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M INISTÉRIO P ÚBLICO DO E STADO DO P ARANÁ 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE UMUARAMA - PR O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu órgão de execução ao final subscrito, no exercício de suas atribuições, com fundamento no artigo 129, III, da Constituição Federal; no artigo 25, IV, da Lei nº 8.625/93; na Lei nº 7.347/85; na Lei nº 8.429/92; e no artigo 68, VI, 1, da Lei Complementar Estadual nº 85/99; à vista dos elementos contidos nos Inquéritos Civis nºs. 0151.08.000036-8 e 0151.10.000033-1 1 , instaurados nesta 5ª Promotoria de Justiça, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor, AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE DE ADMINISTRATIVA COM PEDIDO LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS Em face de: 1- OSMAR TRENTINI, brasileiro, casado, agropecuarista, portador do R.G. nº 902.212 SSP/PR, e CPF nº 095.683.109-59, ex-prefeito do Município de Maria Helena, residente na Rodovia PR-482 (estrada de Maria Helena para Nova Olímpia), km 10, Bairro São Miguel, Maria Helena-PR; 2- OSMAR TRENTINI JÚNIOR, brasileiro, casado, autônomo, portador do RG nº 6.479.320-9 SSP/PR, e CPF nº 016.019.459-81, ex-Secretário de Administração e Finanças do Município de Maria Helena, residente na Rua Piedade, 1775, Centro, Maria Helena; 3- ROBERTO DA SILVA, brasileiro, casado, portador do CPF nº 916.753.089-34, e RG nº 916.753.089 SSP/PR, nascido aos 27.05.1975, filho de João Vieira da Silva e Angélica Lourdes Villalta da Silva, atualmente Prefeito do Município de Iporã, residente na Rua Katsuo Nakata, 1800, Centro, Iporã-PR, também podendo ser localizado na sede da Prefeitura Municipal de Iporã; 1 Juntados em parte, tendo em conta ser o inquérito civil prescindível para a propositura da ação civil pública e em razão do grande volume de documentos, na maioria desnecessária para a comprovação dos fatos. No entanto, para que não haja alegação de cerceamento de defesa, os autos originais dos inquéritos civis ficarão à disposição das partes na Secretaria do Ministério Público, que poderão consultá-los e extrair cópias dos documentos que reputarem necessários às suas defesas.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE UMUARAMA - PR O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu órgão de execução ao final subscrito, no exercício de suas atribuições, com fundamento no artigo 129, III, da Constituição Federal; no artigo 25, IV, da Lei nº 8.625/93; na Lei nº 7.347/85; na Lei nº 8.429/92; e no artigo 68, VI, 1, da Lei Complementar Estadual nº 85/99; à vista dos elementos contidos nos Inquéritos Civis nºs. 0151.08.000036-8 e 0151.10.000033-1 1 , instaurados nesta 5ª Promotoria de Justiça, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor,

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE DE ADMINISTRATIVA

COM PEDIDO LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS

Em face de: 1- OSMAR TRENTINI, brasileiro, casado, agropecuarista,

portador do R.G. nº 902.212 SSP/PR, e CPF nº 095.683.109-59, ex-prefeito do Município de Maria Helena, residente na Rodovia PR-482 (estrada de Maria Helena para Nova Olímpia), km 10, Bairro São Miguel, Maria Helena-PR;

2- OSMAR TRENTINI JÚNIOR, brasileiro, casado, autônomo,

portador do RG nº 6.479.320-9 SSP/PR, e CPF nº 016.019.459-81, ex-Secretário de Administração e Finanças do Município de Maria Helena, residente na Rua Piedade, 1775, Centro, Maria Helena;

3- ROBERTO DA SILVA, brasileiro, casado, portador do CPF nº

916.753.089-34, e RG nº 916.753.089 SSP/PR, nascido aos 27.05.1975, filho de João Vieira da Silva e Angélica Lourdes Villalta da Silva, atualmente Prefeito do Município de Iporã, residente na Rua Katsuo Nakata, 1800, Centro, Iporã-PR, também podendo ser localizado na sede da Prefeitura Municipal de Iporã;

1 Juntados em parte, tendo em conta ser o inquérito civil prescindível para a propositura da ação civil pública e

em razão do grande volume de documentos, na maioria desnecessária para a comprovação dos fatos. No entanto,

para que não haja alegação de cerceamento de defesa, os autos originais dos inquéritos civis ficarão à disposição

das partes na Secretaria do Ministério Público, que poderão consultá-los e extrair cópias dos documentos que

reputarem necessários às suas defesas.

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Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302 2

4- AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA. 2 , sucessora de ROBERTO DA SILVA & CIA. LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com registro na Junta Comercial do Paraná sob o nº NIRE 4120509771-9, inscrita no CNPJ nº 05.906.962/0001-28, representada por seu sócio administrador Roberto da Silva (RG nº 916.753.089 SSP/PR), com sede na Rua Sinop, 631, Centro, no Município de Iporã;

5- DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN, brasileiro, divorciado,

contador, portador do RG nº 3.154.828-4, e CPF nº 331.030.389-68, nascido aos 31.03.1959, filho de Jose Cardin e Maria Vieira Cardin, com endereço na Rua Belém, 651, Parque Residencial Cidade Nova, Maringá-PR;

6- ADM – CONTABILIDADE E AUDITORIA LTDA ME., pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 01.319.298/0001-60, representada por Décio Vicente Galdino Cardin, com endereço na Rua Belém, 651, Parque Residencial Cidade Nova, Maringá-PR;

7- VALMIR DALLACOSTA, brasileiro, casado, psicólogo,

portador do RG nº 1.783.673 SSP/PR, e CPF nº 340.744.309-91, sócio gerente da empresa DAL PREES ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., com endereço na Av. Brasil, 580, Sala 302, Centro, Pato Branco-PR;

8- DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA.,

pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 79.434.312/0001-63, representada por sócio gerente Valmir Dallacosta, com endereço na Av. Brasil, 580, Sala 302, Centro, Pato Branco-PR;

9- MARCELO DALETESE, brasileiro, casado, administrador,

portador do RG nº 1.045.538.145 SSP/PR, e CPF nº 559.129.820-68, sócio administrador da empresa APOIO SUL LTDA., residente na Rua Tocantins, 2396, apartamento 404, Centro, Pato Branco -PR;

10- APOIO SUL LTDA., pessoa jurídica de direito privado,

inscrita no CNPJ nº 05.056.574/0001-21, representada pelo sócio administrador Marcelo Daletese, com endereço na Rua Tocantins, 2396, apartamento 404, Centro, Pato Branco-PR;

11- GUSTAVO CESAR DELGADO, brasileiro, solteiro,

programador, portador do RG nº 7.563.641-5 SSP/PR, e CPF nº 032.635.869-20, nascido aos 02.01.1981, com endereço na Rua 37 Sul, 10 e 12 (ou 1012), Ap. 1304, Cond. Espanha, Aguas Claras, Brasília-DF;

12- PROGOV ASSESSORIA EM GESTÃO PÚBLICA LTDA.,

pessoa jurídica de direito privada, inscrita no CNPJ nº 07.151.234/0001-89,

2 Nome de Fantasia: EXATUS PROMOTORES DE EVENTOS E CONSULTORIAS.

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representada por Gustavo Cesar Delgado, com sede Av. Brasil, 4312, Centro Empresarial Transamérica, Sala 1001, Maringá-PR;

13- LINDOMAR JOSÉ DA SILVA, brasileiro, solteiro,

comerciante, portador do RG nº 894.648, e CPF nº 373.050.001-59, nascido aos 28.03.1968, filho de Severino Jose da Silva e Celia Ribeiro da Silva, sócio- administrador da SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., com endereço na Shis QL 28, Casa 26, Lago Sul, CEP 71665-028, Brasília-DF;

14- SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., pessoa jurídica

de direito privado, inscrita no CNPJ nº 07.727.759/0001-10, representada por seu sócio administrador Lindomar José da Silva, com endereço na Shis QL 28, Casa 26, Lago Sul, CEP 71665-028, Brasília – DF; e

15- MUNICÍPIO DE MARIA HELENA, pessoa jurídica de direito

público interno, representando pelo atual prefeito Elias Bezerra de Araújo, com sede na Praça Brasil, 2001, Maria Helena-PR.

1. DOS FATOS. O requerido OSMAR TRENTINI foi prefeito do Município de Maria

Helena durante duas gestões consecutivas, 2005-2008 e 2009-2012. Durante esse período, principalmente no primeiro mandato, a

Administração Municipal de Maria Helena estabeleceu uma espécie de relação espúria com o requerido ROBERTO DA SILVA, por meio de contratações ilícitas de sua empresa, então ROBERTO DA SILVA & CIA. LTDA., realizadas mediante fraudes em procedimentos licitatórios, para suposta realização de serviços de duvidosa credibilidade.

A presente petição inicial de ação civil pública aborda as ilicitudes

e as fraudes ocorridas em três dessas licitações e respectivos contratos. 1.1. O Convite 25/2005 e o Contrato 049/2005, para a

prestação de serviços de assessoria e planejamento. Em 30 de março de 2005, o requerido OSMAR TRENTINI, na

condição de Prefeito do Município de Maria Helena, solicitou ao então Secretário de Administração, seu filho e também requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR, a abertura de procedimento licitatório para “a contratação de prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social, no âmbito Federal” (fl. 08-09, IC 10.000033-1).

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No mesmo dia, o requerido OSMAR TRENTINI JÚNIOR, na condição de Secretário de Administração, solicitou ao Departamento de Contabilidade informações acerca da existência de dotação orçamentária para custear a despesa, que, sem nenhuma motivação ou indicação da fonte, estimou em até R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) mensais, para um período de 6 (seis) meses - (fl. 10, do IC 10.000033-1).

Ainda em 30 de março de 2005, o Departamento de Contabilidade

informou a existência de dotação orçamentária (fl. 11, do IC 10.000033-1) e o Prefeito Municipal, o requerido OSMAR TRENTINI, autorizou a realização da licitação (fl. 13, do IC 10.000033-1).

No dia seguinte, 31 de março de 2005, o requerido OSMAR

TRENTINI assinou o Edital de Licitação do Convite 025/2005, com aquele objeto, fixando o preço máximo em R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) por mês e estabelecendo que o contrato teria vigência por 6 (seis) meses, com previsão de prorrogação (fls. 14-15, do IC 10.000033-1).

No mesmo dia 31 de março de 2005, o advogado LUIZ CATARIN,

então ilicitamente contratado pela interposta pessoa jurídica do escritório LUIZ CATARIN ADVOGADOS ASSOCIADOS, supostamente vencedor do Convite 12/2005 3 - emitiu parecer jurídico pela regularidade do certame (fl. 20, do IC 10.000033-1).

Em seu parecer, o advogado consignou que os projetos para os

quais a empresa a ser contratada prestaria assessoria seriam destinados a reivindicar recursos do governo federal, nos seguintes termos: “a presente licitação destinada a contratação de empresa para prestar assessoria na elaboração de projetos nas áreas de educação, esporte, agricultura e meio ambiente, saúde, cultura, indústria e comércio, desenvolvimento urbano e assistência social destinados a reivindicar recursos do governo federal” (fl. 20, do IC 10.000033-1).

Ainda no mesmo dia 31 de março de 2005, a Carta Convite teria

sido entregue para as empresas DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA. (representada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA) e APOIO SUL LTDA. (representada pelo requerido MARCELO DALETESE) ambas com sede na cidade de Pato Branco-PR. E no dia 04 de abril de 2005, a Carta Convite teria sido entregue para a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., (representada pelo requerido ROBERTO DA SILVA), então formalmente estabelecida na cidade de Curitiba-PR (fl. 21, do IC 10.000033-1).

3 As reiteradas e ilícitas contratações do advogado LUIZ CATARIN são objeto da Ação Civil Pública 0006766-

63.2013.8.16.0173, em trâmite na 2ª Vara da Fazenda Pública desta Comarca de Umuarama-Pr.

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Pelo que consta da “declaração de recebimento”, assinada pelos representantes das referidas empresas, as Cartas Convites teriam sido entregues pessoalmente nas respectivas sedes das empresas.

Na sequencia dos autos do procedimento licitatório, logo após a

“declaração de recebimento” das cartas convites, foram juntadas algumas certidões negativas de débitos (da previdência social, do FGTS, das Fazendas Nacional e Estadual) das empresas SILVA & SORRILHA LTDA., (primeira razão social da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.), APOIO SUL LTDA., e DALL PRESS-ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA. (fls. 22-29, do IC 10.000033-1). E logo em seguida ao que parece ser a capa dos supostos envelopes, foram juntadas as cartas propostas destas mesmas empresas (fls. 33-35, do IC 10.000033-1).

A proposta da empresa APOIO SUL LTDA., foi assinada pelo

requerido MARCELO DALETESE; a proposta da empresa DALL PRESS-ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., foi assinada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA; e a proposta da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., foi assinada pelo requerido ROBERTO DA SILVA.

Em seguida, com data de 08 de abril de 2005, aparece a ata de

abertura e julgamento, onde restou declarada vencedora a proposta da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., no valor total de R$ 6.000,00 (seis mil reais) - (fls. 36-37, do IC 10.000033-1).

Homologado o resultado do julgamento da licitação, em 15 de

abril de 2005, o requerido OSMAR TRENTINI assinou o contrato administrativo nº 049/2005, contratando os serviços da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., representada pelo requerido ROBERTO DA SILVA, por um período de 6 (seis) meses, mediante remuneração de R$ 1.000,00 (um mil reais), para “prestação de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Industria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito Federal” (fls. 41-42, do IC 10.000033-1).

Em 14 de outubro de 2005, os requeridos OSMAR TRENTINI e

ROBERTO DA SILVA firmaram o Termo Aditivo nº 01/2005, prorrogando a vigência do contrato acima, até 15 de janeiro de 2006 (fl. 46, do IC 10.000033-1).

1.2. O Convite 71/2005 e o Contrato 119/2005, para a

realização de dois concursos públicos.

No dia 14 de dezembro de 2005, o então Diretor de Departamento de Pessoal do Município de Maria Helena, VAGNER TRENTINI, encaminhou ofício ao Secretário de Administração, o requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR,

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solicitando a abertura de licitação para contratar a prestação de serviços na realização de concurso para emprego público e cargo público. A solicitação, no entanto, não indicava a quantidade e quais os cargos e/ou empregos públicos se encontravam vagos e seriam objeto do concurso (fl. 149, do IC 0151.08.000036-8).

No dia 15 de dezembro de 2005, o requerido OSMAR TRENTINI JÚNIOR, então Secretário de Administração, solicitou ao Departamento de Contabilidade informações acerca da existência de dotação orçamentária para a realização de concursos públicos, consignando que o valor previsto era de até R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sem, no entanto, fazer qualquer referência à fonte da previsão de custos e/ou juntar orçamentos ou pesquisas de preços, mesmo que informais (fl. 150, do IC 0151.08.000036-8).

No mesmo dia 15 de dezembro de 2005, o Departamento de

Contabilidade informou a existência de dotação orçamentária (fl. 151, do IC 0151.08.000036-8) e o requerido OSMAR TRENTINI JÚNIOR, na condição de Secretário de Administração, oficiou ao Prefeito Municipal solicitando autorização para abertura de procedimento licitatório (fl. 152, do IC 0151.08.000036-8).

Ainda no mesmo dia 15 de dezembro de 2005, o requerido

OSMAR TRENTINI, na condição de prefeito do Município de Maria Helena, autorizou a realização da licitação (fl. 153, do IC 0151.08.000036-8) e subscreveu o edital de Licitação Convite nº 071/2005, tendo o seguinte objeto:

“... a realização de 02 (dois) concursos públicos, objetivando a

seleção de candidatos para o preenchimento de vagas de cargos públicos e de empregos públicos constantes da relação anexa a este Edital, compreendendo: elaboração dos editais, ficha de inscrição, elaboração das provas, aplicação e correção das mesmas, decretos e portarias referente aos concursos e demais documentos necessários à suas realizações, bem como prestar assessoria a comissão de concurso, no caso de recurso.” (fl. 154, do IC 0151.08.000036-8)

O edital estabeleceu o valor máximo para as propostas em R$

20.000,00 (vinte mil reais) e trouxe dois anexos. O primeiro tratando dos “cargos para concurso público” e o segundo dos “cargos para concurso para emprego público”.

Assim, em seu Anexo I, o edital previa que um dos concursos se

destinaria ao preenchimento dos cargos públicos de Professor de Educação Física, Assistente Social, Motorista, Auxiliar de Enfermagem, Médico Pediatra, Psicólogo, Farmacêutico, Fisioterapeuta, Veterinário, Mecânico Auxiliar de Serviços Gerais, Lubrificador e Técnico em Recursos Humanos (fl. 156, do IC 0151.08.000036-8).

