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FACULDADE CEARENSE Mayara Duarte da Rocha A inserção do homem em situação de rua no mercado de trabalho após acolhimento institucional na Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopes. Fortaleza - Ceará 2014

FACULDADE CEARENSE Mayara Duarte da Rocha INSERCAO DO... · À Assistente Social, Ângela Rosa, supervisora de estágio que com toda paciência e dedicação, agindo sempre pautada

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FACULDADE CEARENSE

Mayara Duarte da Rocha

A inserção do homem em situação de rua no mercado de trabalho após

acolhimento institucional na Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopes.

Fortaleza - Ceará

2014

FACULDADE CEARENSE

Mayara Duarte da Rocha

A inserção do homem em situação de rua no mercado de trabalho após

acolhimento institucional na Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopes.

Monografia apresentada ao Curso de Graduação emServiço Social da Faculdade Cearense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientador (a): Mestre Eva Cristina Leandro Pimenta.

Fortaleza - Ceará

2014

Mayara Duarte da Rocha

A inserção do homem em situação de rua no mercado de trabalho após

acolhimento institucional na Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopes.

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientador (a): Mestre EvaCristina Leandro Pimenta.

Defesa em:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Ms. Eva Cristina Leandro Pimenta (Orientadora)

Universidade Estadual do Ceará – UECE

________________________________________________ Ms. Silvana Maria Pereira Cavalcante

Universidade Estadual do Ceará– UECE

________________________________________________ Ms. Mayra Rachel da Silva Liberato

Universidade Estadual do Ceará– UECE

À minha mãe, Dona Tania, pelo

amor incondicional, dedicação, força,

ensinamentos que me motivaram

nos momentos mais difíceis e não

me deixaram desistir. Tudo que sou

agradeço a senhora, Te Amo.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a DEUS por estar presente em todos os segundos da

minha vida, permitindo todas as minhas conquistas e me dando força nos

momentos de dificuldade.

Às minhas avós, Eva Cavalcante e Naisa da Rocha (in memorian) pelo

exemplo de força. Mulheres guerreiras que sempre me incentivaram nos

estudos e deixaram na minha vida a herança incalculável de caráter, respeito e

amor ao próximo.

Á minha família,meus pais Mauro eTania, que sempre estiveram ao meu lado,

compartilhando alegrias, angústias, superaçõese queforam essenciais na

formação humana e intelectual que me transformaram no que sou.

A meus irmãos Mauricélio e Thais pelos momentos vividos ao meu lado. Sem

vocês meus sonhos não seriam completos.

À minha irmã Thais, que me ajudou na construção deste trabalho e aguentou

todos os meus estresses ficando sempre ao meu lado.

Às minhas amigas Regiane, Meire e Goretti, que me auxiliaram e estiveram

sempre a disposição quando precisei, nos momentos mais inusitados

(principalmente quando o computador apresentava algum defeito), sem vocês

esse processo teria sido bem mais difícil.

Aos meus amigos, Erica e João Eder, pelo auxílio quando encontrei

dificuldades, vocês foram essenciais na confecção desse trabalho, tanto pelas

contribuições com a construção quanto nas demonstrações de carinho e

amizade.

Ao meu amigo Edcarlos, pelo incentivo, apoio e carinho. Ajudou-me a

prosseguir e esteve ao meu lado nos momentos difíceis. Você foi fundamental

na realização desse sonho.

Às minhas colegas de turma que estiveram comigo desde o inicio dessa

caminhada de formação acadêmica, Rebeca e Samara. Sem vocês com

certeza não teria chegado ate aqui.

À Larissa, Angélica, Ana Paula e Priscila que tive a sorte de conhecer durante

esses quatro anos de faculdade que me ajudaram nas trocas de ideias,

ensinamentos, nas tristezas, mais principalmente nos inúmeros momentos de

alegrias.

À minha amiga-irmã Marcela Ramos pela amizade sincera. Parceira em todos

os momentos e cúmplice das minhas lutas, angústias e alegrias, a quem devo

a certeza de uma amizade leal e verdadeira.

À minha equipe de trabalho, principalmente meu companheiro de tarefas,

Eleilsson, pela compreensão nos horários, preocupação e incentivo. O meu

muito obrigado!

À minha orientadora Eva Cristina pela dedicação e clareza nos seus

ensinamentos. Suas sugestões contribuíram imensamente para a construção

desse trabalho. Obrigada por estar sempre disponível quando precisava de

ajuda.

À Assistente Social, Dona Ligia, profissional exemplar que foi um sujeito

presente na minha pesquisa e me atendeu com toda simpatia mostrando toda

ética e qualificação no seu ambiente de trabalho.

À Assistente Social, Ângela Rosa, supervisora de estágio que com toda

paciência e dedicação, agindo sempre pautada no compromisso ético político,

me proporcionou um grande aprendizado e a primeira experiência profissional,

bem como esteve presente na escolha do tema deste trabalho.

Às Professoras Mestres, Mayra Rachel e Silvana Cavalcante, por aceitarem

gentilmente o convite em participar da banca examinadora deste trabalho.

