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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ª Vara Cível do Juizado Especial do
Estado de São Paulo
SÉRGIO SALOMÃO SHECAIRA, brasileiro, divorciado, residente na Rua
Aimberé 736, Perdizes, São Paulo, SP, CEP 05018-011, portador de documento de
identidade RG nº 11.781.563-9, inscrito no CPF/MF sob o nº 060.303.018-10, Professor
da Universidade de São Paulo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
ajuizar a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS cumulada com
OBRIGAÇÃO DE FAZER, em face de JANAÍNA CONCEIÇÃO PASCHOAL, brasileira,
casada, advogada e professora da Faculdade de Direito da USP, portadora da cédula
de identidade RG nº 24.130.055-1 SSP/SP, residente e domiciliada à Alameda Franca,
nº 84, apto. 202, São Paulo/SP, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.
DOS FATOS
No período de 11 a 15 de setembro de 2017 foi realizado concurso para professor
titular do Departamento de Direito Penal, Criminologia e Medicina Forense da
Universidade de São Paulo (Edital FD -24/2016 anexo). Participaram do concurso quatro
candidatos (Alamiro Velludo Salvador Netto, Ana Elisa Liberatore Silva Bechara,
Mariângela Gama de Magalhães Gomes e Janaína Paschoal), que foram devidamente
avaliados por banca composta por cinco membros, quais sejam: Sérgio Salomão
Shecaira, Renato Jorge de Mello Silveira, Cláudio Roberto Cintra Bezerra Brandão,
Maria Auxiliadora Minahim e Vittorio Manes.
O resultado final das avaliações foi divulgado (Edital ATC – 29/2017 anexo),
ficando Alamiro Velludo Salvador Netto em primeiro lugar, seguido por Ana Elisa
Liberatore Silva Bechara. Além disso, Mariângela Gama de Magalhães foi aprovada,
ficando em terceiro lugar no concurso, enquanto Janaína Paschoal reprovada, não
atingindo a nota mínima exigida.
Pouco tempo após a divulgação do resultado, a candidata Janaína Paschoal
passou a manifestar-se publicamente em suas redes sociais, acusando
irresponsavelmente a banca do concurso de ter favorecido os candidatos aprovados, por
uma alegada existência de relação íntima e pessoal do primeiro colocado com os
avaliadores, o que teria lhe gerado um favorecimento de forma claramente desleal.
Acusou especialmente este manifestante, alegando a sua participação em um
esquema de favorecimento do candidato aprovado, bem como afirmando sua conivência
com plágio supostamente feito pelo candidato vencedor.
A sequência integral das declarações publicadas pela requerida acompanha esta
inicial, mas cabe mencionar desde já de que forma iniciaram as acusações tecidas
contra este requerente:
1
1 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721773597839360
2
3
4
2 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721999352098817
3 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722153970880512
4 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722427104010240
5
6
7
5 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722669085884416
6 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722860513976320
7 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723017120927746
8
9
10
8 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723153276432384
9 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723556705468416
10 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723741041029120
11
12
13
11
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723920968232960 12
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724020440403969 13
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724271888945152
14
15
16
14
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724446208389120 15
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725474462937088 16
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725981067808769
- 17
18
19
17
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726143651565568 18
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726421956202496 19
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726601485045760
20
20
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913727919675109378
21
21
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913728209677635584
22
Não sendo suficiente afirmar que este requerente aprovou tese sem ler ou foi
conivente com plágio, em outubro do mesmo ano a requerida buscou entrevista
concedida por este manifestante para um portal de notícias no ano de 2015,
22
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913728399755145218
compartilhou e passou a tecer uma série de críticas infundadas, com afirmações
levianas e de evidente má-fé, distorcendo as palavras para prejudicar a imagem deste
manifestante perante seus milhares de seguidores:
1. 23
23
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918065407868665856
24
25
26
24
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918063286758924290 25
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068301623947266 26
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068454774755328
27
28
29
27
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068724590137345 28
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069073816309761 29
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069424007143426
30
31
32
30
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069789196718081 31
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918070030054690816 32
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918070676623413251
33
34
35
Além de distorcer todas as ideias do manifestante para divulgar para seus
seguidores nas redes sociais, afirmou que este manifestante é a favor de libertar
33
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918071513852596230 34
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918071897597861888 35
https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/919515650799882240
traficantes e, de forma claramente irônica, parabenizou os “professores que pensam,
primeiro, no bem de seus alunos e não os estimulam a usar drogas e fazer aborto”, em
ato de evidente má-fé.
Importante observar, ainda, que todas as graves acusações feitas pela requerida,
foram proferidas em sua conta na rede social Twitter (https://twitter.com/janainadobrasil)
que conta com mais de 85 mil seguidores, o que evidencia que qualquer afirmação
feita neste ambiente virtual tem seu alcance muito potencializado, em razão da
quantidade enorme de pessoas que essas afirmações atingem:
Esse potencial de divulgação de conteúdos implica também na potencialização
das consequências decorrentes das acusações que profere em sua conta pública da
rede social. Não é novidade a capacidade que a requerida tem de “viralizar” conteúdos,
tendo suas manifestações replicadas em diversos ambientes, inclusive em outras redes
sociais e, com isso, pautando até mesmo o conteúdo da grande mídia, cenário este que
aumenta sobremaneira a responsabilidade da requerida por suas manifestações.
