

atuação dos mesmos:

a) Parceiros da Estamparia – Tier 2

• Ferrolene Retalhos de chapa

• Sodecia Estampados de pequeno porte

• BSB/Ford Estampados de grande porte

b) Parceiros de Pintura - Tier 2

• DDOC/Ford Pintura da carroceria

• Renner Du Pont Matéria prima da pintura

• Colauto Pintura de pequenos componentes

Page 53: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

67

c) Parceiros de Montagem Final – Tier 1 e Tier 2

• Faurecia Painel de porta – Tier 2

• SAS Montagem das portas – Tier 1

• Visteon Painel de instrumentos – Tier 1

• Pelzer Acabamento interno - Tier 1

• Intertrim Teto - Tier 1

• Lear Bancos - Tier 1

• Mapri Modulo de fixação – Tier 1 e 2

• Valeo Modulo frontal - Tier 1

• Benteler Suspensão - Tier 1

• Arvin Sistema de Exaustão - Tier 1

• Cooper Mangueiras e tubos de conexão - Tier 1

• Pirelli Montagem de pneus e rodas - Tier 1

d) Parceiros de Manufatura – Tier 1 e 2

• DOW Peças plásticas de grande porte – Tier 1

• Autometal Peças plásticas de pequeno porte – Tier 1

• Saargummi Peças de borracha – Tier 1 e 2

• Pilkington Vidros -– Tier 1

• Kautex Tanque de Combustível – Tier 1

Page 54: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

68

e) Parceiros de Serviço

• ABB Manutenção

• Premier Condomínio / Iluminação

• Lean Fornecedor de Logística

• MSX Desenvolvimento de Produto

f) Parceiros localizados fora do site – Tier 1 e 2

• SIAN (Camaçari) Sistema de Iluminação

• Pirelli (Feira de Santana) Pneus

• Krupp (Camaçari) Peças estampadas

• Pelzer (Dias D´Ávila) Isoladores

• Siemens (Feira de Santana) Chicotes elétricos

• TWE (Camaçari) Espuma dos bancos

3.8.3 Aspectos Sociais

Dando continuidade a esta explanação do Complexo, alguns dos aspectos

sociais da Política da Ford em Camaçari serão salientados:

• Geração de mais de 8.100 empregos diretos e 50.000 empregos indiretos

na região;

• Criação do Centro Tecnológico Henry Ford, inaugurado em Novembro de

2000, tornando-se um ponto de referencia para o desenvolvimento do

Page 55: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

69

Centro de Tecnologia da Ford que se encontra atualmente com mais de 500

engenheiros situados em Camaçari. Este time desenvolve atualmente todos

os produtos para o mercado da América Latina e também estuda

possibilidades de produtos para o mercado asiático, americano e sul-

africano.

3.8.4 Iniciativas Ambientais

O Complexo surgiu com a mentalidade de ser um exemplo da área ambiental

para Ford Motor Company no contexto mundial, sendo que serão exemplificados

alguns dos pontos principais desta iniciativa. Não se pode deixar de mencionar que

todas as fábricas da Ford no Brasil e no mundo são certificadas pela ISO 14001. É

de vital importância lembrar que foram aplicadas inúmeras ações ambientais

voltadas para o conforto, segurança, paisagismo, florestamento e tratamento de

resíduos e efluentes.

No que se diz respeito ao conforto dos funcionários, o condicionamento dos

prédios produtivos foi projetado para alcançar 5º C abaixo da temperatura ambiente.

Foi projetado também que houvesse a captação da água condensada do sistema de

conforto térmico dos prédios produtivos para reaproveitamento no sistema de

refrigeração dos equipamentos.

O item segurança foi explorado da seguinte forma: foi determinada a proibição

do tráfego de veículos de empregados e visitantes no interior do Complexo. Foi

adotada a utilização de veículos industriais movidos a gás, ou energia elétrica, nas

Page 56: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

70

áreas de produção. Desta forma, há uma redução de interferências dos processos

produtivos com o fluxo administrativo.

O Paisagismo teve uma atenção especial através da captação e direcionamento

de água de chuva para a alimentação de três lagos e da construção de prédios

administrativos eco-eficientes.

Já para o Florestamento, ocorreu o plantio e regeneração de 4.6 milhões m² da

Mata Atlântica ao redor do Complexo e 2.4 milhões m² no interior do mesmo. Além

disso, a consciência ambiental dos funcionários é incentivada através de atos como,

por exemplo, o Dia do Meio Ambiente quando os funcionários plantaram árvores ao

redor do Complexo, incentivando a proteção ambiental. Os funcionários também se

tornaram responsáveis pelo bem estar da sua arvore, ou seja, existe uma

preocupação continua dos empregados com esta iniciativa.

Existe também o tratamento de resíduos e efluentes gerados na planta que é

feito através da coleta seletiva de metais, vidros, plásticos, papeis e materiais

diversos para reciclagem. Há o tratamento térmico dos gases emitidos na pintura

através do processo de Termo-Oxidação Regenerativa.

