Exercício Competencia Com Textos

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PS-GRADUAO PUC-MINAS IEC - Especializao em Direito ProcessualDISCIPLINA: Direito Processual do Trabalho - Prof. Brbara Natlia Lages Lobo E-mail: [email protected]

Disserte sobre as questes abaixo, utilizando-se como fonte reflexiva os textos ora indicados:

1) Emita a sua opinio sobre a competncia da Justia do Trabalho para cobrana de honorrios profissionais liberais aps a edio da Smula n 363 do STJ.

2) Utilizando-se do texto A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004 E A COMPETNCIA PENAL DA JUSTIA DO TRABALHO de Jos Eduardo de Resende Chaves Jnior (Disponvel em: http://www.trt3.jus.br/escola/download/artigos/emenda_constitucional_45.pdf) , manifeste sua opinio acerca da competncia penal da Justia do Trabalho, especialmente, com relao ao trabalho em condies anlogas de escravo.

3) Quais as repercusses da Emenda Constitucional n 114/2004 nas lides sindicais. Quais pontos trazidos no texto A NOVA COMPETNCIA, AS LIDES SINDICAIS E O PROJETO DE REFORMA - Mrcio Tlio Viana (Disponvel em: http://www.trt3.jus.br/escola/download/artigos/nova_competencia_lide.pdf) ainda se apresentam controvertidos?

4) Destaque os pontos que mais chamam a ateno no texto: AS RELAES DE TRABALHO SEM VNCULO DE EMPREGO E AS NOVAS REGRAS DE COMPETNCIA(*) - Mrcio Tlio Viana (Disponvel em: http://www.trt3.jus.br/escola/download/artigos/relacoes_trabalho_vinculo.pdf)Publicaes JurdicasArtigos JurdicosCompetncia para julgar cobrana de honorrios de profissionais liberais aps a Smula 363/STJVitor Salino de Moura Ea 1

Introduo

A recente aprovao da Smula 363, do Colendo Superior Tribunal de Justia, que diz competir Justia Estadual processar e julgar ao de cobrana ajuizada por profissional liberal contra cliente, pegou o universo jurdico de surpresa, razo pela qual a oferta de crtica construtiva, em mbito doutrinrio, medida que se impe.Isso porque, embora o inciso I, do artigo 114/CF tenha seu efeito mitigado, pela liminar concedida nos autos da ADIn 3.395-6, a restrio levada a efeito pelo Ministro Relator e j referendada pelo Plenrio diz respeito, exclusivamente, s demandas existentes entre o Poder Pblico e seus servidores, a ele vinculados por tpica relao de ordem estatutria ou de carter jurdico-administrativo. No mais, permanece ntegro. E considerando-se que o novo verbete refere-se a profissional liberal, portanto pessoa natural quer parecer que o fruto do Projeto 695, da lavra do Eminente Ministro Ari Pargendler no se acomoda com exatido junto norma mencionada, sobretudo porque na hiptese construda faz-se aluso a um trabalhador, circunstncia que desloca a competncia da Justia Estadual para a Justia Especializada, apesar da natureza civil do direito vindicado. bem verdade que cabe ao Colendo Superior Tribunal de Justia dar a ltima palavra em termos de afirmao de competncia ante a divergncia estabelecida entre tribunais diversos , conforme alnea d, do inciso I, do artigo 105/CF. Todavia, diferente ser o desate da questo quando estivermos diante de interpretao constitucional, sendo relevante repetir que a competncia da JT reveste-se de tal magnitude, situao jurdica que pe a matria sob a jurisdio do Excelso Supremo Tribunal Federal e nos instiga ao debate.

A competncia da Justia do Trabalho

Antes de tudo convm aclarar que a Justia do Trabalho e no da CLT. Isso significa que a ela compete processar e julgar as causas caracterizadas por relaes de trabalho e no apenas aquelas decorrentes de relaes de emprego, como era no passado, ou seja, antes do advento da EC/45. Da a anacronia da nova Smula do STJ, data venia.Nesse sentido, o critrio utilizado pelo legislador constituinte para a fixao da competncia dos feitos processados pela Justia Especializada o valor trabalho, hiptese absolutamente distinta da prestao de servios de natureza eminentemente civil, onde o tomador busca o servio e no o trabalho.No caso derradeiro, o que importa que o trabalho seja feito e no por meio de quem seja feito. Evidentemente que em ambas as modalidades de contratao, lcitas as duas, diga-se de passagem, h ntida distino quanto aos efeitos jurdicos desejados pelos contratantes. E, destarte, tambm diferente ser o rgo judicirio competente para a apreciao de eventual pendenga judicial.No h dvida que ambas as contrataes esto sob o manto do Direito Civil, entretanto no ser a natureza do direito vindicado que ir estabelecer o critrio de fixao de competncia, e sim o objeto do contrato civil.Uma pretenso derivada do Direito Civil poder ser deduzida perante a Justia do Trabalho ou perante a Justia Comum, consoante a natureza do ajuste firmado entre as partes e no do direito perseguido.Esta distino precisa, necessariamente, estar aclarada. Alis, o Direito romano j distinguia a locatio operis da locatio operaruam, em virtude o objeto da contratao. Na primeira era visado o servio, enquanto na segunda o trabalho. E, na contemporaneidade, a inteno aos contratantes que ir determinar perante qual justia est apta a conhecer o litgio.Mais ainda. Diante de eventual dvida, num caso fronteirio, melhor que seja competente a Justia Especializada do Trabalho, pois exatamente por isso est constituda. O Juiz especializado ter maior e melhor discernimento para avaliar se o valor do trabalho humano que norteia a relao constituda.Convm lembrar que o valor social do trabalho um dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil, inciso IV, do artigo 1/CF. Vale dizer, coloca-se antes de todos os demais, em igualdade com a prpria soberania nacional, a cidadania e a dignidade da pessoa humana, ou seja, deve ser aplicado preferencialmente e perante a Justia Federal do Trabalho, diante do compromisso estatal de promoo dos direitos sociais, dentre eles o trabalho.

