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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ _____
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA .
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , através
da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente, por seu representante infra-
assinado, usando das atribuições que lhe são conferidas em lei, vem à presença de Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 129 da Constituição Federal e com fundamento nas
Leis Federais n. 6.938/81 e 7.347/85 e demais leis estaduais e municipais pertinentes a
espécie, propor o presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL,
com pedido de antecipação de tutela em face do
INSTITUTO DAS ÁGUAS DO PARANÁ , pessoa jurídica de
direito público, com endereço na Rua Santo Antônio, nº 239, nesta Capital, CEP
80.230-120, telefone 3213-4700 e 3213-4800, representado por seu Diretor-Presidente
Márcio Fernando Nunes, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:
2
I - OS FATOS
Preliminarmente cabe esclarecer que o INSTITUTO DAS ÁGUAS
DO PARANÁ é pessoa jurídica de direito público, vinculada a Secretaria Estadual do
Meio Ambiente e substituiu a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos
Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA). Foram transferidos para o âmbito
administrativo do Instituto das Águas do Paraná as atribuições, cargos e servidores da
extinta SUDERHSA com endereço na Rua Santo Antônio, nº 239, nesta Capital, CEP
80.230-120, telefone 3213-4700 e 3213-4800, representado atualmente por seu Diretor-
Presidente Márcio Fernando Nunes.
Em 24 de maio de 2011 a Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente
de Curitiba instaurou a Notícia de Fato nº MPPR-0046.11.001868-9, mediante
requerimento de providências da Rede Brasileira para Conservação dos Recursos
Hídricos e Naturais – AMIGOS DAS ÁGUAS – REDADA, em razão de outorga de
inúmeras licenças para canalização de rios e córregos urbano/rurais, a despeito da
realidade socioambiental urbana, consistente em enchentes, alagamentos e inundações.
Para averiguar os fatos foi indagado o Instituto das Águas, acerca da
existência de relação de licenças concedidas pelo Instituto, autorizando a canalização e
manilhamento de rios e córregos nos últimos 05 (cinco) anos, em Curitiba. Em reposta,
foi fornecida relação constando 19 (dezenove) protocolos com concessão de outorga de
canalizações de rios e córregos localizados no município de Curitiba – PR, nos anos de
2005 a 2010.
Pela descrição contida na relação de outorgas, em sua maioria as
canalizações buscam apenas otimizar a utilização de terrenos para construção civil. O
prazo de validade de concessão por trinta e cinco anos deixa claro, que não haverá como
reverter a canalização, e assim o que será construído em cima da tubulação não será
retirado.
Analisando a relação acostada, verifica-se que as outorgas foram
concedidas dentro dos limites territoriais de Curitiba, na bacia hidrográfica do Rio
3
Iguaçu, em cursos d’água sem nome, em cursos do Rio Atuba (antigo leito), do Rio
Belém, do Córrego Evaristo da Veiga, do Córrego Tamandaré, do Rio Alto Boqueirão, e
do Rio Passaúna.
Quanto ao tipo de outorga ela pode ser “autorização”, com prazo de
validade de trinta e cinco anos, ou “prévia”, com prazo de dois anos.
Em resposta a ofício (of. nº 1813/06) expedido pela Promotoria de
Proteção ao Meio Ambiente, em termo de representação (sob n º267/06) em que se
discutia a canalização de curso d’água em imóvel localizado em Curitiba, a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente esclareceu nos seguintes termos:
“(...)
Temos a esclarecer ainda que apesar das atividades desenvolvidas
na área não estarem de acordo com a política ambiental desta
SMMA, uma vez que, somos contrários à canalização de cursos
d’água e que só recentemente esta Secretaria passou a opinar e
deliberar nessas atividades, através da edição das Resoluções do
CONAMA, especialmente a Resolução nº 369 e que eram
anteriormente avaliadas e autorizadas pela SMOP, não há como este
Departamento, ou outro desta PMC, não acatar uma outra
legislação federal (outorga) que determina o contrário. Se há
conflito nessas legislações, não nos cabe análise ou interpretação,
sendo outro o foro de discussão.
(...)
Curitiba, 20 de outubro de 2006
Heitor Costa Neto Engº Agrônomo – CREA 8477-D Matric. 30.595-7”
4
II - LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Em nosso Direito Positivo, a proteção ambiental merece tratamento
constitucional:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(...)
§3° As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados."
O Estado do Paraná, em sua Constituição, dedicou capítulo especial à
questão ambiental, garantindo a defesa do meio ambiente e da qualidade de vida do povo
paranaense, importância esta que se extrai do contido na redação do artigo 207, in verbis:
“Artigo 207 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Estado, aos Municípios e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras,
garantindo-se a proteção dos ecossistemas e o uso racional dos
recursos ambientais.
Parágrafo segundo - As condutas e atividades poluidoras ou
consideradas lesivas ao meio ambiente, na forma da lei, sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas:
5
I - à obrigação de, além de outras sanções cabíveis, reparar os danos
causados;
II - as medidas definidas em relação aos resíduos por ela produzidos;
III - a cumprir diretrizes estabelecidas por órgão competente."
A jurisprudência vem entendendo que:
“Apelação Cível n. 145.317-4
Rel.: Juiz Lauro Augusto Fabrício de Melo / 1. Câm.Cível
Ementa - Ação civil pública de responsabilidade por danos causados
ao meio ambiente com obrigação de fazer - Alegada ausência de
citação de litisconsorte - Desnecessidade - Nulidade de sentença por
falta de fundamentação - Inocorrência - Terreno reservado - edificação
sobre faixa de mata ciliar - Art. 2, letra ‘A’, item ‘5’, da lei n. 4.771/65
- Legitimidade do IAP para fiscalização - Honorários advocatícios
devidos nos termos do artigo 118, inciso II, alínea ‘A’, da Constituição
Estadual - Recurso desprovido.
1- A fruição da propriedade e da posse, não pode legitimar a
degradação do meio ambiente, áreas de preservação permanente.
2- Constitui uso nocivo da propriedade, destinação diversa daquela
determinada pelo Código Florestal, nas áreas de preservação
permanente, desrespeitando-se a limitação administrativa, cuja
responsabilidade no direito ambiental é objetiva.
3- A preservação e a recomposição de mata ciliar é um imperativo
que se impõem ao proprietário de terras, constituindo-se em
obrigação propter rem.
6
4- Considera-se de preservação permanente, as florestas e demais
formas de vegetação natural, situadas ao longo dos demais rios ou
qualquer curso d’água, desde o seu nível mais alto em faixa
marginal, cuja largura é fixada no Código Florestal (art.2)
5- As florestas de preservação permanente, instituídas, no art. 2, do
Código Florestal, são consideradas as propriedades como de
limitações administrativas.
6- Terrenos reservados são faixas de terras particulares, marginais
dos rios, lagos e canais públicos, como define o Código de Águas.
7- Configura, limitação administrativa à propriedade, visando a
proteção ambiental, a definição, como área de preservação
permanente, das florestas e demais formas de vegetação natural
situadas ao longo dos rios o qualquer curso d’água. Tal limitação,
não importa em violação do direito de propriedade, tampouco
infringe qualquer direito.
8- Há leis que dependem de regulamentação para sua execução e
outras que são auto-executáveis. No entanto, qualquer delas pode ser
regulamentada, distinguindo-se de que as primeiras o regulamento é
condição de sua aplicação e nas segundas é ato facultativo.
9- Os honorários advocatícios fixados em ação civil pública aforada
pelo Ministério Público, julgada improcedente, decorrente da
sucumbência, deverá ser recolhida ao Estado, como renda eventual, à
conta da Procuradoria Geral da Justiça, para o Fundo Especial criado
pela lei Estadual n. 12.241/98, nos termos do art. 118, inc. II, alínea
‘a’, parte final, da Constituição Estadual.
Ação Civil Pública - Liminar - Proteção Ambiental - Limitação
Administrativa.
Configura limitação administrativa a propriedade, objetivando a
proteção ambiental, a definição, como área de preservação
7
permanente, das florestas e demais formas de vegetação natural
situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água. Essa
limitação não importa em violação do direito de propriedade,
tampouco em afronta a qualquer direito adquirido. Por isso, é mantida
a concessão de liminar em ação civil pública, posto que ancorada em
elementos informativos que evidenciam a presença do fumus boni iuris
e do periculum in mora. Agravo de instrumento desprovido.”