Por fim, o wetlands será destacado. A Ford é a 1ª Indústria Automobilística no

Brasil a ter um sistema de tratamento de despejos sanitários baseado na técnica de

solos filtrantes, o wetlands. Este utiliza a cultura do arroz como meio purificador dos

efluentes, e reutilizando a água tratada para irrigação das vegetações internas.

Abaixo, será visto a ilustração de como o sistema do wetlands no Complexo em

Camaçari é aplicado.

Page 57: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

71

FIGURA 3.4 – Aplicação do wetlands no Complexo Ford Nordeste - fonte: Intranet

da Ford Motor Company ( www.fab.ford.com )

Desta maneira, será possível concluir que existem uma série de fatores

inovadores do Complexo como o wetlands, o florestamento e o paisagismo visando

uma qualidade de vida melhor e uma proteção ao meio ambiente. Alem disso, é

importante destacar que esta é a primeira fabrica da Ford na América Latina, onde a

pintura veicular é a base de água, e não de solvente.

Apesar de estarmos construir um complexo industrial, existe uma preocupação

em não afetar com os ecossistemas existentes e nem de desestabilizar o meio

ambiente.

Page 58: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

72

O principal objetivo não é só manter, porem melhorar ainda mais este sistema

através destas atividades mencionadas acima.

Page 59: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

73

4 METODOLOGIA DA PESQUISA DIRETA

4.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo tem por objetivo principal apresentar a metodologia utilizada para

nortear a presente pesquisa. A questão a ser respondida é se o sistema de

modularização deve então ser considerado, pelo viés da produção e do produto,

mais eficiente do que o sistema tradicional de produção? Portanto iremos estudar o

projeto Amazon de duas maneiras: pelo processo e pelo produto.

Primeiramente, precisamos conceituar os elementos da pesquisa. Pelo lado do

processo, segundo Graziadio (2000), na indústria automotiva, o sistema modular

teve seu início de aplicação na produção e mais especificamente, na fase de

montagem final. A idéia principal foi decompor o veículo em conjuntos completos e

pré-montados de peças e componentes, chamados de módulos ou sistemas. As

principais vantagens deste sistema seriam: reduzir o estoque de produto acabado,

reduzir o tempo de entrega do produto e atender com maior facilidade às variações

da demanda.

O conceito de eficiência pelo viés da produção será baseado e mensurado nas

seguintes dimensões que serão explorados a seguir:

a) Complexidade

• Logística de materiais;

a) Localização dos fornecedores;

b) Quantidade de itens finais;

Page 60: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

74

c) Comparação entre o modelo tradicional e o modelo Amazon;

d) Comparação entre o número de veículos vendidos com o número de

funcionários da planta.

Pelo lado do produto, será feita uma análise como a concorrência se comportou

após os modelos (Ford EcoSport, Ford Fiesta e Ford Fiesta Sedan ) que a Ford

adotou, analisando o mercado brasileiro atual e potencial de exportação.

Adicionalmente, será avaliada a redução do número de interações de Engenharia.

Outro indicador será o número dos veículos mais vendidos no Brasil durante o

ano de 2004. Este poderá ser coletado junto a Anfavea. Como será estabelecida

uma relação entre um veículo e a sua aceitação e desejo pelos consumidores?

Como, através do trabalho do time de Desenvolvimento do Produto e Marketing,

consegue-se desenvolver um produto que seja aceito para os mercados brasileiros,

sul-americano e mexicano?

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O levantamento é uma técnica padronizada de coleta de dados, dentro de uma

pesquisa descritiva, que visa a descrever as características de determinada

população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Ressalta-

se que a pesquisa é também cross-sectional – os dados foram coletados em um

Page 61: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

75

ponto específico no tempo. Isto serve de embasamento para poder coletar os dados

das fabricas de localidades diferentes e em épocas diferentes.

Desta forma, iremos dividir a analise focando em produto e processo.

4.3 INSTRUMENTOS

A fim de obter os indicadores mencionados na introdução, iremos realizar as

entrevistas bem como as pesquisas internas direcionando-as para o escopo do

trabalho

4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Estes dados foram coletados segundo a tipologia, que está dividida em:

a) dados quantitativos: obtidos através das pesquisas internas;

b) dados qualitativos: obtidos pela análise dos depoimentos.

Coleta dos dados quantitativos – pesquisa interna

A coleta de dados iniciou-se com a pesquisa interna na Ford Motor Company

do Brasil, precedido de um contato telefônico junto às áreas internas afetadas

requisitando acesso aos dados necessários.

Page 62: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

76

A elaboração da pesquisa interna

A pesquisa foi feita através de um levantamento de dados que pudessem

servir de base para a construção de indicadores que pudessem responder a

pergunta de partida do estudo do caso.

Coleta dos dados qualitativos – depoimentos

A coleta de dados qualitativos iniciou-se com a uma série de depoimentos

colhidos na Ford Motor Company do Brasil à executivos das áreas de Marketing,

Desenvolvimento do Produto e Manufatura, bem como de executivos dos parceiros

do Complexo Ford Nordeste.

A elaboração do roteiro de extração dos depoimentos

O roteiro é uma série de perguntas, que devem ser respondidas pelo

informante. Estes depoimentos devem ser objetivos, limitado em extensão e estar

bem restrito ao escopo do estudo. (ver Roteiro de Entrevistas no Anexo ).