Os precedentes

Como cedio, vrios precedentes foram utilizados na afirmao da competncia em prol da Justia Estadual, notadamente o CC 52.719-SP, o CC 65.575-MG e o CC 15.566-RJ. No conflito originrio do Rio de Janeiro, o relator, o Ministro aposentado Slvio de Figueiredo Teixeira decidiu que o pagamento pela prestao de servios por pessoas fsicas no se confunde com verbas trabalhistas definidas na CLT.Sua Excelncia deixa de considerar, no entanto, que em tempo algum existiu tal confuso. Isso porque, a Justia do Trabalho no est abalizada a julgar apenas ou exclusivamente, os direitos emanados da CLT. Tanto assim, que julga demandas entre duas pessoas jurdicas, como afirmado expressamente no inciso III, do artigo 114/CF, hiptese em que quaisquer das partes vindica direito trabalhista. Idem quando julga aes pblicas, como o mandado de segurana, o habeas corpus e o hbeas data, nos moldes do inciso IV, tambm da Constituio da Repblica, onde tambm inexiste qualquer crdito laboral, stricto sensu em anlise.No s a Constituio Federal que preceitua a possibilidade de atuao de Direito Civil pela Justia do Trabalho, seja ele pblico ou privado, como no exemplo acima. At mesmo a CLT, h dcadas e sem alegaes de inconstitucionalidade, autoriza que a Justia do Trabalho aprecie vrias matrias civis.O inciso III, do artigo 652/CLT, presente no ordenamento jurdico trabalhista desde sua origem, ou seja, h mais de sessenta e cinco anos, afirma a competncia da Justia do Trabalho para a conciliao e o julgamento de contratos de empreitada, sendo certo que inexiste dvida no sentido de que so os aludidos pactos de natureza civil, pois o Cdigo Civil o tipifica nos artigos 610 e seguintes.Em outro precedente considerado, o CC 52.719, oriundo de So Paulo, a Eminente Ministra Denise Arruda afirma que profissionais liberais que prestaram servios CEF, mesmo se considerados os efeitos da EC/45, que transferiu para a Justia do Trabalho as aes dos entes pblicos, no podem demandar na Especializada, pois a Emenda referida no incluiu em sua competncia as aes civis.Diante dos exemplos mencionados, desnecessrio qualquer comentrio adicional, face incongruncia dos argumentos expendidos com a matriz constitucional. Fica, no entanto, a impresso de que, mais uma vez rogando todas as vnias, no sentir de S. Exas. a Justia Laboral no estaria capacitada a conhecer demandas derivas de Direito Civil. Do contrrio, parece estaramos diante de injustificada negativa de cumprimento do preceito constitucional, por parte de um Tribunal Superior. E, considerando-se que os juzos de valor desse jaez no se prestam melhor exegese constitucional, o mais conveniente o estmulo ao debate por meio da construo doutrinria, a fim de motivar a reviso por parte do Supremo Tribunal Federal.

Dissenso entre Tribunais Superiores

Mais um fator que reclama a urgente participao do Pretrio Excelso o dissenso existente entre o Tribunal Superior do Trabalho e o Superior Tribunal de Justia em torno do mesmo tema.O Colendo TST, em recente deciso da 7 Turma, relatada pelo Eminente Ministro Ives Gandra Martins Filho, RR 1302/2007-661-04-00, publicada no DJ de 26/9/08, assim se posiciona:

HONORRIOS ADVOCATCIOS. AO DE COBRANA. COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO.Ampliada pela Emenda Constitucional 45/2004, que conferiu nova redao ao art. 114 da Constituio Federal, a atual competncia da Justia do Trabalho abrange as controvrsias relativas ao pagamento de honorrios decorrentes da atuao do advogado em juzo, por se tratar de relao de trabalho estrita, que no se confunde com relao de consumo. Nesta ltima, o consumidor pleiteia a prestao do servio. Na ao trabalhista, o causdico que postula os honorrios pelo trabalho desenvolvido. Recurso de revista provido.

A Egrgia 5 Turma, tambm do Colendo TST, RR 607/2006-009-23-00, publicado no DJ de 15/8/08, da relatoria da Eminente Ministra Ktia Magalhes Arruda, consubstancia idntico entendimento. Vejamos os argumentos lanados na ementa:

RECURSO DE REVISTA. EXCEO DE INCOMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO. AO DE COBRANA. HONORRIOS PROFISSIONAIS. CIRURGIO DENTISTA. PRESTAO DE SERVIOS PARA ENTE PBLICO. RELAO JURDICA DE TRABALHO.Tem competncia esta Especializada para apreciar a ao de cobrana de honorrios profissionais, decorrentes da prestao de servios fundada em relao jurdica de trabalho, e no em relao jurdica de consumo. As premissas fticas registradas pelo TRT demonstram que o caso concreto no de servidor estatutrio e nem de ocupante de cargo comissionado, mas, sim, de prestador de servios, cirurgio-dentista, que trabalhou para o Estado de Mato Grosso, atendendo conveniados do Instituto de Previdncia de abril a novembro de 2002.