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E em seu Anexo II, previa que um dos concursos se destinaria ao preenchimento dos empregos públicos de Médico, Enfermeiro, Auxiliar de Enfermagem, Dentista, Auxiliar de Consultório Dentário, Agente Comunitário de Saúde, Técnica em Higiene Dentária, Psicólogo, Assistente Social, Auxiliar Administrativo e Orientador Social (fl. 157, do IC 0151.08.000036-8).

No mesmo dia 15 de dezembro de 2005, o advogado LUIZ

CATARIN - agora já no seu segundo contrato ilícito com o Município de Maria Helena, feito pela interposta pessoa jurídica do seu escritório LUIZ CATARIN ADVOGADOS ASSOCIADO4 - emitiu parecer jurídico pela regularidade do certame (fl. 162, do IC 0151.08.000036-8).

Ainda no mesmo dia 15 de dezembro de 2005, o convite teria sido

entregue para as empresas ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., (representada pelo requerido DECIO VICENTE GALDINO CARDIN) com sede na cidade de Maringá-PR, e PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., (representada pelo requerido GUSTAVO CESAR DELGADO), com sede na cidade de Sarandi-PR (fl. 163, do IC 0151.08.000036-8).

E no dia 16 de dezembro de 2005, o Convite teria sido entregue

para a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA. LTDA., (representada pelo requerido ROBERTO DA SILVA), então com endereço na Rua Voluntários da Pátria, 400, na cidade de Curitiba-PR (fl. 163, do IC 0151.08.000036-8).

A abertura dos envelopes e julgamento das propostas teria

ocorrido no dia 23 de dezembro de 2005, quando foi declarada vencedora a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., com a proposta no valor de R$ 18.500,00 (dezoito mil e quinhentos reais) - (fls. 211-215, do IC 0151.08.000036-8).

A proposta da empresa ADM CONTABILIDADE, no valor de R$

19.900,00 (dezenove mil e novecentos reais), foi assinada pelo requerido DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN, e a da empresa PROGOV ASSESSORIA, no valor de R$ 19.750,00 (dezenove mil setecentos e cinquenta reais), foi assinada pelo requerido GUSTAVO CESAR DELGADO (fls. 212 e 213, do IC 0151.08.000036-8).

Por fim, no dia 28 de dezembro de 2005, o requerido OSMAR

TRENTINI, na condição de Prefeito do Município de Maria Helena, assinou o Contrato 119/2005 com a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., representada pelo requerido ROBERTO DA SILVA, para realizar os dois concursos públicos (fls. 219-221, do IC 0151.08.000036-8).

Os concursos públicos foram deflagrados pelos Editais 001/2005 e

002/2005, datados e assinados pelo requerido OSMAR TRENTINI em 27 de

4 As reiteradas e ilícitas contratações do advogado LUIZ CATARIN são objeto da Ação Civil Pública 0006766-

63.2013.8.16.0173, em trâmite na 2ª Vara da Fazenda Pública desta Comarca de Umuarama-Pr.

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dezembro de 2005, portanto, um dia antes da contratação da empresa que seria responsável pela elaboração e confecção desses documentos (fls. 21-22 e 72-73, do IC 08.000036-8), revelando que a contratação estava previamente ajustada.

1.3. O Convite 18/2006 e o Contrato 024/2006, para

prestação de serviços de assessoria e planejamento. Em 17 de fevereiro de 2006, a então vice-prefeita em exercício do

Município de Maria Helena, ELZA ROCHA DE ASSUMPÇÃO, solicitou ao requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR, então Secretário de Administração, a abertura de licitação para a “contratação de prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos e acompanhamento nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito Estadual e Federal” (fl. 378, do IC 10.000033-1).

No mesmo dia 17 de fevereiro de 2006, aconteceram os seguintes

atos: (a) o requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR solicitou ao Departamento de Contabilidade informações acerca da existência de dotação orçamentária, estabelecendo, sem qualquer motivação ou indicação de fonte, que o valor estimado do futuro contrato seria de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) mensais, pelo período de 6 (seis) meses; (b) o Departamento de Contabilidade informou a existência de dotação orçamentária; (c) a então prefeita ELZA ROCHA DE ASSUMPÇÃO autorizou a realização da licitação e assinou o edital de Licitação do Convite 018/2006, fixando o preço máximo em R$ 4.000,00 (quatro mil reais) e estabelecendo que o contrato seria firmado por um período de 12 (doze) meses, com previsão de prorrogação; e (d) o advogado LUIZ CATARIN, também contratado ilicitamente, emitiu parecer jurídico pela regularidade do certame (fls. 579-590, do IC 10.000033-1).

Em continuidade, nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2006, a Carta

Convite teria sido entregue – em mãos - para as empresas ADM CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., (representada pelo requerido DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN) com sede em Maringá-PR; SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., (representada pelo requerido LINDOMAR JOSÉ DA SILVA), com sede em Brasília-DF; e para ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., (representada pelo requerido ROBERTO DA SILVA), com sede formal em Curitiba-PR (fl. 591, do IC 10.000033-1).

Na sequência, foram juntados aos autos do procedimento vários

documentos que teriam sido apresentados pelas empresas na fase de habilitação, dentre eles seus contratos sociais e certidões negativas de débitos tributários das Fazendas Estadual, Federal e Municipal, de regularidade com o FGTS, e outros (fls. 592-652, do IC 10.000033-1) e as cartas propostas das empresas (fls. 656-658, do IC 10.000033-1).

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Em seguida, no dia 1º de março de 2006, teria ocorrido o julgamento das propostas, sendo declarada vencedora a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., com a proposta no valor mensal de R$ 3.750,00 (três mil setecentos e cinquenta reais) - (fls. 659-660, do IC 10.000033-1).

Ainda, a proposta da empresa ADM CONTABILIDADE, AUDITORIA

E PLANEJAMENTO LTDA., no valor mensal de R$ 3.885,00 (três mil oitocentos e oitenta e cinco reais), foi assinada pelo requerido DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN, e a proposta da empresa SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., no valor total de R$ 47.940,00 (quarenta e sete mil novecentos e quarenta reais), foi assinada pelo requerido LINDOMAR JOSÉ DA SILVA (fls. 656-658, do IC 10.000033-1).

Assim, no dia 07 de março de 2006, o Município de Maria Helena,

ainda representado pela vice-prefeita ELZA ROCHA DE ASSUMPÇÃO, contratou novamente os serviços da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., representada pelo requerido ROBERTO DA SILVA, para, no período de 12 (doze) meses, e agora mediante remuneração mensal de R$ 3.750,00 (três mil setecentos e cinquenta reais), prestar “serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos e acompanhamento nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social, no âmbito Estadual e Federal”.

Apesar dos atos deste procedimento licitatório e do Contrato

Administrativo 24/2006, terem sido assinados pela então vice-prefeita ELZA ROCHA DE ASSUMPÇÃO, as respectivas notas de empenho foram assinadas pelo requerido OSMAR TRENTINI na qualidade de prefeito Municipal e ordenador da Despesa, sendo, portanto, igualmente responsável (fls. 671, 689, 704, 705 e 715, do IC 10.000033-1).

2. OS ELEMENTOS REVELADORES DAS FRAUDES. Os três procedimentos licitatórios acima descritos foram, em

verdade, três fraudes, três simulações para dar aparência de legalidade à contratação do requerido ROBERTO DA SILVA, previamente ajustada e posteriormente formalizada com sua empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., conforme adiante será demonstrado.

2.1. Primeiro elemento revelador das fraudes: ausência da

fase interna nos três procedimentos licitatórios.

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Conforme se vê das narrativas acima, nenhum dos procedimentos licitatórios dos Convites 25/2005, 71/2005 e 18/2006, teve a chamada fase interna da licitação.

Como cediço, a fase interna da licitação é um procedimento

administrativo que antecede ao procedimento da concorrência propriamente dita, iniciada com a publicação do edital e/ou com a expedição da carta convite. Este procedimento interno é constituído de atos administrativos pelos quais a Administração Pública, documentalmente, identifica a necessidade da contratação de serviços de terceiros, especifica os serviços a serem executados, faz a estimativa do preço, verifica a existência de dotação orçamentária, define a modalidade licitatória a ser adotada e, se for o caso de convite, identifica e seleciona as pessoas – físicas ou jurídicas – a serem convidadas.

No entanto, nos procedimentos em questão nada disso aconteceu.

Nos três procedimentos, a fase interna foi composta apenas da solicitação de abertura da licitação, com a indicação do objeto a ser contratado, e da indicação de dotação orçamentária. E mesmo nesses dois atos faltaram elementos essenciais à sua validade e, principalmente, credibilidade.

Nos três procedimentos, a solicitação de abertura da licitação

continha apenas uma descrição genérica do objeto a ser contratado, sem a indicação de elementos essenciais à avaliação de seus custos, à identificação dos possíveis licitantes e, principalmente, à formulação das propostas de preços para sua execução.

No Convite 25/2005, a solicitação de abertura da licitação foi

assinada pelo próprio prefeito, o requerido OSMAR TRENTINI, e descreveu o seu objeto como “a contratação de prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social, no âmbito Federal” (fls. 08-09, IC 10.000033-1).

No Convite 18/2006, com objeto semelhante, a solicitação de

abertura da licitação foi assinada pela então vice-prefeita ELZA ROCHA DE ASSUMPÇÃO e descreveu o objeto como a “contratação de prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos e acompanhamento nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito Estadual e Federal” (fl. 378, do IC 10.000033-1).

Como se vê, nenhuma dessas descrições permite a exata

compreensão do serviço a ser executado, pois não há especificação dos tipos de projetos que deveriam ser planejados e elaborados. Não se especificou, por exemplo, se os projetos seriam para obras de edificações, para obras de melhoramento urbano, para programas sociais ou para programas de incentivo à

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economia local (indústria, comércio) etc. Também não se especificou uma quantidade mínima de projetos que deveriam ser confeccionados e apresentados, como também não se especificou quais os valores que a administração pública poderia investir em cada um desses projetos, o que levaria à limitação na espécie e na amplitude os futuros projetos.

Enfim, nesses dois procedimentos a administração municipal não

sabia exatamente o que queria contratar. No entanto, mesmo sem saber exatamente o que seria

contratado, o requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR, na condição de Secretário de Administração, estabeleceu o preço máximo que seria pago pelos serviços ao solicitar ao Departamento de Contabilidade informações acerca da existência de dotação orçamentária.

No Convite 25/2005, em 30 de março de 2005 o requerido OSMAR

TRENTINI JUNIOR fixou o valor máximo a ser pago em R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) por mês. E no Convite 18/2006, para objeto idêntico, em 17 de fevereiro de 2005, fixou o valor máximo a ser pago em R$ 4.000,00 (quatro mil reais) por mês.

Veja-se, no entanto, que em nenhum dos procedimentos houve

qualquer ato anterior que possibilitasse o estabelecimento do preço máximo a ser pago; não houve qualquer forma de cotação de preços ou avaliação dos custos – e nem poderia ocorrer já que ninguém seria capaz de honestamente avaliar o custo de execução de um serviço indeterminado -. Mas mesmo assim, o requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR atribuiu um valor aos serviços. E pior, para o mesmo serviço, descrito exatamente da mesma forma genérica, num prazo inferior a 12 meses, fixou dois valores com diferença de mais de 100% (cem por cento).

Já no Convite 71/2005, a solicitação de abertura da licitação foi

assinada pelo então Diretor de Departamento de Pessoal, VAGNER TRENTINI, descrevendo o seu objeto como a “prestação de serviço na realização de concurso para emprego público e cargo público”, sem ao menos indicar quais e quantos cargos estavam vagos e quais seriam objetos do futuro concurso público (fl. 149, do IC 0151.08.000036-8).

Mas mesmo assim, sem saber a quantidade e quais cargos seriam

objetos de concurso, o então Secretário de Administração, o requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR, também estabeleceu o valor máximo a ser pago em R$ 20.000,00 (vinte mil reais). O que fez sem qualquer motivação, sem cotação e/ou orçamento prévio.

Ou seja, mesmo não sabendo exatamente o tamanho do concurso

público que seria realizado, pois não sabia ou indicou quais cargos seriam preenchidos, se de nível fundamental, médio ou superior, e nem a quantidade de

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vagas existentes e, portanto, sem nenhuma base fática ou critério lógico que fosse conhecido, o requerido OSMAR TRENTINI JUNIOR estabeleceu o valor máximo que poderia custar os serviços.

A especificação dos cargos que seriam objeto de concurso e a

indicação da quantidade de vagas apareceu somente nos anexos do edital do convite, momento em que já estava definido o valor máximo que custaria o serviço e a modalidade licitatória adotada.

Ainda, nos três procedimentos licitatórios também não constou

qualquer documento ou informação que esclarecesse o critério e/ou motivo que levaram à escolha das empresas que foram convidadas.

Nos autos dos três procedimentos licitatórios, depois do edital do

convite e do parecer jurídico já foi juntada a “declaração de recebimento”, documento único no qual as empresas convidadas lançaram seu carimbo e assinatura declarando que receberam o convite (fl. 163, do IC 0151.08.000036-8). Ou seja, nos três procedimentos não havia absolutamente nada que indicasse como se chegaram aos nomes das empresas convidadas e, muito menos, quais foram critérios utilizados para a escolha.

Destarte, resta evidente que nos três procedimentos inexistiu fase

interna e que, portanto, os convites foram “montados”, para dar aparência de legalidade à escolha prévia da empresa ROBERTO SILVA & CIA LTDA.

Outro elemento comprobatório dessas fraudes é o fato de que o

Contrato 119/2005, celebrado com a empresa ROBERTO SILVA & CIA LTDA., em decorrência do Convite 71/2005, cujo objeto era a realização dos concursos públicos, foi assinado em 28 de dezembro de 2005 (fl. 221, do IC 0151.08.000036-8), mas os editais dos concursos públicos, cuja elaboração competiria à empresa contratada, já tinham sido editados e assinados pelo requerido OSMAR TRENTINI, no dia anterior, 27 de dezembro de 2005 (fls. 21-22 e 72-73, do IC 0151.08.000036-8).

Ou seja, um dia antes da contratação da empresa que deveria

elaborar os editais dos concursos públicos a administração municipal já os tinha prontos, emitidos e assinados pelo prefeito.

2.2. Segundo elemento revelador das fraudes: a

entrega das cartas convites nos três procedimentos licitatórios. Nos três procedimentos licitatórios as cartas convites teriam sido

entregues pessoalmente em cidades distantes, mas sempre em tempo recorde. No Convite 25/2005, os atos antecedentes à entrega dos convites

teriam acontecido nos dias 30 e 31 de março de 2005, sendo desta última data a

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assinatura do edital e o parecer jurídico. E no mesmo dia 31 de março de 2005, o convite teria sido entregue – pessoalmente – para as empresas DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., e APOIO SUL LTDA., ambas com sede na cidade de Pato Branco – PR (fl. 21, do IC 10.000033-1). O convite da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., teria sido entregue no dia 04 de abril de 2005, na cidade de Curitiba-PR.

No Convite 71/2005, todos os atos do procedimento de licitação

que antecedem à entrega dos convites, com exceção apenas da solicitação de abertura, teriam ocorrido no dia 15 de dezembro de 2005, e neste mesmo dia também teria ocorrido a entrega dos convites para as empresas ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., com sede na cidade de Maringá-PR, e PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., com sede na cidade de Sarandi-PR (fl. 163, do IC 0151.08.000036-8). Para a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., o convite teria sido entregue no dia 16 de dezembro de 2005.

Já no Convite 18/2006, todos os atos precedentes teriam ocorrido

no dia 17 de fevereiro de 2006, com a entrega dos convites no dia 20 de fevereiro de 2006, para as empresas ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., de Maringá-PR, e ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., em Curitiba-PR, e no dia 21 de fevereiro de 2006, para a empresa SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., em Brasília-DF.

Nos três procedimentos licitatórios a entrega dos convites teria

ocorrido mediante uma “declaração de recebimento” feita em página única para as três empresas convidadas, onde a empresa, ao lado da sua identificação, lançava sua assinatura e carimbo. De modo que os convites somente poderiam ter sido entregues pessoalmente e, neste caso, em cada um dos procedimentos uma mesma pessoa teria que ter levado o convite para as três empresas, já que a “declaração de recebimento” tinha que viajar junto com a carta convite até a sede da empresa.

