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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARANÁ FORÇA TAREFA EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA – PARANÁ Autos nº 5025687-03.2014.404.7000 Classe: Ação Penal Autor: Ministério Público Federal Réus: Alberto Youssef, André Catão de Miranda, Carlos Habib Chater e Rene Luiz Pereira O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo procurador da República que subscreve, vem, em atenção à decisão lançada no evento 389-DESP1, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS, nos termos que seguem. 1 . Relatório Trata-se de processo criminal iniciado por denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra RENE LUIZ PEREIRA (“RENE”), SLEIMAN NASSIM EL KOBROSSY (“SLEIMAN”), MARIA DE FÁTIMA STOCKER (“EVI”), CARLOS HABIB CHATER (“CHATER” ou “HABIB”), ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA (“ANDRÉ”) e ALBERTO YOUSSEF (“YOUSSEF”) pela prática de crimes de evasão de divisas (artigo 22, parágrafo único da lei 7.492/86), lavagem de dinheiro (artigo 1º, caput e § 1º, II da lei 9.613/98) e, em relação a RENE, tráfico de entorpecentes e associação para o tráfico (artigos 33, caput, e 35 c/c 40, I da Lei 11.343/2006). De acordo com a peça acusatória, RENE e SLEIMAN integram uma organização transnacional dedicada ao tráfico de cocaína, a qual é comandada por EVI. Já CHATER e YOUSSEF são operadores do mercado de câmbio paralelo, 1 de 62

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARANÁ

FORÇA TAREFA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL

CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA – PARANÁ

Autos nº 5025687-03.2014.404.7000

Classe: Ação Penal

Autor: Ministério Público Federal

Réus: Alberto Youssef, André Catão de Miranda, Carlos Habib Chater e Rene

Luiz Pereira

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo procurador da República que

subscreve, vem, em atenção à decisão lançada no evento 389-DESP1, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS, nos termos que seguem.

1. Relatório

Trata-se de processo criminal iniciado por denúncia oferecida pelo Ministério

Público Federal contra RENE LUIZ PEREIRA (“RENE”), SLEIMAN NASSIM EL

KOBROSSY (“SLEIMAN”), MARIA DE FÁTIMA STOCKER (“EVI”), CARLOS

HABIB CHATER (“CHATER” ou “HABIB”), ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA

(“ANDRÉ”) e ALBERTO YOUSSEF (“YOUSSEF”) pela prática de crimes de evasão

de divisas (artigo 22, parágrafo único da lei 7.492/86), lavagem de dinheiro (artigo 1º,

caput e § 1º, II da lei 9.613/98) e, em relação a RENE, tráfico de entorpecentes e

associação para o tráfico (artigos 33, caput, e 35 c/c 40, I da Lei 11.343/2006).

De acordo com a peça acusatória, RENE e SLEIMAN integram uma

organização transnacional dedicada ao tráfico de cocaína, a qual é comandada por

EVI. Já CHATER e YOUSSEF são operadores do mercado de câmbio paralelo,

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habituados a realizar operações de evasão de divisas e lavagem de ativos, sendo que o

primeiro era auxiliado pelo acusado ANDRÉ.

A denúncia imputou aos acusados a prática de evasão de um total de US$

124.000,00 relacionados ao narcotráfico mediante operações que podem ser assim

sintetizadas:

► 1ª operação: visando receber no Brasil dólares enviados por EVI para

pagamento de drogas, SLEIMAN e RENE contrataram CHATER para intermediar a

operação mediante uma taxa de lucro de 1% de seu valor. CHATER então contatou

YOUSSEF e instrumentalizou a entrega física de US$ 36.000,00, que ocorreu no dia

30/08/13, por emissário de EVI a RENE (em favor também de SLEIMAN) na Rua

Renato Paes de Barros, 778, segundo andar, Itaim, onde funcionava o escritório de

YOUSSEF.

Os US$ 88.000,00 faltantes foram entregues por CHATER a RENE e

SLEIMAN em seu equivalente em reais, sendo que RENE negociou a respectiva

compra de dólares para envio à Bolívia como pagamento a produtores ou

fornecedores de drogas, da seguinte forma:

► 2ª operação: primeiramente, RENE pede a CHATER que efetue depósito de

R$ 77.100,00 em conta indicada por corretora de câmbio com a qual negociou US$

30.000,00. No dia 05/09/13, a mando de CHATER, o denunciado ANDRÉ efetuou o

depósito dos R$ 77.100,00 na conta indicada por RENE, o qual posteriormente

confirma o envio e recebimento do equivalente em dólares por seu fornecedor no

exterior.

► 3ª Operação: no dia 11/09/13, CHATER, com o auxílio de ANDRÉ, efetua

o depósito de R$ 19.920,00 em conta indicada por RENE, em favor dele e de

SLEIMAN. Pelo que se pode inferir do contexto dos autos, a seguir o valor é remetido

ao exterior (Bolívia).

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► 4ª e 5ª operações: para o restante do valor, no montante de R$ 125.500,00,

correspondentes a US$ 50.000,00, RENE pede o depósito em conta a ele indicada por

um doleiro de nick “MATUSALEM”. Assim, considerando o retorno de uma das

TEDS inicialmente efetuada, CHATER realiza o depósito dos valores na referida

conta da seguinte forma: 1) R$ 85.000,00 em 2 cheques da empresa Posto da Torre

(um no valor de R$ 35.000,00 e outro R$ 50.000,00), controlada por CHATER, no dia

13/09/13; e 2) R$ 40.500,00 em 2 transferências provenientes do Posto da Torre

(sendo uma no valor de R$ 33.400,00 e outra de R$ 7.100,00), no dia 16/09/13.

A seguir, RENE contata MATUSALEM para que repasse os valores em

dólares a seus credores na Bolívia. O montante é então entregue ao contato de RENE

que utiliza o nick CHAVO, o qual, por sua vez, o repassa ao credor CABALLERO da

seguinte forma: US$ 15.000,00 no dia 17/09/13 e US$ 35.500,00 no dia 19/09/131.

A peça acusatória imputa aos denunciados ainda a prática de lavagem dos

mencionados US$ 124.000,00 eis que, cientes da origem ilícita dos valores,

promoveram a ocultação, dissimulação, recebimento, guarda e movimentação de

dinheiro proveniente de tráfico de drogas mediante as operações de câmbio

anteriormente descritas.

Por fim, acusa-se RENE de, no final do mês de novembro de 2013, ter se

associado com no mínimo outras 3 pessoas e importado 698 Kg de cocaína

provenientes da Bolívia, os quais foram apreendidos no dia 21/11/13, na cidade de

Araraquara, em poder de OCARI MOREIRA com auxílio de GILBERTO RAMOS

LOPES e RICARDO SEMLER RODRIGUEZ, conforme consta dos autos 0014808-

07.2013.403.6120.

Apresentada a denúncia, o juízo determinou notificação de RENE para

oferecer defesa prévia na forma do artigo 55 da Lei 11.343/2006, ao mesmo tempo em

que deferiu o pedido ministerial de cópia integral dos autos 0014808-

07.2013.403.6120 (evento 2). Referido volume processual foi posteriormente juntado1 A partir desse momento, com o intuito de facilitar a exposição e evitar a repetição desnecessária de descrições fáticas, o

Ministério Público Federal fará referência a cada uma das transações identificadas com base na descrição ora realizada,mencionando-as pela identificação de “operação 1”, “operação 2”, “operação 3” e “operações 3 e 4”.

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aos eventos 26 e 27, complementado no evento 101 e pela mídia encaminhada

conforme documentado no evento 100, em relação à qual foram apresentadas as

informações juntadas ao evento 306 pela autoridade policial.

A defesa prévia de RENE foi acostada ao evento 24. Sustentou,

preliminarmente, a inépcia da denúncia por constituir acusação genérica, que não

individualiza as condutas do denunciado. No mérito, quanto às condutas de evasão de

divisas, sustenta que atípicas, eis que não demonstrada a efetiva saída de capitais do

país e que, no caso, o delito de evasão seria absorvido pelo crime de lavagem de

capitais. Quanto à lavagem, defende que atípica por 3 motivos: 1) não comprovado o

suposto delito antecedente, 2) não demonstrada a ocultação de valores ilícitos com

subsequente transformação em montante lícito e 3) ausência de dolo de ocultação ou

dissimulação de dinheiro por RENE. Por fim, quanto aos crimes relacionados a

entorpecentes, aduz que não comprovados.

Atendendo a intimação judicial (evento 17), o Ministério Público Federal

desistiu da oitiva de uma das testemunhas arroladas na exordial, insistindo, contudo,

na inquirição da outra (evento 21).

No dia 15 de maio de 2014, após afastar todas as alegações da defesa de

RENE, o juízo recebeu a denúncia. No mesmo ato, determinou o desmembramento do

feito em relação a SLEIMAN (foragido) e EVI (presa na Espanha), para os quais

formados os autos 5043130-64.2014.404.7000. Quanto aos requerimentos probatórias

da defesa, determinou juntada de documentos (que foi cumprida no evento 190) e

indeferiu pedido de degravação integral das interceptações telefônicas, concedendo

prazo para que os defensores indicassem eventuais diálogos relevantes e ainda não

degravados (evento 28).

A seguir, todos os réus foram devidamente citados, consoante se observa nos

eventos 52, 58, 59 e 60.

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CARLOS HABIB CHATER apresentou sua defesa escrita no evento 149

(procuração no evento 127). Basicamente, sustentou a incompetência da Subseção

Judiciária de Curitiba para o feito e a ausência de continência ou conexão com o

crime de tráfico de drogas denunciado. Questionou ainda a aceleração da marcha

processual, sobretudo o oferecimento de denúncia antes de finda a instrução

processual e a designação de audiência antes da apresentação das respostas escritas

pelas defesas. Defendeu, por fim, que não há justa causa para o exercício da ação

penal, tendo o órgão de acusação se fundamentado em ilações, e que a inicial seria

genérica e consequentemente inepta por não descrever circunstâncias elementares do

tipo penal. Para a instrução processual, requereu a realização de perícia sobre as

interceptações telefônicas, bem como sua integral degravação, e arrolou testemunhas.

A peça inicial em favor de ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA encontra-se no

evento 150 (procuração no evento 57). Basicamente, repetiu os argumentos favoráveis

à competência da Justiça Federal do Distrito Federal para o feito, ausência de conexão

entre os fatos imputados ao requerente e os delitos envolvendo entorpecentes,

ausência de justa causa para o exercício da ação penal e violação aos direitos e

garantias fundamentais ante a indevida aceleração da marcha processual. Também

pediu transcrição integral dos diálogos interceptados, além de arrolar testemunhas.

Na forma do artigo 396 do Código de Processo Penal, RENE LUIZ PEREIRA

apresentou peça escrita no evento 160, reproduzindo os argumentos já lançados na

defesa prévia juntada ao evento 24.

No evento 164 o Ministério Público Federal requereu o encaminhamento da

mídia que completa a instrução dos autos 0014808-07.2013.403.6120 à Polícia

Federal para que realizasse os cruzamento de dados com as informações colhidas no

presente caso e, eventualmente, perícia complementar, o que foi deferido evento 166.

Em relação a esta perícia, RENE indicou assistente técnico e formulou quesitos no

evento 192.

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A resposta à acusação em nome de ALBERTO YOUSSEF descansa nos

eventos 170 e 171. Como preliminar, sustentou a nulidade das interceptações

telefônicas e, por derivação, de todas as demais provas dos autos. No mérito, negou a

realização das condutas típicas que lhe são imputadas, sendo a acusação calcada em

inferências, não havendo qualquer prova do dolo típico de YOUSSEF. Arrolou

testemunhas.

Seguiu-se audiência de inquirição da testemunha arrolada pela acusação,

sendo o respectivo termo de transcrição juntado ao evento 242.

No mesmo ato o meritíssimo juiz federal analisou as defesas escritas dos réus,

afastando todas as preliminares por eles deduzidas. Quanto aos requerimentos

probatórios, o juízo novamente afastou a necessidade de degravação integral das

conversas interceptadas, concedendo prazo às defesas para indicação de eventuais

diálogos relevantes não degravados. Determinou ainda que elas esclarecessem o

objeto e propósito de perícia sobre as gravações telefônicas. Deferiu as oitivas das

testemunhas, à exceção dos próprios réus RENE e CHATER, arrolados pela defesa de

YOUSSEF (eventos 174 e 179), as quais foram substituídas (eventos 182 e 187).

RENE apresentou esclarecimentos quanto à perícia pretendida nos arquivos

com diálogos interceptados e apresentou o respectivo assistente técnico no evento

193. Providencia de igual natureza, incluindo a formulação de quesitos, foi tomada

pela defesa de CHATER no evento 194.

No evento 215, a defesa de YOUSSEF desistiu da oitiva da testemunha Carlos

Alexandre de Souza Rocha.

O Ministério Público Federal promoveu a juntada de transcrição de diálogo

entre RENE e possível traficante de drogas colombiano no dia 02/11/13, obtida a

partir da analise de gravação existente no celular apreendido com o denunciado

(evento 228).

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Na decisão constante do evento 233, o juízo indeferiu o pedido de exame

pericial sobre os áudios interceptados e degravação de todos eles, deferindo contudo o

pedido formulado pela defesa de RENE quanto à obtenção de dados relativos ao

terminal 61 8170-6700, o que foi cumprido nos eventos 258 e 382. Intimou o MPF

para esclarecimento quanto à prova anexada ao evento 228, especialmente se haveria

a juntada de laudo pericial relacionado ao aparelho. No evento 305, o órgão

ministerial informou que a autoridade policial estava procedendo à transcrição do

áudio para ulterior juntada.

No evento 243 está o termo de audiência e arquivos de vídeos das testemunhas

Marcio Adriano Anselmo e Rodrigo Prado Pereira, arroladas pela defesa de

YOUSSEF. Os termos de transcrição estão no evento 300.

O juízo entendeu pela possibilidade de tomar como prova emprestada a oitiva

de Enivaldo Quadrado realizada em ação penal conexa, sendo as peças pertinentes

juntadas ao evento 269. No mesmo ato, intimou as partes para manifestação sobre

esse aspecto (evento 266).

CARLOS HABIB CHATER e ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA se opuseram

ao empréstimo da prova nos eventos 324 e 326. ANDRÉ insistiu ainda na oitiva de

todas as testemunhas que arrolou.

Termo de audiência e respectivo arquivo de vídeo referente à testemunha

Matheus Oliveira dos Santos encontram-se no evento 267, sendo o termo de

transcrição do depoimento juntado ao evento 323.

No evento 284, RENE desistiu da oitiva das testemunhas Junio dos Santos

Pereira, Antonio Borges de Almeida, Sebastião Ribeiro Souza, Zita Joan Diniz

Carvalho, Francisco Anastácio dos Santos Rodrigues e Daniel Silva Belo.

CHATER pediu a substituição da testemunha Rodolfo Rodrigues de Paula pelo

agente de Polícia Federal que realizou a degravação dos diálogos em árabe (evento

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353), tendo o juízo entendido, em audiência, que o pedido equivaleria a oitiva de

intérprete/perito, pelo que determinou que a defesa apontasse eventuais incorreções na

tradução, com a formulação de quesitos, não sendo necessária oitiva em audiência

(evento 367).

