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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARULHOS Ação Civil Pública com Pedido de Tutela Antecipada O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Promotor de Justiça do GAESP - Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor que a presente subscreve, com fundamento e legitimado pelos arts. 1º, inciso III, 3º, 5º, caput e §§ 2º, 6º, 127, caput, 129, incisos II e III, 196 da Constituição Federal; arts. 1º, caput e 25, inciso IV, alínea a, da Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts. 91, caput, 97, III e parágrafo único, 217 e 219 da Constituição do Estado de São Paulo; arts. 1º, caput e 103, incisos I,

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARULHOS

 

 

 

Ação Civil Pública com Pedido de Tutela Antecipada

 

 

 

 

 

 

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Promotor de Justiça do GAESP - Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor que a presente subscreve, com fundamento e legitimado pelos arts. 1º, inciso III, 3º, 5º, caput e §§ 2º, 6º, 127, caput, 129, incisos II e III, 196 da Constituição Federal; arts. 1º, caput e 25, inciso IV, alínea a, da Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts. 91, caput, 97, III e parágrafo único, 217 e 219 da Constituição do Estado de São Paulo; arts. 1º, caput e 103, incisos I, VII, alínea a e VIII, da Lei Complementar Estadual n.º 734/93 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo); arts. 1º, inciso IV, 5º, caput, 12 e 21, da Lei Federal n.º 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública); arts. 81, parágrafo único, incisos I, II e III, 82, inciso I, 113, 116 e 117 da Lei Federal nº

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8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor); arts. 2º, caput, 5º e 6º da Lei n.º 8.080/90 e art. 2º, caput e o seu § 1º, da Lei Complementar Estadual nº 791/95, vem ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, observando-se o procedimento comum ordinário, em face do HOSPITAL MENINO JESUS DE GUARULHOS, que deverá ser citado na pessoa de seu representante legal, na Rua Córrego Valadão, 454, Guarulhos, São Paulo, pelos motivos de fato e de direito a seguir descritos.

 

 

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

 

 

A Constituição Federal, em seu artigo 129, II, determina competir ao Ministério Público, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição Federal, promovendo as medidas necessárias a sua garantia.

O Art. 197 do texto constitucional determina que as ações e serviços de saúde são de relevância pública, assim esclarecendo: "São de relevância pública as ações e serviços de saúde , cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa jurídica de direito privado".

Portanto, da análise conjunta dos dois dispositivos constitucionais mencionados, conclui-se que um dos objetivos pretendidos foi o de efetivamente possibilitar a atuação do Ministério Público frente aos

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Poderes Públicos e aos particulares que executam serviços de relevância pública em prol da sociedade.

Conforme será demonstrado, diversas normas de caráter obrigatório estão sendo desrespeitadas pelo Hospital, normas provenientes do Ministério da Saúde, da Secretaria da Saúde e da Vigilância Sanitária, colocando, em conseqüência, em perigo a saúde dos destinatários dos serviços.

A situação produzida pelo requerido é dramática, distante da lei e da Constituição Federal, porque os usuários estão desprovidos da prestação de um serviço de mínima qualidade, circunstância que somente tem como conseqüência o agravamento da condição do doente.

O direito constitucional de acesso à saúde pressupõe um serviço digno e com condições satisfatórias de higiene, segurança, pessoal e organizacional, fatores imprescindíveis ao desempenho do serviço essencial em questão.

O requerido, ressalte-se, presta, constitucionalmente, serviço de relevância pública (artigo 197 da CF). Afetado acentuadamente esse serviço, prejudicada estará toda a população, potencialmente usuária.

Sempre é bom lembrar que a população é titular do interesse transindividual à prestação adequada dos serviços essenciais, tendo os prestadores o dever de executá-los. Não podem estes, sob qualquer pretexto, simplesmente ignorar as normas existentes, pois muitas vezes a população é desprovida da possibilidade de se descolar para outras unidades de saúde e acaba utilizando os serviços deficientemente prestados, sendo colocadas em risco a vida e a saúde dos usuários. Desavisada população, porque ao verificar a entidade designar-se hospital, maternidade, etc – ainda mais sendo entidade particular e que atende pelo "SUS" – pressupõe que o

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local dispõe de estrutura mínima, o que, no caso, não ocorre.

Pondere-se que a Constituição Federal, igualmente, em seus artigos 127, caput, 129, inciso III; a Constituição do Estado de São Paulo, em seu artigo 91; a Lei Federal nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) em seu art. 25, inciso IV, alínea "b"; e a Lei Complementar Estadual nº 734, de 26 de novembro de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo), em seu art. 103, inciso VIII, cometem ao Ministério Público legitimação para o ajuizamento da ação civil pública para a defesa, em juízo, dos interesses difusos e coletivos.

A conclusão da Organização Pan-americana da Saúde e do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde, enumerada na Série Direito e Saúde nº 1 - Brasília, 1994, firmou que "O conceito de ações e serviços de relevância pública, adotado pelo artigo 197 do atual texto constitucional, norma preceptiva, deve ser entendido desde a verificação de que a Constituição de 1988 adotou como um dos fundamentos da República a dignidade da pessoa humana. Aplicado às ações e aos serviços de saúde, o conceito implica o poder de controle, pela sociedade e pelo Estado, visando zelar pela sua efetiva prestação e por sua qualidade. Ao qualificar as ações e serviços de saúde como de relevância pública, proclamou a Constituição Federal sua essencialidade. Por "relevância pública" deve-se entender que o interesse primário do Estado, nas ações e serviços de saúde, envolve sua essencialidade para a coletividade, ou seja, sua relevância social. Ademais, enquanto direito de todos e dever do Estado, as ações e serviços de saúde devem ser por ele privilegiados. A correta interpretação do Artigo 196 do texto constitucional implica o entendimento de ações e serviços de saúde como conjunto de medidas dirigidas ao enfrentamento das doenças e suas

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seqüelas, através da atenção médica preventiva e curativa, bem como de seus determinantes e condicionantes de ordem econômica e social. Tem o Ministério Público a função institucional de zelar pelos serviços de relevância pública, dentre os quais as ações e serviços de saúde, adotando as medidas necessárias para sua efetiva prestação, inclusive em face de omissão do Poder Público".

Dessa forma, está o Ministério Público legitimado para a propositura da presente ação civil pública.

 

DOS FATOS

 

 

Conforme demonstram os documentos integrantes do inquérito civil n.028/2000 (Gaesp n.124/99) que acompanha a presente inicial, o "Hospital Menino Jesus de Guarulhos S.A" não vem atuando de maneira correta, eficiente e digna na área da saúde, já que se encontra prestando um serviço de péssima qualidade, colocando em perigo a saúde e a vida dos destinatários dos serviços ditos de relevância pública.

Trata-se de um Hospital geral, privado, de grande porte, contratado do SUS (com pequeno atendimento a particulares), localizado na rua Cônego Valadão, n. 454, Vila Augusta, município de Guarulhos – SP. O Hospital Menino Jesus, praticamente o único estabelecimento privado que mantém convênio com o SUS (Sistema Único de Saúde) para atendimento em pediatria no Município de Guarulhos, compõe-se dos seguintes setores: Centro Obstétrico, Pré-Parto, Centro Cirúrgico, Maternidade, Pediatria, Berçário, Pronto Socorro (infantil e adulto), Semi-Intensiva, Clínica Médica,

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Central de Materiais, Farmácia, Enfermarias, Ambulatórios, Serviço de Nutrição e Dietética, Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico e Lavanderia. No entanto, suas especialidades médicas básicas são: clínica pediátrica, clínica gineco-obstétrica, clínica cirúrgica e clínica médica.

Ressalte-se, desde já, que foram realizadas inúmeras visitas fiscalizatórias, dentre elas as do Cremesp - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (fls.407/419), do Coren-SP - Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (fls.03/24; fls.58/59; fls.69/70; fls.402/405; fls.507/512 e fls.523/531), e do CVS - Centro de Vigilância Sanitária (fls.259/264; fls.270/271; fls.452/454 e fls.540/581). Evidencie-se que a última visita fiscalizatória realizada pelo Coren-SP, em 17/08/2000, teve a participação do Ministério Público do Estado de São Paulo, através do Gaesp (Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor). Deve ser salientado também que em todas as inspeções, sem exceção, foram constatadas infindáveis irregularidades que se perpetuam no tempo. Pondere-se que desde a primeira visita fiscalizatória, realizada pelo Cremesp, no dia 24/10/97 (há três anos), foram constatadas diversas irregularidades (principalmente no Centro Cirúrgico e no Centro Obstétrico - fls.279/293), que persistem até os dias atuais, isto é, são históricas. Todas as denúncias suscitadas (fls.12; fls.17; fls.23; fls.173 e fls.456/457) foram corroboradas pelos órgãos mencionados.

