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Nos 37 anos em que esteve no comando da JH Santos, transformou uma pequena loja na maior rede do varejo no Sul do país. Presidiu a Associação Comercial e a Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul em cinco mandatos e nos momentos mais críticos da história do país, nos primeiros anos da Revolução de 64. Foi o empresário mais influente do Estado durante 20 anos. Foi interlocutor de presidentes da República e dos ministros mais importantes de seu tempo. Páginas 2 a 8 ZERO HORA www.zerohora.com POR TO ALE GRE, QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2009 ANO 28 ESPECIAL SC/PR - R$ 2,50 DEMAIS REGIÕES - R$ 3,50 URUGUAI - $ 48 R$ 2,00 OTIMISTA POR NATUREZA Fábio sabia saborear a vida, era otimista por natureza. Foi um grande privilégio conviver com ele por 22 anos, diz a esposa Wilma. Pág. 3 ARQUIVO DA FAMÍLIA Fábio Araújo Santos, maior liderança do Rio Grande do Sul por duas décadas FAMÍLIA Filhos lembram os melhores momentos Fábio, pai exemplar e sempre presente, deixou lembranças fortes na família. Contracapa ARQUIVO DA FAMÍLIA INOVAÇÃO J.H. Santos teve crescimento baseado na inovação Fábio Araújo Santos foi o pre- cursor do sistema de franquias, criando postos de vendas para crescer no interior. Pág. 6 Um defensor incansável da livre iniciativa Só com o lucro pode haver desenvolvimento Páginas 4 e 5 ACAMPAMENTO Férias nas praias desertas de Quintão O acampamento próximo ao Farol da Solidão era o momento exclusivo da família. Pág. 8 ARQUIVO DA FAMÍLIA Amigos elogiam posturas firmes e a coerência Ao lado de Castello Branco, um “estadista” RESPEITABILIDADE LIDERANÇA Viagens ao exterior para se atualizar CONHECIMENTO Recebendo Médici em Porto Alegre REPRESENTATIVIDADE

FabioAraujoSantos

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Fabio Araujo Santos, maior liderança do Rio Grande do Sul por duas décadas a frente da J.H.Santos

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Page 1: FabioAraujoSantos

Nos 37 anos em que esteve no comando da JH Santos, transformou uma pequena loja na maior rede do varejo no Sul do país. Presidiu a Associação Comercial e a Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul em cinco mandatos e nos

momentos mais críticos da história do país, nos primeiros anos da Revolução de 64. Foi o empresário mais influente do Estado durante 20 anos. Foi interlocutor de presidentes da República e dos ministros mais importantes de seu tempo. Páginas 2 a 8

ZERO HORAwww.zerohora.comPOR TO ALE GRE, QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2009

ANO 28ESPECIAL

SC/PR - R$ 2,50DEMAIS REGIÕES

- R$ 3,50 URUGUAI - $ 48

R$2,00

OTIMISTA POR NATUREZA

Fábio sabia saborear a vida, era otimista por natureza. Foi um grande privilégio conviver com ele por 22 anos, diz a esposa Wilma. Pág. 3

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Fábio Araújo Santos, maior liderança do Rio Grande do Sul por duas décadas

FAMÍLIA

Filhos lembram os melhores momentos

Fábio, pai exemplar e sempre presente, deixou lembranças fortes na família. Contracapa

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INOVAÇÃO

J.H. Santos teve crescimento baseado na inovaçãoFábio Araújo Santos foi o pre-cursor do sistema de franquias, criando postos de vendas para crescer no interior. Pág. 6

Um defensor incansável da livre iniciativa

Só com o lucro pode haver desenvolvimentoPáginas 4 e 5

ACAMPAMENTO

Férias nas praias desertas

de QuintãoO acampamento próximo ao Farol da Solidão era o momento exclusivo da família. Pág. 8

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DA FA

MÍLIA

Amigos elogiam posturas firmes e a

coerência

Ao lado de

Castello Branco,

um “estadista”

RESPEITABILIDADE LIDERANÇA

Viagens ao

exterior para

se atualizar

CONHECIMENTO

Recebendo

Médici em

Porto Alegre

REPRESENTATIVIDADE

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Editoria Especial de Zero Hora > 3218-4300.

O Homem >ç [email protected]

Presidente da Sears, um grande amigo nos EUARelações internacionais

Mais vale um minuto de leão, que vida de cordeiroPensamentos

A trajetória vitoriosa de Fábio Araújo Santos

Perfil Interlocutor de quatro presidentes, o mais influente líder empresarial gaúcho era bom ouvinte. E muito simples

| 2 | ZERO HORA > QUINTA | 12 | MARÇO | 2009

Após ler “Jantar no Antoine’s”, de Frances Parkinson Keys, em 1953, Fábio queria, em al-gum dia de sua vida, jantar no Antoine’s, conhecido restauran-te de New Orleans, nos EUA.

Demorou, mas conseguiu. Em 10 de setembro de 1973, vinte anos

depois, lá estava ele e a esposa Wilma, jantando no Antoine’s, com direito a um show de jazz. Foram à cidade ape-nas para o jantar.

Metas como essa sempre estiveram presentes, de uma ou outra forma, em sua vida. Ele as colocava em um papel e não esquecia. Uma delas era a de, ao completar 50 anos de J.H. Santos – o que ocorreria em 1994 –, alugar uma quinta e passar um ano em Portugal. Wilma sempre ouviu o marido comen-tar o plano e verificou a força desse sonho quando, após sua morte, foi vas-culhar a famosa gaveta do meio, em seu escritório na J.H. Santos.

- Ali, em um envelope, encontrei vá-rios recortes de jornal com anúncios de aluguel de quintas em Portugal.

O Fábio metódico e de rotinas resul-tou em cenas inesquecíveis pela esposa. Em uma delas, que lembra rindo, Wil-ma foi deixada no meio de um salão de dança em Torres, durante uma excur-são, para Fábio poder ouvir o “noticio-so” no rádio do carro. Era 1º de novem-bro de 1957 e ele estava de aniversário. Naquele dia, começaram a namorar.

O sonho com uma quinta

A MORTE, EM SANTA CATARINA

Queda de avião abreviou uma grande história

Homem de metas

Final de semana em casa, ao lado do chorão, a árvore preferida de Fábio

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Última lembrançaDeterminado. Trabalhador incansável. Otimista. Metódico. Coerente. Bom ouvinte. Organi-zado. Sério. Amante das flores, um romântico e um grande pé de valsa.

Essas são algumas características do homem especial e inesquecível que

foi Fábio Araújo Santos. O fato de ter se tornado um dos mais influentes líderes empresariais gaúchos, interlocutor de todos os presidentes, não fez com que perdesse a simplicidade que o acompa-nhou por toda a vida.

