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Exegese AT 1.

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Exegese do Antigo Testamento  1 

INTRODUÇÃO

A primeira tarefa do intérprete chama-se exegese. A exegese é o estudo cuidadoso esistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegeseé basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os

destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia. Esta é a tarefa que freqüentemente exige a ajuda do “ perito”, aquela pessoa cujo treinamento a ajudou a conhecer bem o idioma e as circunstâncias dos textos noseu âmbito original. Não é necessário, no entanto, ser um perito para fazer boa exegese.

 Na realidade, todos são exegetas dalgum tipo. A única questão real é “ se você vai serum bom exegeta”. Quantas vezes, por exemplo, você ouviu ou disse: “O que Jesus queriadizer com aquilo foi...” “ Lá naqueles tempos, tinham o costume de...”? São expressõesexegéticas. São empregadas mais freqüentemente para explicar as diferenças entre “eles” e“nós” —   por que não edificamos parapeitos em redor das nossas casas, por exemplo, ou

 para dar uma razão do nosso uso de um texto de uma maneira nova ou diferente  —  por que

o aperto da mão freqüentemente tomou o lugar do “ósculo santo”. Até mesmo quando taisidéias não são articuladas, são, na realidade, praticadas o tempo todo de um modo que segueo bom-senso.

O problema com boa parte disto, no entanto, é (1) que tal exegese freqüentemente éseletiva demais, e (2) que freqüentemente as fontes consultadas não são escritas por “ peritosverdadeiros”, ou seja: são fontes secundárias que também empregam outras fontessecundárias, ao invés das fontes primárias. São necessárias umas poucas palavras acerca decada um destes problemas:

1.  Embora todos empreguem exegese nalgumas ocasiões, e embora muito

freqüentemente semelhante exegese seja bem feita, mesmo assim, tende a serempregada somente quando há um problema óbvio entre os textos bíblicos e a culturamoderna. Posto que realmente deve ser empregada para tais textos, insistimos que é o

 primeiro passo ao ler TODO  texto. De início, isto não será fácil de fazer, masaprender a pensar exegeticamente pagará ricos dividendos no entendimento, e tornaráa leitura, sem mencionar o estudo da Bíblia, uma experiência muito maisemocionante. Note bem, no entanto:  Aprender a pensar exegeticamente não é aúnica tarefa; é simplesmente a primeira tarefa.

O problema real com a exegese “ seletiva” é que a pessoa freqüentemente atribuirá

suas próprias idéias, completamente estranhas, a um texto e, assim, fará da Palavra de Deusalgo diferente daquilo que Deus realmente disse. Por exemplo, um dos autores deste livrorecentemente recebeu uma carta de um evangélico bem conhecido, que argumentou que oautor não deveria comparecer a uma conferência juntamente com outra pessoa bemconhecida, cuja ortodoxia era algo suspeita. A razão bíblica dada para evitar a conferênciafoi 1 Ts 5,22: “ Abstende-vos de toda forma do mal ”. Se, porém, nosso irmão tivesseaprendido a ler a Bíblia exegeticamente, não teria usado o texto dessa maneira. Ora, 1 Ts.5,22 foi a palavra final de Paulo num parágrafo aos tessalonicenses a respeito dasexpressões carismáticas na comunidade. “ Não tratem as profecias com desprezo”, dizPaulo. “ Pelo contrário, testem tudo, e apeguem-se ao que é bom, mas evitem todas as

 formas malignas”. “ Evitar o mal ” tem a ver com “profecias”, que, ao serem testadas,revelam-se não serem do Espírito. Fazer este texto significar alguma coisa que Deus não pretendeu é abusar do texto, não usá-lo. Para evitar erros deste tipo, devemos, aprender a

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 pensar exegeticamente, ou seja: começar no passado, lá e então, e fazer assim com todos ostextos.

2.  Conforme logo notaremos, não se começa consultando os “peritos”. Mas quando fornecessário fazê-lo, devemos procurar usar as melhores fontes. Por exemplo, emMarcos 10,23 (Mt 19,23; Lc 18,24), no término da história do jovem rico, Jesus diz:“Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” Passa aacrescentar: “ É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do queentrar um rico no reino de Deus”. Freqüentemente se diz que havia uma porta emJerusalém chamada o “ Fundo da Agulha”, pela qual os camelos somente poderiamatravessar de joelhos, e com grande dificuldade. A lição desta “ interpretação” é queum camelo poderia realmente passar pelo “ Fundo da Agulha”. O problema desta“exegese”, no entanto, é que simplesmente não é verdadeira. Nunca houvesemelhante porta em Jerusalém, em qualquer período da sua história. A primeira“evidência” que se conhece em prol de tal idéia é achada no século XI d.C., numcomentário de um eclesiástico grego chamado Teofilacto, que tinha a mesmadificuldade com o texto que nós temos. Afinal das contas, é impossível para umcamelo passar pelo fundo de uma agulha, e era exatamente o que Jesus queriaensinar. É impossível para alguém que confia nas riquezas entrar no Reino. Énecessário um milagre para uma pessoa rica receber a salvação, o que é certamente alição das palavras que se seguem: “ Para Deus tudo é possível ”. 