Em nível infraconstitucional, encontramos como modelo de norma, em
razão da precisão de seus termos, a Lei 6.938, de 3l de agosto de 1981, que estabeleceu a
Política Nacional do Meio Ambiente, e que reza:
"Art. 2° - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo:
II - Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do mar;
VIII - Recuperação de áreas degradadas;
IX - Proteção de áreas ameaçadas de degradação;
Art. 3° - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - Meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas;
8
II - Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das
características do meio ambiente;
III - Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de
atividades que direta ou indiretamente:
a)- prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b)- criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c)- afetem desfavoravelmente a biota;
d)- afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
IV - Poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora
de degradação ambiental;
V - Recursos ambientais: a atmosfera, às águas interiores, superficiais
e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora."
É neste texto legal que encontramos o divisor de águas da atual política
jurídico-normativa da questão ambiental: a responsabilidade objetiva do degradador pelos
danos causados. É a redação do artigo 14, § 1° da Lei 6.938/81 que estabelece:
“(...)
§ 1°- Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade...”
Delimitados os contornos genéricos do tratamento legal ao ambiente,
devemos passar à análise de normas protetivas específicas e que tratam diretamente do
assunto em pauta.
9
As águas públicas derivadas de rios ou mananciais são qualificados
juridicamente como “bem de uso comum do povo” conforme arts. 20, III e 26, I da
Constituição Federal.”
Sobre as águas, vigora desde 1934 o Decreto 24.643 conhecido por
Código de Águas. Após a Constituição Federal foi editada a Lei Federal 9.433, de
08/01/1997 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, tendo como
fundamentos:
“Art. 1º. A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos
seguintes fundamentos:
I – a água é um bem de domínio público;
II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor
econômico;
III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos
hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;
IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso
múltiplo das águas;
V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
V – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar
com a participação do Poder Público, dos usuários e das
comunidades.”
A Política Nacional de Recursos Hídricos tem como objetivos:
“Art.2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
10
I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos;
II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos,
incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento
sustentável;
III – a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de
origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos
naturais.”
Um dos instrumentos da Política Nacional é a outorga dos direitos de
uso de recursos hídricos, conforme artigo 5º, inciso III. Diz o artigo 11 que o regime de
outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à
água. Seguindo, reza o art. 12:
“Art.12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos
seguintes usos de recursos hídricos:
I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo
de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou
insumo de processo produtivo;
II – extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou
insumo de processo produtivo;
III – lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos
líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição,
transporte ou disposição final;
IV – aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade
da água.
11
(...)”
Quanto a competência para outorga de uso de água a Lei prevê que
apenas o Executivo Federal, Estadual e do Distrito Federal terão tal poder:
“Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do
Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal.
§1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao
Distrito Federal competência para conceder outorga de direito de uso
de recurso hídrico de domínio da União.”
Diz ainda o art. 16 que toda outorga de direitos de uso de recursos
hídricos far-se-á por prazo não superior a trinta e cinco anos, sendo passível de
renovação.
No Estado do Paraná, a Política Estadual de Recursos Hídricos é
prevista na Lei 12.776, de 26 de novembro de 1999, que inclusive complementou
alguns pontos da Política Nacional, como por exemplo, o art.2º, no inciso II que traz
como fundamento a água como patrimônio não só econômico, mas também social e
ambiental.
A Política Estadual de Recursos Hídricos também tem como
instrumento a outorga, prevista no art. 13 nos seguintes termos:
“Art. 13. Estão sujeitos à outorga pelo Poder Público os seguintes
direitos de uso de recursos hídricos, independentemente da natureza,
pública ou privada, dos usuários:
(...)
V – intervenções de macrodrenagem urbana para retificação,
canalização, barramento e obras similares que visem ao controle de
cheias;”
12
Como se observa pela política estadual de recursos hídricos, as
intervenções de macrodrenagem urbana para retificação, canalização, barramento e
obras similares sempre visam especificamente o controle de cheias.
No Estado do Paraná o órgão executivo gestor do Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos é o Instituto das Águas que substituiu a
SUDERHSA.
Criada pela Lei Estadual 16.242, de 13 de outubro de 2009, o Instituto
das Águas é entidade autárquica dotada de personalidade jurídica de direito público,
com patrimônio e receitas próprios e autonomia administrativa, técnica e financeira,
integrante da Administração Indireta do Estado, vinculada à Secretaria de Estado do
Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA.
No art. 4º da Lei 16.242 estão definidas as competências do Instituto
das Águas, em seus dezoito incisos e como se observa sempre voltadas para elaborar,
executar e fiscalizar planos, programas, ações, serviços técnicos, prestar assistência,
elaborar estudos e pesquisas e difundir informações que busquem a recuperação e
gestão dos recursos hídricos.
O art. 32 que trata da Política Estadual de Recursos Hídricos modificou
o art. 39-A, inciso IX da Lei Estadual 12.726/99, atribuindo ao Instituto das Águas do
Paraná a competência para “outorgar, suspender e revogar, mediante procedimentos
próprios, direitos de uso de recursos hídricos.”
Em consulta à pagina eletrônica do Instituto das Águas encontram-se
algumas definições como por exemplo, o ato de outorga:
“A Outorga é o ato administrativo que expressa os termos e as
condições mediante as quais o Poder Público permite, por prazo
determinado, o uso de recursos hídricos.
13
Direciona-se ao atendimento do interesse social e tem por finalidades
assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e
disciplinar o exercício dos direitos de acesso à água.”1
No Estado do Paraná, os atos de autorização de uso de recursos
hídricos de domínio estadual (conforme Decreto Estadual 4646, de 31/08/2001, art. 3º)
são de competência do Instituto das Águas do Paraná. Porém, em se tratando de
recursos hídricos de domínio federal, quem concede as outorgas para utilização da água
é a Agência Nacional de Águas, conforme as definições da Constituição Federal.
A dominialidade sobre os recursos hídricos significa a responsabilidade
pela preservação do bem, sua guarda e gerenciamento, objetivando a sua perenidade e
uso múltiplo, bem como o poder de editar as regras aplicáveis.
A outorga concedida pelo Instituto pode ser de dois tipos, a Prévia e a
de Direito, aquela para novos empreendimentos que necessitem de licenciamento
ambiental e empreendimentos existentes que ainda não possuam licenciamento
ambiental. Já outorga de Direito destina-se a novos empreendimentos que não
necessitem de licenciamento ambiental e empreendimentos existentes que já possuam
licenciamento ambiental.
Decreto 4646/2001 dispõe sobre o regime de outorga de direitos de uso
de recursos hídricos e adota outras providências, também prevê a possibilidade de
intervenções de macrodrenagem urbana para retificação, canalização, barramento e
obras similares que visem ao controle de cheias, nos termos do inciso V do art. 6º.
Como se observa o Instituto das Águas tem atuação no que diz respeito
as águas de domínio estadual, e não exclui a necessidade de se harmonizar à legislação
municipal de uso do solo.
1 http://www.aguasparna.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10
14
Sobre a bacia hidrográfica de Curitiba
A bacia hidrográfica de Curitiba é constituída de vários rios e
riachos, que cortam a cidade em diferentes direções, agrupados em cinco bacias
hidrográficas.
No Estado, o principal rio é o rio Paraná, sendo que o município de
Curitiba localiza-se à margem direita e a leste da maior sub-bacia do rio Paraná, a bacia
hidrográfica do rio Iguaçu.
A maior bacia hidrográfica de Curitiba é a do rio Barigüi, que
atravessa o município de norte a sul e cobre uma área total de 139,9 km². Devido às
altitudes mais altas de Curitiba serem no norte do município, todas as seis bacias
hidrográficas correm para o sul, indo desembocar no principal rio de Curitiba, o Iguaçu,
que por sua vez irá desaguar no rio Paraná, a oeste do estado.
Bacias hidrográficas e suas
Respectivas áreas (em km²), em Curitiba
Área
Bacias hidrográficas
(km²) (%)
Ribeirão dos Padilhas 33,8 7,82
Rio Atuba 63,71 14,74
Rio Barigüi 140,8 32,58
Rio Belém 87,77 20,31
Rio Iguaçu 68,15 15,77
15
Rio Passaúna 37,94 8,78
Total 432,17 100,0
Fonte: SMSA - Secretaria Municipal de Saneamento [1]
Analisando cada uma das bacias da tabela temos que a Bacia do
Ribeirão dos Padilhas ocupa uma área de 33,8 km², sendo que o rio principal conta com
9,40 km. Seus afluentes são o Arroio Cercado e Arroio da Boa Vista.
