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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO DA COMARCA DE NATAL EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO: “Onde há atividade econômica, lá estará o delegado do rei, o funcionário, para compartilhar suas rendas, lucros, e, mesmo incrementá- la (…) estes acumulam dois, três e quatro cargos, ajudados de muitos oficiais, no cultivo do ócio, agarrando com unhas e dentes todo o comércio, a economia inteira” (Raymundo Faoro) 1 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Natal, com arrimo no que prescreve o art. 129, III, da Constituição Federal; art. 84, III, da Constituição Estadual; art. 25, IV, "b", da Lei 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e art. 17, da Lei 8.429/92, vem perante Vossa Excelência, com base no incluso INQUÉRITO CIVIL Nº 046/11, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C RESSARCIMENTO AO ERÁRIO pelos fundamentos de fato e de direito adiante aduzidos, em face de 1 FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Globo, 2001. Av. Floriano Peixoto, 550, Centro, Natal/RN, CEP 59.012-500, fone (84) 3232.7178 1 de 25

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE … - Improbidade Adm - Cessão... · Lei 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e art. 17, da Lei 8.429/92,

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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO:

“Onde há atividade econômica, lá estará o delegado do rei, o funcionário, para compartilhar suas rendas, lucros, e, mesmo incrementá-la (…) estes acumulam dois, três e quatro cargos, ajudados de muitos oficiais, no cultivo do ócio, agarrando com unhas e dentes todo o comércio, a economia inteira” (Raymundo Faoro)1

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Natal, com arrimo no que prescreve o art. 129, III, da Constituição Federal; art. 84, III, da Constituição Estadual; art. 25, IV, "b", da Lei 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e art. 17, da Lei 8.429/92, vem perante Vossa Excelência, com base no incluso INQUÉRITO CIVIL Nº 046/11, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICADE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVAC/C

RESSARCIMENTO AO ERÁRIO

pelos fundamentos de fato e de direito adiante aduzidos, em face de

1FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Globo, 2001.

Av. Floriano Peixoto, 550, Centro, Natal/RN, CEP 59.012-500, fone (84) 3232.7178 1 de 25

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WILMA MARIA DE FARIA, brasileira, inscrita no CPF sob o nº 200.459.724-00, residente e domiciliada na Rua Ministro Raimundo de Brito, nº 1891, Lagoa Nova, CEP nº 59056-330, Natal/RN;

ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, brasileira, divorciada, bancária, inscrita no CPF sob o nº 378.400.294-34, residente e domiciliada na Rua Jornalista Francisco Sinedino, nº 1255, Apto 1700, Lagoa Nova, Natal/RN, CEP nº 59062-570;

WOBER LOPES PINHEIRO JÚNIOR, brasileiro, inscrito no CPF sob o nº 202.334.694-00, residente e domiciliado na Rua Gipse Montenegro, 2021, Capim Macio, Natal-RN, CEP nº 59080-060;

FRANCISCO VÁGNER GUTEMBERG DE ARAÚJO, brasileiro, inscrito no CPF sob o nº 517.598.704-63, residente e domiciliado na Rua Raimundo Chaves, nº 1839, Apto 1001, Candelária, CEP nº 59064-390, Natal/RN;

USTANA COSTA DE GÓIS BEZERRA, brasileira, inscrita no CPF sob o nº 466.116.144-00, residente e domiciliada na Rua dos Tororós, nº 146, Apto 2101, Dix-Sept Rosado, CEP nº 59063-550, Natal/RN; e

JORGE LUIZ DE ARAÚJO GALVÃO, brasileiro, inscrito no CPF sob o nº 155.711.494-34, residente e domiciliado na Rua Des. Dionisio Filgueira, nº 780, Apto 1202, Petrópolis, CEP nº 59014-020, Natal/RN.

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BREVE HISTÓRICO DOS FATOSA Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio

Público da Comarca de Natal instaurou o Inquérito Civil nº 046/11, objetivando apurar irregularidades veiculadas na imprensa local, relativas à cessão da empregada do Banco do Brasil, ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, filha da ex-governadora do Estado WILMA MARIA DE FARIA, à Secretaria Estadual de Planejamento e Finanças.

Segundo denunciado pelo "Novo Jornal", em matéria publicada em 13 de março de 2011, a demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA teria sido cedida pelo Banco do Brasil ao Governo do Estado à época em que sua mãe estava no exercício do cargo de Governadora. Todos os ônus dessa cessão seriam do Governo do Estado do RN, que teria repassado ao Banco do Brasil, só em relação ao mês de novembro de 2010, a quantia de R$ 18.269,03 (dezoito mil reais duzentos e sessenta e nove reais e três centavos).

Instaurado o inquérito civil, a investigada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA compareceu espontaneamente ao Ministério Público, no intuito de esclarecer o ocorrido. Disse que esteve cedida pelo Banco do Brasil (onde é funcionária de carreira há 28 anos) ao Governo do Estado, de 25 de janeiro de 2008 a março de 2011. Disse que estava lotada na Secretaria Estadual de Planejamento, onde era responsável pelo PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL, um projeto supostamente desenvolvido entre o Governo do Estado e o Banco do Brasil.

Indagada se cumpria expediente ou ao menos tinha uma estação de trabalho naquela secretaria, saiu-se com a justificativa que trabalhava externamente e que poucas vezes comparecia à SEPLAN, onde se reportava diretamente ao Secretário de Planejamento.