Logo na sequência da publicação dessas acusações, este manifestante já
começou a sentir a dimensão das consequências que isso traria para sua vida pessoal e
acadêmica. Passou a ter que dar explicações para a imprensa, respondendo as
acusações que começaram a correr nas redes sociais, de pessoas que o chamavam de
“bandido, desonesto, corrupto, mentiroso”, e outras tantas ofensas graves, que podem
ser melhor ilustradas com as reações de outros usuários da rede social às publicações
feitas:
36
36
https://twitter.com/oofaka/status/913722426470670336
37
37
https://twitter.com/oofaka/status/913729687653879809
38
38
https://twitter.com/Paulox36/status/913950317611487232
39
40
39
https://twitter.com/MARCOEVERS2/status/913730904819929089 40
https://twitter.com/ceciliabourdon/status/913727712300281856
41
42
41
https://twitter.com/MaciMarcus/status/913729119992664065 42
https://twitter.com/Santiago_andart/status/913725641341702144
43
44
43
https://twitter.com/AlaridoSu/status/913719954280714240 44
https://twitter.com/galvao_valter/status/913745037653106689
45
46
45
https://twitter.com/edmilson1/status/913717099683569664 46
https://twitter.com/JuniorGaruzzi/status/913717687779504128
47
48
47
https://twitter.com/JacqueMaara/status/913736058692603904 48
https://twitter.com/leaaoun/status/913789633317699585
49
50
Além disso, as acusações levianas feitas pela requerida repercutiram
também em matérias divulgadas por diversas outras páginas, como a Revista
49
https://twitter.com/BernadeteVeras/status/913731800907829248 50
https://twitter.com/sofia_escolha/status/918127609812279301
Exame51, que divulgou também em sua página do Facebook,52 o Estadão53, a
página do Facebook “Juntos Pelo Brasil”, e os jornais online Correio do Poder54,
Correio Braziliense55 e Gazeta do Povo 56.
Cabe registrar também que esse potencial de divulgação se agrava a cada
replicação das postagens da requerida, já que é exposta não apenas para os seguidores
da requerida, mas também para seguidores daqueles que compartilham seu conteúdo.
A página do Estadão, por exemplo, conta com quase 4 milhões de assinantes,
como pode ser visto nas publicações trazidas com a inicial.
A divulgação desses conteúdos na imprensa e em suas páginas de redes sociais
gerou uma série de outras reações odiosas contra este manifestante, colocando em
descrédito todo seu esforço acadêmico, sua história, tirando credibilidade de seu nome
cuja reputação foi construída com tanto trabalho e dedicação.
Na matéria divulgada na página do Estadão, por exemplo, a requerida afirmou
que sofre perseguição em seu departamento, afirmando ainda que o autor é o grande
pivô de sua reprovação e da perseguição que sofre:
51
https://exame.abril.com.br/brasil/janaina-paschoal-acusa-professor-da-usp-de-plagio/ 52
https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953 53
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reprovada-autora-do-impeachment-ve-perseguicao-na-usp,70002038198 54
http://www.correiodopoder.com/2017/09/janaina-paschoal-sofre-ameacas-e-pede.html 55
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/10/11/internas_polbraeco,632937/janaina-paschoal-alega-perseguicao-na-usp-e-quer-anulacao-de-concurso.shtml 56
http://www.gazetadopovo.com.br/justica/janaina-paschoal-acusa-banca-da-usp-de-fraude-4m5biugb5pvv00tkhopeqf1pt
Mais além, Janaina disse que um dos pivôs dessa crise é seu chefe de
departamento, Sergio Salomão Shecaira. Enquanto ela foi uma das autoras
do impeachment, ele subscreveu manifesto de juristas a favor de Dilma. A
professora disse que a perseguição de valores que sofre é porque é
“contra a legalização das drogas, do aborto, da liberação de traficantes e
da abertura das prisões” e porque trata de temas que não agradam aos
docentes. A sua tese de titularidade era Direito Penal e Religião: as várias
interfaces de dois temas que aparentam ser estanques.
Somente nesta matéria foram diversos os comentários no seguinte sentido:
57
58
57
https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903
59
60
61
62
58
https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175461755802208&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D 59
https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175481689133548&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D 60
https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175562162458834&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D 61
https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=1357414291030457&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R1%22%7D
Assim, utilizando de todo esse potencial do funcionamento das redes sociais,
bem como abusando da relevância que conquistou no ambiente virtual (relevância aqui
colocada no sentido técnico da palavra neste ambiente, que considera a capacidade de
conseguir um grande número de menções em curto espaço de tempo e com isso
colocar os assuntos divulgados como tópico de relevância nas redes sociais), a
requerida, inconformada com sua reprovação no mencionado concurso, decidiu proferir
uma série de acusações infundadas para macular a honra e a imagem deste requerente.
Vê-se, portanto, que a requerida, motivada unicamente por sentimento de
revolta e vingança, criou narrativa para desacreditar todo o esforço do requerente
na construção de sua carreira profissional, distorcendo suas manifestações e
afirmando que este manifestante participou de um conluio criminoso para
favorecimento de determinando candidato, ofendendo de forma inquestionável
sua honra.
Não se questiona aqui, por óbvio, a possibilidade de a requerida pleitear, pelas
vias legítimas, a legalidade de qualquer fase do concurso, tanto nas vias administrativa
quanto judicial, bem como questionar a formação das bancas ou até mesmo os atos do
requerente enquanto Chefe do Departamento da faculdade.
62
https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=1978622932377677&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D
O que não é aceitável é que seu inconformismo motive atos de escracho
público de seus concorrentes e dos demais envolvidos no concurso, maculando a
imagem e a honra de todos de forma deliberada e intencional.
Cabível e necessária, diante do cenário exposto, a reparação por danos morais
aqui pleiteada, como passa-se agora a demonstrar e fundamentar.