Fábio nasceu em 1º de Novembro de 1926 em Porto Alegre e teve uma grande convivência, em seus primeiros anos de vida, com os avós maternos, Fábio Araújo – que lhe deu o nome – e Ernestina Barcelos de Araújo, em sua fazenda de Osório, a Casqueiro. Os mo-mentos que ali passou, percorrendo a região com o avô, marcaram sua vida. E explicam por que gostava de passar su-as férias nas praias desertas de Quintão.

Foi o mais velho dos onze filhos de José Honorato Santos com Alice Araújo. E o sucessor do pai na J.H. Santos e Cia, uma loja de couros que ele havia com-prado em 1915. Começou a trabalhar ali em 1944 como Auxiliar de Escritório. Evoluiu como Técnico em Contabilida-de, Contador e Chefe de Escritório. Em 1950, formado em Economia, passou a ocupar o cargo de Diretor-Superinten-dente e, por fim, presidente da J.H. San-tos S/A Comércio e Indústria.

O respeito à tradição, levou-o a ado-tar um hábito de seu pai: a gravata borboleta. Dizia que era seu “logotipo”. Porque era mais prática e estava sem-pre à mão. O empresário Paulo Vellinho, que tinha o mesmo hábito de Fábio, diz que, quando deixou de usar a gravata borboleta, não tinha a quem dar sua grande coleção, porque ninguém mais usava. Então, deu ao amigo Fábio suas 50 gravatas borboleta.

Fábio estudou até o antigo científico no Colégio do Rosário e cursou Conta-bilidade e Economia na PUCRS. Sem-pre foi um estudioso. Para onde via-jasse, estava sempre acompanhado de livros. Queria aprender, entender tudo.

No final da década de 1950, começou a estudar inglês no Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano, o Cultural. Foi lá que conheceu a mineira de Estre-la do Sul, no Triângulo Mineiro, Wilma Resende, encarregada da área social e cultural, atividades que sempre foram uma marca forte do ICBNA.

Aos domingos, era Fábio que apa-nhava a correspondência da J. H. Santos na caixa postal 60, do Correio; e, às 19h, era o momento de ir para casa, pois “domingo é dia de dormir mais cedo, para poder começar a semana mais bem disposto”, lembra a esposa.

Suas viagens nunca eram de turis-mo, mas de negócios e estudos. E fo-ram muitas: segundo o currículo que distribuía, houve seis para os Estados Unidos, duas para o Canadá, três para a Europa Ocidental e uma por quatro países da América Latina.

Em cada viagem, a mesma rotina de sempre: contatos previamente agenda-dos com grandes redes de varejo e lide-ranças empresariais. Em lá chegando, um caderno sempre à mão para fazer anotações de tudo o que via, de idéias, de novidades. Construiu assim muitas amizades, principalmente nos Estados Unidos. Um de seus amigos era o presi-dente da Sears, que um dia recebeu Fá-bio e Wilma para um jantar com direito a dança no último andar da torre que sediava a empresa, em Chicago.

Fábio, destaca Wilma, “sabia sabore-ar todos os momentos da vida. Sempre dizia que mais vale um minuto de leão, do que uma vida de cordeiro”.

Fábio foi um otimista inveterado. Mas não um otimista que se limitava a acreditar que as coisas poderiam me-lhorar. Ele trabalhava para que as coisas melhorassem. “Transmitia para a gente que não há nada impossível. Era deste-mido. Não havia plateia que o assom-brasse”, lembra a esposa.

E isso valia para tudo. Não se negava a ouvir e dialogar mesmo com quem discordava de suas ideias. Sabia ouvir. E se numa discussão aceitava a argumen-tação do interlocutor, levantava a mão e dizia: touchê!

A vida de Fábio foi interrompida às 17h30 do dia 23 de setembro de 1981, quando o avião que o trans-portava perdeu a rota em decorrên-cia de uma forte neblina e bateu em um morro na cidade de Concórdia, onde pouco depois deveria inaugu-rar a primeira loja da J. H. Santos em Santa Catarina. Também morreram no acidente o secretário gaúcho de Indústria e Comércio, Antônio Car-los Berta, um diretor da MPM Pro-paganda e os dois pilotos. Meia hora depois morreu em outro acidente aéreo em Chapecó, o irmão de Fábio, Félix, que acompanhava para o even-to o secretário de Indústria e Comér-cio de Santa Catarina, Hans Dieter Schmidt,um outro empresário e os dois pilotos, todos mortos.

No dia do acidente, antes da viagem, Fábio fez algo que não era usual: ligou inúmeras vezes, durante todo o dia, insistindo para que a esposa, Wilma, o acompanhasse na viagem.

Houve luto oficial de três dias nos

dois estados e uma grande cerimônia fúnebre em Porto Alegre. Os presidentes Figueiredo e Aureliano Chaves, que es-tava no exercício da Presidência, envia-ram como representante a Porto Alegre o ministro da Indústria e Comércio, Ca-milo Penna, velho amigo de Fábio.

- Eu tinha pouco mais de 24 anos e ele 30. Já usava gravata borboleta. E eu o chamava de senhor – lembra Wilma.

Os dois se conheceram em 1957 e ca-saram em 1959.

- Ele era considerado um solteirão. E resistiu – acrescenta ela. O pedido de casamento ocorreu em um jantar no antigo Restaurante Renner, que existia no prédio das Lojas Renner da Otávio Rocha.

Mas a oficialização do pedido e o noivado foram mais formais, na casa dos pais de Fábio, num casarão da Rua Florêncio Ygartua, no Moinhos de Vento.

- Fábio era muito romântico. Tenho uma pilha de cartões que ele sempre me mandava com as flores que, inva-riavelmente, eram cravos vermelhos. Sempre me mandou duas dúzias de

cravos vermelhos, ao longo de todos os 22 anos que vivemos juntos – lembra Wilma.

Noivos, Fábio e Wilma frequentavam os bons restaurantes da época. Fábio gostava de se alimentar bem, mas nun-ca fez um prato de comida, embora gostasse de ensinar pratos e passar re-ceitas. Também saíam muito para dan-çar, principalmente no Cotillon Club, na Rua General Câmara, no Centro. “Era um pé de valsa”, diz Wilma. Quando jo-vem, Fábio chegou a fazer aulas de dan-ça de salão. Adorava samba.

- Em uma ocasião estávamos em uma boate no México. Tocaram um samba e, quando vi, estávamos os dois sambando no meio do salão, com to-dos em volta, aplaudindo – lembra a esposa.