H outros exemplos em idntico eixo. Traremos apenas mais um, agora da lavra do Ministro Caputo Bastos, a fim de exemplificar a convergncia do entendimento do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, no sentido de que a Justia do Trabalho competente para a cobrana de honorrios decorrentes dos servios prestados por profissionais liberais, em sentido diametralmente oposto ao sedimentado pelo Superior Tribunal de Justia.No julgamento do RR 147/2007-531-04-00, publicado no DJ de 13/6/08, temos a lcida deciso cuja ementa segue abaixo transcrita:

RECURSO DE REVISTA. COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO PARA PROCESSAR E JULGAR AES DE COBRANA DE HONORRIOS ADVOCATCIOS.Com a promulgao da EC 45/2004, o artigo 114, IX, da Constituio Federal passou a instituir Justia do Trabalho competncia para processar e julgar outras controvrsias decorrentes das relaes de trabalho. Ou seja, ampliou-se a competncia da Justia Laboral, para dirimir questes que antes se restringiam a questes de trabalho contra empregadores para questes de todo prestador, contra todo tomador do trabalho de pessoa fsica. Nesse contexto, abrange, portanto, o caso em apreo onde, este demandante, aps patrocinar aquela causa, foi destitudo, sem que lhe houvessem garantido a percepo de seus honorrios. Recurso de revista a que se d provimento.

O posicionamento doutrinrio

Apropriada para figurar em sede doutrinria, a concluso a que chegaram os Juzes do Trabalho reunidos em Braslia, na 1 Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, evento promovido pelo TST em conjunto com a Anamatra, em 23 de novembro de 2007, onde ficou estratificado no Enunciado 23, que:

COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO. AO DE COBRANA DE HONORRIOS ADVOCATCIOS. AUSNCIA DE RELAO DE CONSUMO. A Justia do Trabalho competente para julgar aes de cobrana de honorrios advocatcios desde que ajuizada por advogado na condio de pessoa natural, eis que o labor do advogado no prestado em relao de consumo, em virtude de lei e de particularidades prprias, e ainda que o fosse, porque a relao consumeirista no afasta, por si s, o conceito de trabalho abarcado pelo art. 114/CF.

Tal realidade no passa sem a aguda percepo da boa doutrina, a qual, robustecendo o entendimento esposado pela magistratura trabalhista, vai ainda alm. Assim, nem mesmo eventual alegao de que a cobrana de honorrios de profissionais liberais se afeioa com o Direito Consumeirista afasta a competncia da Justia do Trabalho, pois, no dizer de Estevo Mallet, o fato de o trabalho prestado eventualmente inserir-se, por conta da vocao da legislao de consumo para aplicar-se a diferentes formas de prestao de servio, no conceito de relao de consumo, nos termos do art. 3, 2, da Lei 8.078, no afasta a competncia da Justia do Trabalho (MALLET, 2005, p. 73).Amauri Mascaro Nascimento tambm no tem dvida sobre os novos regramentos constitucionais, apontando em sua obra exatamente o exemplo que pareceu conflituoso ao Colendo STJ. Pontifica que a prevalecer a interpretao ampla da EC45, a Justia do Trabalho competente para julgar aes de prestadores de servios autnomos e servios eventuais (NASCIMENTO, 2007, p. 230).Srgio Pinto Martins, comentando o inciso I, do artigo 114/CF, exclama que a idia de que toda a matria trabalhista, envolvendo qualquer tipo de trabalhador, seja de competncia da Justia do Trabalho e no apenas a relao de emprego (MARTINS, 2007, p. 105).Naturalmente que as novidades causam mesmo perplexidades, sobretudo quando h profunda alterao nos critrios de fixao de competncia. Entretanto, a questo trazida no complexa, mas, por certo, sugere para sua interpretao ideal uma ruptura com os conceitos do passado.A opo constitucional de se atribuir competncia s justias especializadas cristalina. justia comum somente a matria residual, como bem pondera o Ministro Llio Bentes Correa em artigo doutrinrio, alertando que a alterao introduzida com a redao dada ao inciso I do art. 114/CF da Constituio Federal to radical que inova a prpria sistemtica constitucional de distribuio de competncia. Aduz que todas as lides que no se enquadrarem na competncia dos ramos especializados do Poder Judicirio (Justia Federal, Militar, Eleitoral e do Trabalho) restaro cometidas Justia Comum Estadual. E prossegue: O j referido inciso I, ao fixar a competncia da Justia do Trabalho para as aes oriundas da relao de trabalho, consagrou exceo quela regra. Isso porque, esclarece o lcido Ministro: Em matria afeta s relaes de trabalho, a competncia genrica (ou residual) remanesce com a Justia do Trabalho. E conclui, com acerto: qualquer lide relativa ao tema cujo conhecimento a Constituio no cometa a outro ramo do Poder Judicirio inserir-se- na competncia da Justia do Trabalho, ainda que a definio do alcance da expresso relao de trabalho seja objeto de controvrsias (CORREA, 2005, p. 301).

Concluso

Concluindo, temos que o tema clama por urgente e necessria reviso, por parte do Supremo Tribunal Federal, a fim de ajustar a interpretao constitucional matriz estabelecida.A competncia para o julgamento das questes em apreo fixada pelo inciso I, do art. 114/CF, quando se vale da expresso relaes de trabalho, eis que em tal espectro inserem-se as demandas originrias a partir de circunstncias previstas no Direito Civil, entretanto apreciveis pela Justia Especializada do Trabalho. Afinal, a mesma especializada justamente em matria de trabalho e no exclusivamente em matria de emprego. Do contrrio, era s manter a competncia como estava e no encetar profunda alterao constitucional, cristalizada na chamada Reforma do Judicirio.Neste balizamento se circunscreve a questo. A competncia tratada no inciso IX, do artigo 114/CF, no absorve, ao menos por enquanto, a competncia para o julgamento de cobrana de honorrios de profissionais liberais, porquanto nos remete legislao ordinria, ainda no oferecida pelo Congresso Nacional. E a Justia do trabalho no precisa elastecer sua competncia, evocando o derradeiro inciso da norma em comento, como se quisesse, por opo poltica, ampliar deliberadamente sua competncia. Apenas precisa dar plena vazo ao comando do inciso I, do artigo 114/CF, que o bastante. Preceito suficientemente claro, que lhe reserva a integral competncia para as relaes de trabalho.Por fim, outra questo que precisa ainda ficar bem esclarecida, mas esta somente por meio de reviso da prpria Constituio Federal, via Emenda Constitucional, diz respeito competncia exclusiva do Supremo Tribunal Federal para conhecimento e deciso dos conflitos de competncia entre Tribunais Superiores, de modo a que o Tribunal Superior do Trabalho jamais tenha a interpretao de sua competncia orientada por decises do Superior Tribunal de Justia.