DOS DANOS À HONRA E À IMAGEM
Os direitos da personalidade, disciplinados no Capítulo II, do Livro I, da Parte
Geral do Código Civil, são definidos como o direito irrenunciável e intransmissível que
todo e cada indivíduo possui de controlar o uso de seu corpo, nome, imagem ou
quaisquer outros aspectos constitutivos de sua identidade.
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, X, afirma categoricamente que “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”.
O requerente é acadêmico, professor da Universidade de São Paulo, chefe do
Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia. É fato sabido que o
principal elemento formador do valor de um acadêmico é sua credibilidade, responsável
pela confiança que constrói publicamente. Toda a trajetória, acadêmica e profissional,
agrega experiência e valor à esta imagem, justamente por evidenciar o esforço e a
honestidade de sua formação.
Assim, um ataque a essa honra, colocando dúvidas sobre sua credibilidade e
honestidade acadêmica, é inegavelmente uma ofensa que gera mais do que o mero
dissabor do ataque público. O poder de repercussão da mensagem e a gravidade das
acusações geram inegável dano a essa imagem de profissional dedicado e acadêmico
respeitado, afetando a credibilidade que honestamente construiu em anos de carreira.
O artigo 12 do Código Civil estabelece que, diante desse tipo de situação, pode-
se exigir que cesse a lesão ao direito da personalidade, bem como reclamar eventuais
danos que se façam presentes. Além disso, o artigo 20 do mesmo diploma legal é
absolutamente claro ao afirmar que a exposição e utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, sem prejuízo da indenização que couber, “se lhe atingirem a
honra, a boa fama ou a respeitabilidade”.
Isto é exatamente o que se observa no caso em tela.
A ré, ao veicular acusações envolvendo o autor, vinculando-o a um fato
desabonador e criminoso (anuência com plágio e fraude em concurso público), causou
diversos danos aos direitos personalíssimos do autor, gerando, assim, o dever de
indenizar, nos termos dos artigos 12 e 927 do Código Civil.
Conforme narrado anteriormente, a propagação das notícias e acusações feitas
levianamente contra o autor atingiu milhões de pessoas que tiveram acesso não só ao
perfil da ré em sua rede social, mas também às páginas que repercutiram o conteúdo,
sendo certo que não há como não reconhecer o dano que fora causado à honra e
imagem do autor.
Destaque-se que não só o autor foi colocado como um criminoso, responsável
por fraude acadêmica e por anuir com plágio feito por outro candidato, como também
seu cargo na Universidade de São Paulo poderia ser ameaçado diante das acusações
feitas.
Não restam dúvidas, portanto, acerca dos danos que foram causados à imagem e
honra do autor, ao qual fora atribuída, de forma absolutamente leviana – e sem
nenhuma investigação ou movimentação para apuração dos fatos pelos meios legais – a
prática de grave delito penal e de desonrosa postura acadêmica, devendo ele ser
devidamente indenizado por este fato, diante do ato ilícito e danoso cometido pela ré. É
este o entendimento dominante na jurisprudência pátria:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL.
OFENSA A HONRA DE MAGISTRADO. COMPROVAÇÃO DO ATO
ILÍCITO E NEXO DE CAUSALIDADE. DESNECESSÁRIO A
COMPROVAÇÃO DO DANO MORAL. ARTS. 535 E 458 DO CPC.
OFENSA. INEXISTENTE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
COMPROVADO.
- O Art. 535 do CPC não é maltratado, quando o acórdão decide com
clareza, precisão e fundamentadamente as questões pertinentes.
- Inexistindo defeito de fundamentação capaz de tornar nulo o julgado,
inexiste ofensa ao Art. 458 do CPC.
- A prova do dano moral resulta da simples comprovação do fato
que acarretou a dor, o sofrimento, a lesão aos sentimentos íntimos.
- Nega-se seguimento a recurso especial interposto pela alínea c, em
que não se demonstra a divergência nos moldes exigidos pelo Art. 255
do RISTJ.
- Em recurso especial somente é possível revisar a indenização por
danos morais quando o valor fixado nas instâncias locais for
exageradamente alto, ou baixo, a ponto de maltratar o Art. 159 do
Código Beviláqua. Fora desses casos, incide a Súmula 7, a impedir o
conhecimento do recurso.
- A indenização deve ter conteúdo didático, de modo a coibir
reincidência do causador do dano sem enriquecer injustamente a
vítima.63
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
DECORRENTE DE USO INDEVIDO DA IMAGEM E DANO À IMAGEM
POR FALSA IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DE CRIME. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE EXERCÍCIO, DENTRO DOS LIMITES,
DO DIREITO À INFORMAÇÃO QUE LHE É GARANTIDO
CONSTITUCIONALMENTE. VEICULAÇÃO DE NOTÍCIAS DE
INTERESSE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE DOLO. O DEVER DE
INDENIZAR DECORRE DE ATO ILÍCITO, QUE PODE DECORRER DE
DOLO OU CULPA. DIREITO À IMAGEM. NÃO SE CONFIGURA USO
INDEVIDO, QUE, POR SI SÓ, JUSTIFICA A REPARAÇÃO, POR SE
TRATAR DE FATO OCORRIDO NA VIA PÚBLICA, MAS A
VINCULAÇÃO DA IMAGEM À FALSA PRÁTICA DE CRIME
CONFIGURA O DANO MORAL. CUMULAÇÃO DO DANO MORAL COM
O DANO À IMAGEM. IMPOSSIBILIDADE. DANO À IMAGEM CONTIDO
NO DANO MORAL. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO.64
INDENIZAÇÃO DE DANO MORAL - ADVOGADO - IMPUTAÇÃO DE
CRIMES AOS ORA APELANTES MANIFESTAÇÕES EM DEFESA DOS
INTERESSES DE CLIENTES, QUE SÃO DEVEDORES DOS ORA
APELANTES - PETIÇÕES APRESENTADAS EM JUÍZOS DE
PRIMEIRA INSTÂNCIA E TAMBÉM NESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE
SÃO PAULO - CALÚNIA, ABUSO DE DIREITO E VIOLAÇÃO DE
DEVERES PROCESSUAIS - IMUNIDADE PROFISSIONAL QUE NÃO
PERMITE OFENSAS PESSOAIS - INTELIGÊNCIA DO ART. 7o, § 2o,
DO ESTATUTO DA ADVOCACIA - ATOS ILÍCITOS - DEVER DE
INDENIZAR - DANOS MORAIS - INDENIZAÇÃO ARBITRADA TENDO
63
STJ – Recurso Especial nº 968.019/PI – 3ª Turma – Rel. Min. Humberto Gomes de Barros – julgado em
16.08.2007 – publicado em 17.09.2007 64
TJPA – Apelação Cível nº 0020647-80.2008.8.14.0301 – 1ª Câmara Cível Isolada – Relª. Desª. Gleide
Pereira de Moura – julgado em 12.12.2011 – publicado em 10.01.2012
EM VISTA OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE, BEM COMO O VALOR DO CRÉDITO E O
FATO DE O APELADO SER PROCURADOR DE JUSTIÇA
APOSENTADO - RECURSO PROVIDO.