Como resposta, CHATER simplesmente afirmou que todas as traduções

apresentam incorreções (evento 377), mas posteriormente desistiu da prova em

audiência (evento 386).

RENE insistiu na produção de prova pericial sobre os arquivos de áudio

referentes às interceptações telefônicas, juntando parecer de assistente técnico

(eventos 319 e 368). Após manifestação ministerial (evento 366), o juízo novamente

indeferiu a prova quando da análise dos requerimentos da fase do artigo 402 do CPP,

destacando que os denunciados ANDRÉ e CHATER reconheceram a autenticidade da

prova em seus interrogatórios, enquanto RENE preferiu o silêncio (evento 389).

Nos eventos 362 e 405 consta o depoimento da testemunha de Sebastião

Pereira de Castro.

Em audiência, foram colhidos os depoimentos das testemunhas Jovino Batista

dos Santos, Anderson Carlos Lindberg, Magna Gean Alves de Medeiros, Gerliane

Gomes de Assis de Oliveira, Antônio Kleber da Silva Campos, Sidney do Nascimento

Fagundes e Mauro Gilberto Franco Marques. No ato, a defesa de CHATER desistiu

das oitivas de Rodolfo Rodrigues de Paula, Sílvio Gomes de Chagas e João do Carmo

Vieira. As partes concordaram ainda com a desistência das inquirições de Antônio

Viana de Medeiros Neto, Walber Ferreira dos Santos e Jose Reinan dos Santos (evento

367). Os termos de transcrição foram acostados ao evento 383.

Em nova audiência, foram colhidos os depoimentos das testemunhas Ricardo

Semler Rodriguez, Ocari Moreira, Gilberto Ramos Lopes, Valdinei Antônio de

Carvalho, Flávio Henrique Fazan e Rogério Pereira Frony, tendo a defesa de

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YOUSSEF desistido da inquirição de Enivaldo Quadrado (eventos 369 e 371). A

transcrição dos depoimento foi acostada ao evento 385.

No evento 376 a defesa de CHATER pediu acesso a eventuais termos de

delação premiada firmados entre o Ministério Público Federal e outros denunciados

no bojo da chamada Operação Lava Jato, mais especificamente, Paulo Roberto Costa

e Ediel Viana da Silva.

No evento 378 foi juntada informação policial de tentativa de fuga dos

denunciados ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA, CARLOS HABIB CHATER, RENE

LUIZ PEREIRA e ANDRE LUIZ PAULA DOS SANTOS.

Foi realizada audiência no qual colhidos os interrogatórios dos quatro réus. No

mesmo ato, foi aberta oportunidade para requerimentos de diligências

complementares, tendo as defesas de CHATER e RENE realizado diversos

requerimentos.

Os requerimentos de provas complementares foram analisados pelo juízo na

decisão juntada ao evento 389: possibilitou cópia do material de informática

apreendido no Posto da Torre a CHATER e dos computadores de RENE ao próprio

réu; destacou que a íntegra das mensagens BBM trocadas entre os acusados estão nos

anexos autos 5026387-13.2013.404.7000 e que não foram identificados diálogos ou

troca de mensagens entre Rene e os transportadores da droga apreendida em

Araraquara; e autorizou a transferência de RENE ao presídio federal de Catanduvas

(também no evento 392).

Na mesma decisão, o juízo sublinhou não ser necessária a degravação de todos

os depoimentos, abrindo imediata vista dos autos ao MPF para alegações finais.

Em breve, é o relatório.

2. Preliminares

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2.1 Da alegação de incompetência

Conforme relatado, as defesas de CHATER e ANDRÉ sustentaram que este

juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba não seria competente para o feito. Este juízo

bem apontou que tal tipo de questionamento deve ser deduzido em exceção (evento

175).

Os acusados deduziram então tal pretensão por meio de exceções nos autos

5030871-37.2014.404.7000, 5044009-71.2014.404.7000 e 5050271-

37.2014.404.7000 todos já definitivamente julgados, pelo que trata-se de questão

preclusa em relação a qual nada mais há a deduzir nos presentes autos.

2.2 Alegações de inépcia da inicial e falta de justa causa para o

processamento do feito

As defesas sustentaram a inépcia da denúncia por ausência de delimitação e

individualização das imputações e de justa causa, por ausência ou deficiência de lastro

indiciário suficiente.

Os requisitos da denúncia estão previstos no art. 41, CPP. Da leitura da inicial

acusatória, verifica-se a descrição suficiente de crimes, com indicação de indícios de

autoria e materialidade suficientes para a deflagração da persecução penal,

viabilizando, assim, o exercício do contraditório e da ampla defesa. Não há razões

para inquiná-la de qualquer irregularidade neste aspecto. Tanto assim que a peça foi

recebida (evento 3) e a instrução seguiu regularmente, com pleno exercício do direito

de defesa pelos acusados, que demonstraram total conhecimento das imputações que

lhe foram realizadas, apresentando sua própria versão em juízo.

Acrescente-se que as irresignações das defesas são genéricas. Não apontam

que elementares a acusação deixou de descrever.

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Analisando-se a peça acusatória, vê-se que individualiza ações por titulares de

conta no tempo e no espaço. As transações são descritas em gênero (quando se aborda

como funcionam as operações dos doleiros) e em espécie. Esclareceu-se como

funciona o esquema delitivo operado pelos acusados. A imputação atribuiu não só

condutas, mas a consciência e vontade em efetuá-las (dolo). Na análise da autoria, são

citados os fundamentos pelos quais se chegou à conclusão de que cada denunciado é

autor do crime. São citadas, na abordagem de cada um dos delitos perpetrados, as

provas que fundamentam a acusação. Há a devida qualificação jurídica dos

denunciados, capitulação dos fatos, requerimento final, indicação de provas a

produzir, local, data, assinatura, indicação dos agentes públicos responsáveis pela

peça e assim por diante.

Da mesma forma, indicados todos os elementos informativos e de prova que

embasaram a acusação, com evidente destaque à interceptação de mensagens BBM à

qual os acusados tiveram pleno acesso e conhecimento, possibilitando completamente

o exercício do direito de defesa.

Ademais, tendo transcorrido toda a instrução probatória, desembocando agora

no oferecimento de alegações finais em que o Ministério Público Federal requer a

condenação dos acusados, presentes não apenas indícios de autoria (necessários à

justa causa), mas cabal comprovação da materialidade, autoria e dolo (pressupostos ao

juízo condenatório), pelo que absolutamente superada a questão.

2.3 Alegação de inversão das etapas processuais

As defesas de CHATER e ANDRÉ alegaram inversão de etapas processuais

em virtude da designação da audiência de instrução antes da apresentação de resposta

escrita pelos acusados.

Novamente aqui, não prospera a irresignação defensiva.

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Veja-se que, no caso dos autos, conforme relatado, houve oferecimento de

defesa prévia por parte de RENE na forma do artigo 55 da Lei 11.343/06. Após afastar

as preliminares arguidas pelo réu e retomado o curso procedimental, o juízo devolveu

o prazo para apresentação de defesa escrita e, ao mesmo tempo designou data para

oitiva da testemunha de acusação, referindo expressamente que, havendo causa para

absolvição sumária, reveria a decisão.

Portanto, a designação se deu naquele momento objetivando a preservação de

direitos dos próprios acusados, especialmente quanto à duração razoável do processo,

considerando-se que alguns deles encontravam-se presos preventivamente. Todas as

defesas escritas foram protocoladas e apreciadas em momento na própria audiência

em questão, garantindo pleno respeito às garantias individuais dos réus.

Necessário se faz, inclusive, a observância de inexistência de qualquer

prejuízo ao acusado, muito pelo contrário aliás. Não havendo prejuízo, inviável a

pretensão ao reconhecimento de qualquer nulidade, consoante jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça no seguinte precedente: HC 187.670/SP, Rel. Ministra

LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe 23/08/2013.

Conclui-se, portanto, pela inexistência de nulidade na presente ação penal, pela

inexistência de inversão de fases e geração de prejuízos aos acusados em relação à

designação da audiência de instrução.

2.4. Da Interceptação Telefônica

A defesa de Alberto Youssef, ao pleitear a invalidade das interceptações

telefônicas promovidas nos autos 5026387-13.2013.404.7000, em sede de Resposta à

Acusação nesses autos (eventos 170 e 171), o fez pelos motivos abaixo elencados e

rebatidos.

a) falta de delimitação do raio de alcance das investigações:

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A investigação tinha o condão inicial de apurar a conduta do “doleiro” HABIB

e pessoas físicas e jurídicas a ele vinculadas, ligada a um esquema de lavagem de

dinheiro envolvendo o ex-deputado federal José Mohamed Janene e as empresas CSA

Project Finance Ltda. e Dunel Indústria e Comércio Ltda.

Após o acesso ao sigilo telefônico e telemático de HABIB, constatou-se seu

envolvimento em uma série de outras atividades delitivas, que por sua vez contavam

com novos nomes – posteriormente também investigados.

Cumprida a primeira etapa a que se propunha a investigação e diante de fortes

elementos indicativos da existência de uma rede criminosa de proporções incertas,

prudente – e necessária – a prorrogação das interceptações, nos termos da Lei

9.296/96, sobretudo em caso como o dos autos, nos quais evidenciadas complexas

estruturas de atuação no mercado financeiro paralelo.

Ora, constituindo este juízo vara especializada em crimes contra o Sistema

Financeiro Nacional e de lavagem de dinheiro, bem familiarizado está com as

peculiaridades investigativas que casos dessa natureza envolvem. Trata-se de delitos

praticados de maneira extremamente velada, com a constituição de empresas falsas,

falsificação de documentos e mesmo corrupção de agentes públicos de forma a evitar

rastreamento policial.

Essa forma de atuação é constituída também por complexa rede de

relacionamentos, onde os envolvidos, ainda que atuem em grupos distintos, mantém

constante contato e troca de “favores” entre si, tal qual desvelado em relação aos

diversos núcleos revelados pela Operação Lava Jato.

Por fim, deve-se mencionar que todos os núcleos da Lava Jato se ligam entre

si, conforme demonstra o gráfico abaixo:

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Portanto, longe de constituir ausência de delimitação do objeto da

investigação, o que se teve no caso foi sucessiva descoberta de fatos criminosos, com

o consequente constante alargamento do objeto das investigações, sem que, contudo,

tenha ocorrido qualquer desrespeito aos direitos individuais dos investigados.

b) dever da Autoridade Policial de, frente aos primeiros ilícitos, promover o

respectivo flagrante ou solicitar ação controlada:

Os mesmos argumentos sustentam a desnecessidade de se fazer expresso

requerimento e opção pela realização de ação controlada, eis que em investigação

dessa natureza e complexidade não há que se falar na necessidade de imediato

flagrante, por não caracterizada tal possibilidade. Não haveria como realizar flagrante

da remessa ilegal de valores ao exterior ou mesmo de lavagem que se realizou por

transações bancárias que não coincidem com a presença física dos denunciados.

Com a devida vênia, o que pretende a defesa com seus argumentos, é nada

mais do que garantir a impunidade que agasalha a prática de crimes financeiros, com

as mais nefastas consequências para o interesse público brasileiro.

Nesta seara, sustentar que a investigação de fatos conexos desvelados quando

da apuração de um crime inicial constitui “falta de delimitação do raio de alcance das

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investigações” ou mesmo a necessidade de se realizar flagrante imediato, equivale a

garantir que todas as investigações dessa natureza se limitem a fatos iniciais que

correspondem a pequena parcela do esquema delitivo geral, assegurando a

impunidade dos criminosos, a manutenção de suas práticas não raro enraizadas na

administração dos interesses públicos e a absoluta ineficácia dos mais modernos

meios de investigação surgidos justamente em face das peculiaridades de tais delitos.

c) suposta irregularidade quanto aos períodos das interceptações, sustentando

que a data de início destas é a da decisão judicial, não a da implementação da medida:

Também neste item não há razão nas alegações da defesa. Os próprios ofícios

emitidos pelo Juízo da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba foram precisos nesse

tocante: “A interceptação terá a duração de 15 dias contados a partir da

implantação.” (evento 23 dos autos da interceptação).

Não é outro o entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. INTERCEPTAÇÕESTELEFÔNICAS. REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIASOUTRAS ANTERIORES À QUEBRA DO SIGILO.QUESTÃO NÃO TRATADA PELO TRIBUNAL DEORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AUTORIZAÇÃOJUDICIAL. DECISÃO FUNDAMENTADA.NECESSIDADE DA MEDIDA DEMONSTRADA. TERMOINICIAL A PARTIR DA IMPLEMENTAÇÃO PELAOPERADORA DE TELEFONIA. PRORROGAÇÕESSUCESSIVAS. POSSIBILIDADE. LIMITAÇÃOTEMPORAL. PROVA ORIGINÁRIA. ILICITUDERECHAÇADA. NULIDADES INEXISTENTES. COAÇÃOILEGAL AUSENTE. (…) 2. Em relação às interceptaçõestelefônicas, o prazo de 15 (quinze) dias, previsto na Lei n.9.296/96, é contado a partir da efetivação da medidaconstritiva, ou seja, do dia em que se iniciou a escutatelefônica e não da data da decisão judicial (HC n.135.771/PE, Ministro Og Fernandes, DJe 24/8/2011). (...)(HC 212.643/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,SEXTA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 26/03/2012)

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d) vício de fundamentação das decisões que determinaram as interceptações e

suas consequentes prorrogações:

Quanto a sustentação da defesa de que as decisões deste juízo que deferiram as

prorrogações consistiram em mera repetição, aquilo que se convencionou chamar de

fundamentação per relationem, e que portanto afrontariam a Lei 9.296/96, a

jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal estabelece em contrário,

vejamos.

HABEAS CORPUS. INTERCEPTAÇÕESTELEFÔNICAS. PRORROGAÇÕES. LICITUDE.ORDEM DENEGADA. Segundo informou o TribunalRegional Federal da 3ª Região, as questionadas prorrogaçõesde interceptações telefônicas foram, todas, necessárias para odeslinde dos fatos. Ademais, as decisões que, como nopresente caso, autorizam a prorrogação de interceptaçãotelefônica sem acrescentar novos motivos evidenciam queessa prorrogação foi autorizada com base na mesmafundamentação exposta na primeira decisão que deferiu omonitoramento. Como o impetrante não questiona afundamentação da decisão que deferiu o monitoramentotelefônico, não há como prosperar o seu inconformismo quantoàs decisões que se limitaram a prorrogar as interceptações. Dequalquer forma, as decisões questionadas reportam-se aosrespectivos pedidos de prorrogação das interceptaçõestelefônicas, os quais acabam por compor a fundamentaçãode tais decisões, naquilo que se costuma chamar defundamentação per relationem (HC 84.869, rel. min.Sepúlveda Pertence, DJ de 19.08.2005, p. 46). Ordemdenegada. (HC 92020, Relator Min JOAQUIM BARBOSA,Segunda Turma, julgado em 21/09/2010, PROCESSOELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 05-11-2010 PUBLIC 08-11-2010.)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EMHABEAS CORPUS. INTEMPESTIVIDADE. RECURSOORDINÁRIO RECEBIDO COMO HABEAS CORPUSORIGINÁRIO. INSTRUÇÃO CRIMINAL.INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕESTELEFÔNICAS. DECRETAÇÃO. ILEGALIDADE.ALEGAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. NECESSIDADE DAMEDIDA. DEMONSTRAÇÃO. INDÍCIOS DE AUTORIA.EXISTÊNCIA. APURAÇÃO DA PRÁTICA DOS CRIMESDE FORMAÇÃO DE QUADRILHA E DE CORRUPÇÃOPASSIVA. LEI 9.296/1996. REQUISITOS.