Page 63: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

77

5 RESULTADOS DA PESQUISA

O presente capítulo apresenta primeiramente a tabulação dos dados. A

tabulação e análise dos dados encontram-se subdivididas em dados quantitativos e

qualitativos. A apresentação e análise dos dados qualitativos contemplam os

resultados da tabulação dos depoimentos.

5.1 TABULAÇÃO DOS RESULTADOS 5.1.a – Indicadores de processo

Primeiramente será visto no processo, pelo lado quantitativo, a quantidade de

itens finais que cada uma das plantas necessita controlar atualmente. Sem duvida, é

importante salientar, que a quantidade de itens no complexo não é menor, mas sim

que devido a adoção de um sistema modular, os sistemistas ficam responsáveis

pelo mesmo. Isto quer dizer que, através do conceito modular existe, para a

montadora, uma redução no controle de itens finais. Em suma, ocorreu uma divisão

nas tarefas.

A Tabela 5.1 faz um comparativo com a Fabrica de São Bernardo do Campo

no viés de itens finais controlados pela Ford.

Page 64: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

78

Planta da Ford

no Brasil

Camaçari

(BA)

São Bernardo

do Campo (SP)

Itens finais Aprox. 700 Aprox. 4000

TABELA 5.1 – Quantidade de Itens Finais nas Plantas da Ford no Brasil - fonte:

Intranet da Ford Motor Company ( www.fab.ford.com )

A seguir teremos uma série de depoimentos de executivos da Ford e dos

sistemistas quando questionada a aplicação do conceito modular no que podemos

aplicar quanto ao processo. No viés do produto será visto mais adiante.

Para Alexandre Sarracchi, Gerente da Planta da Pilkington no Complexo

Industrial, o processo de modularização se destaca pela rapidez no

desenvolvimento, versus o sistema tradicional, e pelo dinamismo do processo de

Logística com a divisão de responsabilidade entre os sistemistas através da

localização física, alocados no site ou nas proximidades. Desta forma, os

sistemistas que estão dentro do condomínio, trabalham com a pratica do olho no

olho, com a comunicação direta de mudanças e falhas. Isto sem duvida, é um

diferencial muito importante no processo em relação a planta de São Bernardo do

Campo.

Entretanto, para a Pilkington, o complexo industrial pela sua localização

geográfica, não os auxilia, visto que a fabrica aqui na Bahia apenas faz sub-

montagens de guarnições e pastilhas. A fábrica de vidros fica situada em Caçapava,

Page 65: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

79

no interior do Estado de São Paulo. Isto gera, de fato, um estoque de

aproximadamente dois dias, devido ao fato que o transporte dos mesmos ser feito

através de caminhões (rodoviário).

Para João Quaglia, Gerente de Programa da Benteler, a localização do

complexo, também não ajuda, em virtude que o centro de desenvolvimento

automobilístico do país e da própria Benteler se localiza em São Paulo. Entretanto,

segundo Quaglia, o sistema adotado no complexo tanto no que se diz respeito ao

produto e ao processo de desenvolvimento de manufatura é muito interessante. O

fato de poder interagir como um time e poder tomar decisões rápidas facilita muito

no desenvolvimento do produto.

É de vital importância que o time multifuncional possa se reunir e tomar as

decisões conjuntas com o aval de todos. Para ele, é necessário que a Engenharia

da Benteler esteja presente dentro do complexo, com um representante. O sistema

modular, neste caso, “é uma tendência a ser seguida pelas demais montadoras”, diz

Quaglia.

Além disso, será feita uma análise a respeito do modelo tradicional versus o

modelo modular de produção adotado pelo projeto Amazon. Utilizaremos o material

apresentado por Luc de Ferran no Seminário da SAE Brasil de 2003. Abaixo

podemos analisar os dois modelos detalhadamente. A Figura 5.1 apresenta o

modelo tradicional e a Figura 5.2 apresenta o modelo Amazon.

Page 66: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

80

O modelo tradicional pode ser comparado com o da Fabrica de São Bernardo do

Campo enquanto que o do Amazon exemplifica o complexo da Ford no estado da

Bahia.

FIGURA 5.1 – Modelo tradicional – 100 mil carros / ano - fonte : Seminário

apresentado por Luc de Ferran da SAE Brasil 2003

A Figura 5.1 demonstra detalhadamente como o modelo de São Bernardo do

Campo é utilizado, demonstrando claramente a quantidade de fornecedores

atuando de forma independente, ou seja, conforme o modelo tradicional.

��������������� ��������������� ����������� �����������

Estamparia (Aço)

Fechamentos

Sub - Conjuntos

Carroceria Pintura Montagem Chassis

Motor e Câmbio

Logística

Manutenção

OK

Montadora

Fornecedores (500)

Engenharia Externa

4000 a 5000 partes

Page 67: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

81

FIGURA 5.2 – Modelo Amazon – 250 mil carros / ano - fonte : Seminário

apresentado por Luc de Ferran da SAE Brasil 2003

A Figura 5.2 demonstra detalhadamente como o modelo do Amazon foi

concebido detalhando o conceito modular.