INTERESSE EM RECORRER - SENTENÇA OMISSA QUANTO AO
PLEITO DE CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - NÃO
INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, MAS APENAS
DE APELAÇÃO - FALTA DE LESIVIDADE INTELIGÊNCIA DA REGRA
DO CAPUT DO ART. 499 DO CPC - RECURSO NÃO CONHECIDO.65
Em caso bastante recente, amplamente noticiado, foi prolatada sentença
condenando pessoa que, como a ré, possui grande influência nos meios digitais, e
utilizou dessa influência para atacar a imagem e a honra dos envolvidos em situação
que a desagradou. Nos autos da Ação de Indenização por Dano Moral nº 1010309-
17.2015.8.26.0009, da 1ª Vara Cível do Foro Regional IX – Vila Prudente, da Comarca
de São Paulo, o Juiz de Direito Dr. Jair de Souza decidiu que a ré – amplamente
conhecida nas redes sociais – deveria ser condenada pelo dano causado, afirmando
que:
A partir do momento em que atingiu posição de destaque na mídia e nas
plataformas digitais, tornou-se referência para um incontável número de
pessoas de diversas idades, credos e condições sociais, de forma que,
para o bem ou para o MAL, sua palavra, suas posições e o material que
divulga acabam por ganhar uma força avassaladora onde quer que
divulgados sejam.
(…)
Situação do parágrafo anterior que implica no necessário uso COM
RESPONSABILIDADE do seu instrumento de trabalho (IMAGEM) a fim de evitar
65
TJSP – Apelação Cível nº 0124922-95.2009.8.26.0100 – 8ª Câmara de Direito Privado – Rel. Des.
Theodureto Camargo – julgado em 16.03.2011 – publicado em 04.04.2011
que embates como o narrado neste processo ganhem vida. Extrai-se que o uso
inconsequente destas vias para macular a honra e a imagem do requerente
implicou em transtornos que em muito extrapolam a esfera do dissabor.
(…)
No caso, o magistrado identificou e apontou de forma precisa a capacidade de,
com o uso de uma plataforma social com grande quantidade de acessos (como é o perfil
da requerida), macular a imagem e criar imenso dano à honra e ao convívio do ofendido
por conteúdo “viralizado”:
É dizer, o conflito e o destilar de ofensas que até então era protagonizado
APENAS pelo requerente e pela requerida ganhou uma série de
coadjuvantes, todos contra o requerente e sabedores de apenas um lado
da história (a versão unilateral e "viralizada" pela requerida pelos meios de
comunicação, aos quais tem fácil acesso pela fama que conquistou).
Esse uso irresponsável dos meios de comunicação para ofender a honra do
requerente configura inegável ofensa à honra e a imagem do requerente, cabendo a
condenação em reparação material do dano, como restou reconhecido na sentença
mencionada, fundamentada em outros julgados do e. TJ/SP:
Frontalmente ofendido o comando do art. 5º, X da Constituição Federal, em
detrimento do requerente, pela postura da requerida: X - são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Em suma, acabaram diretamente maculados os direitos da personalidade do
requerente por culpa da requerida, direitos estes intransmissíveis e
irrenunciáveis e que vistos sob o ótica da integridade moral compreendem: "A
integridade moral é garantida mediante o reconhecimento dos direitos à
liberdade, à honra, ao recato, ao segredo e ao sigilo, à imagem e à identidade,
de que tratam dispositivos constitucionais (art. 5º, V, X, XII, XIV, LVI, LX, LXXII)
e legais...". (DUARTE, NESTOR, Código Civil Comentado - Doutrina e
Jurisprudência, Coord. Ministro CEZAR PELUSO. 11ª Ed., Barueri, SP: Manole,
2017, p. 30).
Direitos que, dado seu caráter extrapatrimonial, perpétuo e absoluto, gozam de
oponibilidade erga omnes, e como tal devem ser respeitados por tudo e por
todos, tanto que o art. 12 do código civil legitima tal dever e autoriza a imposição
de sanções pelo seu descumprimento: Art. 12. Pode-se exigir que cesse a
ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Sanção a se materializar pelo reconhecimento do dever de reparar
moralmente, maneira mais do que idônea à compensação dos prejuízos
narrados. Neste sentido desponta a jurisprudência do E. TJSP para casos
símiles:
"APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL.