Segundo restou apurado, no entanto, ANA CRISTINA DE FARIA MAIA nunca exerceu a função para a qual fora cedida e sequer cumpria expediente na repartição em que estava lotada, além de sua cessão ter sido totalmente irregular, conforme será demonstrado a seguir:

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DO PROCESSO DE CESSÃO

Tudo começou, em 19.10.2007, quando o então Secretário-Chefe do Gabinete Civil do Governo do Estado, o demandado WOBER LOPES PINHEIRO JÚNIOR, solicitou à Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Administração do Ministério da Fazenda a cessão ao Governo Estadual da empregada do BANCO DO BRASIL S/A, ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, para a função fictícia de Supervisora do Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável, junto à Secretaria Estadual de Planejamento - SEPLAN, pelo prazo inicial de 01 (um) ano.

A cessão foi autorizada pelo Ministério da Fazenda, sendo, então, minutado um convênio de cessão entre o BANCO DO BRASIL e o GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, com vigência até 31.12.2008, por meio do qual, o banco cedente transferiria ao Governo do Estado todo o ônus pela manutenção de sua empregada, cujas despesas, só no ano de 2008, foram estimadas em R$ 138.000,00 (cento e trinta e oito mil reais).

Na tramitação do processo de cessão, a Assessora Jurídica da SEPLAN USTANA COSTA DE GÓIS BEZERRA se manifestou favoravelmente ao pleito, assim como o próprio Secretário de Planejamento FRANCISCO VÁGNER GUTEMBERG DE ARAÚJO, a quem competiria posteriormente a ordenação da despesa, apesar de ambos conhecerem da irregularidade do ato.

Em 15 de abril de 2008, o termo de cessão foi apreciado e aprovado pelo CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO, presidido por ninguém mais, ninguém menos que a própria Governadora do Estado WILMA MARIA DE FARIA, que, adotando o critério da conveniência administrativa, aprovou a cessão de sua própria filha para trabalhar no seu Governo.

Na seqüência do trâmite administrativo, no entanto, surgiu um obstáculo orçamentário à cessão. A Controladoria Geral do Estado - CONTROL indeferiu a assunção dessa despesa, pois o Governo do Estado estava

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além do limite prudencial, fixado para despesa com pessoal no art. 22 da LRF. De acordo com a Subsecretaria de Planejamento e Controle, a inclusão dessa despesa no orçamento resultaria na inadimplência junto ao Banco do Brasil, com a conseqüente inscrição do Estado no CADIN.

Em razão do parecer contrário da Controladoria Geral do Estado, o processo de cessão retornou à Secretaria Estadual de Administração e Recursos Humanos - SEARH. O que se viu, a partir desse momento, foi a mais pura demonstração do fisiologismo que corrói as entranhas da Administração Pública. Nessa secretaria, com vistas a burlar a legislação, foi elaborado novo parecer, aduzindo que a despesa decorrente da cessão não seria implantada em folha de pagamento, mas sim como ressarcimento direto previsto em convênio, dando a entender, com isso, que essa despesa não se enquadrava como de pessoal para fins da LRF.

Devolvido à CONTROL para "apreciar" esse novo parecer da SEARH, o mesmo Controlador Geral do Estado, JORGE LUIZ DE ARAÚJO GALVÃO (que havia recusado o registro da despesa), de forma surpreendente, reconsiderou seu próprio parecer, para, compartilhando do entendimento suscitado pela SEARH, admitir o registro da despesa, sob o argumento de que se tratava de “ressarcimento protegido por convênio”.

Não resta dúvida que essa mudança de posicionamento da CONTROL se deu, tão-somente, para atender o pleito da Governadora em trazer sua filha para perto de si, numa demonstração inequívoca de patrimonialismo.

Esse novo parecer da CONTROL foi suficiente para legitimar não só a cessão como também as prorrogações do convênio em junho de 2009 e janeiro de 2010, respectivamente, favorecendo, à revelia da Lei e dos Princípios que regem à Administração Pública, a demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA.

Formalizado o processo de cessão, o então Secretário Estadual de Planejamento e Finanças, FRANCISCO VÁGNER GUTEMBERG DE ARAÚJO, por meio da Portaria nº 002 –

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SEPLAN, de 16.01.08 (cópia anexa), resolveu lotar a empregada cedida na COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO, ACOMPANHAMENTO E CONTROLE – COPLAC, para atuar na supervisão e apoio técnico ao processo de elaboração dos Planos de Desenvolvimento Regional Sustentável e na cooperação e articulação entre o Governo do Estado e o Banco do Brasil para acompanhamento das ações do programa no Rio Grande do Norte.

Em que pese essa designação formal para trabalhar na COPLAC, ANA CRISTINA DE FARIA MAIA nunca pisou naquela Coordenadoria, tampouco desempenhou qualquer atividade a ela ligada. Isso foi taxativamente afirmado pelo próprio Chefe da COPLAC, LEONEL CAVALCANTE LEITE.

Não se deve esquecer que, em tese, durante todo o tempo em que esteve cedida ao Governo do Estado, ANA CRISTINA DE FARIA MAIA ficou lotada na COPLAC.

Em depoimento na Promotoria de Justiça, LEONEL CAVALCANTE LEITE afirmou que nunca viu ANA CRISTINA na SEPLAN, muito menos na COPLAC. Disse, ainda, que coordenava pessoalmente os PLANOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL desde o ano 2000 e nunca, em hipótese alguma, trabalhou com ANA CRISTINA DE FARIA MAIA na sua execução.