É fato, que podemos observar um conceito inovador no que diz respeito a

logística e complexidade do modelo Amazon. Este modelo além de ser muito mais

simplificado, cria uma enorme sinergia para o grupo de trabalho. A divisão de tarefas

gera um comprometimento maior de todos os parceiros, para poder alcançar os

objetivos de produção do dia a dia.

�������������������������� ����������������������

Estamparia (Aço)

Fechamentos

Sub-Conjuntos

Carroceria Pintura Montagem Chassis

Motor e Câmbio

OK

Empreendimento

27

Fornecedores de Módulos

Fornecedores de Serviços

+ 6 Parceiros

Manutenção

Logística

700 partes

Engenharia Interna

Page 68: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

82

Ainda no viés do processo, poderemos analisar outro fator. Iremos discutir a

seguir o número de veículos licenciados no Brasil pelo número de empregados por

ano. Isto será o outro dado quantitativo que poderemos analisar no próximo capítulo.

Neste fator estudaremos os três complexos (Ford na Bahia, Volkswagen/Audi no

Paraná e Gravataí da General Motors do Brasil). Retirando os dados de

empregados através dos sites das empresas e da produção através da Anfavea

chegou-se à Tabela 5.2.

Montadoras

Quantidade de veículos

produzidos por funcionários por

ano

Ford em Camaçari ( BA ) 30,84

Volkswagen/Audi em Curitiba ( PR ) 54,76

General Motors Gravataí ( RS ) 33,34

TABELA 5.2 – Quantidade de veículos produzidos por funcionários por ano ( Janeiro

a Dezembro / 2004 ) - fonte : Anfavea e sites das empresas

É importante ressaltar que o complexo da General Motors do Brasil em Gratavaí

fabrica apenas um veículo ( GM Celta ). Tanto no complexo da Ford em Camaçari

como o Volkswagen em Curitiba possuem diversos veículos com os funcionários

Page 69: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

83

alocados no site. Isto marca um diferencial entre os complexos apesar de não

justificar a melhor eficiência de um deles. Apenas a Ford no Complexo Industrial

Ford Nordeste possui um departamento de Desenvolvimento de Produto, Compras e

Finanças, alem do time de Manufatura . Este time representa algo em torno de 700

pessoas. Os demais sites possuem apenas o time de Manufatura para suportar a

produção dos veículos.

5.1.b – Indicadores de produto

A seguir será visto o produto pelo viés quantitativo. Foi possível, através de

pesquisas internas, coletar alguns dados para podermos comparar os produtos

fabricados em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e em Camaçari, localizada

na Bahia.

Com o auxilio do time de PPM (Planejamento de Logística e Manufatura) da

Ford Motor Company do Brasil, conseguimos levantar os seguintes dados conforme

a Tabela 5.3. Os veículos Ford Fiesta Street e Ford Ka são fabricados na planta de

São Bernardo do Campo e os veículos Ford Fiesta e Ford EcoSport são fabricados

em Camaçari.

Page 70: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

84

veículos

Interações de

Engenharia

Ford Fiesta

Street

Ford

Ka

Novo Ford

Fiesta

Ford

EcoSport

Planta de SBC 500 750 --- ---

Planta de Camaçari ---- ---- 350 280

Tabela 5.3 – Quantidade de Interações de Engenharia nos veículos Ford - fonte:

Intranet da Ford Motor Company ( www.fab.ford.com )

Estes números exemplificam aproximadamente o número de interações ou

modificações de Engenharia feito no produto durante o período de desenvolvimento

ate o seu lançamento, que tem duração media de 24 meses, dependendo do

conteúdo de alteração do produto final. Particularmente, neste exemplo, exatamente

o mesmo “tamanho” de modificações entre os produtos escolhidos nas duas plantas

está sendo comparado.

Com isso, é possível verificar que o sistema modular adotado pela Ford em

Camaçari é muito mais eficaz por reduzir não só o tempo mas também a quantidade

de interações. Isto exemplifica que o trabalho praticamente não precisa ser alterado.

Este teoricamente está certo desde o se início. Caso seja feita uma futurização ,

teremos estes números cada vez menores para os próximos desenvolvimentos de

Page 71: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

85

produto por reste time, visto que o time de Engenharia se torna cada vez mais

experiente e domina o sistema de desenvolvimento.

A seguir, serão destacados fatores que influenciam o produto. Para José

Eduardo Lepore, Gerente de Programa da Arvin Meritor, a presença de um

integrante para as reuniões multifuncionais, onde podemos discutir potenciais

problemas devido as interações dos componentes no veículo, é de vital importância

durante o desenvolvimento do produto pela concepção do sistema modular. Para

Lepore, a Ford inovou com este programa e sem dúvida deverá se tornar um

modelo a ser seguido pelas outras montadoras.

Para Egidio Vertamatti, Gerente de Desenvolvimento de Produto e Novas

Tecnologias da Arteb S/A que trabalha em parceria com SIAN (Sistema de

Iluminação Automotiva do Nordeste), o processo de modularização acelerou e muito

o processo de desenvolvimento dos componentes de iluminação (faróis principais e

de neblina, lanternas, entre outros) tanto do novo Ford Fiesta como do Ford

EcoSport. Para Vertamatti é uma tendência mercadológica.

