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1 Bióloga, MSc. Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos ([email protected]) 2 Biólogo. Ministério do Meio Ambiente / Projeto Corredores Ecológicos ([email protected]) 3 Bióloga, MSc. Instituto Socioambiental (ISA) ([email protected])
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A EXPERIÊNCIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NA CRIAÇÃO DE RESERVAS PRIVADAS: RECONHECIMENTO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO PARA
CONSERVAÇÃO DA FLORESTA ATLÂNTICA. Maria Otávia Silva Crepaldi
1, Felipe Martins Cordeiro de Mello
2, Silvia de Melo Futada
3
Apresentação A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é um instrumento extremamente importante
para a conservação no Brasil. Contribui para o aumento das áreas protegidas em locais
estratégicos, como ecossistemas ameaçados, zonas de amortecimento de Unidades de
Conservação (UC) e/ou mosaicos, colabora na constituição de corredores ecológicos e no
aumento da conectividade da paisagem e também se apresenta com íntegro propósito social.
Através da compreensão do papel da RPPN e da participação civil em sua criação e manejo, fica
fundamentado o exercício de parte importante da cidadania: as relações socioambientais.
Considerando que grande parte dos remanescentes de Mata Atlântica encontra-se em
propriedades privadas, é de extrema importância a participação dos proprietários de terras na
conservação in situ da biodiversidade.
No âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a RPPN apresenta índices
altamente positivos na relação custo-benefício, tanto referente ao recurso econômico necessário
para a criação e manejo de uma UC quanto à demanda de técnicos e aceleração de todo o
processo, devido principalmente à sua fácil regulamentação. Assim, permite a manutenção da
conectividade entre fragmentos bem como o incremento da representação de áreas prioritárias
para conservação em regiões ainda não suficientemente protegidas pela rede de UC públicas
(Mesquita 2004).
A RPPN vem se constituindo como uma importante ferramenta de complementaridade aos
esforços do poder público para conservação dos ecossistemas nativos e dos recursos naturais
(Mesquita & Vieira 2004). Protegem mais de 580 mil hectares do território brasileiro,
distribuídos em mais de 760 reservas. Só na Mata Atlântica e seus ecossistemas associados
somam cerca de 500 e protegem mais de 100 mil hectares.
Histórico No ano de 2004, o estado do Espírito Santo tinha 2 RPPN oficialmente reconhecidas pelo poder
publico e outras 3 em processo de reconhecimento tramitando no IBAMA. Para agilizar o
processo de criação dessa categoria de unidade de conservação, a Unidade de Coordenação
Estadual do Projeto Corredores Ecológicos/MMA iniciou uma articulação na esfera estadual. O
resultado dessa iniciativa foi a publicação do Decreto Estadual 1.633-R (fev./2006), que
regulamenta o reconhecimento das RPPN pelo estado do Espírito Santo e institui o programa
estadual de apoio às Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Após a publicação do Decreto,
o Governo do Estado teve 120 dias para se adequar e iniciar os protocolos de criação de RPPN.
Nesse ínterim foi realizado um curso de capacitação para 100 técnicos do Estado, incluindo o
Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), o Instituto de Defesa
Agropecuária e Florestal (IDAF) - pois ambos possuem a competência para reconhecer RPPN
estaduais - e o Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER). Mesmo
1 Bióloga, MSc. Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos ([email protected])
2 Biólogo. Ministério do Meio Ambiente / Projeto Corredores Ecológicos ([email protected])
3 Bióloga, MSc. Instituto Socioambiental (ISA) ([email protected])
não tendo a atribuição de criação de unidade de conservação, os técnicos do INCAPER foram
capacitados para divulgar a categoria de manejo, estimular e orientar o proprietário interessado
em criação de RPPN em sua propriedade.
Resultados Após dois anos de validação do Decreto o número de RPPN aumentou de 4 para 10 reservas,
adicionando 2.935,55 hectares em área de UC dessa categoria. As 4 reconhecidas pelo IBAMA
somam 586,22 hectares, que junto com as 5 reconhecidas pelo Estado totalizam 3.534,34 hectares
de RPPN no Espírito Santo (Tabela 1).
Tabela 1. Relação das RPPN do estado do Espírito Santo, ordenadas por município, área, instituição que a
reconheceu e ano de sua criação.
* RPPN criada por pessoa jurídica.
Ao todo existem 7 RPPN criadas por pessoa física e 3 criadas por pessoa jurídica. Quanto
à área protegida, as RPPN de pessoa jurídica somam 2.876,37 hectares, enquanto as RPPN de
pessoa física somam 645,40 hectares. Esses dados estão ilustrados na Figura 1. Cabe ressaltar que
3 das 7 RPPN de pessoa física são as únicas UC do município, sendo elas: RPPN Santa Cristina,
RPPN Três Pontões e RPPN Oiutrem. Estão em tramitação no IEMA outros 13 processos para
criação de RPPN.
