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I Responda, da forma mais completa e possível, e fundamentadamente, às seguintes questões: 1) Defina o princípio da boa fé e refira a sua relevância na relação jurídica contratual. 2) Distinga contrato-promessa de pacto de preferência. 3) Explicite a admissibilidade da resolução dos contratos na lei portuguesa à luz dos princípios de Direito das Obrigações. 4) Refira, e justifique, as características da fiança. 5) Qual a relevância da culpa no Direito Obrigacional? (5 X 2 valores = 10 valores) II Álvaro obriga-se a beneficiar Bento, em detrimento de outros eventuais compradores, na circunstância de vir a vender o seu monte no Alentejo como forma de agradecimento pela sua amizade. Logo que tem conhecimento de tal facto, Camilo, filho de Álvaro, convence o pai a vender-lhe o citado monte, alegando ter mais conhecimentos acerca de explorações agrícolas. Daniel, que possui um prédio rústico contíguo ao transmitido aconselha-se com o seu advogado logo que fica ao corrente da situação. Com a transferência da propriedade Álvaro esquece o acordado com Eduardo, pois não efectuou o pagamento devido, e não recebeu as 100 árvores que lhe encomendara, as quais secaram.

Exame Obrigações & Correcção (Noite)

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Page 1: Exame Obrigações & Correcção (Noite)

I

Responda, da forma mais completa e possível, e fundamentadamente, às seguintes questões:

1) Defina o princípio da boa fé e refira a sua relevância na relação jurídica contratual.

2) Distinga contrato-promessa de pacto de preferência.

3) Explicite a admissibilidade da resolução dos contratos na lei portuguesa à luz dos princípios de Direito das Obrigações.

4) Refira, e justifique, as características da fiança.

5) Qual a relevância da culpa no Direito Obrigacional?

(5 X 2 valores = 10 valores)

 

II

Álvaro obriga-se a beneficiar Bento, em detrimento de outros eventuais compradores, na circunstância de vir a vender o seu monte no Alentejo como forma de agradecimento pela sua amizade.

Logo que tem conhecimento de tal facto, Camilo, filho de Álvaro, convence o pai a vender-lhe o citado monte, alegando ter mais conhecimentos acerca de explorações agrícolas.

Daniel, que possui um prédio rústico contíguo ao transmitido aconselha-se com o seu advogado logo que fica ao corrente da situação.

Com a transferência da propriedade Álvaro esquece o acordado com Eduardo, pois não efectuou o pagamento devido, e não recebeu as 100 árvores que lhe encomendara, as quais secaram.

Transtornado com toda a situação, Álvaro durante uma viagem que realiza a conduzir o seu automóvel, despista-se, destruindo o muro da residência de Fernando. Vem a apurar-se a perícia que os travões da viatura bloquearam sem causa justificativa.

Questões:

1) Que vínculo jurídico se estabelece entre Álvaro e Bento?

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2) Qual o contrato celebrado entre Álvaro e Camilo e a forma a respeitar por ambos os contraentes? Que efeitos produz?

3) Verificando-se, em simultâneo, acções judiciais instauradas por Bento e Daniel com vista à aquisição do imóvel, qual seria a procedente?

4) Eduardo pretende reagir pelo incumprimento do acordado. Quais os direitos que lhe assistem?

5) Analise a responsabilidade de Álvaro no acidente ocorrido?

(10 valores)

RESOLUÇÃO:

I

1) Princípio da boa fé é o comportamento que deve ser adoptado pelos sujeitos de relações jurídicas obrigacionais conforme aos preceitos legais aplicáveis ao negócio jurídico em causa e aos interesses envolvidos.

2) Contrato-promessa é o comprometimento de um ou ambos contraentes com vista à celebração, em momento futuro, de um contrato definitivo.

Pacto de preferência é o comprometimento de alguém perante outra pessoa de acordo com o qual se obriga a dar-lhe preferência, em igualdade de circunstâncias, na eventual celebração de um certo contrato.

Desenvolver.

3) A admissão da resolução dos contratos, cfr. art. 432º e seguintes do C.C., deve ser analisada em consonância com o princípio da liberdade contratual, art. 405º do C.C., na medida em que uma das formas em que é possível a dissolução do vínculo é o acordo, nesse sentido, entre as partes.

4) Fiança: noção - art. 627º do C.C..

Características: acessoriedade e subsidiariedade - arts. 627º nº 2 e 638º do C.C..

Desenvolver.

5) A Culpa tem destacada relevância ao nível da definição da existência, ou não, de responsabilidade civil por alguém por danos decorrentes de acção, ou omissão, sua. Nestes termos, importa apurar qual o modo de intervenção, ou inacção, do

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responsável, como forma de determinar o tipo de responsabilidade em causa, se objectiva ou subjectiva.

As garantias especiais conferem ao credor o direito a ver satisfeito o seu crédito com recurso a um outro património, diverso e a acrescer ao do próprio devedor, ou com uma preferência sobre um determinado bem e relativamente a outros devedores.

Desenvolver.

 

II

1) Pacto de Preferência - art. 414º e seguintes do C.C..

2) Contrato de compra e venda - art. 874º do C.C..

Atendendo ao objecto do contrato, compra e venda de um imóvel, a forma exigida legalmente é a escritura pública - art. 875º do C.C.

Há que atender às limitações constantes do art. 877º do C.C. de acordo com as quais venda a filhos ou netos só é admissível se previamente autorizadas pelas demais filhos ou netos.

3) Bento é detentor de um direito convencional de preferência, cfr. art. 414º C.C.. Daniel é detentor de um direito legal de preferência, cfr. art. 1380º C.C.

Atendendo ao valor jurídico de cada uma destas posições, e nos termos do art. 422º do C.C., a acção procedente seria a de Daniel.

4) Estamos perante contrato de compra e venda entre Álvaro e Eduardo. Presume-se que as obrigações deste contrato são simultâneas e que o não cumprimento de uma delas importa o consequente incumprimento total. Neste caso do pagamento do preço acordado faria depender a entrega do bem a vender. Não satisfeito o preço, e em caso de perecimento da coisa vendida, desde que esta se mantenha na posse do vendedor e ocorra um incumprimento do contrato por mora imputável ao adquirente / comprador, é este o responsável, cfr. art. 796º C.C..

5) Álvaro provoca danos materiais na residência de Fernando. Presume-se não ter existido culpa da sua parte. No entanto verifica-se responsabilidade pelo risco, nos termos do art. 503º nº 1 C.C..

Fornece a hipótese a informação de que os travões do veículo bloquearam injustificadamente. Pode aqui referir-se uma exclusão da responsabilidade, cfr. art. 505º do C.C., desde que seja provado o motivo de força maior, estranho ao normal funcionamento do veículo.

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