Para ele, isto é um reflexo, de uma necessidade de implementar novos produtos

em um período curto de tempo se comparado com o sistema tradicional. Isto é fato,

visto que o mercado consumidor de hoje, se tornou cada vez mais exigente,

cobrando das montadoras uma maior agilidade e velocidade no desenvolvimento de

novos produtos. É importante realçar que o advento das novas tecnologias tem

auxilio em muito isto, com a utilização de ferramentas como CAD (Computer Aid

Design) e CAE (Computer Aid Engineering) aonde podemos simular no computador

e obter respostas mais rápidas.

Page 72: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

86

Entretanto, segundo Marcio Alfonso, Gerente Executivo de Desenvolvimento de

Produto da Ford Motor Company do Brasil, o Complexo se destaca por estes

aspectos: modularização e pelos produtos inovadores. Ao seu ver, a Ford é

integradora, pelos seguintes pontos:

• Por cuidar das funções vitais do produto do ponto de vista do cliente;

• Os prédios são da Ford;

• A Ford monta o produto final (dona da linha de montagem);

• A Ford é dona do projeto do veiculo;

• Os módulos são desenhados em conjunto (co-design).

Com isso, a modularização acaba fazendo parte deste processo que reduz a

quantidade de interações de engenharia em virtude de haver um co-design entre os

sistemistas evitando assim, o surgimento de gray zones que seriam áreas onde a

interface entre os componentes não estaria sobre a responsabilidade de alguém.

Desta forma, poderiam ocorrer interferências dos componentes. Na sua visão, a

modularização, auxiliou e muito no desenvolvimento da família Amazon, e sem

duvida, deve ser a tendência do mercado automobilístico brasileiro para o futuro.

Para Alfonso, isto marca uma diferenciação grande para as demais plataformas

existentes da Ford hoje. O Ford EcoSport é um veículo de estilo próprio, robusto e

com alto desempenho. A avançada tecnologia do conjunto de motor e transmissão e

a qualidade de seu comportamento dinâmico carregam o DNA Ford, a marca líder

mundial no segmento de utilitários esportivos. Ele representa uma nova geração em

sua classe, incorporando-se à família formada pelos modelos Ford Escape, Ford

Explorer, Ford Expedition e Ford Excursion.

Page 73: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

87

O lançamento do Ford EcoSport, que esta sendo considerado por muitos, o

maior lançamento da Industria Automobilística dos últimos dez anos, é uma prova

que o produto necessita possuir certas características que o consumidor almeja.

Para esta família, segundo Eduardo Basso, supervisor de Marketing e responsável

pelo planejamento do lançamento do Ford EcoSport, foram feitas inúmeras

pesquisas e clínicas de Marketing para que pudéssemos adequar o produto ao

gosto do consumidor sul-americano.

Para Leonardo Lukacs, Líder da Engenharia no lançamento do Ford EcoSport,

o Ford EcoSport é um veículo robusto, potente, moderno, bonito, confortável, que

vai onde os outros não conseguem chegar – e, principalmente, com preço acessível

–, para quem aspira ao contato com a natureza e a liberdade de trilhar novos

caminhos. Assim é o Ford EcoSport, o veículo mais esperado dos últimos tempos,

que inaugura uma nova categoria no mercado brasileiro, a dos utilitários esportivos

compactos de produção nacional.

Com ele, a Ford traz para o País toda a sua experiência nesse segmento em

que é líder mundial e surpreende mais uma vez o consumidor, dando seqüência à

renovação da linha de produtos que tem impulsionado o crescimento da marca no

mercado brasileiro e latino-americano.

O Ford EcoSport é um veículo que inova em termos de estilo, desempenho,

dirigibilidade e espaço interno. Sua proposta é tornar mais acessível ao consumidor

brasileiro um tipo de veículo altamente desejado, mas até então disponível no

mercado local apenas pela oferta de produtos importados, restritos a poucos.

Pelo lado técnico, Jorge Abdalla, Gerente de Chassis da Ford Motor Company

do Brasil, destaca que o Ford EcoSport foi desenvolvido pela engenharia brasileira

Page 74: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

88

da Ford para todos os mercados da América do Sul, a partir dos desejos e

necessidades dos consumidores locais, e esta já sendo exportado para Argentina,

Chile, Venezuela, Colômbia e outros países da região.

O veículo segue os conceitos mais modernos e inovadores de montagem

modular e utiliza toda a tradição e conhecimento da Ford na produção de utilitários

esportivos, categoria em que vendeu mais de um milhão de veículos em 2001, em

todo o mundo, incluindo os modelos Explorer, Escape, Expedition, e Excursion.

Embora compartilhe a mesma linha de montagem do Novo Ford Fiesta, o Ford

EcoSport é um veículo de características únicas. A começar pelo tamanho: ele é

trinta e dois centímetros mais comprido, seis centímetros mais largo e doze

centímetros e meio mais alto que o Novo Ford Fiesta. Além disso, é um veículo que

vai até onde os carros de passeio não conseguem.