Assim, no dia 31 de março de 2005, mesmo dia da elaboração e

assinatura do edital e do parecer jurídico, um servidor público teria viajado para a cidade de Pato Branco para entregar o Convite 25/2005, para as empresas DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., e APOIO SUL LTDA., e no dia 04 de abril de 2005, teria viajado para Curitiba para entregar o mesmo convite para a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

No dia 15 de dezembro de 2005, mesmo dia em que foi realizado

praticamente todos os atos do procedimento, um servidor público teria viajado para as cidades de Maringá e Sarandi a fim de entregar o Convite 71/2005, para as empresas ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., e PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., e no dia 16 de dezembro de 2005, teria viajado para Curitiba para entregar o mesmo convite para a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

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Por fim, no dia 20 de fevereiro de 2006, um servidor público teria

viajado para as cidades de Maringá e Curitiba para entregar o Convite 18/2006, para as empresas ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., e ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., e no dia seguinte, 21 de fevereiro de 2006, o servidor já estaria na cidade de Brasília-DF para entregar o mesmo convite para a empresa SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA.

Ou, numa segunda hipótese para as entregas dos convites, nessas

mesmas datas os representantes das respectivas empresas teriam vindo até a cidade da Maria Helena, sempre trazendo consigo os carimbos de CNPJ de suas empresas, para receber os convites. Essa hipótese, entretanto, importaria em reconhecer que os representantes das empresas, ao menos nos Convites 25/2005 e 71/2005, tiveram conhecimento prévio da licitação, posto que no dia da elaboração e assinatura do edital já estariam na cidade de Maria Helena para receber o convite e assinar o respectivo recibo.

Ambas as hipóteses, como se vê, são material e economicamente

inviáveis, pois os custos de entrega dos convites seriam muito elevados em relação ao valor máximo dos serviços a serem contratados.

Diante disso, a única conclusão razoável é que os convites não

foram entregues na forma e nem nos dias que constam daquelas “declarações de recebimento”, sendo, portanto, documentos ideologicamente falsos.

2.3. Terceiro elemento revelador das fraudes: a inviabilidade de elaboração de proposta, nos três procedimentos, por falta de especificação do objeto.

A ausência de especificação do objeto a ser licitado, além de

revelar a fraude nos procedimentos em relação à fase interna, também é importante elemento revelador da fraude em relação à fase externa, posto que a exata delimitação do objeto, com suas especificidades, é elemento imprescindível para a elaboração das propostas por parte das licitantes.

No Convite 71/2005, destinado à contratação de serviços para a

organização e execução de dois concursos públicos, inclusive com elaboração, aplicação e correção de provas, quando do suposto envio dos convites somente eram conhecidos quais cargos e empregos públicos seriam objetos dos concursos (informação essa que, aliás, somente constou do edital do procedimento licitatório, não sendo referida na fase interna, conforme visto acima). Mas não havia qualquer informação quanto ao tipo das provas que a administração pretendia. Não havia especificação se as provas seriam compostas de questões objetivas, subjetivas ou mistas e qual a quantidade mínima de questões que deveria conter; se o concurso seria composto de uma ou mais fases; se haveria ou não provas práticas; se haveria ou não avaliação de títulos; e etc.

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Ou seja, durante todo o procedimento licitatório do Convite

71/2005, o serviço que se pretendia contratar não estava totalmente definido, mas mesmo assim as “empresas” convidadas apresentaram suas propostas de preços.

E nenhuma dessas propostas, especificou como seriam as provas,

se objetivas, subjetivas ou mistas; quais matérias seriam objeto de avaliação para cada cargo; se faria ou não provas práticas, e etc. Enfim, apresentaram apenas um valor para a realização de dois concursos públicos, sem especificar absolutamente nada de como tais concursos seriam realizados.

A omissão no Convite 71/2005, da quantidade e do tipo de

questões (objetiva, subjetiva, múltipla escolha, assertivas verdadeiras ou falsas, e etc.) que deveriam ser elaboradas e aplicadas nas provas dos concursos era elemento determinante na composição dos custos do serviço e, portanto, na definição dos preços a serem ofertados pelas empresas convidadas. É lógico, que quanto maior o número de questões ou mais complexo o tipo de prova, maior é a dificuldade na elaboração e correção das provas pelos profissionais responsáveis e, portanto, maior o custo do serviço a ser prestado.

Diante disso, é de se indagar como as empresas licitantes

definiram o preço para executar um serviço indeterminado? E, pior, como a Administração Municipal, comandada pelo requerido OSMAR TRANTINI, firmou um contrato sem especificar as características essenciais do serviço que contratava? Pois mesmo no contrato administrativo, não constou as especificidades dos concursos, ou seja, contratou-se um serviço indeterminado, sem definição de suas características essenciais.

A resposta mais razoável para essas indagações, é que a empresa

ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., na pessoa do requerido ROBERTO DA SILVA, já tinha prévio conhecimento, de modo informal, quanto às especificidades dos concursos públicos que seriam realizados e, assim, já estava previamente ajustada com a Administração Pública, então representada pelo requerido OSMAR TRENTINI.

E, as demais empresas, como sabiam que a licitação era uma

fraude para “validar” a contratação de ROBERTO DA SILVA, não precisavam se preocupar com tais questões técnicas, bastava apresentar e assinar uma proposta com valor inferior.

Aliás, conforme será visto mais adiante, nenhuma das empresas

convidadas sequer tinha capacidade para se “preocuparem” com as questões técnicas dos concursos.

Conclui-se, portanto, que para facilitar o direcionamento da

licitação em favor da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., os requeridos,

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proposital e dolosamente, optaram por escolher a modalidade de licitação do convite, do tipo menor preço (critério de julgamento), exatamente para afastar a obrigatoriedade de que as licitantes formulassem propostas técnicas (onde deveriam especificar como realizariam os concursos, com a indicação do tipo e quantidade de questões, do número de fases, da existência de provas práticas ou apenas teóricas, se com ou sem avaliação de títulos, etc., etc., etc.), já que nenhuma delas tinha capacidade para isso.

Logo, inevitável a conclusão de que o Convite 71/2008, não

passou de simulacro de licitação, uma fraude para dar aparência de legalidade à prévia escolha do requerido ROBERTO DA SILVA., por meio de sua empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

O mesmo aconteceu nos Convites 25/2005 e 18/2006, destinados

à contratação de prestação de serviços “de assessoria e planejamento na elaboração de projetos”, posto que também não especificavam quais os tipos de projetos, as quantidades mínimas e máximas, os valores que poderiam ser investidos, etc.

Ou seja, nesses dois convites, tecnicamente também era inviável

a formulação de propostas, já que as empresas não tinham como saber exatamente o que deveriam executar em futuro contrato. Mas mesmo assim, também apresentaram suas propostas, nas quais foi mantida a omissão.

Portanto, nos Convites 25/2005 e 18/2006, assim como no

Convite 71/2005, as empresas apresentaram suas propostas de preço para a execução de um serviço não especificado, o que revela a existência de ajuste prévio, já que honestamente ninguém formularia uma proposta de preços sem conhecer exatamente o que deveria fazer em caso de futuro contrato.

2.4. Quarto elemento revelador das fraudes: a

incapacidade técnica das empresas para executarem os serviços nos três procedimentos licitatórios.

O Convite 25/2005 tinha por objeto a “prestação de serviços de

Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social, no âmbito Federal”.

O Convite 18/2006, tinha objeto praticamente idêntico, qual seja a

“prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos e acompanhamento nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social, no âmbito Estadual e Federal”.

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Isso pressupunha, portanto, que para participar dos Convites 25/2005 e 18/2006, as empresas tivessem capacidade técnica em todas essas áreas do conhecimento. Vale dizer, que tivessem pessoal qualificado e efetivamente atuassem nas áreas de educação, esporte, agricultura, meio ambiente, saúde, cultura, indústria, comércio, urbanismo e assistência social.

Já o Convite 71/2005, teve por objeto a realização de 02 (dois)

concursos públicos, abrangendo a elaboração, aplicação e correção de provas, para os cargos públicos de Professor de Educação Física, Assistente Social, Motorista, Auxiliar de Enfermagem, Médico Pediatra, Psicólogo, Farmacêutico, Fisioterapeuta, Veterinário, Mecânico Auxiliar de Serviços Gerais, Lubrificador e Técnico em Recursos Humanos, e para os empregos públicos de Médico, Enfermeiro, Auxiliar de Enfermagem, Dentista, Auxiliar de Consultório Dentário, Agente Comunitário de Saúde, Técnica em Higiene Dentária, Psicólogo, Assistente Social, Auxiliar Administrativo e Orientador Social (fls. 156-157, do IC 0151.08.000036-8).

Assim, era pressuposto básico para participar do Convite 71/2005,

que a empresa atuasse na área de organização e realização de concursos públicos e que tivesse em seu quadro de pessoal ou que, no mínimo, mantivesse contratos com profissionais, em todas essas áreas do conhecimento que seriam objeto de avaliação no concurso, em especial para os cargos de nível superior, como de médico, psicólogo, farmacêutico, fisioterapeuta, veterinário, enfermeiro, odontólogo, etc.

No entanto, nenhuma das empresas participantes dos três

convites tinha qualificação técnica para realizar qualquer desses serviços. No Convite 25/2005, foram convidadas as empresas DALL PRESS

ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., APOIO SUL LTDA., e ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA, então denominada SILVA & SORRILHA LTDA.

No Convite 18/2006, foram convidadas as empresas ADM

CONTABILIDADE AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e, novamente, ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

E no Convite 71/2005, destinado aos concursos públicos, foram

convidadas as empresas ADM CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., e ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA, declarada vencedora nos três certames.

Vejamos, portanto, qual era a qualificação técnica e a área de

atuação de cada uma dessas empresas. 2.4.1. A atividade da empresa Dall Press Assessoria e

Consultoria Ltda.

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À época do Convite 25/2005, do qual participou, a empresa DALL

PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., segundo consta do seu contrato social com a sexta alteração, era integrada por VALMIR DALLACOSTA, psicólogo, VILSON DALA COSTA, comerciante, e MARISTELA ALBANI DALA COSTA, matemática, e tinha como objeto social a “representação comercial, marketing, serviços de psicologia, assessoria e consultoria de recursos humanos e organizacional, publicitária e de imprensa, promoções e eventos políticos, culturais e sociais, auditoria tributária, financeira e organizacional, pesquisas mercadológicas e políticas” (fls. 763-766, do IC 10.000033-1).

Ou seja, formalmente suas atividades não tinham nenhuma

relação com as áreas de “Educação, Esporte, Agricultura, Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social”.

No máximo, em razão das atividades de psicologia e consultoria

em recursos humanos, poderia ter parcial relação com as áreas de educação, esporte, saúde e assistência social. Mas, a toda evidência, não tinha qualquer relação com as demais áreas (agricultura, meio ambiente, indústria, comércio e desenvolvimento urbano) nas quais também se proporia a prestar assessoria na elaboração de projetos.

2.4.2. A atividade da empresa Apoio Sul Ltda. A empresa APOIO SUL LTDA., à época do Convite 25/2005, único

do qual participou, era integrada pelas pessoas de ELISA VILMA SCHENKEL DALETESE, MARIA ZELLA DALETESE e MARCELO DALETESE, as duas primeiras qualificadas no contrato social como “empresárias” e o segundo como “advogado”. E tinha como atividade econômica, a “Assessoria em Comunicação e Marketing para empresas; assessoria de imprensa; elaboração de textos para jornais, revistas, impressos, livros, documentários, propagandas e publicidades, filmagens para vídeos, produções e gravações; serviços de fotografia; serviços de artes gráficas; organização de festas e eventos; pesquisas de mercado e opinião pública” (fls. 773-779, do IC 10.000033-1).

Ou seja, a empresa também não exercia nenhuma atividade que

tivesse relação com as áreas de “Educação, Esporte, Agricultura, Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social”.

2.4.3. A atividade da empresa SPEC Consultoria Financeira

Ltda. A empresa SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA, à época do

Convite 18/2006, único do qual participou, havia sido constituída em novembro

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de 2005 (o convite ocorreu em fevereiro de 2006) por LINDOMAR JOSÉ DA SILVA e IZABEL CARNEIRO DA SILVA, qualificados no contrato social, respectivamente, como “comerciante” e “funcionária pública”, e tinha como atividade “Serviços de consultoria com elaboração de projetos econômicos e financeiros” (fls. 641-644, do IC 10.000033-1).

Portanto, também não exercia atividade relacionada com

“Educação, Esporte, Agricultura, Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social” e, como tal, não tinha qualificação técnica para elaborar projetos nessas áreas.

2.4.4. A atividade da empresa PROGOV Assessoria Pública

Ltda. A empresa PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., à época do

Convite 71/2005 (destinado à realização dos concursos públicos), único do qual participou, tinha como sócios as pessoas de GUSTAVO CESAR DELGADO, “programador”, MARIO AZANHA, “técnico em eletrônica”, e CLEBER FELTRACO, também “programador”, e tinha por objeto social o “desenvolvimento e manutenção de sistemas, consultoria, assessoria, planejamento, análise de sistemas e prestação de serviços a entidades públicas e privadas” (fls. 341-345, do IC 0151.08.000036-8).

Ou seja, sua atividade econômica não tinha nenhuma relação com

a organização e realização de concursos públicos, muito menos capacidade técnica para elaborar, aplicar e corrigir provas para cargos de nível superior na área de saúde, como médico, dentista, farmacêuticos, psicólogos, etc., objeto dos serviços que se pretendia contratar pelo Convite 71/2005.

Aliás, na sua inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

constava que a atividade da empresa PROGOV seria apenas “suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação” (fl. 326, do IC 0151.08.000036-8).

2.4.5. A atividade da empresa ADM Contabilidade,

Auditoria e Planejamento Ltda. A empresa ADM CONTABILIDADE AUDITORIA E PLANEJAMENTO

LTDA., que participou do Convite 71/2005 (assessoria e planejamento na elaboração de projetos) e do Convite 18/2006 (realização de concursos públicos), a partir da quarta alteração de seu contrato social, ocorrida em 31 de agosto de 2004, passou a ter como sócios as pessoas de DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN e DIRCE GALDINO, respectivamente, “contador” e “engenheira civil”.

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E seu objeto social que era a “prestação de serviços contábeis, assessoria fisco contábil; consultoria empresarial, tributária, trabalhista, previdenciária, financeira e fiscal; divulgação de jornais e revistas via internet na área contábil e administrativa”, nesta mesma alteração contratual, passou a também incluir a “elaboração de concurso público” e mais a “prestação de serviços com planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas, cidades, obras, estruturas, transportes, explorações de recursos naturais e desenvolvimento de produção industrial e agropecuária, estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e divulgação técnica, ensino, pesquisa, experimentação e ensaios, fiscalização de obras e serviços técnicos, direção de obras e serviços técnicos, execução de obras e serviços técnicos, elaboração de plano diretor, projetos e execução na área ambiental, saneamento, tratamento de resíduos, hidráulica, hidrologia, recursos hídricos rurais e urbanos, projetos rurais e urbanos e EIA-RIMA, inclusive as atribuições previstas no art. 7º combinado com o Art. 25 da Resolução nº 218 de 29/06/1973 do CONFEA” (fls. 195-199, do IC 0151.08.000036-8).

Ou seja, a partir de sua quarta alteração social, ocorrida em 31 de

agosto de 2004, a ADM CONTABILIDADE AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., tornou-se uma “super” e extraordinária “empresa”, capaz de fazer quase tudo e mais um pouco. Mas, contraditoriamente, era composta por apenas dois sócios, um contador e uma engenheira civil, e tinha um capital social – para realizar todas aquelas atividades – de apenas R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

Ora, é evidente que uma “empresa” com um rol de atividades

econômicas tão extenso e variado, mas que possui apenas dois sócios e capital social ínfimo (em relação ao rol de atividades), não pode ter especialidade em nenhuma das atividades econômicas a que se propõe, posto que é material e humanamente impossível se especializar em alguma coisa quando ao mesmo tempo se propõe a executar inúmeras atividades tão distintas entre si.

As únicas áreas em que esta “empresa” poderia ser especializada

seriam a contabilidade e a engenharia civil. Mas nos concursos públicos objeto do Convite 71/2005, não havia oferta de cargos em nenhuma dessas áreas do conhecimento, e no Convite 18/2006 exigia-se conhecimentos técnicos, para planejamento e elaboração de projetos, nas áreas de educação, esporte, agricultura, meio ambiente, saúde, cultura, indústria, comércio, desenvolvimento urbano e assistência social.

Aliás, no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídica constava que a

atividade da sociedade ADM CONTABILIDADE, seria apenas “contabilidade”, nada mais que isso (fl. 325, do IC 0151.08.000036-8).

Além disso, tecnicamente a ADM – CONTABILIDADE E AUDITORIA

LTDA – ME, não era uma empresa propriamente dita, posto que constituída na forma de sociedade simples e não empresarial. Seus atos constitutivos foram registrados no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e não na Junta Comercial, de

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modo que, juridicamente, não exercia e não poderia exercer atividade empresarial.