Gravata borboleta, um acessório inseparável

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Depoimentos de quem conviveu com Fábio

Respeito Empresários, políticos e amigos falam de Fábio Araújo Santos e do papel que ele desempenhou no Estado

Especial > | 3 |ZERO HORA > QUINTA | 12 | MARÇO | 2009

Fábio Araújo Santos teve uma vida intensa nos meios empre-sariais do Rio Grande do Sul. Pelo sucesso que conquistou na J. H. Santos, transforman-do uma pequena loja em uma das maiores redes do varejo no Sul do país. E pelo papel que desempenhou, como a mais in-fluente liderança do Estado por mais de duas décadas.

Graças a suas posições políticas claras e a uma defesa incansável

dos interesses do Rio Grande do Sul, Fábio conviveu com as pessoas mais importantes e mais influentes do país em sua época. Respeitado por todos, foi uma unanimidade nos meios em-presariais e políticos, sendo respeita-do até por correntes contrárias a seu pensamento. Confira, nesta página, depoimentos de algumas pessoas que conviveram com ele.

> É esta Associação um reduto de homens decididos, comandados por um administrador de alto gabarito. (Cordeiro de Farias, um dos líderes da Revolução de 64, mas que participou de todas as grandes rebeliões e revoluções ocorridas no país desde a década de 20).

> Movido por uma energia pessoal realmente extraordinária, Fábio, tanto como principal gestor da rede de lojas de departamentos da família ou como líder empresarial do setor de serviços, foi uma figura de grande influência no Rio Grande do Sul. (Luiz Fernando Cirne Lima, amigo pessoal e ex-presidente da Copesul).

> Fábio foi conceituadíssimo no Estado e um líder desde os primórdios de sua atividade comercial. Não era uma liderança que decorria das causas que ele defendia, mas uma liderança natural. Foi um homem extraordinário para o seu tempo, com uma visão larga, moderna e que acre-ditava no sucesso do trabalho. Foi um homem que deixou saudades por tudo o que realizou. (Jair de Oliveira Soares, político, ex-ministro da Previdência Social e primeiro governador eleito no Estado após a redemocratização).

> A rede J.H. Santos usava com modernidade os instrumentos então disponíveis de comunica-

ção. Em especial os meios de massa: rádio, jornal e televisão. Foi aí, no começo do que é hoje a RBS, que Mauricio (Sirotsky Sobrinho) e eu o conhece-mos. Éramos, então, apenas a Rádio e TV Gaúcha. Sob a liderança do Fábio, a J.H. Santos transfor-mou-se num dos grandes anunciantes do nosso mercado. (Jayme Sirotsky, presidente do Conselho de Administração do Grupo RBS).

> Ele sabia ouvir e perguntar, o que não é muito comum. Era muito coerente com suas ideias e muito firme em su-as convicções e seus princípios.. Tinha um

sentido de agregação. Quando herdou a empresa do pai como filho mais velho, herdou também a responsabilidade por toda a família. Ele tinha um sentido de família muito forte e era, antes de tu-do, um pai de família. Foi uma pessoa completa, aberta às mudanças e à inovação (Sulamita Gif- foni, amiga, confidente e companheira de jardina-gem de Fábio).

> Fábio foi um ícone da minha geração. Lí-der jovem, acompanhei-o pela mídia, até que um dia, na Springer, minha secretária anunciou que o Dr. Fábio Araújo Santos em pessoa, desejava falar-me. É obvio que emocionei-me, pois iria conhecer a pessoa que eu admirava pelo que vi-nha realizando como homem de negócios e líder empresarial. Fábio representava naquela época, segundo minha lembrança, a fábrica de alumí-nio do Grupo Votorantin, além de liderar a J.H. Santos. Fizemos uma bela amizade, nos identifi-camos pelo fato de ser ele uma liderança ativa, e eu mal sabia que estaria entrando na sua escola. (Empresário Paulo Vellinho, ex-diretor da Springer, Coemsa, Avipal e dirigente de diversas entidades empresariais nacionais).

> Sua visão como empresário prova-se a si mesma na esplêndida obra que deixou: soube viver seu sonho no tempo certo e convertê-lo em realidade. Seu otimismo, talvez simbolizado na alegre gravata borboleta que usava, contagiava a tudo e a todos: foi a vara mágica que ajudou a construir o seu tempo e sua vida (...). Ele não foi ainda superado na condução dos destinos da classe empresarial (...). Somava ao dinamismo otimista, os dons de tomar decisões de risco nos momentos exatos, de enxergar a floresta além das

> Fábio começou a trabalhar em 1944

na pequena loja de seu pai, José Honorato

Santos, um caixeiro viajante de Tijucas-SC.

Ele se mudou para Porto Alegre no início

do século passado, comprando em 1915

uma loja de couros na Vigário José Inácio.

Tornou-se a J. H. Santos e Cia.

> Com 30 anos, em 1956, Fábio já era

Diretor Secretário da Associação Comercial

de Porto Alegre e da Federação das Asso-

ciações Comerciais do Rio Grande do Sul.

> Em 1963, aos 37 anos, tornou-se pre-

sidente das duas entidades. Foi a liderança

empresarial mais jovem do Rio Grande do

Sul. E a mais influente por 20 anos.

Liderança jovem, que marcou época nos meios empresariais:

Saiba mais

árvores e de esquecer o interesse pessoal em be-nefício dos valores públicos por ele postulados. (Barbosa Lessa, folclorista falecido em 2002, escri-tor e amigo de Fábio).

> Admirava Fábio pela vida que levava e o que representou como exemplo para todos que conviviam com ele. Ele foi um homem público que marcou com sua ação e otimismo contagian-te o tempo que esteve conosco. Fazia bem para a gente falar com ele. (Geraldo Tollens Linck, já fa-lecido, fundador do Projeto Pescar).

> Ele foi o grande expoente da geração – ho-je infelizmente quase extinta – dos empresários armados de espírito público, capazes de enxergar muito além dos problemas cotidianos do seu ne-gócio, sensíveis aos grandes desafios nacionais. (Advogado Couto e Silva, um amigo de Fábio).

> Ele adorava política. Tinha diversos amigos políticos, que muitas vezes pediam sua opinião e ele os orientava com sua sabedoria. Em relação à empresa que presidia, ele era o seu cérebro. Com sua direção, um pequeno negócio expandiu-se em uma rede de lojas. Seu estilo de liderança era democrático e firme. Reunia os gerentes e os ouvia para a tomada de decisões. Mas não se exi-mia da responsabilidade de decidir. Possuía uma visão abrangente da empresa e segurança sobre as metas a alcançar. (Glecy Linhares da Fontoura, secretária de Fábio por 25 anos).