Referncias bibliogrficas

CORREA, Llio Bentes. A reforma constitucional e a Justia do Trabalho: perspectivas e desafios na concretizao do ideal legislativo. In: Justia do Trabalho: competncia ampliada, Coordenada por COUTINHO: Grijalbo Fernandes & FAVA, Marcos Neves.MARTINS, Srgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 27 edio. Atlas. So Paulo. 2007.MALLET, Estevo. Apontamentos sobre a Competncia da Justia do Trabalho aps a Emenda Constitucional 45, in Justia do Trabalho: Competncia Ampliada, Coordenada por COUTINHO: Grijalbo Fernandes & FAVA, Marcos Neves.NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22 edio. Saraiva. So Paulo. 2007.Disponvel em: http://www.amatra3.com.br/interna.aspx?id=25&idt=2&cont=2638&ic=1

A Competncia da Justia do Trabalho para cobrana de honorrios por profissionais liberais aps a EC n. 45/2004 Reforma do JudicirioRenata Martins da Rosa, Marilia Brum da RosaResumo:Esta anlise apresenta a problemtica da competncia no que se refere ao processo e julgamento das aes para cobrana de honorrios por profissionais liberais frente justia do trabalho, o que, por certo, resulta da ampliao da jurisdio trabalhista ocorrida em detrimento da entrada em vigor da EC n. 45/2004. Referido dispositivo legal, prev expressamente como atribuio da justia declinada a soluo dos litgios relativos s relaes de trabalho, e no somente de emprego.Palavras-chave: cobrana de honorrios, profissionais liberais, relao de trabalho, justia do trabalho.1. INTRODUOEsta pesquisa visa esclarecer a competncia para o processo e julgamento das aes oriundas de cobranas de honorrios por profissionais liberais diante da ampliao de competncia da justia do trabalho pela EC n. 45/2004.Ser demonstrado o conflito de competncia existente entre o judicirio comum e o trabalhista, bem como precedentes jurisprudenciais aptos a, se no pacificar a controvrsia, pelo menos apresentar a justia do trabalho como instituio capaz de extinguir litgios desta natureza, baseando suas decises, primeiramente, na dignidade humana das partes da relao trabalhista.Ainda, por mera argumentao, impe-se afirmar que valores, como o acima mencionado, servem de embasamento para as decises tomadas pelos tribunais trabalhistas.A metodologia utilizada foi pesquisa bibliogrfica sendo que a escolha do tema foi em funo de que somente com a pacificao de tal controvrsia o judicirio dar mais um passo a caminho da justia social, objeto embrionrio da justia do trabalho.2. COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO PARA A COBRANA DE HONORRIOS POR PROFISSIONAIS LIBERAISA reforma do judicirio ampliou a competncia da justia do trabalho, dando nova redao ao art. 114 da CF. Conquanto tenha pacificado muitas questes at ento controvertidas, a emenda gerou grandes discusses quanto a outros assuntos, dentre eles, a possibilidade dos profissionais liberais (advogado, mdico, taxista, engenheiro), ingressarem com ao judicial para cobrana de honorrios na justia do trabalho.Esse exame faz referncia ao art. 114, I da CF, o qual substituiu expresso Compete Justia do Trabalho conciliar e julgar os dissdios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores , dando nova redao, em que passa a competir a Justia do Trabalho...processar e julgar as aes oriundas das relaes de trabalho.Ainda, h necessidade de se analisar tal alterao com a redao trazida no inciso X do dispositivo legal j declinado neste pargrafo, o qual caracteriza como sendo competncia da justia do trabalho outras controvrsias decorrentes da relao de trabalho.A par disso, percebe-se que por qualquer inciso do art. 114 da CF que se analise, facilmente extrada a competncia da justia especializada para processar e julgar aes de cobrana de honorrios por profissionais liberais.Com efeito, importa ressaltar que a emenda constitucional fonte deste estudo, modificou os dispositivos do art. 114 da Carta Me, para que a justia do trabalho no mais limite a sua competncia, especificamente na relao de emprego, (sujeito ativo empregado e sujeito passivo - empregadores), mas igualmente, na relao de trabalho, expandindo competncia aos casos em que so partes profissionais autnomos, eventuais, avulsos, dentre outros, alargando as atribuies trabalhistas, jamais restringindo.O Brilhante Mestre Amauri Mascaro do Nascimento, comenta sobre o tema[1]:... a relao de trabalho no sentido da doutrina, gnero que comporta diversas modalidades, no somente o empregado, mas o avulso, o temporrio, o eventual, e o autnomo, motivo pelo qual a prevalecer o texto constitucional, todos esses tipos de trabalho agora encontram na Justia do Trabalho o rgo judicial competente para apreciar tais questes.Assim, o Nobre Doutrinador, corrobora o entendimento acima mencionado, pois considera a justia do trabalho o rgo capaz de processar e julgar os litgios decorrentes das relaes de trabalhos, e por conseqncia os honorrios dos profissionais liberais.Inicialmente os Tribunais Regionais do Trabalho contrariavam de plano o pensamento de Amauri, e assim, da ampliao de competncia trazida pela EC n 45/2004. A tendncia dos mesmos era no sentido de que a justia em apreciao autuasse apenas em matrias que consideravam essencialmente empregatcias, como o dano moral decorrente do acidente de trabalho, sem examinar, questes como a configurao do referido dano, que cabe