Divulgação de vídeo no site Youtube, que extrapolou os limites do direito
constitucional de informação, assumindo contornos pessoais e atingindo a
honra e a imagem da autora. Exclusão dos vídeos sob análise, que se
impõe. DANO MORAL. Ocorrência. Quantum indenizatório. Valor que atenta à
dupla finalidade da reparação. Responsabilidade pelo pagamento que deve ser
fixada apenas ao ofensor, diante da impossibilidade de controle prévio do
conteúdo disponibilizado pelos usuários. Sentença mantida. SUCUMBÊNCIA.
Redimensionada. RECURSOS NÃO PROVIDOS". (TJSP. Apel. nº 1066847-
02.2016.8.26.0100. Des. Relatora: Rosangela Telles. 2ª Câmara de Direito
Privado. D.J: 23/08/2017)
E ainda: "RESPONSABILIDADE CIVIL - OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Internet Autor que busca a retirada de
vídeo ofensivo acerca de sua pessoa, veiculado pelo youtube (serviço
disponibilizado pela ré) e publicado pelo corréu, intitulado 'O golpista do
ano', além do recebimento de indenização por danos morais Decreto de
parcial procedência Recurso interposto pelo Google Brasil, insurgindo-se
quanto à condenação solidária ao pagamento da indenização reclamada
Insurgência que comporta acolhida Tutela antecipada que foi cumprida pelo
apelante e que se limita ao território nacional Limite territorial da decisão judicial
(art. 16 do Novo CPC) torna descabida a argumentação de descumprimento da
medida, fora do território nacional Remoção do conteúdo deve ser local e não
global Precedentes Sentença reformada para excluir a condenação do Google
Brasil Internet ao pagamento de indenização por danos morais Ato ilícito por ele
não praticado, eis que provedor/hospedeiro do site de buscas (que não pode
responder pelo teor de vídeo postado por terceiros, no caso, o corréu)
Exigibilidade da multa (valor limitado por esta Turma Julgadora em sede de
agravo de instrumento) Questão que não cabe discussão em grau de apelação,
não havendo ainda execução, sequer provisória, nesse sentido - Recurso
parcialmente provido". (TJSP. Apel. nº 1054138-03.2014.8.26.0100. Des. Relator:
Salles Rossi. 8ª Câmara de Direito Privado. D.J: 05/04/2017)
No mais: "INDENIZAÇÃO Dano moral Veiculação de vídeos contendo
acusações aos autores - Utilização de termos pejorativos - Abusividade no
exercício do direito à liberdade de manifestação do pensamento
reconhecida - Evidente o intuito do réu de denegrir a honra e a imagem dos
autores e inequívoca a ofensa causada Danos morais configurados -
Indenização fixada em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) que não comporta
redução Sentença confirmada RECURSO NÃO PROVIDO". (TJSP. Apel. nº
0196204-91.2012.8.26.0100. Des. Relator: Elcio Trujillo. 10ª Câmara de Direito
Privado. D.J: 18/10/2016)
Ademais, como já mencionando anteriormente, a requerida possuía meios legais
de questionar o concurso prestado e meios lícitos para buscar a apuração de eventual
fraude ou a ocorrência de plágio no trabalho de quaisquer dos seus concorrentes. No
entanto, optou por medida absolutamente desproporcional para “reparação” de sua
insatisfação, que foi utilizar de seus meios de influência pública para desonrar a imagem
do requerente, apenas um professor que compunha a banca do concurso.
Em proporção menos gravosa – já que se tratava de cidadão que não era
conhecido publicamente e nem tinha em sua credibilidade intelectual um dos pilares
fundamentais do exercício de sua atividade – foi isso também que aconteceu no caso da
sentença aqui trazida:
Basta atentar, como já enfatizado, que sua postura nas redes sociais foi
diametralmente DESPROPORCIONAL à discussão travada com o requerente
(principalmente quando mensuradas suas consequências). Tivesse esta última
limitado sua insurgência à formulação de reclamação junto ao Departamento de
Transportes Públicos (DTP), ao registro de Boletim de Ocorrência perante a
polícia (para apuração de eventual ilícito pela AUTORIDADE COMPETENTE),
ou ainda utilizado "as provas" que aduz ter produzido com vias a eventual
promoção de discussão judicial, talvez outra fosse sua posição nos presentes
autos.
Todavia, ao revés, optou por utilizar o material que tinha para o exercício de
verdadeira "autotutela", de inequívoca "vingança privada": salvo exceções
previstas em lei, expressamente vedada pelo ordenamento jurídico pátrio e
como tal digna de reprimenda. Assim, a requerida deverá indenizar o
requerente pelos danos morais a ele impingidos.
Como já relatado, a página administrada pela ré tem um longo alcance,
sendo seguida por mais de 85 mil pessoas somente no “Twitter”. Destas, milhares
compartilharam as ilações da requerida, que chegaram a ser divulgadas por
páginas que contam com, literalmente, milhões de seguidores.
Verifica-se, portanto, que o dano causado pela ré ao veicular levianamente
acusações desonrosas contra o autor, atribuindo a ele a prática de crimes, concordância
com plágio a participação de um esquema fraudulento para direcionamento de resultado
de concurso, já foi concretizado, produzindo um abalo psíquico e a desconstrução
pública de sua credibilidade burilada ao longo de anos.
O E. Des. Oldemar Azevedo, em acórdão de sua relatoria proferido na Apelação
Cível nº 0124267-69.2008.8.26.0000 (5ª Câmara de Direito Privado do TJ/SP), tratando
da ação movida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em face do também jornalista
Diogo Mainardi e da Editora Abril afirmou que:
“O exercício abusivo e irresponsável do direito, se causar danos, enseja o
dever de indenizar.