Fábio, com dois de seus ídolos: o presidente Castello Branco (esq.) e o poderoso ministro Roberto Campos

| Artigo | Edmundo Giffoni |JORNALISTA E AMIGO DE FÁBIO POR CERCA DE 40 ANOS

A convivência com Fábio era de muitos anos, talvez uns 40 anos. Praticamente vi nascerem todos os seus filhos. Daí o contato cotidiano das duas famílias.

E daí a ideia de passarmos juntos as férias quase paradisí-acas, na praia desértica rumo ao Farol da So-lidão, quando nossa alegria era uma só:

desfrutar a natureza como se fosse-mos uma só família. Fábio levava um enorme trailer, veículo de muito con-forto que ainda possuía um “avancê” para nos dar sombra e abrigo. O rit-mo do nosso acampamento era quase febril, com muito esporte, viagens à praia do Quintão, aos lagos, às pesca-rias que não davam resultado algum mas divertiam.

Chegávamos a ter 18 pessoas no acampamento, todas elas tratadas na base das brincadeiras, gozações, trotes e principalmente muito amor. Este autor que, pela sua idade e experiên-cia, liderava muitas das atividades, principalmente esportivas, teria que possuir um apelido, como todos os de-mais e sua ambição era a de ser, por suas aventuras bem ou malsucedidas, o Robinson Crusoé. Lamentavelmen-te a numerosa gurizada modificou o seu apelido para Zé do Contra, quando o próprio Robinson Crusoé já tinha nomeado como o Sexta-Feira o filho mais velho do Fábio, o Fábio Filho ou familiarmente o Fabinho, grande auxiliar nas nossas aventuras. Mais tarde seu apelido foi trocado pa-ra “Friday”.

E agora vamos mostrar toda a no-menclatura dos numerosos partici-pantes do Acampamento, inclusive de alguns visitantes, uns ilustres , outros nem tanto.

Apenas um intróito para explicar o apelido ou a denominação da figura principal do acampamento: Fábio, que nas suas numerosas atividades em Porto Alegre chegava a se bar-bear duas vezes por dia mas que, ao chegar ao acampamento, desligava-se totalmente, aproveitando o justo descanso da liberdade. Vestia-se com-pletamente livre e deixava a barba crescer. Este autor, vendo-o assim bar-bado e livre de roupas convencionais, inteiramente à vontade, lembrou-se da figura famosa de um dos mais importantes personagens da obra de Victor Hugo, Os Miseráveis: Jean Val-jean, que era o rei do bando. Então o título principal que coube ao Fábio foi, naturalmente, o de Rei.

E em seguida o título dos demais componentes do acampamento: a mulher do Rei era a Querida Mamãe, que naturalmente açambarcava todo o sentido carinhoso da turma. Depois vinha a Bela, a filha mais velha do

casal e em seguida a Gazela, muito freqüentadora das dunas. E como irmãos do Sexta-Feira vinha o Zé do Arroz, caçula da família e muito reclamão; o Cacá, o Tatuíra e o Mãe D’Água, que certo dia veio reclamar de seu apelido alegando questão de sexo, já que sendo homem não lhe cabia um apelido feminino. Sua recla-mação ainda está nos arquivos, mas lhe foi dada razão. O Zé do Arroz, passados uns tempos, teve seu apeli-do alterado para Zé Lamento, tal os apelos que fazia de minuto a minuto à Querida Mamãe.

Um outro protesto foi o deste au-tor, que nunca concordou com seu apelido de Zé do Contra. Mas foi em vão. Permaneceu mesmo como Zé do Contra. Acho que havia nesse apelido alta dose de vingança e ciúme, já que ganhava todas as partidas olímpicas: no carteado, no tênis etc.

A pessoa mais chegada à Querida Mamãe era a Tia Sula, uma amiga do peito. Outra integrante do acam-pamento era a MR, companheira pra tudo.

Complementando a turma das competições, também é obrigatório registrar a figura do Chan-Chan, que atrapalhava todo o mundo no meio do caminho para o trailer, com os seus quatro ou cinco anos de idade. Objeto do carinho de todos, era filho da querida Marisa, que ajudava no tratamento da rapaziada e na assis-tência à Ivone na deliciosa comida que preparavam para a gente faminta que éramos.

Lembramos também do Dudu Chevrolet, dedicadíssimo a qualquer problema automobilístico. Um dos mais famosos visitantes do acam-pamento era o Tio Pal, adorado por sua ranzinice, que deixava saudades em toda a meninada. Entre toda essa gente não havia ninguém com mais de 17 anos, motivo por que levavam pau doTio Pal e do Zé do Contra, com permissão da Querida Mamãe e do Rei, este nas raras horas e momentos em que deixava suas leituras.

E, por falar em leituras, não é de-mais lembrar aqui o que aconteceu com o Rei. Lendo há horas, sem pa-rar, dentro da Veraneio, não notava a chuva que caía copiosamente na praia. O espanto foi grande entre todo o pessoal do acampamento, quando se via a água se infiltrando na areia movediça e a caminhonete começan-do a sumir, com o Rei empolgado em suas leituras lá dentro. Foi a nossa maior aventura a salvação do Rei, com a Veraneio sumindo ali na nossa frente. O socorro só pode livrar a ca-minhonete com um trator pertencen-te à fazenda do ex-deputado Zaire.

O único jornal a registrar esse fato inédito foi O Clubinho, em edição es-pecial. Era o órgão especial dedicado exclusivamente aos acontecimentos do acampamento, cujos assinantes, ao lerem este artigo, poderão atestar a veracidade das notícias ali registra-das pelo Zé do Contra.

Junto ao Farol da Solidão

FOTOS DO ARQUIVO DA FAMÍLIA

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Editoria Especial de Zero Hora > 3218-4300

ç [email protected] Liderança >

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Liderando o comércio por cinco mandatos

Duas décadas Fábio foi o principal líder empresarial gaúcho entre 1960 e 1981

Acumulou as presidências da Associação Comercial de Porto Alegre e da Federação das As-sociações Comerciais do Rio Grande do Sul por cinco man-datos: quatro deles consecuti-vos, entre 1963 e 1970, tendo feito seus sucessores nos anos seguintes, e retornou em 1980.

Monetarista convicto, adepto das teorias e dos pensamentos de

Milton Friedman e do brasileiro Ro-berto Campos, teve participação ativa em todos os grandes acontecimentos políticos e econômicos desses vin-te anos – os mais conturbados e de maiores transformações ocorridas em toda a história da vida brasileira.