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PREENCHIMENTO. PROVA PERICIAL.INDEFERIMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA.INOCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA. (…) V – EsteTribunal firmou o entendimento de que “as decisões queautorizam a prorrogação de interceptação telefônica semacrescentar novos motivos evidenciam que essaprorrogação foi autorizada com base na mesmafundamentação exposta na primeira decisão que deferiu omonitoramento” (HC 92.020/DF, Rel. Min. JoaquimBarbosa). VI – O Plenário desta Corte já decidiu que “épossível a prorrogação do prazo de autorização para ainterceptação telefônica, mesmo que sucessivas,especialmente quando o fato é complexo, a exigirinvestigação diferenciada e contínua. Não configuração dedesrespeito ao art. 5º, caput, da Lei 9.296/1996”(HC83.515/RS, Rel. Min. Nelson Jobim). (...) (RHC 120551,Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, SegundaTurma, julgado em 08/04/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICODJe-079 DIVULG 25-04-2014 PUBLIC 28-04-2014)

É, portanto, o entendimento da corte suprema que em casos de comprovada

complexidade e sucessivas prorrogações de interceptações telefônicas a argumentação

per relationem é aceitável e razoável, pelo que improcedentes os argumentos da

defesa.

3. Dos crimes de evasão de divisas

3.1. Da materialidade dos crimes de evasão de divisas

Conforme destacado na peça acusatória, as operações cambiárias ilícitas são

demonstradas de maneira inequívoca pelos monitoramentos telefônicos e telemáticos

realizados em face dos réus, bem como pela apreensão de documentos entre eles

trocados.

Esse conjunto probatório inicial foi absolutamente corroborado pela instrução

processual, notadamente pelos depoimentos das testemunhas Márcio Adriano

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Anselmo e Rodrigo Prado Pereira (termo de transcrição no evento 300) e pelo

interrogatório dos réus CARLOS HABIB CHATER e ANDRÉ CATÃO DE

MIRANDA.

Veja-se que a denúncia narra a evasão de divisas mediante operações na

modalidade que se convencionou denominar de dólar-cabo. O dólar cabo é um

sistema de realização de transferências financeiras internacionais marginal ou paralelo

operado por doleiros, em que as transações de câmbio realizadas não são registradas

no SISBACEN e envolvem contabilidades paralelas no Brasil e no exterior.

O sistema dólar cabo é um sistema paralelo dispensável por aqueles que

conduzem licitamente suas atividades. Isso porque sempre foi possível a constituição

de disponibilidades no exterior sem a incidência de tributos, enquanto a realização de

investimentos no Brasil igualmente não foi objeto de tributação2.

No caso dos autos, a disponibilização do dinheiro no Brasil, caracterizando a

primeira ponta do sistema dólar cabo, é absolutamente inconteste. O denunciado

CARLOS HABIB CHATER confirma em seu interrogatório que, a pedido de

SLEIMAN e RENE, intermediou o recebimento de US$ 124.000,00 no Brasil, os

quais foram encaminhados da Europa pela acusada EVI (evento 386, VIDEO5).

Relata inclusive a primeira operação, com o recebimento físico de US$

36.000,00, encaminhados por EVI (por meio de emissário identificado pelo nome

AILTON), no escritório de YOUSSEF na cidade de São Paulo, e a subsequente

entrega a RENE. As demais operações, com o recebimento em reais, convertidos de

Euros e o depósito em contas de terceiros indicadas por RENE e SLEIMAN são

confirmadas tanto por CHATER quanto por ANDRÉ (evento 386, VIDEOS1 a 9).

2Na vigência da CNC (Consolidação de Normas Cambiais, editada pela Circular 2.231, de 25/09/92, do BACEN) o câmbiopodia se dar no mercado de taxas livres (importações, exportações, transferências financeiras relativas a empréstimos,financiamentos e investimentos), no mercado de taxas flutuantes (honorários advocatícios, passes de atletas, serviços turísticos,viagens internacionais, etc.) ou através de contas tipo CC5. A constituição de disponibilidade no exterior deveria ocorrer atravésde depósito em conta tipo CC5. Com o RMCCI passou a haver um único mercado de câmbio, extinguindo-se a divisão em taxaslivres e flutuantes. Passou a ser vedada a movimentação de recursos em contas tipo CC5 por conta e ordem de terceiros. Aconstituição de disponibilidade externa, a partir daí, deve ser feita através de contrato de câmbio, o que facilita o rastreamento dodinheiro (paper trail) no exterior, já que no contrato de câmbio está indicado o destino dos recursos no exterior. Sobre aconstituição de disponibilidade externa não incidem tributos, nem mesmo IOF. Quanto à entrada de recursos no país, a realizaçãode investimentos nunca foi tributada, enquanto a realização de operação de câmbio para ingresso de recursos a título deempréstimo foi tributada por um curto período, aproximadamente de 1995 a 1997, em 15%.

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Não bastassem os trechos de interceptações de mensagens BBM destacados na

denúncia e a própria assunção do recebimento dos valores pelos réus, são

absolutamente incontestáveis os documentos que comprovam depósitos nos valores

de R$ 50.000,00, R$ 35.000,00, R$ 33.400,00 e R$ 7.100,00 em conta bancária em

nome de GILSON M FERREIRA ME (evento 114 dos autos 5026387-

13.2013.404.7000).

A remessa dos valores para o exterior é igualmente cristalina em face das

conversas interceptadas.

Veja-se nesse sentido, primeiramente que, quanto à transação no valor de R$

77.100,00, RENE informa a CHATER que os destinatários já receberam os 30 (o

equivalente em dólares, no montante de US$ 30.000,00), ao que CHATER responde

“ótimo”, demonstrando inequívoca ciência da remessa ao exterior3.

Mais eloquente que isso é o fato de que, para a remessa do R$ 125.500,00

identificados acima como “operações 4 e 5”, RENE recebe indicação de conta de

doleiro identificado pelo nick MATUSALEM, que informa que seu Ip de contato no

Skype é da Bolívia4.

A partir do item 32 do anexo à denúncia5 demonstra-se que,

contemporaneamente às transações com CHATER, RENE mantém diálogos com

bolivianos identificados pelos nicks CHAVO, BLACK e CABALLERO sobre

pagamento de carregamento de drogas, confirmando com o primeiro o depósito dos

valores por CHATER.

O teor das conversas evidencia que os valores foram remetidos à Bolívia por

MATUSALEM, onde foram recebidos pelo emissário de RENE identificado como

CHAVO, o qual, por sua vez, os repassou ao credor/fornecedor a CABALLERO.

Nesse sentido, vale especial remissão ao item 46, no qual RENE mantém conversação

simultânea com MATUSALEM, CHAVO e CABALLERO sobre o local em que o

dinheiro deveria ser buscado e entregue, com várias menções a pontos da cidade

boliviana de Santa Cruz de La Sierra.

3 Item 22 do Anexo à denúncia, sendo que a íntegra do diálogo encontra-se no evento 99, ANEXO 2 dos autos 50026387-13.2014.404.7000.

4 Evento 114 dos autos 5026387-13.2014.404.7000.5 Aos quais se remete por brevidade e com o intuito de evitar tautologia.

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De se mencionar ainda, como elemento indiciário, o envolvimento de RENE,

SLEIMAN e EVI com o tráfico transnacional de cocaína proveniente da Bolívia, tal

qual desvelado na Operação Monte Pollino (autos nº 0001304-79.2013.403.6104, em

trâmite perante a 6ª Vara Federal de Santos/SP), que foi objeto do item 2.i da

denúncia. Veja-se que a descrição das atividades de cada um dos denunciados

naqueles autos é condizente com o quadro aqui delineado, com EVI recebendo os

pagamentos na Europa e, em atividade de autofinanciamento, encaminhando valores

ao Brasil para que SLEIMAN e RENE os movimentassem para aquisição de

entorpecentes na Bolívia.

Diante do exposto, absolutamente comprovado o esquema de evasão de

divisas denunciado nos autos, em sistema típico de dólar cabo, com plena

demonstração das duas “pontas” das operações.

2.2. Da autoria e dolo típico dos acusados em relação aos crimes de evasão

de divisas

Em que pese a autoria dos delitos de evasão de divisas já se delineie pela

exposição da respectiva materialidade delitiva, interessa individualizar de maneira

mais específica e articulada o envolvimento de cada um dos réus a serem julgados.

2.2.a. CARLOS HABIB CHATER:

Preliminarmente, em relação a CARLOS HABIB CHATER deve-se destacar

que se trata de operador de câmbio negro há mais de duas décadas, sendo que, nos

autos da ação penal nº 2001.34.00.026520-8, que tramitaram perante o Juízo Federal

de Brasília, foi condenado, juntamente com HABIB SALIM EL CHATER, como

incurso nas sanções do art. 16 da Lei 7.492/86, por fazer operar sem a devida

autorização do Banco Central do Brasil a empresa Fly Turismo, de fevereiro de 1992

até ao menos 01 de janeiro de 1995. A sentença sujeita a recurso pela parte e MPF foi

confirmada nos autos da Apelação Criminal nº 2001.34.00.026520-8/DF, restando, no

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entanto, declarada extinta a punibilidade em face da prescrição (cópia do acórdão em

anexo).

Em que pese em seu interrogatório judicial o réu pretenda fazer crer que seu

envolvimento em atividades dessa natureza se deu tão somente em passado remoto, a

investigação policial que culminou na presente demanda evidenciou sua constante,

atual e habitual atuação no mercado de câmbio paralelo.

Nesse sentido, veja-se primeiramente que toda a denominada Operação Lava

Jato principiou com a investigação desenvolvida nos autos de inquérito policial nº

2006.70.00.018662-8 (IPL 714/09), em que apuradas condutas de lavagem de ativos

praticadas por CHATER e outras pessoas a partir do ano de 2007, por meio das

empresas CSA Projectt Finance Ltda. e Dunel Indústria e Comércio Ltda. Tais fatos

foram formalmente denunciados a este mesmo juízo nos autos 5047229-

77.2014.404.7000, a estes relacionados por conexão instrumental.

As investigações decorrentes desse ponto inicial, sobretudo a interceptação de

comunicações telefônicas e telemáticas conduzida nos autos 5026387-

13.2013.404.7000, evidenciaram as atividades cambiárias ilícitas praticadas pelo réu e

seu constante relacionamento profissional com outros doleiros, notadamente

YOUSSEF, CARLOS ALEXANDRE DA SOUZA ROCHA (CEARÁ) e NELMA

MITSUE PENASSO KODAMA, demonstrando seu inequívoco conhecimento da

atividade e domínio da prática de evasão de divisas.

As provas assim produzidas implicaram o oferecimento de diversas denúncias

no bojo da denominada Operação Lava Jato, separadas por conveniência processual

mas instrumentalmente conexas como é de conhecimento desse juízo.

Nesse sentido, além do presente caso, tem-se a denúncia que iniciou os autos

nº 5026663-10.2014.404.7000, nos quais imputou-se a CHATER o comando de uma

organização criminosa integrada por diversas pessoas, incluindo ANDRÉ, destinada a

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fazer operar instituição financeira sem autorização legal, efetuando operações de

câmbio não autorizadas para o fim de promover evasão de divisas do país.

Também naqueles autos destacou-se o POSTO DA TORRE LTDA. como

centro de operações de CHATER e a utilização da empresa para a realização de

operações cambiárias ilícitas com outros doleiros.

Tais considerações são fundamentais para que se demonstre a expertise do réu

em operações de evasão de divisas, de forma a afastar sua versão de que, no caso

penal em pauta, tão somente operacionalizou a atividade de recebimento de recursos

do exterior no Brasil sem ter conhecimento de sua subsequente destinação ao exterior.

Nesse sentido, primeiramente, deve-se repudiar a alegação de que recebeu os

valores no Brasil “de graça”, como uma espécie de favor a SLEIMAN, sendo que

conheceu RENE tão somente como intermediário deste.

A interceptação das mensagens BBM de CHATER, em que pese evidencie a

realização de uma série de transações simultâneas, permite individualizar com clareza

que o primeiro contato no dia 28/08/13 foi realizado RENE (nick Michelin).

Demonstra ainda que em momento seguinte, após tratarem de outras

operações incluindo negócios com EVI (a quem se referem como “mulher”),

SLEIMAN informa que haveria a ora tratada transação de 120 (US$ 120.000,00) com

EVI, pelo que CHATER receberia 1%. Nesse sentido, do diálogo integral contante do

evento 99, ANEXO 2 dos autos 5026387-13.2013.404.7000, extraem-se os seguintes

trechos que permitem a compreensão da situação:

“ID: 10Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 09:57:10Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Bom diaID: 11Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zip

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Data / Hora: 28/08/2013 09:58:26Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Falou com o primo hoje?(…)ID: 17Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 11:09:55Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Ainda não(…)ID: 30Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:04:56Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: OiID: 31Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:08:11Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Oi(…)ID: 87Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:27:25Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Como fico com aa mulheir(…)ID: 89Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:27:35Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Vai pagar en ppl(…)ID: 103Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:29:27Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Ver com a mulheir p favor p pagar hoje(…)ID: 105Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:31:38Direção: Originada

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Alvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: OkID: 106Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:31:56Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Tem mais 120(…)ID: 120Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:41:06Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Pago 1 %ID: 121Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:41:36Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Com japa?ID: 122Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130829001001_full.zipData / Hora: 28/08/2013 12:42:29Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: Sleiman(Silo) - 283dc91aMensagem: Nao”

Os diálogos evidenciam claramente que CHATER realizou negócios anteriores

com EVI, SALOMÃO e RENE, bem como que efetivamente receberia 1% pela

operação denunciada.

A ciência de que os valores se destinavam ao exterior é igualmente explícita

em outras mensagens por ele trocadas no decorrer das operações, em que claramente a

remessa é mencionada, inclusive com os respectivos valores correspondentes em

dólares. Nesse sentido, para se ater tão somente aos elementos já destacados na

denúncia e respectivo anexo, a título ilustrativo vale nova transcrição dos seguintes

trechos (lembrando que a íntegra das interceptações encontra-se nos autos 5026387-

13.2013.404.7000):

ID: 1629Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905120810.zip

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Data / Hora: 05/09/2013 09:06:10Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Eu estou vendo pra nos comprarmos já la num casa de cambio

ID: 1633Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905122319.zipData / Hora: 05/09/2013 09:09:38Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Otimo(…)

ID: 1651Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905131516.zipData / Hora: 05/09/2013 10:10:55Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Temos que fazer un TED urgente de 77100 que já negociei 30míl la.