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I. CONCEITOS: HERMENÊUTICA –  EXEGESE - EISEGESE

HERMENÊUTICA. “Procede do verbo grego hermeneuein, usualmente traduzido por interpretar, e do substantivo hermeneia, que significa interpretação ou tradução nostextos de I Cor 12,10 e 14,26. Tanto o verbo quanto o substantivo podem significar traduzir,

tradução, explicar ou explicação. Nas Escrituras o hermenêutes = intérprete ou tradutor (ICor 14,28). A HERMENÊUTICA BÍBLICA  é a  disciplina da Teologia Exegética queensina as regras para interpretar as Escrituras e a maneira de aplicá-las corretamente”.(Bentho, Hermenêutica Fácil e Descomplicada, 2003, p. 55-59).

“EXEGESE é o ato de “extrair” do texto seu significado, em contraste com aeisegese, que é impor ao texto o significado que desejamos que ele tenha. Trata-se de um

 processo complexo e constitui o coração da teoria hermenêutica, cuja tarefa é primeirodefinir o significado pretendido pelo autor (…) para depois aplicá-lo à nossa vida”(Osborne, Grant R. A Espiral Hermenêutica, 2009, p. 69).

“O termo “exegese” procede do substantivo grego eksēgēsis, isto é, “narrativa”,

“explicação” ou “interpretação”. O substantivo procede do verbo eksēgeomai: Lc 24,35; Jo1,18; At 10,8; 15,12.14 e 21,19, abrange os vocábulos contar, explicar, interpretar,descrever, relatar e revelar. O vocábulo é constituído pelo tema verbal composto “ek”, “forade”; "hēgeomai", que se traduz primariamente por “liderar”, “guiar”, “conduzir”, e pelosufixo “sis”, que indica ação. Literalmente quer dizer “conduzo para fora”, “extraio”.” (Bentho, p. 67).

“Enquanto a Exegese consiste em extrair o significado de um texto, mediantelegítimos métodos de interpretação, a EISEGESE consiste em injetar ou introduzir em umtexto, algum significado que o intérprete deseja, mas que na verdade não faz parte domesmo. Em última instância, quem usa a Eisegese, força o texto mediante várias

manipulações, fazendo com que uma passagem diga o que na verdade não diz ” (Bentho, p.68).Portanto, O INIMIGO DA EXEGESE A EISEGESE 

A importância de uma exegese correta. Uma das grandes deficiências de muitos crentes e principalmente pregadores é a falta do conhecimento das regras da Hermenêutica Bíblica esua aplicação, na Exegese Bíblica, para a pregação da Palavra. Com isso é comum ouvirmosdeterminados absurdos, que, muitas vezes, acabam causando enormes contradiçõesdoutrinárias e até mesmo as famosas “heresias de púlpito”. 

As pessoas pensam que basta apenas ler a Bíblia e o Espírito Santo faz o restante.

Sim, é claro que o Espírito Santo age no momento em que lemos a Bíblia. Ele nos dá ailuminação dos textos, mas o Espírito acaba encontrando limites para atuar de forma maisabrangente, pois encontra na vida de muitos cristãos o comodismo na busca do crescimentono conhecimento da Bíblia, entre eles a forma correta de interpretar as Sagradas Escrituras.

O mau uso da Bíblia:1) Displicente: descaso, eventual, indiferente, descomprometido...2) Mágico: amuleto, sorte, conveniente à circunstância, Salmo 91...3) Comprobatório: “A falácia evangélica básica de nossa geração é a do ‘Texto- Prova’,

 processo pelo qual uma pessoa ‘prova’ uma doutrina ou prática simplesmente se referindoa um texto sem observar seu significado original inspirado” (Osborne, 2009, p. 27-28).

O bom uso da Bíblia:1) Só é bíblico o ensino que reflita um abrangente e contextualizado estudo dos textos bíblicos. A Regra Áurea da Interpretação, chamada por Orígenes de “Analogia da Fé”. O

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texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de textosisolados.2) Nenhum ensino está completo se não envolver os dois testamentos e passar pelo centroda escritura que é Jesus Cristo –  Criação, Israel , Cristo, Igreja, Consumação.3) A Bíblia é um livro acima de tudo para a vida. Precisamos entender e atender.