Os documentos colhidos e analisados na fase procedimental do inquérito civil comprovaram a existência de inúmeras situações inseguras e deficiências, no que concerne a praticamente quase todos os serviços prestados pelo Hospital, com especial destaque para o Centro Obstétrico, Centro Cirúrgico e Enfermarias. Com a falta de recursos materiais e humanos infere-se que a própria

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infra-estrutura do Hospital encontra-se debilitada. Outrossim, resta claro que todos os problemas, sérios e graves, pelo qual o Hospital está passando, atinge justamente os hipossuficientes, quais sejam, os pacientes internados, aqueles que se servem dos serviços dos prontos socorros, ambulatórios, consultórios médicos e até mesmo os pacientes que porventura venham a se utilizar de quaisquer outros serviços prestados pelo Hospital. Ademais, é mister não se olvidar que grande parte dos pacientes são gestantes (de médio a alto risco) e recém-nascidos, o que implica cuidado redobrado.

As visitas fiscalizatórias realizadas por todos os órgãos citados (Cremesp, Coren-SP e CVS) e pelo Ministério Público demostraram de forma contundente e robusta a total ausência de infra-estrutura, impossibilitando um adequado e satisfatório atendimento médico à população.

No que tange à organização administrativa do Hospital, relevante destacar algumas observações feitas pelo Cremesp: não possui organograma; não há regimento interno do corpo clínico (aguarda adequação à Resolução do Conselho Federal de Medicina n.1481/97); não há aplicação das normas constantes nos manuais de procedimentos técnicos; ausência de Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (embora haja Comissão específica para realização desse controle) e de Comissão de Farmácia e Medicamentos. O CVS - Centro de Vigilância Sanitária, que desde o final do ano de 1997 está fiscalizando o Hospital Menino Jesus , informou que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar não é atuante e que os procedimentos de enfermagem são executados de forma imprópria, havendo uma deficiente supervisão de técnicos e auxiliares de enfermagem por parte dos enfermeiros (fls.261).

Convém aduzir a respeito da existência de estoques de materiais e equipamentos em diversas unidades

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(setores) de atendimento a pacientes, sem a menor organização, dificultando sobremaneira a efetivação do controle. No dizer do CVS: "Diversos equipamentos e peças de mobiliário encontravam-se nos ambientes de assistência e nas áreas de circulação" (fls. 552).

O Centro Obstétrico e o Pré-Parto são unidades contíguas (a sala de pré-parto localiza-se no interior do centro obstétrico) que se comunicam através de um porta estreita, de forma a impossibilitar a circulação das macas da sala do pré-parto para o centro obstétrico. Ressalte-se que as gestantes e os funcionários do Hospital, em especial médicos e enfermeiros, retiram-se da sala do pré-parto, devidamente paramentados, e passam por um corredor lateral onde há pessoas circulando (não pertencentes aos quadros do Hospital), para chegarem ao centro obstétrico. Cabe observar, todavia, que durante todo esse trajeto, tanto as pacientes (gestantes) quanto os funcionários, já paramentados, contaminam-se e acabam infectando todo o ambiente do Centro Obstétrico, de modo a provocar sérios riscos à saúde dos recém-nascidos e de suas mães.

No setor de Pré-Parto as gestantes recebem acompanhamento da evolução de sua gestação, sendo realizados todos os exames (como por exemplo o de "toque") para que possam passar, com segurança, ao Centro Obstétrico. Em que pesem tais considerações, deve-se ter em vista que o Hospital não oferece aos médicos e enfermeiros área física adequada e suficiente para realização do procedimento de lavagem das mãos, prática indispensável, viabilizando o contato inseguro destes profissionais com as gestantes e recém-nascidos (menos resistentes e, por isso, mais propensos às infecções hospitalares). Diante dessa caótica situação, os médicos e enfermeiros realizam o procedimento de lavagem das mãos no

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banheiro dos pacientes . Conforme ressaltou o Coren-SP: "....se faz necessário a constante lavagem das mãos, porém não existe local apropriado, sendo utilizado nestes casos o banheiro das pacientes" (fls. 524). Na sala de pré-parto foram encontradas seringas já preparadas, com solução em seu interior e sem qualquer identificação, impossibilitando precisar o conteúdo das mesmas. Constatou-se a existência de diversas soluções que apresentavam datas de troca e validade vencidas, mas que eram utilizadas normalmente nos procedimentos de enfermagem (fls. 523). As roupas e os campos cirúrgicos (panos próprios destinados aos pacientes a fim de que haja uma delimitação da área da intervenção cirúrgica) que já foram utilizados são separados em área física localizada defronte ao banheiro - região esta que apresenta elevados índices de contaminação - para posterior encaminhamento à Central de Esterilização. Mencione-se também que as luvas de procedimento cirúrgico e de enfermagem são reutilizadas, máxime porque foram encontradas várias delas (sujas e usadas) acondicionadas em local diverso do lixo hospitalar. Tais atitudes, imprudentes e inseguras, revelam flagrantemente a falta de organização e infra estrutura do Hospital. Acrescentou o Cremesp que a sala de Pré-Parto não dispõe de pia para lavagem das mãos e nem de cardiotocógrafo. Embora haja fontes fixas de ar comprimido, 2 (dois) leitos encontram-se privados de sua utilização, em decorrência da distância estabelecida entre as instalações das fontes e os próprios leitos (fls. 410).

O Centro Obstétrico é composto por três salas (A, B e C). Na sala "A", destinada à realização de partos normais, constataram-se as seguintes irregularidades: o equipamento de anestesia não está em funcionamento; os berços aquecidos não apresentam sensor, de modo a impossibilitar a medição e controle da temperatura dos mesmos; não existem sondas

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próprias para aspiração, sendo apenas encontrado um aspirador, só que sem registro de data da troca do frasco. A sala "B", destinada à realização de cesáreas e curetagens, não dispõe de fonte fixa de oxigênio e nem de torpedo de oxigênio, além de possuir equipamento incompleto de anestesia. Constatou-se também que o oxímetro e o cardioscópio apresentam defeitos. Deve ser salientado que em uma das visitas realizadas pelo Coren-SP foi encontrada uma mosca sobre o campo cirúrgico que recobria uma paciente, cujo procedimento já havia terminado (fls. 508). A sala "C", reservada principalmente para cesáreas, não dispõe de iluminação auxiliar com bateria, possuindo um aparelho de anestesia antigo e sem utilização. Verificou-se a existência de um carrinho de anestesia que, apesar de estar em condições de funcionamento, estava mal conservado, sujo e empoeirado, sendo também encontrada soluções com datas de validade vencidas. Diversos materiais, como alavancas (instrumento utilizado para parto com fórceps), campos cirúrgicos e caixas de instrumental cirúrgico apresentavam datas de esterilização vencidas . No corredor havia um carrinho de emergência com ampola de glucamato de cálcio sem data de validade (fls. 528), não estando equipado com desfibrilador e nem com monitor cardíaco (fls. 509). Destacou o Cremesp a existência de cânulas de entubação infantis com diâmetros impróprios para a utilização em neonatos. Havia também cânulas infantis e de adultos com datas de validade vencidas (fls.411). O CVS destacou que o Centro Obstétrico não apresentava os seguintes ambientes para a execução de procedimentos e de atividades de apoio: sala de guarda e preparo de anestésicos, área para assistência de recém-nascido, posto de enfermagem e sala de serviços, sala de utilidades com tanque, depósito de material de limpeza com tanque, bem como vestiário de barreira para sala de parto. Não estava instalado sistema de maca "transfer".

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No Berçário normal e Patológico foram ressaltadas as seguintes irregularidades: soluções com datas de troca vencidas; incubadoras sem controle de temperatura e fototerapia sem proteção de lâmpadas ("....as lâmpadas estavam apenas fixadas por suas extremidades, deixando o recém-nascido exposto a um acidente, pois qualquer movimento mais brusco poderiam cair em cima do recém-nascido" - fls. 524); dificuldade de circulação dos funcionários devida à má disposição de berços e incubadoras, que ficam encostados uns aos outros. Pondere-se também não haver rotina de higienização das incubadoras e berços dos recém-nascidos, sendo realizada tão-somente quando possível, segundo informações da própria enfermeira responsável pelo setor (fls. 69), de modo a elevar sobremaneira os índices de infecção do Hospital.