Por sua vez, a Bacia do Atuba-Bacacheri ocupa uma área de 63,71 km²,
sendo seu rio principal com 18,2 km e seus afluentes são o Rio Bacacheri e o Rio
Tarumã.
A Bacia do Belém ocupa uma área de 87,77 km² e sua principal
Bacia tem 20,10 km. Os afluentes do Belém são: Rio Ivo, Rio Juvevê, Rio Água Verde,
Rio Guaíra e Rio Pinheirinho.
A Bacia Barigui ocupa no total uma área de 140,8 km²., sendo que o
rio principal da bacia tem 29 km. Seus principais afluentes são: Rio Campo de Santana,
Rio Cascatinha, Rio Uvú, Rio Mossunguê, Rio Vila Formosa, Ribeirão do Mueller,
Ribeirão Campo Comprido, Ribeirão Antônio Rosa, Ribeirão Do Passo do França,
Arroio do Pulo, Arroio da Ordem, Arroio do Andrade, Arroio do Pulgador, Arroio do
Passo do Melo, Córrego Vista Alegre, Rio do Wolf, Córrego Capão Raso e Córrego
Vila Isabel.
A Bacia do Passaúna ocupa uma área de 37,94 km² e seu rio principal
ocupa 18,2 km.
A Bacia do Iguaçú ocupa uma área de 68,15 km² e seus afluentes são:
Rio Ponta Grossa, Rio do Moinho, Arroio do Espigão e Arroio do Prensa.2
Dentro do espaço territorial de Curitiba, em se tratando de uma de suas
sub-bacias, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba deve ser consultada. 2 As informações foram obtidas da página eletrônica do IPPUC sobre as características hidrográficas de Curitiba.
16
Os cursos d’água que passam por Curitiba localizam-se em área de preservação
permanente não passível de intervenção, razão pela qual todo e qualquer pedido de
canalização necessitam de análise quanto ao uso do solo.
A atuação municipal de proteção dos recursos hídricos
Conforme consta da página eletrônica do Município de Curitiba, em
especial da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, as ações públicas municipais são,
por força de lei voltadas para o território municipal, que na maioria das vezes não
contempla toda unidade da bacia, entretanto, no âmbito do Município têm-se um
arcabouço legal voltado à gestão dos recursos hídricos, como:
a) Lei Municipal 7833/1991 dispõe sobre a Política de Proteção,
Conservação e Recuperação do Meio Ambiente;
b) Lei Municipal 9805/2000 – Anel de Conservação Sanitário
Ambiental aprovada em 4 de abril de 2000 estabelece faixas ao longo dos principais rios
da cidade com o objetivo de preservá-los ou recuperá-los mediante benefícios
construtivos;
c) Lei 10.785/2003 – Cria no Município de Curitiba o Programa de
Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações – PLURAE;
d) Decreto 791/2003 – que dispõe sobre critérios para implantação dos
mecanismos de contenção de cheias;
e) Decreto 293/2006 – que regulamenta a Lei 10.785/2003 e dispõe
sobre os critérios do uso e conservação racional da água nas edificações.
17
Nos termos da Lei Municipal 7.833/91 que dispõe sobre a Política de
Proteção, Conservação e Recuperação do Meio Ambiente de Curitiba, os cursos d’água
devem ser protegidos:
“Art. 3º - Para o cumprimento do disposto no Art.30 da Constituição
Federal, no que concerne ao meio ambiente, considera-se como de
interesse local:
(...)
- a preservação, conservação e recuperação dos rios e das matas
ciliares;”
Observa-se portanto a voltade do legislador em proteger os rios e
córregos que passam pela cidade colidindo com a intenção de particulares de canalizar
os cursos d’água.
No âmbito municipal, a competência para análise de questões
ambientais é de sua Secretaria específica, podendo autorizar ou negar o uso do solo,
bem como impor limitações administrações com base na lesgislação e na função social
da propriedade:
“Art. 5º - Cabe à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, além das
atividades que lhe são atribuídas pela Lei nº 7.671, de 10 de junho de
1991, implementar os objetivos e instrumentos da Política do Meio
Ambiente do Município, fazer cumprir a presente Lei, competindo-lhe:
(...)
VII - Conceder licenças, autorizações e fixar limitações
administrativas relativas ao meio ambiente;”
“Art. 11 - Na análise de projetos de ocupação, uso e parcelamento
do solo, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente deverá
manifestar-se em relação aos aspectos de proteção do solo, da fauna,
18
da cobertura vegetal e das águas superficiais, subterrâneas,
fluentes, emergentes e reservadas, sempre que os projetos:
I - Tenham interferência sobre reservas de áreas verdes, e proteção
de interesses paisagísticos e ecológicos;
II - Exijam sistemas especiais de abastecimento de água e coleta,
tratamento e disposição final de esgoto e resíduos sólidos;
III - Apresentem problemas relacionados à viabilidade geotécnica;”
“Art. 29 - Os Setores Especiais de Fundos de Vale são constituídos
pelas áreas críticas localizadas nas imediações ou nos fundos de
vale, sujeitos à inundação, erosão ou que possam acarretar
transtornos à coletividade através de usos inadequados.
Parágrafo Único - As áreas compreendidas no setor Especial
citadas no caput do Artigo são consideradas faixas de preservação
permanente para efeitos dos dispositivos da Lei Federal nº 7803/89
que alterou o Artigo 2º do Código Florestal.”
“Art. 30 - São consideradas Faixas de Drenagem as faixas de
terreno compreendendo os cursos d água, córregos ou fundos de
vale, dimensionados de forma a garantir o perfeito escoamento das
águas pluviais das bacias hidrográficas.”
“Art. 31 - As faixas de drenagem deverão obedecer os seguintes
requisitos essenciais:
I - Apresentar uma largura mínima de forma a acomodar
satisfatoriamente um canal aberto (valeta) cuja seção transversal
seja capaz de escoar as águas pluviais da bacia hidrográfica à
montante do ponto considerado.
19
II - Para a determinação da seção de vazão, deverá a bacia
hidrográfica ser interpretada como totalmente urbanizada e
ocupada.
III - Os elementos necessários aos cálculos de dimensionamento
hidráulico, tais como intensidade das chuvas, coeficiente de
escoamento run-off, tempos de concentração; coeficiente de
distribuição das chuvas, tempos de recorrência etc., serão definidos
pelo órgão técnico levando sempre em consideração as condições
mais críticas.
IV - Para efeito de pré-dimensionamento e estimativa das seções
transversais das faixas de drenagem, deverá ser obedecida a tabela
seguinte, parte integrante desta lei.
FAIXAS NÃO EDIFICÁVEIS DE DRENAGEM Área Contribuinte Faixa Não Edificável (ha) (m) 0 a 25 4 25 a 50 6 50 a 75 10 75 a 100 15 100 a 200 20 200 a 350 25 350 a 500 30 500 a 700 35 700 a 1000 40 1000 a 1300 50 1300 a 1500 60 1500 a 1700 70 1700 a 2000 80 2000 a 5000 100
Para as bacias hidrográficas contribuintes com área superior a
5.000ha, a faixa de drenagem (não edificável) será dimensionada
pelo órgão técnico competente.
V - Além da faixa de drenagem mínima, calculada de acordo com a
tabela, serão incluídas pistas laterais destinadas à manutenção dos
cursos d água a critério do órgão competente.
20
“Art. 32 - Os Setores Especiais de Preservação de Fundos de Vale
serão determinados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
§ 1º - Os Setores Especiais de Preservação de Fundos de Vale
poderão estar confinados por vias de tráfego a critério do órgão
competente.
§ 2º - As vias de tráfego que seccionam os Setores Especiais de
Fundos de Vale serão determinadas pelo órgão competente.”
“Art. 33 - Áreas a serem loteadas e que apresentarem cursos d água
de qualquer porte ou fundos de vale, deverão receber as diretrizes
de arruamento vinculadas às faixas de proteção de que trata a
presente Lei.”
“Art. 34 - As áreas dos Setores Especiais de Fundos de Vale situadas
em loteamento serão determinadas independentemente do que a
legislação em vigor prescrever sobre áreas destinadas a bens
patrimoniais ou dominicais.”
“Art. 35 - No tocante ao uso do solo, os Setores Especiais de
Preservação de Fundos de Vale deverão sempre atender,
prioritariamente, à implantação de parques lineares destinados às
atividades de recreação e lazer, à proteção das matas nativas, à
drenagem, e a preservação de áreas criticas.”
“Art. 36 - Competirá, exclusivamente, à Secretaria Municipal do
Meio Ambiente as seguintes medidas essenciais:
I - Examinar e decidir sobre outros usos que não estejam citados no
Artigo anterior;
21
II - Propor normas para regulamentação, por decreto, dos usos
adequados aos fundos de vale.