Desse modo, ficou evidente que essa cessão de ANA CRISTINA não passou de uma farsa, que serviu para que ela ficasse todo esse tempo sem trabalhar, nem cumprir expediente, porém recebendo religiosamente sua remuneração, de mais de R$ 7 mil. Tudo, obviamente, à custa do povo potiguar.

Segue abaixo a íntegra do depoimento de LEONEL CAVALCANTE LEITE, que, sem saber, era o chefe de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA:

“Que ele, o depoente, chefiou a Coordenadoria de Planejamento, Acompanhamento e Controle - COPLAC, da Secretaria de Estado do Planejamento do RN, de 2001 até 14 de janeiro de 2011; Que nessa função, era encarregado, entre outras coisas, da elaboração dos PLANOS DE

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DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL; Que esses planos começaram em 1995, na Gestão do ex-Governador GARIBALDI ALVES, e, partir do ano 2000, passou a ser coordenado pelo depoente; Que esses Planos começaram pelo estudo da Região do Seridó e depois contemplaram todas as regiões do Estado; Que em razão das peculiaridades dos Planos, foi contratada, na época, o Instituto Internacional de Cooperação para a Agricultura - IICA, mantido por vários países; Que os consultores do IICA atuavam em parceria com os agentes da COPLAC/SEPLAN, realizando os estudos necessários, colhendo informações, ouvindo pessoas e, depois, elaborando os relatórios e diagnósticos; Que a Coordenação desses trabalhos de cooperação, desde o ano 2000, coube a ele o Depoente; Que na SEPLAN não existe o CARGO EM COMISSÃO ou a FUNÇÃO DE CONFIANÇA de SUPERVISOR DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL, que essas atribuições cabiam à COPLAC; Que nunca trabalhou com a pessoa de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, filha da ex-governadora; Que, na qualidade de chefe da COPLAC, pode asseverar que ANA CRISTINA DE FARIA MAIA nunca trabalhou na supervisão do PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL; Que só tomou conhecimento de que essa senhora estava lotada na sua Coordenadoria quando leu uma matéria jornalística, publicada já no corrente ano, falando sobre a cessão da filha da ex-governadora para a COPLAC; Que os trabalhos da COPLAC não são vinculados ao BANCO DO BRASIL; Que esse BANCO tem um programa ligado à produção rural, que não se confunde com os PLANOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL, chamado PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL, que auxilia pequenos produtores à profissionalizar suas atividades; Que algumas vezes, ele, o depoente, se reuniu com gerentes do BANCO DO BRASIL para, em parceria com aquele banco, integrar os PLANOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL com o PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO RURAL, mas, mesmo nessas oportunidades, nunca houve a participação de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA; Que ele, o depoente, nunca viu a pessoa de ANA CRISTINA na SEPLAN e pode asseverar que,

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no seu setor, ela nunca entrou, pois sequer a conhece de vista".

ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, portanto, durante todo o tempo em que esteve cedida ao Governo do Estado, foi uma típica funcionária fantasma, fato que era do conhecimento de todos os agentes envolvidos.

É válido destacar que, nos processos de prorrogação e de ressarcimento de custos ao banco, novos pareceres jurídicos emitidos pela Assessora Jurídica da SEPLAN, USTANA COSTA DE GÓIS BEZERRA, ratificaram a posição da CONTROL quanto à legalidade da despesa, assim como foi reiterado o posicionamento de que a cessão da funcionária encontrava-se dentro dos ditames legais.

Não obstante a aparente regularidade do convênio de cessão em comento, tudo não passou de um verdadeiro simulacro, que se direcionou a beneficiar diretamente a filha da então Governadora do Estado, WILMA MARIA DE FARIA, mesmo que, para tanto, fosse necessário se valer ardilosamente da máquina pública como meio de legitimar um ato não só ilegal, mas também nitidamente inconstitucional, causador de sérios prejuízos ao Erário.

CESSÃO ILEGAL: INEXISTÊNCIA DE CARGO EM COMISSÃO OU FUNÇÃO DE CONFIANÇA.

A Política torna as exigências legais extremamente flexíveis, sobretudo quando se trata do apadrinhamento dos filhos do Poder.

As normas que regem a cessão de servidores da Administração Pública Federal, Lei nº 8.112/90, dispõe:

Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, ou do Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes hipóteses:

I - para exercício de cargo em comissão ou função de confiança;

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II - em casos previstos em leis específicas.

§ 1o Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, o ônus da remuneração será do órgão ou entidade cessionária, mantido o ônus para o cedente nos demais casos.

No âmbito estadual, a Lei Complementar nº 122/94, por sua vez, regulando a cessão de servidores públicos, dispõe de forma quase idêntica à norma federal acima transcrita. Vejam:

Art. 106. O servidor pode ser cedido para ter exercício em unidade administrativa de outro Poder ou órgão equivalente do Estado, da União, de outro Estado ou Município, do Distrito Federal ou de Território Federal, ou de entidade da administração indireta:

I - a fim de exercer cargo em comissão ou função de direção, chefia ou assessoramento;II - nos casos previstos em leis específicas.

§ 1º. Na hipótese do inciso I, o ônus da remuneração é do órgão ou entidade cessionária.