ID: 1584Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905132918.zipData / Hora: 05/09/2013 10:20:15Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Fechei a 2.57 e o restante estou tentando que ele ainda aceite la, senão teremos

que pagar esse valor prabele receber la onde ele esta.

(…)ID: 1689Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905161546.zipData / Hora: 05/09/2013 13:03:59Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Eu comprei esse la na cidade dele e já vao entregar na mesma hora que eu mandar

comprovante do depositoID: 1690Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905161546.zipData / Hora: 05/09/2013 13:04:17Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Mas preciso do comprovante pra mandarID: 1691Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905161546.zipData / Hora: 05/09/2013 13:04:42Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Eu não sei mais o que fazer. Tenho que mandar esse já.ID: 1692Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905161546.zip

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Data / Hora: 05/09/2013 13:04:57Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Js mandei aquele outro ontem mesmo.ID: 1693Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905161546.zipData / Hora: 05/09/2013 13:05:56Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Ok. Já te chamo.

Ora, tratando-se de pessoa absolutamente afeita à prática de evasão de divisas,

conforme destacado anteriormente, chega a soar irônica a afirmação de que tais

menções lhe passaram absolutamente despercebidas, não sendo de seu interesse. De

todo modo, ainda que isso fosse verdadeiro, responderia ele por crime doloso (ainda

que por dolo eventual) pela teoria da cegueira deliberada (willful blindness ou Ostrich

Instructions).

Todavia, não é preciso chegar a tanto. Isso porque, não bastassem as

informações prestadas diretamente por seus interlocutores, ao justificar sua

preocupação com a realização de transferência para conta indicada por RENE,

CHATER menciona que se tranquilizou ao receber a notícia que se tratava de conta

utilizada por casas de câmbio pelo fato de que sempre que remetia dinheiro ao

exterior para fins particulares (dando o exemplo de pagamento de cursos para seu

filho), realizava depósito em contas vinculadas a casas de câmbio. Dessa forma, como

é comum com réus que buscam ocultar a verdade em crimes complexos como o

presente, o réu se trai, indicando real conhecimento de que os valores seriam

remetidos ao exterior.

Diante do exposto, absolutamente nítida não somente a autoria, mas também o

dolo típico com que CHATER atuou nas evasões de divisas denunciadas nos autos.

2.2.b. ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA

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A instrução processual confirmou integralmente a afirmação ministerial de que

ANDRÉ CATÃO era o responsável pela parte financeira das operações efetuadas por

CARLOS HABIB. Nesse sentido, uníssonos os depoimentos das próprias testemunhas

arroladas pelas defesas.

Ocorre que, diferentemente do que pretende sustentar a defesa, a execução

financeira efetuada por ANDRÉ englobava de maneira bastante evidente as transações

ilegais comandadas por seu superior CHATER, das quais estava plenamente ciente,

conforme sintetizado na denúncia que inaugurou os autos 5026663-10.2014.404.7000,

a estes conexa instrumentalmente.

Dentre os diversos aspectos destacados naquela peça, todos apurados nos

autos 5026387-13.2013.404.7000 que fundamenta ambas as acusações, pertinente

aqui a referência a dois deles.

Primeiramente, ANDRÉ era responsável pela gestão financeira também da

empresa VALORTUR, empresa de câmbio comandada por CHATER, possuindo

inclusive o token para movimentar as referidas contas6, com o que se demonstra que

tinha o conhecimento necessário para atuar e reconhecer operações cambiárias ilícitas

como as identificadas nestes autos.

Corroborando isso, verifica-se que ANDRÉ desempenhava papel direto e

concreto nas atividades cambiais ilícitas de CHATER, como se demonstra, por

6 Nesse ponto, vale repetir a fundamentação que constou daquela peça: Isto se verifica, por exemplo, no diálogo entre KATIAe HABIB, sobre discussão em que aquela teve com o denunciado FRANCISCO. No diálogo fica claro não apenas queANDRÉ CATÃO fazia a supervisão, mas também que possuía o token para movimentação das contas da empresa: “KATIA:E, pois é... por isso, é por isso que eu tô te falando. Eles estão muito além da realidade, eles não sabem como funciona umcaixa, não sabem o que é uma despesa , eles não sabem... eu imprimi todas as vezes que eu fechei lá no mano, pra mostrarpra eles. Aí ele: "eu tô pagando pra trabalhar, fecha essa porra". Eu falei: "é, se quiser fecha". Falei outra coisa: "o TORRE tásustentando o VENÂNCIO porque o do VENÂNCIO não é operante, e tá sustentando um pedaço do HOTEL NACIONAL,porque o HOTEL NACIONAL, mês passado, deu 3 mil, só de aluguel foi 1500, mais a despesa da menina que fica lá. Aíeles deram um pulo pra traz, achando que o negócio não era bem assim. Aí o CHICO, aí ele virou pra mim num tom dedeboche, não é de deboche, de uma risada , "posso te fazer uma pergunta agora assim não querendo ofender?" Eu falei: "poisnão". "Como é que é você chegou a 173 mil?" e dando risada. Aí eu puxei o papel da minha bolsa e falei: "tá aqui oh, foifeito sob a supervisão do ANDRE". CARLOS: Ham. KATIA: E eu contei R$84 mil em espécie, espécie, fora o meu vale,fora a moeda estrangeira. Ele: "então me explica, onde é que estão os 53 mil?" Aí o CHICO falou: "só se alguém passou epegou os 53 mil." Eu falei: "olha, eu não assumi o caixa, até hoje eu não quis sentar no cofre, enquanto o ANDRE não meentregar na íntegra. Desde o dia que eu tô contando o físico ele tá ficando na VALORTOUR e os bancos, eu não tenhonem o token, o token tá ficando com o ANDRE. E todas as operações feitas tem prova, porque ele imprime e manda pramim, então não sei te explicar, o que que tá acontecendo". Aí eles ficaram fora de si, fora de si. Aí eu acho que eles subiramlá, aí eu falei: "vamos descer e contar o caixa". Aí descemos, aí o JULIO: "não, a gente espera você lá em cima". Quer dizer,na hora de por a mão na massa, ninguem quer ficar porque ele viu que o negocio é demorado” (...). Cf. Autos 5026387-13.2013.404.7000/PR, Evento 188, PET1, p. 48/49.

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exemplo, em e-mail que encaminhou para CHATER e ao endereço

[email protected], utilizado pela doleira NELMA KODAMA, com

um arquivo em formato de imagem que indica uma conta no exterior.7

No caso específicos destes autos, a autoria dos depósitos efetuados em cada

uma das transações é expressamente assumida pelo réu em seu interrogatório.

Pretende ele negar, contudo, que tinha ciência do objeto ilícito das transações,

afirmando acreditar que se tratava de mero pagamento de empréstimo feito a

CHATER por SLEIMAN, todavia a versão evidentemente não se sustenta diante das

provas colacionadas aos autos.

Em que pese atuasse sob comando de CHATER, ANDRÉ estava plenamente

ciente de que os depósitos por ele efetuados se referiam a transações estranhas à

movimentação regular do posto de combustíveis. Nesse sentido, a exordial bem

destacou que ANDRÉ em diversas oportunidade tratou diretamente com o próprio

RENE, para o que, por economia, remete-se às transcrições constantes dos itens 25 a

28.

Dentre referidos trechos de conversas interceptados vale fazer especial menção

aos seguintes pontos: 1) RENE entra em contato com EDIEL e pede a ele para passar

recado diretamente a ANDRÉ, demonstrando que, nessa situação, a questão era

tratada com o próprio réu, sem qualquer sujeição ao referido EDIEL como insinuou

ele em seu depoimento judicial; 2) RENE faz menção a Salomão (SLEIMAN), sendo

que ANDRÉ demonstra conhecimento da situação (de que SLEIMAN “ficou

penhorado lá até agora”); 3) RENE trata com ANDRÉ em diversas oportunidades de

depósitos fracionados e da necessidade de “pegar conta” para recebimento dos

valores, indicando que o interlocutor tinha ciência de que se tratava de operação ilícita

com a utilização de contas de terceiros.

Confrontado com as gravações de tais diálogos em audiência, o acusado não

obteve melhor justificativa do que afirmar que fingia conhecimento de fatos que

desconhecia para manter a conversa. Ora, sendo absolutamente inverossímil a7 Processo 5026387-13.2013.404.7000/PR, Evento 78, PET1, Página 4.

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justificativa do acusado e contrária às provas constantes dos autos, a prova de sua

autoria e dolo é plena.

Portanto, livre de dúvidas a atuação dolosa de ANDRÉ como executor das

atividades cambiais ilícitas de CHATER, notadamente no caso específico dos autos.

2.2.c. RENE LUIZ PEREIRA

A autoria e dolo do crime de evasão de divisas em relação ao denunciado

RENE é absolutamente clara e inconteste nos autos.

A exordial acusatória bem demonstrou, com escoro nas mensagens BBM

interceptadas que, juntamente com SALOMÃO, realizou contato em ambas as pontas

do sistema dólar cabo antes descrito. Ou seja, cuidou tanto do recebimento dos

valores enviados por EVI da Europa no Brasil, por meio de CHATER e ANDRÉ,

quanto da remessa do mesmo montante à Bolívia por meio de contatos com as pessoas

identificadas com os nicks CHAVO, CABBALERO e MATUSALEM.

Vale ressaltar que, confrontado com as provas apresentadas na denúncia em

contraditório processual, em nenhum momento RENE contestou a veracidade dos

diálogos interceptados. Aliás, em seu interrogatório judicial o acusado permaneceu em

silêncio.

É uníssono nos autos e foi expressamente referido no interrogatório de

CHATER o fato de que RENE foi a pessoa responsável pelo recebimento dos US$

36.000,00 entregues em espécie na cidade de São Paulo e, conforme será melhor

narrado no ponto atinente à lavagem de capitais, foi também a pessoa responsável por

informar ao doleiro CHATER e seu comparsa ANDRÉ as contas nas quais o dinheiro

deveria ser depositado para subsequente conversão em dólares e remessa ao exterior,

as quais (conversão e remessa) mencionou expressamente em diversas oportunidades.

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A exordial deixou claro, por fim, seu envolvimento habitual e profissional com

o narcotráfico transnacional, inclusive mediante o recebimento e remessa de valores

do e para o exterior em atividade de dólar cabo. Nesse sentido, vale fazer especial

menção ao documento acostado pelo Ministério Público Federal no evento 228, no

qual transcrita conversa telefônica de RENE com pessoa na Colômbia na qual

claramente discutem questões relacionadas ao narcotráfico, incluindo a movimentação

de valores para tal finalidade em situação muito semelhante à evidenciada nos autos.

Vale destacar o seguinte trecho:

“C - Eu prefiro pagar. E se você me diz: "eu trago", tudo bem. Como? Amim não meinteressa...R - A mim me interessa, porque eu não deixo alguém trazer da EUROPAno corpo é muito perigoso, prefiro que não.C - (INAUDÍVEL) Eu conheço gente em Colômbia que pagaram. Querema mesmapassagem que entregaram na Europa, te dizem para você. Querem ospontos. Eu não sei o fazem, pois eles correm riscos, porque estão pagando.Mas o que fazem é isso,mandam pessoas.R - (01:09:40) Porque esse homem, por exemplo... Na verdade tudo issopassa por banco, porque na verdade ele ganha mais que isso. Porque ele láfaz negocio com empresas da EUROPA, as pessoas ficam com o dinheiro enos dão dinheiro aqui, em reais, ele troca (câmbio) em dólares para nospagar. Então ele faz sempre assim. Porque para ele é perigoso e como vaicorrer o risco? Então eu acredito que as pessoas que querem dinheiro látambém lhe pagam mais um pouco, eu acredito que ele ganhe um pouco denós, um pouco dos outros que estão aqui e querem dinheiro lá, é porque elefaz uma troca (câmbio). E como ele conhece pessoas por tudo, por isso fazassim. Na verdade o dinheiro já está aqui, então fazem a troca (cambio)com a pessoa, tem uma mulher na Suíça. Esta mulher é fortíssima! É umamulher muito forte. Essa mulher negocia com ele, às vezes pega dinheirona HOLANDA, em qualquer país, essa mulher pega o dinheiro, muitodinheiro, fica com o dinheiro e pagam aqui em 2, 3 dias para ele, ele troca(cambio) e assim ele faz muito. Porém tudo com empresas e não correrisco, eu acredito que ele ganhe mais do que me cobra.C - Quem?R - (01 '11 '15") Essa pessoa, esse meu amigo que me traz ... eu acreditoque ele ganhe mais que me cobra, porque os daqui também tenho certezaque pagam para pôr o dinheiro lá.”

Diante de tal quadro, livre de dúvidas a autoria e dolo típico com que atuou

RENE nas operações de evasão de divisas denunciadas.

2.2.d. ALBERTO YOUSSEF

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No que se refere a ALBERTO YOUSSEF, em que pese plenamente

demonstrado que autorizou a entrega de US$ 36.000,00 a RENE em seu escritório na

cidade de São Paulo8, o Ministério Público Federal entende que não restou

suficientemente comprovado o dolo típico de evasão de divisas na operação em

questão.

Apesar de a investigação ter evidenciado que YOUSSEF e CHATER operaram

em conjunto em diversas oportunidades, a única vinculação do primeiro com os fatos

descritos nestes autos é a autorização para entrega de numerário em seu escritório.

Diferentemente do que ocorreu em relação a CHATER, não se demonstrou

qualquer envolvimento de YOUSSEF em outras fases da negociação, comandada de

ponta a ponta por CHATER, RENE, SLEIMAN e EVI, e nem sequer um contato

relacionado ao caso dos autos com qualquer um dos últimos três, muito menos

qualquer menção por eles feita ao réu indicando o destino dos valores.

Em que pese seja possível entender que, pela sua atuação profissional no

mercado de câmbio negro e expertise em operações dessa natureza, YOUSSEF

pudesse inferir a possibilidade de que o valor fosse remetido ao exterior, a ausência de

qualquer outro elemento objetivo que aponte nesse sentido basta para manter dúvida

razoável, ensejando absolvição pela aplicação do critério in dubio pro reo, guiado o

órgão julgador pelo princípio da presunção de inocência.

Diante do exposto, o Ministério Público Federal entende que, em que pese

demonstrada a autoria do denunciado YOUSSEF em relação ao fato típico que lhe foi

imputado, não há suficiente comprovação de seu dolo no específico caso dos autos,

pelo que a absolvição é a medida de maior justiça em relação a ele.

3. Dos crimes de lavagem de capitais

8 Veja-se, nesse sentido, as transcrições de interceptações de conversas BBM constantes do evento99, PET1, fls. 57/62 dos autos 50026387-13;2013.404.7000. Vale destacar que, ao contrário do queafirmou em audiência, YOUSSEF respondeu a mensagem de CHATER informando sobre o envio eentrega do dinheiro no escritório do primeiro.

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3.1. Da materialidade dos crimes de lavagem de capitais e do concurso

material com os delitos de evasão de divisas

Conforme se observa na denúncia, as operações de câmbio efetuadas pelos

denunciados implicaram não apenas evasão de divisas como também lavagem de

ativos, eis que praticadas com ocultação e dissimulação de valores provenientes de

atividade criminal.

