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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ________ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente, por seu representante infra- assinado, usando das atribuições que lhe são conferidas em lei, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 129 da Constituição Federal e com fundamento nas Leis Federais n. 6.938/81 e 7.347/85 e demais leis estaduais e municipais pertinentes a espécie, propor o presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL, com pedido de antecipação de tutela em face do INSTITUTO DAS ÁGUAS DO PARANÁ, pessoa jurídica de direito público, com endereço na Rua Santo Antônio, nº 239, nesta Capital, CEP 80.230-120, telefone 3213-4700 e 3213-4800, representado por seu Diretor-Presidente Márcio Fernando Nunes, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ _____

VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA .

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , através

da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente, por seu representante infra-

assinado, usando das atribuições que lhe são conferidas em lei, vem à presença de Vossa

Excelência, com fulcro no artigo 129 da Constituição Federal e com fundamento nas

Leis Federais n. 6.938/81 e 7.347/85 e demais leis estaduais e municipais pertinentes a

espécie, propor o presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL,

com pedido de antecipação de tutela em face do

INSTITUTO DAS ÁGUAS DO PARANÁ , pessoa jurídica de

direito público, com endereço na Rua Santo Antônio, nº 239, nesta Capital, CEP

80.230-120, telefone 3213-4700 e 3213-4800, representado por seu Diretor-Presidente

Márcio Fernando Nunes, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

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I - OS FATOS

Preliminarmente cabe esclarecer que o INSTITUTO DAS ÁGUAS

DO PARANÁ é pessoa jurídica de direito público, vinculada a Secretaria Estadual do

Meio Ambiente e substituiu a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos

Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA). Foram transferidos para o âmbito

administrativo do Instituto das Águas do Paraná as atribuições, cargos e servidores da

extinta SUDERHSA com endereço na Rua Santo Antônio, nº 239, nesta Capital, CEP

80.230-120, telefone 3213-4700 e 3213-4800, representado atualmente por seu Diretor-

Presidente Márcio Fernando Nunes.

Em 24 de maio de 2011 a Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente

de Curitiba instaurou a Notícia de Fato nº MPPR-0046.11.001868-9, mediante

requerimento de providências da Rede Brasileira para Conservação dos Recursos

Hídricos e Naturais – AMIGOS DAS ÁGUAS – REDADA, em razão de outorga de

inúmeras licenças para canalização de rios e córregos urbano/rurais, a despeito da

realidade socioambiental urbana, consistente em enchentes, alagamentos e inundações.

Para averiguar os fatos foi indagado o Instituto das Águas, acerca da

existência de relação de licenças concedidas pelo Instituto, autorizando a canalização e

manilhamento de rios e córregos nos últimos 05 (cinco) anos, em Curitiba. Em reposta,

foi fornecida relação constando 19 (dezenove) protocolos com concessão de outorga de

canalizações de rios e córregos localizados no município de Curitiba – PR, nos anos de

2005 a 2010.

Pela descrição contida na relação de outorgas, em sua maioria as

canalizações buscam apenas otimizar a utilização de terrenos para construção civil. O

prazo de validade de concessão por trinta e cinco anos deixa claro, que não haverá como

reverter a canalização, e assim o que será construído em cima da tubulação não será

retirado.

Analisando a relação acostada, verifica-se que as outorgas foram

concedidas dentro dos limites territoriais de Curitiba, na bacia hidrográfica do Rio

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Iguaçu, em cursos d’água sem nome, em cursos do Rio Atuba (antigo leito), do Rio

Belém, do Córrego Evaristo da Veiga, do Córrego Tamandaré, do Rio Alto Boqueirão, e

do Rio Passaúna.

Quanto ao tipo de outorga ela pode ser “autorização”, com prazo de

validade de trinta e cinco anos, ou “prévia”, com prazo de dois anos.

Em resposta a ofício (of. nº 1813/06) expedido pela Promotoria de

Proteção ao Meio Ambiente, em termo de representação (sob n º267/06) em que se

discutia a canalização de curso d’água em imóvel localizado em Curitiba, a Secretaria

Municipal de Meio Ambiente esclareceu nos seguintes termos:

“(...)

Temos a esclarecer ainda que apesar das atividades desenvolvidas

na área não estarem de acordo com a política ambiental desta

SMMA, uma vez que, somos contrários à canalização de cursos

d’água e que só recentemente esta Secretaria passou a opinar e

deliberar nessas atividades, através da edição das Resoluções do

CONAMA, especialmente a Resolução nº 369 e que eram

anteriormente avaliadas e autorizadas pela SMOP, não há como este

Departamento, ou outro desta PMC, não acatar uma outra

legislação federal (outorga) que determina o contrário. Se há

conflito nessas legislações, não nos cabe análise ou interpretação,

sendo outro o foro de discussão.

(...)

Curitiba, 20 de outubro de 2006

Heitor Costa Neto Engº Agrônomo – CREA 8477-D Matric. 30.595-7”

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II - LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

Em nosso Direito Positivo, a proteção ambiental merece tratamento

constitucional:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

(...)

§3° As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados."

O Estado do Paraná, em sua Constituição, dedicou capítulo especial à

questão ambiental, garantindo a defesa do meio ambiente e da qualidade de vida do povo

paranaense, importância esta que se extrai do contido na redação do artigo 207, in verbis:

“Artigo 207 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Estado, aos Municípios e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras,

garantindo-se a proteção dos ecossistemas e o uso racional dos

recursos ambientais.

Parágrafo segundo - As condutas e atividades poluidoras ou

consideradas lesivas ao meio ambiente, na forma da lei, sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas:

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I - à obrigação de, além de outras sanções cabíveis, reparar os danos

causados;

II - as medidas definidas em relação aos resíduos por ela produzidos;

III - a cumprir diretrizes estabelecidas por órgão competente."

A jurisprudência vem entendendo que:

“Apelação Cível n. 145.317-4

Rel.: Juiz Lauro Augusto Fabrício de Melo / 1. Câm.Cível

Ementa - Ação civil pública de responsabilidade por danos causados

ao meio ambiente com obrigação de fazer - Alegada ausência de

citação de litisconsorte - Desnecessidade - Nulidade de sentença por

falta de fundamentação - Inocorrência - Terreno reservado - edificação

sobre faixa de mata ciliar - Art. 2, letra ‘A’, item ‘5’, da lei n. 4.771/65

- Legitimidade do IAP para fiscalização - Honorários advocatícios

devidos nos termos do artigo 118, inciso II, alínea ‘A’, da Constituição

Estadual - Recurso desprovido.

1- A fruição da propriedade e da posse, não pode legitimar a

degradação do meio ambiente, áreas de preservação permanente.

2- Constitui uso nocivo da propriedade, destinação diversa daquela

determinada pelo Código Florestal, nas áreas de preservação

permanente, desrespeitando-se a limitação administrativa, cuja

responsabilidade no direito ambiental é objetiva.

3- A preservação e a recomposição de mata ciliar é um imperativo

que se impõem ao proprietário de terras, constituindo-se em

obrigação propter rem.

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4- Considera-se de preservação permanente, as florestas e demais

formas de vegetação natural, situadas ao longo dos demais rios ou

qualquer curso d’água, desde o seu nível mais alto em faixa

marginal, cuja largura é fixada no Código Florestal (art.2)

5- As florestas de preservação permanente, instituídas, no art. 2, do

Código Florestal, são consideradas as propriedades como de

limitações administrativas.

6- Terrenos reservados são faixas de terras particulares, marginais

dos rios, lagos e canais públicos, como define o Código de Águas.

7- Configura, limitação administrativa à propriedade, visando a

proteção ambiental, a definição, como área de preservação

permanente, das florestas e demais formas de vegetação natural

situadas ao longo dos rios o qualquer curso d’água. Tal limitação,

não importa em violação do direito de propriedade, tampouco

infringe qualquer direito.

8- Há leis que dependem de regulamentação para sua execução e

outras que são auto-executáveis. No entanto, qualquer delas pode ser

regulamentada, distinguindo-se de que as primeiras o regulamento é

condição de sua aplicação e nas segundas é ato facultativo.

9- Os honorários advocatícios fixados em ação civil pública aforada

pelo Ministério Público, julgada improcedente, decorrente da

sucumbência, deverá ser recolhida ao Estado, como renda eventual, à

conta da Procuradoria Geral da Justiça, para o Fundo Especial criado

pela lei Estadual n. 12.241/98, nos termos do art. 118, inc. II, alínea

‘a’, parte final, da Constituição Estadual.

Ação Civil Pública - Liminar - Proteção Ambiental - Limitação

Administrativa.