A toda evidência, percebe-se que o ato de cessão de servidor ou empregado público somente é viável para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, bem assim nos casos previstos em lei específica.

Na situação em apreço, todo o procedimento de cessão da empregada do Banco do Brasil, ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, desenvolveu-se unicamente no sentido de lotá-la na “função” de Supervisora do Programa de Desenvolvimento Sustentável da SEPLAN/RN, tal como foi efetivamente realizado, por um período de mais de 03 (três) anos.

No entanto, no curso do inquérito civil, restou comprovado que jamais existiu qualquer cargo em comissão ou função de confiança com essa designação nos quadros da

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Secretaria Estadual de Planejamento e Finanças. Sendo mais específico, não há sequer como atestar nem mesmo a existência de um “Programa de Desenvolvimento Sustentável”, tal como se constata nos depoimentos e documentos colhidos nas investigações.

Essa irregularidade foi confirmada pela própria investigada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, que, em depoimento na Promotoria de Justiça, confessou que não ocupava cargo em comissão ou função de confiança na Administração Pública estadual.

A Chefe da Unidade Setorial de Administração Geral – USAG, da SEPLAN/RN, ROSSANA MARIA FERREIRA COSTA, responsável, entre outras coisas, pelo controle de pessoal daquela secretaria, em depoimento prestado na Promotoria de Justiça, afirmou que não existe no âmbito da SEPLAN qualquer cargo em comissão ou função de confiança de "Supervisão do Programa de Desenvolvimento Regional, in verbis:

“Que desde que chegou à SEPLAN nunca viu a pessoa de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, que sequer conhece pessoalmente; Que logo que a depoente tomou posse no cargo, teve que assinar a folha de ponto de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, atestando a sua freqüência ao trabalho, porém, como não a conhecia, procurou saber com o Secretário NELSON TAVARES FILHO, então titular daquela pasta de Governo, quem era ANA CRISTINA, oportunidade em que foi orientada pelo Secretário a atestar a presença dessa senhora, pois ela estaria lotada no Gabinete Civil do Governo do Estado; (…) Que o acompanhamento dos convênios celebrados entre o Governo do Estado e os demais Órgãos Públicos era feito pela Coordenadoria de Planejamento, Acompanhamento e Controle - COPLAC da SEPLAN, cujo Chefe era LEONEL CAVALCANTE LEITE (endereço: Rua da Aurora, 1797, Lagoa Nova, Natal/RN), recentemente exonerado; Que em conversa com LEONEL CAVALCANTE LEITE, escutou dele que ANA CRISTINA jamais trabalhou naquele setor ou com esse programa; Que havia outras pessoas que trabalhavam com LEONEL, podendo citar as pessoas de CATARINA e AMÉRICO MAIA;

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Que ela, a depoente, apesar de trabalhar há mais de 10 meses na SEPLAN, nunca tinha ouvido falar nesse PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL; Que não há qualquer funcionário do BANCO DO BRASIL cedido à SEPLAN atualmente”.

A bem da verdade, esse tal “Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável”, cuja supervisão caberia a ANA CRISTINA DE FARIA sequer existia na Secretaria de Planejamento.

O que existia eram os “Planos de Desenvolvimento Regional Sustentável”, elaborados desde o ano 2000 pela SEPLAN, em caráter permanente, como atividade rotineira do órgão e cujo acompanhamento e gestão cabia à COPLAC.

Essas informações foram dadas por LEONEL CAVALCANTI, chefe da COPLAC, e ratificadas pela Sra. CATARINA LÚCIA DE ARAÚJO LIMA LEITE, Subcoordenadora de Acompanhamento e Controle da COPLAC/SEPLAN, senão vejamos:

“Que nessa função, faz o acompanhamento do Plano Plurianual do Governo do Estado com seus programas e ações; Que entre essas ações está a elaboração dos PLANOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL; Que esses planos começaram em 2000 no âmbito do RN, quando foi realizado o estudo da Região do Seridó (…) Que esses PLANOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL não são vinculados ao BANCO DO BRASIL; Que esse BANCO tem um programa ligado à produção rural, que não se confunde com os PLANOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL, pois esses são uma parceria entre o GOVERNO DO ESTADO (gerido pela SEPLAN), o IDEMA e o IICA.”

Interessante observar, ainda, a FICHA FUNCIONAL de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA na SEPLAN, cuja cópia foi juntada aos autos. Nela consta apenas nome e número de matrícula da empregada, não havendo qualquer menção ao cargo ou função que ocupava nem mesmo a sua lotação.

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Nesse contexto, é lícito afirmar categoricamente que não existia na Secretaria Estadual de Planejamento e Finanças nenhum cargo em comissão ou função de confiança de “Supervisora do Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável”, o que escancara uma cessão desprovida de qualquer amparo legal, levada a efeito tão-somente para acomodar a filha do Governante de Plantão, com nítida ofensa aos postulados da Administração Pública, sem que houvesse, sequer, o cumprimento da jornada de trabalho por parte da cedida.

BURLA AO LIMITE PRUDENCIAL DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

Não bastasse a própria cessão ter sido fraudulentamente concedida, os gestores públicos envolvidos, em especial o CONTROLADOR GERAL DO ESTADO, burlaram as limitações impostas pela LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, ao enquadrar a despesa dela decorrente como “ressarcimento protegido por convênio” e não “despesa com pessoal”, como manda a lei.