Aos homens em situação de rua que estavam acolhidos na Casa de

Passagem, sujeitos desta pesquisa, pela contribuição durante as entrevistas.

E finalmente, quero expressar meus sinceros agradecimentos a todos àqueles

que de alguma forma estiveram presente na minha vida. Obrigada pelas

orações, torcidas, incentivos e por emprestarem os ouvidos para escutarem as

minhas queixas repetitivas, cansaços e estresses. Obrigada a todos!

Não somos lixo. Não somos lixo e nem bicho. Somos humanos. Se na rua estamos é porque nos desencontramos. Não somos bicho e nem lixo. Nós somos anjos, não somos o mal. Nós somos arcanjos no juízo final. Nós pensamos e agimos, calamos e gritamos. Ouvimos o silêncio cortante dos que afirmam serem santos. Não somos lixo. Será que temos alegria? Às vezes sim… Temos com certeza o pranto, a embriaguez, A lucidez dos sonhos da filosofia. Não somos profanos, somos humanos. Somos filósofos que escrevem Suas memórias nos universos diversos urbanos. A selva capitalista joga seus chacais sobre nós. Não somos bicho nem lixo, temos voz. Por dentro da caótica selva, somos vistos como fantasmas. Existem aqueles que se assustam. Não somos mortos, estamos vivos. Andamos em labirintos. Depende de nossos instintos. Somos humanos nas ruas, não somos lixo. Carlos Eduardo (Cadu) Morador de rua em Salvador

RESUMO

No presente trabalho, são analisados indivíduos do sexo masculino em situação de rua que foram inseridos no mercado de trabalho após o acolhimento institucional na Casa de Passagem, Elizabeth Almeida Lopes. A complexidade das questões relacionadas à população de rua exige uma compreensão sobre a Politica Nacional de Assistência Social -PNAS e a Politica Nacional da População em Situação de Rua, bem como entender a partir da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, no que consiste e qual o caráter de um acolhimento institucional. A pesquisa, de natureza qualitativa com análise de dados quantitativos, partiu do objetivo central de entender a importância do acolhimento institucional, Casa de Passagem, na inserção do homem, em situação de rua no mercado de trabalho. No que diz respeito aos objetivos específicos estão: Perceber porque os homens entrevistados tiveram maior facilidade de conseguir um trabalho após saírem das ruas de Fortaleza; Conhecer a atuação profissional da Assistente Social no acolhimento institucional, Casa de Passagem; Analisar a Política de Assistência Social no que diz respeito à pessoa em situação de rua. A coleta de dados foi subsidiada pelos seguintes procedimentos metodológicos: análise teórica; trabalho de campo; entrevistas áudio gravadas do tipo semiestruturadas realizadas nos meses de agosto e setembro do ano de 2014. O estudo mostrou que o público em situação de rua pode ser percebido como sujeitos capazes de serem inseridos no mercado de trabalho, considerando que o fato de estarem na condição de rua não os impedem de serem entendidos como trabalhadores. A pesquisa também deu maior visibilidade no que diz respeito à PNAS. Assim é visto que a base do estudo se propõe na perspectiva dos direitos básicos que são esquecidos, na maioria das vezes, por um Estado omisso. Palavras-chave: Politica Nacional de Assistência Social, Politica Nacional da

População em Situação de Rua e Trabalho.

ABSTRACT

In this paper, we analyze males in the street that were inserted in the labor market situation after the institutional care in the House of Passage, Elizabeth Almeida Lopes. The complexity of the issues related to homeless people requires an understanding of the National Social Assistance Policy - PNAS and the National Population Policy for Homeless and understand from the National social assistance services typing in what is and what character of a residential care. The research, qualitative with quantitative data analysis, left the central aim of understanding the importance of institutional care, holiday home, in the insertion of man, on the streets in the labor market. With regard to the specific objectives are: Understand why the men interviewed were easier to get a job after leaving the streets of Fortaleza; Knowing the role of professional social worker in residential care, Passage House; Analyze the Social Assistance Policy regarding the person on the streets. Data collection was supported by the following instruments: theoretical analysis; field work; recorded audio interviews of semi-structured type made in the months of August and September of 2014. The study showed that the public on the streets can be perceived as subjects capable of being inserted into the labor market, since the fact that they are provided street not prevent them from being perceived as workers. Research has also increased visibility with respect to the PNAS. Thus it is seen that the basis of this study it is proposed in view of the basic rights that are forgotten, in most cases, by a silent state. Keywords: National Policy of Social Welfare, National Population Policy for

Street and Working Situation.