18,33%
81,67%
Pessoa Física (7)
Pessoa Jurídica (3)
Figura 1. Quantidade de RPPN
criadas por pessoa jurídica e física no
Espírito Santo e a porcentagem de
área de cada classe.
O processo de reconhecimento da RPPN está ocorrendo dentro do prazo de 120 dias estabelecido
pelo Decreto, caso não haja nenhum entrave na documentação do proprietário. Após a criação é
enviado ofício às Prefeituras e órgão públicos ambientais locais, informando sobre a criação e
Nome da RPPN Município Área (ha) Instituição Ano de criação RPPN Cafundó Cachoeiro do Itapemirim 517 IBAMA 1998
RPPN Santa Cristina Montanha 29,22 IBAMA 1998
RPPN Fazenda Sayonara Conceição da Barra 28 IBAMA 2001
RPPN Três Pontões Afonso Cláudio 12 IBAMA 2004
RPPN Oiutrem Alfredo Chaves 58,1 IEMA 2006
RPPN Mutum Preto* Aracruz 378,73 IDAF 2007
RPPN Recanto das Antas* Linhares 2.202,41 IDAF 2007
RPPN Restinga de Aracruz* Aracruz 295,64 IDAF 2007
RPPN Florindo Vidas Iuna 1,08 IEMA 2008
RPPN Cachoeira Alta Divino de São Lourenço 10,55 IBAMA 2008
TOTAL: 10 RPPN - 3.532,32 - -
solicitando apoio ao proprietário para sua gestão e fiscalização. O cadastro das RPPN é
constantemente atualizado. A destinação de recursos de compensação ambiental para as RPPN
também está em discussão no Espírito Santo, para elaboração de plano de manejo, educação
ambiental e plano de viabilidade econômica da unidade.
Além do atendimento aos proprietários e futuros proprietários de RPPN, os técnicos do Estado
fornecem orientação para elaboração de projetos para captação de recursos e para planos de
manejo. Um dos programas mais importantes para financiamento de projetos de criação e
implementação de RPPN hoje em dia é o da Aliança para Conservação da Mata Atlântica,
conjunto de parcerias reconhecidamente envolvidas na integração e financiamento dos
proprietários de RPPN, que contribui para o fortalecimento desse instrumento de conservação.
Apenas no V edital foram aprovados 9 projetos para criação de 17 RPPN no Espírito Santo,
muitas das quais o Projeto Corredores Ecológicos e o IEMA são parceiros. Já no VI foi aprovado
projeto para elaboração de plano de manejo da RPPN Três Pontões.
Metas Identificamos, atualmente, duas classes de problemas que dificultam a agilidade no processo de
reconhecimento das RPPN: documentação comprobatória incompleta e mapas e cartas
geográficas imprecisas. Quanto à questão documental, por ser uma exigência também prevista em
normas federais, torna-se um entrave para propriedades que não possuem registro de imóvel ou
certidão cinqüentenária. Nesses casos o IEMA orienta o proprietário a regularizar-se junto ao
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Já para aferição do
georreferenciamento, o Projeto Corredores Ecológicos e o IEMA estão adquirindo equipamentos
necessários, além dos fotomosaicos, para execução do serviço de georreferenciamento com
precisão. O órgão possui recursos financeiros previstos para auxílio à criação de 10 RPPN por
ano até 2011 e funcionários capacitados para a realização de georreferenciamento dentro dos
critérios técnicos.
Conclusão A agilidade no processo de criação garantiu um aumento significativo do número de áreas
protegidas e uma maior aproximação do poder público com a iniciativa privada e a sociedade
civil organizada, promovendo uma maior conservação da Mata Atlântica no Estado. A proteção
desses recursos pelos pequenos proprietários de terra deve ser uma busca constante do poder
público. Instrumentos como a educação ambiental e identificação de proprietários com perfil
conservacionista podem incentivar a proteção dos remanescentes florestais por meio da RPPN,
que é uma das maiores contribuições que os proprietários rurais podem dar para a conservação da
biodiversidade.
Referências Bibliográficas Decreto Estadual nº1.633-R, de 10 de fevereiro de 2006 - Dispõe sobre o reconhecimento da Reserva
Particular do Patrimônio Natural Estadual como unidade de conservação da natureza e determina outras
providências. Governo do Estado do Espírito Santo.
Mesquita, C.A B. 2004. RPPN da Mata Atlântica: um olhar sobre as reservas particulares dos Corredores
de biodiversidade Central e da Serra do Mar. Belo Horizonte: Conservação Internacional, 48p.
Mesquita, C.A B. e Vieira, M.C.W (orgs.) 2004. RPPN – Reservas Particulares do Patrimônio Natural da
Mata Atlântica. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 56p.