a justia civil, entendimento ainda vigente.Em verdade, receavam o afogamento das Varas Trabalhistas com demandas das mais diversas reas do trabalho, tornando esta instituio, que especializada em comum, obstando a sua clere atuao.Ainda avaliando a questo dos profissionais liberais frente ao entendimento do Culto Doutrinador, no sendo possvel a cobrana de honorrios por profissionais liberais atravs da justia do trabalho, o direito, como meio de pacificao social, feriria o princpio da segurana jurdica que garante a todos pleno acesso a justia competente.Estar-se-ia privando o profissional da tutela jurdica adequada e, por conseguinte, impedindo que o judicirio trabalhista, diante de sua nova competncia, cumprisse o seu papel, qual seja: dar plena efetividade ao princpio do valor social do trabalho, distribuindo a verdadeira justia social, abalizado na dignidade humana.Mesmo que se tenha demonstrado a atribuio da justia do trabalho para processo e julgamento de cobrana de honorrio por profissionais liberais, para a maioria da doutrina brasileira, a questo ainda controversa, haja vista a existncia de duas vertentes de interpretao: de um lado, a relao de consumo, e de outro, a relao de trabalho. atravs da consolidao de um ou outro vnculo que se decide pela aplicao da legislao em discusso.Ocorre que, na relao de consumo, o tomador dos servios contrata o prestador para gozar exclusivamente do seu servio na qualidade de destinatrio final, o que configura, nos termos da Lei 8.078/90, Cdigo de Defesa do Consumidor, relao consumerista, afastando qualquer hiptese de incidncia da Justia do Trabalho. Nesse caso, o hipossuficiente ser o tomador de servios, jamais o prestador de servios especializados (por exemplo o advogado), determinando a competncia para a Justia Comum.Em contra partida, se o tomador de servios for uma grande empresa, que contrata prestador de servios, ento profissional liberal, para viabilizar sua empresa, formando uma relao de dependncia econmica, nos termos da CLT, trata-se de relao laboral, e portanto, apta a ser processada pela justia do trabalho, sendo o prestador de servios o ente menos favorecido na relao.O prprio reconhecimento da prestao de servios de alguns profissionais liberais como relao de consumo (no caso de advogados, por exemplo) matria de acirrados debates. Embora seja a soluo menos adequada, mormente em se tratando de estabelecer competncia, a questo tem sido resolvida casuisticamente. Seno vejamos:Um advogado contrata com um cliente, cobrando-lhe honorrios, em contra-partida marca um horrio para atend-lo, local e forma de pagamento, tais caracteres, estabelecidos unicamente pelo prestador de servios, todos aspectos de uma relao de consumo, distante do que preceitua o art. 114 da CF.Por outro lado, se esse mesmo advogado fosse contratado por uma grande empresa para represent-la nas aes judiciais em que parte, sob clusula de exclusividade e mediante salrio, presentes estariam os requisitos do art. 3 da CLT, e, portanto, configurada a relao de emprego, sendo a justia do trabalho a instituio competente a dirimir litgios decorrentes dessa relao.Apenas, como argumentao, outros exemplos comuns s situaes acima descritas: um mdico cirurgio plstico que agenda uma consulta com local, preo, hora e data estabelecidos para a realizao da interveno mdica est-se diante de uma relao consumerista, pois no presentes a habitualidade na prestao de servios, hipossuficincia do mdico, ento prestador de servios, obrigaes previdencirias, encargos estes que caracterizam a relao de emprego j descrita no art. 3 da CLT.Assim, mesmo diante de tanta similaridade nas relaes de servios prestados, o profissional do direito tem que analisar as diferenas existentes entre ambas, se consumerista ou trabalhista, razo bastante para a determinao dos casos levados a juzo. No satisfatrio averiguar qual o servio prestado pelo profissional liberal, necessria verificao das condies em que os servios foram prestados, e como se deu relao jurdica entre contratante e contratado.Corrente semelhante de Amauri, que vindo complement-la, admite que a prestao de servios feita pessoa jurdica recairia sob gide trabalhista, entretanto, se prestada a pessoa fsica, a prestao de servios exaurir-se-ia em si, no contemplando uma cadeia produtiva, e sim consumerista. Voltando-se a admitir que conflitos envolvendo relaes consumeristas sejam processados na justia trabalhista.H ainda, os que recusam a alterao da Emenda Constitucional n. 45/2004, de forma, que conflitos que envolvam interesses de profissionais liberais no seria protegidos pela Justia Especializada.V-se, portanto, que em um primeiro momento, a dificuldade ser estabelecer, diante das diversas nuances de uma mesma relao jurdica (prestao de servios), tratar-se de relao de trabalho ou de consumo, haja vista a longnqua pacificao neste sentido.Como exposto anteriormente, a resistncia dos Tribunais em julgar aes em que os profissionais liberais busquem a cobrana de seus honorrios profissionais forte, mas que vem se flexibilizando, em prol da justia social.Conquanto a os nossos tribunais venham alterando seus posicionamentos a respeito, ainda existem diversas decises dos mesmos no sentido da incompetncia da justia em estudo. Seno vejamos:EMENTA:HONORRIOS ADVOCATCIOS CONTRATUAIS. EXECUO. INCOMPETNCIA MATERIAL DA JUSTIA DO TRABALHO.Mesmo aps a Emenda Constitucional n 45/04, falece competncia a esta Justia do Trabalho para a execuo relativa ao crdito de honorrios pactuados pelo advogado com o particular que contrata os seus servios.