LISTA DE FIGURAS

Planta de Fortaleza ......................................................................................... 23

Prédio onde funcionou a Casa de Passagem inicialmente ............................. 25

Placa da Casa de Passagem atualmente ....................................................... 25

Usuários do Centro Pop em Baile Carnavalesco ............................................ 26

Bairros e Regionais de Fortaleza .................................................................... 28

Carteira de Trabalho e Previdência Social utilizada atualmente ..................... 33

Referenciamento aoCras e articulação ao Paif ................................................ 39

Campanha realizada pelo CREAS de Bezerros/PE ......................................... 41

Imagem via satélite de Fortaleza ..................................................................... 43

Rede de atendimento para pessoas em situação de rua ................................ 46

População em situação de rua no ano de 2008 .............................................. 50

LISTA DE GRAFICOS

População Brasileira Urbana e Rural ............................................................... 20

População do Estado do Ceará ...................................................................... 22

Evolução do emprego formal no período de 2003 a 2013 ................................ 34

Empregos formais nos meses de Abril no período de 2003 a 2013 ................ 35

Crescimento dos empregos intermediários ...................................................... 36

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PSB – Proteção Social Básica

PSE – Proteção Social Especial

CENTRO POP – Centro de Referência Especializadopara População em

Situação de Rua

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

NOB/ SUAS – Norma Operacional Básica/ Sistema Único de Assistência Social

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

SETRA – Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e

Combate à Fome

CF de 1988 – Constituição Federal de 1988

RAIS - Relação Anual de Informações Sociais

CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social

IDT - Instituto de Desenvolvimento do Trabalho

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

PAIF -Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

CAPS AD – Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14

2 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ASPECTOS HISTÓRICOS E A

VIVÊNCIA EM UM ACOLHIMENTO INSTITUCONAL EM FORTALEZA ....... 19

2.1 Urbanização Brasileira: início do fenômeno da população em situação de

rua ......................................................................................................... 19

2.2 Urbanização Cearense/Fortaleza .......................................................... 21

2.3 Acolhimento Institucional: Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopes

24

3 ANALISANDO AS CATEGORIAS DA PESQUISA: TRABALHO,

ASSISTÊNCIA E PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA. .................................... 32

3.1. Trabalho formal X Trabalho informal .................................................... 33

3.2. Politica de Assistência Social ............................................................... 37

3.3. Pessoa em Situação de Rua: O fenômeno para alguns autores e a

Política Nacional da População em Situação de Rua ................................. 42

4 PROBLEMÁTICAS ENFRENTADAS PELOS HOMENS QUE VIVEM (OU

VIVERAM) EM SITUAÇÃO DE RUA E PASSARAM (OU ESTÃO) EM UM

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL. ................................................................. 47

4.1. Como o homem em situação de rua é percebido pela sociedade: entrevistas com homens acolhidos na casa de passagem ........................ 47 4.2. A inserção do “morador de rua” no mercado de trabalho após o acolhimento na casa de passagem. ........................................................... 54 4.3. Atuação profissional da assistente social na casa de passagem Elizabeth Almeida Lopes. ........................................................................... 56 .

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 59

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 61

APÊNDICES .................................................................................................... 65

ANEXOS .......................................................................................................... 68

14

1 INTRODUÇÃO

A população em situação de rua é uma parte da sociedade que vive

intensamente os reflexos da desigualdade nos seus mais diversos âmbitos.

Estar na rua, para a maioria das pessoas, é sinônimo de ser marginal. Porém,

se olharmos por um ângulo diferente, iremos encontrar cidadãos que de acordo

com o que a Constituição Brasileira de 1988 afirma que, deve existir igualdade

de todos perante a lei e os direitos sociais.

O/A assistente social é um profissional que atua de maneira

interventiva sobre os reflexos da questão social1 visando o cumprimento da

garantia de direitos. Segundo a PNAS-Politica Nacional de Assistência Social

(2004) dentro da politica pública de assistência social iremos encontrar a

Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial de Média e Alta

Complexidade2. Esse trabalho será pautadosobre as questões da Proteção

Social Especial de Alta Complexidade uma vez que, a pesquisa foi realizada

dentro de um equipamento3 que faz parte desse atendimento.

A Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopez é um acolhimento

institucional da cidade de Fortaleza e tem funcionamento desde o ano de 2010.

1 Para IAMAMOTO(2000, p.27)”Questão Social apreendida como conjunto das expressões das

desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação de seus frutos torna-se cada vez mais privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” 2 A Política Nacional de Assistência Social mostra que “Destina-se à população que vive em situação de

vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento sócia (discriminação etárias, étnicas, de gênero ou por deficiência, dentre outras).”(2005, p.33). No que diz respeito a Proteção Social Especial “é a modalidade de atendimento assistencial destinada famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras.”(2005, p.37) 3 A Casa de Passagem, segundo Termo de Compromisso e de Convivência da SECRETARIA MUNICIPAL

DE TRABALHO, DESENVOLVIMENTO SOCIALCOMBATE À FOME –SETRA, elaborado pela COORDENAÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL – PSE, é um equipamento da Proteção Social Especial – PSE de Alta complexidade, da Secretária Municipal de Assistência Social que objetiva ofertar acolhimento provisório a pessoas adultas ou grupos familiares que estão com seus direitos violados, com vínculos familiares e/ou comunitários fragilizados e/ou rompidos, que se encontram em situação de desabrigo em decorrência: de abandono, migração ou transito (tentando retornar para a Cidade/Estado/País onde tem residência, vínculos familiares ou estabelecido uma rede de solidariedade), que estejam impossibilitadas, temporariamente de suprir suas necessidades e de suas famílias, bem como, sem condições de prover seu retorno imediato ao lar.