"In casu", a liberdade de manifestação do pensamento transbordou os
limites nos quais poderia ser exercida.
Um jornalista de renome, que manifesta suas idéias formadoras de
opinião em um dos maiores veículos de comunicação impressos do País
deve responder pelos prejuízos que eventualmente vier a causar nessa
situação.
[...]
Em hipótese de lesão, cabe ao agente suportar as conseqüências do seu
agir, desestimulando-se, com a atribuição de indenização, atos ilícitos
tendentes a afetar os aspectos da personalidade humana”.
Desta feita, de rigor o reconhecimento dos danos causados à imagem e honra do
autor pela ré, tendo as publicações mencionadas lhe causado inúmeros e irreparáveis
danos, sendo imprescindível a retirada do conteúdo ofensivo, bem como a reparação
monetária do dano causado.
DO VALOR DA INDENIZAÇÃO
É fato que a dificuldade na reparação do dano extrapatrimonial consiste
exatamente na inexistência de um bem quantificável a ser reparado. Trata-se, no
presente caso, da reparação de um bem subjetivo, não monetizável.
Não é possível acreditar que uma indenização financeira seja capaz de
reconstruir toda a credibilidade e idoneidade que fundou a carreira deste requerente,
construída com dedicação e esforço, abalada em razão das irresponsáveis publicações
da requerida. A indenização financeira assim, com este objetivo, surge como tentativa
de amenizar o dano, vez que desfazê-lo é impossível.
Busca-se, portanto, além da reparação / amenização dos danos o caráter
punitivo-pedagógico da indenização, visando que a ré não torne a veicular
inadvertidamente acusações levianas para macular a imagem de pessoas
inocentes, sem qualquer validação dos fatos noticiados.
No julgamento do Recurso Especial nº 1.440.721, de relatoria da Ministra Maria
Isabel Galotti, o Superior Tribunal de Justiça reafirmou alguns pontos pertinentes para a
determinação do valor indenizatório em caso de publicação de falsas acusações,
colocando em análise quem é o ofendido, o potencial de divulgação e disseminação das
informações falsas e a gravidade do que foi falado. Decidiu-se, assim, que:
“Dessa forma, atentando-se às peculiaridades da causa e levando-se em
consideração que o autor é figura pública e a gravidade da falsa acusação
que lhe foi graciosa e dolosamente imputada, bem como a capacidade
econômica dos ofensores, entendo que a majoração da condenação de cada
recorrido para o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais)
mostra-se adequada para reparar os danos morais sofridos e resguardar
os direitos da personalidade atingidos, de modo a cumprir também com a
função punitiva e a preventiva, sem ensejar a configuração de
enriquecimento ilícito."
No caso mencionado houve a publicação de livro que imputava ao autor da ação,
figura pública cuja atuação profissional depende diretamente da credibilidade que
constrói – exatamente como no presente caso – fatos ofensivos, que maculavam sua
honra, extrapolando assim os limites de crítica pura à uma figura pública.
Do inteiro teor extrai-se que “em que pese o entendimento de que é natural
uma maior exposição à opinião e à crítica dos cidadãos e da imprensa por parte
das pessoas públicas e notórias, não há espaço para que essas liberdades de
expressão e informação se desviem para inverdades e ofensas pessoais. O
exercício da crítica, bem como do direito à liberdade de expressão, não pode ser
usado como pretexto para prática de atos ofensivos à honra, como ocorreu no
caso em apreço (...)”.
O acórdão mencionado restou assim ementado:
RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE LIVRO. FALSO
RELATO DE CUNHO RACISTA E EUGÊNICO ATRIBUÍDO A POLÍTICO.
REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DA FALSA IMPUTAÇÃO.
DANO MORAL REPARAÇÃO ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO
INTEGRAL DO DANO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA.
NÃO RECEBIMENTO DA APELAÇÃO POR PREMATURIDADE. TRÂNSITO EM
JULGADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR RAZOÁVEL. REVISÃO.
SÚMULA 7/ST
1. Consoante se extrai do acórdão do Supremo Tribunal Federal na ADIn
4.815/DF, a dispensa de autorização prévia dos envolvidos para a publicação de
biografias implica a responsabilidade a posteriori por danos comprovadamente
causados. Extrai-se do voto da relatora, a Ministra Cármen Lúcia, que "não há,
no direito, espaço para a imunidade absoluta do agir no exercício de direitos
com interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é ação responsável.
Responde aquele que atua, ainda que sob o título de exercício de direito
próprio." 2. A liberdade de expressão acarreta responsabilidade e não
compreende a divulgação de falsidade e a prática de crimes contra a
honra. A divulgação de episódio falso, como se verdadeiro fosse, além de
ofender a honra do lesado, prejudica o interesse difuso do público
consumidor de bens culturais, que busca o conhecimento e não a
desinformação.
3. Publicação de livro imputando falsamente a pessoa pública afirmações de
cunho racista e eugênico. Ampla divulgação na mídia impressa, televisiva e
virtual, tendo acarretado também processo criminal contra o autor perante o
Supremo Tribunal Federal por crime de racismo e processo de cassação de
mandato perante a Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar
4. Admite-se a revisão do valor fixado a título de condenação por danos morais
em recurso especial quando ínfimo ou exagerado, ofendendo os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.
5. A indenização por danos morais possui tríplice função, a compensatória,
para mitigar os danos sofridos pela vítima; a punitiva, para condenar o
autor da prática do ato ilícito lesivo, e a preventiva, para dissuadir o
cometimento de novos atos ilícitos. Ainda, o valor da indenização deverá
ser fixado de forma compatível com a gravidade e a lesividade do ato ilícito
e as circunstâncias pessoais dos envolvidos.