A LRF (LC nº 101/00) não faz qualquer distinção entre as despesas com pessoal implantadas na folha de pagamento e aquelas decorrentes de convênios. Muito pelo contrário, essa lei é extremante abrangente, incluindo como “despesa com pessoal” todos aqueles recursos empregados no pagamento das pessoas a serviço do Estado, senão vejamos:

Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e

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contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência.

Assim, os gastos decorrentes da cessão de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA se enquadram perfeitamente no conceito de “despesa com pessoal”, já que seriam realizadas, em tese, como contraprestação ao serviço supostamente desempenhado pela empregada cedida.

Não se deve esquecer que, num primeiro momento, essa despesa foi enquadrada como gasto com pessoal pela Subsecretaria de Planejamento e Controle da CONTROL. Esse entendimento, no entanto, foi reconsiderado pelo próprio CONTROLADOR GERAL DO ESTADO, após manifestação da SEARH de que essa despesa não seria implantada na folha de pagamento, mas sim ressarcida ao Banco do Brasil por meio de convênio.

Com essa manobra, restou extrapolado o limite prudencial atingido pelo Estado do Rio Grande do Norte, o que feriu de plano o art. 22, da LRF, assim disposto:

Art. 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e 20 será realizada ao final de cada quadrimestre.

Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco por cento) do limite, são vedados ao Poder ou órgão referido no art. 20 que houver incorrido no excesso:I – omissis;II – criação de cargo, emprego ou função;

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre

outras, as providências previstas nos §§ 3o e

4o do art. 169 da Constituição.

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§ 1o No caso do inciso I do § 3

o do art. 169

da Constituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela extinção de cargos e funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos.

Diante de tais considerações, a cessão da demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA burlou a Lei de Responsabilidade Fiscal, deixando de enquadrar, fraudulentamente, a despesa dela decorrente como sendo “despesa com pessoal”.

SÚMULA VINCULANTE Nº 13: NEPOTISMO CARACTERIZADO

O caso em tela pode ser considerado como um exemplo claro de uma das práticas mais antigas e nocivas ao serviço público, que há anos vem se institucionalizando na Administração Pública brasileira, solapando a moralidade administrativa e contribuindo para o crescente aumento nos índices de corrupção.

O termo nepotismo é de origem bastante remota. Desde a Idade Média, percebe-se a existência de favorecimento dos “nepos” (netos), “nepotis” (sobrinhos) e parentes em geral em prejuízo dos demais membros da sociedade.

As primeiras menções conhecidas do termo são da língua latina exatamente em razão do liame original com a Igreja Católica. Àquela época, a instituição papal confundia-se com o Estado, administrando patrimônio superior às monarquias e exercendo poder temporal mais próximo do que hoje se pode denominar soberania (inclusive com a inserção de uma ordem jurídica canônica, mais efetiva do que as estatais propriamente ditas). Daí advém a explicação de que a gestão do bem comum (e os vícios a ela inerentes, como o nepotismo), na Idade Média associam-se de forma mais evidente à Igreja do que às instituições monárquicas feudais.

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A marca ilícita do nepotismo situa-se exatamente na dose considerável de influência do vínculo familiar como motivação do ato administrativo. O agente que dá causa à nomeação tem como instrumento precípuo a possibilidade real de manejo da vontade administrativa (de forma direta - praticando ele mesmo o ato de provimento; ou indireta, a partir da ação de outros agentes) para fazer valer o critério de parentesco sobre as regras principiológicas constitucionais.

Deveras, é a partir da penetração da influência familiar no processo de ingresso do nepote2 na Administração Pública que se verifica a quebra da impessoalidade administrativa, que se imiscuem as searas privada e pública, que se atenta contra a isonomia dos administrados e que se impulsiona a ineficiência da máquina estatal.

Destarte, havendo a utilização de influência daquele que exerce função pública3 — e em razão desta — para a admissão de indivíduo a ele ligado por vínculo de parentesco ou familiar, restará configurada prática de nepotismo e, conseqüentemente, o vício do ato administrativo.

No presente caso, a demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, a despeito de qualquer qualificação profissional que a tornasse merecedora do apreço estatal, foi escolhida para, em tese, gerir um projeto específico no âmbito da Administração Pública Estadual.

Para tanto, foram mobilizadas diversos Gestores Públicos estaduais e federais, tais como a Governadora do Estado, o Ministro da Fazenda, dois Secretários de Estado, Presidente e Superintendente do BANCO DO BRASIL e, ainda, muitos outros gestores menores, tudo com vistas a conseguir autorização para lotar a demandada ANA CRISTINA numa função fictícia na Secretaria de Planejamento.

Não resta dúvida, portanto, que todo o empenho para viabilizar essa cessão só existiu porque se tratava 2 s.m. [...] 3. favorito, protegido. (Dicionário Eletrônico Rideel).3 Função pública em sentido lato, aqui compreendendo os institutos cargo público, emprego público e função pública em sentido estrito (funções de confiança ou funções outras não-remuneradas).

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da filha da Governadora, e visou, exclusivamente, atender, seus interesses pessoais, em detrimento do Interesse Público.

O favorecimento pessoal, assim, é motivo que desnatura a higidez jurídica do ato administrativo, eivando-o de vício insanável. A Governadora WILMA MARIA DE FARIA incorporou de tal modo a função pública que exercia, que a tornou parte de sua esfera pessoal, uma extensão de sua individualidade, em total descompasso com os princípios republicanos.