No Berçário normal constatou-se a existência de uma caixa para descarte de material pérfuro cortante montada de maneira incorreta e em lugar inadequado: "....a caixa para descarte de material pérfuro cortante estava em posição inadequada (diretamente sobre o piso, situação que obriga os funcionários a "arremessar" seringas usadas e outros materiais e a recolhê-los, quando erram, elevando os riscos de acidentes)" - fls. 509. Essa atitude demonstra claramente a falta de organização e de infra estrutura do mencionado Hospital. No Berçário patológico observou-se a não existência de toalha de papel bem como o fato de incubadoras apresentarem superaquecimento. Interessante mencionar a falta de preparo e experiência das auxiliares de enfermagem e da pediatra plantonista, máxime porque não se mostraram habilitadas a acionar o respirador diante da solicitação do Coren-SP, sendo necessário chamar o anestesista do Centro Obstétrico (fls. 510). Assinale-se também que todos os prontuários examinados possuíam registros sumários, não havendo quaisquer anotações criteriosas e detalhadas sobre o exame dos

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recém-nascidos. Observou com propriedade o Cremesp que os banhos nos recém-nascidos são efetivados mediante a utilização de um único sabonete (de glicerina) para todos.

No Berçário Patológico "(...) as isoletes não possuem termômetro, não apresentam data de limpeza terminal, enquanto os recém-nascidos permanecem em nebulização sem qualquer proteção auricular" - fls. 58. Foi apurada inexistência de papel toalha, imprescindível para a realização correta do procedimento de lavagem das mãos.

Quanto à Maternidade torna-se necessário transcrever algumas passagens destacadas pelo Coren-SP: "Em análise do livro de enfermagem, detectou-se que havia uma paciente com hemorragia, sangramento vaginal, sem nenhuma avaliação médica"; "Na página n. 05, datada de 28/01/00, consta que uma paciente, por ordem de uma senhora chamada ‘Vanda’, determinou a colocação de uma venoclise com soro fisiológico, e medicada conforme prescrição médica. Devemos destacar o fato de que a ‘Sra. Vanda’ é leiga, mas realiza partos, e ainda não possui inscrição no Conselho Regional de Enfermagem bem como não é médica. Seus conhecimentos resumem-se em experiência" - fls. 525 e fls. 529 e fotografia de fls. 533). Tal fato, dentre outros, gerou a requisição de inquérito policial por parte deste Promotor de Justiça (fls. 535).

No tocante ao exercício profissional de enfermagem, relevante se torna a transcrição de alguns dispositivos legais.

De acordo com o art. 12 da Lei n. 7.498/86 o "técnico de enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do

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trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento de assistência de enfermagem....".

Conforme o art. 13 da Lei n. 7.498/86 o "auxiliar de enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços de auxiliares de enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento...".

Dessa forma depreende-se que o técnico de enfermagem é um auxiliar direto do enfermeiro e por este é supervisionado, ao passo que o auxiliar de enfermagem tem apenas conhecimentos básicos de enfermagem, não possuindo bases científicas, razão pela qual a lei previu que a sua atuação deva ser supervisionada pelo enfermeiro. Com relação ao atendente de enfermagem, cabe lembrar que é um profissional que exerce atividades de fácil execução e atendimento, não precisando ser alfabetizado. Essa atividade não exige conhecimento científico, requerendo apenas e tão-somente destreza manual.

Dispõe, ainda, o art. 15 da Lei n. 7.498/86: "As atividades referidas nos artigos 12 e 13 desta Lei, quando exercidas em instituições de saúde, públicas e privadas e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob a orientação e supervisão de enfermeiro". A previsão legal é exatamente esta para impedir riscos desnecessários aos pacientes, é uma norma de segurança à vida e à saúde.

Como visto, o Hospital não observa tais dispositivos legais.

Em prosseguimento à análise dos diversos setores do hospital constatou-se que na sala de internação da Maternidade e Ginecologia, localizada no 3o andar do

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Hospital, não havia sabão líquido e nem papel toalha. Observou-se que o setor de Maternidade apresenta um elevado número de evasão de pacientes e uma grande quantidade de pedidos de alta, elaborados pelos próprios pacientes, sem que estes estivessem em condições adequadas para saírem do Hospital. No posto de enfermagem da Maternidade foram encontrados inaladores e umificadores, acondicionados em caixa plástica, em mal estado de conservação e em péssimas condições de higiene (pano ao fundo da caixa mofado, com resíduos de medicação e com fios de cabelo). A caixa de retirada de ponto, com material curativo, apresentava-se nas mesmas condições. Constatou-se a presença de materiais com datas de troca vencidas enquanto os materiais, considerados esterilizados, estavam sem a data de esterilização.

O setor de Pediatria possui instalações extremamente precárias, sendo encontrados inúmeros materiais sem identificação e com datas de troca e esterilização vencidas, não havendo também tomadas em quantidade suficiente (há necessidade de desconectar um aparelho para conectar outro). O CVS aduziu a respeito da insuficiência de recursos humanos para atender à demanda: "...o estabelecimento de saúde continuava contando com importante déficit de recursos humanos no que se refere ao pessoal de enfermagem, assim como não dispunha de médico e enfermeiro presentes nas 24 horas do dia na Unidade de Internação Pediátrica" (fls. 550). Constatou-se a existência de pessoas leigas exercendo normalmente e com a aquiescência dos membros da equipe de enfermagem, atividades privativas de profissional enfermeiro: "Seria o caso da Sra. Vanda Pedro G. Farias, que realiza partos e prescreve medicação a ser ministrada nas parturientes, e Sra. Eleonete Soares Medeiros, que é a responsável pela equipe de enfermagem da pediatria. Estas duas senhoras

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assumem posições para as quais não possuem qualquer qualificação, e pior ainda, com a anuência da equipe de enfermagem" (fls. 526). Apurou-se também que a enfermeira supervisora, responsável pelo setor de Pediatria, não está inscrita no Conselho Regional de Enfermagem: "....a Sra. Eleonete se apresentou, informando ser a responsável pela Pediatria. Foi solicitado seu número de Coren e esta informou não se lembrar, solicitando que aguardássemos um instante pois iria buscar seu RG que estava na bolsa, no vestiário e que iria nos fornecer o número, não sendo mais localizada...." (fls. 531). O CVS informou a respeito da exigüidade de médicos pediatras: "....no dia 02 de junho de 2000 (data da visita de inspeção) somente um médico encontrava-se trabalhando na Unidade de Internação Pediátrica, embora múltiplas dezenas de crianças estivessem internadas..." (fls. 546). De outra parte, o procedimento de administração de medicação é realizado de maneira incorreta e sem a menor assepsia: "as duas auxiliares de enfermagem se dividem, preparam e administram as medicações prescritas sem o mínimo de cuidados de assepsia passando de leito em leito sem realizar ao menos a lavagem das mãos....." (fls. 69). Os prontuários dos pacientes permanecem em pequenas mesas, ao alcance de todos, sem garantia da privacidade das crianças e do sigilo das informações neles constantes (fls.412). Ressaltou o Cremesp: "Os prontuários na pediatria mostraram, quando analisados, história e exame físico muito sumários ou ausentes e evoluções sumárias ou ausentes. Em diversos casos os registros médicos são absolutamente ilegíveis; em muitos prontuários o médico responsável não estava identificado com o nome e o número da inscrição no Cremesp" - fls.413. O CVS também constatou

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irregularidades no preenchimento dos prontuários dos pacientes.

O Pronto Socorro divide-se em duas alas: a de adultos e a de crianças. Possui instalações precárias e insuficientes, devendo ser ressaltada a ausência de sala de emergência. Na ala de adultos, um dos consultórios de clínica médica não possui pia para lavagem das mãos, enquanto a sala de medicação não apresenta área física adequada para atendimento aos pacientes. A ala pediátrica apresenta 03 (três) salas de observação. Uma dessas salas, equipada com de 8 (oito) leitos - berços, não possui pia e contava com apenas 06 (seis) fontes fixas de oxigênio e de ar comprimido, quantidade insuficiente para atender os pacientes. A outra sala, com espaço físico inadequado, dispõe de 09 (nove) leitos e, embora possua 04 (quatro) fontes de oxigênio, uma delas não conta com fluxômetro. A última sala, igualmente equipada com 09 (nove) leitos, apresenta também uma área física insuficiente para atender à demanda, acrescentando-se que, das 04 (quatro) fontes de oxigênio, duas delas não têm fluxômetro. A sala de sutura e inalação contém 08 (oito) fontes de oxigênio, mas apenas 04 (quatro) delas têm fluxômetro.