15

O equipamento recebe, atualmente4, homens acima de 18 anos de idade que

tiveram seu primeiro acolhimento no centro POP– Centro de Referência

Especializado para População em Situação de Rua ou no CREAS– Centro de

Referência Especializado de Assistência Social e a partir de uma avaliação

profissional detectam se o atendimento é perfil da Casa de Passagem.

O públicoque alcança a maior demanda de atendimento são

pessoas que se encontram em situação de rua e, na maioria das vezes, não

estão inseridos no mercado de trabalho, os poucos que estão trabalhando

executam o trabalho informal, tais como: vendedor ambulante, lavador de

carro, artesão. Estes trabalhos não são enxergados como profissão em uma

sociedade capitalista que visa lucros para um empregador. No caso da maioria

desses homens, ou trabalham por conta própria e não são considerados como

trabalhadores, pela grande parte da sociedade, ou ainda, trabalham para

ganhar abaixo dosaláriomínimo, submetidos, na maioria das vezes, a

preconceito dentro de seus ambientes de trabalho por serem, ou já terem sido,

moradores de rua.

O trabalho do/a assistente social da Casa de Passagem é

fundamental para direcionar esses homens na sua inserção no mercado de

trabalho.

Segundo a NOB\SUAS (2004, p.92),Norma Operacional Básica, “a

proteção social especial tem por objetivo prover atenções sociossistenciaisa

família e indivíduos que encontram em situação de risco pessoal e social, por

ocorrência de [...]situação de rua [...], entre outras”. O homem que é acolhido

na casa de passagem é sujeito de direitos e, por isso, assim como todos deve

ser entendido como protagonista de suas ações que os fazem aptos a

ingressarem no mercado de trabalho.

No que se refere às categorias de estudo da pesquisa, discutidas ao

longo deste trabalho, destaco as seguintes: trabalho, pessoas em situação de

rua e assistência Social.

4 Período de realização da pesquisa: Segundo semestre do ano de 2014.

16

No capítulo 1, foram vistos os aspectos históricos que impulsionaram

o crescimento da população que fica em situação de rua, citando a urbanização

brasileira e focando, principalmente, a urbanização de Fortaleza, mostrando

ainda, um levantamento acerca da Casa Passagem Elizabeth Almeida Lopez.

O capítulo 2 aborda os pontos que fala dapolítica de assistência das

quais atendem as questões que dizem respeito às pessoas que estão em

situação de rua. Se tratando da pesquisa, o público alvo são homens, o que

não significa dizer que não tenhamos outros públicos (mulheres, crianças,

homossexuais, travestis, idosos) que também tiveram ou tem as ruas da cidade

de Fortaleza como casa. Dentre os pontos estudados estão: aPolítica Nacional

de Assistência Social e a Política Nacional de Pessoas em Situação de Rua.

No Terceiro capitulo é encontrado os resultados de algumas

entrevistas que foram realizadas no período de agosto-setembro/2014 com

moradores do acolhimento supracitado, em que tinha como foco de entender a

importância do acolhimento institucional, Casa de Passagem, na inserção do

homem em situação de rua no mercado de trabalho. Neste capitulo também foi

pontuado algumas considerações sobre a percepçãodestes homens sobre o

trabalho, levando em consideração que a maioria deles não trabalha ou

trabalharam de carteira assinada. Finalizei minha entrevista perguntando sobre

as visões de futuro que os mesmo tinham: ‘’voltar para a família’’, ‘’comprar

uma casa’’, ‘’nunca mais voltar para a rua’’.

Tendo em vista que tratar de pessoas em situação de rua que estão

acolhidas temporariamente em uma Casa de Passagem requer uma análise

bastante cuidadosa, por estarmos falando de um público que na maioria das

vezes é discriminado socialmente, esta pesquisa teve uma abordagem

metodológica qualitativa que segundo Silva, Menezes, 2001, diz que:

A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.(SILVA, MENEZES, 2001, p. 20)

17

Considerando que também foi utilizado o estudo de alguns gráficos

foi necessário um estudo com uma análise quantitativa.

Os sujeitos da pesquisa são homens que estavam em situação de

rua e foram acolhidos pela Casa de Passagem. Foram entrevistados oito

homens que estavam em situação de ruaque foram acolhidos na Casa de

Passagem e após esse acolhimento se inseriram no mercado de trabalho. Os

entrevistados autorizaram, mediante ao Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Apêndice B), que suas falas fossem utilizadas nesse trabalho.

A proposta de coleta de dados se deu por meio do

acompanhamento alternado de dias em que estive na casa de passagem

(regime de plantão) em que foi possível gravar as entrevistas. Durante o

período de Agosto/Setembro de 2014 os homens acolhidos que conseguiram

trabalho passaram por uma entrevista semiestruturada realizada pela

pesquisadora. Para Manzini (1990/1991, p.154), a entrevista semiestruturada

está focalizada em um assunto sobre o qual foi confeccionado um roteiro com

perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às

circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista

pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão

condicionadas a uma padronização de alternativas.

A motivação para realização dessa pesquisa se deu por meio da

minha experiência laboral, com esses homens, a convivência diária comas

angústias sentida por essa parte da sociedade que é discriminada por estar na

rua. Assim surgiumeu interesse de entender qual a importância do acolhimento

institucional, Casa de Passagem, para que esses homens conseguissem um

trabalho.