III - Delimitar e propor os Setores Especiais de Preservação de
Fundos de Vale, os quais serão aprovados por decreto;
IV - Definir os projetos de arruamento e demais infra-estruturas
necessárias.”
A Lei Municipal 9.805, de 03 de janeiro de 2005 criou o Setor Especial
do Anel de Conservação Sanitário Ambiental com a finalidade de incentivar e garantir o
uso adequado das faixas de drenagem, bem como a manutenção das faixas de
preservação permanente, visando o bom escoamento das águas superficiais, recuperação
da mata ciliar e a minimização dos problemas de enchente.
A Lei 9805/05 estabelece em seu artigo 2º e incisos as faixas de
preservação permanente e as áreas contíguas que serão destinadas a implantação de
sistema de circulação de veículos e pedestres, unidades de conservação ou áreas de uso
público, de acordo com projetos específicos.
Como se percebe, a legislação municipal busca a proteção dos rios e
córregos que passam pelo Município de Curitiba, por se tratar de interesse local, sempre
em harmonia com o Código Florestal, na medida que buscam “a preservação,
conservação e recuperação dos rios e das matas ciliares”.
A canalização de rios é contrária a toda e qualquer preservação,
conservação e recuperação de rios, na medida em que mascara os problemas urbanos,
pois ignora as características naturais dos cursos d’água e o fato de desempenharem
papel importante na regulação climática, na biodiversidade e na vida.
Conforme publicado na pagina eletrônica SOS rios do Brasil3, a
canalização não é a maneira adequada de se tratar os rios:
3 http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2008/06/conferncia-internaciona-dereas-midas.html
22
“A canalização é, na verdade, uma máscara para os problemas
urbanos.
Afinal, é o esgoto que deve ser canalizado e, não, os córregos e rios.
Sem obstáculos naturais, as águas cursos d’água correm mais
rápido, em retos canais. Evitam-se inundações em um trecho, mas
elas passam a ser mais destruidoras em trecho mais à frente, uma
vez que a água chega com uma velocidade bem maior. Além disso, a
aceleração das águas contribui para a eliminação das comunidades
aquáticas. Morrem peixes, pássaros e vegetação dos cursos d’água e
de suas margens.
O ciclo hidrológico é também prejudicado pela canalização. Com o
leito de rios e córregos revestidos por materiais impermeáveis, a
água não infiltra no solo e, conseqüentemente, não chega aos lençóis
freáticos subterrâneos. A infiltração é importante para regularizar a
quantidade de água dos rios e córregos e proporcionar seu
escoamento subterrâneo até os mares e oceanos. Sem infiltrar, mais
água é retida na superfície, provocando inundações nas áreas mais
baixas.
Cobertos por grandes avenidas, muitos cursos d’água são lembrados
somente ao transbordarem, quando o volume de água e lixo
ultrapassa a capacidade de suas galerias. Limpar e manter esses
canais são procedimentos difíceis e perigosos, principalmente nos
fechados, pois o acesso é complicado.
Mas a mais grave conseqüência da canalização é o fato de ela
comprometer a relação entre homem e natureza. As áreas verdes das
margens são substituídas por concreto e asfalto; nadar, pescar e
navegar passam a ser atividades quase impraticáveis.
23
Revitalizar é a solução
Experiências de países europeus, como a França (Rio Sena),
mostram que a revitalização dos cursos d’água é a forma mais
eficiente de permitir que ele integre o ambiente de maneira
harmônica. O ciclo hidrológico é restabelecido, as plantas e animais
voltam a habitar os cursos d’águas e suas proximidades, nadar e
pescar passam a ser atividades possíveis, o esgoto deixa o córrego.
Revitalizados, os rios e córregos podem, inclusive, ser aproveitados
como áreas de recreação e lazer. Fica provado que reconhecer que
os cursos d’água são fonte de vida, e não depósitos de lixo e esgoto,
e agir de acordo com esse pensamento é garantia de uma melhor
qualidade de vida.
Mas a revitalização só é possível com investimento em saneamento
básico. Para tanto, a instalação de interceptores, que são canos que
impedem que o esgoto caia nas águas dos córregos e rios, faz-se
necessária. Com os interceptores, o esgoto é conduzido a estações de
tratamento e a água, limpa, volta ao curso d’água.
Outras medidas necessárias à revitalização dos córregos e rios são o
combate a erosões, o plantio de vegetação nas margens dos cursos
d’água, assim como a remoção das famílias dos locais suscetíveis a
inundação. É também preciso resguardar a área de inundação
natural do rio, evitando que, na época das cheias, a população corra
o risco de ter suas casas invadidas pela água.
A educação ambiental e a consciência ecológica também devem ser
trabalhadas. Não adianta revitalizar um rio se uma cultura de
destruição e descaso com relação ao meio ambiente é mantida. O
Projeto Manuelzão já tem conquistado algumas vitórias nesse
sentido. Muitos Núcleos Manuelzão foram formados em função desse
24
debate pela revitalização e já se percebe uma mudança de
mentalidade da população. Em Belo Horizonte, por exemplo, há uma
decisão consolidada contra a canalização de cursos d’água.
Por pressão da sociedade civil e do Projeto Manuelzão, a
Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) abraçou
a causa da revitalização e a Companhia de Saneamento de Minas
Gerais (Copasa) já adota tecnologias canalizadoras de esgoto, como
os interceptores na bacia do Córrego do Nado, na região da
Pampulha.”
Embora não exista previsão legal direta contra a canalização de rios e
cursos d’água, há uma proibição implícita, pois a combinação de leis, todas pela
proteção de matas ciliares, preservação, conservação e revitalização dos rios mostram
que canalizar provoca a morte do rio.
Canalização de rios e córregos. Áreas de Preservação Permanente e
Código Florestal
A outorga de uso prevista na lei estadual que criou o Instituto das
Águas do Paraná está sendo desvirtuada, na medida em que é contrária a aplicação das
normas de proteção ambiental dos recursos hídricos, ao Código Florestal (Lei 4.771, de
15 de setembro de 1965, artigo 2º que assim dispõe:
“Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito
desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural
situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o
seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:
25
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez)
metros de largura;
2) de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10
(dez) metros a 50 (cinqüenta) metros de largura;
3) de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de 50
(cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de
200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que tenham
largura superior a 600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais e
artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados ‘olhos
d’água’, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio
mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;
(...)
Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as
compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e
nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o
território abrangido observar-se-á o disposto nos respectivos planos
diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a
que se refere este artigo.”
Pela definição do Código Florestal (art. 1º, II) considera-se: “ Área de
preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta
ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.”
A intenção é mais uma vez proteger os recursos hídricos afastando-se a
hipótese de construções em áreas de preservação permanente. Portanto, nem mesmo
26
obras de canalização de rios podem ser autorizadas em áreas de preservação
permanente, sob pena de se estar permitindo a intervenção em área de APP.
O que se nota é que as canalizações outorgadas pelo Instituto das
Águas não demonstram interesse público ou social, mas sim mera maximização na
utilização de terrenos de particulares. Outorgado o direito de uso, para a finalidade de
canalização, na verdade o outorgado não irá usar a água ou curso d’agua em si, mas sim
o terreno pelo qual passa é que será mais bem aproveitado. A previsão contida no artigo
13 da Lei de Recursos Hídricos, mais precisamente no inciso V, “intervenções de
macrodrenagem urbana para retificação, canalização, barramento e obras similares”
são específicas ao controle de cheias.
Com a edição da Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de
2006 passou a ser proibida a intervenção ou supressão de vegetação em Área de
Preservação Permanente, salvo nos casos excepcionais, de utilidade pública, interesse
social ou baixo impacto ambiental, assim previstos em sua normatização:
“Art. 1º Esta Resolução define os casos excepcionais em que o órgão
ambiental competente pode autorizar a intervenção ou supressão de
vegetação em Área de Preservação Permanente – APP para a
implantação de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade
pública ou interesse social, ou para a realização de ações
consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental.
§1º É vedada a intervenção ou supressão de vegetação em APP de
nascentes, veredas, manguezais e dunas originalmente providas de
vegetação, previstas nos incisos II, IV, X e XI do art. 3º4 da resolução
CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, salvo nos casos de
utilidade pública dispostos no inciso I do art. 2º desta Resolução, e
4 Resolução CONAMA 303/2002. “Art.3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: II – ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinquenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte; IV – em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de cinqüenta metros, a partir do limite o espaço brejoso e encharcado; X – em manguezal, em toda a sua extensão; XI – em duna;”
27
para acesso de pessoas e animais para obtenção de água, nos termos
do §7º, do art. 4º, da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965.