Como é cediço, o principal elemento da atividade empresarial é a

organização dos seus demais elementos integrantes da empresa (tais como imóveis, móveis, equipamentos, pessoal, propriedade industrial, know how, etc.). Ocorre que esse elemento – organização empresarial – não existe nas sociedades simples, é um elemento que juridicamente existe apenas nas sociedades empresariais. Daí, ser possível afirmar que a ADM CONTABILIDADE E AUDITORIA LTDA – ME, não era uma empresa, posto que não tinha a chamada organização empresarial.

É certo que o fato de não ser uma “empresa”, não torna a

sociedade simples incapaz de exercer a atividade econômica a que se propõe, desde que compatível com sua condição. Mas é igualmente certo, que a ausência do elemento empresarial a torna incapaz de exercer atividades que exijam a organização própria da atividade empresarial, como no caso da ADM, cujo rol de atividades que se propunha a exercer era tão grande e variado, que certamente lhe exigiria uma extraordinária organização empresarial.

Destarte, a conclusão óbvia é que a ADM CONTABILIDADE,

AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., não tinha condições técnicas de realizar o objeto de nenhum dos convites dos quais teria participado.

2.4.6. A atividade da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA

LTDA. A empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., que participou e

“venceu” os três procedimentos licitatórios, foi constituída em setembro de 2003, sob a denominação SILVA & SORRILHA LTDA., pelas pessoas de JANIRA APARECIDA DO AMARAL FRANÇA SORRILHA, advogada, e ROBERTO DA SILVA, qualificado no contrato social como “empresário”, para exercer a atividade de “organização de festas e eventos” (fls. 438-440, do IC 10.000033-1).

Posteriormente, em fevereiro de 2005, a partir de sua segunda

alteração contratual, a “advogada” JANIRA APARECIDA deixou a sociedade e em seu lugar ingressou a “turismóloga” ANA PAULA ZAGO UDENAL, sua denominação foi alterada para ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., e a atividade social passou a ser “serviços de organização de festas e eventos, seminários, congressos, treinamentos de capacitação na área pública e privada, assessoria e consultoria, gestão empresarial, projeto e planejamento turístico” (fls. 442-443, do IC 10.000033-1).

Somente em junho de 2006, portanto depois da conclusão do

Convite 71/2005 (para execução dos concursos), com a quinta alteração social, é que a empresa incluiu em suas atividades a realização de concursos públicos,

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além de várias outras atividades que também foram incluídas nesta mesma ocasião (fl. 360, do IC 0151.08.000036-8).

Ou seja, em dezembro de 2005, quando da realização do Convite

071/2005, a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., não estava formalmente habilitada a formular e aplicar provas em concursos públicos e materialmente era habilitada apenas para organizar festas e eventos.

E mais, tecnicamente também nunca esteve habilitada a prestar

assessoria na elaboração de projetos nas áreas de educação, esporte, agricultura, meio ambiente, saúde, cultura, indústria e comércio, desenvolvimento urbano e assistência social, objeto dos Convites 25/2005 e 18/2006, dos quais participou e também foi declarada vencedora.

Ainda em relação à empresa ROBERTO DA SILVA & CIA TLDA., já

que declarada vencedora nos três convites em questão, cabem mais algumas considerações.

Em junho de 2007, com a sexta alteração contratual, a sua sede

que era em Curitiba foi formalmente transferida para a Rua Desembargador Munhoz de Melo, 5400, sala 2, nesta Cidade de Umuarama-PR. No mesmo ato, também foi criada uma filial na Rua Sinop, 631, na cidade de Iporã-PR (fl. 361, do IC 0151.08.000036-8). E em dezembro de 2007, com a sétima alteração contratual, a empresa passou a ser denominada AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA.

Ocorreu que, em abril de 2011, o Ministério Público promoveu

diligência na sede da empresa para verificar a sua existência física e instalações e, assim, reunir elementos para aferir a sua capacidade, ao menos estrutural, de executar os serviços para os quais fora contratada.

Nesta diligência, executada por um Oficial de Promotoria, foi

apurado que no endereço da empresa em Umuarama existiam três salas internas, formadas por divisórias, nas quais funcionavam dois escritórios de advocacia e mais a empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA., identificada no local pelo nome fantasia EXATUS. Também se constatou, que os dois escritórios de advocacia e mais a empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA, compartilhavam os serviços de secretária de uma única pessoa, identificada apenas por PATRÍCIA, a qual informou que ROBERTO SILVA permanecia a maior parte do tempo na cidade de Iporã (fl. 379, do IC 0151.08.000036-8).

Ou seja, na cidade de Umuarama, a empresa AVR ASSESSORIA

TÉCNICA, antiga ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., não tinha uma estrutura própria e organizada, apenas utilizava uma sala dentro de um escritório de advocacia, com o qual compartilhava os serviços de uma mesma secretária.

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Com o mesmo desiderato, o Ministério Público requisitou à empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA, cópia das provas, gabaritos e respostas dos candidatos nos concursos que teria realizado em decorrência do Convite 71/2005, bem como a comprovação da qualificação técnica dos profissionais responsáveis pela elaboração e correção das provas (fl. 230, do IC 0151.08.000036-8).

No entanto, a resposta do requerido ROBERTO DA SILVA foi

evasiva, informando apenas que não tinha esses documentos em arquivo porque já havia se passado mais de 05 anos, mas não disse absolutamente nada a respeito da qualificação técnica dos profissionais responsáveis pela elaboração e correção das provas (fl. 332, do IC 0151.08.000036-8).

Diante disso, o Ministério Público reiterou a diligência, procurando

entregar o ofício requisitório diretamente ao requerido ROBERTO DA SILVA, na cidade de Iporã.

No entanto, por três vezes a diligência resultou infrutífera, sendo

que o requerido ROBERTO DA SILVA, ou mesmo sua sócia ANA PAULA, não foram encontrados no endereço da suposta filial da empresa na cidade de Iporã.

O primeiro ofício foi enviado por correspondência com AR, sendo

recebido no endereço da empresa por CAROLINE ZAGO, possivelmente parente de ANA PAULA ZAGO UDENAL, sócia de ROBERTO DA SILVA na empresa (fls. 386 e verso, do IC 0151.08.000036-8), mas não houve resposta. Na segunda tentativa o ofício foi entregue, via precatória, pelo Oficial da Promotoria de Iporã pessoalmente na sede da empresa, onde foi recebida pela pessoa de CAROLINE TONIN, posto que nenhum dos sócios da empresa encontrava-se no local (fls. 399 e 400, do IC 0151.08.000036-8). Na terceira e derradeira tentativa, também por precatória, o ofício foi entregue pessoalmente no endereço da empresa AVR em Iporã, mas por descuido do Oficial de Promotoria a pessoa que o recebeu não foi identifica (fls. 408-409, do IC 0151.08.000036-8). Nenhum dos ofícios foi respondido.

Fato é que, apesar do ofício requisitório ter sido entregue por três

vezes consecutivas no endereço da empresa na cidade de Iporã, a empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA., e/ou o requerido ROBERTO DA SILVA não prestou qualquer informação acerca da qualificação técnica dos responsáveis pela elaboração e aplicação das provas naqueles concursos públicos que realizou em decorrência do Convite 71/2005.

Cumpre registrar, por fim, que em 09 de fevereiro de 2006, pelas

Portarias 13 e 14/2006 o requerido OSMAR TRANTINI nomeou o próprio ROBERTO DA SILVA e mais as pessoas de CAROLINE LARITA ZAGO e LENI MULLER SILVEIRA, cujas qualificações pessoais e técnicas são desconhecidas, para comporem a banca examinadora de ambos os concursos públicos contratados com a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA. (fls. 52 e 116, do IC 0151.08.000036-8).

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Reitere-se, a qualificação pessoal e técnica dessas pessoas é

totalmente desconhecida, posto que apesar dos reiterados ofícios requisitórios o requerido ROBERTO DA SILVA e sua empresa nunca prestaram tais informações ao Ministério Público.

Por fim, atendendo a requisição Ministerial, o Ministério do

Trabalho, por meio da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado do Paraná, informou que a empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA., antiga ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., não possuía nenhuma informação registrada no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (fl. 410, do IC 0151.08.000036-8), deixando claro que a mesma nunca teve sequer um funcionário formalmente registrado.

Destarte, resta evidente que a empresa ROBERTO DA SILVA &

CIA LTDA., nunca teve qualificação técnica para realizar aqueles concursos. Como também resta comprovado que o requerido OSMAR

TRENTINI, tinha conhecimento disso, posto que apesar de contratar a empresa para realizar o concurso, inclusive para elaboração, aplicação e correção das provas, constituiu uma banca examinadora composta por apenas três pessoas de qualificações profissionais ignoradas, para cumprir esta tarefa nos dois concursos.

Vale lembrar, que os concursos públicos visavam o

preenchimento, dentre outros, dos cargos de Professor de Educação Física, Assistente Social, Médico Pediatra, Psicólogo, Farmacêutico, Fisioterapeuta, Veterinário, e dos empregos públicos de Médico, Enfermeiro, Auxiliar de Enfermagem, Dentista, Agente Comunitário de Saúde, Psicólogo, Assistente Social, Auxiliar Administrativo e Orientador Social. E que, portanto, os examinadores deveriam reunir qualificação profissional em todas essas áreas do conhecimento humano.

2.5. Quinto elemento revelador das fraudes: os convites

realizados por outros municípios com o mesmo objeto, com a participação das mesmas empresas e também “vencidos” pela empresa requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

Como visto nos tópicos anteriores, a empresa do requerido

ROBERTO DA SILVA foi contratada pelo Município de Maria Helena, então sob o comando do requerido OSMAR TRENTINI, por três vezes consecutivas, por meio dos convites 25/2005, 71/2005 e 18/2006.

O Convite 25/2005, teve por objeto contratar a “prestação de

serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito

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Federal” e o Convite 18/2006 a “prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos e acompanhamento nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito Estadual e Federal” .

Ocorre que, no mesmo período, o requerido ROBERTO DA SILVA,

por meio de sua empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., também teria participado e vencido licitações, também na modalidade de convite, para prestar os mesmos serviços em vários outros municípios da região. E, pior, nos outros municípios as empresas convidadas foram praticamente as mesmas.

2.5.1. O Convite do Município de Esperança Nova. Em março de 2005, a empresa do requerido ROBERTO DA SILVA

participou e “venceu” o Convite 19/2005 do Município de Esperança Nova, cujo objeto era a “contratação de empresa de assessoria e planejamento na elaboração de projetos ao município (serviços técnicos) no período e abril/2005 a 31/01/2006” (fls. 913-956, do IC 10.000033-1).

Neste convite, além da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA

LTDA., também teriam participado as empresas DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., representada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA, e APOIO SUL LTDA., representada pelo requerido MARCELO DALETESE. Ou seja, exatamente as mesmas empresas que teriam concorrido no Convite 25/2005 do Município de Maria Helena.

O contrato com o Município de Esperança Nova foi assinado em

08 de abril de 2005, e estabeleceu a remuneração mensal de R$ 2.000,00 (dois mil reais), pela prestação daqueles serviços até 31 de janeiro de 2006, mas foi prorrogado até 30 de novembro de 2006 (fls. 952-955, do IC 10.000033-1).

2.5.2. O Convite do Município de Cidade Gaúcha. Também em março de 2005, a empresa do requerido ROBERTO

DA SILVA participou e “venceu” o Convite 11/2005 do Município de Cidade Gaúcha, cujo objeto era a “prestação de serviços especializados em assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comercio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social por um período de 12 meses” (fls. 1.094-1.113, do IC 10.000033-1).

No Município de Cidade Gaúcha, além da empresa ROBERTO DA

SILVA & CIA LTDA, também teriam participado as empresas DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., representada pelo requerido VALMIR

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DALLACOSTA, e APOIO SUL LTDA., representada pelo requerido MARCELO DALETESE.

Ou seja, exatamente as mesmas empresas que teriam concorrido

no Convite 25/2005 do Município de Maria Helena e no Convite 19/2005 do Município de Esperança Nova.

O contrato com o Município de Cidade Gaúcha foi assinado pelo

requerido ROBERTO DA SILVA, em 11 de abril de 2005, estabelecendo a valor total de R$ 12.000,00 (doze mil reais) pela prestação daqueles serviços até 31 de dezembro de 2005 (fls. 1.114-1.117, do IC 10.000033-1).

2.5.3. O Convite do Município de Terra Roxa. Ainda em março de 2005, a empresa do requerido ROBERTO DA

SILVA participou e “venceu” o Convite 25/2005 do Município de Terra Roxa, cujo objeto era a “prestação de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social” (fls. 1.240-1.307, do IC 10.000033-1).

No Município de Terra Roxa, a requerida ROBERTO DA SILVA &

CIA LTDA., também teria concorrido com as empresas, APOIO SUL LTDA., agora representada por ELISA VILMA SCHENKEL DALETESE, e DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., representada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA.

Ou seja, exatamente as mesmas empresas que teriam concorrido

no Convite 25/2005 do Município de Maria Helena, no Convite 19/2005 do Município de Esperança Nova, e no Convite 11/2005 do Município de Cidade Gaúcha.

O contrato com o Município de Terra Roxa, foi assinado em 22 de

abril de 2005, comprometendo-se o requerido ROBERTO DA SILVA, por meio de sua empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., a prestar os serviços acima descritos durante 8 (oito) meses, mediante a remuneração de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) por mês (fls. 1.308-1.313, do IC 10.000033-1).

2.5.4. O Convite do Município de Xambrê Ainda em março de 2005, a empresa ROBERTO DA SILVA & CA

LTDA., também teria participado e “vencido” o Convite 10/2005 do Município de Xambrê, cujo objeto era a “prestação de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de educação,

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esporte, agricultura e meio ambiente, saúde, cultura, indústria e comércio, desenvolvimento urbano e assistência social” (fls. 1.762-1.788, do IC 10.000033-1).

No Município de Xambrê, além da empresa do requerido

ROBERTO DA SILVA, também figurou como convidadas as empresas APOIO SUL LTDA., e DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA..

O contrato com o Município de Xambrê foi assinado em 29 de

março de 2005, estabelecendo a remuneração de R$ 2.300,00 (dois mil e trezentos reais) por mês, para executar os serviços acima descritos por um período de 12 (doze) meses (fls. 1.758-1.759, do IC 10.000033-1).

2.5.5. O Convite do Município de Francisco Alves. Entre março e abril de 2005, a empresa do requerido ROBERTO

DA SILVA participou e “venceu” o Convite 06/2005 do Município de Francisco Alves, cujo objeto era “a prestação de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de educação, esporte, agricultura e meio ambiente, saúde, cultura, indústria e comércio, desenvolvimento urbano e assistência social junto a esfera federal e estadual” (fls. 1.663-1.752 , do IC 10.000033-1).

Neste convite, a requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA. teria

concorrido com as empresas APOIO SUL LTDA., representada por ELISA VILMA SCHENKEL DALETESE, e DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., representada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA.

Ou seja, as mesmas empresas que teriam concorrido nos Convites

25/2005 do Município de Maria Helena e nos convites dos Municípios de Esperança Nova, Cidade Gaúcha e Terra Roxa, conforme acima referidos.

O contrato com o Município de Francisco Alves foi assinado em 14

de abril de 2005, estabelecendo que pela prestação dos serviços, no período de 12 (doze) meses, a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., receberia a quantia R$ 900,00 (novecentos reais) mensais - (fls. 1.753-1.755, do IC 10.000033-1).

2.5.6. O Convite do Município de Pérola. Em junho de 2005, a empresa do requerido ROBERTO DA SILVA,

participou e “venceu” o Convite 46/2005 do Município de Pérola, cujo objeto era a “contratação de empresa do ramo para a realização de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Industria e

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Comércio Desenvolvimento Urbano e Assistência Social” (fls. 853-912, IC 10.000033-1).

Neste convite, além da requerida ROBERTO DA SILVA & CIA

LTDA., também teriam participado as empresas ADM CONTABILIDADE AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., representada pelo requerido DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN, APOIO SUL LTDA., representada pelo requerido MARCELO DALETESE, e DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., representada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA.

Ou seja, exatamente as mesmas empresas que teriam concorrido

nos convites promovidos pelo Município de Maria Helena. O contrato com o Município de Pérola foi assinado em 06 de julho

de 2005, e estabeleceu a remuneração de R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais) mensais pela prestação daqueles serviços por um período de 12 (doze) meses - (fls. 903-904, IC 10.000033-1).