Sua capacidade fora-de-estrada está presente em características construtivas

importantes, como a grande resistência a torção e flexão, a altura elevada do solo,

de 200 milímetros (ponto mais baixo do veiculo no quadro auxiliar dianteiro), bons

ângulos de entrada (28 graus) e saída (34 graus) e rodas resistentes de quinze

polegadas, de aço ou liga leve, com pneus 205/65 Cinturato P4, desenvolvidos

especialmente pela Pirelli.

Outro grande diferencial do Ford EcoSport é oferecer tudo isso com conforto e

dirigibilidade similares a um carro de passeio. A posição de dirigir elevada, o pára-

brisa panorâmico e os amplos espelhos retrovisores garantem ao motorista

excelente visibilidade em todos os ângulos. O banco e a direção têm altura ajustável

para proporcionar melhor ergonomia, com todos os comandos à mão.

Page 75: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

89

O comportamento dinâmico do veículo é favorecido pelo eficiente câmbio

manual de cinco marchas e pela direção hidráulica leve e precisa, em um conjunto

que também prima pelo design moderno e atraente.

Seus cinco passageiros, tanto nos bancos da frente como de trás, dispõem de

espaço suficiente para acomodar confortavelmente as pernas, ombros e cabeça. A

ampla porta traseira, de abertura horizontal, a partir do lado direito, facilita o acesso

ao compartimento de bagagem. O bagageiro no teto, reforçado, acomoda desde

suportes para bicicletas e pranchas de surfe como outros tipos de carga.

Além disso, é o primeiro utilitário esportivo da Ford produzido a partir de uma

plataforma compacta, com as características de chassi monobloco, motorizações

1.0L Supercharger, 1.6L Rocam e 2.0L Duratec, projetado para oferecer

comportamento equilibrado para utilização tanto no asfalto como na terra.

Segundo Natan Vieira, Gerente de Marketing da Ford, responsável pelo

lançamento do Ford EcoSport, ressalta que “... o Ford EcoSport é o utilitário

esportivo feito pra aventura e a liberdade, com preço acessível”.

Além disso, iremos avaliar o veículo Ford EcoSport versus a sua concorrência

durante o ano de 2003. Isto será o outro dado quantitativo que poderemos analisar a

seguir. Neste fator estudaremos a evolução do Ford EcoSport no mercado durante o

seu primeiro ano de sua produção. Retirando os dados de licenciamento através da

Anfavea chegou-se a Tabela 5.4 e o Gráfico 5.1.

Page 76: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

90

Ranking de Vendas - LicenciadosAcumulado 2004 / Modelo

38.696

20.697

29.530

7.807

5.050

23.302

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

EcoSport Meriva Honda Fit C3 Classe A P.Weekend

Uni

dade

s

TABELA 5.4 – Ranking de vendas – 2004 / modelo ( veículos utilitários )- fonte :

Anfavea ( www.anfavea.com.br )

Page 77: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

91

Ranking de Vendas - LicenciadosMensal / Modelo

0

1,000

2,000

3,000

4,000

5,000

6,000

Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Uni

dade

s

EcoSport

Meriva

Honda Fit

P.Weekend

GRÁFICO 5.1– Ranking de vendas – 2004 / modelo (veículos utilitários) - fonte:

Anfavea ( www.anfavea.com.br )

A Tabela 5.4 e o Gráfico 5.1 utilizam apenas os dados referentes ao mercado

local desconsiderando os volumes de exportação de todos os veículos envolvidos

neste estudo.

Podemos destacar a liderança alcançada pelo Ford EcoSport no seu segmento.

Durante todo o ano de 2004, o Ford EcoSport liderou o ranking dos veículos

utilitários no mercado brasileiro. Ate o presente momento, nenhuma das montadoras

(FIAT, GM, Peugeot, Citroen e Volkswagen) lançaram um veículo que possua as

mesmas características que o Ford EcoSport com o preço que o mesmo possue.

Atualmente os competidores são os veículos importados que estão em outro

patamar financeiro.

Page 78: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

92

Abaixo, poderemos analisar através da Tabela 5.5 e 5.6, como estão os

veículos, o Novo Ford Fiesta e o Novo Ford Fiesta Sedan em seus segmentos.

Estes veículos são fabricados no Complexo Industrial Ford Nordeste, situado em

Camaçari.