Como se sabe, de acordo com o artigo 2º, II e § 1º da Lei 9.613/98, para a

caracterização do crime de lavagem de valores são exigidos indícios suficientes da

existência da infração penal antecedente, independentemente da comprovação

definitiva delas pelo respectivo julgamento.

No caso dos autos, a explanação realizada na inicial e no item anterior já

delineou suficiente comprovação de que, no caso concreto, o dinheiro movimentado

pelos réus destinou-se ao pagamento de entorpecentes na Bolívia, em esquema

idêntico ao demonstrado pela Operação Monte Pollino.

Além disso, o item 2.i da denúncia destaca também apreensão de droga

enviada ao exterior por RENE e conversas entre ele e SLEIMAN, bem como

CABALLERO, sobre venda de drogas, reforçando ainda mais os elementos de

convicção judicial.

Não bastasse isso, durante a instrução processual este órgão ministerial

apresentou mais uma transcrição de diálogo de RENE sobre transações com

entorpecentes, desta feita com interlocutor provavelmente colombiano, na qual são

feitas diversas menções a modus operandi bastante semelhante ao evidenciado nos

autos, inclusive com a utilização dos serviços de doleiros para a prática do

autofinanciamento (evento 228).

Portanto, suficiente a prova dos delitos antecedentes dos quais se originaram

os valores ilícitos movimentados, impende demonstrar que os atos praticados pelos

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réus implicaram ocultação de origem e propriedade do numerário subsumindo-se ao

artigo 1º da lei 9.613/98.

Sob esse prisma, veja-se primeiramente que, consoante reconheceu CHATER

em seu interrogatório, o dinheiro internalizado no país a partir da Europa foi por ele

recebido, com o auxílio de ANDRÉ e a pedido de SLEIMAN e RENE, da denunciada

EVI.

Já se demonstrou o envolvimento de EVI, SLEIMAN e RENE no tráfico

transnacional de entorpecentes, bem como o fato de que o montante total envolvido

no presente caso penal (US$ 124.000,00) se destinou integralmente ao pagamento de

carga de drogas adquirida na Bolívia. Dessa forma, inconteste que os três denunciados

em pauta utilizaram o valor proveniente do narcotráfico em atividade econômica e

financeira, realizada de modo profissional e empresarial, em sistema de

autofinanciamento, tal qual tipificado pelo artigo 1º, §2º, I da Lei 9.613/98.

No que se refere à transação identificada como “operação 1”, no valor de US$

36 mil, a exposição realizada no item referente à evasão de divisas já evidenciou que

foi negociada entre EVI e CHATER, com o auxílio de ANDRÉ, os quais

movimentaram o numerário da Europa para o Brasil e, por meio de emissário, o

entregaram, no escritório de YOUSSEF, a RENE, atuando em conluio com

SLEIMAN. Tem-se, portanto, quanto a este fato, a plena subsunção das condutas aos

verbos nucleares que compõem o artigo 1º, § 1º, II da Lei 9.613/98.

Por fim, quanto às demais operações, as atividades financeiras e cambiais

descritas no item anterior, com a movimentação de valores em contas “laranjas”,

demonstra de maneira cristalina que os réus dissimularam a origem e propriedade do

valores provenientes do crime de tráfico internacional de entorpecentes, incidindo na

tipificação do artigo 1º, caput da mesma lei 9.613/98.

Como se observa, no presente caso a comprovação dos crimes de evasão de

divisas e lavagem de valores está intrinsecamente imbricada. Por esse motivo, a

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defesa prévia de RENE postulou a absorção do crime de evasão de divisas pela

lavagem de ativos, o que foi muito bem rechaçado pelo juízo na decisão constante do

evento 28, nos seguintes termos:

“Quanto ao crime de lavagem de dinheiro, se caracterizado o envolvimentode Rene na atividade do tráfico de drogas, a realização com ele, porsupostos operadores do mercado de câmbio negro, de transaçõessubreptícias, é passível de enquadramento no crime de lavagem de dinheiro,sem prejuízo do crime de evasão já que, segundo a imputação, o numeráriofoi remetido ao exterior.”

Trata-se de entendimento plenamente uníssono ao esposado pelos tribunais

pátrios, conforme demonstra exemplificativamente a seguinte e recente decisão

proferida pelo egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. OPERAÇÃO DE INSTITUIÇÃOFINANCEIRA IRREGULAR. GESTÃO FRAUDULENTA.IMPOSSIBILIDADE. EVASÃO DE DIVISAS ATRAVÉS DEOPERAÇÕES DE "DOLÁR-CABO". LAVAGEM DE DINHEIRO.CONCURSO MATERIAL. FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO DEINDENIZAÇÃO PARA O CRIME DE EVASÃO DE DIVISAS.PRESCRIÇÃO. MARCO INTERRUPTIVO. CRIMES CONEXOS.(...) 3. Os crimes de operação de instituição financeira sem autorização daautoridade competente e evasão de divisas constituem, por si só, um nefastoinstrumento para a ocultação de bens provenientes dos mais variadosdelitos, independentemente de se apurar se cada cliente do "doleiro" oraacusado enveredou pelo mundo do crime. 4. Não ficando configurada aabsorção do crime de evasão de divisas pelo delito de lavagem de dinheiroquando o agente promove, na condição de "doleiro", a evasão de divisaspara os seus clientes e oculta a milionária quantia evadida nas contasbancárias mantidas no exterior, em nome de offshore constituída em paraísofiscal, impõe-se a aplicação do concurso material de delitos, consoanteiterativa jurisprudência deste Tribunal e do STJ. (…)(TRF4 – Oitava Turma – Unânime – relator: Des. Sebastião Ogê Muniz –Apelação Criminal – autos: 00342083720054047000 – Decisão: 01/08/12 –DE: 09/08/12)

O aspecto técnico que fundamenta essa diferenciação é o reconhecimento da

existência de duas condutas distintas, eis que marcadas por desígnios autônomos de

evasão e branqueamento.

A conclusão é tão somente uma: o somatório das penas, seja pelo concurso

material na forma do artigo 69 do Código Penal, seja pelo chamado concurso formal

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impróprio (que na verdade nada mais é do que verdadeiro concurso material) a que

alude a parte final do artigo 71 do mesmo diploma.

Nesse sentido, a jurisprudência já se pronunciou em caso bastante análogo ao

dos autos, em que se demonstra que os agentes buscam branquear o produto de tráfico

de entorpecentes para aplicá-lo novamente na mesma atividade delitiva,

caracterizando o chamado autofinanciamento:

PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO. ASSOCIAÇÃO PARA FINSDE TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS. LAVAGEM DEDINHEIRO. TENTATIVA DE EVASÃO DE DIVIDAS. ADOÇÃO DOPARECER MINISTERIAL E DA SENTENÇA COMO RAZÕES DEDECIDIR. MOTIVAÇÃO “PER RELATIONEM”. POSSIBILIDADE.PEDIDO DE OITIVA DE TESTEMUNHA NA FASE DE DILIGÊNCIAS.PRECLUSÃO. AUSÊNCIA DE LITISPENDÊNCIA. NÃO-APLICAÇÃODO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. TRANSNACIONALIDADE.RETROATIVIDADE DE LEI MAIS FAVORÁVEL. RECURSOPROVIDO EM PARTE. (…) - O crime de lavagem de dinheiro exige que o autor tenha aconsciência de que está ocultando ou dissimulando valores cuja procedênciaestá relacionada com os crimes previstos nos incisos I a VII, do art. 1o, daLei nº 9.613/98. In casu, a movimentação de milhares de dólares norte-americanos tinha por objetivo ocultar e dissimular a origem dos valoresadquiridos pela quadrilha através do tráfico de drogas no Estado do Rio deJaneiro, sob o comando do Recorrente, destinando-se ao Paraguai, ondeseriam utilizados para finalidades diversas, inclusive para realimentar aengrenagem criminosa voltada para o tráfico de entorpecentes. Ademais,rejeita-se a tese de aplicação do princípio da consunção, na medida que ascondutas de lavagem de dinheiro possuem tipificação independente,conforme se depreende do art. 1o, da Lei nº 9.613/98. (...)(TRF2 – Primeira Turma Especializada – Relator: Des. Marcello Ferreira deSouza Granado – Apelação Criminal – Autos: 200451015089530 – Decisão:18/02/09 – DJU: 13/03/09).

No caso dos autos, é cristalino que os réus buscavam (e obtiveram) não apenas

a remessa dos valores ao exterior, mas também e de maneira autônoma, a

dissimulação dos valores mediante depósito em contas de terceiras pessoas.

A preocupação dos réus em dissimular a origem do dinheiro de qualquer

transação que possa levar a eles é expressa claramente em algumas oportunidades nas

conversas por BBM interceptadas. Nesse sentido, na “operação 2” por exemplo, ao

tratar do depósito de R$ 77.100,00 em conta indicada por RENE, CHATER questiona

se a realização de transferência eletrônica não lhe geraria problemas, dando a entender

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que temia o fato de a conta depositária gerar suspeitas que levassem a ele dada a

ilicitude dos valores movimentados. Vale novamente a transcrição:

“ID: 1659Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905165753.zipData / Hora: 05/09/2013 13:55:10Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Vc acha que se eu fizer ted não tem problema?

ID: 1660Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905165753.zipData / Hora: 05/09/2013 13:55:20Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: De vincular a conta?

ID: 1661Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905165753.zipData / Hora: 05/09/2013 13:55:49Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Sao contas particulares que usam casas de cambio

ID: 1662Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905165753.zipData / Hora: 05/09/2013 13:55:58Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Ok

ID: 1663Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905165753.zipData / Hora: 05/09/2013 13:56:09Direção: RecebidaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Nenhuma de pessoas suspeitas

ID: 1664Pacote: BRCR-130823-004_155-2013_20130905165753.zipData / Hora: 05/09/2013 13:56:23Direção: OriginadaAlvo: Carlos(Zeze) - 28b98b49Contato: HNI 4(Michelin) - 28748398Mensagem: Ok. Se vc esta dizendo.”

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Ademais, não há qualquer justificativa plausível para, tratando-se de simples

operação cambiária em favor de SLEIMAN e RENE, como pretende sustentar o réu

CHATER, os depósitos dos valores em reais terem sido TODOS realizados em contas

bancárias de terceiros.

Nesse sentido, vale traçar pequeno histórico das contas indicadas por RENE a

CHATER para recebimento de valores em reais consoante descrito na denúncia e

respectivo anexo: 1) para a transação identificada como “operação 2” no relatório

solicitou depósito em conta titularizada por Onix Tec Comércio de Peças Elétricas e

Eletrônicas Ltda. ME; 2) para a “operação 3” RENE indica duas contas em nome de

Transaço Transportes Nacionais e Internacionais Ltda.; e 3) para a 4ª e 5ª operações,

todos os depósitos foram efetuados em conta bancária em nome de GILSON M

FERREIRA ME, como já referido.

Portanto, fica bastante claro que ao praticar os fatos descritos na denúncia, os

acusados objetivaram não apenas promover evasão de divisas, mas também ocultar a

origem e propriedade dos valores movimentados, eis que oriundos de atividades de

tráfico internacional de entorpecentes, pelo que caracterizada a prática de ambos os

delitos em concurso material.

3.2. Da autoria e dolo típico dos acusados em relação aos crimes de

lavagem de valores

Em boa parte a prova da autoria e dolo típico dos acusados CHATER, ANDRÉ

e RENE em relação à lavagem de dinheiro que praticavam já foi demonstrada nos

itens anteriores. Pertinente contudo que, assim como realizado em relação ao crime de

evasão de divisas, se reforce em tópicos especiais os elementos mais relevantes em

relação a cada um dos réus, ainda que de maneira breve.

3.2.a. CARLOS HABIB CHATER

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Preliminarmente, vale destacar que nos já mencionados autos 5047229-

77.2014.404.7000, também submetidos ao crivo deste juízo no âmbito da Operação

Lava Jato, foi denunciada a prática de lavagem de ativos por CHATER, em conluio

com YOUSSEF, mediante a utilização das empresas POSTO DA TORRE LTDA. e

TORRE COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA. na dissimulação a origem espúria de

recursos.

Dito isso, no caso dos presentes autos, na exordial acusatória se destacou a

comprovação de que HABIB era operador de câmbio paralelo há décadas e, no

presente caso, mantinha relação direta e intensa com EVI, pessoa que

reconhecidamente comanda organização transnacional dedicada ao tráfico de

entorpecentes. Já se referiu no ponto 2.2.a que as interceptações de mensagens BBM

do denunciado demonstram claramente a realização de operações anteriores com EVI,

tendo CHATER em mais de um momento afirmado inclusive que ela “sempre atrasa”

e “nunca consegue fazer como combinado”9. Elucidativo nesse sentido também os

trechos destacados pela autoridade policial e que constituíram o item 56 do anexo à

denúncia, ao qual se remete, com a finalidade de evitar desnecessária repetição.

Da mesma forma o intenso e duradouro relacionamento com SLEIMAN, que

integra a referida organização transnacional comandada por EVI, é expressamente

afirmado por CHATER em seu interrogatório judicial, sendo de todo inverossímil

acreditar que em contato tão próximo desconhecesse as atividades por ele realizadas.

Também referido na peça acusatória que em determinados momentos da

transação, HABIB, RENE e SLEIMAN conversam praticamente de maneira

simultânea sobre as operações e fazem diversas referências a outras transações com

EVI, planejando inclusive mecanismos para futuras transações, com referências a

outros doleiros, como por exemplo, NELMA KODAMA (a quem se referem por

“Japa”)10.

9 Evento 99, PET1, fls. 48 e 53 dos autos 50026387-13.2013.404.7000.10 Nesse sentido, a denúncia destacou ilustrativamente conversas entre os três no dia 30/08/13 por

volta das 18h30, as quais encontram-se na íntegra no evento 99, ANEXO2, fls. 59 e seguintes dosautos 50026387-13.2013.404.7000, ao qual se remete por brevidade.

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Ainda quanto ao relacionamento entre CHATER e RENE, vale destacar que a

testemunha Gerliane Gomes de Assis de Oliveira afirmou em juízo que recorda ter

visto RENE no Posto da Torre em algumas oportunidades, indicando que, ao contrário

do que pretende sustentar o réu, o relacionamento de CHATER com RENE não se

limitou a única operação, hipótese que evidentemente não seria o suficiente para

funcionária do posto se recordar de RENE pela nome (evento 338).

Tais fatos são suficientes para se afirmar que CHATER tinha plenas condições

de conhecer a natureza do ato de colaboração que realizava, não podendo pretender se

esquivar de sua responsabilidade com a alegação que se manteve em situação de

ignorância “por não querer saber”, como pretende fazer nos autos ao afirmar, por

exemplo, em seu interrogatório judicial que simplesmente ignorava as remessas ao

exterior e pedidos de urgência a ele realizados por RENE e SLEIMAN sob o

argumento de que “aí era problema deles”.

Ainda que se admitisse a versão do acusado, tratar-se-ia de hipótese claríssima

de aplicação da já mencionada teoria da cegueira deliberada, devendo o agente ser

responsabilizado pelas consequências penais dos atos que praticou e que pretendeu

ignorar de maneira deliberada.