Convém salientar que as Unidades de Internação (Enfermarias) não possuem lavatórios e pontos para instalação de gases medicinais (oxigênio e ar comprimido), além do vácuo clínico não estar dimensionado e quantificado adequadamente, conforme constatação do CVS (fls. 547). As instalações sanitárias mostravam-se insuficientes para o número de leitos, não havendo um mínimo de conforto ambiental, já que os consultórios médicos e as enfermarias clínicas não possuem iluminação e ventilação adequadas. Outro ponto a ser considerado refere-se ao número excessivo e à inadequada disposição de leitos e berços nas enfermarias, de modo a dificultar o atendimento de urgência e emergência dos quadros clínicos e a circulação dos

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pacientes. Deve ser colocado em relevo, todavia, que em muitas enfermarias o número de leitos ultrapassava o número máximo de leitos estabelecido na Portaria n. 1.884/GM, de 11.11.94, do Ministério da Saúde (fls. 547). As instalações do setor de Pediatria apresentam um número excessivo de leitos, sendo colocados uns ao lado dos outros, de modo a dificultar a circulação dos funcionários e dos pacientes do Hospital (crianças de tenra idade). As enfermarias também não possuem bombas de infusão e materiais de emergência, considerados básicos e essenciais. Questionada pelo Coren-SP a enfermeira responsável pelo setor respondeu que: "...a instituição não dispõe de tais equipamentos por custar caro..." (fls.58). No carrinho de emergência foram encontrados materiais com datas de esterilização vencidas, tais como: tubos de ensaio; pacote com material denominado cirurgia plástica e cânula de entubação n.05. O CVS constatou a existência de equipamentos danificados (balança descalibrada, ventilador e autoclave horizontal) e separados para manutenção, em locais de circulação, gerando dificuldades de locomoção aos pacientes e funcionários do Hospital (fls. 553). Necessário destacar: Em uma das enfermarias, que funcionava de maneira improvisada, foi encontrada uma criança com quadro clínico epidemiológico evidente de varicela, acompanhada da mãe. No entanto, na oportunidade a menor ainda não tinha sido diagnostica e medicada, não havendo nenhum prontuário médico sobre o seu real estado de saúde (fls. 412). As instalações das enfermarias de clínica médica e de cirurgia, por sua vez, encontram-se extremamente precárias, havendo pouca ventilação e excesso de leitos. As enfermarias de observação não dispõem de materiais, equipamentos e de fontes de oxigênio em número suficiente para atender à demanda, além de não assegurar privacidade aos pacientes. Apurou-se haver tão-somente 04 (quatro) banheiros para 41 (quarenta e

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um) leitos. Imprescindível destacar que os prontuários dos pacientes desse setor possuem as mesmas irregularidades anteriormente descritas, ou seja, história, exames físicos e evoluções médicas sumárias ou ausentes bem como prescrições médicas ilegíveis, não havendo identificação do médico responsável. As enfermarias, de um modo geral, apresentam insuficiência de recursos humanos, conforme relatório do CVS: "...observou-se uma criança na enfermaria de pediatria, que durante a nebulização estava recebendo oxigênio direto nos olhos, fato este ocorrido devido à ausência do profissional de enfermagem, que no momento do incidente, havia se retirado para cobrir outro setor" (fls. 549).

Os postos de enfermagem, de um modo geral, não são dotados de equipamento de emergência completos. A unidade de internação pediátrica apresenta as seguintes irregularidades: não dispõe de carrinho de emergência; aspirador portátil; não há controle eficaz dos medicamentos; não há identificação dos frascos de soro, embora estes sejam normalmente administrados nas crianças; ausência de identificação dos berços no que tange ao nome e número do paciente; ausência de controle do número de horas do uso da lâmpada empregada na execução dos procedimentos de fototerapia; ausência de quarto de isolamento adequado, além de péssimas condições gerais de higiene ("observamos em uma enfermaria uma bacia com diversas chupetas de bebês submersas numa solução suja e turva, portanto, em condições precaríssimas de higienização" - fls.561). O CVS quando da realização da visita fiscalizatória presenciou em um dos postos de enfermagem a preparação de soro sendo realizada juntamente com a feitura de curativo. Ressaltou o CVS: "Na enfermaria 112-A, durante a inspeção, foi verificado um berço aquecido desligado, onde havia uma criança sem roupa e descoberta, sendo que, segundo informações

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de funcionários, acabara de ocorrer um curto-circuito neste berço. De fato, na enfermaria havia um forte cheiro de queimado. Na realidade, este berço deveria ter sido imediatamente retirado do local e a criança remanejada para outro berço em condições de uso...." - fls.560. Em uma das salas da enfermaria foram encontradas banheiras infantis de plástico para uso coletivo e comadres amontoadas e sujas, não sendo utilizados protetores plásticos individuais, quando do banho das crianças. Todos os procedimentos de esterilização (de máscaras de inalação) são realizados de maneira incorreta.

Lamentável é a situação das Unidades Assistenciais - Ambulatórios. A Unidade de Urgência e Emergência não possui local adequado para prestação dos serviços de saúde e nem de equipamentos e conjuntos de emergência completos. Havia excesso de leitos de observação. A Unidade de Ambulatório Infantil não dispunha de rede de gases suficiente para atender à demanda, não havendo fluxômetro na sala de inalação. Não há sala destinada aos serviços de enfermagem e nem sala de reidratação. A Unidade de Ambulatório Adulto conta com um espaço físico reservado impróprio para acondicionamento e armazenamento conjunto de roupas e materiais de limpeza, havendo fluxo quanto de sua utilização. A sala de endoscopia não dispõe de sala de recuperação pós-anestésica. Quanto às Unidades de Internação Adulto, Infantil e Neonatologia as irregularidades são as seguintes: excesso e inadequada disposição dos leitos e berços no interior dos ambulatórios, de modo a causar interferências na circulação dos funcionários e pacientes dificultando sobremaneira o atendimento dos quadros clínicos de urgência e emergência. Praticamente em todas as enfermarias, clínicas pediátricas e nos serviços de neonatologia, conforme dados do Centro de Vigilância Sanitária (fls. 564), há

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excesso de leitos, superando a capacidade operacional do Hospital.

Vale a pena mencionar que o setor de Terapia - Nutrição Parenteral Prolongada foi interditado pelo CVS em razão de inadequadas condições de funcionamento (fls.556/557).

O Centro Cirúrgico é dotado de 03 (três) salas cirúrgicas, precariamente equipadas. Tanto na sala de Recuperação Pós Anestésica quanto no Centro Cirúrgico constatou-se a existência de um torpedo de oxigênio solto, sem qualquer fixação, aparelho este que é imprescindível para os casos de emergência. Também não se encontra instalado sistema de maca "transfer". O CVS apurou que a lavagem e anti-sepsia das mãos dos profissionais da equipe cirúrgica são feitas de forma inadequada. O procedimento de esterilização/desinfecção das salas se dá de maneira incorreta, mediante utilização de formol, quando o correto seria o emprego de óxido de etileno. Observou-se que as almotolias das salas estavam sem tampa e acondicionadas em recipientes que apresentavam coloração clara e sem registro da data da última desinfecção. O CVS constatou no corredor de serviços, que dá acesso às salas de cirurgia, a existência de 03 (três) pacientes aguardando cirurgia vascular, fato este que demonstra a situação deplorável do Hospital. Mas não é só, merecem especial destaque as péssimas condições de manutenção, limpeza e higiene do corredor, máxime porque havia em suas dependências armazenamento do soro, cadeiras e roupas sujas em "hampers". O centro cirúrgico também não apresentava os seguintes ambientes para a execução de procedimentos e de atividades de apoio: sala de guarda e preparo de anestésico, posto de enfermagem e serviços, depósito de material de limpeza com tanque, sala de utilidades, rouparia, sala de preparo de medicamentos e guarda de material,

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sanitário e vestiário para ambos os sexos. Não estava instalado sistema de maca "transfer".

A sala de Recuperação Pós-Anestésica não possui equipamentos e materiais básicos e essenciais para o atendimento de quadros clínicos de emergência.

Durante a visita de inspeção o CVS constatou a ausência de lâmpadas indicadoras do acionamento do feixe na porta de acesso à sala de Radiologia Médica (fls. 542).

Pondere-se que em um dos postos de enfermagem do Centro Cirúrgico havia bandejas com materiais esterilizados vencidos. Tanto a Central de Materiais como o Centro Cirúrgico não dispõem de enfermeira responsável, sendo estes setores supervisionados por auxiliares de enfermagem. Deve ser ressaltado que os atendentes de enfermagem são incumbidos da esterilização dos instrumentos cirúrgicos. Constatou-se a não existência de uma sala própria para Emergência e Sutura. Conforme averiguado, a sala considerada pelo Hospital com sendo de sutura possui um espaço físico pequeno e inadequado, dispondo de materiais esterilizados mas sem qualquer identificação e data de esterilização. Foram encontradas luvas de procedimento reesterilizadas, bem como almotolias vencidas e sem data de troca (fls. 70).