Trata-se de conduta condenada pelo sistema constitucional brasileiro, como anota José Afonso da Silva:

O princípio ou regra da impessoalidade da Administração Pública significa que os atos e provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica mas ao órgão ou entidade administrativa em nome do qual age o funcionário. Este é um mero agente da Administração Pública, de sorte que não é ele o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a vontade estatal.

Nesse sentido, se pronunciou o Supremo Tribunal Federal ao julgar a ação declaratória de constitucionalidade nº 12/2006, através do relator Ministro Carlos Ayres Brito:

“Em palavras diferentes, é possível concluir que o spiritus rectus da Resolução do CNJ é debulhar os próprios conteúdos lógicos dos princípios constitucionais de centrada regência de toda a atividade administrativa do Estado. Princípios como:

I – o da impessoalidade, consistente no descarte do personalismo. Na proibição do marketing pessoal ou da auto-promoção com os cargos, as funções, os empregos, os feitos, as obras, os serviços e campanhas de natureza pública. Na absoluta

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separação entre o público e o privado, ou entre a Administração e o administrador, segundo a republicana metáfora de que “não se pode fazer cortesia com o chapéu alheio”. Conceitos que se contrapõem à multi-secular cultura do patrimonialismo e que se vulnerabilizam, não há negar, com a prática do chamado “nepotismo’. Traduzido este no mais renitente vezo da nomeação ou da designação de parentes não-concursados para trabalhar, comissionadamente ou em função de confiança, debaixo da aba familiar de seus próprios nomeantes. Seja ostensivamente, seja pela fórmula enrustida do “cruzamento” (situação em que uma autoridade recruta o parente de um colega para ocupar cargo ou função de confiança, em troca do mesmo favor);II – (...);III – o princípio da igualdade, por último, pois o mais facilitado acesso de parentes e familiares aos cargos em comissão e funções de confiança traz consigo os exteriores sinais de uma prevalência do critério doméstico sobre os parâmetros da capacitação profissional (mesmo que não seja sempre assim). Isto sem mencionar o fato de que essa cultura da prevalente arregimentação de mão-de-obra familiar e parental costuma carrear para os núcleos familiares assim favorecidos uma super-afetação de renda, poder político e prestígio social.”

É possível ir além. O ato aqui combatido não se voltou apenas contra a impessoalidade e isonomia, mas sobretudo contra a moralidade administrativa, na medida que a desonestidade perpetrada pela ex-Governadora, em conluio com diversos agentes públicos, extrapolou não só os limites da lei, como também os preceitos morais inerentes à função pública que ocupava.

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Isso porque ANA CRISTINA DE FARIA MAIA não só foi cedida de forma irregular e impessoal, mas também para não trabalhar, o que, por si só, ofende a mais não poder a moralidade administrativa!

Não por outra razão, o Supremo Tribunal Federal reiteradamente tem proclamado o dever de submissão da Administração Pública ao princípio da moralidade, tal como manifestado no emblemático RE 579951, julgado em 20.08.2008, no qual a Egrégia Corte entendeu que a vedação ao nepotismo na Administração não exige a edição de lei formal, por decorrer diretamente de princípios constitucionais, sobretudo do princípio da moralidade.

À luz de todo o esforço empreendido pela Corte Suprema no sentido de combater a prática do nepotismo em todas as searas do Poder Público, com fulcro no art. 103-A da Constituição Federal, finalmente foi editada, em 29.08.2008, a Súmula Vinculante nº 13, com o seguinte teor:

“A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal”.

A partir de então, o referido enunciado, de caráter declaratório e obrigatório, dotado de efeitos erga omnes, vedou com força de lei qualquer ato tendente a consolidar a prática do nepotismo.

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Não se venha dizer, contudo, que a súmula vinculante nº 13 do STF foi editada alguns meses depois do início da cessão de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA.

A vedação ao nepotismo já existia na legislação brasileira, de forma implícita. Além disso, nos idos de janeiro de 2008, já havia profunda discussão no seio da sociedade brasileira e potiguar sobre o combate ao nepotismo. Isso porque já estava em vigor resolução do Conselho Nacional de Justiça que expurgava esse mal no âmbito do Poder Judiciário.

Todos os gestores públicos envolvidos com a cessão de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA já sabiam que, mais cedo ou mais tarde, a vedação expressa ao nepotismo, fixada pelo CNJ, alcançaria também o Poder Executivo estadual. Eles, portanto, anteciparam-se aos fatos, evitando nomear a filha da Governadora para um Cargo em Comissão, medida que, na prática, seria muito mais simples.

Os demandados, portanto, foram verdadeiros visionários e cuidaram de burlar a vedação ao nepotismo antes mesmo que a súmula vinculante nº 13 impusesse essa conduta.

Tanto foi assim que, em seu depoimento na Promotoria de Justiça, ao ser questionada se havia assinado "Declaração de Nepotismo" durante esses três anos que permaneceu cedida ao Governo do Estado, a própria ANA CRISTINA DE FARIA MAIA disse que não, pois não exercia cargo em comissão na SEPLAN e, em razão disso, estava dispensada de apresentar essa declaração. Uma falácia!

Veja, Excelência, que, mesmo após editada a súmula vinculante nº 13, a demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA e os gestores responsáveis pelo combate ao nepotismo no âmbito da Administração Estadual se fizeram de rogados e não aplicaram aquela vedação à filha da Governadora.