(...)
§3º A autorização para intervenção ou supressão de vegetação em
APP de nascente, definida no inciso II do art. 3º da Resolução
CONAMA nº 303, de 2002, fica condicionada à outorga do direito de
uso de recurso hídrico, conforme o disposto no art. 125 da Lei nº
9.433, de 8 de janeiro de 1997;
§4º A autorização de intervenção ou supressão de vegetação em APP
depende da comprovação pelo empreendedor do cumprimento integral
das obrigações vencidas nestas áreas.”
“Art.2º O órgão ambiental competente somente poderá autorizar a
intervenção ou supressão de vegetação em APP, devidamente
caracterizada e motivada mediante procedimento administrativo
autônomo e prévio, e atendidos os requisitos previstos nesta
resolução e noutras normas federais, estaduais e municipais
aplicáveis, bem como no Plano Diretor, Zoneamento Ecológico-
Econômico e Plano de Manejo das Unidades de Conservação, se
existentes, nos seguintes casos:
I – utilidade pública;
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
5 Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997. “Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos: I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II – extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; III – lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; IV – aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. §2º (...)”
28
b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços
públicos de transporte, saneamento e energia;
c) as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais,
outorgadas pela autoridade competente, exceto areia, argila, saibro e
cascalho;
d) a implantação de área verde pública em área urbana;
e) pesquisa arqueológica;
f) obras públicas para implantação de instalações necessárias à
captação e condução de água e de efluentes tratados; e
g) implantação de instalações necessárias à captação e condução de
água e de efluentes tratados para projetos privados de aqüicultura,
obedecidos os critérios e requisitos previstos nos §§1º e 2º doa RT. 11,
desta Resolução.
II – interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da
vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo,
controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios
com espécies nativas, de acordo com o estabelecido pelo órgão
ambiental competente;
b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na
pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize
a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação e não
prejudique a função ecológica da área;
c) a regularização fundiária sustentável de área urbana;
d) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e
cascalho, outorgadas pela autoridade competente;
III – intervenção ou supressão de vegetação eventual e de baixo
impacto ambiental, observados os parâmetros desta Resolução.”
29
“Art. 3º A intervenção ou supressão de vegetação em APP somente
poderá ser autorizada quando o requerente, entre outras exigências,
comprovar:
I – a inexistência de alternativa técnica e locacional às obras, planos,
atividades ou projetos propostos;
II – atendimento às condições e padrões aplicáveis aos corpos de
água;
III – averbação da Área de Reserva Legal; e
IV – a inexistência de risco de agravamento de processos como
enchentes, erosão ou movimentos acidentais de massa rochosa.”
“Art. 4º Toda obra, plano, atividade ou projeto de utilidade pública,
interesse social ou de baixo impacto ambiental, deverá obter do órgão
ambiental competente a autorização para intervenção ou supressão de
vegetação em APP, em processo administrativo próprio, nos termos
previstos nesta resolução, no âmbito do processo de licenciamento ou
autorização, motivado tecnicamente, observadas as normas ambientais
aplicáveis.
§1º A intervenção ou supressão de vegetação em APP de que trata o
caput deste artigo dependerá de autorização do órgão ambiental
estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão
federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no §2º
deste artigo.
§2º A intervenção ou supressão de vegetação em APP situada em área
urbana dependerá de autorização do órgão ambiental municipal,
desde que o município possua Conselho de Meio Ambiente, com
caráter deliberativo, e Plano Diretor ou Lei de Diretrizes Urbanas, no
caso de municípios com menos de vinte mil habitantes, mediante
30
anuência prévia do órgão ambiental estadual competente,
fundamentada em parecer técnico.
§3º Independem de prévia autorização do órgão ambiental
competente:
I - as atividades de segurança pública e defesa civil, de caráter
emergencial; e
II - as atividades previstas na Lei Complementar n. 97, de 9 de junho
de 1999, de preparo e emprego das Forças Armadas para o
cumprimento de sua missão constitucional, desenvolvidas em área
militar.
Art. 5º O órgão ambiental competente estabelecerá, previamente à
emissão da autorização para a intervenção ou supressão de vegetação
em APP, as medidas ecológicas, de caráter mitigador e
compensatório, previstas no §4º, do art. 4º, da Lei n. 4.771, de 1965,
que deverão ser adotadas pelo requerente.
§1º Para os empreendimentos e atividades sujeitos ao licenciamento
ambiental, as medidas ecológicas, de caráter mitigador e
compensatório, previstas neste artigo, serão definidas no âmbito do
referido processo de licenciamento, sem prejuízo, quando for o caso,
do cumprimento das disposições do art. 36, da Lei n. 9.985, de 18 de
julho de 2000.
§2º As medidas de caráter compensatório de que trata este artigo
consistem na efetiva recuperação ou recomposição de APP e deverão
ocorrer na mesma sub-bacia hidrográfica, e prioritariamente:
I - na área de influência do empreendimento, ou
II - nas cabeceiras dos rios.”
“Art. 6º Independe de autorização do poder público o plantio de
espécies nativas com a finalidade de recuperação de APP, respeitadas
31
as obrigações anteriormente acordadas, se existentes, e as normas e
requisitos técnicos aplicáveis.”
A intervenção em área de preservação permanente configura exceção e
não padrão, razão pela qual a legislação determina condições específicas que terão que
ser atendidas.
A necessidade de preservação das áreas marginais aos cursos d'água
decorre do papel fundamental que tais áreas possuem na proteção das águas, elemento vital
na vida do planeta. A inexistência da vegetação ribeirinha possibilita o aparecimento dos
problemas vividos em nossa cidade, como o assoreamento de rios, erosão acelerada das
terras, desvio dos leitos e ausência de cobertura florestal ocasionando enchentes e
alagamentos.
É sintomático o fato de serem as atuais áreas de preservação permanente
denominadas "florestas protetoras" pela legislação mais antiga, tais como a Lei Estadual n.
706 de 01 de abril de l.907 e o Decreto 50.813, de 20 de junho de 1961. Mais recente, no
mesmo sentido a Lei Estadual 12.726/99, que institui a Política Estadual dos Recursos
Hídricos e o Decreto 387/99, que trata das reservas Estaduais legais.
Norma fundamental na regulamentação da matéria e cuja aplicação
absolutamente rigorosa, depois de anos de descaso, se faz necessária, é o Código Florestal
Brasileiro, instituído pela Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965, modificado por várias
medidas provisórias, porém que ainda traz expresso que:
"Art. 2° - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito
desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível
mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura;
(...)
32
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados 'olhos
d'água', qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio
mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura."
A Lei dos Crimes Ambientais prevê em seu artigo 38 que quem destruir
ou danificar florestas consideradas de Preservação Permanente, mesmo que em formação,
ou utilizá-la com infrigência das normas de proteção poderá ser penalizado com multa e
detenção.
Deste modo, qualquer tipo de exploração, mormente aquelas que
venham a afetar negativamente tais áreas, até mesmo com a destruição física do solo,
levado pelas águas, é ilegal.
O artigo 2º do Código Florestal tem como finalidade precípua proteger
a cobertura vegetal, onde se encontra expressamente elencada como floresta de
preservação permanente aquelas situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água.
Nesse sentido correto afirmar-se que tais florestas não podem ser
manejadas de forma a sofrerem cortes rasos. Embora tal restrição exista, não há que se
falar da ausência de finalidade econômica na preservação dessas florestas, pois qual
melhor investimento senão aquele que visa garantir, através da preservação dessas
florestas, o bem estar da população, num sentido amplo? Mesmo porque, ao se preservar
tais formas de vegetação, protege-se o solo dos processos erosivos, preserva-se a fauna e a
flora.
Ao tratar das matas protetoras, Osny Duarte Pereira sabiamente
asseverou:
"Sua conservação não é apenas por interesse público, mais por
interesse direto e imediato do próprio dono. Assim como ninguém
escava o terreno dos alicerces de sua casa, porque poderá
comprometer a segurança da mesma, do mesmo modo ninguém
arranca as árvores das nascentes, das margens dos rios, nas encostas
das montanhas, ao longo das estradas, porque poderá vir a ficar sem
33
água, sujeito a inundações, sem vias de comunicação, pelas barreiras e
outros males conhecidamente resultantes de sua insensatez. As árvores
nesses lugares estão para as respectivas terras como o vestuário está
para o corpo humano. Proibindo a devastação, o Estado nada mais faz
do que auxiliar o próprio particular a bem administrar os seus bens
individuais, abrindo-lhe os olhos os danos que poderia
inadvertidamente cometer contra si mesmo" (in Osny Duarte Pereira,
Direito Florestal Brasileiro, pag 2l0).