Todavia, também aqui entende o Ministério Público Federal que sequer é

preciso chegar a tanto, eis que há suficientes elementos a demonstrar que, em verdade,

CHATER tinha pleno conhecimento da origem ilícita dos valores e das transações de

branqueamento que operacionalizava.

Nesse sentido, já se mencionou que a entrega dos valores a RENE e

SLEIMAN no que se refere às operações 2 a 5 se deu por intermédio de depósitos em

contas de terceiros “laranjas”, tendo CHATER mencionado expressa preocupação

com o fato de tais contas não levantarem suspeitas que permitissem seu rastreamento.

Ora, caso não tivesse ciência da ilicitude dos valores, não haveria razão plausível para

que fosse necessária a constante busca de contas em nome de terceiros que se

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evidenciou nos autos, e muito menos preocupação quanto a eventual rastreamento da

origem dos depósitos.

Diante do exposto, absolutamente livre de dúvidas a autoria e dolo de

branqueamento com que agiu o acusado CHATER.

3.2.b. ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA

Os mesmos elementos destacados nos itens 2.2.b e 3.1.a servem para que se

evidencie de maneira nítida o dolo típico de branqueamento nos atos perpetrados por

ANDRÉ.

Já ficou bem clara a atuação habitual, contínua e plenamente consciente de

ANDRÉ nas atividades cambiárias ilícitas praticadas por CHATER, bem como o

relacionamento direto que manteve, no caso penal ora tratado, com os clientes da

operação.

Assim, ora importa destacar de maneira mais contundente é o fato de que em

seu interrogatório judicial ANDRÉ assumiu expressamente que foi o responsável

pelos depósitos efetuados em contas de terceiros, em que pese tivesse plena ciência de

que os valores destinavam-se a RENE e SLEIMAN. Evidencia-se assim que, assim

como CHATER, tinha pleno conhecimento de que atuava de forma a dissimular a

propriedade dos valores que depositava, devendo, no mínimo, deduzir que assim o

fazia em virtude da origem espúria dos valores.

Assim, por todo o exposto, presente também a autoria e dolo típicos de

ANDRÉ em relação aos crimes de lavagem de capitais que lhe foram imputados.

3.2.c. RENE LUIS PEREIRA

A autoria e dolo de RENE em relação à lavagem de valores é ainda mais

evidente dos que a já demonstrada em relação aos demais réus.

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Já referida a comprovação do envolvimento habitual de RENE com o tráfico

de entorpecentes, sendo que, nas operações identificadas nos autos, a destinação dos

valores para tal finalidade é evidente em face do teor dos diálogos dele interceptados,

sendo confirmada judicialmente pelos depoimentos das testemunhas Marcio Adriano

Anselmo e Rodrigo Prado Pereira (evento 300).

Ademais, em todas as operações foi RENE o responsável direto pela obtenção

de contas em nome de terceiros “laranjas” para a realização dos depósitos.

Em um dos diálogos que teve com ANDRÉ, RENE refere-se inclusive à

necessidade de “pegar a conta” com terceiro somente no momento em que os valores

estivessem já disponibilizados por CHATER11. Ainda mais clara sua atuação para

obter conta de terceiro com o doleiro MATUSALEM, de forma a disponibilizar o

envio dos valores para o pagamento da carga de drogas na Bolívia. Nesse sentido, a

fim de evitar tautologia, remete-se ao item 31 do anexo à descrição, sempre

lembrando que a íntegra do diálogo encontra-se no evento 99, ANEXO2 dos autos

50026387-13.2013.404.7000.

Por fim, o documento juntado pelo órgão ministerial no evento 288 demonstra

que RENE tinha plena consciência e dolo de atuar de forma a escamotear suas reais

atividades ilícitas, referindo-se naquele diálogo, até com ironia, ao fato de quem

ninguém desconfia de sua real atividade; comentando expressamente a importância de

manter uma aparência de normalidade, o que fazia com a manutenção do falso álibi de

que desenvolvia exclusivamente atividades na construção civil (álibi que pretendeu

sustentar nos autos pelas testemunhas que arrolou); e destacando a importância da

atividade dos doleiros para a movimentação dos valores em contas de “laranjas”.

Assim, indiscutível, no caso dos autos, a autoria e dolo de lavagem de valores

nos fatos imputados a RENE.

11 Item 27 do Anexo à denúncia.41 de 62

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3.2.d. ALBERTO YOUSSEF

Conforme já referido no item 2.2.d, a atuação de YOUSSEF comprovada nos

autos limitou-se à cessão do espaço físico de seu escritório paulista para o

recebimento de valores, não tendo ele mantido qualquer contato relacionado ao caso

penal com EVI, RENE ou SLEIMAN, pelo que, também aqui, a absolvição pelo

critério in dubio pro reo é a medida de maior justiça.

4. Dos crimes de tráfico internacional de entorpecentes e associação para

o tráfico imputados ao denunciado RENE

4.1. Da materialidade do crime de tráfico internacional de entorpecentes

Acusa-se RENE de, no final do mês de novembro de 2013, ter se associado

com no mínimo outras 3 pessoas e importado 698 Kg de cocaína provenientes da

Bolívia, os quais foram apreendidos no dia 21/11/13, na cidade de Araraquara, em

poder de OCARI MOREIRA com auxílio de GILBERTO RAMOS LOPES e

RICARDO SEMLER RODRIGUEZ, conforme consta dos autos 0014808-

07.2013.403.6120 da 1ª Vara Federal de Araraquara/SP.

Conforme demonstram os documentos juntados aos eventos 26, 27 e 101, o

processo paulista foi julgado em primeira instância, com a condenação de OCARI,

GILBERTO e RICARDO pelo crime de tráfico de entorpecentes, encontrando-se

atualmente em fase recursal perante o egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, conforme demonstra o respectivo sistema de consulta processual eletrônico

nesta data (documento anexo).

Em que pese a pendência dos recursos defensivos, a sentença proferida em

primeira instância bem analisou a materialidade do crime de tráfico de entorpecentes,

sendo de todo pertinente a fundamentação per relationem, com remessa aos

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respectivos fundamentos dos quais pede-se vênia para transcrever os seguintes

trechos:

“A materialidade restou comprovada pela apreensão dos 698 kg de cocaínaque foram encontrados no caminhão conduzido por OCARI.O laudo pericial n. 5083/2013 cuidou da análise por amostragem domaterial apreendido no caminhão e os exames "resultaram positivos para asubstância cocaína, que se encontra na forma de sal de cocaína. Consta dolaudo que a droga está relacionada na Lista de Substâncias Entorpecentesde Uso Proscrito no País, Portaria SVS/MS n. 344, de 12/05/1988, eResolução da Diretoria Colegiada - RDC n. 39, de 09/07/2012, da AgênciaNacional de Vigilância Sanitária, sendo considerada capaz de causardependência física ou psíquica(fls. 131/135 e 162/166).(…)Também foram apreendidos com os acusados aparelhos celulares eexpressiva quantia de dinheiro. De acordo com o auto de apreensão de fls.27/29, com o réu OCARI foram apreendidos R$ 3.052,00 (três mil ecinquenta e dois reais), com GILBERTO foram apreendidos R$ 3.712,00(três mil e setecentos e doze reais) e U$ 200,00 (duzentos dólares. ComRICARDO foram encontrados R$ 1.587,00 (mil e quinhentos e oitenta esete reais). No dia seguinte à prisão dos réus, foram encontrados R$200.000,00 ocultos no estofamento dos bancos dianteiros do Golf. Onumerário apreendido em reais foi depositado à ordem do Juízo, em contasaberta para essa finalidade; já os dólares foram acautelados em agência daCaixa Econômica Federal.(…)Analiso agora se é o caso de incidir as causas de aumento realçadas nadenúncia, o que faço tomando como ponto de partida a exasperante que éessencial para a fixação da competência neste Juízo: a internacionalidade.Quanto a isso, entendo que a natureza da substância apreendida e ascircunstâncias do fato evidenciam a transnacionalidade do delito, pelasrazões que seguem.(…)Os réus OCARI e GILBERTO residem em Pontes e Lacerda, município doMato Grosso que está localizado na região de fronteira com a Bolívia,sabidamente grande produtor de cocaína; já RICARDO é de nacionalidadeboliviana, dado que por si só não diz nada, mas que no contexto dos fatoscorrobora a internacionalidade do tráfico.É bem verdade que OCARI sustenta que a droga foi carregada em Pontes eLacerda, mas isso não afasta a internacionalidade do delito, uma vez que anatureza da droga (cocaína) e a quantidade (698 kg) também apontam paraa origem estrangeira do entorpecente. Não bastasse isso, OCARI falou queo indivíduo que o contratou falava “enrolado” e seria colombiano, fazendocrer que havia o envolvimento de pessoas de outro país ou outros países nonegócio proibido.

A soma de todos esses elementos evidencia a transnacionalidade do tráfico, de modo que na

definição da pena deverá ser levada em consideração a causa de aumento prevista no art. 40, I da Lei

11.343/2006.”

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Portanto, absolutamente comprovada a materialidade do crime de tráfico

internacional de entorpecentes descrito na denúncia.

4.2. Da autoria de RENE em relação aos crimes de entorpecentes, bem

como da materialidade delitiva do crime de associação para o tráfico

O ponto questionado em relação ao referido tráfico de entorpecentes é a

autoria do denunciado RENE. Ocorre que o ponto tem íntima relação com a

comprovação da associação criminosa igualmente denunciada, motivo pelo qual serão

tratados em conjunto.

Preliminarmente, insta destacar que, em que pese a absolvição de OCARI,

RICARDO e GILBERTO pelo juízo paulista em relação ao delito de associação

relacionada a entorpecentes, o ponto foi questionado pelo Ministério Público Federal

por meio de apelação (cuja cópia da peça e da decisão de recebimento ora se junta).

Dito isso, observa-se que a denúncia elencou os elementos oriundos de

interceptação de mensagens BBM de RENE que demonstram seu envolvimento e

comando sobre o tráfico denunciado, sendo que a veracidade das mensagens não foi

contestada pelo acusado. Vale rememorar tais elementos, com a vênia pela

autocitação:

“Com efeito, nas mensagens RENE menciona a perda de umacarga de 700 kg, que, ao que se pode concluir, sobretudo pelolocal mencionado nas mensagens e nas suas datas, que se tratada carga apreendida em Araraquara. Aliás, o modo de agir dosenvolvidos na apreensão é muito similar com o que se reveloude RENE nestes autos. Os trechos podem ser vistos nos autos5026387-13.2013.404.7000, evento 188, PET1, p. 80 e ss., eANEXO6, p. 35 e ss. Destaquem-se os seguintes, de maiorinteresse12.

12 22/11/2013 17:03:49 Michelin Mainha “Vc que caiu 700 na chegada de sampa22/11/2013 17:03:59 Michelin Mainha Pensei que eu ia receber um dinheiro amanhã mas meu amigo22/11/2013 17:04:02 Michelin Mainha Era esse22/11/2013 17:04:05 Michelin Mainha Kkkkk22/11/2013 17:04:25 Michelin Mainha Era esse que eu esperava22/11/2013 17:04:49 Michelin Mainha Me deixou complicado22/11/2013 17:05:02 Michelin Mainha U22/11/2013 17:05:21 Michelin Mainha Tava mau feito22/11/2013 17:05:28 Michelin Mainha Preciso urgente

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A menção de que teria “recebido dele há 25 dias atrás” indicaque RENE teria recebido outra carga de drogas dias antes.Em outros trechos, RENE conversa também comCABALLERO sobre a carga apreendida13. Perceba-se areferência à proveniência da droga – Bolívia (“que vênia deahi”).Já em troca de mensagens com o usuário de nick FLOR, RENEdiz que iria receber “700, mas foi cancelado”14.Oportuno verificar que RENE menciona o dia em que a cargaseria entregue – dia 22/11/2013. A droga foi apreendida emAraraquara em 21/11/2013, enquanto era levada ao destino, aoqual chegaria provavelmente no dia 22/11/2013, exatamente nodia em que RENE diz que a receberia.”

Não se tratam de meras presunções como pretende fazer crer a defesa, mas de

mensagens que, somadas ao habitual envolvimento do acusado com o tráfico

internacional de entorpecentes evidenciado nos autos, demonstram de maneira

bastante clara que RENE era o efetivo importador da droga apreendida.

O fato de OCARI, GILBERTO e RICARDO não terem reconhecido RENE em

juízo não infirma a comprovação dos delitos, por diversos motivos.

Primeiramente observa-se que, em verdade, OCARI, GILBERTO e

RICARDO são corréus do importador e escondem a verdade como estratégia de

defesa contra a configuração do crime de associação para o tráfico, tal qual já ficou

demonstrado pelos depoimentos contraditórios colhidos na subseção federal de

Araraquara.

Nesse sentido, vale destacar que o envolvimento de uma quarta pessoa, em

que pese negada pelos presos na cidade paulista, fica absolutamente clara pela troca

de mensagens com pessoa identificada pela alcunha BABAÇU, consoante destacado

22/11/2013 17:05:38 Michelin Mainha Esses burros22/11/2013 17:05:44 Michelin Mainha Pra aqueles cara pega ,foi mau feito22/11/2013 17:06:00 Michelin Mainha Sim(…).22/11/2013 17:06:16 Michelin Mainha E eu tinha recebido dele há 25 dias atrás”

13 Data / Hora: 23/11/2013 16:31:26. Michelin(Michelin) “Já visto que se cayo por San Paulo 700 que vênia de ahi?.Caballero(Caballero) “No vi amigo”14 Data / Hora: 23/11/2013 12:08:00. Michelin(Michelin) “Tinha um de 700 pra ontem mas cancelaram. Vc não tem maisnada entao?”. flor(Flor@>‐‐) “Acredito q ele tenham sim por estas livre ... Mas tenho q confirmar, esto e rapido q tem olhosprocurando”

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na sentença de primeiro grau daquele feito e comprovado pelas fotografias juntadas a

fls. 16/24 dos respectivos autos de inquérito policial (evento 26, PROCJUD1).

Em segundo lugar deve-se observa que de todo justificável o fato de RENE,

sendo o contratante, não ter mantido contato direto com os transportadores, com o que

busca dificultar a própria identificação, como aliás ocorre de praxe em delitos dessa

natureza.

Por fim, o modus operandi evidenciado no caso é de todo enquadrável na

atuação internacional de RENE desvelada nos autos, com a aquisição de drogas na

Bolívia, tal qual ocorrido no caso, onde inclusive comprovado o envolvimento de

pessoa daquela nacionalidade.

Os mesmos elementos que comprovam o envolvimento de RENE no tráfico

em comento e indicam sua atuação permanente e profissional nesta seara, apontam de

maneira inapelável para a associação criminosa denunciada nos presentes autos em

complementação à acionada perante o juízo paulista.