Configura limitação administrativa a propriedade, objetivando a

proteção ambiental, a definição, como área de preservação

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permanente, das florestas e demais formas de vegetação natural

situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água. Essa

limitação não importa em violação do direito de propriedade,

tampouco em afronta a qualquer direito adquirido. Por isso, é mantida

a concessão de liminar em ação civil pública, posto que ancorada em

elementos informativos que evidenciam a presença do fumus boni iuris

e do periculum in mora. Agravo de instrumento desprovido.”

Em nível infraconstitucional, encontramos como modelo de norma, em

razão da precisão de seus termos, a Lei 6.938, de 3l de agosto de 1981, que estabeleceu a

Política Nacional do Meio Ambiente, e que reza:

"Art. 2° - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia

à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento

sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da

dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I - Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,

considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser

necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo:

II - Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do mar;

VIII - Recuperação de áreas degradadas;

IX - Proteção de áreas ameaçadas de degradação;

Art. 3° - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - Meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e

rege a vida em todas as suas formas;

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II - Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das

características do meio ambiente;

III - Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de

atividades que direta ou indiretamente:

a)- prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b)- criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c)- afetem desfavoravelmente a biota;

d)- afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

IV - Poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou

privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora

de degradação ambiental;

V - Recursos ambientais: a atmosfera, às águas interiores, superficiais

e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os

elementos da biosfera, a fauna e a flora."

É neste texto legal que encontramos o divisor de águas da atual política

jurídico-normativa da questão ambiental: a responsabilidade objetiva do degradador pelos

danos causados. É a redação do artigo 14, § 1° da Lei 6.938/81 que estabelece:

“(...)

§ 1°- Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o

poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a

indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,

afetados por sua atividade...”

Delimitados os contornos genéricos do tratamento legal ao ambiente,

devemos passar à análise de normas protetivas específicas e que tratam diretamente do

assunto em pauta.

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As águas públicas derivadas de rios ou mananciais são qualificados

juridicamente como “bem de uso comum do povo” conforme arts. 20, III e 26, I da

Constituição Federal.”

Sobre as águas, vigora desde 1934 o Decreto 24.643 conhecido por

Código de Águas. Após a Constituição Federal foi editada a Lei Federal 9.433, de

08/01/1997 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, tendo como

fundamentos:

“Art. 1º. A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos

seguintes fundamentos:

I – a água é um bem de domínio público;

II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor

econômico;

III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos

hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;

IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso

múltiplo das águas;

V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação

da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

V – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar

com a participação do Poder Público, dos usuários e das

comunidades.”

A Política Nacional de Recursos Hídricos tem como objetivos:

“Art.2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

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I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária

disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos

respectivos usos;

II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos,

incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento

sustentável;

III – a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de

origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos

naturais.”

Um dos instrumentos da Política Nacional é a outorga dos direitos de

uso de recursos hídricos, conforme artigo 5º, inciso III. Diz o artigo 11 que o regime de

outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o controle

quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à

água. Seguindo, reza o art. 12:

“Art.12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos

seguintes usos de recursos hídricos:

I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo

de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou

insumo de processo produtivo;

II – extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou

insumo de processo produtivo;

III – lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos

líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição,

transporte ou disposição final;

IV – aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade

da água.

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(...)”

Quanto a competência para outorga de uso de água a Lei prevê que

apenas o Executivo Federal, Estadual e do Distrito Federal terão tal poder:

“Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do

Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal.

§1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao

Distrito Federal competência para conceder outorga de direito de uso

de recurso hídrico de domínio da União.”

Diz ainda o art. 16 que toda outorga de direitos de uso de recursos

hídricos far-se-á por prazo não superior a trinta e cinco anos, sendo passível de

renovação.

No Estado do Paraná, a Política Estadual de Recursos Hídricos é

prevista na Lei 12.776, de 26 de novembro de 1999, que inclusive complementou

alguns pontos da Política Nacional, como por exemplo, o art.2º, no inciso II que traz

como fundamento a água como patrimônio não só econômico, mas também social e

ambiental.

A Política Estadual de Recursos Hídricos também tem como

instrumento a outorga, prevista no art. 13 nos seguintes termos:

“Art. 13. Estão sujeitos à outorga pelo Poder Público os seguintes

direitos de uso de recursos hídricos, independentemente da natureza,

pública ou privada, dos usuários:

(...)

V – intervenções de macrodrenagem urbana para retificação,

canalização, barramento e obras similares que visem ao controle de

cheias;”

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Como se observa pela política estadual de recursos hídricos, as

intervenções de macrodrenagem urbana para retificação, canalização, barramento e

obras similares sempre visam especificamente o controle de cheias.

No Estado do Paraná o órgão executivo gestor do Sistema Estadual de

Gerenciamento de Recursos Hídricos é o Instituto das Águas que substituiu a

SUDERHSA.

Criada pela Lei Estadual 16.242, de 13 de outubro de 2009, o Instituto

das Águas é entidade autárquica dotada de personalidade jurídica de direito público,

com patrimônio e receitas próprios e autonomia administrativa, técnica e financeira,

integrante da Administração Indireta do Estado, vinculada à Secretaria de Estado do

Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA.

No art. 4º da Lei 16.242 estão definidas as competências do Instituto

das Águas, em seus dezoito incisos e como se observa sempre voltadas para elaborar,

executar e fiscalizar planos, programas, ações, serviços técnicos, prestar assistência,

elaborar estudos e pesquisas e difundir informações que busquem a recuperação e

gestão dos recursos hídricos.

O art. 32 que trata da Política Estadual de Recursos Hídricos modificou

o art. 39-A, inciso IX da Lei Estadual 12.726/99, atribuindo ao Instituto das Águas do

Paraná a competência para “outorgar, suspender e revogar, mediante procedimentos

próprios, direitos de uso de recursos hídricos.”

Em consulta à pagina eletrônica do Instituto das Águas encontram-se

algumas definições como por exemplo, o ato de outorga:

“A Outorga é o ato administrativo que expressa os termos e as

condições mediante as quais o Poder Público permite, por prazo

determinado, o uso de recursos hídricos.

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Direciona-se ao atendimento do interesse social e tem por finalidades

assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e

disciplinar o exercício dos direitos de acesso à água.”1

No Estado do Paraná, os atos de autorização de uso de recursos

hídricos de domínio estadual (conforme Decreto Estadual 4646, de 31/08/2001, art. 3º)

são de competência do Instituto das Águas do Paraná. Porém, em se tratando de

recursos hídricos de domínio federal, quem concede as outorgas para utilização da água

é a Agência Nacional de Águas, conforme as definições da Constituição Federal.

A dominialidade sobre os recursos hídricos significa a responsabilidade

pela preservação do bem, sua guarda e gerenciamento, objetivando a sua perenidade e

uso múltiplo, bem como o poder de editar as regras aplicáveis.

A outorga concedida pelo Instituto pode ser de dois tipos, a Prévia e a

de Direito, aquela para novos empreendimentos que necessitem de licenciamento

ambiental e empreendimentos existentes que ainda não possuam licenciamento

ambiental. Já outorga de Direito destina-se a novos empreendimentos que não

necessitem de licenciamento ambiental e empreendimentos existentes que já possuam

licenciamento ambiental.

Decreto 4646/2001 dispõe sobre o regime de outorga de direitos de uso

de recursos hídricos e adota outras providências, também prevê a possibilidade de

intervenções de macrodrenagem urbana para retificação, canalização, barramento e

obras similares que visem ao controle de cheias, nos termos do inciso V do art. 6º.

Como se observa o Instituto das Águas tem atuação no que diz respeito

as águas de domínio estadual, e não exclui a necessidade de se harmonizar à legislação

municipal de uso do solo.

1 http://www.aguasparna.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10

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Sobre a bacia hidrográfica de Curitiba

A bacia hidrográfica de Curitiba é constituída de vários rios e

riachos, que cortam a cidade em diferentes direções, agrupados em cinco bacias

hidrográficas.

No Estado, o principal rio é o rio Paraná, sendo que o município de

Curitiba localiza-se à margem direita e a leste da maior sub-bacia do rio Paraná, a bacia

hidrográfica do rio Iguaçu.

A maior bacia hidrográfica de Curitiba é a do rio Barigüi, que

atravessa o município de norte a sul e cobre uma área total de 139,9 km². Devido às

altitudes mais altas de Curitiba serem no norte do município, todas as seis bacias

hidrográficas correm para o sul, indo desembocar no principal rio de Curitiba, o Iguaçu,

que por sua vez irá desaguar no rio Paraná, a oeste do estado.