A pessoalidade no agir de todos os demandados, portanto, é mais do que evidente.

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Analisando o caso epigrafado, verifica-se que todos os demandados concorreram direta ou indiretamente para a prática do nepotismo, na medida em que todos eles, mesmo conhecendo o grau de parentesco entre ANA CRISTINA DE FARIA MAIA e a GOVERNADORA DO ESTADO WILMA DE FARIA, não manifestaram qualquer discordância ou ressalva, tudo fazendo para efetivar e manter a cessão por longos 03 anos.

A participação dos demandados é cristalina, desde aqueles que opinaram favoravelmente ou liberaram os recursos públicos necessários, até aqueles que foram decisivos para configuração da fraude.

Entre esses últimos, está o demandado WOBER LOPES PINHEIRO JÚNIOR que, na condição de Secretário-Chefe do Gabinete Civil do Governo do Estado, solicitou ao Ministério da Fazenda a cessão da filha da GOVERNADORA, para exercer uma função que sabia não existir.

O mesmo se diga da ex-governadora WILMA MARIA DE FARIA que, na condição de membro do CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO, decidiu favoravelmente à cessão de sua filha.

DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVAA Lei 8.429/92, regulando o disposto no artigo

37, § 4o, da Carta Magna, tipifica os atos de improbidade administrativa, que consistem essencialmente em graves violações funcionais cometidas por agentes públicos que venham, com seu comportamento, a enriquecer-se ilicitamente (artigo 9o), a causar prejuízo ao erário (artigo 10), ou a violar frontalmente os princípios reitores da administração pública (artigo 11), demonstrando, com isso, desprezo e negligência pelo cargo ocupado e pelos valores maiores que devem conduzir o servidor no desempenho de suas competências.

No caso em apreço, pela análise dos elementos coligidos, verifica-se que os demandados JORGE LUIZ DE ARAÚJO GALVÃO, USTANA COSTA DE GÓIS BEZERRA e FRANCISCO VÁGNER GUTEMBERG DE ARAÚJO, na condição de agentes Av. Floriano Peixoto, 550, Centro, Natal/RN, CEP 59.012-500, fone (84) 3232.7178 20 de 25

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públicos estaduais, praticaram o ato de improbidade administrativa previsto no art. 10, inciso IX, da Lei nº 8.429/92, in verbis:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;

À vista dos fatos narrados, percebe-se que a conduta de JORGE LUIZ DE ARAÚJO GALVÃO, ao emitir parecer favorável à validação da cessão da funcionária, foi dirigida a legitimar o registro da despesa, mesmo de encontro aos preceitos da LRF atinentes à matéria. Para agravar, num primeiro momento, o demandado opinou pela impossibilidade do registro, nos termos da lei, mas, posteriormente, reconsiderando seu posicionamento correto, terminou legitimando a ilegalidade com a emissão de parecer favorável.

Do mesmo modo, a demandada USTANA COSTA DE GÓIS BEZERRA concorreu para a continuidade da fraude, na medida que, na condição de Coordenadora da Assessoria Jurídica da SEPLAN, emitiu parecer favorável à cessão, cuja ilicitude era flagrante, com o propósito deliberado de favorecer a filha da Governadora, opinando, ainda, por outras duas vezes, favoravelmente a prorrogação do Convênio de Cessão.

Por seu turno, o demandado FRANCISCO VÁGNER GUTEMBERG DE ARAÚJO, ordenador de despesas, terminou por consolidar toda a fraude com a liberação dos recursos públicos destinados a prover as vantagens auferidas pela servidora. Não bastasse isso, ANA CRISTINA esteve todo o tempo subordinada a sua secretaria, onde não trabalhava

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nem cumpria expediente, tudo com seu conhecimento e beneplácito.

Os demandados WILMA MARIA DE FARIA, FRANCISCO VÁGNER GUTEMBERG DE ARAÚJO e WOBER LOPES PINHEIRO JÚNIOR, por sua vez, cometeram o ato de Improbidade Administrativa tipificado no art. 10, Inc. XII, ao permitir que a demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA se enriquecesse ilicitamente à custa do erário, ao receber salários do Poder Público sem trabalhar.

Por fim, a demandada ANA CRISTINA DE FARIA MAIA se beneficiou diretamente da despesa indevida, enriquecendo ilicitamente, em razão de ter sido cedida para ocupar a inexistente função de Supervisora do Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável junto à SEPLAN, percebendo as vantagens do seu emprego no Banco do Brasil, pelo período de mais de 03 (três) anos, sem que houvesse a efetiva prestação dos serviços.

Com isso, todos os aludidos demandados concorreram decisivamente para a consumação dos atos de improbidade administrativa, seja permitindo a realização de despesa não autorizada em lei ou regulamento, seja permitindo o enriquecimento ilícito de ANA CRISTINA DE FARIA MAIA, estando evidente o dolo específico de cada um deles que, conhecendo o parentesco entre a beneficiária e a Governadora, empenharam-se para consumar o dano ao erário. Ainda que assim não fosse, o que admitimos só para argumentar, em sede de dano ao Erário, a demonstração do dolo dos agentes mostra-se dispensável, tal como apregoa o art. 5º da Lei nº 8.429/92.

Já no que concerne à prática do nepotismo, revela-se patente o envolvimento de todos os demandados, pois o parentesco entre ANA CRISTINA e a Governadora WILMA DE FARIA era notório e dele todos tinham conhecimento.