A Semi Intensiva não possui equipamentos em quantidade suficiente para atender à demanda, não dispondo de mínimas condições de atendimento, apesar de estarem internadas várias crianças em estado grave, nas salas desse setor, sem assistência dos funcionários da enfermagem. Tamanha é a desídia do Hospital que foi encontrado, nas proximidades do posto de enfermagem da Semi Intensiva, um cinzeiro com várias pontas de cigarro (fls. 59), não devendo ser olvidado que esse setor é considerado crítico, máxime porque atende

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crianças com graves problemas de saúde. Dessa forma, a não presença dos enfermeiros durante as 24 horas do dia e a falta de higiene podem provocar danos incomensuráveis à saúde dos menores.

Oportuno mencionar um fato ocorrido durante a última visita realizada pelo Coren-SP (realizada no dia 17/08/00), por determinação e com a participação do Ministério Público, ao Hospital Menino Jesus: Foi encontrada, no setor de "Semi Intensiva", uma criança com 03 (três) meses de idade (Wesley W. Peixoto Silva - admitido no Hospital no dia 12/06/00), com sérios problemas respiratórios, apresentando diagnóstico de insuficiência respiratória aguda. Solicitadas explicações sobre o caso, a enfermeira responsável pelo setor de Pediatria (Sra. Taluia) informou ter solicitado vaga a outros hospitais para remoção do lactente, não obtendo sucesso. O médico responsável pelo setor (Dr. José Armando S. Bittencour - CRM-52.847), por sua vez, asseverou com certa frieza que o menor sofreu 08 (oito) paradas cardio-respiratórias mas que insistia ainda em sobreviver de forma surpreendente. Afirmou também ser o local inadequado para tratamento da criança e não ter conseguido vaga para remoção do lactente. Entretanto, no dia 21/08/00, quatro dias após a visita fiscalizatória, o menor cerrou os olhos à vida. Saliente-se que o Ministério Público, no dia seguinte à visita (18.08.00) oficiou urgentemente ao Superintendente do Hospital das Clínicas (Dr. José D’Elia Filho) solicitando disponibilização de vaga na UTI, a fim de que o menor tivesse tratamento digno e eficiente (fls.518/519). No entanto, era tarde demais. Ressalte-se que, se o Hospital Menino Jesus tivesse prestado um atendimento de saúde digno, adequado e eficiente, provavelmente a história de Wesley seria outra.

Interessante a transcrição do disposto no art. 4o da Portaria CVS-9 do Conselho de Vigilância Sanitária: "A presença obrigatória de médicos e enfermeiros,

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nas 24 horas do dia, no interior das dependências de Unidade de Emergência e de Terapia Intensiva, obedecerá a legislação em vigor e os regulamentos específicos".

Um ponto que merece ser analisado é que o Hospital Menino Jesus não dispõe de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), máxime em se tratando de um hospital de grande porte. No dizer do CVS: "...jamais figurou entre as prioridades deste estabelecimento de assistência à saúde construir adequada Unidade de Urgência e Emergência (Pronto Socorro) e uma adequada UTI (Unidade de Terapia Intensiva), esta última considerada obrigatória para hospitais com mais de 100 (cem) leitos, nos termos da legislação em vigor" - fls. 563.

No que tange à Central de Materiais, que não dispõe de manual de rotinas e procedimentos, cumpre dizer que há fluxo de materiais, isto é intercomunicação entre materiais contaminados e materiais esterilizados. Conforme destacou o Coren-SP, o controle de esterilização não é realizado de forma adequada e efetiva. O Cremesp informou que a guarda dos materiais se dá de maneira inadequada e que não há mapa de controle das temperaturas das autoclaves (fls.414). O CVS constatou a não existência de área física suficiente para a execução dos procedimentos, não havendo também depósito com tanque para acondicionamento do material de limpeza, bem como acesso para manutenção de equipamentos (fls. 554). Destaque-se: ..."a enfermeira de plantão desconhecia o uso do teste biológico para controle de eficácia do processo de esterilização, controle este considerado obrigatório pela legislação em vigor" - fls. 554.

No setor de Farmácia o Cremesp apurou a falta de antibióticos recomendados no tratamento de

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infecções hospitalares, constatando também que a farmácia estava suprida minimamente de medicamentos básicos. O controle de medicamentos não se dá de maneira eficiente e correta, máxime porque são estocados remédios em quase todas as unidades assistenciais, e não em um local centralizado, dificultando sobremaneira a realização desse procedimento (fls. 555). Consigne-se que a geladeira, onde alguns medicamentos são acondicionados, não dispunha de termômetro, de forma a impossibilitar o controle da temperatura (fls. 415).

No Serviço de Nutrição e Dietética não há balcão exclusivo para o preparo das carnes (fls.415). O Serviço de Lavanderia , apresenta espaço físico inadequado, devendo ser salientado o fato de as lavadoras encontram-se na área considerada suja (fls. 416). Ressaltou o CVS que não há local apropriado para armazenamento de roupas sujas nas Enfermarias e no Centro Cirúrgico, ficando as mesmas em "hampers", dispostas ou em banheiras ou nas áreas de circulação (fls. 553). Determinados funcionários transportam as roupas sujas nas mãos, enquanto outros a transportam em carrinhos abertos, cobertos tão-somente com um pano, não havendo, desse modo, acondicionamento adequado.

No que tange à Unidade de Lactário, não supervisionada regularmente pela nutricionista, os problemas referem-se às precárias condições de higienização, salientando que os procedimentos de esterilização, principalmente de mamadeiras, são realizadas de maneira incorreta.

Interessante mencionar que as unidades de apoio técnico (Serviço de Nutrição e Dietética, Lactário) e logístico (Lavanderia) não possuem acesso coberto às unidades de internação, inviabilizando o transporte eficaz e seguro dos alimentos, roupas e materiais, máxime porque os

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funcionários ficam expostos às intempéries da natureza (chuva, sol, etc).

Pondere-se que as condições de higienização do Hospital não são satisfatórias. Conforme salientou o CVS, a última limpeza geral da caixa d’água foi realizada no dia 20.08.98 (há mais de 2 anos), embora a recomendação aponte para a efetivação de limpeza a cada 6 (seis) meses. Desse modo, salta aos olhos que a periodicidade de limpeza geral da caixa d’água não é adequada. Constatou-se a não segregação dos resíduos, havendo a utilização de saco plástico branco leitoso para disposição conjunta dos resíduos infectantes e comuns. Em determinados setores, conforme já foi mencionado linhas acima, os recipientes para descarte de resíduos pérfuro-cortantes encontravam-se dispostos no piso e posicionados de maneira inadequada, expondo a riscos de acidentes os funcionários do Hospital e os próprios pacientes. Convém mencionar que os mobiliários e extintores de incêndio da unidade pediátrica não são conservados, já que apresentavam poeira. O CVS ressaltou que o Hospital não dispõe de depósitos apropriados para armazenamento de materiais de limpeza.

Analisando a escala de enfermagem, o Coren-SP constatou que o pronto socorro adulto, o pronto socorro infantil, o berçário e o centro cirúrgico não possuem enfermeiros durante às 24 horas do dia, principalmente no período noturno. Destaque-se: "Não foi localizado nenhum enfermeiro escalado para o período noturno, sendo informado pela enfermeira ‘Taluia’ que durante a noite a instituição não possui profissional enfermeiro. Também não foi localizado nenhum enfermeiro escalado nas unidades de maternidade e centro obstétrico..." - fls. 403. Deve ser salientado que a escala de enfermagem do Hospital não estava devidamente organizada, considerando a ausência da denominação de cada setor bem como dos horários

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dos serviços, de modo a tornar sua leitura ininteligível. As anotações de enfermagem também são produzidas de maneira irregular, sem qualquer identificação, ou seja, sem a aposição da assinatura de quem as confeccionou, além de não ser indicada a hora em que tais anotações foram feitas. Da análise dos prontuários de determinadas pacientes observou-se a presença de técnicos e auxiliares de enfermagem atuando em procedimentos obstétricos, realizando inclusive partos expulsivos, sem a supervisão de médico ou enfermeiro: "...o prontuário da paciente Karina Aparecida Firmino Soares, parto cesárea no dia 02/05/99, observamos no verso da ficha Obstétrica na Evolução do Parto a assinatura da funcionária Miriam Miguel da Silva (Coren-SP 02571/98), técnica de enfermagem, no campo destinado ao ‘examinador’ " - fls. 05.

Situação semelhante ocorre nos prontuários médicos da Maternidade e do Berçário, conforme constatou o Cremesp: "...o modelo de impresso utilizado simultaneamente para evolução e prescrição não reserva o necessário espaço para o registro adequado da evolução de casos que, por sua própria natureza, exigem a observação contínua e detalhada do médico. A história e o exame físico são sumários ou inexistentes. Diversas anotações são ilegíveis e nem sempre o médico responsável está adequadamente identificado" - fls. 412. O CVS também observou essas mesmas irregularidades no preenchimento dos prontuários dos pacientes (fls. 552).