2.5.7. O convite do Município de Cafezal do Sul. Em julho de 2005, a requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.,

participou e “venceu” o Convite 28/2005 do Município de Cafezal do Sul, cujo objeto era a “prestação de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento Urbano e Assistência Social.” (fls. 1.600-1.647, do IC 10.000033-1).

Neste Convite, a empresa do requerido ROBERTO DA SILVA, teria

concorrido com a DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., representada pelo requerido VALMIR DALLACOSTA, e com a ADM CONTABILIDADE AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., representada pelo requerido DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN.

Ou seja, as mesmas empresas que também teriam concorrido nos

convites do Município de Maria Helena. O contrato com o Município de Cafezal do Sul foi assinado em 13

de julho de 2005, estabelecendo que a requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA. prestaria os serviços acima descritos, até 20 de janeiro de 2006, mediante a remuneração total de R$ 11.700,00 (onze mil e setecentos reais), a ser pago em parcelas mensais, mas de valor não especificado (fls. 1.648-1650, do IC 10.000033-1).

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2.6. Sexto elemento revelador das fraudes: a suposta prestação de serviços de assessoria no planejamento e elaboração de projetos nas áreas de educação, esporte, agricultura, meio ambiente, saúde, cultura, indústria, comércio, desenvolvimento urbano e assistência social.

Conforme inicialmente narrado, no Município de Maria Helena, o

Convite 25/2005, que resultou no Contrato 49/2005, teve por objetivo a “prestação de serviços especializados de assessoria e planejamento na elaboração de projetos nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito Federal” e o Convite 18/2006, que resultou no Contrato 24/2006, teve por objetivo a “prestação de serviços de Assessoria e Planejamento na elaboração de Projetos e acompanhamento nas áreas de Educação, Esporte, Agricultura e Meio Ambiente, Saúde, Cultura, Indústria e Comércio, Desenvolvimento urbano e Assistência Social, no âmbito Estadual e Federal” .

No entanto, conforme visto no tópico anterior, no mesmo período,

o requerido ROBERTO DA SILVA, por meio de sua empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., também foi contratado por vários outros municípios da região, para prestar exatamente o mesmo tipo de serviço de assessoria no planejamento e elaboração de projetos, e em todos esses outros municípios, a contratação fora precedida de convite, nos quais teria concorrido sempre com as mesmas empresas.

Ocorreu, ainda, que em todos esses municípios, inclusive Maria

Helena, os projetos apresentados pela requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., eram basicamente os mesmos, com pequenas diferenças. Esses projetos, praticamente iguais para todos os municípios, foram utilizados como comprovação de execução dos serviços e justificativa para os pagamentos mensais.

No Município de Maria Helena, o requerido ROBERTO DA

SILVA, por sua empresa ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA., teria apresentado os seguintes projetos:

Abril de 2005: “Ministério Indústria e Comércio: Telecentro.

Ministério Desenvolvimento Social: Projeto agente jovem; Programa Erradicação do trabalho infantil; Programa sentinela; Programa de atenção integral a família-PAIF” (fls. 53-64, do IC 10.000033-1).

Maio de 2005: “Ministério Desenvolvimento Social e Combate a

Fome: Programa Sentinela R$ 119.388,89; PAIF – Programa de Atenção Integral à Família R$ 139.993,14” (fls. 65-72 do IC 10.000033-1).

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Junho de 2005: “Ministério do Esporte: 1) Construção de Quadra Coberta R$ 148.000,00” (fls. 73-76, do IC 10.000033-1) e “Reforma Ginásio de Esportes Moacir Pacheco” (fls. 387-415, do IC 10.000033-1).

Julho de 2005: “Ministério Desenvolvimento Social e Combate a

Fome: PAIF-Programa de Atenção Integral a Família; PETI-Programa Erradicação do Trabalho Infantil; Agente Jovem R$ 125.000,00; Sentinela. Ministério Comunicação: Telecentro R$ 51.500,00. Ministério Educação: Formação Continuada de Professores de Apoio R$ 6.870,00” (fls. 77-129, do IC 10.000033-1).

Agosto de 2005: “Ministério Educação – Material Didático R$

1.792,10. Ministério Desenvolvimento Social – Centro de Geração de Renda R$ 149.924,44; Centro de Convivência do Idoso R$ 217.361,19. Ministério Assistência Social – R$ 33.325,00” (fls. 130-175, do IC 10.000033-1).

Outubro de 2005: “Ministério Desenvolvimento Indústria e

Comércio – Construção de Barracão Industrial R$115.000,00” e “Barracão Industrial 600m²” (fls. 176-191, 341-362 e 370-385, do IC 10.000033-1).

Dezembro de 2005: “Ministério Integração Nacional: Reforma

Creche R$ 38.398,00; Projeto de pavimentação Asfáltica R$ 105.000,00; Casa do Idoso R$ 78.858,02. Ministério das Comunicações: Telecentro R$ 103.674,00. Ministério da Educação: Ampliação de Escolas R$ 189.602,94. Ministério Desenvolvimento Agrário: Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar R$ 80.000,00” (fls. 192-261, do IC 10.000033-1).

Março de 2006: “Ministério da Justiça – Recuperação e

Preservação Nascente de Rios R$ 142.800,00. Ministério das cidades: Pavimentação Asfáltica R$ 125.660,00. Funasa – Resíduos Sólidos R$85.000,00; Esgotamento Sanitário R$ 250.000,00; Resíduos Sólidos R$182.000,00;” (fls. 672-689, do IC 10.000033-1).

Abril de 2006: “Ministério da Educação: Formação continuada

R$ 11.425,00; Ações de apoio educacional R$ 42.420,00” (fls. 690-705, do IC 10.000033-1).

Junho de 2006: “Ministério da Saúde: 1) Equipamento material

permanente R$ 29.160,00. 2) Medicamento material hospitalar R$ 51.500,00” (fls. 706-715, do IC 10.000033-1).

Setembro 2006: “Ministério da Saúde: 1) Ampliação Unidade de

Saúde R$ 139.050,00. 2) Aquisição de Unidade móvel de saúde R$ 35.020,00” (fls. 716-724, do IC 10.000033-1).

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No Município de Esperança Nova, o requerido ROBERTO DA SILVA, teria apresentado os seguintes projetos:

Maio de 2005: “Ministério do Desenvolvimento Social: 1-

Programa sentinela – R$ 121.313,31; 2 – Programa de Erradicação do Trabalho infantil-PETI; 3 – Programa de Atenção Integral a Família – PAIF; 4 – Projeto Agente Jovem – R$ 25.000,00; Barracão Industrial R$ 155.903,00” (fls. 973-997, do IC 10.000033-1).

Junho de 2005: “Ministério da Educação: 1 – Formação

Continuada de Professores R$ 11.952,68. Ministério do Esporte: 1 – Construção Quadra Coberta R$ 145.000,00. Pavimentação Asfáltica R$ 210.818,00” (fls. 998-1.008, do IC 10.000033-1).

Julho de 2005: “Ministério Desenvolvimento Social: Programa

Agente Jovem; Programa Sentinela; Programa de Atenção Integral a Família” (fls. 1.009-1.025, do IC 10.000033-1).

Agosto de 2005: “Ministério do Desenvolvimento Social; 1)

Construção Centro de Múltiplo Uso – R$ 149.738.84, 2) Construção Centro de Convivência do Idoso R$ 217.361,19, 3) Centro de Geração de Rendas R$ 149.924,44, 4) Centro da Juventude R$ 131.521,40 / Ministério da Educação: 1) Aquisição de Material didático R$ 6.120,00” (fls. 1.026-1.079, do IC 10.000033-1).

Outubro de 2005: “Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento: 1) Aquisição de patrulha mecanizada R$ 241.945,00” (fls. 1.080-1.093, do IC 10.000033-1).

No Município de Cidade Gaúcha, o requerido ROBERTO DA

SILVA, teria apresentado os seguintes projetos: Abril de 2005: “Funasa: 1) Abastecimento de água – R$

150.000,00; 2) Melhorias sanitárias domiciliares R$ 151.000,00; 3) Sistemas de Resíduos Sólidos – R$ 404.000,00” (fls. 1.120-1.124, do IC 10.000033-1).

Maio de 2005: “Telecentro; Projeto PAIF – Programa de

Atenção Integral à Família - Ministério do desenvolvimento social” (fls. 1.125-1.138, do IC 10.000033-1).

Junho de 2005: “Ministério do Esporte: Quadra Coberta R$

128.000,00” (fls. 1.139-1.142, do IC 10.000033-1). Julho de 2005: “Ministério da Educação: 1) Ações de Apoio a

programas do MEC – R$ 31.500,00. Ministério do Esporte: 1- Programa 2º Tempo R$ 66.480,00. Barracão Industrial R$ 145.082,00. Barracão Industrial R$ 139.624,00.” (fls. 1.143-1.178, do IC 10.000033-1).

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Agosto de 2005: “Ministério da Educação: Material Didático R$

13.106,00; Atividades Específicas para Publico Alvo R$ 25.145,50; Ministério de Assistência Social R$ 139.521,40: Centro de Geração de Renda R$ 149.924,44; Centro de Atendimento R$ 84.516,03; Centro de Convivência R$ 217.361,19” (fls. 1.179-1.239, do IC 10.000033-1).

No Município de Terra Roxa, o requerido ROBERTO DA SILVA,

teria apresentado os seguintes projetos: Abril de 2005: “Ministério da Indústria e Comércio; Telecentro

Comunitário” (fls. 1.319-1.325, do IC 10.000033-1). Maio de 2005: “Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento: Aquisição de Patrulha mecanizada R$ 148.350,00. Ministério da Saúde: Atendimento à População com medicamentos R$ 20.000,00” (fls. 1.326-1.347, do IC 10.000033-1).

Junho de 2005: “Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio: Projeto Telecentro; Ministério do Esporte: Construção de Quadra Coberta R$ 145.000,00; Ministério Nacional da Cultura: Projeto Fazendo História através do teatro R$ 33.600,00, Acervo bibliográfico R$ 19.255.” e “Ministério do Desenvolvimento Social: 1) Agente Jovem. 2) Programa Sentinela.” (fls. 1.348-1.402, do IC 10.000033-1).

Julho de 2005: “Ministério da Educação: Formação continuada

de Profissionais de Apoio R$ 14.411,80. Projeto de ações complementares R$ 67.290,00. Ministério do Desenvolvimento Social: 1) Peti; 2) PAIF” (fls. 1.403-1.441, do IC 10.000033-1).

Agosto de 2005: “Ministério da Educação: Material Didático R$

24.409,90. Ministério do Estado de Assistência Social: Aquisição de material de consumo R$ 40.000,00” e “Ministério do Estado de Assistência Social: 1) Projeto Centro de Juventude R$ 139.521,40. 2) Construção de creche R$ 167.650,41. 3) Centro de geração de renda R$ 149.924,44. 4) Construção de Centro de Atendimento à Família R$ 84.516,00.” e “Ministério da Educação: 1) Aquisição de material didático R$ 24.409,90. 2) Capacitação de Professores Ensino Fundamental R$ 85.320,00” (fls. 1.442-1.561, do IC 10.000033-1).

Novembro de 2005: “Ministério do Estado da Integração Nacional:

1) Pavimentação asfáltica R$ 105.000,00, 2) Construção de Centro de Educação Infantil R$ 89.127,58. 3) Lama asfáltica. R$ 210.000,00” (fls. 1.562-1.585, do IC 10.000033-1).

Dezembro de 2005: “Ministério das Comunicações: Telecentro

Comunitário R$ 103.674,00“ (fls. 1.586-1.599, do IC 10.000033-1).

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Como se vê, a maioria dos “projetos” que teriam sido apresentados pelo requerido ROBERTO DA SILVA, foi apresentada em mais de um município. E, o que é ainda pior, alguns desses projetos foram apresentados mais de uma vez no mesmo município.

No Município de Maria Helena, os seguintes projetos foram

apresentados por mais de uma vez: (1) “Projeto Agente Jovem”: apresentados em abril e julho/2005; (2) “PETI- Programa de Erradicação do Trabalho Infantil”: abril e julho/2005; (3) “Programa Sentinela”: abril, maio e julho/2005; (4) “Programa de Atenção Integral à Família-PAIF”: abril, maio, e julho/2005; (5) “Telecentro”: abril e julho/2005.

Isso demonstra, que para justificar os pagamentos que recebia o

requerido ROBERTO DA SILVA fez vários projetos padrões e, com algumas adaptações, apresentava os mesmos projetos aos vários municípios com os quais contratou pagamentos mensais e que, portanto, não havia efetiva análise das reais circunstâncias e necessidades de cada ente público.

3. DO DIREITO. 3.1. A ilicitude no julgamento do convite 71/2005, pelo

critério do menor preço. Ainda que o Convite 71/2005 não fosse uma fraude para justificar

a contratação da empresa de ROBERTO DA SILVA, o que se admite apenas para possibilitar a argumentação, é de se observar que o critério de julgamento do menor preço, adotado pelos requeridos, era absolutamente incompatível com objeto do certamente.

É que o objeto do contrato - prestação de serviços de realização

de concursos públicos, inclusive com elaboração, aplicação e correção de provas para cargos de níveis fundamental, médio e superior -, possuía natureza predominantemente intelectual, o que exigia das empresas convidadas uma capacidade técnica específica.

Sendo o elemento intelectual o principal fator a determinar qual

seria a melhor escolha para a execução do serviço, a licitação poderia adotar um dentre dois tipos, melhor preço e técnica ou apenas melhor técnica, mas jamais apenas o tipo menor preço, no qual não se avalia nenhum elemento essencial à execução daquele serviço.

Apenas o menor valor não se presta a qualificar atividades

eminentemente intelectuais, como no caso do Convite 71/2005, que, em suma, diz respeito à elaboração e correção de provas de concursos públicos.

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Esses serviços contêm singularidade ínsita ao prestador. Não se pode dizer que há padrões entre empresas especializadas nesse setor, na medida em que cada uma delas se utiliza de profissionais distintos. A capacitação desses profissionais, que usarão de seu intelecto para elaborar questões cujo objetivo é selecionar futuros servidores públicos, é dado ímpar, que não se pode medir pelo critério de menor preço.

Daí porque, a Lei Federal 8.666/93 (Lei de Licitações e Contratos

Administrativos) determina que na contratação de serviços predominantemente intelectuais seja utilizado o tipo “melhor técnica” ou, no mínimo, o tipo “técnica e preço”, nos seguintes termos:

“Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a

Comissão de licitações ou o responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitações, os critérios previamente estabelecidos no ato convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle.

§ 1º Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de licitação, exceto na modalidade concurso:

I – a de menor preço (...); II – a de melhor técnica; III – a de técnica e preço; IV – a de maior lance ou oferta (...);” “Art. 46. Os tipos de licitação melhor técnica ou técnica e

preço serão utilizados exclusivamente para serviços de natureza predominantemente intelectual, em especial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral e, em particular, para a elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos básicos e executivos, ressalvado o disposto no § 4º do artigo anterior.”

Por óbvio, que os serviços de elaboração, aplicação e correção de

provas em concurso público, assim como a organização de todo o procedimento do certame, onde se busca a seleção de profissionais em várias áreas do conhecimento humano, são de natureza eminentemente intelectuais.

Ora, o concurso público, cuja execução se contratou pelo convite

em questão, visava à escolha de profissionais para preenchimento de cargos públicos em relevantes e complexas áreas do conhecimento humano - como medicina, psicologia, farmácia, fisioterapia, veterinária, enfermagem, odontologia, dentre outros -, de modo que a organização do certame e a elaboração, aplicação e correção das provas, exigia profissionais altamente qualificados e especializados, não apenas com formação superior nas respectivas áreas de avaliação, mas também com conhecimentos e técnicas de seleção e avalição de

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conhecimentos e habilidades, metodologia, estatísticas logística, segurança e prevenção de fraudes em certames.

Exige-se, ainda, que a instituição ou empresa a ser contratada,

além desse corpo técnico altamente especializado, também tenha estrutura administrativa e organizacional compatível com o porte do concurso a ser realizado.

Para a Administração Pública contratante dos serviços e para a

coletividade, destinatária última dos serviços, interessa que a empresa a ser contratada disponha da melhor capacidade técnica e estrutural quanto seja possível, pois somente assim é que se assegurará a lisura e eficiência na seleção dos melhores candidatos.

O tipo licitatório de menor preço de forma alguma poderá cumprir

com esse desiderato, não alcançando o interesse público, pois ignora completamente os critérios da técnica, da qualificação profissional, estrutural e organizacional das proponentes. Todos são igualados por baixo quando a lei e o interesse público exigem que a escolha recaia sobre a melhor técnica, o melhor serviço ou, no mínimo, naquele proponente que apresente a melhor média entre técnica e preço.