6. Indenização no valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), a
cargo de cada recorrido, que, no caso, mostra-se adequada para mitigar os
danos morais sofridos, cumprindo também com a função punitiva e a preventiva,
sem ensejar a configuração de enriquecimento ilícito.
7. O direito de resposta, de esclarecimento da verdade, retificação de
informação falsa ou à retratação, com fundamento na Constituição e na Lei Civil,
não foi afastado; ao contrário, foi expressamente ressalvado pelo acórdão do
Supremo Tribunal Federal na ADPF 130. Trata-se da tutela específica, baseada
no princípio da reparação integral, para que se preserve a finalidade e a
efetividade do instituto da responsabilidade civil (Código Civil, arts. 927 e 944).
8. Segundo o entendimento pacífico do STJ, ao juiz, como destinatário da prova,
cabe indeferir as que entender impertinentes, sem que tal implique cerceamento
de defesa. Incidência da Súmula 7/STJ.
9. Tendo sido negado processamento ao recurso de apelação interposto pela
Editora, por decisão transitada em julgado, não cabe apreciar sua
inconformidade de mérito em grau de recurso especial.
10. A alteração dos valores dos honorários advocatícios fixados pelo Tribunal
de origem, quando não irrisórios ou excessivos, exige o reexame de fatos e
provas incabível no âmbito do recurso especial. Incidência da Súmula n° 7/STJ.
11. Recurso especial de Ronaldo Ramos Caiado parcialmente conhecido e, na
parte conhecida, provido.
12. Recurso Especial de Fernando Gomes de Moraes conhecido em parte e, na
parte conhecida, não provido.
13. Recurso especial de Editora Planeta do Brasil Ltda não conhecido.
Importante mencionar que os fatos falsos e ofensivos que foram publicados no
caso trazido foram publicados em um livro, intitulado “Na toca dos Leões – A História da
W/Brasil”, cuja tiragem foi de 70 mil exemplares. 66 Ou seja, mesmo que fossem
vendidos todos os exemplares – o que não ocorreu, já que liminarmente houve
recolhimento dos livros – e todos eles fossem efetivamente lidos, o alcance as
acusações falsas seria de 70 mil leitores.
Para arbitrar o valor do dano observou-se ainda que, além dos potenciais 70 mil
leitores, houve ampla divulgação na imprensa sobre a obra, o que aumentou o alcance
das imputações ofensivas e, em consequência, a gravidade do fato ofensivo.
No presente caso, a requerida tem, somente na rede social onde publicou as
acusações, mais de 85 mil seguidores, pessoas que efetivamente receberam este
conteúdo e leram as acusações. Além disso, houve grande repercussão na imprensa,
com manifestações da requerida sendo replicadas por grandes jornais em páginas que
alcançam mais de 4 milhões de usuários.
Assim, é inegável que a forma como foram proferidas as acusações contra este
autor é muito mais gravosa, vez que a internet e as redes sociais têm um potencial de
superdimensionar a divulgação de conteúdos.
66
Segundo dados da Folha de S. Paulo, disponível em: http://waww1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0104200510.htm Acessado em Janeiro de 2018.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo tem atentando para esse potencial
das redes sociais de ampliar a gravidade da ofensa. No julgamento da apelação nº
4015572-23.2013.8.26.0114 foi mantida integralmente a sentença do juízo de origem
que, diante de um caso de ofensas proferidas em perfis de redes sociais, adotou o
seguinte entendimento:
A partir do momento em que uma pessoa usa sua página pessoal em rede
social para divulgar mensagem inverídica ou para nela fazer constar ofensas a
terceiros, como no caso em questão, por certo são devidos danos morais,
sobretudo tendo em conta os desdobramentos das publicações - devendo ser
encarado o uso desse meio de comunicação com mais seriedade e não com
caráter informal, como tentou demonstrar o réu”
“Neste passo, dada a especificidade do caso concreto, em cotejo com o fato
ocorrido, que envolve personalidades publicamente conhecidas, bem como a
repercussão que a publicização das ofensas toma no âmbito da internet e,
ainda, o potencial econômico dos envolvidos na contenda judiciosa a fixação da
verba indenizatória no importe de R$ 100.000,00, que deverá ser dividido entre
os autores.
Vale anotar que fixar o quantum em valor menor ao ora estabelecido seria até
mesmo vilipendiar o direito à reparação da atingida personalidade dos
ofendidos, sobretudo, como dito, por se tratarem de pessoas públicas,
possuírem grande projeção social e patrimônio expressivo.
Em outro caso (Apelação nº 4002929-85.2013.8.26.0032), em que as ofensas
proferidas não foram contra pessoa pública, o simples fato de terem sido veiculadas em
rede social foi tido como suficiente para que o valor indenizatório fosse arbitrado no
valor de 40 salários mínimos para cada um dos requeridos:
A honra do autor foi claramente maculada e, pior, com o perdão da repetição,
teve como pano de fundo uma rede social, veículo conhecido pelo seu alto
e rápido poder de difusão.
Houve dano à esfera moral do demandante. Sua honra e seu íntimo foram
agredidos, ou seja, seu patrimônio espiritual. As expressões e o teor das
postagens não foram insignificantes, não podendo ser considerados
simples e momentâneo dissabores. Ademais, tiveram como foco principal
assuntos extremamente delicados para qualquer pessoa, como sua
conduta pessoal, sua carreira profissional, seu caráter e, principalmente, o
seio familiar (prole).”
“O valor apropriado é aquele que pune os réus e de certa forma satisfaz o autor.
A indenização tem caráter de desestímulo. Ele deve ser moderado e equitativo.