O CVS aduziu que o Hospital não dispõe de equipe médica e de enfermagem quantitativamente dimensionada e distribuída de forma proporcional à concentração de atividades e demanda por atendimentos que se verificam nos períodos matutino, vespertino e noturno, nas 24 horas de todos os dias úteis, nos finais de semana e nos

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feriados, e, ainda, observaram-se relações (proporcionais profissionais) "médicos/número de pacientes" que eram tecnicamente inaceitáveis (fls. 566/567).

Questão que se revela extremamente preocupante é a referente à infecção hospitalar, máxime porque os procedimentos de esterilização não são realizados de maneira correta. Mister ter em vista que o Hospital Menino Jesus não possui Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, além de não contar com profissionais capacitados (falta de treinamento, informações técnicas e reciclagens de médicos e enfermeiros) e em quantidade suficiente para realização do procedimento de esterilização dos equipamentos, materiais e instrumentos cirúrgicos.

Desse modo, as irregularidades descritas demonstram claramente a situação caótica e insustentável pela qual o Hospital está passando, situação esta que gera medo, insegurança, intranqüilidade, angústia, revolta e inconformismo a todos os destinatários do serviço de saúde, em especial aos seus pacientes, não devendo ser olvidado que o Hospital Menino Jesus presta serviços de Maternidade e Pediatria, atendendo gestantes e recém-nascidos de médio a alto risco.

Os vários órgãos portanto, historicamente, inclusive o próprio Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, procuraram, após a indicação das irregularidades, a solução dos problemas, e o que se viu foi a permanência insistente dos mesmos, gerando a necessidade da intervenção do Judiciário para de uma vez por todas regularizar a grave situação. A própria atuação de cunho coercitivo-punitivo do "CVS" não propiciou os resultados necessários.

DO DIREITO

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Todos os problemas até agora elencados em muito prejudicam a prestação de serviços por parte do Hospital, inclusive, colocando em risco a vida e a saúde de seus usuários. Não fosse um Hospital importante para a região seria o caso de pleitear-se a sua interdição até que fosse regularizada a situação, conforme já deve ter notado Vossa Excelência. No entanto, esta solução resultaria em prejuízo aos destinatários dos serviços que preferem um serviço deficiente e perigoso a um inexistente.

O Hospital fere o princípio constitucional da eficiência na prestação do serviço público essencial de Saúde - porque também ocorre o atendimento via "SUS" - colocando-se em risco a saúde e vida de inúmeros pacientes.

Vislumbra-se, portanto, a necessidade do Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV), em defesa dos direitos fundamentais e serviços essenciais previstos pela Carta Magna - vida, dignidade da pessoa humana, saúde - garantir a eficiência dos serviços prestados pelo Hospital.

Repise-se que a Constituição Federal, em seu Art. 129, inciso II, confere ao Ministério Público a tarefa institucional de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos por ela assegurados.

O Ministério Público tem um dever irrenunciável e impostergável de defesa do povo, cabendo-lhe exigir dos Poderes Públicos e dos que agem em atividades essenciais o efetivo respeito aos direitos constitucionalmente assegurados na prestação dos serviços considerados relevantes.

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O Art. 196 da Carta Magna estabelece a saúde um direito de todos e dever do Estado. O Art. 197, como já ressaltado, prescreve serem as ações e serviços de saúde como de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Como serviço essencial, dedução lógica é a de que devem ser observadas e cumpridas as normas vigentes, devendo um hospital ter organização e estrutura correlatas à sua condição, propiciando um atendimento adequado e satisfatório aos pacientes.

Ora, a Lei n. 10.083, de 23 de setembro de 1998 (Código Sanitário do Estado de São Paulo), em seu capítulo I, que trata dos estabelecimentos de assistência à saúde, preconiza as seguintes regras:

"Os estabelecimentos de assistência à saúde deverão possuir condições adequadas para o exercício da atividade profissional na prática de ações que visem à proteção, promoção, preservação e recuperação da saúde" (art. 53).

"Os estabelecimentos de assistência à saúde deverão possuir quadro de recursos humanos legalmente habilitados, em número adequado à demanda e às atividades desenvolvidas" (art. 54).

"Os estabelecimentos de assistência à saúde deverão possuir instalações, equipamentos, instrumentais, utensílios e materiais de consumo indispensáveis e condizentes com suas finalidades e em perfeito estado de conservação e funcionamento, de acordo com as normas técnicas" (art. 55), "cabendo ao responsável técnico pelo estabelecimento ou serviço, o funcionamento adequado dos equipamentos utilizados nos procedimentos diagnósticos e

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terapêuticos, no transcurso da vida útil, instalados ou utilizados pelos estabelecimentos de assistência à saúde" (art. 56 "caput").

"Todos os estabelecimentos de assistência à Saúde deverão manter de forma organizada e sistematizada, os registros de dados de identificação dos pacientes, de exames clínicos e complementares, de procedimentos realizados ou terapêutica adotada, da evolução e das condições de alta, para apresentá-los à autoridade sanitária sempre que esta o solicitar, justificadamente, por escrito" (art. 58, "caput").

Assim, claramente se percebe que Hospital Menino Jesus não vem atendendo nem minimamente a tais preceitos.

Como uma das irregularidades mais graves que o Hospital apresenta refere-se às infecções hospitalares, torna-se interessante mencionar a legislação pertinente à matéria: Lei n. 9.431, de 06 de janeiro de 1997, que dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção pelos hospitais do país, de programa de controle de infecções hospitalares; Decreto n. 77.052, de 19 de janeiro de 1976, que dispõe em seu artigo 2o, inciso IV que no exercício da atividade fiscalizadora os órgãos estaduais de saúde deverão observar, entre outros requisitos e condições, a adoção, pela instituição prestadora de serviços, de meios de proteção capazes de evitar efeitos nocivos à saúde dos agentes, clientes, pacientes e dos circunstantes; e a Portaria n. 2.616 do Ministério da Saúde, de 12 de maio de 1998, que contém diretrizes e normas para a prevenção e o controle das infecções hospitalares, objetivando a máxima redução possível da incidência e da gravidade das infecções dos Hospitais.

Inerente se torna a transcrição de alguns dispositivos legais da Portaria acima mencionada. Por primeiro,

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entretanto, é mister tem em vista que as infecções hospitalares constituem risco significativo à saúde dos usuários dos hospitais, e sua prevenção e controle envolvem medidas de qualificação de assistência hospitalar, de vigilância sanitária e outras, tomadas no âmbito dos Estados, do Município e de cada hospital, atinentes ao seu funcionamento.

O art. 5 o da Portaria n. 2.616/98 estatui : "A inobservância ou o descumprimento das normas aprovadas por esta Portaria sujeitará o infrator ao processo e às penalidades na Lei n. 6.437, de 20 de agosto de 1977, ou outra que a substitua, com encaminhamento dos casos ou ocorrências ao Ministério Público e órgão de defesa do consumidor para aplicação da legislação pertinente (Lei n. 8.078/90 ou outra que a substitua).

A Portaria n. 2.616/1988 dispõe em seu Anexo I que os Hospitais deverão constituir Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, órgão de assessoria à autoridade máxima da instituição e de execução das ações de controle de infecção hospitalar (item 1). Tal Comissão deverá ser composta por profissionais da área da saúde, de nível superior, formalmente designados (item 1.1). Os membros executores da Comissão serão, no mínimo, 2 (dois) técnicos de nível superior da área de saúde para cada 200 (duzentos) leitos ou fração deste número com carga horária diária, mínima de 6 (seis) horas para o enfermeiro e 4 (quatro) horas para os demais profissionais (item 2.5.1). Um dos membros executores deve ser, preferencialmente, um enfermeiro (item 2.5.1.1). Nos Hospitais com leitos destinados a pacientes críticos, a Comissão deverá ser acrescida de outros profissionais de nível superior da área da saúde (item 2.5.1.3). Para fins desta Portaria, consideram-se pacientes críticos: pacientes de terapia intensiva (adulto, pediátrico e neonatal, pacientes de berçário de alto risco, dentre outros (item 2.5.1.3.1).

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Compete à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar elaborar, implementar, manter e avaliar programa de controle de infecção hospitalar, adequado às características e necessidades da instituição, contemplando, no mínimo, ações relativas a: capacitação do quadro de funcionários e profissionais da instituição, no que diz respeito à prevenção e controle das infecções hospitalares (item 3.1.3). É também da competência da Comissão: elaborar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico-operacionais, visando limitar a disseminação de agentes presentes nas infecções em curso no Hospital, por meio de medidas de precaução e de isolamento (item 3.5); adequar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico-operacionais, visando à prevenção e ao tratamento das infecções hospitalares (item 3.6).