(TRT 4 Regio 2 Turma, ACRDO 00374-2005-561-04-00-7 AP, MARIA BEATRIZ CONDESSA FERREIRA - Juza-Relatora).Tal deciso no foge aos padres de primrios dos Tribunais, sendo at mesmo compreensvel, pois abarca o entendimento que na relao com particulares, a prestao de servio encerra-se em si mesma, caracterizando-se como consumerista.Observa-se, em nova deciso do Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio, deciso acertada ao no acolher a competncia como sendo da Justia do Trabalho, uma vez que sob a tica que ser apresentada, a relao de trabalho o objeto secundrio.EMENTA: COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO. HONORRIOS DE ADVOGADO.O contrato de advogado e de honorrios advocatcios no enseja a acepo de relao de trabalho da nova competncia da jurisdio trabalhista, porque o mandato preponderante e a relao de trabalho secundria ou acessria. E, no mister de advogar o profissional prestador do servio est empreendendo uma atividade e no alcanando propriamente uma prestao de trabalho caracterizada pela energia despendida por uma pessoa natural. Recurso no provido.(TRT 4 Regio 3 Turma, ACRDO 00773-2005-017-04-00-9AP, EURDICE JOSEFINA BAZO TRRES Juza-Relatora).Por outro lado, se considerarmos a que a relao foi travada entre o prestador de servios e uma pessoa jurdica, a deciso transcrita inadmissvel. No caso, poderia ter sido acolhida tese do recorrente para que se admitisse Justia do Trabalho como competente para julgar o dissdio com uma cooperativa de crdito, mormente porque em sua ntegra, afasta a relao de consumo.Opondo esse entendimento, de que a relao de trabalho gnero em que a relao de emprego espcie, e que somente nesta ltima exige-se subordinao e continuidade, a deciso em comento apega-se ao fato de que na prestao de servios no h sequer resqucio de subordinao e que no se protrai no tempo e, com isso, conclui pela incompetncia da justia especializada.No houve unanimidade nessa deciso, sendo vencido o Exmo. Juiz Ricardo Carvalho Fraga, que com extrema clareza apia seu voto na mais consagra doutrina, ensinando que embora a relao seja consumerista, por si s, no afasta a competncia da justia aqui declinada.O Superior Tribunal de Justia igualmente maioria dos Tribunais Regionais do Trabalho tem resistido em reconhecer a competncia desta justia especializada para conhecer os litgios decorrentes da relao do profissional liberal e seu contratante. importante observar que a justia do trabalho trar agilidade no tratamento do consumidor (empregado) prejudicado, em contrapartida o direito do consumidor, tendo sua codificao apenas em 1990, contribuir para a rpida soluo dos litgios com teorias mais modernas.Recentemente o Tribunal Superior de Justia, mais uma vez, decidiu por estabelecer a competncia como sendo da justia comum, em causa referente a arbitramento de honorrios advocatcios.CONFLITO DE COMPETNCIA. ARBITRAMENTO DE HONORRIOS. RELAO JURDICA DE NATUREZA CIVIL. COMPETNCIA DA JUSTIA ESTADUAL INALTERADA PELA EC 45/2004. 1.Discute-se a competncia para julgamento de ao de arbitramento de honorrios referentes aos servios prestados em ao de cobrana de valores devidos a ttulo de FGTS. 2. Ao dar nova redao ao art. 114 da Carta Magna, a EC 45/2004 aumentou de maneira expressiva a competncia da Justia Laboral, passando a estabelecer, no inciso I do retrocitado dispositivo, que compete Justia do Trabalho processar e julgar "as aes oriundas da relao de trabalho, abrangidos os entes de direito pblico externo e da administrao pblica direta e indireta da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios". 3. Entretanto, a competncia para julgamento de causas como a dos autos no foi atrada para a Justia do Trabalho. Isso porque a demanda em questo possui natureza unicamente civil e se refere a contrato de prestao de servios advocatcios, celebrado entre profissionais liberais e seus clientes, razo pela qual a relao jurdica existente entre os autores e os rus no pode ser considerada como de ndole trabalhista. 4. Conflito conhecido para declarar a competncia do Juzo de Direito da 3 Vara Cvel da Comarca de Mogi Guau/SP, o suscitado. (PROC. CC 52719/SP; 2005/0119847-0 Relatora Ministra DENISE ARRUDA (1126) rgo Julgador S1 - PRIMEIRA SEO Data do Julgamento 11/10/2006).Afora tais julgados, atualmente, percebe-se a modificao constante de opinies de doutrinadores e juzes do trabalho, que tm tomado decises visando proteger o prejudicado, com base nos valores do valor social do trabalho e da dignidade humana, de maneira a considerar a justia do trabalho competente para dirimir os conflitos decorrentes da cobrana de honorrios por profissionais liberais.Entendimentos que h poucos anos eram isolados, hodiernamente se expandem, passando ento, a doutrina e a jurisprudncia a configurarem a relao existente na prestao de servios liberal tambm como trabalhista, como no poderia deixar de ser.Abaixo, importante deciso do Tribunal Regional do Trabalho da 1. Regio:ADVOGADO. CONSULTORIA JURDICA. INCIDNCIA DE LEI ESPECFICA (ESTATUTO DA OAB). INAPLICABILIDADE DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RELAO