Coerente e destemido, elogiava e apoiava sempre que considerava ade-quado, e criticava quando os interes-ses da sociedade, do Estado e do país eram colocados em risco em decor-rência de ações e medidas equivoca-

Capas de Zero Hora mostraram, ao longo de 20 anos, uma atuação intensa Em defesa do Rio Grande

Um homem à frente dos acontecimentosImagens de um líder, através das capas de Zero Hora

das dos governos. Foi, por exemplo, um dos críticos do aumento do en-tão ICM pretendido pelo governador Leonel Brizola, não se intimidando pelas ameaças de seu secretário de Justiça que, em ligação para a Asso-ciação Comercial, disse que não con-seguia mais “conter as massas”, que ameaçavam se deslocar em direção ao prédio da entidade. Foi necessário fazer barricadas na parte interna pa-ra reforçar a porta que, minutos de-pois, era pressionada por uma multi-dão furiosa.

Nos anos em que liderou as entida-des do comércio gaúcho, encontrava-se e trocava correspondências regu-larmente com presidentes, ministros e as mais importantes autoridades federais. Era convidado para falar a estudantes, políticos, em clubes como o Rotary. As suas manifestações, cla-ras, objetivas e sempre apresentando sugestões, formam o melhor retrato de seu pensamento (próxima página).

O ex-presidente Humberto de Alencar Castello Bran-co, o primeiro presidente da Revolução de 64, era uma referência constante para Fábio. Por sua seriedade, por seu espírito democrático e por ter tido a capacidade de tirar em mil dias o país do caos em que se encontrava, alinhando-o com a tranqüilidade, segurança e os prin-cípios econômicos das economias mais desenvolvidas. Fábio considerava-o um estadista e o brasileiro mais importante do século, comparando-o a De Gaulle, Roosevelt e Winston Churchill.

A admiração era tão forte, que Fábio liderou um movimento empresarial para a construção de um mo-numento em homenagem a Castello Branco, inaugura-do no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, na esquina das Avenidas Goethe e 24 de Outubro. Onde demons-trou, mais uma vez, seu prestígio. Compareceram à

inauguração o então presidente Figueiredo, vários mi-nistros e os ministros do governo de Castello Branco.

- Sua visão de estadista, sua convicção de ideais e seu espírito reformista, modernizaram o Brasil, pre-parando-o para enfrentar a nova realidade mundial – discursou Fábio, durante a inauguração do monumen-to, em 25 de abril de 1979.

Fábio encontrou-se com Castello Branco em diver-sas ocasiões, em Brasília e quando o recebeu em Porto Alegre. O relacionamento estreito com os presidentes da República continuou, nos anos que se seguiram à morte de Castello, com Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo. Também foi interlo-cutor constante de seus ministros, como Roberto Cam-pos, Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen, entre outras autoridades.Ao lado de Figueiredo, discursando na inauguração do monumento no Parcão

Monumento no Parcão para homenagear Castello

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Fábio na posse de 1980, ao lado do ministro Camilo Penna (E), da Indústria e Comércio, e do governador Amaral de Souza (D)

FOTOS DO ARQUIVO DA FAMÍLIA

Page 5: FabioAraujoSantos

Embora um revolucionário de primeira hora, Fábio Araújo Santos (na foto entre os generais Costa e Silva e Castello Branco, na Associação Comercial) deixava clara sua independência mesmo quando elogiava as primeiras medidas pós-Revolução de 64. “Assim como aplaudimos sem restrições, conquistamos a força moral para criticar sem concessões”, disse.

- Não estávamos à beira do caos. Já tínhamos entrado nele. O governo não dispunha das condições mínimas para o exercício da autoridade e, acumulando erros e desmandos, a par de uma nítida tendência esquerdista, chegou a março de 1964 completamente desmoralizado - disse ele, explicando por que apoiou a Revolução de 64 desde o primeiro momento.

Independência

UMA VISÃO LIBERAL SOBRE A SOCIEDADE E A ECONOMIA

ZERO HORA > QUINTA | 12 | MARÇO | 2009

Pensamento Econômico

Consumidor

Muito antes de se falar em direitos do consumidor, Fábio (na foto, avaliando produtos na J. H. Santos) defendia incansavelmente a necessidade de surpreendê-lo. “Na atualidade, o processo econômico é comandado pelo consumidor, que se tornou um verdadeiro ditador, cabendo ao comércio facilitar esta tarefa de comando, colocando à disposição do consumidor os mais diversos produtos, as mais diversas marcas e nas mais variadas condições”, disse ele em palestra no Rotary.

Democracia e liberdade

Sou democrata e, apesar de vivermos numa época em que democracia sofre vários qualifi-

cativos, ainda assim acredito que o termo por si só encerra um conceito acabado e absoluto. (Discur-so de paraninfo, 1964).

Cremos na democracia e, por isto, cremos na livre empresa. (...) E, porque assim acreditamos, temos fé que com o esforço de todos e de cada um, este país encontrará o caminho para também de-monstrar ao mundo que a liberdade é a mais co-piosa fonte de progresso e da justiça social. (Em 5/8/1964, ao tomar posse para o segundo mandato na Associação Comercial de Porto Alegre e na Fe-deração das Associações Comerciais do Rio Gran-de do Sul.

u Não cremos na liberdade civil sem a liberdade econômica.

u Não é possível a promoção do social sem o desenvolvimento econômico. A tentativa da divisão da riqueza antes de sua criação, resulta numa simples socialização da miséria.

u A livre iniciativa, antes de tudo, é aceitação de riscos. Mas é também um estado de espírito aberto à idéia de que somente dissociada de favores, a empresa tem condições plenas de comprovar a sua eficiên-cia (1970).

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CríticasApesar de interlocutor privilegiado

nas altas esferas do poder, em razão de sua grande representatividade no Estado, Fábio Araújo Santos não poupava críticas ao governo como instituição: é empreguista e ineficiente.

Foi um incansável defensor da redução de impostos:

- Está na hora de alertarmos as autoridades responsáveis de que esperamos, para o próximo ano, não só a eliminação já prevista dos adicionais dos impostos de Consumo, Selo e Renda, mas também uma redução nestes mesmos tributos - disse ele em 1966, tendo na platéia o o então ministro da Fazenda e futuro senador, Roberto Campos.

ÚLTIMA POSSE

Fé“Só em clima de

liberdade de iniciativa, pela variedade de oportunidades e escolhas que oferece (a livre empresa), o desenvolvimento econômico e o bem-estar social podem ser alcançados da forma mais eficiente e segura.

Monopólio do petróleoJá é tempo de quebrarmos esse tabú, e fazer

com que outras pessoas do porte moral de V. Sa. venham de público expor suas ideias para que possamos ver definitivamente resolvido esse fundamental problema. (Correspondência aA. J. Renner, referindo-se ao monopólio estadual do petróleo, em 9/4/1955).