Sobre a importância das matas ciliares, Eleotério Langowski nos ensina:
"As margens dos rios e córregos, totalmente devastados, não possuem a
necessária proteção contra a erosão. As águas que ali chegam após as
chuvas, chegam livremente, sem barreiras, indo parar direto nas calhas
hidrográficas. O resultado é que logo após quaisquer precipitações
pluviométricas, os rios se enchem de água, pois já estão completamente
assoreados.
Em situação primitiva, quando a área era ocupada por floresta clímax,
as chuvas não causavam tantos estragos. Primeiramente porque havia
uma barreira a ser superada, ou seja, floresta. As copas das árvores, as
folhas do sub-bosque, e até a serrapilheira no piso, não permitiam que as
gotas realizassem o trabalho erosivo sobre o solo arenoso. Além disso, o
grande emaranhado de raízes sob o solo, propiciava a completa
estabilização do sistema, com a contínua absorção de água de forma
lenta e gradual, resultando em um lençol freático com nível estabilizado,
que fluia nas nascentes e cursos d'água, fornecendo água limpa e
abundante.(...). A legislação ambiental é sábia quando se considera
áreas de preservação permanente às localizadas em pelo menos 30
metros das margens dos rios, sendo ali destinadas a manter vegetação
natural, de preferência florestal, pois, são áreas de solo instável.(...) O
afloramento do lençol freático, que irá determinar o nascimento de
34
minas d'água e o fornecimento de água para os rios, necessita de
proteção por vegetação florestal ao seu redor. (in Engenheiro Florestal
Eleotério Langowski, Subsídios técnicos sobre a problemática e
importância da existência de Matas Ciliares na Região Noroeste do
Paraná, fl 10 e 12).
Não se fale na inocorrente primazia do interesse econômico sobre o
ambiental. É que a Constituição Federal estatui:
"Art. 170- A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
III- função social da propriedade;
IV- defesa do meio ambiente."
Em cotejo, observe-se o disposto no artigo primeiro do Código Florestal:
"Art. 1° - As florestas existentes no território nacional e as demais
formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem,
são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-
se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em
geral e especialmente esta Lei estabelecem."
Parágrafo único- As ações e omissões contrárias às disposições deste
Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso
nocivo da propriedade.”
Resta suficientemente demonstrado, portanto, ser o ambiente natural de
forma geral, área de preservação permanente, bosque nativo relevante e as áreas situadas às
margens dos cursos d'água, devidamente protegidos pelo ordenamento jurídico brasileiro,
sendo este francamente favorável à posição de supremacia dos interesses ambientais
35
públicos sobre os interesses econômicos particulares, justificando a propositura da presente
ação para restaurar-se tudo o que foi degradado.
Sobre a atuação do Instituto das Águas do Paraná
A canalização de rios é contrária aos princípios de proteção
ambiental, posto que o Código Florestal limita o uso da propriedade e busca a
preservação das matas ciliares. Assim, canalizar rios é permitir o ingresso em áreas de
preservação permanente e fundos de vale, para a maximização de áreas em prol de
interesses apenas e exclusivamente de seus proprietários. Não há interesse público
protegido com a canalização de rios e córregos e sua prática traz conseqüências
maléficas ao meio ambiente, posto que faz com que as águas corram com maior
velocidade e volume em direção daquelas que se encontram à céu aberto.
Assim, a Lei Federal 4.771/1965 – Código Florestal em vigor (posto
que o PL 1876/99 ainda não foi votado pelo Senado) define área de preservação
permanente em seus artigos 2º e 3º, onde se observa a preocupação da preservação da
vegetação, fauna e recursos hídricos.
Importante a leitura do artigo 2º do Código Florestal:
“Art.2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito
desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível
mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez)
metros de largura;
2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10
(dez) metros a 50 (cinquenta) metros de largura;
3) de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de 50
(cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
36
4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de
200(duzentos) a 600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais e
artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos
d’água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio
mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45%,
equivalente a 100% (cem por cento) na linha e maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de
margens;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura
do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções
horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que
seja a vegetação.
Parágrafo único. No caso de áreas urbanas assim entendidas as
compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e
nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o
território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos
diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que
se refere este artigo.”
“Art. 4º. A supressão de vegetação em área de preservação
permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade
pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e
motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir
alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto.
37
§1º A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de
autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência
prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio
ambiente, ressalvado o disposto no § 2º deste artigo.
§2º A supressão de vegetação em área de preservação permanente
situada em área de urbana dependerá de autorização do órgão
ambiental estadual competente, desde que o município possua
conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor,
mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente
fundamentada em parecer técnico.
§3º O órgão ambiental competente poderá autorizar a supressão
eventual e de baixo impacto ambiental, assim definido em
regulamento, da vegetação em área de preservação permanente.
§4º O órgão ambiental competente indicará, previamente à emissão da
autorização para a supressão de vegetação em área de preservação
permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão
ser adotadas pelo empreendedor.
(...)”
Observa-se que o Instituto das Águas vem outorgando direito de uso
para canalização que de fato será em caráter definitivo, posto que após os trinta e cinco
anos poderá haver a renovação do ato. Com a canalização, não há preservação de mata
ciliar já que o rio foi envolto em manilhas, não há que se falar em obediência aos
distanciamentos impostos pelo Código Florestal até porque os empreendimentos
poderão ser feitos sobre os cursos de água manilhados. É inegável que a maximização
de utilização dos imóveis irá satisfazer interesses econômicos particulares de seus
proprietários.
A extinta SUDERHSA foi substituída pelo Instituto das Águas do
Paraná, contudo a prática reiterada de concessão de outorga para fins de canalização
continua, ocorrendo assim, desvirtuamento do ato administrativo, posto que, após o
38
prazo os imóveis e ruas construídas sobre o rio não poderão ser dali retiradas. Com a
canalização não é possível analisar a limpeza do curso de água, se estão sendo jogados
resíduos inadequados, sendo jogado para de baixo do solo a sujeira existente nos rios.
Nos termos da página eletrônica6 do Instituto das Águas, extrai-se a
definição de outorga e condições para sua concessão.
“29. 06.2011
Outorga de Uso Recursos Hídricos [*]
[*] Novas orientações, normas e formulários
Em que consiste
A Outorga é o ato administrativo que expressa os termos e as
condições mediante as quais o Poder Público permite, por prazo
determinado, o uso de recursos hídricos.
Direciona-se ao atendimento do interesse social e tem por finalidades
assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e
disciplinar o exercício dos direitos de acesso à água.
A quem se destina
A exigência de outorga destina-se a todos que pretendam fazer uso de
águas superficiais (rio, córrego, ribeirão, lago, mina ou nascente) ou
águas subterrâneas (poços tubulares) para as mais diversas
finalidades, como abastecimento doméstico, abastecimento público,
aqüicultura, combate a incêndio, consumo humano, controle de
emissão de partículas, dessedentação de animais, diluição de
efluentes sanitários ou industriais, envase de água, irrigação,
lavagem de areia, lavagem de artigos têxteis, lavagem de produtos de
origem vegetal, lavagem de veículos, lazer, limpeza,
pesquisa/monitoramento, processo industrial, uso geral.
6 http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10
39
A outorga também é necessária para intervenções que alterem a
quantidade ou qualidade de um corpo hídrico, como a construção de
obras hidráulicas (barragens, retificações, canalizações, drenagens,
travessias) e serviços de dragagem (minerária ou para
desassoreamento).
Quem concede
No Estado do Paraná, os atos de autorização de uso de recursos
hídricos de domínio estadual são de competência do Instituto das
Águas do Paraná.
Saiba mais (Lei 16242)
Quando se trata de recursos hídricos de domínio federal, quem
concede as outorgas para utilização da água é a Agência Nacional de
Águas.
Saiba mais
Os bens da União e dos Estados são definidos pela Constituição
Federal.
A dominialidade sobre os recursos hídricos significa a
responsabilidade pela preservação do bem, sua guarda e
gerenciamento, objetivando a sua perenidade e uso múltiplo, bem
como o poder de editar as regras aplicáveis.
Usos que dependem de outorga
- Derivação ou captação de água superficial (rio, córrego, mina ou
nascente) para qualquer finalidade.