Este, aliás, é o entendimento da nossa Corte Estadual de Justiça: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PLEITOS DE NULIDADE DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO, CONTRATO ADMINITRATIVO CELEBRADO COM A VENCEDORA, DEVOLUÇÃO AOS COFRES PÚBLICOS DE SUPOSTOS VALORES RECEBIDOS E PROIBIÇÃO DA MUNICIPALIDADE CONTRATAR COM A MESMA. OBJETO LICITATÓRIO EMPRESA RESPONSÁVEL PARA REALIZAR CONCURSO PÚBLICO, JUNTO À MUNICIPALIDADE, DE DIVERSOS CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR. LICITAÇÃO DO TIPO MENOR PREÇO GLOBAL. NECESSIDADE DE ADOÇÃO DO TIPO MELHOR TÉCNICA E PREÇO. ATIVIDADE EMINENTEMENTE INTELECTUAL. IRREGULARIDADE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. TERCEIRIZAÇÃO PELA CONTRATADA DA REALIZAÇÃO DAS PROVA. VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO ARTIGO 78, VI, DA Lei nº 8.666/93. DEVOLUÇÃO DE SUPOSTO VALOR RECEBIDO DEVIDO. PREVALÊNCIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Restou demonstrado nos autos que tanto o tipo de licitação adotado pela municipalidade para a contratação de empresa para a realização de concurso público, como a terceirização pela vencedora e contratada para a realização de provas, se mostraram irregulares, estando escorreita a sentença que o anulou. E devida a devolução aos cofres

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públicos pela apelante de suposto valor recebido da referida contratação, pois deve prevalecer o interesse público sobre o particular.” (destacou-se - TJPR - 5ª C. Cível - AC 0692913-9 - Clevelândia - Rel.: Des. Luiz Mateus de Lima - Unânime - J. 16.11.2010) Assim, constata-se que quando a Administração do Município de

Maria Helena, comandada pelo requerido OSMAR TRENTINI, optou por realizar carta convite do tipo menor preço, abdicou do interesse público (indisponível) de contratar a empresa ou instituição mais bem qualificada para a execução do serviço. Pois deu destaque apenas ao menor custo monetário, deixando ao relento o interesse público maior, presente nesta espécie de licitação.

Destarte, além da nulidade decorrente da fraude, os atos

administrativos do Convite 071/2005, do Contrato 119/2005 e, por consequência, dos pagamentos efetuados pelo Município de Maria Helena, também são todos nulos de pleno direito e, como tal, devem ser declarados pelo Poder Judiciário.

3.2. A nulidade dos Convites 25/2005, 71/2005 e

18/2006, bem como dos respectivos contratos administrativos e seus pagamentos.

A nulidade dos atos e contratos administrativos é regulamentada

pela Lei 4.717/65 (regula a Ação Popular), cujos dispositivos pertinentes ao presente caso, são os seguintes:

“Art. 2. São nulos os atos lesivos ao patrimônio das

entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade

observar-se-ão as seguintes normas: a) (...); b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância

incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;

c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação da lei, regulamento ou outro ato normativo;

d) (...);

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e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.”

Como visto acima, todas as irregularidades ocorridas tanto na fase

interna como na fase externa dos Convites 25/2005, 71/2005 e 182006, são causas de nulidade das licitações, dos respectivos contratos administrativos e dos decorrentes pagamentos realizados pela administração pública municipal.

Os referidos procedimentos licitatórios são nulos por vício de

forma em razão da ausência da fase interna e seus elementos essenciais, como a especificação dos objetos licitados (o que era determinante e imprescindível para a previsão de custos, para a seleção das convidadas, para a elaboração das propostas, para celebração dos futuros contratos, etc.), posto que formalidades indispensáveis à existência e seriedade do ato (art. 2º e parágrafo único, letra “b”, acima transcritos).

No sentido da necessidade do prévio processo administrativo para

a validade da licitação, leciona Marçal Justen Filho: “O art. 38 determina que o procedimento licitatório se inicia com a

abertura de processo administrativo. A regra deve ser entendida em termos. É imperiosa a prática de atos anteriores à “abertura do processo” de licitação. A própria autorização para a licitação, a que se refere o mesmo art. 38, não é o momento propriamente inicial do procedimento licitatório. Há atos anteriores, condicionantes do procedimento subsequente. Antes de cogitar de qualquer “autorização” para a licitação, a Administração Pública deverá apurar a necessidade de sua realização e definir os termos que será realizada. A autorização para licitar não surge do nada. É necessariamente precedida de estudos para definição do objeto da licitação, da existência de recursos para tanto etc. Somente após praticados esses atos prévios é que podem desencadear-se as fases subsequentes da licitação. Como são logicamente indispensáveis para licitação, tais atos condicionam o curso do procedimento posterior. Logo, os defeitos quanto a esses atos anteriores se refletem em desvios maléficos no momento subsequente. Daí deriva a concepção de que o procedimento licitatório inicia-se na fase interna e não apenas quando vier a ser divulgado o edital.

(...) O fundamento para defender que a licitação tem início mesmo

antes da publicação do ato convocatório reside em que o vício na fase interna se comunica à fase externa. Se os atos praticados na fase interna forem defeituosos, aplica-se o princípio geral dos procedimentos e os atos posteriores serão invalidados. A conformação da licitação deriva dos atos desenvolvidos na fase interna. A

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existência de contradição entre o edital e os atos anteriormente produzidos é causa de nulidade” .5

Além do vício de forma, os procedimentos licitatórios em questão,

também são nulos de pleno direito em razão do vício de ilegalidade do objeto, já que os resultados deles obtidos importaram em violação da lei (em sentido amplo).

No caso, a própria Constituição Federal foi violada, já que com o

direcionamento daqueles procedimentos ofenderam-se os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade, da legalidade e o próprio princípio licitatório.

Com efeito, reza a Constituição Federal: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,

serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações caso.”

Por fim, também há o vício do desvio de finalidade, na medida

em que os três procedimentos licitatórios foram fraudados, verdadeiramente montados, para dar aparência de legalidade à escolha prévia da requerida ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA.

Porquanto, como visto alhures, os três procedimentos licitatórios -

enquanto atos administrativos - foram praticados com fim diverso daquele legalmente previsto, posto que ao invés de visar selecionar a melhor proposta para a administração pública e a celebração do contrato que melhor atendesse ao interesse público, foram praticados com o objetivo espúrio de “legitimar” a celebração de contratos administrativos com a empresa do requerido ROBERTO DA SILVA.

A nulidade em tela, por afetar diretamente ao interesse público, é

de caráter absoluto. Por isso, como adverte novamente Marçal Justen Filho, é insuscetível de convalidação:

5 Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos – São Paulo, Dialética, 2002, págs. 385/386.

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“Outra espécie de vício ocorrerá quando as regras previstas no

edital não tiverem pertinência com o objeto a ser contratado ou com a finalidade concreta buscada pela Administração. Isso se verifica quando as regras forem inadequadas à mensuração da idoneidade do contratante ou à seleção da melhor proposta para a contratação desejada. Esses defeitos afetam o interesse público. Portanto, é incabível sua sanação pela omissão dos particulares.” 6

Ainda, oportuno lembrar que a nulidade da licitação induz também

à do contrato, nos termos do art. 49, caput e § 2º, da Lei 8.666/93: “Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do

procedimento somente poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

(...) § 2º A nulidade do procedimento licitatório induz à do

contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59, desta Lei.”

Por essas razões, os Convites 25/2005, 71/2005 e 18/2006

e os respectivos Contratos Administrativos 119/2005, 49/2005 e 24/2006 são acoimados de nulidade insanável, em razão do disposto no artigo 37, caput e inciso XXI, da Constituição Federal, no artigo 2º, alíneas “b”, “c” e “e”, da Lei 4.717/65 e no art. 49, parágrafo 2º, da Lei 8.666/93; razão pela qual devem assim ser declarados pelo Poder Judiciário.

Além da nulidade dos procedimentos licitatórios e dos respectivos

contratos administrativos, também são nulos todos os atos administrativos deles decorrentes, como os pagamentos feitos pela administração municipal à empresa ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA., beneficiada com as fraudes aqui tratadas, consoante a clara dicção do artigo 59, parágrafo único, da Lei 8.666/93:

“Art. 59. A declaração de nulidade do contrato

administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.

Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do

dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente

6 Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos – 10ª Ed. – São Paulo: Dialética, 2004, p. 466.

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comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.”

Sendo os atos nulos, como cediço, não são capazes de produzir

efeitos juridicamente válidos, e os efeitos materiais deles decorrentes devem ser extirpados do mundo jurídico juntamente com o reconhecimento e a declaração de suas nulidades.

3.3. Dano ao erário. Uma das consequências da nulidade desses ilícitos atos

administrativos é a caracterização de dano ao erário pelo dispêndio de verba pública com falso respaldo no direito.

Com efeito, a ocorrência de ilicitudes em licitações, inclusive como

no presente caso, faz com que a administração pública seja obrigada a gastar recursos financeiros que legalmente não poderiam ser despendidos, configurando, assim, dano econômico ao erário e gerando ao Poder Público o direito de ser ressarcido do que ilicitamente teve de gastar.

É sabido, que em razão do princípio da estrita legalidade, os

administradores públicos só podem fazer aquilo que a lei expressamente autoriza. Assim, quando a Administração Pública realiza um pagamento não autorizado em lei, este gasto é ilícito, pois não tem base jurídica. Ora, se é ilícito, representa verba legalmente não devida pela Administração Pública. E, se a verba é indevida e foi paga, isto caracteriza dano.

Configurado o dano, sofrido ilicitamente, este deve ser restituído

por quem lhe deu causa, pois: “Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de verificar seu

bom e regular emprego, na conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes', ou seja: 'quem gastar, tem de gastar de acordo com a lei'

Isso quer dizer: quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e perigos. Pois impugnada a despesa, a quantia gasta irregularmente terá de retornar ao Erário Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes realizada, de enriquecimento ilícito da Administração. ...” 7 (grifou-se)

Nos casos de licitações levadas a efeito com violação à norma

constitucional e infraconstitucional, tal como no caso presente, além da violação ao princípio da legalidade, também há ofensa aos princípios da moralidade,

7

SÉRGIO FERRAZ e LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, Posição das Cortes de Contas no Controle dos

Contratos, in: Dispensa e Inexigibilidade de Licitação, 3ª ed., São Paulo, Malheiros Ed., 1994, p. 93.

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igualdade, impessoalidade, eficiência, economicidade, supremacia e indisponibilidade do interesse público.

Ora, um ato administrativo realizado com ofensa aos princípios

que regem a Administração Pública é um ato nulo e, como tal, não pode gerar efeitos.

Então, sendo o pagamento pelos serviços prestados um efeito do

ato nulo da licitação e do contrato administrativo, evidentemente o pagamento também é nulo, porquanto sem causa lícita, sendo indevido pelo Poder Público e, assim, causador de dano econômico ao erário, o que confere à Administração Pública o direito de ser indenizada por tal dispêndio, tanto pelos agentes públicos responsáveis pelos atos, como pela empresa vencedora da licitação e seu responsável, eis que todos agiram com dolo e má-fé quanto a fraude e ao direcionamento da licitação.

Então, deve o erário ser ressarcido dos dispêndios decorrentes

dos atos nulos, quais sejam, os pagamentos realizados pelo Município de Maria Helena em favor da empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

Por fim, não se pode deixar de consignar que o eventual

argumento de que o ressarcimento ao patrimônio público em tais casos implicaria em locupletamento ilícito da Administração Pública, que não poderia se valer da própria torpeza, é alegação que não tem coerência.

É que em tais hipóteses, como no presente caso, a torpeza não é

da Administração Pública, mas sim do administrador público responsável pelos atos ilícitos. O Poder Público não pratica atos torpes, quem pode praticá-los são os seus agentes e, nesses casos, devem eles ser responsabilizados pela sua falta de escrúpulos. O que não se pode admitir, é que a Administração Pública suporte o dano, o ilícito, e o agente público responsável não seja economicamente responsabilizado pelo seu agir ilícito, afrontoso às leis e à norma expressa da Constituição Federal.

Além disso, o fato da empresa contratada ter prestado o serviço

não pode servir de álibi para o administrador público e outros responsáveis pela nulidade dos atos safarem-se das consequências financeiras de suas condutas ilícitas, pois, como observa HUGO NIGRO MAZZILLI, citando julgado do STJ:

“Como corretamente anotou o Min. Milton Pereira, ‘a escusar-se

a responsabilidade do administrador público, pela salvaguarda de que o empregado, em contraprestação, prestou serviços, será construir um estranho indene de impunidade em favor do agente político que praticou ato manifestamente contra a lei - nexo causal das obrigações da relação de trabalho nascida de ato ilegal - criando-se inusitada convalidação dos efeitos de ato nulo. Será estimular o ímprobo a agir porque, a final, aquela

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contraprestação o resguardará contra ação de responsabilidade civil.’

... Está em questão um princípio: fazendo tabula rasa da Constituição

e da lei, pode o administrador contratar impunemente, sem concurso, ou em período defeso..., e ficar tudo por isso mesmo? Pode cometer tais ilegalidades gritantes e mandar a conta para os cofres públicos? Pode ser a execução da própria ilegalidade o bill de indenidade que irá beneficiar o administrador ímprobo? Isto é absurdo.

Se o administrador pudesse assim estar garantido, poderia contratar impunemente seus apaniguados para ardorosamente labutarem em sinecuras ou fazerem obras que terceiros poderiam fazer melhor e mais barato para a Fazenda.8" (grifou-se)

Como asseveram Sérgio Ferraz e Lúcia Valle Figueiredo: "Ainda que pronta a obra, entregue o fornecimento ou prestado o

serviço, se impossível de convalidação o ato praticado, impõe-se a devolução. Não estaremos, consoante se nos afigura, diante do chamado enriquecimento sem causa. Isso porque, o prestador do serviço, o fornecedor ou executor da obra serão indenizados, na medida em que tiverem agido de boa fé. Entretanto, a autoridade superior que determinou a execução sem as cautelas legais, provada sua culpa (o erro inescusável ou o desconhecimento da lei), deverá, caso se negue a pagar espontaneamente, em ação regressiva indenizar o Erário por sua conduta ilícita.”

O patrimônio enriquecido, o da comunidade e nunca o da Administração (pois esta é a própria comunidade), não o terá sido com ausência de título jurídico. Mas sim, em decorrência de uma lesão aos seus valores fundamentais, como o da moralidade administrativa.” 9

Essas conclusões da doutrina encontram amparo no art. 59 e

parágrafo único da Lei 8.666/93, cuja redação dispõe: Art. 59. A declaração de nulidade do contrato

administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.

Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado que pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

8 HUGO NIGRO MAZZILLI, A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, p. 161-162.

9 Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros Ed., 1994, p. 31-32.

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Ocorrendo a nulidade do contrato administrativo - que decorre da declaração de nulidade da licitação –, o contratado terá direito de ser indenizado pelos serviços já executados, desde que tenha atuado de boa-fé (é o que se extraí da expressão legal contanto que não lhe seja imputável, acima sublinhada), cabendo a responsabilização econômica de todos aqueles que deram causa à nulidade (promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa), inclusive o próprio contratado, quando este concorreu para a nulidade do ato, como no presente caso.

Ou seja, declarado nulo o contrato administrativo pelos vícios

acima apontados, nenhum valor era devido à empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., posto que atuou de má-fé, já que teve participação nos ilícitos, e, ainda que lhe fosse devido algum valor pelos serviços prestados (o que somente seria possível se tivesse atuado de boa-fé), o seria à título de indenização, devendo os agentes causadores da nulidade serem responsabilizados pelo ressarcimento da respectiva quantia.

Destarte, quem praticou o ato ilícito, imoral, é que deve arcar com

suas consequências e não o erário, pois não se pode tratar o patrimônio público como coisa de ninguém e sim como coisa de todos; não se pode, portanto, penalizar toda a coletividade para não penalizar o agente público que praticou o ato ilícito.

Em suma, sendo os Convites 25/2005, 71/2005 e 18/2006 e

os respectivos Contratos Administrativos 49/2005, 119/2005 e 24/2006, atos juridicamente nulos por expressa disposições legais e tendo todos os requeridos, sem exceção, dado, dolosamente, causa à nulidade, devem eles responder solidariamente pelo prejuízo financeiro sofrido pelo erário de Maria Helena com o dispêndio de recursos financeiros para os pagamentos feitos para a requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA.