Durante as entrevistas foi utilizado o gravador. A análise da coleta

de dados foi através das falas dos entrevistados, entendendo dentro de cada

entrevista que por mais que todos os sujeitos entrevistados tivessem uma

vivencia de rua, todos tinham suas especificidades, uma vez que, nas

respostas, aparentemente, semelhantes em alguns pontos, sempre houve

diferentes posicionamentos dos entrevistados. Com a finalidade de garantir o

18

sigilo da identidade dos entrevistados, durante o trabalho foram utilizadas

apenas as iniciais de seus nomes.

Desta forma, é necessária uma análise diante da complexidade do

ser humano: é entender que vivemos em uma mesma atmosfera, mas temos

nossas diferenças e é necessário aprender a viver com elas. A pessoa que

está em situação de rua deve ser vista assim como as demais pessoas.

Sujeitos que possuem uma diversidade de direitos e que tais não podem ser

violados simplesmente pelo fato de não se ter um endereço fixo. Considerando

ainda que a moradia é um dos direitosincluídos nessa diversidade.

O trabalho do/a assistente social que desempenha suas atividades

dentro do acolhimento institucional da Casa de Passagem é pautado

principalmente em atendimentos técnicos e encaminhamentos das demandas

(saúde, retirada de documentação, direcionamento para procura de trabalho,

entre outras) para a rede de atendimento.

Assim, a partir das considerações levantadas pela análise do

material colhido durante as entrevistas, é possívelidentificar a contribuição

profissional da assistente social que atua dentro do espaço de acolhimento

temporário como de fundamental importância,se pensarmos que o público alvo

estudado não tem o mínimo de informações a respeito de como seria possível

que o mesmo pudesse se inserir no mercado de trabalho.

Assim como foi visto que o posicionamento dos entrevistados é

relevante para compreender como ocorre o processo de inserção das pessoas

que estava em situação de rua no mercado de trabalho, um levantamento que

é necessário perceber diante da temática levantada é entender o

posicionamento do profissional. Para isso foi colhido o depoimento de uma

assistente social que trabalha na Casa de Passagem (ANEXO 02), no qual deu

um suporte teórico de como o/a assistente social ver a pessoa em situação de

rua dentro de um acolhimento e quais as limitações que é encontrado diante

das condições de trabalho que são submetidas. Tal depoimento foi colhido

mediante a conversa, durante pesquisa de campo, e autorizado pela

profissional a ser colocado nesta pesquisa.

19

2 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ASPECTOS HISTÓRICOS E A

VIVÊNCIA EM UM ACOLHIMENTO INSTITUCONAL EM FORTALEZA

2.1 Urbanização Brasileira: Início do fenômeno da população em situação

de rua

A urbanização brasileira teve um significativo crescimento com

mudanças estruturais sociais e econômicas a partir da década de trinta do

século XX, mais precisamente na década de 1950-1970obtiveram uma

população urbana superior a rural, como mostram os estudos de Brito, Horta,

Amaral. Para SANTOS (1993) essa urbanização, se tornou uma fatalidade se

olharmos do ponto de vista de que, junto com esse processo tivemos o

aumento também do desemprego, subemprego e do emprego mal pago. As

pessoas que antes viviam na zona rural com as atividades agrícolas passam a

encher as cidades na procura de vender o que, Marxchama de força de

trabalho:

Força de trabalho ou capacidade de trabalho compreende o conjunto das faculdades físicas e mentais no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie. (O CAPITAL, 2003, p.43)

Com a chegada dos camponeses na cidade aumentou também o

número de pessoas em situação de rua.O fenômeno do êxodo rural que mostra

a migração do campo para a cidade fez com que o agricultor deixasse de

trabalhar nos campos e começasse a inserir-se cada vez mais nos trabalhos da

indústria. O êxodo rural mostra o aumento da população urbana maior que a

população do campo. O período de maior intensificação ocorreu a partir de

1956,período este, que ocorria no Brasil a chamada “política

desenvolvimentista” do governo de Juscelino Kubitshek.

O crescente e desordenado aumento da população urbana mostrou

como dito anteriormente, por SANTOS(1993), um aumentodas pessoas que

não tinham emprego, e com isso também não tinham ascondições mínimas de

sobrevivência.

Assim como afirma, Silva (2006,p.75) no tocante as bases da

população em situação de rua, “A expropriação dos produtores rurais e

camponeses e a sua transformação em assalariados, no contexto da chamada

20

acumulação primitiva e da indústria nascente”, faz com que se entenda que

este fenômeno, população em situação de rua, é um agravamento de uma

questão social que não consegue atender as necessidades mínimas do ser

humano, a exemplo da moradia.

O que impulsionou o estudo das pessoas em situação que se

inserem no mercado de trabalho foi entender que na atualidade ainda temos

pessoas que não tem acesso a seus direitos e que por conta disso passam a

ocuparem as ruas como espaço de moradia, sem ao menos conseguirem a

oportunidade se entrar no mercado de trabalho porque não tem um endereço.