 A verdade não está na doutrina sem vida, nem na vida sem doutrina; 

mas sim na vida que expressa a doutrina, e na doutrina que orienta a vida.

(João Ferreira de Almeida)

Exemplos de mau uso da Bíblia.Alguns levantam uma bandeira dizendo: “A Bíblia é muita clara, não precisa de

interpretação, de discussão” e completam “Deus não é Deus de confusão”. Outra bandeiracomum é a rejeição completa de qualquer fonte externa a Bíblia num estudo bíblico, edefendem que um estudo para ser bíblico deve ser estritamente bíblico: apenas usar a Bíbliae nada mais (teologia ou filosofia).

Walter A. Henrichsen mostra o perigo do mau uso da Bíblia quando se rejeita asistemática e a metódica maneira de estudá-la e aplicá-la: A Escritura pode ser mal aplicadaquando:

  Ignora o que ela diz sobre determinado assunto.  Toma um versículo fora do seu contexto.  Lê uma passagem e a impele a dizer o que ela não diz.  Dá ênfase indevida a coisas menos importantes.  A usa para tentar levar Deus a fazer o que você quer, em vez daquilo que Ele quer

que seja feito. (Métodos de Estudos Bíblicos, 1997, pp. 8-9).

O que tem gerado interpretações erradas?1. Aceitação cega de uma explicação sem investigações.2. Influência de programas e livros.3. Colocação da experiência acima das Escrituras.4. Falta de conhecimento do contexto histórico-cultural.5. Falta de conhecimento e aplicação de regras de interpretação.6. Falta de conhecimento da revelação progressiva de Deus.

Sem a correta interpretação das Escrituras, muitos continuarão entendendo a Bíbliade maneira errada e praticando-a equivocadamente.

Ilustração clássica do crente que, para descobrir a vontade de Deus, abriu a sua Bíbliae colocou o dedo com os olhos fechados na página aberta, e leu:

 —  “Judas[...] retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27,5).  Não satisfeito com esta “revelação de Deus”, decidiu testar de novo o seu método. Na

segunda tentativa, seu dedo caiu em cima da frase: —  “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10,37). 

Achando impossível que Deus estivesse ordenando que se suicida, tentou de novo.Desta vez caiu na frase: —  “O que pretendes fazer, faze-o depressa” (Lc 13,27). 

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Tão radical e improvável foi essa “ordem de Deus” que o irmão decidiu tentar maisuma vez, mas agora para valer. Então leu o seguinte:

 —  “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando”? (Lc 6,46). (SHEDD, Russel. Palavra viva: extraindo e expondo a mensagem. Vida Nova, 2000,

 pp. 65.67).Diante desse quadro, a hermenêutica/exegese é a matéria mais importante no

currículo do estudante da Bíblia, pois um erro de interpretação pode produzir grandesestragos (como no exemplo acima).

Exemplos de bom uso da Bíblia.Há quem pense ser capaz de interpretar passagens bíblicas de forma isolada e

dissociada de qualquer contexto, portanto, para uma que uma boa hermenêutica bíblica sejarealizada, alguns abismos precisam ser transpostos: a) Abismo Cronológico; b) AbismoGeográfico; c) Abismo Cultural; d) Abismo Linguístico; e) Abismo Literário; f) AbismoEspiritual.

Dentre esses abismos (propostos por ZUCK, Roy B. A Interpretação Bíblica, 1994, p. 17-20), seria interessante verificar apenas um para melhor exemplificação da importânciada interpretação bíblica, o abismo cultural. Vejamos:

ABISMO CULTURAL: “Existem gr andes diferenças entre a maneira de agir e de pensardos ocidentais e a das personagens das terras bíblicas. Portanto, é importante conhecer asculturas e os costumes dos povos dos tempos bíblicos. Muitas vezes, a falta deconhecimento de tais costumes ger a interpretações errôneas” (ZUCK, 1994, p. 17). 

Segundo Esdras Costa Bentho, “para compreendermos perfeitamente essa cultura,

expressa principalmente através da linguagem, são necessárias introspecção e empatia comela” (Id. p. 74). 

A exegese correta exige recursos. Qualquer Comentário cuidadoso vai abordar osfatores culturais: Dicionários bíblicos e Enciclopédias Bíblicas também são grandesauxílios.