Empresademocratizada

A empresa deve ser democratizada. Sem a quebra da unidade de direção, a administração deve ser descentralizada ao máximo, para que os colaboradores melhores e mais eficientes possam exercer suas habilidades e ascenderem na escala da administração, realizando-se assim como homens. (Palestra para estudantes de Administração da PUCRS, na década de 70).

IsençãoPara Fábio, o bem do país era mais

importante que os interesses pessoais. Por isso defendeu medidas anti-inflacionárias em junho de 1974, mesmo reconhecendo que “provocarão uma redução no consumo de eletrodomésticos”.

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J.H. Santos, a 20ª maior empresa do Rio Grande do Sul

Em pouco mais de trinta anos, Fábio Araú-jo Santos transformou a J. H. Santos na 20ª maior empresa do Rio Grande do Sul.

Se as ações inovadoras e a consequente preferência dos consumidores são explicações importantes para esse crescimento, também teve relevância especial a abertura do capital da empresa em 1971 e a grande receptividade obtida no mercado capitais pelas suas ações. Os papéis da J. H. Santos normalmente se situavam entre os mais procurados entre as organizações do Estado.

E os resultados para os investidores não podiam ser melhores, como informou Fábio em sua última manifestação pública antes de morrer, em nota enviada para a coluna Informe Econômico, de Zero Hora, publicada na edição de 20 de setembro de 1981. Fábio destacava que, entre 1972 e 1981, as ações da empresa, com rentabilidade de 19.673%, foram o melhor investimento do país.

As razões para esse “excelente desempenho”, segundo o presidente da J. H. Santos, foram:

- Trabalho, muito trabalho.

Última posse de Fábio na Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul, em 1980. O que falou sobre as pequenas e médias empresas:

- São os expoentes mais legítimos e, por isso, representativos da expressão essencial e inerente ao homem, que é a

liberdade. Liberdade de opção, liberdade de iniciativa.

Sobre sua atividade na entidade:- Os momentos aqui vividos ficaram

marcados (...), obrigaram ao empresário que sou uma vivência bem maior do que o mundo de seu próprio negócio.

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Visão Como um pequeno negócio se transformou na maior rede do varejo

A construção da J.H. Santos

Sucesso baseado na boa relação com o cliente

Dois momentos do trabalho de toda uma vida

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Crescimento baseado em franquiasVisão de negócio

Propaganda intensa foi ferramenta estratégicaInovação

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A Obra >ç [email protected]

Antiga J.H. Santos, quando ainda vendia só couros, no momento em que foi assumida por Fábio

Galeria J.H. Santos, uma repaginação total do negócio que levou a empresa ao topo do varejo no Sul do país

Um homem de visão, que en-xergava muito além de seu tem-po. Um estudioso dos rumos do varejo, no Brasil e em inúmeras viagens pela Europa, Estados Unidos, Canadá e por diversos países da América Latina. Um admirador da inovação. Com posições muito claras em rela-ção à importância do consumi-dor e da necessidade de atendê-lo com excelência e seriedade. E um parceiro sério. Com esses ingredientes, Fábio Araújo San-tos transformou a J. H. Santos de uma simples loja de artigos de couro na maior rede do va-rejo em todo o Sul do país, em pouco mais de trinta anos.

Foi sua visão de que o mercado mu-dava rapidamente que o levou a

alterar o ramo de atividades da entãoJ. H. Santos e Cia., voltando-a para o segmento que a levou para o cresci-mento nas décadas seguintes. Come-çou com o Departamento de Cortinas, Decorações e Móveis. E evoluiu, em 1970, para a venda dos eletrodomésti-cos, por indicação do representante da Philco. A filial da GE, ao lado da loja, foi outro incentivo para a expansão dos negócios. Era respeitado e teve crédito fácil para ampliar seu comércio no en-dereço mais tradicional do varejo, no nº 204 da Rua Dr. Flores, unificada de-pois com a Galeria J. H. Santos.

Treze anos após assumir o comando do pequeno negócio, abriu em 1963 a primeira filial em Porto Alegre, na Av. Presidente Roosevelt e, em 1967, iniciou a expansão pelo interior, com a inauguração de uma filial em Uru-guaiana. A chegada da J. H. Santos à ci-dade revolucionou o comércio na fron-teira, onde ainda não havia sinal de TV e a programação era recebida por fita, chegando só no dia seguinte. Mas a po-pulação adorou poder comprar sua te-levisão. A árvore na frente da loja che-gou a ser decorada com as caixas das embalagens dos aparelhos de TV. Vi-nham compradores da vizinha Argen-tina e os estoques não eram suficientes pra tanta demanda. Os aparelhos eram levados direto da fábrica para a filial e retirados diretamente do caminhão. Nem havia tempo para descarregá-los.

O sucesso dessa loja fez Fábio per-ceber o potencial de crescimento que existia no Interior do Estado. E tam-bém o fez perceber que era necessário ser criativo para crescer rapidamente. Se os investimentos teriam que ser

muito altos para chegar às principais cidades com lojas próprias, desenvol-veu um modelo exclusivo de franquia, quando esse termo nem mesmo exis-tia.

Tratava-se de um processo simples, explica o consultor Hermes Ghidini, que foi admitido na J. H. Santos jus-tamente nessa época, em 1967, como auxiliar de escritório do recém criado Departamento de Vendas do Interior e cinco anos depois foi promovido a Ge-rente de Promoções e Propaganda.

Fábio detectava bons comércios no Interior e convidava os proprietários das lojas a se tornarem postos de ven-da da J. H. Santos, usando sua marca e vendendo seus estoques, remuneran-do-os com uma comissão de 6 a 8%. Isso garantiu uma expansão muito rá-pida. E quando percebia que o interes-se dos parceiros diminuía e as vendas podiam cair, criou uma evolução do modelo: assumia os postos como lojas próprias, alugando as dependências.

Fosse posto ou filial, Fábio sempre comparecia para as inaugurações, que se transformavam em um evento importante nas cidades, com direito a cortar a fita em solenidade que reunia prefeito e todas as autoridades locais. À noite seguia-se uma festa comemo-rativa, com jantar e baile, muitas vezes aberto por Fábio e a esposa, Wilma.

Seus discursos em todas essas inau-gurações tinham um tema comum: a importância de atender bem o cliente e a integração da J. H. Santos com a co-munidade.