Segundo mostra o site do MDS5, a população em situação de rua:

Se caracteriza, ainda, pela utilização de logradouros públicos (praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e áreas degradadas (prédios abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como unidades de serviços de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória.

Como vemos nos dados expostos no Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), a população que inicialmente era

majoritariamente rural, nos dias atuais representa um índice bem maior no

tocante à população urbana (gráfico 1). A população urbana que no ano de

1950 atingia 37,09%, no ano de 2010 chega ao número de 89,81%,

considerando ainda que a População Residente Urbana também cresceu

consideravelmente de 13.900 em 1950 para 600.561 em 2010. Já a população

rural em 1950 chegava a 62,91% e em 2010 10,19%, sendo que a População

Residente Rural era de 23.577 em 1950 e 68.128 em 2010.

5 Site do MDS. Como se caracteriza a População em Situação de Rua. Disponível em

<http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/assistencia-social/pse-protecao-social-especial/populacao-de-rua/populacao-em-situacao-de-rua> Acessado em 23.09.14

21

Gráfico 1:População Brasileira

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE

Pelo fato desta pesquisa ter foco no público de Fortaleza considera-

se sair um pouco do espaço de urbanização brasileira e adentrar no histórico

da urbanização cearense com ênfase no território da nossa capital.

2.2 Urbanização Cearense/Fortaleza

Vemos no site6 do Governo do Ceará um pouco da história do inicio

do estado do Ceará. No ano de 1799 a região tornou-se administrativamente

independente e somente no ano de 1889 tornou-se o Estado na sua

configuração atual.

O processo de urbanização do Ceará teve uma grande

intensificação nas mudanças no seu cenário no século XX. Assim como mostra

os estudos de Sousa (2011)

O sistema urbano cearense vem sofrendo fortes mudanças ao longo do século XX, sobretudo com a influência da industrialização, de políticas públicas, econômicas e ações sociais, que por sua vez, proporcionam um processo de urbanização acelerado. O aumento das cidades advém como consequência desses processos articulados, acompanhado do despovoamento do espaço agrário. As cidades se multiplicam e densificam graças aos articulados movimentos de crescimento econômico e da expansão capitalista. (SOUSA, 2011, p.1)

6 GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. <Disponível em: http://www.ceara.gov.br/historia-do-ceara>

Acessado em 10.10.14>

22

Como observamos no gráfico 2 tivemos um grande crescimento da

população urbana a partir dos anos de 1960 do século XX. Esse aumentona

população dos centros urbanos se deu principalmente com o fenômeno do

êxodo rural.

O aumento acelerado da população urbana no Estado cearense,

assim como no Brasil, ocorreu de forma desordenada e por esse fato as

pessoas que chegava para ocupar as cidades não tinham as condições

mínimas, incluindo a falta de emprego e a ausência de moradia.

Gráfico 2: População do Estado do Ceará

Fonte: Fundação João Pinheiro - Déficit Habitacional no Brasil (2005)<Disponível em:

http://br.monografias.com/trabalhos3/deficit-habitacional/deficit-habitacional2.shtml>Acessado

em 10.10.14

A partir de então, após ter visto alguns fatores em relação à

população do Ceará, será possível fazer um breve estudo sobre a urbanização

de Fortaleza. A urbanização da capital cearense foi bastante lenta no século

XlX(Imagem 1) e somente a partir do século seguinte é que ocorreuum

aumento da população e junto com esse crescimento um aumento da questão

social que entre os muitos reflexos tem a ausência de moradia para aqueles de

classes menos favorecidas.

23

Imagem1: Planta de Fortaleza 1811

Fonte: http://www.fortalezaemfotos.com.br/2013/08/a-lenta-urbanizacao-de-fortaleza.html

Segundo DANTAS (2009),

O crescimento de Fortaleza se verifica, portanto, às expensas de uma alta participação de migrantes procedentes, na sua grande maioria, do interior do Estado. Constitui-se, principalmente, de uma população de baixa renda, que, chegando à cidade contribui para a expansão de aglomerações faveladas que apresentaram um amplo crescimento na capital, nos últimos anos.(DANTAS, 2009, p.15)

Fortaleza, assim como outras cidades que tiveram um grande

crescimento da população por meio de uma urbanização desordenada, teve

como uma de suas consequências negativas o aumento de pessoas em

situação de rua. Esse público na maioria das vezes tem como referência os

equipamentos de atendimento que trabalham especialmente com essas

pessoas, no caso da capital cearense: CENTRO POP, CREAS E

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL.

De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços

Socioassistenciais (2009) dentro da Proteção Social Especial- PSE de alta

complexidade inclui-se como uma das modalidades do Serviço de Acolhimento

Institucional, a Casa de Passagem.

O tópico seguinte irá tratar de algumas definições do Centro Pop e

CREAS e terá um maior enfoque na Casa de Passagem Elizabeth Almeida

Lopes, uma vez que foi neste espaço que foi desenvolvida esta pesquisa.