Portanto, os povos que viveram na época em que os autógrafos foram escritos,tiveram maior habilidade em assimilar o conteúdo bíblico, pois estavam presenciando evivenciando a mesma ou a similaridade da cultura em que viviam os escritores sacros.

Vejamos a importância de conhecermos os aspectos culturais para a aplicação dahermenêutica bíblica:

1. PORQUE JONAS NÃO QUERIA IR PARA NÍNIVE? “Fontes seculares dão conta deque os ninivitas cometiam atrocidades com seus inimigos. Eles decapitavam os líderes dos povos conquistados e empilhavam as cabeças. Às vezes, colocavam numa jaula um chefecapturado e tratavam-no como animal. Era seu costume empalar os prisioneiros, deixandoagonizar até à morte. Por vezes, esticavam as pernas e os braços do prisioneiro e esfolavam-no ainda vivo. Não é de admirar que Jonas não quisesse pregar uma mensagem dearrependimento aos ninivitas! Ele achava que mereciam ser julgados por suas atrocidades(ZUCK, 1994, p. 93)”. 

2. PORQUE ELIAS PROPÔS QUE O MONTE CARMELO FOSSE O LOCAL DE SUA

DISPUTA COM OS 450 PROFETAS DE BAAL? (cf. I Rs 18,16-46) “Os seguidores deBaal acreditavam que este habitasse no Monte Carmelo. Portanto, Elias deixou que eles jogassem em casa. Se Baal não conseguisse fazer cair um raio sobre um sacrifício em seu

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 próprio território, sua fraqueza se tornaria evidente (ZUCK, 1994, p. 94)”. Precisa serlevado em conta ainda, o fato de os cananeus verem em Baal o domínio sobre a chuva, osraios, o fogo e as tempestades, detendo então domínio sobre esses elementos da natureza.

Antes deste episódio houvera uma seca que perdurou por três anos e meio, fato este,que comprovou que Baal não exercia o domínio sobre a chuva, a exemplo do que criam osseus seguidores. Sua incapacidade ainda é demonstrada pelo fato de não conseguir fazerdescer fogo sobre o sacrifício no monte, onde para seus seguidores, era sua própriahabitação.

3. EM I REIS 2,9, QUANDO ELISEU DISSE A ELIAS: “...Peço-te que me toque porherança porção dobrada do teu espírito”, será que ele estava pedindo duas vezes ma is poderespiritual do que Elias tinha? Não, estava expressando o desejo de ser seu herdeiro, seusucessor. De acordo com Dt 21,17, o primogênito de uma família tinha direito de receberem dobro sua parte da herança deixada pelo pai (ZUCK, 1994, p. 97). Portanto, Eliseu nãoambicionava presunçosa e orgulhosamente ter duas vezes mais poder que Elias, masdesejava ser herdeiro da missão profética exercida por Elias.

É preciso remover as diferentes distâncias entre o autor e seus leitores: do “lá eentão” para o “hic et nunc, isto é, aqui e agora”. “Um texto não pode significar o que nuncasignificou” (Fee & Stuart. Entendes o que lês?, 2004, p. 26).  

Portanto, a primeira pergunta que um hermeneuta/exegeta faz ao texto nunca é “o queo texto significa” e sim “o que significou”. É preciso ligar o abismo entre o estudioso e oleigo (leitor) –  o intérprete como mediador: uma das funções do pastor ou pregador leigo éexplicar (interpretar) a Bíblia (Ne 8,8).

Pois, “a missão do intérprete é servir de ponte entre o autor do texto e o leitor”(Martínez, José M. Hermenéutica Bíblica, 1984, p. 34).

Por isso, as preocupações primárias devem ser:- a) A preocupação do estudioso: o que o texto significava (exegese/hermenêutica);- b) A preocupação do leitor e/ou ouvinte: o que o texto significa (aplicação).

Enfim, é preciso clarificar o sentido do texto: o alvo é chegar ao “sentido claro dotexto”, pois, Ex-egesis é “tirar do texto”. 

Como um obstetra espiritual, “la interpretación de un texto es una mayéutica, unaobstetricia espiritual en que el intérprete de por sí no ejerce ninguna función creadora, enel sentido de inventar algo nuevo, sino que solamente debe ser eficaz a modo deinstrumento para hacer salir a luz lo que ya existe en el texto ” (Leo Scheffczyk em

Martínez, José M. Hermenéutica Bíblica, 1984, p. 29), que numa tradução livre soaria: “ainterpretação de um texto é uma maiêutica, uma obstetrícia espiritual na qual o intérprete por si só não exerce nenhuma função criadora, no sentido de inventar algo novo, senão quesomente deve ser eficaz a modo de instrumento para fazer sair àluz o que já existe no

texto ”. Lector interpres est   –   O leitor é ao mesmo tempo intérprete e objeto deinterpretação (ninguém vai ao texto como uma tabula rasa).