Bacias hidrográficas e suas

Respectivas áreas (em km²), em Curitiba

Área

Bacias hidrográficas

(km²) (%)

Ribeirão dos Padilhas 33,8 7,82

Rio Atuba 63,71 14,74

Rio Barigüi 140,8 32,58

Rio Belém 87,77 20,31

Rio Iguaçu 68,15 15,77

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Rio Passaúna 37,94 8,78

Total 432,17 100,0

Fonte: SMSA - Secretaria Municipal de Saneamento [1]

Analisando cada uma das bacias da tabela temos que a Bacia do

Ribeirão dos Padilhas ocupa uma área de 33,8 km², sendo que o rio principal conta com

9,40 km. Seus afluentes são o Arroio Cercado e Arroio da Boa Vista.

Por sua vez, a Bacia do Atuba-Bacacheri ocupa uma área de 63,71 km²,

sendo seu rio principal com 18,2 km e seus afluentes são o Rio Bacacheri e o Rio

Tarumã.

A Bacia do Belém ocupa uma área de 87,77 km² e sua principal

Bacia tem 20,10 km. Os afluentes do Belém são: Rio Ivo, Rio Juvevê, Rio Água Verde,

Rio Guaíra e Rio Pinheirinho.

A Bacia Barigui ocupa no total uma área de 140,8 km²., sendo que o

rio principal da bacia tem 29 km. Seus principais afluentes são: Rio Campo de Santana,

Rio Cascatinha, Rio Uvú, Rio Mossunguê, Rio Vila Formosa, Ribeirão do Mueller,

Ribeirão Campo Comprido, Ribeirão Antônio Rosa, Ribeirão Do Passo do França,

Arroio do Pulo, Arroio da Ordem, Arroio do Andrade, Arroio do Pulgador, Arroio do

Passo do Melo, Córrego Vista Alegre, Rio do Wolf, Córrego Capão Raso e Córrego

Vila Isabel.

A Bacia do Passaúna ocupa uma área de 37,94 km² e seu rio principal

ocupa 18,2 km.

A Bacia do Iguaçú ocupa uma área de 68,15 km² e seus afluentes são:

Rio Ponta Grossa, Rio do Moinho, Arroio do Espigão e Arroio do Prensa.2

Dentro do espaço territorial de Curitiba, em se tratando de uma de suas

sub-bacias, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba deve ser consultada. 2 As informações foram obtidas da página eletrônica do IPPUC sobre as características hidrográficas de Curitiba.

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Os cursos d’água que passam por Curitiba localizam-se em área de preservação

permanente não passível de intervenção, razão pela qual todo e qualquer pedido de

canalização necessitam de análise quanto ao uso do solo.

A atuação municipal de proteção dos recursos hídricos

Conforme consta da página eletrônica do Município de Curitiba, em

especial da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, as ações públicas municipais são,

por força de lei voltadas para o território municipal, que na maioria das vezes não

contempla toda unidade da bacia, entretanto, no âmbito do Município têm-se um

arcabouço legal voltado à gestão dos recursos hídricos, como:

a) Lei Municipal 7833/1991 dispõe sobre a Política de Proteção,

Conservação e Recuperação do Meio Ambiente;

b) Lei Municipal 9805/2000 – Anel de Conservação Sanitário

Ambiental aprovada em 4 de abril de 2000 estabelece faixas ao longo dos principais rios

da cidade com o objetivo de preservá-los ou recuperá-los mediante benefícios

construtivos;

c) Lei 10.785/2003 – Cria no Município de Curitiba o Programa de

Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações – PLURAE;

d) Decreto 791/2003 – que dispõe sobre critérios para implantação dos

mecanismos de contenção de cheias;

e) Decreto 293/2006 – que regulamenta a Lei 10.785/2003 e dispõe

sobre os critérios do uso e conservação racional da água nas edificações.

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Nos termos da Lei Municipal 7.833/91 que dispõe sobre a Política de

Proteção, Conservação e Recuperação do Meio Ambiente de Curitiba, os cursos d’água

devem ser protegidos:

“Art. 3º - Para o cumprimento do disposto no Art.30 da Constituição

Federal, no que concerne ao meio ambiente, considera-se como de

interesse local:

(...)

- a preservação, conservação e recuperação dos rios e das matas

ciliares;”

Observa-se portanto a voltade do legislador em proteger os rios e

córregos que passam pela cidade colidindo com a intenção de particulares de canalizar

os cursos d’água.

No âmbito municipal, a competência para análise de questões

ambientais é de sua Secretaria específica, podendo autorizar ou negar o uso do solo,

bem como impor limitações administrações com base na lesgislação e na função social

da propriedade:

“Art. 5º - Cabe à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, além das

atividades que lhe são atribuídas pela Lei nº 7.671, de 10 de junho de

1991, implementar os objetivos e instrumentos da Política do Meio

Ambiente do Município, fazer cumprir a presente Lei, competindo-lhe:

(...)

VII - Conceder licenças, autorizações e fixar limitações

administrativas relativas ao meio ambiente;”

“Art. 11 - Na análise de projetos de ocupação, uso e parcelamento

do solo, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente deverá

manifestar-se em relação aos aspectos de proteção do solo, da fauna,

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da cobertura vegetal e das águas superficiais, subterrâneas,

fluentes, emergentes e reservadas, sempre que os projetos:

I - Tenham interferência sobre reservas de áreas verdes, e proteção

de interesses paisagísticos e ecológicos;

II - Exijam sistemas especiais de abastecimento de água e coleta,

tratamento e disposição final de esgoto e resíduos sólidos;

III - Apresentem problemas relacionados à viabilidade geotécnica;”

“Art. 29 - Os Setores Especiais de Fundos de Vale são constituídos

pelas áreas críticas localizadas nas imediações ou nos fundos de

vale, sujeitos à inundação, erosão ou que possam acarretar

transtornos à coletividade através de usos inadequados.

Parágrafo Único - As áreas compreendidas no setor Especial

citadas no caput do Artigo são consideradas faixas de preservação

permanente para efeitos dos dispositivos da Lei Federal nº 7803/89

que alterou o Artigo 2º do Código Florestal.”

“Art. 30 - São consideradas Faixas de Drenagem as faixas de

terreno compreendendo os cursos d água, córregos ou fundos de

vale, dimensionados de forma a garantir o perfeito escoamento das

águas pluviais das bacias hidrográficas.”

“Art. 31 - As faixas de drenagem deverão obedecer os seguintes

requisitos essenciais:

I - Apresentar uma largura mínima de forma a acomodar

satisfatoriamente um canal aberto (valeta) cuja seção transversal

seja capaz de escoar as águas pluviais da bacia hidrográfica à

montante do ponto considerado.

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II - Para a determinação da seção de vazão, deverá a bacia

hidrográfica ser interpretada como totalmente urbanizada e

ocupada.

III - Os elementos necessários aos cálculos de dimensionamento

hidráulico, tais como intensidade das chuvas, coeficiente de

escoamento run-off, tempos de concentração; coeficiente de

distribuição das chuvas, tempos de recorrência etc., serão definidos

pelo órgão técnico levando sempre em consideração as condições

mais críticas.

IV - Para efeito de pré-dimensionamento e estimativa das seções

transversais das faixas de drenagem, deverá ser obedecida a tabela

seguinte, parte integrante desta lei.

FAIXAS NÃO EDIFICÁVEIS DE DRENAGEM Área Contribuinte Faixa Não Edificável (ha) (m) 0 a 25 4 25 a 50 6 50 a 75 10 75 a 100 15 100 a 200 20 200 a 350 25 350 a 500 30 500 a 700 35 700 a 1000 40 1000 a 1300 50 1300 a 1500 60 1500 a 1700 70 1700 a 2000 80 2000 a 5000 100

Para as bacias hidrográficas contribuintes com área superior a

5.000ha, a faixa de drenagem (não edificável) será dimensionada

pelo órgão técnico competente.

V - Além da faixa de drenagem mínima, calculada de acordo com a

tabela, serão incluídas pistas laterais destinadas à manutenção dos

cursos d água a critério do órgão competente.

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“Art. 32 - Os Setores Especiais de Preservação de Fundos de Vale

serão determinados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

§ 1º - Os Setores Especiais de Preservação de Fundos de Vale

poderão estar confinados por vias de tráfego a critério do órgão

competente.

§ 2º - As vias de tráfego que seccionam os Setores Especiais de

Fundos de Vale serão determinadas pelo órgão competente.”

“Art. 33 - Áreas a serem loteadas e que apresentarem cursos d água

de qualquer porte ou fundos de vale, deverão receber as diretrizes

de arruamento vinculadas às faixas de proteção de que trata a

presente Lei.”

“Art. 34 - As áreas dos Setores Especiais de Fundos de Vale situadas

em loteamento serão determinadas independentemente do que a

legislação em vigor prescrever sobre áreas destinadas a bens

patrimoniais ou dominicais.”