Nesse ponto, pede-se vênia para citar, por sua clareza e completude, os

argumentos fáticos deduzidos pelo órgão ministerial na apelação contra a sentença

absolutória proferida pelo juízo de Araraquara:

“O vínculo associativo restou claramente definido. Muitas sãoas evidências que levam a esta conclusão.Num primeiro momento chama-se a atenção para a expressivaquantidade de droga, 698 kg de cocaína arrumados em meio auma carga de palmitos.Por certo que quantidade tão significativa de substânciaentorpecente não seria confiada a pessoas desconhecidas,tampouco reunidas ao acaso, sem qualquer contato anteriorque conferisse confiança ao relacionamento. Constituiindiscutivelmente requisito para transportar e fazer chegartamanha carga de entorpecente a seu destino a sintonia entreos agentes responsáveis pela empreitada.A comprovar também que o ajuste entre os réus não eraeventual está o tipo de aparelho celular (blackberry) utilizadopor GILBERTO para se comunicar com terceira pessoa

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identificada apenas por Babaçu, informando-a sobre oacompanhamento do caminhão conduzido por OCARI. Oaparelho era, pois, utilizado para troca de informações comalguém que de certo modo monitorava o transporte da droga.Também OCARI trazia semelhante aparelho, conforme podeser observado do depoimento do policial Flavio HenriqueFazan, à fl. 4, confirmado quando da audiência judicial de fl.391.Aqui é importante destacar o fato de que tais aparelhoscelulares são usualmente utilizados por traficantes de drogasque sempre acreditaram na informação, verdadeira até certaquadra das técnicas de investigação, que as comunicações detexto por meio de aplicativo nativo de tais celulares eraminacessíveis aos órgãos de persecução.Daí porque o uso de blackberry bem revela que não se cuidavade agentes neófitos na repulsiva prática do tráfico deentorpecentes, antes de réus experientes a ponto de lançar mãode equipamento que os iniciados sempre acreditaram pudesselhes assegurar o sigilo das comunicações.E a associação para a prática ilícita é visível ainda pelaspróprias mensagens gravadas nos aparelhos que foramencontrados em poder de GILBERTO. Dentre elas destaca-se à fl. 17 mensagem de texto em queBabaçu mostra-se preocupado com a carga e, falando sobreOCARI, motorista do caminhão, ressalta: “Não da pra mandamais ele não”.Ora, a frase é bastante reveladora de que o evento objeto destaação penal não foi o único e não pretendia ser o último – “Nãoda pra manda MAIS ele não” - ressaltando o vínculoassociativo havido entre os réus. Outra evidência de que o grupo não era reunido por acaso é ofato de GILBERTO e RICARDO trazerem no veículo em queacompanhavam como “batedores” da carga ilícita, a altaquantia em dinheiro, R$ 200.000,00 (duzentos mil reais),subentendendo que valor como este seria entregue somente apessoas “de confiança”.De resto, a manifestação de fls. 425/426, que aponta apropositura de ação penal perante a Justiça Federal no Estadodo Paraná contra RENE LUIZ PEREIRA, também envolvidonos mesmos fatos narrados nesta ação penal, destaca o fato deque este agente (RENE) “tem atuação relevante naorganização, na medida em que é responsável pelamovimentação dos recursos provenientes do tráfico, a fim deque sejam 'reinvestidos' na prática, com a aquisição de novascargas de droga, mediante realização de operação de câmbioilegais”. Assim, o conteúdo dessa manifestação constituielemento a fortalecer os indicativos de que o crime do que

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trata o artigo 35 da Lei de Drogas deveria ter sido consideradopelo juízo a quo.Conforme se vê de tudo quanto foi amealhado nestes autos,não há falar na ausência do animus associativo, pois houve, naverdade, a associação que se operou pela necessáriaparticipação de todos os réus, pessoas perfeitamenteidentificadas, com vista ao tráfico de entorpecentes.Dúvidas não há, portanto, de que os réus agruparam-se deforma estável e permanente, para o fim de praticar,reiteradamente ou não, o crime de tráfico de drogas.”

Como complementação, especificamente em relação à atuação de RENE, vale

novamente citar o diálogo com suposto colombiano interceptado pela polícia e

juntado ao evento 288, no que se gaba de sua atuação no mercado de entorpecentes

sem levantar suspeitas, dá detalhes e faz planos quanto ao financiamento e transporte

das cargas (mencionando a atuação de doleiros e até a intenção de obter facilidade em

porto) e, sobretudo, destaca a necessidade de se tratar a prática com caráter

empresarial, evidenciando certo papel de comando que tinha em tais atividades.

Diante do exposto, comprovado de maneira clara não só a prática dolosa do

tráfico internacional de drogas pelo qual foi denunciado nos autos, mas também a

associação estável com mais de 3 pessoas (no caso dos autos, os senhores OCARI,

GILBERTO e RICARDO) na prática habitual da conduta delitiva, pelo que a

condenação por ambos os delitos é medida que se impõe.

5. Dosimetria Penal

Inicialmente, cumpre transcrever o disposto no artigo 59 do Código Penal

Brasileiro, que estabelece as circunstâncias judiciais aplicáveis à fixação da pena-base,

em vista do sistema trifásico de aplicação de pena:

Fixação da pena

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes,à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, àscircunstâncias e conseqüências do crime, bem como aocomportamento da vítima, estabelecerá, conforme sejanecessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

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I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limitesprevistos;

III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa deliberdade;

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, poroutra espécie de pena, se cabível.

Em suma, pode-se considerar a culpabilidade dos réus de modo fortemente

negativo, tendo em vista o dolo direto e intenso dos agentes, suas condutas foram

ordenadas para movimentar dinheiro para pagamento de quantias relacionadas ao

tráfico de drogas

Em relação a CHATER e ANDRÉ já se demonstrou que tinham pleno

conhecimento do funcionamento dos mecanismos de câmbio e ainda assim optaram por

violá-los com plena ciência inclusive das possíveis e reais graves consequências de seus

atos, pelo que a respectiva culpabilidade é agravada, conforme se pode desumir do

seguinte entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

..EMEN: HABEAS CORPUS. PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. ART. 22, DA LEI N.º 7.492/86. EVASÃO DESUBSTANCIAL VALOR EM DIVISAS (8,9 MILHÕES DE DÓLARESESTADUNIDENSES). DOSIMETRIA. CONSEQUÊNCIA NÃOINERENTE AO TIPO PENAL. CIRCUNSTÂNCIASE CULPABILIDADE ESPECIALMENTE CENSURÁVEIS. PENA-BASEELEVADA EM PATAMAR RAZOÁVEL. ORDEM DENEGADA.

(…) 3. É adversa a culpabilidade se há exarcerbada reprovabilidade naconduta praticada pelo Paciente, como no caso, em que o Condenado ébacharel em direito e já atuava profissionalmente há certo tempo no setor deturismo, o que lhe conferiu experiência sobre como realizar movimentaçõesde valores em moeda estrangeira para o exterior. Tal conjuntura,especialmente censurável, também mostra-se apta a ensejar majoração dareprimenda na primeira fase da dosimetria. (…)

(STJ – Quinta Turma – Unânime – relatora: Min. Laurita Vaz – Habeas Corpus 206145 – Autos: 201101042197 – Decisão: 22/05/12 – DJE: 05/06/12)

O mesmo raciocínio deve ser aplicado ao denunciado RENE no que se refere

aos crimes de evasão de divisas e lavagem de ativos, eis que já se demonstrou que

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atuava habitualmente no mercado transnacional de entorpecentes, com pleno

conhecimento dos mecanismos cambiários e empresariais a ele adjacentes.

Também em relação aos crimes de tráfico internacional de entorpecentes e

associação para o tráfico a culpabilidade de RENE é gravemente desvalorada, eis que

atuava na prática delitiva de maneira habitual e com grande planejamento e

premeditação, envolvendo complexo sistema de fornecedores e distribuidores em

diversos países (HC 101452 - STJ).

Os antecedentes do denunciado CHATER também devem ser valorados

negativamente, uma vez que contumaz criminoso, acusado da prática de ilícitos

extramente graves, já contando com anterior condenação por crimes financeiros.

De fato, já se asseverou que nos autos da ação penal nº 2001.34.00.026520-8,

que tramitaram perante o Juízo Federal de Brasília, CHATER foi condenado,

juntamente com HABIB SALIM EL CHATER, como incurso nas sanções do art. 16 da

Lei 7.492/86, por fazer operar sem a devida autorização do Banco Central do Brasil a

empresa Fly Turismo, de fevereiro de 1992 até ao menos 01 de janeiro de 1995. A

sentença sujeita a recurso pela parte e MPF foi confirmada nos autos da Apelação

Criminal nº 2001.34.00.026520-8/DF, restando, no entanto, declarada extinta a

punibilidade em face da prescrição.

Nesse ponto, em que pese o respeito aos entendimentos divergentes, este órgão

ministerial, calcado em sua independência funcional entende e defende que a extinção

da punibilidade pela prescrição retroativa não impede a valoração negativa da

circunstância judicial (TRF3: ACR 6929 e ACR 13720). Diferentemente do que ocorre

em relação a inquéritos policiais arquivados, não há que se falar aqui em ofensa à

presunção da inocência; muito pelo contrário, trata-se de hipótese na qual o Estado

expressamente reconheceu que o réu praticou o delito e deixa de lhe aplicar a pena tão

somente em virtude de razões de política criminal.

A conduta social e a personalidade dos agentes não são valoradas.

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Os motivos do crimes devem ser valorados negativamente, porquanto as ações

foram motivadas pela busca do lucro fácil, sendo certo que tal fator não é considerado

como elementar típica dos crimes contra o sistema financeiro nacional (HC 180.683-

STJ), pela ganância injustificável dos agentes.

As circunstâncias do crime são fortemente negativas, tendo em vista a

utilização de complexo esquema criminoso, qual seja, a engenhosidade nos artifícios

utilizados na prática delitiva, incluindo a utilização de pessoas interpostas (contas

“laranjas” para os crimes de evasão de divisas e lavagem de ativos e transportadores no

que se refere ao crime de tráfico internacional).

Quanto aos crimes relacionados a entorpecentes, conforme prescreve o artigo 42

da Lei 11.343/06, deve-se dar especial ênfase à natureza e grande quantidade de droga

apreendida (quase 700 quilos de “cocaína”), consistindo provavelmente a maior

quantidade de entorpecentes já apreendida na subseção judiciária de Araraquara, como

bem frisou aquele juízo.

As consequências dos crimes de evasão de divisas e lavagem de ativos são

negativas, sobretudo em face dos grandes valores movimentados remetidos ao exterior

(US$ 124.000,00). Nesse sentido, sintetizando o que se disse quanto às circunstâncias e

consequências de tais delitos, vale citar a seguinte recente decisão do egrégio Tribunal

Regional Federal da 4ª Região:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 304 DO CP. USO DEDOCUMENTO FALSO. CONTRATO SOCIAL. ABERTURA DE CONTACORRENTE. ART. 22 DA LEI N. 7.492/86 CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. EVASÃO DE DIVISAS. PROVA.CONDENAÇÃO. DOSIMETRIA DAS PENAS. CIRCUNSTÂNCIASE CONSEQUÊNCIAS.

(…) No delito de evasão de divisas, a utilização de aparato sofisticadamenteengendrado e executado, contribuindo para um esquema de expressivaremessa ilegal de recursos para o exterior, justifica a valoração negativa dascircunstâncias e das consequências do crime. (…)

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(TRF4 – Sétima Turma – Unânime – relator: Des. Marcelo de Nardi –

Apelação criminal – Autos: 00031881820024047005 – Decisão: 17/09/13 –

DE: 26/09/13)

Já quanto aos delitos tratados pela lei de entorpecentes, a jurisprudência é

pacífica ao admitir que as graves consequências à saúde pública sejam valorados

negativamente, eis que não inerentes ao tipo penal.

Por sua vez, quanto ao comportamento da vítima, tem-se por neutro.

Dessa forma, a em relação ao denunciada CHATER, considerando a existência

de cinco elementos negativos (antecedentes, culpabilidade, motivos, circunstâncias,

consequências), as penas-bases fixadas deverão se afastar do mínimo legal, utilizando o

critério de 5/8 de majoração entre os intervalos das penas máximas e mínimas fixadas

para cada delito.

Em relação aos demais acusados, tendo em conta a existência quatro

circunstâncias judiciais desfavoráveis (culpabilidade, motivos, circunstâncias,

consequências ), a pena-base também deve se afastar do mínimo legal, destacando-se a

preponderância da natureza e quantidade de produto no que se refere aos delitos

tipificados na lei 11.343/06, imputados a RENE.

Assim, em relação a CHATER: a) para o crime de evasão de divisas (art. 22,

parágrafo único, da LCSFN), a pena base deve ser fixada em 4 (quatro) anos e 6 (seis)

meses de reclusão; e b) para o crime de lavagem de dinheiro, a pena-base deve ser

fixada em 6 (seis) anos e 1 (um) mês de reclusão.

Em relação ao acusado ANDRÉ: a) para o crime de evasão de divisas (art. 22,

parágrafo único, da LCSFN), a pena base deve ser fixada em 4 (quatro) anos de

reclusão; e b) para o crime de lavagem de valores a pena base será de 5 (cinco) anos e 6

(seis) meses de reclusão.

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Para o denunciado RENE: a) para o crime de evasão de divisas (art. 22,

parágrafo único, da LCSFN), a pena base deve ser fixada em 4 (quatro) anos de

reclusão; b) para o crime de lavagem de valores a pena base será de 5 (cinco) anos e 6

(seis) meses de reclusão; c) para o crime de tráfico de drogas a pena base será de 10

(dez) anos de reclusão; d) para o crime de associação para o tráfico de drogas a pena

base será de 6 (seis) anos e 6 (seis) meses de reclusão.

Na segunda fase de fixação da pena, em vista das agravantes e atenuantes,

dispõe os arts. 61, e 62 c/c 68 do CP:

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividadedos demais agentes;II - coage ou induz outrem à execução material do crime;(...)Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 desteCódigo; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes eagravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. (Redaçãodada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Do cotejo entre as hipóteses legais que agravam a pena e as circunstâncias do

caso concreto, verifica-se que o acusado CHATER promoveu e organizou a prática

delituosa, dirigindo e induzindo a atividade do corréu ANDRÉ (art. 62, I).

Quanto a possíveis atenuantes, deve-se destacar que em relação aos réus

CARLOS HABIB CHATER e ANDRE CATÃO apresentaram tão somente uma

confissão qualificada, pois admitiram alguns fatos, mas negaram as consequências

jurídicas, razão pela qual não podem ter a pena atenuada por este fato. Sobre o tema:

HABEAS CORPUS. PENAL. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DEMORTE. RECONHECIMENTO DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA.IMPOSSIBILIDADE. CONFISSÃO QUALIFICADA. ORDEM DEHABEAS CORPUS DENEGADA. 1. A confissão qualificada, na qual oagente agrega à confissão teses defensivas descriminantes ou exculpantes,não tem o condão de ensejar o reconhecimento da atenuante prevista no art.65, inciso III, alínea d, do Código Penal. De qualquer forma, a versão dosfatos apresentados pelo ora Paciente sequer foi utilizada para embasar a suacondenação, uma vez que restou refutada pelo Conselho de Sentença doTribunal do Júri. 2. In casu, o Paciente confessou ter esfaqueado a vítimapara se defender, alegando, portanto, ter agido em legítima defesa. 3. Ordemde Habeas Corpus denegada. (STJ - HC: 197395 DF 2011/0031975-4,

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Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 23/04/2013, T5 -QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/04/2013)

Portanto, nesta segunda fase da dosimetria, considerando a existência de uma

agravante em desfavor de HABIB CHATER, a pena-base deve ser aumentada em um

ano, restando fixada a seguinte dosimetria: a) para os crimes de evasão de divisas (art.