“A Hermenêutica é como um livro de culinária. A exegese é o preparo e o cozimentodo bolo; a exposição, o ato de servi-lo” (ZUCK, 1994, p. 24). Em outras palavras,Hermenêutica é como um livro de receitas, com regras de como fazer um bolo; exegese é a

 preparação do bolo; exposição é a entrega do bolo para alguém comer.

A ilustração a seguir mostra a relação entre esses e outros elementos (o processo prático de interpretação), todos os quais conduzem à etapa final da edificação, ou seja, ocrescimento espiritual na vida do intérprete/expositor e na dos ouvintes ou leitores. 

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EDIFICAÇÃO

EXPOSIÇÃO(com exortação)

HOMILÉTICA OU PEDAGOGIA(princípios de transmissão do conteúdo)

CORRELAÇÃOTEOLÓGICA

(Teologia Geral)

APLICAÇÃOINDIVIDUAL

(Teologia Prática)

EXEGESE(compreensão do conteúdo)

OBSERVAÇÃO(sondagem do conteúdo)

HERMENÊUTICA(princípios de compreensão do conteúdo)

(Zuck, p. 23, com adaptação).

“O propósito da exegese é a pregação e o ensino na igreja” (Douglas Stuart &Gordon D. Fee. Manual de Exegese Bíblica, 2008, p.12).

Também, é preciso ressaltar que é possível pregar, ensinar, aconselhar sem conheceras línguas bíblicas, sem nunca ter ouvido falar de hermenêutica e exegese, mas sempre emum nível superficial de compreensão da mensagem do Evangelho e com riscos de incorrerem alguns erros.

A exegese sadia do texto nas línguas originais deve ser o subsídio para muitasatividades pastorais e ministeriais tais como:1) Aconselhamento:  como aconselhar alguém se não entendermos a mensagem bíblica esuas exigências?;2) Ensino: como ensinar sem conhecer profundamente o significado dos textos?;3) Pregação:  como pregar corretamente a mensagem do Evangelho sem entender

 profundamente o que o texto realmente diz?;4) Evangelismo: como pregar o Evangelho em um mundo de pluralismo religioso, sem sercapaz de fazer uma análise profunda do texto contra as afirmações distorcidas das váriasseitas que também usam a Escritura? E tantas outras aplicações.

A exegese também deve estar ligada à outras matérias teológicas tais como aTeologia do Antigo Testamento e do Novo Testamento, a Teologias Sistemática e aquelasdisciplinas que necessitam hora ou outra das línguas originais da Bíblia como ferramenta deespecificação de termos e conceitos.

“Certamente a Bíblia merece ser estudada da forma mais adequada, criativa e rica possível” (ZABATIERO, Júlio. Manual de Exegese, 2007, p. 19), visto que “a exegese é,

claramente, um empreendimento teológico; e a teologia não aplicada à vida do povo deDeus é estéril” (Douglas Stuart & Gordon D. Fee. Manual de Exegese Bíblica, 2008 , p. 11).

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Enfim, é investigando rigorosamente cada jota ou til que pensamos ser verdadeestabelecida, comparando uma passagem com outra, que poderemos descobrir erros emnossas interpretações das Escrituras. Cristo deseja que o pesquisador de Sua Palavra lance a

 pá mais profundamente nas minas da verdade. Se a pesquisa é realizada de modoapropriado, serão encontradas jóias de inestimável valor. Ainda, quando a pesquisa éconduzida de modo apropriado, empenha-se todo o esforço para conservar pura acompreensão e o coração. Se a mente se mantiver aberta e esquadrinhar constantemente ocampo da revelação, encontraremos ricos depósitos de verdade. Velhas verdades serãoreveladas sob novos aspectos, e aparecerão verdades que foram omitidas na investigação.

Pois a Bíblia interpreta a si mesma. Um texto deve ser comparado com outro. Oestudante deve aprender a encarar a Palavra como um todo, e ver a relação de suas partes. ...Devemos dar atenção ao Antigo Testamento, não menos que ao Novo. ... O AntigoTestamento derrama luz sobre o Novo, e o Novo sobre o Antigo.

E como o clarão de um relâmpago, novas significações cintilarão de textos familiaresda Escritura; vereis a relação de outras verdades com a obra da redenção, e sabereis queCristo vos está guiando, que tendes ao lado um Mestre divino.