“Art. 35 - No tocante ao uso do solo, os Setores Especiais de

Preservação de Fundos de Vale deverão sempre atender,

prioritariamente, à implantação de parques lineares destinados às

atividades de recreação e lazer, à proteção das matas nativas, à

drenagem, e a preservação de áreas criticas.”

“Art. 36 - Competirá, exclusivamente, à Secretaria Municipal do

Meio Ambiente as seguintes medidas essenciais:

I - Examinar e decidir sobre outros usos que não estejam citados no

Artigo anterior;

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II - Propor normas para regulamentação, por decreto, dos usos

adequados aos fundos de vale.

III - Delimitar e propor os Setores Especiais de Preservação de

Fundos de Vale, os quais serão aprovados por decreto;

IV - Definir os projetos de arruamento e demais infra-estruturas

necessárias.”

A Lei Municipal 9.805, de 03 de janeiro de 2005 criou o Setor Especial

do Anel de Conservação Sanitário Ambiental com a finalidade de incentivar e garantir o

uso adequado das faixas de drenagem, bem como a manutenção das faixas de

preservação permanente, visando o bom escoamento das águas superficiais, recuperação

da mata ciliar e a minimização dos problemas de enchente.

A Lei 9805/05 estabelece em seu artigo 2º e incisos as faixas de

preservação permanente e as áreas contíguas que serão destinadas a implantação de

sistema de circulação de veículos e pedestres, unidades de conservação ou áreas de uso

público, de acordo com projetos específicos.

Como se percebe, a legislação municipal busca a proteção dos rios e

córregos que passam pelo Município de Curitiba, por se tratar de interesse local, sempre

em harmonia com o Código Florestal, na medida que buscam “a preservação,

conservação e recuperação dos rios e das matas ciliares”.

A canalização de rios é contrária a toda e qualquer preservação,

conservação e recuperação de rios, na medida em que mascara os problemas urbanos,

pois ignora as características naturais dos cursos d’água e o fato de desempenharem

papel importante na regulação climática, na biodiversidade e na vida.

Conforme publicado na pagina eletrônica SOS rios do Brasil3, a

canalização não é a maneira adequada de se tratar os rios:

3 http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2008/06/conferncia-internaciona-dereas-midas.html

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“A canalização é, na verdade, uma máscara para os problemas

urbanos.

Afinal, é o esgoto que deve ser canalizado e, não, os córregos e rios.

Sem obstáculos naturais, as águas cursos d’água correm mais

rápido, em retos canais. Evitam-se inundações em um trecho, mas

elas passam a ser mais destruidoras em trecho mais à frente, uma

vez que a água chega com uma velocidade bem maior. Além disso, a

aceleração das águas contribui para a eliminação das comunidades

aquáticas. Morrem peixes, pássaros e vegetação dos cursos d’água e

de suas margens.

O ciclo hidrológico é também prejudicado pela canalização. Com o

leito de rios e córregos revestidos por materiais impermeáveis, a

água não infiltra no solo e, conseqüentemente, não chega aos lençóis

freáticos subterrâneos. A infiltração é importante para regularizar a

quantidade de água dos rios e córregos e proporcionar seu

escoamento subterrâneo até os mares e oceanos. Sem infiltrar, mais

água é retida na superfície, provocando inundações nas áreas mais

baixas.

Cobertos por grandes avenidas, muitos cursos d’água são lembrados

somente ao transbordarem, quando o volume de água e lixo

ultrapassa a capacidade de suas galerias. Limpar e manter esses

canais são procedimentos difíceis e perigosos, principalmente nos

fechados, pois o acesso é complicado.

Mas a mais grave conseqüência da canalização é o fato de ela

comprometer a relação entre homem e natureza. As áreas verdes das

margens são substituídas por concreto e asfalto; nadar, pescar e

navegar passam a ser atividades quase impraticáveis.

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Revitalizar é a solução

Experiências de países europeus, como a França (Rio Sena),

mostram que a revitalização dos cursos d’água é a forma mais

eficiente de permitir que ele integre o ambiente de maneira

harmônica. O ciclo hidrológico é restabelecido, as plantas e animais

voltam a habitar os cursos d’águas e suas proximidades, nadar e

pescar passam a ser atividades possíveis, o esgoto deixa o córrego.

Revitalizados, os rios e córregos podem, inclusive, ser aproveitados

como áreas de recreação e lazer. Fica provado que reconhecer que

os cursos d’água são fonte de vida, e não depósitos de lixo e esgoto,

e agir de acordo com esse pensamento é garantia de uma melhor

qualidade de vida.

Mas a revitalização só é possível com investimento em saneamento

básico. Para tanto, a instalação de interceptores, que são canos que

impedem que o esgoto caia nas águas dos córregos e rios, faz-se

necessária. Com os interceptores, o esgoto é conduzido a estações de

tratamento e a água, limpa, volta ao curso d’água.

Outras medidas necessárias à revitalização dos córregos e rios são o

combate a erosões, o plantio de vegetação nas margens dos cursos

d’água, assim como a remoção das famílias dos locais suscetíveis a

inundação. É também preciso resguardar a área de inundação

natural do rio, evitando que, na época das cheias, a população corra

o risco de ter suas casas invadidas pela água.

A educação ambiental e a consciência ecológica também devem ser

trabalhadas. Não adianta revitalizar um rio se uma cultura de

destruição e descaso com relação ao meio ambiente é mantida. O

Projeto Manuelzão já tem conquistado algumas vitórias nesse

sentido. Muitos Núcleos Manuelzão foram formados em função desse

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debate pela revitalização e já se percebe uma mudança de

mentalidade da população. Em Belo Horizonte, por exemplo, há uma

decisão consolidada contra a canalização de cursos d’água.

Por pressão da sociedade civil e do Projeto Manuelzão, a

Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) abraçou

a causa da revitalização e a Companhia de Saneamento de Minas

Gerais (Copasa) já adota tecnologias canalizadoras de esgoto, como

os interceptores na bacia do Córrego do Nado, na região da

Pampulha.”

Embora não exista previsão legal direta contra a canalização de rios e

cursos d’água, há uma proibição implícita, pois a combinação de leis, todas pela

proteção de matas ciliares, preservação, conservação e revitalização dos rios mostram

que canalizar provoca a morte do rio.

Canalização de rios e córregos. Áreas de Preservação Permanente e

Código Florestal

A outorga de uso prevista na lei estadual que criou o Instituto das

Águas do Paraná está sendo desvirtuada, na medida em que é contrária a aplicação das

normas de proteção ambiental dos recursos hídricos, ao Código Florestal (Lei 4.771, de

15 de setembro de 1965, artigo 2º que assim dispõe:

“Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito

desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural

situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o

seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

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1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez)

metros de largura;

2) de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10

(dez) metros a 50 (cinqüenta) metros de largura;

3) de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de 50

(cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de

200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que tenham

largura superior a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais e

artificiais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados ‘olhos

d’água’, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio

mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;

(...)

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as

compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e

nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o

território abrangido observar-se-á o disposto nos respectivos planos

diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a

que se refere este artigo.”

Pela definição do Código Florestal (art. 1º, II) considera-se: “ Área de

preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta

ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos

hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de

fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.”

A intenção é mais uma vez proteger os recursos hídricos afastando-se a

hipótese de construções em áreas de preservação permanente. Portanto, nem mesmo

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obras de canalização de rios podem ser autorizadas em áreas de preservação

permanente, sob pena de se estar permitindo a intervenção em área de APP.

O que se nota é que as canalizações outorgadas pelo Instituto das

Águas não demonstram interesse público ou social, mas sim mera maximização na

utilização de terrenos de particulares. Outorgado o direito de uso, para a finalidade de

canalização, na verdade o outorgado não irá usar a água ou curso d’agua em si, mas sim

o terreno pelo qual passa é que será mais bem aproveitado. A previsão contida no artigo

13 da Lei de Recursos Hídricos, mais precisamente no inciso V, “intervenções de

macrodrenagem urbana para retificação, canalização, barramento e obras similares”

são específicas ao controle de cheias.

Com a edição da Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de

2006 passou a ser proibida a intervenção ou supressão de vegetação em Área de

Preservação Permanente, salvo nos casos excepcionais, de utilidade pública, interesse

social ou baixo impacto ambiental, assim previstos em sua normatização:

“Art. 1º Esta Resolução define os casos excepcionais em que o órgão

ambiental competente pode autorizar a intervenção ou supressão de

vegetação em Área de Preservação Permanente – APP para a

implantação de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade

pública ou interesse social, ou para a realização de ações

consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental.