O valor total do dano causado ao Município de Maria Helena em

decorrência dos pagamentos efetuados para a empresa ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA., em valores da época, foi de R$ 72.222,50 (setenta e dois mil duzentos e vinte e dois reais e cinquenta centavos), sendo: (a) R$ 9.000,00 (nove mil reais) decorrentes do Convite 25/2005 e Contrato 49/2005 (fls. 52, 64, 72, 76, 129, 174, 175, 190 e 191, do IC 10.000033-1); (b) R$ 18.222,50 (dezoito mil duzentos e vinte e dois reais e cinquenta centavos) do Convite 71/2005 e Contrato 119/2005 (fls. 265-283, do IC 08.000036-8); e (c) R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) do Convite 18/2006 e Contrato 24/2006 (fls. 664-661, 671, 689, 704, 705 e 715, do IC 10.000033-1).

Esse valor, deve ser corrigido monetariamente e acrescido de

juros legais - desde cada pagamento, já que decorrente de evento ilícito – até a data do efetivo ressarcimento.

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3.4. A configuração de atos de improbidade

administrativa. A Constituição Federal impõe aos administradores públicos o

respeito a alguns princípios que devem nortear a administração pública, e determinou que a lei deveria estabelecer os chamados atos de improbidade administrativa, prevendo, igualmente, algumas das sanções aplicáveis, independentemente de eventuais sanções penais cabíveis.

Está expresso na Constituição Federal, no seu art. 37, § 4º: ”Art. 37 – A administração pública direta, indireta ou fundacional

de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, e também, ao seguinte:

“§ 4.º - Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

E assim o fez o legislador ordinário ao editar a Lei nº 8.429/92

(Lei de Improbidade Administrativa), estabelecendo as condutas que configuram atos de improbidade administrativa, quais as sanções em face da sua prática e quais são seus responsáveis, legitimando o Ministério Público, em seu artigo 17, à propositura de ação cível.

A Lei nº 8.429/92, estabeleceu, em seu art. 4º, que os agentes

públicos são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios que regem a Administração Pública, ex vi:

“Art. 4.º - Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são

obrigados a velar pela estrita observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos”.

A mesma lei, também determina que suas disposições são

aplicáveis a todos que concorram para o ato ou dele sejam beneficiados, nos seguintes termos:

“Art. 3º. As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,

àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”.

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Assim é que, a lei de improbidade administrativa também é aplicável aos requeridos ROBERTO DA SILVA, ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA., DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN, ADM – CONTABILIDADE E AUDITORIA LTDA ME., VALMIR DALLACOSTA, DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., MARCELO DALETESE, APOIO SUL LTDA., GUSTAVO CESAR DELGADO, PROGOV ASSESSORIA EM GESTÃO PÚBLICA LTDA., LINDOMAR JOSÉ DA SILVA., SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., posto que com suas condutas concorreram diretamente para a prática dos atos de improbidade perpetrados pelo requerido OSMAR TRENTINI, então agente público.

Por fim, a referida lei dividiu os atos de improbidade

administrativa em três modalidades: (1) os que importam em enriquecimento ilícito; (2) os que causam prejuízo ao erário; e (3) os que atentam contra os princípios da Administração Pública.

No presente caso, as condutas dos requeridos acima narradas

encontram adequação típica em duas dessas modalidades, assim capituladas: “Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa

lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

(...) VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo

indevidamente;” E: “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;”

Destarte, com as condutas inicialmente narradas, os requeridos

praticaram, dolosamente, os atos de improbidade administrativa do art. 10, inciso VIII; e do art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92 e, por conseguinte, estão sujeitos às sanções do art. 12, incisos II e III, da mesma lei.

3.5. Da não ocorrência de prescrição. Para se afastar eventual alegação de prescrição, cabe observar

que o requerido OSMAR TRENTINI foi prefeito do Município de Maria Helena por duas gestões consecutivas, 2005-2008 e 2009-2012.

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Assim, tendo deixado o cargo de Prefeito do Município de Maria Helena, em 31 de dezembro de 2012, a contagem do prazo prescricional de cinco anos teve início em 01 de janeiro de 2013, e seu termo final dar-se-á em 31 de dezembro de 2017, nos termos do art. 23, inciso I, da Lei 8.429/92.

Também é importante observar, que nos termos da

Jurisprudência, inclusive do Tribunal de Justiça do Paraná e do Superior Tribunal de Justiça, no caso de reeleição, a prescrição, por atos de improbidade ocorridos durante o primeiro mandato, somente se inicia com o término do segundo mandato, quando efetivamente o agente ímprobo deixa o cargo público.

A mesma jurisprudência também esclarece que ao particular que

concorreu e/ou se beneficiou dos atos de improbidade, se aplica o mesmo prazo prescricional aplicável ao agente público com quem concorreu ou de cujo ato ímprobo se beneficiou.

“RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO. REELEIÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. DIES A QUO. 1. O termo inicial do prazo prescricional da ação de improbidade administrativa, no caso de reeleição de prefeito, se aperfeiçoa após o término do segundo mandato. 2. O artigo 23, inciso I, da Lei nº 8.429/92, faz essencial à constituição do dies a quo da prescrição na ação de improbidade o término do exercício do mandato ou, em outras palavras, a cessação do vínculo temporário do agente ímprobo com a Administração Pública, que somente se verifica, no caso de reeleição, após o término do segundo mandato, pois que, nesse caso, há continuidade do exercício da função de Prefeito, por inexigido o afastamento do cargo. 3. Recurso Especial provido.” (destacamos – STJ - REsp 1.153.079, Proc. 2009/015612-1/BA Primeira Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Julg. 13/04/2010/ DJE 29/04/2010). “AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO POR INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 8.429/92. INOCORRÊNCIA. PLEITO DE CARÊNCIA DE AÇÃO POR INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 8.429/92 À AGENTE POLÍTICO. DESCABIMENTO. PRESCRIÇÃO AFASTADA. INADMISSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DO PROCESSO ATÉ JULGAMENTO DE AÇÃO ANULATÓRIA. AFASTADA PRELIMINAR DE CARÊNCIA DE AÇÃO POR FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL ANTE A AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO ERÁRIO. HIPÓTESE DE RECEBIMENTO DA INICIAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REJEITADA TESE DE NULIDADE DA DECISÃO

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POR FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. MÉRITO. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Não procede a alegação de impossibilidade jurídica do pedido por inconstitucionalidade da Lei nº 8.429/92, pois esta não apresenta vício formal no processo legislativo (bicameralidade) ou quanto à competência legislativa federal. A Lei de improbidade administrativa alcança os agentes políticos, conforme previsão expressa no artigo 2º, da Lei nº 8.429/92. Trata-se de hipótese de recebimento da inicial da ação civil pública, tendo em vista a existência de indícios da prática de ato de improbidade administrativa, previsto na Lei nº 8.429/92. Não há falar em prescrição qüinqüenal (art. 23, inciso I, da Lei nº 8.429/92), pois a reeleição implica na continuidade do exercício da função governamental, devendo o termo inicial da prescrição começar a fluir a partir da efetiva saída do cargo, o que se deu, no caso, após o término do segundo mandato. Não procede o pleito de suspensão da ação civil pública até que haja o julgamento da ação de anulação do acordo de acionistas, vez que referidas demandas veiculam pretensões diversas. Não há falar em carência de ação, por ausência de prejuízo ao erário, pois a ação civil pública é o meio processual adequado para obtenção de punição ao agente da administração pública que descumpriu com seus deveres inerentes ao cargo, conforme disciplina a Lei nº 8.429/92. Trata-se de hipótese de recebimento da inicial, vez que a questão discutida diz respeito à relevante interesse público, envolvendo sociedade de economia mista, prestadora de serviço público de suma importância, havendo indícios suficientes da prática de conduta administrativa ímproba, haja vista a celebração de acordo de acionistas que pode implicar em comprometimento de significativas verbas públicas, em razão das regras nele pactuadas (forma de distribuição de dividendos, de deliberação e de exercício do direito de voto), o que deverá ser cabalmente demonstrado com a realização da devida instrução probatória. A decisão recorrida não é nula, pois embora sucinta, encontra-se devidamente fundamentada. As matérias atinentes ao mérito dependem de maior dilação probatória, as quais deverão ser efetivamente elucidadas durante a instrução probatória da ação civil pública.” (grifou-se – TJPR, Agr. Instr. 415927-7, Acórdão nº 20504, Curitiba, 5ª Câmara Cível, Relator Luiz Mateus de Lima, DJPR 25/4/2008) “AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. REJEITADA TESE DE NULIDADE DA DECISÃO POR FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. AFASTADA ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA INICIAL E DE

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ILEGITIMIDADE PASSIVA. INADMISSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DO PROCESSO ATÉ JULGAMENTO DE AÇÃO ANULATÓRIA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. HIPÓTESE DE RECEBIMENTO DA INICIAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INAPLICABILIDADE DO ART. 17, § 8º, DA LEI Nº 8.429/92. MÉRITO. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. A decisão recorrida não é nula, pois embora sucinta, encontra-se devidamente fundamentada. Não há falar em inépcia da inicial, pois o pedido da ação civil pública não é indeterminado, permitindo, perfeitamente, constatar a pretensão de condenação dos requeridos nas sanções da Lei de improbidade de administrativa, não havendo qualquer óbice ao exercício do direito de defesa. A agravante possui legitimidade para integrar o pólo passivo, vez que há indícios suficientes da prática de conduta administrativa ímproba, pois participou do acordo de acionistas em litígio, sendo questionável as regras nele pactuadas (forma de distribuição de dividendos, de deliberação e de exercício do direito de voto). Não procede o pleito de suspensão da ação civil pública até que haja o julgamento da ação de anulação do acordo de acionistas, vez que referidas demandas veiculam pretensões diversas. Se particular, estranho ao serviço público, praticar, concorrer ou se beneficiar de ato de improbidade praticado por agente público no exercício de mandato eletivo, sujeitar-se-á ao mesmo regime prescricional deste. Não há falar em prescrição qüinqüenal (art. 23, inciso I, da Lei nº 8.429/92), pois a reeleição implica na continuidade do exercício da função governamental, devendo o termo inicial da prescrição começar a fluir a partir da efetiva saída do cargo, o que se deu, no caso, após o término do segundo mandato do co-réu (ex-governador). Trata-se de hipótese de recebimento da inicial da ação civil pública, tendo em vista a existência de indícios da prática de ato de improbidade administrativa, não se aplicando o art. 17, § 8º, da Lei nº 8.429/92. As matérias atinentes ao mérito dependem de maior dilação probatória, as quais deverão ser efetivamente elucidadas durante a instrução probatória da ação civil pública.” (grifou-se – TJPR, Agr. Instr 434106-0, Acórdão nº 20437, Curitiba, 5ª Câmara Cível, Relator Luiz Mateus de Lima, DJPR 18/4/2008) Esse também é o entendimento da doutrina especializada sobre o

tema: “Tratando-se de vinculo originário de mandato eletivo e sendo o

agente reeleito, deve ser analisado se a fluência do prazo prescricional se iniciaráao término do primeiro ou do segundo mandato.

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Inicialmente, é importante observar que não se deve implementar uma simbiose entre individualidades distintas e que auferem sua legitimidade em origem diversa. A representatividade política deriva da vontade popular e é outorgada durante certo lapso. Encerrado o lapso do mandato, encerrada estará a representatividade e cessada estará a vontade popular. Novo mandato, por sua vez, é resultado de nova vontade popular para distinto período de exercício do múnus político, sendo diversos os eleitores e distinta a conjuntura que motivou a escolha. Igual entendimento será adotado em hipóteses outras de mandato, como os diretores de sociedades de economia mista, membros de Conselhos Municipais, inclusive o Tutelar etc.

Apesar disto, entendemos que a prescrição somente começará a fluir a partir do término do exercício do último mandato outorgado ao agente, ainda que o ilícito tenha sido praticado sob a égide de mandato anterior. Em abono dessa conclusão, podem ser elencados os seguintes argumentos: a) o art.23, I, da Lei nº 8.429/92 dala em exercício de mandato, o que afasta a possibilidade de se atrelar o lapso prescricional ao exercício do mandato durante o qual tenha sido praticado o ato; b) a reeleição do agente público denota uma continuidade no exercício da função em que se deu a prática do ilícito, o que, apesar da individualidade própria de cada mandato, confere unicidade à sua atividade; c) as situações previstas no art.23, I, da Lei nº 8.429/92 tratam de vínculos de natureza temporária, estando o lapso prescricional atrelado à sua cessação, o que somente ocorrerá com o término do último mandato; d) a associação do termo a quo do lapso prescricional à associação do vínculo está diretamente relacionada à influência que poderá ser exercida pelo agente na apuração dos fatos, o que reforça a tese de que a prescrição somente deve se principiar com o afastamento do agente; e e) a sucessão temporal entre os mandatos não pode acarretar a sua separação em compartimentos estanques, pois consubstanciam meros elos de om corrente ligando os sujeitos ativo e passivo dos atos de improbidade”. (Garcia, Emerson e Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, 2ª ed. Editora Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2004, p.387/388).

Destarte, em relação aos requeridos, não há que se falar em

prescrição da pretensão pelos atos de improbidade aqui tratados. 3.6. Da medida cautelar, em caráter liminar, de

indisponibilidade dos bens. A Constituição da República de 1988, em seu artigo 37, § 4º,

estabelece, dentre outras consequências, que “os atos de improbidade administrativa importarão a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário”.

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Ou seja, a Carta da República preocupa-se em assegurar o integral ressarcimento do erário lesado por atos de improbidade administrativa, dando tratamento especial ao tema e prevendo a indisponibilidade de bens como sendo mecanismo juridicamente adequado a esse objetivo.

Esse tratamento especial dado pela Carta Cidadã ao ressarcimento

de danos causados ao erário também veio estampado na cláusula de imprescritibilidade da respectiva ação de ressarcimento, constante do § 5º do mesmo artigo 37: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.”

Visando dar concretude a esses ditames constitucionais, o

legislador ordinário editou a Lei Federal 8.429/92, conhecida Lei da Improbidade Administrativa, prescrevendo em seu art. 5º que, “ocorrendo lesão ao patrimônio público, por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano”. Em seu art. 7º, que “quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado”. E no parágrafo único, do mesmo dispositivo, acrescenta que “a indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”

Destarte, dessas normas especiais, de natureza constitucional e

infraconstitucional, extrai-se um micro sistema jurídico voltado à repressão de condutas ímprobas causadoras de prejuízos ao erário e que estabelece especial tratamento para assegurar o integral ressarcimento do dano.

Esse micro sistema jurídico de defesa do patrimônio público

lesado por ato de improbidade administrativa, excepciona os requisitos gerais da medida cautelar de indisponibilidade de bens, passando a exigir, implicitamente, apenas a demonstração do fumus boni iuris, sendo dispensável a comprovação do periculum in mora, que passa a ser presumido, posto que a Constituição Federal, assim como a Lei 8.429/92, impõem a medida como necessária à garantia de recomposição, sempre que houver forte indício da prática de ato de improbidade administrativa que cause dano ao erário.

Essa regra especial, decorrente de tal micro sistema jurídico, é

reconhecida pela doutrina especializada na matéria: “Razoável o argumento que exonera a presença do fumus boni

iuris e do periculum in mora, para concessão da indisponibilidade de bens, apesar de opiniões contrárias. Com efeito, a lei presume estes requisitos ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à garantia da execução da sentença, tendo como

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requisitos específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos do ato hostilizado.” (grifou-se) 10

Neste sentido também é o ensinamento de Emerson GARCIA e

Rogério Pacheco ALVES: “Quanto ao periculum in mora, parte da doutrina se inclina no

sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo art. 7o da Lei de Improbidade, o que dispensaria o autor de demonstrar a intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. Neste sentido, argumenta Fábio Osório Medina que “O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário”, sustentando, outrossim, que “a indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz consequência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37, § 4o, da Constituição Federal.” De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. Deste modo, em vista da redação imperativa adotada pela Constituição Federal (art. 37, § 4o) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7o), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência.” (grifou-se) 11

E bem assim, também de José Roberto dos Santos BEDAQUE: “[...] desnecessário o perigo do dano, pois o legislador

contenta-se com o fumus boni iuris para autorizar essa modalidade de medida de urgência. Essa solução vem sendo adotada pela jurisprudência.

Identificam-se, portanto, as características da indisponibilidade

prevista no art. 7º: está limitada ao valor do prejuízo causado e não necessita da demonstração do perigo de dano. O legislador dispensou esse requisito, tendo em vista a gravidade do ato e a

10

MARTINS JÚNIOR, Wallace P. Probidade Administrativa. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 395/396. 11

- GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2006, p. 768.