Nem de longe a condenação pode ser considerada captação de lucro. No caso,
o valor que se mostra justo, punindo os réus e de certa forma satisfazendo o
autor, de rigor fixar o dano moral no valor equivalente a 40 salários mínimos
para o primeiro requerido; e outros 40 salários mínimos para a segunda
requerida (...).
Assim, considerando a gravidade das acusações proferidas, o poder de
disseminação das publicações da requerida, que tem rede social com grande alcance, a
repercussão das publicações na grande imprensa, o fato de o autor ser pessoa pública,
academicamente conhecida em todo o país, que tem em sua reputação parte
fundamental de sua vida profissional, bem como o poder aquisitivo da requerida, que,
além de professora da Universidade de São Paulo, é advogada nacionalmente
conhecida, sendo constantemente contratada para grandes causas, bem como para
eventos e palestras, entende o autor ser razoável a indenização no valor de R$
38.000,00 (trinta e oito mil reais).
DA TUTELA DE URGÊNCIA
O conteúdo ofensivo publicado segue disponível para qualquer usuário da
internet – cadastrado ou não naquela rede e seguidor ou não do perfil da requerida. Por
se tratar de conteúdo público, é facilmente encontrado por qualquer um que faça uma
busca com o nome deste manifestante.
Se a veiculação das mensagens já causa inegável dano, esse se agrava se a
cada busca que for feita com o nome do requerente sejam mostradas entre os
resultados todas essas acusações infundadas. Enquanto os conteúdos ofensivos
estiverem disponíveis online a perpetuação do dano é inevitável.
Para tutelar situações como esta, em que há evidente perigo de dano, o CPC
prevê em seu artigo 300, §2º a possibilidade de deferimento liminar de tutela de
urgência:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
(...)
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.
A probabilidade do direito restou devidamente demonstrada em todos os tópicos
precedentes, evidenciada pelo claro posicionamento jurisprudencial pacífico sobre o
tema, bem como pela gravidade das acusações absolutamente infundadas feitas pela
requerida.
Diante deste cenário, fica clara a necessidade da concessão da tutela provisória
em caráter liminar para permitir um mínimo de preservação da imagem deste
manifestante e impedir que o dano já causado se torne ainda mais gravoso.
DA OBRIGAÇÃO DE FAZER
Ainda que não deferido o pedido de tutela provisória, é inegável que a retirada do
conteúdo ofensivo que gerou o dano é essencial para a sua reparação.
No precedente trazido nesta inicial (STJ, Recurso Especial nº 1.440.721) foi
determinado liminarmente – e mantido ao final - o recolhimento dos livros que traziam as
ofensas discutidas, para que os danos tivessem menor alcance e fossem, assim,
minimizados.
Neste mesmo sentido, a retirada dos conteúdos publicados é de extrema
importância. Até mesmo porque aquilo que é publicado na internet tende a se perpetuar
no tempo, sendo facilmente encontrado com uma simples busca, perpetuando também
os danos que as ofensas e acusações mentirosas causaram.
Também, pela mesma razão, vez que as notícias e compartilhamentos que
surgiram da publicação originária estão fora de qualquer controle possível, é essencial
que a requerida seja compelida a publicar na mesma rede social retratação, nos
mesmos moldes que as ofensas, esclarecendo que as acusações levianas
anteriormente publicadas não são verdadeiras.
Somente assim é possível fazer chegar a informação verídica ao mesmo público
que recebeu – e compartilhou – as ofensas publicadas pela requerida, permitindo assim
que a honra e a imagem do requerente seja minimamente preservada – ou recuperada –
diante daqueles que
DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto, requer:
a) Seja deferida liminarmente a tutela de urgência, para que seja
previamente determinada, sem a oitiva da parte contrária, a retirada das publicações
ofensivas da página pessoal da requerida, para que, em que pese seu conteúdo já
tenha se espalhado por diversas outras páginas, seja possível minimizar o dano que
ainda pode ser causado pelas acusações levianas que foram publicadas;
b) Seja determinado à requerida a publicação de retratação em suas redes
sociais, nos mesmos moldes em que publicou as ofensas, esclarecendo a todos os seus
seguidores que as acusações feitas envolvendo o requerente são inverídicas;
c) Sejam reconhecidos os danos à honra e imagem suportados pelo autor em
decorrência das publicações feitas pela ré, para condená-la ao pagamento de
indenização por danos morais a ser arbitrada por esse D. Juízo, em montante não
inferior a R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais).
d) Requer-se, ainda, que, decidido o caso por este juízo e havendo a
interposição de recurso por qualquer das partes, seja a ré condenada a suportar os ônus
sucumbenciais, com o pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos
honorários advocatícios fixados em 20% (vinte por cento) do valor da condenação, nos
termos do artigo 55 da Lei nº 9099/95.
Por oportuno, requer também a produção de todos os meios de prova admitidos
em direito, em especial a juntada de novos documentos, a tomada de depoimentos
pessoais e a oitiva de testemunhas.
Por fim, requer o autor sejam todas as intimações e publicações veiculadas em
nome de seus patronos, Fernando Gaspar Neisser, inscrito na OAB/SP sob nº 206.341
e endereço eletrônico [email protected] e Paula Regina Bernardelli, inscrita na
OAB/SP sob nº 380.645 e endereço eletrônico [email protected], ambos com
escritório situado na Capital do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista, nº 2073,
Horsa II, Conjunto Nacional, 19º andar, sob pena de nulidade.
Dá-se à presente causa o valor de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais).
Nestes termos, pede deferimento.
São Paulo, 22 de janeiro de 2018.
FERNANDO GASPAR NEISSER
OAB/SP 206.341
PAULA BERNARDELLI
OAB/SP 380.645