§1º É vedada a intervenção ou supressão de vegetação em APP de

nascentes, veredas, manguezais e dunas originalmente providas de

vegetação, previstas nos incisos II, IV, X e XI do art. 3º4 da resolução

CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, salvo nos casos de

utilidade pública dispostos no inciso I do art. 2º desta Resolução, e

4 Resolução CONAMA 303/2002. “Art.3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: II – ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinquenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte; IV – em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de cinqüenta metros, a partir do limite o espaço brejoso e encharcado; X – em manguezal, em toda a sua extensão; XI – em duna;”

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para acesso de pessoas e animais para obtenção de água, nos termos

do §7º, do art. 4º, da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965.

(...)

§3º A autorização para intervenção ou supressão de vegetação em

APP de nascente, definida no inciso II do art. 3º da Resolução

CONAMA nº 303, de 2002, fica condicionada à outorga do direito de

uso de recurso hídrico, conforme o disposto no art. 125 da Lei nº

9.433, de 8 de janeiro de 1997;

§4º A autorização de intervenção ou supressão de vegetação em APP

depende da comprovação pelo empreendedor do cumprimento integral

das obrigações vencidas nestas áreas.”

“Art.2º O órgão ambiental competente somente poderá autorizar a

intervenção ou supressão de vegetação em APP, devidamente

caracterizada e motivada mediante procedimento administrativo

autônomo e prévio, e atendidos os requisitos previstos nesta

resolução e noutras normas federais, estaduais e municipais

aplicáveis, bem como no Plano Diretor, Zoneamento Ecológico-

Econômico e Plano de Manejo das Unidades de Conservação, se

existentes, nos seguintes casos:

I – utilidade pública;

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

5 Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997. “Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos: I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II – extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; III – lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; IV – aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. §2º (...)”

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b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços

públicos de transporte, saneamento e energia;

c) as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais,

outorgadas pela autoridade competente, exceto areia, argila, saibro e

cascalho;

d) a implantação de área verde pública em área urbana;

e) pesquisa arqueológica;

f) obras públicas para implantação de instalações necessárias à

captação e condução de água e de efluentes tratados; e

g) implantação de instalações necessárias à captação e condução de

água e de efluentes tratados para projetos privados de aqüicultura,

obedecidos os critérios e requisitos previstos nos §§1º e 2º doa RT. 11,

desta Resolução.

II – interesse social:

a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da

vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo,

controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios

com espécies nativas, de acordo com o estabelecido pelo órgão

ambiental competente;

b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na

pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize

a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação e não

prejudique a função ecológica da área;

c) a regularização fundiária sustentável de área urbana;

d) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e

cascalho, outorgadas pela autoridade competente;

III – intervenção ou supressão de vegetação eventual e de baixo

impacto ambiental, observados os parâmetros desta Resolução.”

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“Art. 3º A intervenção ou supressão de vegetação em APP somente

poderá ser autorizada quando o requerente, entre outras exigências,

comprovar:

I – a inexistência de alternativa técnica e locacional às obras, planos,

atividades ou projetos propostos;

II – atendimento às condições e padrões aplicáveis aos corpos de

água;

III – averbação da Área de Reserva Legal; e

IV – a inexistência de risco de agravamento de processos como

enchentes, erosão ou movimentos acidentais de massa rochosa.”

“Art. 4º Toda obra, plano, atividade ou projeto de utilidade pública,

interesse social ou de baixo impacto ambiental, deverá obter do órgão

ambiental competente a autorização para intervenção ou supressão de

vegetação em APP, em processo administrativo próprio, nos termos

previstos nesta resolução, no âmbito do processo de licenciamento ou

autorização, motivado tecnicamente, observadas as normas ambientais

aplicáveis.

§1º A intervenção ou supressão de vegetação em APP de que trata o

caput deste artigo dependerá de autorização do órgão ambiental

estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão

federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no §2º

deste artigo.

§2º A intervenção ou supressão de vegetação em APP situada em área

urbana dependerá de autorização do órgão ambiental municipal,

desde que o município possua Conselho de Meio Ambiente, com

caráter deliberativo, e Plano Diretor ou Lei de Diretrizes Urbanas, no

caso de municípios com menos de vinte mil habitantes, mediante

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anuência prévia do órgão ambiental estadual competente,

fundamentada em parecer técnico.

§3º Independem de prévia autorização do órgão ambiental

competente:

I - as atividades de segurança pública e defesa civil, de caráter

emergencial; e

II - as atividades previstas na Lei Complementar n. 97, de 9 de junho

de 1999, de preparo e emprego das Forças Armadas para o

cumprimento de sua missão constitucional, desenvolvidas em área

militar.

Art. 5º O órgão ambiental competente estabelecerá, previamente à

emissão da autorização para a intervenção ou supressão de vegetação

em APP, as medidas ecológicas, de caráter mitigador e

compensatório, previstas no §4º, do art. 4º, da Lei n. 4.771, de 1965,

que deverão ser adotadas pelo requerente.

§1º Para os empreendimentos e atividades sujeitos ao licenciamento

ambiental, as medidas ecológicas, de caráter mitigador e

compensatório, previstas neste artigo, serão definidas no âmbito do

referido processo de licenciamento, sem prejuízo, quando for o caso,

do cumprimento das disposições do art. 36, da Lei n. 9.985, de 18 de

julho de 2000.

§2º As medidas de caráter compensatório de que trata este artigo

consistem na efetiva recuperação ou recomposição de APP e deverão

ocorrer na mesma sub-bacia hidrográfica, e prioritariamente:

I - na área de influência do empreendimento, ou

II - nas cabeceiras dos rios.”

“Art. 6º Independe de autorização do poder público o plantio de

espécies nativas com a finalidade de recuperação de APP, respeitadas

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as obrigações anteriormente acordadas, se existentes, e as normas e

requisitos técnicos aplicáveis.”

A intervenção em área de preservação permanente configura exceção e

não padrão, razão pela qual a legislação determina condições específicas que terão que

ser atendidas.

A necessidade de preservação das áreas marginais aos cursos d'água

decorre do papel fundamental que tais áreas possuem na proteção das águas, elemento vital

na vida do planeta. A inexistência da vegetação ribeirinha possibilita o aparecimento dos

problemas vividos em nossa cidade, como o assoreamento de rios, erosão acelerada das

terras, desvio dos leitos e ausência de cobertura florestal ocasionando enchentes e

alagamentos.

É sintomático o fato de serem as atuais áreas de preservação permanente

denominadas "florestas protetoras" pela legislação mais antiga, tais como a Lei Estadual n.

706 de 01 de abril de l.907 e o Decreto 50.813, de 20 de junho de 1961. Mais recente, no

mesmo sentido a Lei Estadual 12.726/99, que institui a Política Estadual dos Recursos

Hídricos e o Decreto 387/99, que trata das reservas Estaduais legais.

Norma fundamental na regulamentação da matéria e cuja aplicação

absolutamente rigorosa, depois de anos de descaso, se faz necessária, é o Código Florestal

Brasileiro, instituído pela Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965, modificado por várias

medidas provisórias, porém que ainda traz expresso que:

"Art. 2° - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito

desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível

mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)

metros de largura;

(...)

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c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados 'olhos

d'água', qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio

mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura."

A Lei dos Crimes Ambientais prevê em seu artigo 38 que quem destruir

ou danificar florestas consideradas de Preservação Permanente, mesmo que em formação,

ou utilizá-la com infrigência das normas de proteção poderá ser penalizado com multa e

detenção.

Deste modo, qualquer tipo de exploração, mormente aquelas que

venham a afetar negativamente tais áreas, até mesmo com a destruição física do solo,

levado pelas águas, é ilegal.

O artigo 2º do Código Florestal tem como finalidade precípua proteger

a cobertura vegetal, onde se encontra expressamente elencada como floresta de

preservação permanente aquelas situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água.

Nesse sentido correto afirmar-se que tais florestas não podem ser

manejadas de forma a sofrerem cortes rasos. Embora tal restrição exista, não há que se

falar da ausência de finalidade econômica na preservação dessas florestas, pois qual

melhor investimento senão aquele que visa garantir, através da preservação dessas

florestas, o bem estar da população, num sentido amplo? Mesmo porque, ao se preservar

tais formas de vegetação, protege-se o solo dos processos erosivos, preserva-se a fauna e a

flora.