Fábio, diz Ghidini, “não ficava espe-rando as coisas acontecerem; sabia co-mo se movimentar”. Mas não bastava

antecipar movimentos e ter um foco muito claro e de absoluta correção em relação aos consumidores. Também era necessário chegar ao consumidor com eficiência. E Fábio soube fazer isso como ninguém, valorizando a comuni-cação e a propaganda como uma ferra-menta estratégica de seu negócio.

Foi de Fábio a concepção das grandes campanhas institucionais e do patrocí-nio à música e cultura gaúchas, criando uma relação afetuosa com os consumi-dores. A J. H. Santos foi a primeira rede a utilizar artistas nacionais em suas campanhas, com destaque especial pa-ra Jô Soares, o garoto propaganda das Barbadíssimas, em novembro.

A empresa tornou-se a maior anun-ciante do Rio Grande do Sul, sempre sob o comando da MPM Propagan-da, a maior agência de publicidade do país e que tinha sede em Porto Alegre. Havia lá um batalhão de publicitários trabalhando em tempo integral para a J. H. Santos. Daí também surgiu uma grande amizade com um dos sócios da agência, Antônio Mafuz, e com seu su-perintendente, Adão Juvenal de Souza, que morreu junto com Fábio no aci-dente aéreo em Santa Catarina.

O crescimento da J. H. Santos foi re-forçado por uma inovação introduzida por Fábio no mercado: a expansão do

crédito, com prazos longos para o pa-gamento. Nos anos 70 o parcelamento chegou a 48 prestações fixas, o que era possível graças à credibilidade constru-ída pela empresa e por seu presidente.

Em igualdade de importância com as inovações e a boa relação com os consumidores, Fábio destacava a valori-zação do colaborador. Com frequência, lembrava lições recebidas de seu pai:

- A lição mais profunda que recebe-mos de José Honorato dos Santos foi que a atividade empresarial é, antes de tudo, uma atuação conjunta, e que somente o colaborador respeitado mo-ral e materialmente tem condições de oferecer o seu trabalho com eficiência e dedicação. A atenção aos colaborado-res não é uma atitude paternalista, mas uma postura consciente de entrosá-los no ambiente da empresa e de fazê-los participar, de maneira efetiva, em to-dos os aspectos de nossa atividade.

Em 1981, quando houve o acidente, a J. H. Santos contava com 59 unidades,

presente em todas as principais cida-des gaúchas. Os anos que se seguiram ao acidente continuaram sendo de crescimento, mas o cenário do comér-cio tornou-se outro. A crise do petróleo, no início da década de 80, trouxe uma forte inflação. A economia se desacele-rou e isto ainda coincidiu com a chega-da de players nacionais ao Estado.

A J. H. Santos chegou a ter mais de 90 lojas em seu auge. Mas a falta do carisma, da liderança e da visão de Fábio começaram a fazer diferença. O crédito diminuiu e a empresa co-meçou a encolher. Em meados da dé-cada de 90 precisou fazer um acordo operacional com a Lojas Colombo, passando a utilizar seus estoques. Em 1997, aos 82 anos, suas últimas 36 lo-jas foram vendidas para o Ponto Frio e para a Lojas Arno, posteriormente vendida para o Magazine Luíza. Es-tava encerrada a história da empresa que foi a precursora do varejo moder-no no Sul do país.

A alegria do empreendedor inaugurando lojas...

... em Cruz Alta ... ... e em outra cidade do interior, lançando o conceito de franquia.

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WILMA ARAÚJO SANTOS,ESPOSA DE FÁBIO

“Na J. H. Santos Fábio era o líder, o idealizador, o sonhador e sonhos não se delegam.”

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Lazer Acampamentos de verão fortaleciam o convívio familiar, com muita diversão

Férias, nos confins de QuintãoUma vida em fotos

Editoria Especial de Zero Hora > 3218-4300

Muita diversão em ponto remoto do litoralFérias de verão

Governador Guazzelli visitou Fábio em QuintãoImportância

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A Família >ç [email protected]

Incansável e em constante movimento durante o ano, Fá-bio parava por cerca de quin-ze dias durante o verão. E se transformava. Com a Veraneio da família, dois trailers, o fusca do amigo Edmundo Giffoni e um Gurgel, esse curto período de descanso tinha um endere-ço certo: um ponto deserto na praia de Quintão, no caminho para o Farol da Solidão.

Para Fábio, além do descanso, o tradicional acampamento de to-

dos os anos representava também um retorno aos alegres tempos da infância, quando percorria a região com seu avô Fábio, que lhe deu o no-me e ao qual era muito ligado, tendo convivido com ele até os 12 anos.

Para Fábio Araújo Santos não ha-via nada melhor do que levantar-se da cama, na barraca, e pisar a areia com os pés descalços. E com a barba por fazer, porque essa era uma tarefa exclusiva da cidade. Por isso a foto oficial do levantamento do acampa-mento era sempre uma pose para mostrar a barba crescida. E, claro, sem a gravata borboleta.

Sua alimentação era frugal. Pela manhã, uma maçã. À noite, geral-mente, maçã, salsicha e tomate. O al-moço era convencional, mas modera-do, na praia e na cidade.

As reminiscências do passado e as aventuras com o avô, eram transfor-madas nos causos do Romualdo, que contava animado nas rodas de con-versas com os filhos, após horas de lei-tura na Veraneio, ou nos passeios com o inseparável filho mais novo, Daniel.

Fábio levava uma mala de livros

para a praia e saía de lá com todos lidos ou consultados. Certa vez, ab-sorvido por inteiro na leitura, não percebeu que a forte chuva que caía estava levando a caminhonete a afundar na praia. Foi necessário chamar um trator de uma fazenda vizinha para evitar que a Veraneio fosse perdida.

Enquanto Fábio lia, os sete fi-lhos divertiam-se com as brinca-deiras, os jogos e as olimpíadas organizadas por Giffoni, um co-lunista de esportes da Folha da Tarde. E nas idas diárias, com a Veraneio ou de Gurgel (alugado por Fábio), para buscar pão, pei-xe e gelo em Quintão, um peque-no percurso que se transformava numa demorada viagem, cheia de aventuras. Giffoni dava um jeito de atolar para que, a seguir, as crian-ças se divertissem desatolando o veículo com uma pá que estava sempre à mão. Levaram anos para perceber que era uma encenação.

Os visitantes do acampamento naquela praia desolada de Quintão eram raros. Mas em algumas ocasi-ões famosos. Foi o caso do então go-vernador Synval Guazzelli, acompa-nhado de alguns assessores.

Ele viu ali o Fábio Araújo San-tos em uma versão que poucos ti-veram o privilégio de conhecer: a do poderoso empresário e do líder empresarial mais influente do Rio Grande do Sul em trajes simples, com a barba por fazer há dias e a mesma simplicidade de sempre.