Ranking de Vendas - LicenciadosAcumulado 2004 / Modelo

56.963

10.244

37.701

18.33725.503

30.147

54.405

36.448

-

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

Fiesta Hatch FiestaSedan

Palio Siena Corsa Hatch CorsaSedan

Fox 206

Un

idad

es

TABELA 5.5 – Ranking de vendas – 2004 / modelo ( carros de passeio ) - fonte:

Anfavea ( www.anfavea.com.br )

Através da Tabela 5.5, podemos verificar que os outros dois produtos do site de

Camaçari da Ford na Bahia estão se destacando também. O Novo Ford Fiesta

Sedan que foi lançado no final de Agosto de 2004, já ocupa a segunda posição no

Ranking de veículos sedans mais licenciados no mês de Dezembro de 2004 no

Brasil, conforme a Tabela 5.6

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Novo Novo Novo Novo Novo Novo VW Peugeot

Fiesta Hatch

Fiesta Sedan Palio Siena

Corsa Hatch

Corsa Sedan Fox 206

Dez/03

7.316 -

2.355 -

4.029

3.120

3.428 4.191

Jan/04

3.931 -

1.252

81

2.008

1.882

2.299 2.857

Fev/04

4.034 -

2.034

65

2.160

2.084

1.903 1.857

Mar/04

4.896 -

3.320

417

2.929

2.993

2.657 3.473

Abr/04

4.216 -

2.545

990

1.577

2.046

2.539 2.506

Mai/04

4.380 -

3.015

1.367

1.975

2.536

3.065 2.587

Jun/04

5.301 -

3.266

1.654

2.332

2.461

3.133 3.192

Jul/04

5.193 -

4.410

2.229

1.568

1.754

6.179 3.252

Ago/04

4.842

51

3.674

2.007

1.972

2.406

6.145 3.377

Set/04

5.221

174

3.667

2.200

2.231

2.975

6.690 3.598

Out/04

5.126

2.849

3.693

2.235

1.743

2.331

6.295 2.619

Nov/04

4.593

3.413

3.209

2.265

1.665

2.300

5.473 3.069

Dez/04

5.230

3.757

3.616

2.827

3.343

4.379

8.027 4.061 Acumu-

lado

56.963

10.244

37.701

18.337

25.503

30.147

54.405

36.448

TABELA 5.6 – Ranking de vendas mensal – 2004 / modelo ( carros de passeio ) -

fonte: Anfavea ( www.anfavea.com.br )

O próprio Ford Fiesta que foi lançado em 2003, como o primeiro veículo

desenvolvido exclusivamente para o Complexo, lidera o segmento que envolve os

Page 80: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

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veículos mencionados acima (Fiat Palio, Volkswagen Fox, GM Corsa e Peugeot

206). Entretanto, vale a pena destacar o crescimento expressivo do Volkswagen Fox

que nos últimos seis meses vem ganhando mercado e praticamente divide a

liderança do segmento com o Novo Ford Fiesta.

Na Tabela 5.6, é importante destacar o efeito que do Novo Fiesta Sedan trouxe

no mercado. Praticamente assumiu a liderança do segmento dos sedans. Teve uma

marca expressiva de 10.244 veículos licenciados em apenas quatro meses.

Sem duvida, mais um indicador que demonstra o sucesso do produto no

mercado local em pouco tempo de seu lançamento.

Por fim, é importante salientar que na opinião de todos, o Ford EcoSport pode

ser utilizado em outros mercados, como o americano, europeu e asiático, visto que

este se adapta facilmente aos requerimentos legais deles. Isto se deve um

planejamento que criou um novo conceito de produto com as seguintes

características:

• Maximizar o potencial da plataforma, ou seja, utiliza o mesmo chassi

para outros veículos, por exemplo, o Ford Fiesta Hatch, o Ford Fiesta

Sedan e o Ford EcoSport derivam da mesma plataforma;

• Derivativos na mesma linha de montagem em qualquer ordem e

seqüência;

Page 81: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

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• Buscar diferenciações (DNA Ford), mais oportunidades do mercado

(Ford EcoSport );

• Capacidade de duas plataformas diferentes na mesma linha de

montagem.

Page 82: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

96

6 CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta a conclusão e discussão dos dados obtidos. Estes

dados estão subdivididos em dados quantitativos e qualitativos. Este será iniciado

com a pergunta de partida que é se o sistema de modularização veicular automotivo

deve então ser considerado, pelo viés da produção e do produto, mais eficiente do

que o sistema tradicional de produção?

Primeiramente, gostaria de salientar que a maioria dos depoimentos sugere que

o conceito de complexo ou condomínio industrial realmente é uma tendência a ser

seguida no País no setor automobilístico.

Alem disso, é importante salientar que o fato que a modularização diminuiu

uma série de complicações de desenvolvimento como a redução de interfaces. Isto

foi comprovado através da Tabela 5.1. Neste caso, foi possível comprovar através

das interações de Engenharia durante um período de desenvolvimento de quatro

veículos diferentes sob dois conceitos diversos o tradicional versus o modular, que

realmente o sistema modular é mais eficaz num recorte técnico.

Aproveitando a oportunidade, é importante mencionar que no que se diz

respeito à localização geográfica, é fato que, a distância do Centro de

Desenvolvimento do Setor Automobilístico que se situa na região Sudeste dificulta

um pouco para os parceiros do site que necessitam manter uma equipe

multifuncional no site para poder atender as reuniões multifuncionais durante o

desenvolvimento do produto.

Page 83: Evolução dos sistemas de produção : Ford Amazon na Bahia

97

Por outro lado, esta interação é de vital importância para poder diminuir as gray

zones e, portanto acelerar o desenvolvimento do produto como muitos comentaram

em seus depoimentos.