Ao tratar das matas protetoras, Osny Duarte Pereira sabiamente

asseverou:

"Sua conservação não é apenas por interesse público, mais por

interesse direto e imediato do próprio dono. Assim como ninguém

escava o terreno dos alicerces de sua casa, porque poderá

comprometer a segurança da mesma, do mesmo modo ninguém

arranca as árvores das nascentes, das margens dos rios, nas encostas

das montanhas, ao longo das estradas, porque poderá vir a ficar sem

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água, sujeito a inundações, sem vias de comunicação, pelas barreiras e

outros males conhecidamente resultantes de sua insensatez. As árvores

nesses lugares estão para as respectivas terras como o vestuário está

para o corpo humano. Proibindo a devastação, o Estado nada mais faz

do que auxiliar o próprio particular a bem administrar os seus bens

individuais, abrindo-lhe os olhos os danos que poderia

inadvertidamente cometer contra si mesmo" (in Osny Duarte Pereira,

Direito Florestal Brasileiro, pag 2l0).

Sobre a importância das matas ciliares, Eleotério Langowski nos ensina:

"As margens dos rios e córregos, totalmente devastados, não possuem a

necessária proteção contra a erosão. As águas que ali chegam após as

chuvas, chegam livremente, sem barreiras, indo parar direto nas calhas

hidrográficas. O resultado é que logo após quaisquer precipitações

pluviométricas, os rios se enchem de água, pois já estão completamente

assoreados.

Em situação primitiva, quando a área era ocupada por floresta clímax,

as chuvas não causavam tantos estragos. Primeiramente porque havia

uma barreira a ser superada, ou seja, floresta. As copas das árvores, as

folhas do sub-bosque, e até a serrapilheira no piso, não permitiam que as

gotas realizassem o trabalho erosivo sobre o solo arenoso. Além disso, o

grande emaranhado de raízes sob o solo, propiciava a completa

estabilização do sistema, com a contínua absorção de água de forma

lenta e gradual, resultando em um lençol freático com nível estabilizado,

que fluia nas nascentes e cursos d'água, fornecendo água limpa e

abundante.(...). A legislação ambiental é sábia quando se considera

áreas de preservação permanente às localizadas em pelo menos 30

metros das margens dos rios, sendo ali destinadas a manter vegetação

natural, de preferência florestal, pois, são áreas de solo instável.(...) O

afloramento do lençol freático, que irá determinar o nascimento de

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minas d'água e o fornecimento de água para os rios, necessita de

proteção por vegetação florestal ao seu redor. (in Engenheiro Florestal

Eleotério Langowski, Subsídios técnicos sobre a problemática e

importância da existência de Matas Ciliares na Região Noroeste do

Paraná, fl 10 e 12).

Não se fale na inocorrente primazia do interesse econômico sobre o

ambiental. É que a Constituição Federal estatui:

"Art. 170- A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho

humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência

digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes

princípios:

III- função social da propriedade;

IV- defesa do meio ambiente."

Em cotejo, observe-se o disposto no artigo primeiro do Código Florestal:

"Art. 1° - As florestas existentes no território nacional e as demais

formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem,

são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-

se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em

geral e especialmente esta Lei estabelecem."

Parágrafo único- As ações e omissões contrárias às disposições deste

Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso

nocivo da propriedade.”

Resta suficientemente demonstrado, portanto, ser o ambiente natural de

forma geral, área de preservação permanente, bosque nativo relevante e as áreas situadas às

margens dos cursos d'água, devidamente protegidos pelo ordenamento jurídico brasileiro,

sendo este francamente favorável à posição de supremacia dos interesses ambientais

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35

públicos sobre os interesses econômicos particulares, justificando a propositura da presente

ação para restaurar-se tudo o que foi degradado.

Sobre a atuação do Instituto das Águas do Paraná

A canalização de rios é contrária aos princípios de proteção

ambiental, posto que o Código Florestal limita o uso da propriedade e busca a

preservação das matas ciliares. Assim, canalizar rios é permitir o ingresso em áreas de

preservação permanente e fundos de vale, para a maximização de áreas em prol de

interesses apenas e exclusivamente de seus proprietários. Não há interesse público

protegido com a canalização de rios e córregos e sua prática traz conseqüências

maléficas ao meio ambiente, posto que faz com que as águas corram com maior

velocidade e volume em direção daquelas que se encontram à céu aberto.

Assim, a Lei Federal 4.771/1965 – Código Florestal em vigor (posto

que o PL 1876/99 ainda não foi votado pelo Senado) define área de preservação

permanente em seus artigos 2º e 3º, onde se observa a preocupação da preservação da

vegetação, fauna e recursos hídricos.

Importante a leitura do artigo 2º do Código Florestal:

“Art.2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito

desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível

mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez)

metros de largura;

2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10

(dez) metros a 50 (cinquenta) metros de largura;

3) de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de 50

(cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

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36

4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de

200(duzentos) a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais e

artificiais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos

d’água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio

mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45%,

equivalente a 100% (cem por cento) na linha e maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de

margens;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura

do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções

horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que

seja a vegetação.

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas assim entendidas as

compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e

nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o

território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos

diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que

se refere este artigo.”

“Art. 4º. A supressão de vegetação em área de preservação

permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade

pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e

motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir

alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto.

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37

§1º A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de

autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência

prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio

ambiente, ressalvado o disposto no § 2º deste artigo.

§2º A supressão de vegetação em área de preservação permanente

situada em área de urbana dependerá de autorização do órgão

ambiental estadual competente, desde que o município possua

conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor,

mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente

fundamentada em parecer técnico.

§3º O órgão ambiental competente poderá autorizar a supressão

eventual e de baixo impacto ambiental, assim definido em

regulamento, da vegetação em área de preservação permanente.

§4º O órgão ambiental competente indicará, previamente à emissão da

autorização para a supressão de vegetação em área de preservação

permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão

ser adotadas pelo empreendedor.

(...)”

Observa-se que o Instituto das Águas vem outorgando direito de uso

para canalização que de fato será em caráter definitivo, posto que após os trinta e cinco

anos poderá haver a renovação do ato. Com a canalização, não há preservação de mata

ciliar já que o rio foi envolto em manilhas, não há que se falar em obediência aos

distanciamentos impostos pelo Código Florestal até porque os empreendimentos

poderão ser feitos sobre os cursos de água manilhados. É inegável que a maximização

de utilização dos imóveis irá satisfazer interesses econômicos particulares de seus

proprietários.

A extinta SUDERHSA foi substituída pelo Instituto das Águas do

Paraná, contudo a prática reiterada de concessão de outorga para fins de canalização

continua, ocorrendo assim, desvirtuamento do ato administrativo, posto que, após o

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38

prazo os imóveis e ruas construídas sobre o rio não poderão ser dali retiradas. Com a

canalização não é possível analisar a limpeza do curso de água, se estão sendo jogados

resíduos inadequados, sendo jogado para de baixo do solo a sujeira existente nos rios.

Nos termos da página eletrônica6 do Instituto das Águas, extrai-se a

definição de outorga e condições para sua concessão.

“29. 06.2011

Outorga de Uso Recursos Hídricos [*]

[*] Novas orientações, normas e formulários

Em que consiste

A Outorga é o ato administrativo que expressa os termos e as

condições mediante as quais o Poder Público permite, por prazo

determinado, o uso de recursos hídricos.

Direciona-se ao atendimento do interesse social e tem por finalidades

assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e

disciplinar o exercício dos direitos de acesso à água.

A quem se destina

A exigência de outorga destina-se a todos que pretendam fazer uso de

águas superficiais (rio, córrego, ribeirão, lago, mina ou nascente) ou

águas subterrâneas (poços tubulares) para as mais diversas

finalidades, como abastecimento doméstico, abastecimento público,

aqüicultura, combate a incêndio, consumo humano, controle de

emissão de partículas, dessedentação de animais, diluição de

efluentes sanitários ou industriais, envase de água, irrigação,

lavagem de areia, lavagem de artigos têxteis, lavagem de produtos de

origem vegetal, lavagem de veículos, lazer, limpeza,

pesquisa/monitoramento, processo industrial, uso geral.

6 http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10

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39

A outorga também é necessária para intervenções que alterem a

quantidade ou qualidade de um corpo hídrico, como a construção de

obras hidráulicas (barragens, retificações, canalizações, drenagens,

travessias) e serviços de dragagem (minerária ou para

desassoreamento).

Quem concede

No Estado do Paraná, os atos de autorização de uso de recursos

hídricos de domínio estadual são de competência do Instituto das

Águas do Paraná.

Saiba mais (Lei 16242)

Quando se trata de recursos hídricos de domínio federal, quem

concede as outorgas para utilização da água é a Agência Nacional de

Águas.

Saiba mais

Os bens da União e dos Estados são definidos pela Constituição

Federal.

A dominialidade sobre os recursos hídricos significa a

responsabilidade pela preservação do bem, sua guarda e

gerenciamento, objetivando a sua perenidade e uso múltiplo, bem

como o poder de editar as regras aplicáveis.