DE TRABALHO. COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO.O enquadramento da atividade de consultoria jurdica como relao de consumo um grave equvoco, resultante da desconsiderao das razes do Direito do Trabalho e da prpria evoluo deste ao longo dos anos, a qual culminou, inclusive, com a ascenso da valorizao do trabalho condio de fundamento da Repblica Federativa do Brasil (Constituio Federal, art. 1, inciso IV). Entender a atividade dos profissionais liberais como essencialmente incita a uma relao de consumo um infeliz retrocesso aos primrdios do capitalismo, por atribuir ao trabalho desses profissionais a condio de mercadoria, idia repelida veementemente j pelo Tratado de Versalhes, em sua parte XIII (Du Travail), que constituiu a Organizao Internacional do Trabalho sob a premissa essencial de no ser o trabalho humano uma mercadoria (art. 427). de trabalho, ento, a relao mantida entre um profissional liberal e seu cliente, sujeitando-se a lide em torno dela estabelecida competncia da Justia do Trabalho. Essa a hiptese dos autos, em que o autor, enquanto advogado, sujeita-se aos ditames da Lei n 8.906/94, a qual, regulando sua atividade, impede seja tida como de consumo a relao por ele mantida com terceiro que se vale de seus servios, como se v, por exemplo, dos arts. 31, 1 e 34, incisos III e IV, que vedam a captao de causas e o uso de agenciador, evidenciando natureza incompatvel com a atividade de consumo. Recurso provido para, em reformando a sentena, declarar a competncia da Justia do Trabalho para processar e julgar a presente demanda, determinando a baixa dos autos Vara de origem para que seja proferida deciso enfrentando o mrito da pretenso autoral, decidindo-se como de direito. (PROC 01261-2005-063-01-00-7 (RO) - 3 T 1 Regio - RJ - Juiz Mello Porto - Relator. DJ/RJ de 17/07/2006).Disposio pautada e argumentada levando-se em conta a realidade vivida pelos profissionais liberais na atualidade, eleva os mesmos a categoria de trabalhadores, nos termos do art. 114, I da CF, e, portanto, merecedores da clere prestao jurisdicional dispensada aos empregados e empregadores, sujeitos previamente definidos no art. 3 da CLT.Em mais uma anlise, o reconhecimento da apreciao pelos magistrados trabalhistas tornou-se concreta, conforme se demonstrar nos julgados a seguir:"Ementa: HONORRIOS ADVOCATCIOS - AO DE COBRANA - NOVA COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO - EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004.'Havendo relao de trabalho, seja de emprego ou no, os seus contornos sero apreciados pelo juiz do trabalho. Para esses casos, evidentemente, aplicar a Constituio e a legislao civil comum, considerando que as normas da CLT regulamentam o pacto entre o empregado e o empregador. Como conseqncia, a Justia do Trabalho passa a ser o segmento do Poder Judicirio responsvel pela anlise de todos os conflitos decorrentes da relao de trabalho em sentido amplo. Os trabalhadores autnomos de um modo geral, bem como os respectivos tomadores de servio, tero as suas controvrsias conciliadas e julgadas pela Justia do Trabalho. Corretores, representantes comerciais, representantes de laboratrios, mestres-de-obras, mdicos, publicitrios, estagirios, contratados do poder pblico por tempo certo ou por tarefa, consultores, contadores, economistas, arquitetos, engenheiros, dentre tantos outros profissionais liberais, ainda que no empregados, assim como tambm as pessoas que locaram a respectiva mo-de-obra (contratantes), quando do descumprimento do contrato firmado para a prestao de servios podem procurar a Justia do Trabalho para solucionar os conflitos que tenham origem em tal ajuste, escrito ou verbal.' (Grijalbo Fernandes Coutinho, Juiz do Trabalho em Braslia/DF, e presidente da Anamatra - Associao Nacional dos Magistrados da Justia do Trabalho. http://www.anamatra.org.br/opinio/artigos - Artigo: Agora, sim, Justia do Trabalho). Destarte, a partir da edio da EC n. 45/2004, a Justia do Trabalho passou tambm a ter competncia para julgar as aes de cobrana de honorrios advocatcios, pois o advogado, no seu mister no pratica relao de consumo, mas relao de trabalho, por impedimento legal, no podendo captar causas ou se utilizar de agenciador (Lei n. 8.906/94, arts. 31, 1 e 34, III e IV). Precedentes do STJ (RESP n. 532.377 - RJ - Relator Min. Cesar Asfor Rocha e RESP n. 539.077 - MS - Relator Min. Aldir Passarinho Jnior) (PROC. RO 00132.2005.026.23.00-1- TRT 23 Regio - Desembargador Osmair Couto Relator )Publicada em 06.09.2005, por deciso unnime, o julgado acima conseguiu proferir a verdadeira interpretao a ser dada ao art 114, I da CF aps a sua alterao pela EC 45/2004. Em apenas uma frase, o Nobre Relator traduz a quo discutida alterao: 'Havendo relao de trabalho, seja de emprego ou no, os seus contornos sero apreciados pelo juiz do trabalho.Dessa forma, o profissional liberal, mesmo no empregado, ainda trabalhador, e, portanto pode e deve procurar a justia do trabalho para soluo das lides que advenham dos contratos de prestao de servios por ele ajustados. Nota-se, assim, que o legislador pretendeu dar um tratamento humanitrio, de forma que os servios prestados por esses profissionais no sejam considerados mercadorias, expresso advinda do Cdigo de Defesa do Consumidor.No mesmo sentido:Ementa:COMPETNCIA MATERIAL PARA APRECIAR PEDIDO DE COBRANA DE HONORRIOS ADVOCATCIOS. JUSTIA DO TRABALHO. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004.A competncia da Justia do Trabalho para instruir e julgar ao de cobrana de honorrios advocatcios indiscutvel, em face da nova redao conferida pela Emenda Constitucional n. 45 ao inciso I do art. 114 da Constituio, ao dispor que 'compete Justia do Trabalho processar e julgar: I - as aes oriundas da relao de trabalho, abrangidos os entes de direito pblico externo e da administrao pblica direta e indireta da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios;'. Neste sentido, firma-se a competncia da Justia do Trabalho para apreciar os litgios que versem sobre as relaes de trabalho em sentido lato, inclusive, as relaes regidas pela legislao civil, decorrentes de prestao de servios por profissionais liberais, como o advogado.(PROC- 00313.2006.021.23.00-7(RO) - 1 T 23 Regio Desembargador Tarcsio Valente).Ao mesmo tempo, que corrobora o entendimento da competncia trabalhista, o julgado renova os conceitos, uma vez que afirma de forma irrefutvel o cumprimento regular do art. 114, I da CF, ou seja, o caso em exame no atribuio do direito do consumidor. Referida deciso foi proferida em 24.10.2006, por unanimidade.Referido julgado foi utilizado como argumentao no Recurso Ordinrio do TRT da 23 regio, n. 00623-2006-026-23-00-3, instrudo em 2006, entretanto, a deciso do recurso foi proferida em 13.02.2007, o que faz perceber que corrente forte dos magistrados trabalhistas vm seguindo referido entendimento, o que deixa a expectativa de justia mais clere aos profissionais liberais.As decises de que a justia do trabalho competente para julgar litgios decorrentes da cobrana de honorrios por profissionais liberais crescente, conforme a Revista Consultor Jurdico de 31 de julho de 2007. Em 30.07.2007, dois magistrados do Mato Grosso se declararam incompetentes para julgar processos dessa natureza, entretanto, admitiram que a competncia da justia do trabalho para processar as aes de cobrana de honorrios por profissionais liberais.Em momento posterior O juiz Yale Sabo Mendes, do Juizado Especial do Planalto, em Cuiab, determinou que a Ao de Cobrana de Honorrios Advocatcios que um advogado moveu contra uma cliente seja remetida a uma das Varas de Trabalho da Capital.Igualmente, no mesmo artigo, o juiz Adauto dos Santos Reis, da Comarca de Cceres, ordenou que a Ao Ordinria de Arbitramento de Honorrios Advocatcios com pedido de Nulidade de Clusula Contratual, proposta por um cliente contra o Banco da Amaznia, seja remetida Justia trabalhista.O Dr. Sabo ainda esclareceu que explicouque por fora da nova redao contida no artigo 114 da Constituio Federal, preconizada pela Emenda Constitucional 45/2004, a competncia para julgar o presente feito da Justia do Trabalho[2].1.CONCLUSOAtravs da anlise acima transcrita, percebe-se que, mesmo com a ampliao da EC 45/2004, dando justia do trabalho competncia para o processo e julgamento de aes que envolvam as relaes de trabalho, permanecem controvrsias. Ressalta-se a travada quanto ao julgamento das aes para cobranas de honorrios por profissionais liberais, que se encontram longe de ser pacificado. Nota-se a importncia de destacar a natureza da relao, se consumerista ou trabalhista, tendo em vista as caractersticas de ambas, mencionadas no curso da pesquisa. Entretanto, os tribunais trabalhistas tm demonstrado a evoluo esperada por todo ente da relao de trabalho nos seus julgados, pois, conforme observado crescente o nmero de deliberaes em que a competncia para tal feito da justia do trabalho.Por fim, sabido que o objetivo do judicirio trabalhista a proteo do ser humano, enquanto ente do vnculo laboral, e que a garantia da dignidade humana e do valor social do trabalho somente sero atingidos se tais aes forem julgadas e processadas por esta instituio, sob pena de trabalhadores serem considerados mercadorias.Referncias:BRASIL.Consolidao das Leis do Trabalho.4. Ed. So Paulo: Saraiva, 2007.BRASIL.Constituio Federal de 1988.Porto Alegre, Verbo Jurdico, 2007.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituio/Emendas/Emc/emc45.htm. Acesso em 05.08.2007.http://www.dip.com.br/files/EC_45_comparativo.pdf. Acesso em 05.08.2007.MARTINS, Srgio Pinto.Direito Processual do Trabalho.Ed.27. So Paulo.NASCIMENTO, AMAURI Mascaro.Curso de Direito Processual do Trabalho.Ed. 22. So Paulo: Saraiva,2007.RELATRIO final de projetos de pesquisa: modelo de apresentao de artigo cientfico. Disponvel em: . Acesso em 08.08.2007.Notas:[1]Nascimento, Amauri Mascaro. Curso de Direito processual do Trabalho.22 ed. So Paulo, 2007.[2]http://conjur.estadao.com.br/static/text/58100,1 Revista Consultor Jurdico - Relao de trabalho - Honorrios devem ser cobrados na Justia do TrabalhoInformaes Sobre os AutoresRenata Martins da RosaAdvogada. Especializada em Direito e Processo do Trabalho pela UNISINOS. Professora de Direito do Trabalho da Faculdade Anhanguera Educacional S.A. - Unidade Rio Grande.Marilia Brum da RosaBacharel em DireitoROSA, Renata Martins da; ROSA, Marilia Brum da. A Competncia da Justia do Trabalho para cobrana de honorrios por profissionais liberais aps a EC n. 45/2004 Reforma do Judicirio. In:mbito Jurdico, Rio Grande, XI, n. 56, ago 2008. Disponvel em: . Acesso em dez 2014.