 

O Anexo II da Portaria n. 2.616/98 conceitua infecção hospitalar: é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (item 1.2). As infecções no recém-nascido são hospitalares, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas a bolsa rota superior a 24 horas (item 2.2.4).

O Anexo IV da mencionada Portaria trata da Lavagem das Mãos, que consiste na fricção manual vigorosa de toda a superfície das mãos e punhos, utilizando-se sabão/detergente, seguida de enxágue abundante em água corrente (item 1). É, isoladamente, a ação mais importante para a prevenção e controle das infecções hospitalares (item 2). O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos .... (item 3). A lavagem das mãos deve ser realizada tantas vezes quanto necessária, durante a

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assistência a um único paciente..... (item 4). A lavagem das mãos e anti-sepsia cirúrgica das mãos é realizada sempre antes dos procedimentos cirúrgicos (item 4.1).Devem ser empregadas medidas e recursos com o objetivo de incorporar a prática da lavagem das mãos em todos os níveis da assistência hospitalar (item 6). A distribuição e a localização de unidades ou pias para lavagem das mãos, de forma a atender à necessidade nas diversas áreas hospitalares, além da presença dos produtos, é fundamental para a obrigatoriedade da prática (item 6.1).

No caso, a ausência de cumprimento de tais normas básicas e a realização de procedimentos incorretos vêm causando sério perigo aos destinatários dos serviços do Hospital, o que deve ser superado o quanto antes.

Sintomática é a situação em que o Hospital se encontra, pois não oferece aos pacientes um serviço digno e de qualidade, não transmitindo em hipótese nenhuma conforto e segurança aos pacientes que adentram suas portas.

Assim, em suma, a Constituição Federal assegura a todos o direito de acesso à saúde, estando implícito no conceito de saúde, Hospitais que primem, em um primeiro plano, pelo respeito ao ser humano, pelos princípios éticos e morais. Num segundo momento, é inerente à atividade de relevância pública que o Hospital tenha uma organização estrutural correlata à sua condição, bem como recursos humanos e materiais suficientes a um atendimento adequado e satisfatório aos pacientes.

Considerando que a saúde é um serviço essencial, dedução lógica é a de que devem ser observadas e cumpridas as normas vigentes, mesmo por um hospital particular, máxime porque atende pelo "SUS".

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Infere-se, a partir de toda a situação exposta linhas acima, que o serviço de saúde prestado pelo Hospital não deve apresentar as irregularidades apontadas, que afetam não um paciente isolado ou um grupo determinado de pacientes, mas toda a população destinatária em potencial dos serviços.

Cabe lembrar que a presente demanda tem por escopo a defesa dos interesses transindividuais de todos os cidadãos potencialmente usuários do serviço de saúde do Hospital em questão, função institucional do Ministério Público, assegurada pela Constituição Federal em seu Art. 129, inciso III, inclusive no que concerne às entidades particulares, porque os serviços de saúde foram considerados constitucionalmente de relevância pública, sendo que tal característica, por óbvio, diz respeito aos terceiros que os executam.

A atuação ministerial neste âmbito não é novidade, sendo que já ocorreram outras ações contra entidades particulares, resultando sucesso em Juízo. Como exemplo, podemos referir os autos n. 2623/99 da 3a. Vara Cível de Osasco, quando foi pleiteada a interdição do "Hospital e Maternidade João Paulo II S/C Ltda.", tendo o Nobre Magistrado assim decidido: "(...) 5. Defiro, pois, a medida liminar, nos moldes requeridos pelo Ministério Público, para determinar a interdição do estabelecimento hospitalar do requerido, indicado nos autos. 6. A liminar será cumprida com a cautela necessária a não provocar nem colocar em risco, de forma alguma, a vida ou saúde dos pacientes e recém nascidos ali internados. Para tanto oficie-se com urgência à Secretaria de Estado da Saúde para que acompanhe o cumprimento da liminar pelo oficial de justiça, tomando as providências complementares e de saúde pública recomendadas, tudo certificando-se (...)" .

DO PEDIDO:

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Em face de tudo quanto foi exposto, o Ministério Público requer seja determinada a citação do HOSPITAL MENINO JESUS DE GUARULHOS S.A, na pessoa de seu representante legal, na Rua Córrego Valadão, n. 454, Guarulhos, São Paulo, a fim de que conteste a ação, no prazo legal, sob pena de suportar os efeitos da revelia (art. 319 do CPC), conforme o disposto no artigo 285, última parte, do Código de Processo Civil.

Ao final, requer-se a procedência da ação, condenando-se o requerido, além do pagamento das custas e demais despesas processuais, à obrigação de fazer (e de não fazer conforme o a seguir elencado), consistente na prestação adequada, eficiente, contínua, segura e ininterrupta dos serviços de saúde do Hospital Menino Jesus, propiciando a adequação de todos os fatores essenciais como recursos humanos, infra-estrutura, materiais e equipamento, sanando todas as irregularidades apontadas no item "Dos Fatos" e a seguir selecionadas, em especial as constantes no Centro Obstétrico, Centro Cirúrgico e nas Enfermarias, tudo no prazo de 90 dias, especificando, no entanto, o prazo de 150 dias somente para os itens "b", "k", "l", "m", "q", "r" e "t", de modo a oferecer à população atendimento mais digno e de melhor qualidade (o que não deverá influenciar as exigências e atribuições administrativas próprias do CVS):

a. Suprir o Hospital, sanando as insuficiências e ausências constatadas, de todos os equipamentos e materiais básicos (providenciando em número suficiente), tais como: cardiotocógrafo, sonda própria para aspiração, aspirador comum e portátil, oxímetro, cardioscópio, conjunto completo de anestesia, desfibrilador, monitor cardíaco, inalador, umificador, cânula de entubação infantil com diâmetro próprio para utilização em neonatos, protetor

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plástico individual para uso infantil, fluxômetro, balança, berço aquecido com sensor (para medição e controle de temperatura); proteção auricular aos recém-nascidos (quando em nebulização), geladeira com termômetro (para acondicionamento dos medicamentos e para controle da temperatura), toalha de papel, sabão líquido, sabonete de glicerina (para banho nos recém-nascidos), isolete com termômetro, bomba de infusão e outros materiais de emergência considerados básicos e essenciais;

b. Instalar fontes fixas de ar comprimido, de torpedo de oxigênio, de pontos para gases medicinais (oxigênio e ar comprimido), de iluminação auxiliar com bateria e de tomadas em quantidade suficiente para atender à demanda (há necessidade de desconectar um aparelho para conectar outro);

c. Consertar, reformar e manter em manutenção permanente todos os equipamentos quebrados e mal conservados do Hospital, imprescindíveis para o atendimentos dos quadros clínicos de emergência;

d. Suprir todo o Hospital (principalmente a Unidade de Internação Pediátrica) de médicos e enfermeiros em quantidade suficiente e durante as 24 horas do dia para atender à demanda, conforme preceitua o art. 4o da Portaria CVS-9 do Centro de Vigilância Sanitária;

e. Distribuir ou remanejar os enfermeiros para os setores com deficiências de funcionários, de forma proporcional à concentração de atividades;

f. Efetuar a esterilização de todos os equipamentos (máscaras de inalação, berços e incubadoras de recém-nascidos, banheiras infantis de plástico para uso coletivo, comadres, etc), materiais (alavancas, campos cirúrgicos, tubos de ensaio, cânulas de entubação, etc) e instrumentos cirúrgicos existentes no Hospital, principalmente os constantes no Centro Obstétrico, Berçário, Centro Cirúrgico e nas Enfermarias;

g. Efetivação de higienização completa em todas as dependências do Hospital;

h. Efetuar controle adequado das temperaturas das incubadoras e berços dos recém-nascidos, que apresentam superaquecimento;

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i. Disponibilizar área física adequada e suficiente com instalação de pias para realização do procedimento de lavagem das mãos de médicos e enfermeiros, prática indispensável, de forma a evitar a infecção hospitalar (considere-se que os médicos e enfermeiros efetuam o procedimentos de lavagem das mãos em banheiros comuns);

j. Regularização de todos os procedimentos de assepsia, lavagem das mãos e de esterilização, mediante a capacitação, treinamento e reciclagem de médicos e enfermeiros;

k. Suprir o Hospital das seguintes áreas físicas próprias e adequadas para execução dos procedimentos e atividades de apoio: sala de emergência, sala de guarda - preparo de medicamentos e anestésicos, sala para assistência de recém-nascido; postos de enfermagem, quarto para isolamento, sala para depósito de material de limpeza e vestiários com sanitários para ambos os sexos (conforme orientação do CVS);

l. Instalar nas salas de observação, pediátrica, de sutura e de inalação, pias, fontes fixas de oxigênio e de ar comprimido em quantidade suficiente a atender à demanda;

m.Ampliar o espaço físico dos ambulatórios: unidades de urgência emergência e unidades de ambulatório infantil e adulto para instalação de sala para reidratação, serviços de enfermagem, recuperação pós-anestésica (quando da feitura de exame de endoscopia), de sala para acondicionamento de roupas e para armazenamento de materiais de limpeza;

n. Implantar no Hospital sistema para separação adequada e satisfatória de resíduos (lixo hospitalar);

o. Instalar no Hospital, de maneira adequada e em local correto, recipientes para descarte de material pérfuro-cortante;

p. Reorganizar a disposição dos leitos, berços e incubadoras, distribuindo-os ou remanejando-os, de modo a permitir a livre circulação de funcionários e pacientes, irregularidade presente principalmente nos Ambulatórios e Enfermarias (considere-se que o Hospital conta com um número excessivo de leitos, superior à sua capacidade operacional,