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necessidade de garantir o ressarcimento do patrimônio público.” (grifou-se). 12

Essas lições da doutrina especializada também foram

reconhecidas e internalizadas pela mais atualizada jurisprudência de nossos Tribunais, que vislumbraram a existência do referido tratamento especial decorrente daquele micro sistema de defesa do erário. A título de exemplo, pode-se citar o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. JUIZ QUE DECRETA LIMINARMENTE A INDISPONIBILIDADE DOS BENS DOS ACUSADOS. AGRAVANTE QUE SUSTENTA: A) ILEGITIMIDADE PASSIVA PORQUE JÁ NÃO ESTARIA MAIS À FRENTE DA DIRETORIA DA PARANAPREVIDÊNCIA QUANDO DA CONTRATAÇÃO DA CITIS; B) LEGALIDADE DA DISPENSA DE LICITAÇÃO NA CONTRATAÇÃO DA CELEPAR PELA PARANAPREVIDÊNCIA; C) INEXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO PÚBLICO; E D) AUSÊNCIA DO PERIGO DA DEMORA PARA A DECRETAÇÃO DA INDISPONIBILIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. ... omissis ... (...) 4. Da ausência de perigo da demora para a decretação de indisponibilidade de bens. Do perigo da demora e da impossibilidade de decretação sem prova do esvaziamento dos bens. Periculum in mora que é consequência jurídica do processamento da ação por improbidade administrativa. Prova de esvaziamento dos bens que é dispensável se a medida visa, justamente, evitar esse esvaziamento. Presunção extraída do artigo 7º e 16º da Lei nº 8.429/92. Recurso desprovido nesse ponto. A indisponibilidade de bens é medida obrigatória, pois, traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte no artigo 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal. Com efeito, o que se deve garantir é o integral ressarcimento ao erário. Assim, o patrimônio do réu da ação de improbidade fica, desde logo, sujeito às restrições do artigo 37, parágrafo 4º, da Carta Magna, pouco importando, nesse campo, a origem lícita dos bens. Trata-se de execução patrimonial decorrente de dívida por ato ilícito". A liminar não objetiva o aceleramento do direito invocado, a outorga dos efeitos antecipados do que se persegue, ou seja, o reconhecimento da improbidade e a condenação ao ressarcimento ou das demais sanções legais, mas busca vencer o perigo que a demora da

12

- Tutela Jurisdicional Cautelar e Atos de Improbidade Administrativa. Cassio Scarpinella Bueno e Pedro Paulo

de Rezende Porto Filho (coord.). Improbidade administrativa (questões polêmicas e atuais). São Paulo:

Malheiros, 2001, p. 260.

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prestação jurisdicional efetiva pode trazer, visando a eficácia e utilidade do processo principal, para evitar danos de difícil e incerta reparação, pois, ao final, podem vir a ser condenados os réus a ressarcir o erário e não mais possuírem meios para tanto. Não seria razoável exigir que estivessem presentes indícios ou sinas de dilapidação do patrimônio, pois, o que se pretende é justamente evitá-la. Importante a atuação preventiva da medida, sob pena de ineficácia. Recurso desprovido.13

O Superior Tribunal de Justiça, por ambas as suas turmas de

direito público, também vem decidindo nesse mesmo sentido: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. ART. 7º DA LEI 8.429/92. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ENTENDIMENTO DO STJ DE QUE É POSSÍVEL ANTES DO RECEBIMENTO DA INICIAL. SUFICIÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE DANO AO ERÁRIO OU DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (FUMAÇA DO BOM DIREITO). PERIGO DA DEMORA IMPLÍCITO. INDEPENDÊNCIA DE DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL. INCIDÊNCIA TAMBÉM SOBRE BENS ADQUIRIDOS ANTES DA CONDUTA. TRIBUNAL DE ORIGEM QUE INDIVIDUALIZA AS CONDUTAS E INDICA DANO AO ERÁRIO EM MAIS DE QUINHENTOS MIL REAIS. SÚMULA N. 83/STJ. 1. Hipótese na qual se discute cabimento da decretação de indisponibilidade de bens em ação civil pública por ato de improbidade administrativa. 2. O acórdão recorrido consignou expressamente "haver prejuízo ao erário municipal", bem como que "estariam presentes os requisitos necessários (fumus boni iuris e o periculum in mora) (....) limitado ao valor total de R$ 535.367.50". 3. O entendimento conjugado de ambas as Turmas de Direito Público desta Corte é de que, a indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa: a) é possível antes do recebimento da petição inicial; b) suficiente a demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, caracterizador do fumus boni iuris; c) independe da comprovação de início de dilapidação patrimonial, tendo em vista que o periculum in

13

Grifou-se e destacou-se: TJPR, Agr. Instr. 414321-1, Acórdão nº 30716, Curitiba, 4ª Câmara Cível, Relator

Marcos de Luca Fanchin, DJPR 16/5/2008.

No mesmo sentido: TJPR, Ag Instr 429206-2, Acórdão nº 31112, Sarandi, 4ª Câmara Cível, Relatora Anny Mary

Kuss, DJPR 20/6/2008; TJPR - 4ª C. Cível - AI 856041-6 - Londrina - Rel.: Guido Döbeli - Unânime - J.

26.06.2012; TJPR - 4ª C.Cível - AI 856041-6 - Londrina - Rel.: Guido Döbeli - Unânime - J. 26.06.2012; TJPR

- 4ª C. Cível – AI 855133-5 – Rel.: Guido Döbeli – J. 17.07.2012.

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mora está implícito no comando legal; d) pode recair sobre bens adquiridos anteriormente à conduta reputada ímproba; e e) deve recair sobre tantos bens quantos forem suficientes a assegurar as conseqüências financeiras da suposta improbidade, inclusive a multa civil. Precedentes: REsp 1115452/MA; REsp 1194045/SE e REsp 1135548/PR. 4. Ademais, a indisponibilidade dos bens não é indicada somente para os casos de existirem sinais de dilapidação dos bens que seriam usados para pagamento de futura indenização, mas também nas hipóteses em que o julgador, a seu critério, avaliando as circunstâncias e os elementos constantes dos autos, afere receio a que os bens sejam desviados dificultando eventual ressarcimento. (AgRg na MC 11.139/SP). 5. Destarte, para reformar a convicção do julgador pela necessidade da medida em favor da integridade de futura indenização, faz-se impositivo revolver os elementos utilizados para atingir o convencimento demonstrado, o que é insusceptível no âmbito do recurso especial, tendo em vista o óbice da Súmula n. 7/STJ. 6. Agravo regimental não provido.” (STJ, AgRg no AREsp 20.853/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, J. 21/06/2012, DJe 29/06/2012).

Portanto, em sede de ação civil pública de responsabilidade por

ato de improbidade administrativa, na modalidade de causar dano ao erário, inexiste o requisito da comprovação de dilapidação do patrimônio por parte dos agentes ímprobos para que haja a decretação da indisponibilidade de bens, como medida de garantia ao integral ressarcimento do dano ao erário. Nesses casos, tal como na presente demanda, o requisito geral do “periculum in mora” é presumido pelas normas especiais do micro sistema, decorrente do tratamento especial dado pela própria Constituição Federal em defesa do erário contra lesões provocadas por atos ímprobos.

Cabe ainda observar, que a existência dessas normas especiais

não ofende os direitos fundamentais do devido processo legal e da propriedade, porquanto o tratamento especial decorre diretamente da própria Constituição Federal (art. 37, §§ 4º e 5º) e, como cediço, nenhum direito, mesmo os fundamentais, são absolutos, tanto mais quando excepcionados pela própria Carta Magna.

Ademais, ainda que a exceção não decorresse diretamente da

Constituição Federal (o que se admite apenas a título de argumentação), tais direitos fundamentais também não seriam violados.

Primeiro, porque este é o devido processo legal, vale dizer, o

legalmente previsto para o caso em apreço.

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E, segundo, porque a medida de indisponibilidade de bens não

afasta - não excluí - o direito de propriedade, apenas restringi o exercício de parte dele, especificamente o direito de alienação, permanecendo íntegros todos os demais poderes inerentes à propriedade.

Assim, sendo presumido o periculum in mora e estando

cabalmente preenchido o requisito do fumus boni iuris, forte na gravidade dos fatos e no lastro probatório carreado em sede de inquérito civil, e tendo em vista a existência de dano ao erário do Município de Maria Helena, atualmente no montante de R$ 241.364,30 (duzentos e quarenta e um mil trezentos e sessenta e quatro reais e trinta centavos), 14 imperioso que seja, liminarmente, decretada a indisponibilidade de bens do requerido, como medida jurídica necessária ao resguardo do patrimônio público e da garantia do seu futuro ressarcimento.

4. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS. Ante o exposto, o Ministério Público do Estado do Paraná,

por seu Promotor de Justiça, requer: 4.1. Liminarmente, presentes os requisitos necessários, a

concessão, inaudita altera pars, da medida de indisponibilidade dos bens do requeridos até o limite do dano para o qual concorreram, na seguinte forma:

4.1.1. Dos requeridos OSMAR TRENTINI, OSMAR TRENTINI

JÚNIOR, ROBERTO DA SILVA e sua empresa AVR ASSESSORIA TECNICA LTDA., até o valor total do dano causado ao erário, no valor de R$ 241.364,30 (duzentos e quarenta e um mil trezentos e sessenta e quatro reais e trinta centavos), atualizado até maio de 2014, posto que tiveram participação em todos os atos ilícitos;

4.1.2. Dos requeridos VALMIR DALLACOSTA e sua empresa DALL

PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., MARCELO DALETESE e sua empresa APOIO SUL LTDA., até o valor de R$ 31.296,08 (trinta e um mil duzentos e noventa e seis reais e oito centavos), atualizado até maio de 2014, correspondente ao dano decorrente da Carta Convite 25/2005, em cujos atos ilícitos tiveram participação;

4.1.3. Do requerido DECIO VICENTE GALDINO CARDIN e sua

empresa ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., até o valor de R$ 210.068,22 (duzentos e dez mil sessenta e oito reais e vinte e dois centavos), atualizado até maio de 2014,

14

Conforme cálculos anexos.

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correspondente à soma dos danos decorrentes das Cartas Convites 71/2005 e 18/2006, em cujos atos ilícitos tiveram participação;

4.1.4. Do requerido GUSTAVO CESAR DELGADO e sua empresa

PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., até o valor de R$ 60.950,66 (sessenta mil novecentos e cinquenta reais e sessenta e seis centavos), atualizado até maio de 2014, correspondente ao dano decorrente da Carta Convite 71/2005, em cujos atos ilícitos tiveram participação;

4.1.5. Do requerido LINDOMAR JOSÉ DA SILVA e sua empresa

SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., até o valor de R$ 149.117,56 (cento e quarenta e nove mil cento e dezessete reais e cinquenta e seis centavos), atualizado até maio de 2014, correspondente ao dano decorrente da Carta Convite 18/2006, em cujos atos ilícitos tiveram participação;

4.2. Para dar cumprimento à medida de indisponibilidade,

requer: 4.2.1. Sejam expedidos mandados aos cartórios de registro

imobiliários das Comarcas de Umuarama e Cruzeiro do Oeste, bem como ao DETRAN-PR, comunicando-os acerca da medida de indisponibilidade e determinando que lhe deem cumprimento no âmbito de suas atribuições, comunicando este Juízo acerca dos bens que forem efetivamente atingidos ou da inexistência de bens a serem constritos;

4.2.2. Independentemente da medida anterior, sejam

bloqueados, via sistema BACEN-JUD, todos e quaisquer ativos financeiros do requerido passíveis de constrição judicial, oportunamente liberando eventual excedente ao atual valor do dano;

4.3. A notificação, por meio de Oficial de Justiça, dos requeridos

OSMAR TRENTINI, ROBERTO DA SILVA, AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA. (sucessora de ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA.), DÉCIO VICENTE GALDINO CARDIN, ADM – CONTABILIDADE E AUDITORIA LTDA ME., VALMIR DALLACOSTA, DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., MARCELO DALETESE, APOIO SUL LTDA., GUSTAVO CESAR DELGADO, PROGOV ASSESSORIA EM GESTÃO PÚBLICA LTDA., LINDOMAR JOSÉ DA SILVA., SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., expedindo-se a competente carta precatória para suas respectivas comarcas (inicialmente referidas), para, querendo, apresentarem manifestação por escrito, no prazo de quinze dias, nos termos do artigo 17, § 7º, da Lei nº 8.429/92;

4.4. Transcorrido o prazo acima, com o sem manifestação dos

requeridos, o recebimento desta inicial, nos termos do art. 17, § 9º, da Lei

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8.429/92, determinando-se a citação dos requeridos, para, sob pena de revelia, responderem à presente ação civil pública;

4.5. A intimação do MUNICÍPIO DE MARIA HELENA para, nos

termos do art. 6º, § 3º da Lei 4.717/65 c/c com art. 17, § 3º, da Lei 8.429/92, responder à presente inicial, abster-se de contestar, ou atuar ao lado do Autor, na defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa;

4.6. No mérito: 4.6.1. A declaração de nulidade dos procedimentos licitatórios

dos Convites 25/2005, 71/2005 e 18/2006 bem como dos respectivos Contratos Administrativos 49/2005, 119/2005 e 24/2006, do Município de Maria Helena, e ainda, de todos os pagamentos deles decorrentes efetuados em favor da requerida ROBERTO DA SILVA & CIA LTDA, atual AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA.;

4.6.2. A condenação dos requeridos OSMAR TRENTINI, OSMAR

TRENTINI JÚNIOR, ROBERTO DA SILVA e sua empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA. (sucessora de ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA), VALMIR DALLACOSTA e sua empresa DALL PRESS ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., MARCELO DALETESE e sua empresa APOIO SUL LTDA., em razão dos ilícitos relativos à Carta Convite 25/2005 e Contrato 49/2005, pelo ato de improbidade administrativa do art. 10, inciso VIII, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções do art. 12, inciso II, da mesma lei; ou, subsidiariamente, na forma do art. 289 do CPC, pela prática do ato de improbidade administrativa do art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções previstas no artigo 12, inciso III, da mesma lei, inclusive a de reparação do dano causado ao erário, cujo valor, atualizado até maio de 2014, é de R$ 31.296,08 (trinta e um mil duzentos e noventa e seis reais e oito centavos);

4.6.3. A condenação dos requeridos OSMAR TRENTINI, OSMAR

TRENTINI JÚNIOR, ROBERTO DA SILVA e sua empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA. (sucessora de ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA), DECIO VICENTE GALDINO CARDIN e sua empresa ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., GUSTAVO CESAR DELGADO e sua empresa PROGOV-ASSESSORIA PÚBLICA LTDA., em razão dos ilícitos relativos à Carta Convite 71/2005 e Contrato 119/2005, pelo ato de improbidade administrativa do art. 10, inciso VIII, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções do art. 12, inciso II, da mesma lei; ou, subsidiariamente, na forma do art. 289 do CPC, pela prática do ato de improbidade administrativa do art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções previstas no artigo 12, inciso III, da mesma lei, inclusive a de reparação do dano causado ao erário, atualizado até maio de 2014, é de R$ 60.950,66 (sessenta mil novecentos e cinquenta reais e sessenta e seis centavos);

Page 58: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · 5ª Promotoria de Justiça da ... pessoa jurídica de direito privado, com registro na Junta Comercial do Paraná sob ... DF;

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302 58

4.6.4. A condenação dos requeridos OSMAR TRENTINI, OSMAR TRENTINI JÚNIOR, ROBERTO DA SILVA e sua empresa AVR ASSESSORIA TÉCNICA LTDA. (sucessora de ROBERTO DA SILVA E CIA LTDA), DECIO VICENTE GALDINO CARDIN e sua empresa ADM. CONTABILIDADE, AUDITORIA E PLANEJAMENTO LTDA., LINDOMAR JOSÉ DA SILVA e sua empresa SPEC CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., em razão dos ilícitos relativos à Carta Convite 18/2006 e Contrato 24/2006, pelo ato de improbidade administrativa do art. 10, inciso VIII, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções do art. 12, inciso II, da mesma lei; ou, subsidiariamente, na forma do art. 289 do CPC, pela prática do ato de improbidade administrativa do art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções previstas no artigo 12, inciso III, da mesma lei, inclusive a de reparação do dano causado ao erário, cujo valor, atualizado até maio de 2014, é de R$ 149.117,56 (cento e quarenta e nove mil cento e dezessete reais e cinquenta e seis centavos);

4.7. A condenação dos requeridos nas custas e despesas

processuais; 4.8. A concessão das prerrogativas referidas no artigo 172, § 2º

do Código de Processo Civil, para o cumprimento das notificações e citações; Atribui-se à causa o valor R$ 241.364,30 (duzentos e

quarenta e um mil trezentos e sessenta e quatro reais e trinta centavos).

Umuarama-PR, 05 de junho de 2014. FABIO HIDEKI NAKANISHI

Promotor de Justiça