E onde os ares e os ventos da infân-cia lhe davam forças para enfrentar o restante do ano com sua maratona de compromissos.

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Formando de Contabilidade (1946)

Formando de Economia (1950)

Primeiros anos na Federasul (1966)

Empresário de sucesso (década de1970)

5ª posse na Federasul (1980)

O hobby da jardinagem nos finais de semanaFábio sempre teve os pés no

chão. Quando se casou com Wilma, optou por uma vida modesta, mesmo sendo Diretor da J.H. Santos e da Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul. Por isso o primeiro endereço da vida de casados foi um apartamento alugado de 3 dormitórios na Rua Ferreira Viana, no Edifício Marrocos, bairro Petrópolis.

Com os filhos chegando foi necessário mais espaço e alugaram uma casa, também em Petrópolis. Já com seis fi-lhos é que houve a mudança para a Zona Sul, em 1968. A cerca de 800 metros da casa onde há um ano já moravam

os amigos da família, Ed-mundo e Sulamita Giffoni, que também eram vizinhos em Petrópolis.

Ali, na Zona Sul, surgiu o jar-dineiro. Vendo Sulamita organi-zar o seu jardim, Fábio também quis, ele mesmo, preparar o seu. Gostava muito de folhagens e arbustos coloridos (foto). E lo-go encontrou os preferidos: os crótons, que plantou com toda a sua variedade de cores. E as Bougainvilles, também conhe-cidas como Primaveras.

Sábados e domingos eram os dias de pegar a tesoura e ir para o jardim, seja para plantar alguma coisa ou para aparar os galhos. Passava horas nessa ati-

vidade. E contemplando sua ár-vore preferida, um chorão que havia no quintal da casa. Mas, à tarde, muitas vezes havia uma visita aos Giffoni, onde gostava de ver os jardins de Sulamita e tomar uma cerveja bem gelada oferecida por Edmundo.

Nos sábados pela manhã, no início do casamento, nos tem-pos do apartamento da Rua Ferreira Viana, o compromisso era político, com os integrantes do Partido Libertador, quando compareciam, entre outros, no-mes que ficariam famosos no futuro, como Paulo Brossard e Romeu Ramos. Não havia al-moço, mas um “prato” era obri-gatório: a salada de frutas.

A felicidade com um acampamento no meio do nada

A visita ilustre do governador Synval Guazzelli

A foto de despedida, para registrar a barba

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POR TO ALE GREQUINTA-FEIRA

12 DE MARÇO DE 2009HORÁRIO DE

FECHAMENTODESTA EDIÇÃO

DONA WILMA E FILHOS, NO INÍCIO DE 2009

AV. FÁBIO ARAÚJO SANTOS, EM PORTO ALEGRE

ZERO HORAFI LIA DA AO IVC - INS TI TU TO VE RI FI CA DOR DE CIR CU LA ÇÃO E ASSOCIADA À ANJ - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS

DEPOIMENTOS

A família Fábio Araújo Santos se reúne em uma foto para a posteridade

Avenida Fábio Araújo Santos, no bairro Nonoai.

Fábio sempre dizia que era fácil educar filhos. “Bastava dar muito amor e bom exemplo”,

resume a esposa, Wilma Araújo Santos, com quem esteve casado por 22 anos. Mesmo com os

compromissos da empresa em crescimento e a presença diária na Associação Comercial, nada o

afastava de seu compromisso de todos os dias: levar os filhos no Colégio João XXIII. “Saía às 7h

já com as crianças no carro. Deixava-as no colégio e depois é que ia para a empresa. Foi um pai

muito presente. Gostava de conversar com as crianças. Sabia ouví-las”, lembra Wilma.

A receita de Fábio para a família

Uma avenida em Porto

Alegre, no bairro Nonoai,

e uma rua em Caxias do

Sul, no bairro Delazzer são

algumas das homenagens

do Estado a Fábio Araújo

Santos. A proposta na

Capital foi apresentada

pelo vereador Luiz

Vicente Dutra, com a lei

sendo sancionada pelo

prefeito Guilherme Socias

Villela em 24/12/1982.

A inauguração ocorreu

em 23/9/1983, quando o

prefeito era João Dib. Já

em Caxias do Sul, a lei foi

sancionada em 30/12/1981.

Na Federasul, presidida

por Fábio por quase nove

anos, a sala de reuniões da

diretoria também recebeu

seu nome.Sala Fábio Araújo Santos, na Federasul.

“Meu pai era uma pessoa de princípios e valores muito claros e fortes. Dedicado à J.H., trabalhava muito. Nos finais de semana tomávamos café da manhã juntos e, no

domingo, o almoço era sagrado e a festa era geral. Nossa família continuou unida e até hoje nos reunimos aos domingos.”

MÁRCIA

“Sempre tinha uma atitude positiva. Transmitia confiança e carinho. Após meu acidente de carro, ele passou uma semana comigo no hospital, em SP. Nunca falamos

tanto. Deixou-me para inaugurar a loja em SC. Aquela semana juntos foi uma jornada especial de despedida.”

FÁBIO

“Era um homem diferenciado. Prestava atenção em tudo e em todos, conversando com a boca e os olhos. Lembro dele como se tivesse me deixado ontem e tenho um

orgulho tão grande, como se estivesse comigo até hoje. Deixou um legado de valores profundo e admirável.”

CARLOS

“Era um porto seguro. Quando criança, era ele quem cortava as nossas unhas, secava os nossos cabelos. Era uma fila na porta do gabinete de leitura dele. O amor e o

orgulho que ele tinha pela família, eram os mesmos que ele tinha pela J.H. Santos. Imensos! Foi um excelente pai.”

HELENA

“O Pai nos deixou bem claras as noções de valores dentro do nosso núcleo familiar, o que foi importante para a formação do nosso caráter. Uma lembrança feliz era,

em dezembro, trabalhar com ele na J.H. Santos, montando bicicletas, ajudando no movimento de Natal.”

ANDRÉ

“As grandes lições que tive com meu pai foram sua paixão pelo trabalho, a liderança e o carisma junto a seus colaboradores; e, como pai, o caráter e a enorme fidelidade aos

amigos. Aos 9 anos eu o acompanhava na jardinagem com um mini-podão, como querendo, no futuro, ser como ele.”

FELIPE

“Meu pai morreu quando eu tinha 10 anos. Eu o conheci aos poucos, tamanhas as homenagens após a morte. Lendo um diário do início de sua atividade, vi que era

uma pessoa normal, com ansiedades e inseguranças, mas uma vontade enorme de dar certo. É um grande exemplo.”

DANIEL