Usos que dependem de outorga

- Derivação ou captação de água superficial (rio, córrego, mina ou

nascente) para qualquer finalidade.

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40

- Extração de água subterrânea (poço tubular profundo) para

qualquer finalidade.

- Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos

com o fim de diluição.

- Uso de recursos hídricos para aproveitamento hidrelétrico.

- Intervenções de macrodrenagem.

Saiba mais

Usos que independem de outorga

Não são objeto de outorga de direito de uso de recursos hídricos, mas

obrigatoriamente de cadastro:

- Usos de água subterrânea para pequenos núcleos populacionais (até

400 pessoas, em meio rural)

- Usos de vazões e volumes considerados insignificantes para

derivações, captações, lançamentos de efluentes e lançamentos

concentrados de águas pluviais

- Serviços de limpeza e conservação de margens, incluindo dragagem,

desde que não alterem o regime de vazões, a quantidade ou a

qualidade do corpo hídrico;

- Obras de travessia (pontes, dutos, passagens molhadas, etc.) de

corpos hídricos que não interfiram no regime de vazões, quantidade ou

qualidade do corpo hídrico.

(...)”

“(...)

Tipos de Outorga

• Outorga Prévia

• Outorga de Direito

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41

Para novos empreendimentos que necessitem de licenciamento

ambiental e empreendimentos existentes que ainda não possuam

licenciamento ambiental deverá ser requerida primeiramente a

Outorga Prévia e, posteriormente, a Outorga de Direito.

Para novos empreendimentos que não necessitem de licenciamento

ambiental e empreendimentos existentes que já possuam licenciamento

ambiental, deverá ser requerida diretamente a Outorga de Direito.

Outorga Prévia

O empreendedor deverá solicitar outorga prévia para usos de água em

futuros empreendimentos ou atividades, observado o disposto no art.

10º do Decreto 4646.

Saiba mais

Solicitação

A solicitação de outorga prévia é indispensável para novos

empreendimentos que necessitem de licenciamento ambiental.

Existindo disponibilidade hídrica, a reserva da vazão requerida

poderá ser autorizada mediante ato a ser publicado pelo

AGUASPARANÁ no Diário Oficial do Estado do Paraná.

O ato administrativo de outorga prévia tem apenas a finalidade de

declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, não

conferindo o direito de uso de recursos hídricos e se destinando a

reservar a vazão passível de outorga. (destacamos)

Saiba mais

Renovação

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42

A Outorga Prévia poderá ser renovada apenas uma vez, por igual

período.

Saiba mais

A Outorga Prévia não enseja alteração e transferência de titularidade,

sendo necessária a abertura de novo processo administrativo se

houver interesse do requerente na modificação de seus termos e

condições.

Após a obtenção da Outorga Prévia e dos licenciamentos ambientais

pertinentes, deve ser requerida a Outorga de Direito, mantendo todas

as condições estabelecidas na Outorga Prévia.

Ambos os requerimentos (outorga prévia e outorga de direitos de uso)

poderão ser incorporados em um único processo administrativo.

Outorga de Direito

A Outorga é o ato administrativo que expressa os termos e as

condições mediante as quais o Poder Público permite, por prazo

determinado, o uso de recursos hídricos.” (destacamos)

Solicitação

A Outorga de Direito deverá ser requerida pelos empreendimentos

existentes que já possuam licenciamento ambiental e pelos novos

empreendimentos que não necessitem de licenciamento ambiental.

Saiba mais

Alteração

Quando se altera qualquer termo ou condição determinados na

portaria de outorga de direito vigente, mantendo-se o mesmo titular.

Saiba mais

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43

Transferência de titularidade

Quando se altera apenas o titular da outorga e ficam mantidos todos

os outros termos e condições da portaria de outorga vigente.

Saiba mais

Renovação

O prazo de validade da outorga é estabelecido pelo AGUASPARANÁ

na própria portaria. (destacamos)

A solicitação de sua renovação deve ser formalizada no máximo até 90

(noventa) dias antes do vencimento da outorga vigente. Desta forma,

seus termos se manterão válidos até que a nova solicitação seja

apreciada pelo Instituto das Águas do Paraná.

Saiba mais (...)”

Ao autorizar a canalização de rios e córregos ocorre também a total

impossibilidade de que outros venham a fazer uso daquelas águas tais como

abastecimento doméstico, abastecimento público, aqüicultura, combate a incêndio,

consumo humano, controle de emissão de partículas, dessedentação de animais,

diluição de efluentes sanitários ou industriais, envase de água, irrigação, lavagem de

areia, lavagem de artigos têxteis, lavagem de produtos de origem vegetal, lavagem de

veículos, lazer, limpeza, pesquisa/monitoramento, processo industrial, uso geral.

A competência do órgão é pertinente aos atos de autorização de uso

de recursos hídricos de domínio estadual, nos termos da Lei 16.242. Contudo, o

Município de Curitiba é composto por cinco sub-bacias contribuintes da margem direita

do rio Iguaçu, Bacia do Alto Iguaçu, são elas: a bacia do rio Passaúna, do rio Barigui,

do rio Belém, do Ribeirão dos Padilhas e do rio Atuba, sendo atribuição da Secretaria

Municipal de Meio Ambiente analisar qualquer intervenção nos referidos cursos

hídricos, por se tratar de interesse local.

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44

O artigo 4º da Lei Estadual 16.242 arrola as competências do Instituto

das Águas, apontando para a proteção do meio ambiente, entre elas:

“(...)

II – elaborar, executar e controlar planos, programas, ações e projetos

técnicos de proteção, conservação, recuperação e gestão de recursos

hídricos superficiais e subterrâneos, preservando e restaurando

aspectos quantitativos e qualitativos das águas;

III – planejar, executar e fiscalizar os serviços técnicos de engenharia

e administrativos necessários para o controle de problemas de erosão,

cheias e inundações, degradação de fundos de vales e poluição das

águas;

IV – elaborar normas técnicas para projetos de prevenção e controle

de erosão, de drenagem e controle de cheias e inundações e de

preservação, conservação e recuperação de áreas degradadas,

visando à melhoria quantitativa e qualitativa das águas, bem como

acompanhar e fiscalizar, em sua esfera de atribuições, a execução e a

manutenção de serviços e obras relacionadas à sua área de atuação;

(...)”

Causa estranheza à lei elencar medidas de proteção ao meio ambiente

para combater cheias e erosão, buscando a limpeza de rios e córregos e o órgão

autorizar a canalização de águas, em imóveis que nem mesmo há declaração de

utilidade pública e interesse social.

Lembrando ainda que o Instituto das Águas do Paraná é o órgão

executivo gestor do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos –

SEGRH/PR tendo por finalidade oferecer suporte institucional e técnico à efetivação

dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH/PR) instituída pela

Lei nº 12.726/99.

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45

Também é finalidade do Instituto das Águas do Paraná o exercício das

funções de entidade de regulação e fiscalização do serviço de saneamento básico,

integrado pelos serviços públicos de abastecimento de água potável, esgotamento

sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas

pluviais urbanas nos termos da Lei nº 11.445/07.

O Instituto das Águas é responsável pelo planejamento e execução de

ações e projetos técnicos de proteção, conservação, recuperação e gestão de recursos

hídricos superficiais e subterrâneos para preservar e restaurar aspectos quantitativos e

qualitativos das águas; monitoramento da qualidade e quantidade dos recursos hídricos;

execução de serviços técnicos de engenharia para controle de problemas de erosão,

cheias e inundações, degradação de fundos de vales e poluição das águas; difusão de

informações sobre recursos hídricos, elaboração e implantação do plano estadual de

recursos hídricos e planos de bacias hidrográficas e funcionamento dos comitês de

bacias, além de gerir o fundo estadual de recursos hídricos.

Pelo exposto, conclui-se que outorga para canalização de rio pelo

Instituto das Águas contraria os objetivos da legislação que a criou e lhe deu atribuições

e que seu âmbito de atuação é pertinente aos recursos hídricos estaduais e não

municipais razões pelas quais, se requer a anulação das Portarias de Outorga de

Direito de Uso para fins de canalização de cursos d’água.

III - A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão do ônus da prova é perfeitamente cabível no caso em

discussão. O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que se apliquem à defesa dos

direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que tenha cabimento, os

dispositivos do Código de Defesa do Consumidor.

O artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8.078/90, é expresso ao admitir a

inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de Defesa do Consumidor, na

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46

medida em que é hipossuficiente o autor, segundo as regras comuns da experiência

como bem esclarece o texto legal, in verbis:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão

do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do

Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,

segundo as regras ordinárias de experiência;”

Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também ao âmbito de

proteção ao meio ambiente, pois o Ministério Público ao ajuizamento de ações civis

públicas está em franca desvantagem perante o demandado.