Pelo lado da Logística, os dados são claros que a redução de complexidade

para a Ford é muito grande. Através do material cedido pelo Luc DeFerran fica

transparente que o modelo do Amazon é realmente inovador e permite uma sinergia

muito grande com todo o time. As figuras 5.2 e 5.3 exemplificam bem os dois

modelos. Já foi comentado, porem é importante destacar, que através desta

redução de complexidade através do conceito modular atrelado a uma gama de

produtos vencedores em seus segmentos, é possível afirmar que este sistema

adotado pela Ford é a uma tendência a ser seguida pela Ford e demais montadoras

em todo mundo.

Sem dúvida que o Complexo Industrial da Ford Nordeste não pode ser

considerado o melhor, visto que no indicador do número de veículos produzidos por

funcionário no ano de 2004, o Parque Industrial de Curitiba da Volkswagen é pelo

menos uma vez e meia vezes mais eficiente apesar de que o mesmo não possue

uma Engenharia, um departamento de Compras e Finanças alocados no site. Tanto

a Ford como a General Motors do Brasil que possuem uma relação bem próxima

produzem veículos de valores diferenciados e conseqüentemente e tem um retorno

diferente por cada unidade vendida. Outro fator, é que tanto ao Ford como a

Volkswagen possuem a gama de veículos da mesma plataforma. Já a General

Motors do Brasil, possue, por enquanto apenas o GM Celta da plataforma utilizada

em Gratavaí. A Volkswagen, por outro lado, não possue todos os sistemistas com

fábricas alocadas no PIC, portanto não adiciona os funcionários ao número total

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98

como a Ford e a General Motors. De qualquer forma, podemos salientar a alta

produtividade dos complexos da Ford e da Volkswagen.

Realmente, foi possível extrair desses depoimentos e dos dados que a Ford

inovou na adoção deste sistema porém sempre existem melhorias a serem

incorporadas.

Uma vez que o objetivo desta dissertação foi o de se verificar qual é a real

influência do sistema modular na Indústria Automobilística Brasileira de hoje e se

realmente existente uma tendência para adoção deste sistema, entendo que foram

observados alguns pontos positivos e outros campos para melhorar ainda mais

como conceito. O fato de existir um deslocamento do eixo de desenvolvimento do

Sudeste ( principalmente Rio e São Paulo ), realmente dificulta pela escassez de

uma cultura automobilística. Entretanto, é possível dizer que a longo do tempo isto

poder ser minimizado com a adição de cursos de especialização nas Universidades

da Bahia.

Outro fator que sem duvida ajudou, foi que a Ford adotou o terceiro turno no

segundo semestre de 2004, isto trouxe aos sistemistas uma maior necessidade de

ampliar as suas instalações bem como o seu pessoal. Isto acabou criando cada vez

mais, uma maior unidade de desenvolvimento de Engenharia Automobilística na

Bahia. Este número, conforme já mencionado, gira em torno de quinhentos

engenheiros. Esta unidade, é capaz de atuar remotamente em outras plantas da

Ford, como a de Pacheco, localizada na Argentina.

A Anfavea revela as projeções da indústria automobilística para 2005. A

associação prevê que a indústria automobilística produzirá 2,3 milhões de unidades,

o que representaria alta de 5,4% na comparação com o ano passado, quando a

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produção ficou em 2,2 milhões de unidades. Em relação às vendas para o mercado

interno, a projeção é de alta de 4%, com total de 1,64 milhões de modelos, ante

1,58 milhões comercializados em 2004.

Porém Rogélio Golfarb, presidente da Anfavea, em entrevista ao website

Carsale no dia 2 de fevereiro de 2005, ressalta que a falta de benefícios fiscais pode

tornar o Brasil menos competitivo na comparação com outros mercados

emergentes. "Somos o setor com a maior carga tributária do mundo", diz Golfarb. A

Anfavea prevê também que a recente alta na taxa de juros deve inibir as vendas no

mercado interno.

Por último, é importante destacar que para Ford Motor Company, o modelo

adotado na Bahia se tornou uma espécie de benchmarking mundial e existem

estudos de implementar este conceito em outros continentes. Isto deixa claro, que

apesar de alguns pontos que precisam ser melhorados, o conceito modular

juntamente com o condomínio industrial se tornou uma tendência não somente para

o mercado automobilístico brasileiro.

É possível acreditar que a estabilidade econômica e retorno do crescimento são

fatores que possibilitarão um grande ganho de competitividade na indústria

automobilística para o ano de 2005 além do grande aumento do mercado de

exportação.

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100

REFERÊNCIAS

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ANEXO Roteiro das perguntas feitas aos executivos do Complexo Industrial Ford Nordeste e Ford Motor Company do Brasil:

� Qual importância da localização geográfica do site ?

� Qual o impacto da logística, caso a fábrica se encontre em outro Estado brasileiro ?

� Quais as vantagens de possuir um grupo multifuncional no desenvolvimento

do produto ?

� No viés dos sistemistas, qual o impacto de desenvolver um produto através dos "módulos" ?

� Qual o impacto mercadológico que o Ford EcoSport gerou ? � Quais as vantagens da implementação do conceito modular no viés do

produto e processo ?

� Quais as inovações tecnológicas implementadas na família Amazon ?