22, parágrafo único, da LCSFN), 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão; e b) para

os crimes de lavagem de dinheiro, a pena provisória será de 7 (sete) anos e 1 (um) mês

de reclusão.

Por fim, quanto às causas de especial aumento ou diminuição de pena, a única

que se verifica no caso em comento é a prevista no artigo 40, I da Lei 11.343/06, eis

que, conforme já destacado, absolutamente comprovada a transnacionalidade dos

delitos envolvendo entorpecentes imputados a RENE.

Assim, as sanções para os crimes relacionados à lei 11.343/2006 deverá sofrer

majoração de 1/6, restando definitiva as sanções abaixo individualizadas.

Assim, tem-se como justas e adequadas as seguintes sanções finais:

CARLOS HABIB CHATER

a) para os crimes de evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da LCSFN), 5

(cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão;

b) para os crimes de lavagem de dinheiro, a pena provisória será de 7 (sete)

anos e 1 (um) mês de reclusão.

Concurso material: considerando que os crimes foram praticados em concurso

material ou formal impróprio (com desígnios autônomos), a sanção final será de 12

(doze) anos e 1 (um) mês de reclusão.

ANDRE CATÃO

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a) para o crime de evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da LCSFN), a

pena base deve ser fixada em 4 (quatro) anos de reclusão;

b) para o crime de lavagem de valores a pena base será de 5 (cinco) anos e 6

(seis) meses de reclusão.

Concurso material: considerando que os crimes foram praticados em concurso

material ou formal impróprio, a sanção final será de 9 ( nove ) anos e 6 ( seis ) meses

de reclusão.

RENE PEREIRA

a) para o crime de evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da LCSFN), a

pena base deve ser fixada em 4 (quatro) anos de reclusão;

b) para o crime de lavagem de valores a pena base será de 5 (cinco) anos e 6

(seis) meses de reclusão;

c) para o crime de tráfico de drogas a pena será de 11 (onze) anos e 8 (oito)

meses de reclusão;

d) para o crime de associação para o tráfico de drogas a pena será de 7 (sete)

anos e 7 (sete) meses de reclusão.

Concurso material: considerando que os crimes foram praticados em concurso

material e formal impróprio com desígnios autônomos (evasão de divisas e atribuição

de falsa identidade para operação da câmbio), a sanção final será de 28 (vinte e oito) e

9 (nove) meses de reclusão.

PENA DE MULTA, PAGAMENTOS DAS CUSTAS PROCESSUAIS

A aplicação da pena de multa deve respeitar os mesmos critérios de fixação da

pena privativa de liberdade, tendo em conta ainda a condição financeira de cada

acusado.

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O réu CARLOS HABIB ostenta boa condição financeira, razão pela qual pugna

a fixação do dia-multa no máximo de 5 (cinco) salários mínimos.

Já os réus RENE PEREIRA e ANDRE CATÃO aparentam possuir condição

econômica estável, motivo pelo qual fixa pede a fixação dos dia-multa em 1 (um)

salário mínimo.

Em relação ao denunciado RENE PEREIRA, no que se refere aos crimes dos

arts. 33 e 35 da lei 11.343/2006, pugna a condenação ao pagamento de 2.200 (dias-

multa).

Os condenados devem ser também condenados ao pagamento das despesas

processuais.

REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA

Considerando o montante das reprimendas fixadas (todas acima de oito anos de

reclusão), o regime inicial de cumprimento das sanções privativas de liberdade

aplicadas aos réus deverá ser inicialmente fechado.

VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DO DANO

Considerando que nos crimes imputados a vítima é toda a sociedade, tratando-se

de bem jurídico difuso, o Ministério Público Federal requer a fixação de um valor

mínimo para a reparação pelos danos causas pelos delitos de lavagem de dinheiro e

evasão de divisas em R$ 300.000 (trezentos mil reais), sendo que tal montante

corresponde ao valor total envolvido nas transações.

Ademais, em relação a RENE, no tocante ao tráfico de drogas, para fins de

fixação de valor mínimo de reparação dos danos causados pela infração penal, requer

seja fixado o montante de R$ 350 mil. Conforme constou na denúncia, chegou-se a esse

valor tomando por base a informação policial de que o kg da cocaína é adquirido por

traficantes brasileiros ou instalados no Brasil por cerca de U$ 3 mil. Então, aplicou-se

esse valor a 50 kg de droga, apenas para fins de estimação do valor mínimo do dano.

DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE 56 de 62

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É certo afirmar que o cárcere é exceção, sendo a liberdade a regra.

No caso em voga, o Ministério Público Federal entende que ainda estão

presentes os requisitos da custódia cautelar de CARLOS HABIB CHATER, ANDRE

CATÃO e RENE PEREIRA, sendo certo que os fundamentos para a manutenção da

prisão cautelar desses acusados já foram expostos em outras manifestações

ministeriais anteriores, cabendo rememorar para fins argumentativos.

Em suma, pode-se dizer que a manutenção da custódia cautelar dos acusados

presos é adequada para a garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei

penal.

Quanto a RENE PEREIRA, para a garantia da ordem pública, deve-se

considerar que o réu, já afeito à reiteração de práticas criminosas graves (tráfico e

lavagem de capitais em grande vulto), responde à imputação pela gravidade concreta,

no caso em tela, de delito de tráfico internacional de aproximadamente 700

quilogramas de cocaína, sendo certo que os tribunais superiores em casos menos

graves já se pronunciaram pela manutenção da prisão:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PRISÃOPREVENTIVA. TRÁFICO DE DROGAS. GARANTIA DAORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA DODELITO. QUANTIDADE E VARIEDADE DE DROGASAPREENDIDAS. APLICAÇÃO DE MEDIDASCAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO.INVIABILIDADE. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTOILEGAL. CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PACIENTE.IRRELEVÂNCIA NO CASO. REFORÇO DEFUNDAMENTAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PELASINSTÂNCIAS SUPERIORES. DECRETO ORIGINÁRIOAPTO, POR SI SÓ, PARA MANTER A CUSTÓDIACAUTELAR. […] 1. Os fundamentos utilizados revelam-se idôneos paramanter a segregação cautelar do paciente, na linha deprecedentes desta Corte. É que a decisão aponta de maneiraconcreta a necessidade de garantir a ordem pública, ante agravidade concreta do delito, dada a variedade e a

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quantidade de droga aprendida (= 256 gramas de cocaínae 1.079 gramas de maconha).2. As circunstâncias concretas do caso não recomendam aaplicação das medidas cautelares diversas da prisãopreventiva, previstas no art. 319 do Código de Processo Penal.[…] (Habeas Corpus n. 119.457-SP, STF, 2ª Turma, unânime,Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 13.5.2014, publicado noDJ em 29.5.2014)

Quanto aos acusados ANDRE CATÃO e CARLOS HABIB CHATER, a garan-

tia da ordem pública se legitima também pela gravidade concreta dos fatos, bem como

pela possibilidade real de reiteração delitiva na estrutura da organização criminosa.

Frise-se que esses acusados ainda respondem a outras ações penais perante esta vara

pela prática de crimes financeiros de significativa monta.

A propósito, o Tribunal Regional Federal já se pronunciou no sentido de que a

magnitude do dano legitima a prisão preventiva nos termos do art. 30 da lei 7492/86

(TRF-4 - HC: 33707 PR 2003.04.01.033707-7, Relator: ÉLCIO PINHEIRO DE CAS-

TRO, Data de Julgamento: 10/09/2003, OITAVA TURMA, Data de Publicação: DJ

24/09/2003 PÁGINA: 614).

De resto, há também necessidade de assegurar a aplicação da lei penal.

No dia 5 de setembro de 2014 os réus tentaram fugir da escolta policial, inclu-

sive com o denunciado RENE fazendo ameaça velada a servidor público que o condu-

zia.

No ofício de informações do ocorrido assim constou:

Comunico que nesta data, por volta das 19h00, fomosinformados pelo agente penitenciário Leonardo C. Cazais,motorista do camburão que, durante o retorno dos presosremovidos para audiência, os presos: André Catão deMiranda, prontuário 105024, carlos Habib Chater prontuário105022, Rene Luiz Pereira, prontuário 105025, e André Luizde Paula, prontuário 104747, tentaram empreender fuga daescolta. O agente penitenciário Leonardo C. Cazais, ao tentaratender ao pedido de melhor ventilação feito pelo preso CarlosHabid Chater foi surpreendido pelos referidos presos acimatentando empurrá-lo junto com a porta do camburão para

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fugir. O agente Cazais informo ao efetivo do BpGd que depronto restabeleceu a ordem. […] O preso Renê Luiz Pereirachegou inclusive a dizer que quando estivesse solto iriaprocurar o soldado Marcelo da Cruz, dizendo “queroencontrá-lo na rua” [...]”

Ainda sobre RENE, importante também colacionar recentíssima decisão do

MM. Juiz Federal da 13ª Vara de Curitiba (17.9.2014), que deferiu pleito do do Mi-

nistério Público Federal de transferência do ora recorrente para presídio de se-

gurança máxima (Catanduvas), nos seguintes termos:

[…] 2. O MPF pleiteou, quando do oferecimento da denúncia,a transferência do acusado Rene Luiz Pereira para o PresídioFederal de Catanduvas (anexo 2, do evento 1).

Transcrevo em parte:

'Identificou-se que Rene integra organização criminosadedicada ao tráfico de drogas, além de ele mesmo praticartráfico. Percebeu-se que essas atividades foram praticadasinclusive de forma empresarial, por meio de organizaçãotransnacional cujo foco é a aquisição de cocaína em grandesquantidades de produtores ou fornecedores da Bolívia e doPeru, droga essa embarcada pelo Porto de Santos à Europa.(...)(...)

A custódia desse denunciado, considerando o nível deorganização, extensão e frequência de suas atividades, deve,portanto, ocorrer em estabelecimento de segurança máxima,com vistas a estancar a sua atuação, sob pena de risco decontinuidade delitiva, forte ainda na alta periculosidade emconcreto da atuação do denunciado.'

Ouvida, a Defesa de Rene (evento 24, pet1), pleiteou naocasião a revogação da preventiva, sem manifestar-seespecificamente sobre a questão, embora tenha sido lhe dada aoportunidade.

Em despacho de 18/05/2014, consignei o seguinte:

'Pende de apreciação o pedido de transferência do acusadoRene Luiz Pereira ao Presídio Federal de Catanduvas.

Entendo que, nesse momento, iniciando a instrução,necessária a sua manutenção em Curitiba para que possa

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comparecer às audiências. Oportunamente decidirei sobre opedido de transferência.'

Concluída a instrução, o tema deve ser retomado.

Foi decretada a prisão preventiva de Rene Luiz Pereira(decisão de 17/02/2014, evento 24, processo 5001438-85.2014.404.7000).

Nestes autos, foi ele acusado especificamente de ser oresponsável pela importação de cerca de 698 kg de cocaínaque foram apreendidos em 22/11/2013 em Araraquara/SP,além de lavagem de dinheiro de produto de tráfico de drogas eevasão de divisas.

A denúncia ainda reporta-se à outras tratativasenvolvendo drogas, inclusive uma que teria resultado naapreensão de 55 kg de cocaína em Valência, na Espanha,isso em 20/10/2013, e a fatos que indicariam seuenvolvimento com o tráfico de drogas e lavagem como aapreensão em sua posse direta de 189.000 dólares em23/01/2014. Embora a denúncia não lhe impute esses últimosfatos especificamente, a eles se reporta para concluir que ReneLuiz Pereira estaria profundamente envolvido no tráfico degrandes carregamentos de drogas e em lavagem de dinheiro.

Ora, não cabe nesse momento decidir sobre o mérito daimputações.

Entretanto, ao decretar a preventiva, reconheci em cogniçãosumária, a presente de prova de materialidade e de indícios deautoria em relação a Rene da prática desses crimes.

Havendo indícios de seu envolvimento em grandescarregamentos de drogas e em lavagem de dinheiro devulto, entendo que Rene Luiz Pereira reúne o perfil depresos próprio para os presídios federais, conformeprevisão da Lei 11.671/2008.

Assim e não mais sendo necessária a presença de Rene LuizPereira para atos instrutórios perante este Juízo, defiro orequerido pelo MPF e autorizo a sua transferência para oPresídio Federal de Catanduvas”.

No mesmo dia, o e. Juiz Federal a quo complementou sua decisão, enfatizandoque:

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[…] O envolvimento de Rene Luiz Pereira em tráfico de grandes carregamentos de droga e de lavagem de vulto, a justificar, pela gravidade em concreto dessas condutas, atransferência ao sistema penitenciário federal.

O desejo do acusado de proximidade com sua família não sesobrepõe ao interesse público em isolar presos envolvidos emcrimes de elevada dimensão e periculosidade.

Então cumpra a Secretaria o despacho anterior, com esseadendo, cientificando também deste a Defesa de Rene LuizPereira. No traslado determinado, inclua-se também estedespacho e a referida petição.”

Dessa forma, considerando esses fundamentos, o Ministério Público Federal

opina pela manutenção da prisão preventiva dos acusados CARLOS HABIB CHA-

TER, ANDRE CATÃO MIRANDA e RENE LUIS PEREIRA.

V. REQUERIMENTO FINAL

Por todo exposto, o Ministério Público Federal pugna a parcial procedência dos

pedidos de condenação da inicial acusatória nos seguintes termos:

a) a condenação de RENE LUIZ PEREIRA, CARLOS HABIB CHATER e

ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA por terem incorrido nas penas do art. 22,

parágrafo único, da Lei 7.492/86 e nas penas do art. 1º, caput, bem como no

§1º, II, todos da Lei 9.613/98;

b) a condenação de RENE LUIZ PEREIRA por ter incorrido nas penas

previstas no art. 33, caput, e art. 35, c/c o art. 40, I, todos da Lei 11.343/2006;

c) a absolvição de ALBERTO YOUSSEF das penas previstas no art. 1º, §1º,

II, Lei 9.613/98 e art. 22, parágrafo único, da Lei 7.492/86 por insuficiência de

provas;

d) a condenação dos réus RENE LUIZ PEREIRA, CARLOS HABIB

CHATER e ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA à reparação dos danos

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causados pelos seus crimes, ao pagamento da pena da pena de multa e demais

custas processuais;

e) a manutenção da prisão preventiva de RENE LUIZ PEREIRA, CARLOS

HABIB CHATER e ANDRÉ CATÃO DE MIRANDA

Curitiba, 26 de setembro de 2014.

DIOGO CASTOR DE MATTOS ROBERSON HENRIQUE POZZOBON

Procurador Regional da República Procurador da República

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