40
- Extração de água subterrânea (poço tubular profundo) para
qualquer finalidade.
- Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos
com o fim de diluição.
- Uso de recursos hídricos para aproveitamento hidrelétrico.
- Intervenções de macrodrenagem.
Saiba mais
Usos que independem de outorga
Não são objeto de outorga de direito de uso de recursos hídricos, mas
obrigatoriamente de cadastro:
- Usos de água subterrânea para pequenos núcleos populacionais (até
400 pessoas, em meio rural)
- Usos de vazões e volumes considerados insignificantes para
derivações, captações, lançamentos de efluentes e lançamentos
concentrados de águas pluviais
- Serviços de limpeza e conservação de margens, incluindo dragagem,
desde que não alterem o regime de vazões, a quantidade ou a
qualidade do corpo hídrico;
- Obras de travessia (pontes, dutos, passagens molhadas, etc.) de
corpos hídricos que não interfiram no regime de vazões, quantidade ou
qualidade do corpo hídrico.
(...)”
“(...)
Tipos de Outorga
• Outorga Prévia
• Outorga de Direito
41
Para novos empreendimentos que necessitem de licenciamento
ambiental e empreendimentos existentes que ainda não possuam
licenciamento ambiental deverá ser requerida primeiramente a
Outorga Prévia e, posteriormente, a Outorga de Direito.
Para novos empreendimentos que não necessitem de licenciamento
ambiental e empreendimentos existentes que já possuam licenciamento
ambiental, deverá ser requerida diretamente a Outorga de Direito.
Outorga Prévia
O empreendedor deverá solicitar outorga prévia para usos de água em
futuros empreendimentos ou atividades, observado o disposto no art.
10º do Decreto 4646.
Saiba mais
Solicitação
A solicitação de outorga prévia é indispensável para novos
empreendimentos que necessitem de licenciamento ambiental.
Existindo disponibilidade hídrica, a reserva da vazão requerida
poderá ser autorizada mediante ato a ser publicado pelo
AGUASPARANÁ no Diário Oficial do Estado do Paraná.
O ato administrativo de outorga prévia tem apenas a finalidade de
declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, não
conferindo o direito de uso de recursos hídricos e se destinando a
reservar a vazão passível de outorga. (destacamos)
Saiba mais
Renovação
42
A Outorga Prévia poderá ser renovada apenas uma vez, por igual
período.
Saiba mais
A Outorga Prévia não enseja alteração e transferência de titularidade,
sendo necessária a abertura de novo processo administrativo se
houver interesse do requerente na modificação de seus termos e
condições.
Após a obtenção da Outorga Prévia e dos licenciamentos ambientais
pertinentes, deve ser requerida a Outorga de Direito, mantendo todas
as condições estabelecidas na Outorga Prévia.
Ambos os requerimentos (outorga prévia e outorga de direitos de uso)
poderão ser incorporados em um único processo administrativo.
Outorga de Direito
A Outorga é o ato administrativo que expressa os termos e as
condições mediante as quais o Poder Público permite, por prazo
determinado, o uso de recursos hídricos.” (destacamos)
Solicitação
A Outorga de Direito deverá ser requerida pelos empreendimentos
existentes que já possuam licenciamento ambiental e pelos novos
empreendimentos que não necessitem de licenciamento ambiental.
Saiba mais
Alteração
Quando se altera qualquer termo ou condição determinados na
portaria de outorga de direito vigente, mantendo-se o mesmo titular.
Saiba mais
43
Transferência de titularidade
Quando se altera apenas o titular da outorga e ficam mantidos todos
os outros termos e condições da portaria de outorga vigente.
Saiba mais
Renovação
O prazo de validade da outorga é estabelecido pelo AGUASPARANÁ
na própria portaria. (destacamos)
A solicitação de sua renovação deve ser formalizada no máximo até 90
(noventa) dias antes do vencimento da outorga vigente. Desta forma,
seus termos se manterão válidos até que a nova solicitação seja
apreciada pelo Instituto das Águas do Paraná.
Saiba mais (...)”
Ao autorizar a canalização de rios e córregos ocorre também a total
impossibilidade de que outros venham a fazer uso daquelas águas tais como
abastecimento doméstico, abastecimento público, aqüicultura, combate a incêndio,
consumo humano, controle de emissão de partículas, dessedentação de animais,
diluição de efluentes sanitários ou industriais, envase de água, irrigação, lavagem de
areia, lavagem de artigos têxteis, lavagem de produtos de origem vegetal, lavagem de
veículos, lazer, limpeza, pesquisa/monitoramento, processo industrial, uso geral.
A competência do órgão é pertinente aos atos de autorização de uso
de recursos hídricos de domínio estadual, nos termos da Lei 16.242. Contudo, o
Município de Curitiba é composto por cinco sub-bacias contribuintes da margem direita
do rio Iguaçu, Bacia do Alto Iguaçu, são elas: a bacia do rio Passaúna, do rio Barigui,
do rio Belém, do Ribeirão dos Padilhas e do rio Atuba, sendo atribuição da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente analisar qualquer intervenção nos referidos cursos
hídricos, por se tratar de interesse local.
44
O artigo 4º da Lei Estadual 16.242 arrola as competências do Instituto
das Águas, apontando para a proteção do meio ambiente, entre elas:
“(...)
II – elaborar, executar e controlar planos, programas, ações e projetos
técnicos de proteção, conservação, recuperação e gestão de recursos
hídricos superficiais e subterrâneos, preservando e restaurando
aspectos quantitativos e qualitativos das águas;
III – planejar, executar e fiscalizar os serviços técnicos de engenharia
e administrativos necessários para o controle de problemas de erosão,
cheias e inundações, degradação de fundos de vales e poluição das
águas;
IV – elaborar normas técnicas para projetos de prevenção e controle
de erosão, de drenagem e controle de cheias e inundações e de
preservação, conservação e recuperação de áreas degradadas,
visando à melhoria quantitativa e qualitativa das águas, bem como
acompanhar e fiscalizar, em sua esfera de atribuições, a execução e a
manutenção de serviços e obras relacionadas à sua área de atuação;
(...)”
Causa estranheza à lei elencar medidas de proteção ao meio ambiente
para combater cheias e erosão, buscando a limpeza de rios e córregos e o órgão
autorizar a canalização de águas, em imóveis que nem mesmo há declaração de
utilidade pública e interesse social.
Lembrando ainda que o Instituto das Águas do Paraná é o órgão
executivo gestor do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
SEGRH/PR tendo por finalidade oferecer suporte institucional e técnico à efetivação
dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH/PR) instituída pela
Lei nº 12.726/99.
45
Também é finalidade do Instituto das Águas do Paraná o exercício das
funções de entidade de regulação e fiscalização do serviço de saneamento básico,
integrado pelos serviços públicos de abastecimento de água potável, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas
pluviais urbanas nos termos da Lei nº 11.445/07.
O Instituto das Águas é responsável pelo planejamento e execução de
ações e projetos técnicos de proteção, conservação, recuperação e gestão de recursos
hídricos superficiais e subterrâneos para preservar e restaurar aspectos quantitativos e
qualitativos das águas; monitoramento da qualidade e quantidade dos recursos hídricos;
execução de serviços técnicos de engenharia para controle de problemas de erosão,
cheias e inundações, degradação de fundos de vales e poluição das águas; difusão de
informações sobre recursos hídricos, elaboração e implantação do plano estadual de
recursos hídricos e planos de bacias hidrográficas e funcionamento dos comitês de
bacias, além de gerir o fundo estadual de recursos hídricos.
Pelo exposto, conclui-se que outorga para canalização de rio pelo
Instituto das Águas contraria os objetivos da legislação que a criou e lhe deu atribuições
e que seu âmbito de atuação é pertinente aos recursos hídricos estaduais e não
municipais razões pelas quais, se requer a anulação das Portarias de Outorga de
Direito de Uso para fins de canalização de cursos d’água.
III - A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
A inversão do ônus da prova é perfeitamente cabível no caso em
discussão. O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que se apliquem à defesa dos
direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que tenha cabimento, os
dispositivos do Código de Defesa do Consumidor.
O artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8.078/90, é expresso ao admitir a
inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de Defesa do Consumidor, na
46
medida em que é hipossuficiente o autor, segundo as regras comuns da experiência
como bem esclarece o texto legal, in verbis:
“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiência;”
Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também ao âmbito de
proteção ao meio ambiente, pois o Ministério Público ao ajuizamento de ações civis
públicas está em franca desvantagem perante o demandado.