Assim, cabe ao requerido provar que não contribui com a

degradação ambiental ao outorgar direito de uso para fins de canalização,

intervindo em área de preservação permanente e contribuindo com enchentes e

alagamentos. Tal será comprovado mediante a realização da perícia.

Aliás, no sentido de pagamento da perícia pelo demandado, já se

manifestou à jurisprudência:

“7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS

CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas

demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente. Ministério

Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis

públicas que estão em franca desvantagem perante os demandados.

Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao meio

ambiente, é cabível a inversão do ônus da prova e a atribuição dos

custos da perícia, pois o Ministério Público e demais co-legitimados

ao ajuizamento de ações civis públicas estão em franca desvantagem

perante os demandados. Edcl 70002338473 - 4ª Cam. Civ. - TJRS - j.

04.04.2001 - rel. Des Wellington Pacheco Barros.

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47

Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão do ônus da prova

no que tange às análises necessárias para avaliação do grau de dano e malefícios de

cunho ambiental

IV - A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

É obrigação do Poder Público zelar pelo meio ambiente.

Há evidente perigo de problemas futuros para a população que reside em

locais contíguos aos cursos d’água canalizados.

Não se conhece com exatidão as conseqüências dessa interferência em

área de preservação permanente, mas se sabe que com a canalização haverá mudança no

lençol freático, no tipo de vegetação, na velocidade e volume do rio, córrego ou curso

d’água com fatores negativos para aquela bacia e para os terrenos localizados em

regiões mais baixas. Aumentando a vazão e velocidade das águas, aumenta-se o risco de

erosão, alagamentos e enchentes de terrenos mais baixos, já que a percolação é

dificultada pela impermeabilização do solo.

Desta forma, é relevante que o Instituto das Águas do Paraná se

abstenha de conceder novas outorgas para fins de canalização de cursos d´agua em

especial em áreas urbanas, haja vista interesse local e proibição de canalização nos

termos da legislação apontada.

Outro fator é que a própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente

de Curitiba tem entendimento contrário a canalização de cursos d’água e que para

autorizar empreendimentos exige dos empreendedores Relatório Ambiental

Prévio. Além disso, as canalizações poderão agravar as cheias diante da elevada

taxa de impermeabilização do solo na região de Curitiba, impactando as sub-

bacias hidrográficas.

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É clara a necessidade de se conceder a antecipação da tutela. Estão

presentes, para tanto, os requisitos previstos no artigo 273 do Código de Processo Civil,

pois é inequívoco que as outorgas para fins de canalização não se tratam de direito de

uso, mas mera usurpação do ato administrativo buscando não interesse público, mas a

mera utilização do terreno por seus proprietários. Há fundado receio de dano irreparável

ou de difícil reparação, com possíveis alagamentos e cheias nos terrenos mais baixos e

não existe perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.

Inequívoco o interesse coletivo consistente na devida cautela por parte do

poder público ao exigir do empreendedor Relatório Ambiental Prévio e Estudo de

Impacto de Vizinhança e assim diante da ausência de tais documentos que contemple

todas as situações de risco decorrentes de sua obra, bem como as medidas que serão

adotadas para tanto, de forma clara e efetiva, faz-se necessário que antecipe os efeitos

da sentença e assim impeça novas canalizações.

O fundado receio de dano irreparável trata da demonstração do fundado

temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, em se permitindo o início e

continuidade da construção, esta não venha mais a ser paralisada e que se conclua

mesmo ao arrepio da lei e da vontade dos Curitibanos que residem nas proximidades.

No presente caso, há desnecessidade de justificação prévia, no caso de

concessão da antecipação da tutela, uma vez que a parte requerida está agindo contra o

interesse público, posto que se almeja o acautelamento e a salvaguarda do meio

ambiente e a demora na concessão da tutela antecipada pode levar ao perecimento do

direito.

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou favorável a concessão de

tutela antecipada em questões ambientais:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA

– AGRAVO DE INSTRUMENTO – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA COM

BASE NOS ARTS. 12 DA LEI 7.347/85 E 84, § 3º, DA LEI 8.078/90 –

VIOLAÇÃO DOS ARTS. 535, II, 131, 165, 458, II, E 522 DO CPC:

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INEXISTÊNCIA – PRESSUPOSTOS DA ANTECIPAÇÃO – SÚMULA

7/STJ. 1. Acórdão suficientemente fundamentado, que se limitou ao

exame da decisão interlocutória recorrida, que concedeu antecipação de

tutela em ação civil pública movida para proteger os adquirentes de

imóveis em conjuntos habitacionais localizados em zona

predominantemente industrial, a fim de acautelar os interesses

ambientais e dos consumidores. Alegação de ofensa aos arts. 131, 165,

458, II, e 522 do CPC que se afasta. 2. Questões pertinentes ao mérito

da causa não deveriam ter sido analisadas e, por isso, inexiste omissão

no julgado. 3. Hipótese em que o julgador de primeiro grau e o Tribunal

vislumbrou risco de danos à saúde das pessoas. Exame de ofensa à lei

federal que esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 4. Recurso especial

conhecido em parte e, nessa parte, não provido. Acórdão Vistos,

relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de

Justiça "A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e,

nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do (a) Sr (a).

Ministro (a)-Relator (a)." Os Srs. Ministros Castro Meira, Humberto

Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com a

Sra. Ministra Relatora. (REsp 1090252/SP, RECURSO ESPECIAL

2008/0202852-0, Relatora Ministra ELIANA CALMON (1114), Órgão

Julgador T2 – SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento 18/12/2008,

Data da Publicação/Fonte DJe 18/02/2009)

Pelas razões expostas, é que se requer a Vossa Excelência a

concessão de antecipação de tutela para que determine ao Instituto das Águas do

Paraná que abstenha de conceder novas outorgas para fins de canalização de

cursos d’água na cidade de Curitiba, haja vista que contrárias a legislação

ambiental e desprovidas de estudos de impacto ambiental, relatório ambiental

prévio e estudo de impacto de vizinhança devidamente analisados pela Secretaria

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Municipal de Meio Ambiente. Além disso, não existe qualquer demonstração de

interesse social ou utilidade pública nos casos de concessão de outorgas para fins

de canalização que justifiquem a intervenção em área de preservação permanente.

V) OS PEDIDOS

I - a concessão da tutela antecipada nos termos anteriormente

delineados e sua confirmação;

II - a citação por Oficial de Justiça do representante legal do Réu, com

o permissivo do artigo 172, parágrafo 2º, do CPC, para querendo, responder e acompanhar

os termos da presente, sob pena de serem considerados como verdadeiros os fatos

descritos;

III – a modificação do ônus da prova, atribuindo-se ao Réu a obrigação

em apresentar provas quanto aos fatos noticiados, haja vista tratar-se de questões

pertinentes ao meio ambiente, aplicando-se portanto, a responsabilidade objetiva;

IV - a condenação do Requerido em obrigação de não fazer, sob pena

de multa diária em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência e devidamente recolhido

ao Fundo Estadual do Meio Ambiente - FEMA - consistente em se abster de conceder

outorgas para fins de canalização de cursos d’água na cidade de Curitiba, estendendo-se

a os efeitos da sentença para todas as cidades do Paraná;

V – a condenação do Réu em obrigação de fazer, consistente em

revogar ou anular as outorgas já concedidas para fins de canalização e não mais renová-

las, dando-se ciência aos interessados da necessidade de recomposição das áreas

degradadas, posto que contrárias a legislação ambiental, tudo com a devida fiscalização;

VI – que todas as intimações do Ministério Público sejam feitas

pessoalmente, na pessoa do Promotor de Justiça em atividade na Promotoria de

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Proteção ao Meio Ambiente, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, n.251, Rebouças,

Curitiba- Paraná, conforme dispõe o art. 236, §2º, do CPC;

VII - protesta-se ainda por todos os meios de prova em direito admitidas,

inclusive depoimento pessoal do representante legal do Requerido, prova pericial, juntada

de documentos e oitiva de testemunhas;

VIII - a procedência da ação em todos os seus termos, condenando-se

o Requerido ao pagamento das despesas processuais e verbas honorárias de

sucumbência, cujo recolhimento deverá ser feito ao Fundo Especial do Ministério

Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998

(DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”,

parte final, da Constituição do Estado do Paraná.

IX - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, nos termos do artigo 18 da Lei n. 7.347/85.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil) reais.

Termos em que,

Pede deferimento.

Curitiba, 22 de agosto de 2011.

Sérgio Luiz Cordoni Promotor de Justiça