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infringindo, desse modo, a Portaria n. 1.884/GM, de 11.11.94, do Ministério da Saúde);

q. Construir novos lavatórios e sanitários nas Enfermarias em quantidade suficiente a atender à demanda, (considerando haver somente 04 banheiros para 41 leitos) e reformar os existentes para instalação de torneiras com fechamento automático, conforme recomendação do CVS - Centro de Vigilância Sanitária (fls. 452);

r. Instalar no Hospital uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva), considerada obrigatória para hospitais com mais de 100 leitos, conforme preconizado pelo CVS - Centro de Vigilância Sanitária a fls. 563, imprescindível para a regularização dos serviços do hospital;

s. Providenciar iluminação e ventilação adequadas nas Enfermarias (de clínica médica e de cirurgia);

t. Revestir as paredes, pisos e mobiliários por materiais lisos, impermeáveis, de fácil limpeza e de cor clara, conforme recomendação técnica do CVS - Centro de Vigilância Sanitária (fls. 452);

u. Adaptar a comunicação do setor de Pré-Parto ao Centro Obstétrico, a fim de que não haja contaminação dos médicos e enfermeiros (já paramentados) durante o trajeto entre os mencionados setores, com a conseqüente infecção do Centro Obstétrico, aonde permanecem as gestantes e os recém-nascidos;

v. Ampliar a porta (estreita) que interliga o Pré-Parto ao Centro Obstétrico, de maneira a permitir a livre circulação das macas de um setor a outro;

w. Disponibilizar espaço físico apropriado e suficiente para acondicionamento das roupas e dos campos cirúrgicos para posterior encaminhamento à Central de Esterilização;

x. Identificar corretamente todos os medicamentos (conteúdo de soluções no interior de seringas e frascos de soros);

y. Identificar os berços e leitos dos pacientes colocando nome e número dos pacientes;

z. Descartar todos os materiais usados (luvas de procedimentos cirúrgicos e de enfermagem) e não utilizar medicamentos com datas de troca ou validade vencidas ("os medicamentos com datas de validade vencidas são utilizados normalmente nos procedimentos"), bem como os materiais com datas de esterilização vencidas;

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aa. Remanejar todos os equipamentos e materiais (soros, cadeiras, roupas sujas em "hampers") que se encontram amontoados, espalhados e dispersos pelos corredores do Hospital;

bb. Instalar sistema de maca "transfer" no Centro Obstétrico e no Centro Cirúrgico;

cc. Treinar e orientar os funcionários do Hospital, especialmente do Setor de Pediatria e Berçário (atendentes de enfermagem, auxiliares de enfermagem e pediatras) a fim de que aprendam manejar corretamente os equipamentos e passem a realizar anotações criteriosas e detalhadas nos prontuários dos recém-nascidos;

dd. Impedir que as pessoas leigas, bem como as atendentes de enfermagem exerçam atividades privativas de enfermeiro ou de médico;

ee. Suprir a Farmácia de todos os medicamentos básicos e essenciais, bem como de antibióticos utilizados no tratamento de infecções hospitalares, de forma a atender à demanda;

ff. Efetuar a centralização dos medicamentos, que se encontram espalhados em diversos setores do Hospital, de maneira que haja um controle eficaz de todo o estoque;

gg. Reformar o Serviço de Nutrição e Dietética para instalação de balcão destinado exclusivamente ao preparo de carnes;

hh. Providenciar que o Lactário seja supervisionado por nutricionista e que as mamadeiras sejam devidamente esterilizadas;

ii. Adequar o Serviço de Lavanderia para acomodação das lavadoras e o depósito das roupas sujas e limpas em ambientes separados (as roupas sujas ficam espalhadas nas áreas de circulação do hospital);

jj. Efetuar a limpeza da caixa d’água, renovando-a a cada 06 (seis) meses, conforme recomendação do CVS - Centro de Vigilância Sanitária;

kk. Reorganizar administrativamente o Hospital, efetuando a elaboração de Organograma e Regimento Interno do Corpo Clínico bem como a criação de Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e Comissão de Farmácia e Medicamentos.

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Nos termos do art. 11 da Lei n. 7.347/95, requer-se seja o requerido condenado ao cumprimento das diversas obrigações de fazer supra mencionadas (ou de não fazer conforme o caso), determinando-se o cumprimento das atividades devidas sob pena de cominação de multa diária, no valor de R$10.000,00 (dez mil reais), em caso de descumprimento da condenação (ou seja, descumprimento de qualquer das obrigações antes mencionadas - geral ou especificamente), quantia que deverá ser destinada ao Fundo Estadual de Reparação de Interesses Difusos Lesados (Decreto Estadual 7.070/87) - art. 13 da Lei n. 7.347/85.

Diante da urgência aguarda-se pela concessão liminar da antecipação da tutela, nos termos do disposto no art. 273, inciso I do CPC e do art. 84, parágrafo 3o, do Código de Defesa do Consumidor, aplicável por força do art. 21 da Lei n. 7.347/85.

A medida liminar urge e impera, já que o provimento da pretensão a final poderá ser inócuo para prevenir os danos causados ao público e à própria saúde pública, uma vez que a população está exposta aos riscos de um Hospital que presta um serviço de saúde inadequado. Relevante é fundamento da lide, pois presentes estão o "fumus boni juris" e o "periculum in mora", nos termos do artigo 12 da Lei n. 7.347/85 e do art. 460, parágrafo 3o do Código de Processo Civil.

Presente está a fumaça do bom direito, que significa a mera plausibilidade de um direito. Dessa forma e, conforme já foi exaustivamente ressaltado, a prestação do serviço de saúde é serviço de relevância pública, e por isso o requerido deve fazê-lo de modo apropriado aos usuários. A obrigação da prestação adequada desse serviço essencial é princípio que deve ser cumprido plenamente à satisfazer a demanda.

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O perigo da demora também está suficientemente ressaltado nesta petição inicial. Existe justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual é preciso que seja concedida liminarmente a tutela pleiteada. Há sério risco à vida e à saúde dos usuários. Como visto, foram indicados casos específicos dramáticos, os quais bem fornecem um idéia do grave risco aos pacientes.

Requer-se também seja oficiado de forma circunstanciada ao Conselho Regional de Medicina, ao Conselho Regional de Enfermagem e ao CVS - Centro de Vigilância Sanitária para que - decorridos 30 (trinta) dias do término dos prazos fixados (90 e 150 dias), antecipadamente (tutela) ou a final - sejam providenciadas visitas fiscalizatórias visando a constatação do efetivo cumprimento da ordem judicial, sob pena de incidência da multa diária de R$10.000,00 (também, portanto, se houver descumprimento da tutela antecipada caso deferida).

Requer-se, por fim, que as intimações do Ministério Público sejam realizadas pessoalmente, na forma da lei, na pessoa do Exmo. Promotor de Justiça Cível da Comarca de Guarulhos, com atribuições para a matéria (cidadania), na Rua José Maurício, n. 99, Centro, Guarulhos, São Paulo, CEP-07011-060, fone: 208-8122/ r. 233.

Protesta-se também pela produção de todas as provas admitidas em Direito, mormente documentos, oitiva de testemunhas, realização de perícias e inspeções judiciais, caso se façam necessárias.

Considerando a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, à vista do disposto no art. 18 da Lei n. 7.347/85 e no art. 87 do Código de Defesa do Consumidor bem como a vedação constitucional por parte do Ministério Público do recebimento

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de honorários advocatícios, deixa-se de postular nesse sentido.

Embora seja, a rigor, inestimável, dá-se à causa, conforme o disposto no art. 258 do Código de Processo Civil, o valor de R$100.000,00 (cem mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, 24 de outubro de 2000.

JOÃO LUIZ MARCONDES JUNIOR CESAR PINHEIRO RODRIGUES

Promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública

e da Saúde do Consumidor - GAESP -

Cassiano Mazon

Estagiário do Ministério Público