Assim, cabe ao requerido provar que não contribui com a
degradação ambiental ao outorgar direito de uso para fins de canalização,
intervindo em área de preservação permanente e contribuindo com enchentes e
alagamentos. Tal será comprovado mediante a realização da perícia.
Aliás, no sentido de pagamento da perícia pelo demandado, já se
manifestou à jurisprudência:
“7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS
CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas
demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente. Ministério
Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis
públicas que estão em franca desvantagem perante os demandados.
Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao meio
ambiente, é cabível a inversão do ônus da prova e a atribuição dos
custos da perícia, pois o Ministério Público e demais co-legitimados
ao ajuizamento de ações civis públicas estão em franca desvantagem
perante os demandados. Edcl 70002338473 - 4ª Cam. Civ. - TJRS - j.
04.04.2001 - rel. Des Wellington Pacheco Barros.
47
Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão do ônus da prova
no que tange às análises necessárias para avaliação do grau de dano e malefícios de
cunho ambiental
IV - A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
É obrigação do Poder Público zelar pelo meio ambiente.
Há evidente perigo de problemas futuros para a população que reside em
locais contíguos aos cursos d’água canalizados.
Não se conhece com exatidão as conseqüências dessa interferência em
área de preservação permanente, mas se sabe que com a canalização haverá mudança no
lençol freático, no tipo de vegetação, na velocidade e volume do rio, córrego ou curso
d’água com fatores negativos para aquela bacia e para os terrenos localizados em
regiões mais baixas. Aumentando a vazão e velocidade das águas, aumenta-se o risco de
erosão, alagamentos e enchentes de terrenos mais baixos, já que a percolação é
dificultada pela impermeabilização do solo.
Desta forma, é relevante que o Instituto das Águas do Paraná se
abstenha de conceder novas outorgas para fins de canalização de cursos d´agua em
especial em áreas urbanas, haja vista interesse local e proibição de canalização nos
termos da legislação apontada.
Outro fator é que a própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente
de Curitiba tem entendimento contrário a canalização de cursos d’água e que para
autorizar empreendimentos exige dos empreendedores Relatório Ambiental
Prévio. Além disso, as canalizações poderão agravar as cheias diante da elevada
taxa de impermeabilização do solo na região de Curitiba, impactando as sub-
bacias hidrográficas.
48
É clara a necessidade de se conceder a antecipação da tutela. Estão
presentes, para tanto, os requisitos previstos no artigo 273 do Código de Processo Civil,
pois é inequívoco que as outorgas para fins de canalização não se tratam de direito de
uso, mas mera usurpação do ato administrativo buscando não interesse público, mas a
mera utilização do terreno por seus proprietários. Há fundado receio de dano irreparável
ou de difícil reparação, com possíveis alagamentos e cheias nos terrenos mais baixos e
não existe perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.
Inequívoco o interesse coletivo consistente na devida cautela por parte do
poder público ao exigir do empreendedor Relatório Ambiental Prévio e Estudo de
Impacto de Vizinhança e assim diante da ausência de tais documentos que contemple
todas as situações de risco decorrentes de sua obra, bem como as medidas que serão
adotadas para tanto, de forma clara e efetiva, faz-se necessário que antecipe os efeitos
da sentença e assim impeça novas canalizações.
O fundado receio de dano irreparável trata da demonstração do fundado
temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, em se permitindo o início e
continuidade da construção, esta não venha mais a ser paralisada e que se conclua
mesmo ao arrepio da lei e da vontade dos Curitibanos que residem nas proximidades.
No presente caso, há desnecessidade de justificação prévia, no caso de
concessão da antecipação da tutela, uma vez que a parte requerida está agindo contra o
interesse público, posto que se almeja o acautelamento e a salvaguarda do meio
ambiente e a demora na concessão da tutela antecipada pode levar ao perecimento do
direito.
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou favorável a concessão de
tutela antecipada em questões ambientais:
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA
– AGRAVO DE INSTRUMENTO – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA COM
BASE NOS ARTS. 12 DA LEI 7.347/85 E 84, § 3º, DA LEI 8.078/90 –
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 535, II, 131, 165, 458, II, E 522 DO CPC:
49
INEXISTÊNCIA – PRESSUPOSTOS DA ANTECIPAÇÃO – SÚMULA
7/STJ. 1. Acórdão suficientemente fundamentado, que se limitou ao
exame da decisão interlocutória recorrida, que concedeu antecipação de
tutela em ação civil pública movida para proteger os adquirentes de
imóveis em conjuntos habitacionais localizados em zona
predominantemente industrial, a fim de acautelar os interesses
ambientais e dos consumidores. Alegação de ofensa aos arts. 131, 165,
458, II, e 522 do CPC que se afasta. 2. Questões pertinentes ao mérito
da causa não deveriam ter sido analisadas e, por isso, inexiste omissão
no julgado. 3. Hipótese em que o julgador de primeiro grau e o Tribunal
vislumbrou risco de danos à saúde das pessoas. Exame de ofensa à lei
federal que esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 4. Recurso especial
conhecido em parte e, nessa parte, não provido. Acórdão Vistos,
relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de
Justiça "A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e,
nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do (a) Sr (a).
Ministro (a)-Relator (a)." Os Srs. Ministros Castro Meira, Humberto
Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com a
Sra. Ministra Relatora. (REsp 1090252/SP, RECURSO ESPECIAL
2008/0202852-0, Relatora Ministra ELIANA CALMON (1114), Órgão
Julgador T2 – SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento 18/12/2008,
Data da Publicação/Fonte DJe 18/02/2009)
Pelas razões expostas, é que se requer a Vossa Excelência a
concessão de antecipação de tutela para que determine ao Instituto das Águas do
Paraná que abstenha de conceder novas outorgas para fins de canalização de
cursos d’água na cidade de Curitiba, haja vista que contrárias a legislação
ambiental e desprovidas de estudos de impacto ambiental, relatório ambiental
prévio e estudo de impacto de vizinhança devidamente analisados pela Secretaria
50
Municipal de Meio Ambiente. Além disso, não existe qualquer demonstração de
interesse social ou utilidade pública nos casos de concessão de outorgas para fins
de canalização que justifiquem a intervenção em área de preservação permanente.
V) OS PEDIDOS
I - a concessão da tutela antecipada nos termos anteriormente
delineados e sua confirmação;
II - a citação por Oficial de Justiça do representante legal do Réu, com
o permissivo do artigo 172, parágrafo 2º, do CPC, para querendo, responder e acompanhar
os termos da presente, sob pena de serem considerados como verdadeiros os fatos
descritos;
III – a modificação do ônus da prova, atribuindo-se ao Réu a obrigação
em apresentar provas quanto aos fatos noticiados, haja vista tratar-se de questões
pertinentes ao meio ambiente, aplicando-se portanto, a responsabilidade objetiva;
IV - a condenação do Requerido em obrigação de não fazer, sob pena
de multa diária em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência e devidamente recolhido
ao Fundo Estadual do Meio Ambiente - FEMA - consistente em se abster de conceder
outorgas para fins de canalização de cursos d’água na cidade de Curitiba, estendendo-se
a os efeitos da sentença para todas as cidades do Paraná;
V – a condenação do Réu em obrigação de fazer, consistente em
revogar ou anular as outorgas já concedidas para fins de canalização e não mais renová-
las, dando-se ciência aos interessados da necessidade de recomposição das áreas
degradadas, posto que contrárias a legislação ambiental, tudo com a devida fiscalização;
VI – que todas as intimações do Ministério Público sejam feitas
pessoalmente, na pessoa do Promotor de Justiça em atividade na Promotoria de
51
Proteção ao Meio Ambiente, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, n.251, Rebouças,
Curitiba- Paraná, conforme dispõe o art. 236, §2º, do CPC;
VII - protesta-se ainda por todos os meios de prova em direito admitidas,
inclusive depoimento pessoal do representante legal do Requerido, prova pericial, juntada
de documentos e oitiva de testemunhas;
VIII - a procedência da ação em todos os seus termos, condenando-se
o Requerido ao pagamento das despesas processuais e verbas honorárias de
sucumbência, cujo recolhimento deverá ser feito ao Fundo Especial do Ministério
Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998
(DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”,
parte final, da Constituição do Estado do Paraná.
IX - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros
encargos, nos termos do artigo 18 da Lei n. 7.347/85.
Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil) reais.
Termos em que,
Pede deferimento.
Curitiba, 22 de agosto de 2011.
Sérgio Luiz Cordoni Promotor de Justiça