Assim, os atos praticados pelos demandados, também, atentaram contra os Princípios da Administração Pública, o que autoriza o enquadramento de suas condutas no art. 11, caput e Inc. I, da Lei nº 8.429/92.

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Por derradeiro, tornam-se imprescindíveis algumas observações a respeito da sanção prevista no art. 12 da Lei nº 8.429/92, no tocante ao ressarcimento integral do dano decorrente de atos de improbidade administrativa, tal como os que ora se observam.

Como qualquer ato ilícito, a conduta ímproba que causar dano ao patrimônio público induz o dever de repará-lo, a fim de fazer com que o desfalque patrimonial constatado seja suprido até o estado que se encontrava por ocasião da prática do ato lesivo.

Nas didáticas lições do professor Emerson Garcia:

O dever de reparar pressupõe: a) a ação ou omissão do agente, residindo o elemento volitivo no dolo ou na culpa; b) o dano; c) a relação de causalidade entre a conduta do agente e o dano ocorrido; d) que da conduta do agente, lícita (ex.: agente que age em estado de necessidade) ou ilícita, surja o dever jurídico de reparar.

O dolo na conduta dos demandados é patente, eis que não há como admitir a consolidação desses atos de improbidade sem que houvesse o deliberado propósito de favorecer a filha da Governadora, cuja relação de parentesco era notória ao tempo da cessão.

Nessa mesma senda, as despesas decorrentes da cessão foram realizadas em descompasso com a Lei de Responsabilidade Fiscal, já que foi autorizada além do limite prudencial previsto em lei. Tudo com o conhecimento dos envolvidos.

Assim, considerando a ilegalidade da cessão e de suas prorrogações e, ainda, a circunstância de a demandada ANA CRISTINA DE FARIA LIMA não cumprir expediente nem trabalhar para o Estado durante todo o período em que esteve cedida, devem os demandados ser condenados a ressarcir integralmente os danos sofridos pelo erário, consistente no total de recursos repassados ao Banco do

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Brasil a título de ressarcimento, calculados em R$ 433.275,91 (quatrocentos e trinta e três mil, duzentos e setenta e cinco Reais e noventa e um centavos) (valores históricos).

Considerando, ainda, que todos os demandados concorreram para a consumação da improbidade, devem todos eles responder solidariamente pelos prejuízos sofridos pelo erário.

IV - DOS PEDIDOSPor todo o exposto, requer o Ministério Público

do Rio Grande do Norte a Vossa Excelência:

1) a NOTIFICAÇÃO dos requeridos para os fins do disposto no artigo 17, § 7º, da Lei 8.429/92, com o posterior recebimento desta ação civil pública de improbidade administrativa e a sua conseqüente citação, para, querendo, contestarem, no prazo legal e sob pena de revelia;2) a CONDENAÇÃO dos demandados como incursos nos atos de improbidade administrativa tipificados no art. 10, Inc. IX e XII, aplicando-lhes as sanções do artigo 12, inciso II, tudo da Lei 8.429/92 além daquelas pertinentes à sucumbência nesta ação civil pública, notadamente o ressarcimento ao erário da importância de R$ 433.275,91 (quatrocentos e trinta e três mil, duzentos e setenta e cinco Reais e noventa e um centavos), com atualização monetária e juros legais;3) em caráter sucessivo, a CONDENAÇÃO dos demandados como incursos nos atos de improbidade administrativa tipificados no art. 11, caput e Inc. I, aplicando-lhes as sanções do artigo 12, inciso III, tudo da Lei 8.429/92 além daquelas pertinentes à sucumbência nesta ação civil pública, notadamente o ressarcimento ao erário da importância de R$ 433.275,91

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(quatrocentos e trinta e três mil, duzentos e setenta e cinco Reais e noventa e um centavos), com atualização monetária e juros legais;4) a NOTIFICAÇÃO do Estado do Rio Grande do Norte, por seu representante legal, para se manifestar sobre o interesse de integrar a presente ação civil pública; e4) a oitiva dos demandados e das testemunhas ao final arroladas.

Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 433.275,91 (quatrocentos e trinta e três mil, duzentos e setenta e cinco Reais e noventa e um centavos).

Natal/RN, 25 de abril de 2011.

SÍLVIO RICARDO GONÇALVES DE ANDRADE BRITO

PROMOTOR DE JUSTIÇA

AFONSO DE LIGÓRIO BEZERRA JÚNIOR PROMOTOR DE JUSTIÇA

DANIELLI CHRISTINE DE OLIVEIRA G. PEREIRA PROMOTORA DE JUSTIÇA

EMANUEL DHAYAN BEZERRA DE ALMEIDA

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Rol de testemunhas:

− ROSSANA MARIA FERREIRA COSTA: residente e domiciliada na Rua Fabrício Pedroza, nº 96, Apto. 308, Areia Preta, Natal/RN, CEP nº 59014-030;

− CATARINA LÚCIA DE ARAÚJO LIMA LEITE: residente e domiciliada na Av. Miguel Castro, nº 1275, Apto. 902, Lagoa Nova, Natal/RN, CEP nº 59075-740;

− LEONEL CAVALCANTE LEITE: residente e domiciliado na Rua da Aurora, nº 1797, Lagoa Nova, Natal/RN, CEP nº 59054-680.

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