24

2.3 Acolhimento Institucional: Casa de Passagem Elizabeth Almeida Lopes

O serviço de Acolhimento Institucional esta previsto na Tipificação

Nacional de Serviços Socioassistenciais7 (BRASIL, 2009) alguns

direcionamentos para as pessoas em situação de rua de acordo com faixas

etárias e situações de vulnerabilidade.Seus objetivos gerais são:

Acolher e garantir proteção integral;

Contribuir para a prevenção do agravamento de situações de negligencia, violência e ruptura de vínculos;

Restabelecer vínculos familiares e/ ou sociais;

Possibilitar a convivência comunitária; promover acesso àrede socioassistencial, aos demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos e as demais políticas setoriais;

Favorecer o surgimento e o desenvolvimento de aptidões, capacidades e oportunidades para que os indivíduos façam escolhas com autonomia;

Promover o acesso a programações culturais, de lazer, de esporte e ocupacionais internas e externas, relacionando-as a interesses, vivências, desejos e possibilidades do público.(BRASIL, 2009, p.34)

Dentre os objetivos específicospara o Serviço de Acolhimento para

Adultos e Famílias, são (BRASIL, 2009, p.34) estão: “Desenvolver condições

para a independência e o autocuidado;Promover o acesso a rede de

qualificação e requalificação profissional com vistas a inclusão produtiva.”

O serviço de acolhimento institucional da Casa de Passagem se

enquadra em uma das modalidades de adultos que na Tipificação Nacional de

Serviços Socioassistenciais (BRASIL 2009) diz que esse acolhimento é

imediato e de caráter emergencial, onde deve ter profissionais preparados para

receber os usuários em qualquer horário do dia ou da noite, enquanto se

realiza um estudo para que seja feito os encaminhamentos necessários.

O primeiro prédio onde funcionava a Casa de Passagem de

Fortaleza,inicialmente, em 2010,era localizado no bairro Otavio Bonfim, como

mostra a imagem 2, porém atualmente o acolhimento funciona no bairro

Benfica (Imagem 3).

7 A Tipificação dos Nacional Serviços Socioassistenciais é um documento que descreve os serviços da

Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial. Texto da RESOLUÇÃO nº 109, de 11 de Novembro de 2009. Publicada no Diário Oficial da União em 25 de novembro de 2009.

25

Imagem 2 - Prédio onde funcionou acasa de passagem inicialmente.

Fonte:http://www.panoramio.com/photo_explorer#view=photo&position=1411&with_

photo_id=52954074&order=date_desc&user=2493003

Imagem 3 - Placa da casa de passagem atualmente

Fonte: Foto tirada pela pesquisadora durante visita

26

A triagem que o público alvo da Casa de Passagem passa para ser

acolhido ocorre através de um atendimento profissional no Centro POP ou no

CREAS.

Existem dois Centros POP funcionando em Fortaleza. Um localizado

no bairro Benfica e outro no bairro Centro. Os atendimentos dos centros são

para as pessoas em situação de rua, e quando percebido o perfil de usuário,

público de acolhimento institucional, é feito o contato com a instituição na qual

será vistoa possibilidade de encaminhamento para possível acolhimento. Se

tratando desta pesquisa o contato seria com a Casa de Passagem.

Segundo exposto no site da Prefeitura Municipal de Fortaleza o

serviço do Centro Pop“tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades

direcionadas ao fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares para a

construção de novos projetos de vida.”8

As atividades desenvolvidas têmo objetivo de fortalecer os“vínculos

interpessoais e/ou familiares para a construção de novos projetos de vida.”9

Como exemplo temos o Baile Carnavalesco ilustrado na figura 4.

Imagem 4 - Usuários do Centro Pop em Baile Carnavalesco

Fonte:http://www.fortaleza.ce.gov.br/noticias/setra/usuarios-do-centro-pop-participam-de-baile-

carnavalesco

8 Prefeitura de Fortaleza, Disponível no Site:

http://www.fortaleza.ce.gov.br/cpdrogas/noticias/servico/cpdrogas-apoia-manha-de-servicos-gratuitos-para-populacao-em-situacao-de acessado em: 12.09.2014. 9 Prefeitura de Fortaleza, Disponível no

Site:<http://www.fortaleza.ce.gov.br/setra/noticias/noticias/centro-pop-realiza-show-de-talentos-para-populacao-em-situacao-de-rua>Acessado em 10.10.2014>

27

Segundo o documento de orientações técnicas do Centro Pop,

BRASIL (2011),

O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, previsto no Decreto Nº 7.053/2009 e na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, constitui em uma unidade de referência da PSE de Média Complexidade, de natureza pública e estatal. Diferentemente do CREAS, que atua com diversos públicos e oferta, obrigatoriamente, o PAEFI, o Centro POP volta-se, especificamente, para o atendimento especializado à população em situação de rua, devendo ofertar, obrigatoriamente, o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.(BRASIL, 2011, p.41)

No tocante aos objetivos que devem ser alcançados através das

ações desenvolvidas no que diz respeito ao Serviço Especializado para

Pessoas em Situação de Rua (BRASIL 2011) diz que tem os seguintes:

Possibilitar condições de acolhida na rede socioassistencial; Contribuir para a construção ou reconstrução de novos projetos de vida, respeitando as escolhas dos usuários e as especificidades de atendimento; Contribuir para restaurar e preservar a integridade e a autonomia da população em situação de rua; Promover ações para a reinserção familiar e/ou comunitária.(BRASIL, 2011, p.76)

Os serviços ofertados pelo Centro Pop devem englobar o

entendimento profissional sobre o usuário que está sendo atendido, para que

seja feito os devidos encaminhamentos para a rede. Devendo-se, a partir do

exposto no documento de orientações técnicas do Centro Pop (BRASIL 2011),

[...] destacar que este Serviço configura-se como um importante canal para a inserção das pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, a partir de realizações dos encaminhamentos para sua viabilização. Além das providências necessárias à inclusão no Cadastro Único, o Serviço deve dispor de registros próprios dos dados de pessoas em situação de rua, permitindo uma possível localização da/pela família, parentes e pessoas de referência, assim como um melhor desenvolvimento do trabalho social. Quando necessário este Serviçodeverá promover também o acesso à documentação pessoal.(BRASIL, 2011, p.67-68)

Tratando-se do Centro de Referência Especializado de Assistência

Social é importante entender que devido à grande expansão territorial de

Fortaleza o CREAS foi distribuído e atua dentro de Regionais (imagem 5), não

existindo apenas nas Regionais I e IV. Dentre os profissionais de atuam no

CREAS estão psicólogas, assistentes sociais e advogados que trabalham na

28

perspectiva de solucionar as violações de direitos e quando necessário, fazer

os devidos encaminhamentos para a rede.

Imagem 5 - Bairros e regionais de Fortaleza

Fonte:http://dc335.4shared.com/doc/1XRRvXlt/preview.html

Segundo o documento de orientações técnicas do CREAS, (BRASIL,

2011),

Considerando a definição expressa na lei nº 12.435/2011, o CREAS é a unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência, nos territórios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos. Seu papel no SUAS define, igualmente, seu papel na rede de atendimento.(BRASIL, 2011, p.23)

Diferente do Centro Pop que atende as pessoas em situação de rua,

o CREAS atende os mais variáveis públicos que tenham seus direitos violados:

mulheres, idosos, pessoas com deficiência, público LGBT – Lésbicas, Gay,

Bissexual e Travestis, entre outros.

29

O CREAS está configurado dentro da Proteção Social Especial- PSE

de média complexidade. Segundo a resolução nº 130 do CNAS –A proteção

social especial tem por referência a ocorrência de situações de risco ou

violação de direitos. Inclui a atenção e o atendimento aos públicos que podem

ir desde crianças e adolescentes que estejam em situação de trabalho, em

situação de abuso e, ou, exploração sexual, passando por adolescentes que

estejam em medida socioeducativa e chegando em famílias com presença de

formas de negligência, maus tratos, violência, considerando ainda as situações

de abandono.

Ainda segundo a resolução citada anteriormente a PSE opera

através da oferta de uma rede de serviços de atendimento10 que atende as

pessoas em situação de vulnerabilidade em seus domicílios, quando

necessário, disponibilizando ainda,albergues, abrigos, moradias provisórias

para adultos e idosos, garantindo a convivência familiar e comunitária;em se

tratando de crianças e adolescentes os serviços ofertados contam com a

presença de repúblicas, casas de acolhida, abrigos e família acolhedora; para

as pessoas com deficiência, vítimas de abusos e violência são ofertados

serviços especiais; e para aqueles que estão em situação de riscos por causa

de calamidades públicas e emergenciais terá as ações de apoio.

Para entrar no espaço em que se aborda o acolhimento institucional

da Casa de Passagem é necessário falar da PSE de alta complexidade. A

partir do exposto na PNAS/2004 (2005) mostra que “Os serviços de proteção

social especial de alta complexidade são aqueles que garantem proteção

integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias

e indivíduos de seu núcleo familiar e, ou, comunitário.”

A Casa de Passagem é um acolhimento que atualmente é ligado à

Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à fome –

SETRA coordenada pela rede da PSE. Iniciou suas atividades em 2010. No

período inicialera ligada a Secretaria Municipal de Assistência Social onde

oferecia“acolhimento temporário, seguro e com privacidade, para pessoas

10

A resolução nº 130 do Conselho Nacional de Assistência Social é estabelecida para todo Brasil, assim,significa dizer que nem todos os serviços ofertados são existentes em Fortaleza.

30

adultas, de ambos os sexos, ou grupos familiares que estejam em situação de

vulnerabilidade ou risco social.”11.

Na conjuntura atual o público atendido pelo acolhimento é formado

por homens maiores de idade, desde jovens adultos até homens idosos, nas

suas mais diferentes faixas etárias.

Atuam na equipe profissional da Casa de Passagem: duas

assistentes sociais, um coordenador, quatro serviços gerais e um apoio

administrativo que trabalham em horário comercial (segunda a sexta); e seis

cuidadores sociais, duas cozinheiras, quatro porteiros, quatro vigilantes, que se

dividem em quatro plantões.

Ao conversar com uma das assistentes sociais sobre o que havia

mudado na conjuntura do quadro de profissionais do início do funcionamento

do equipamento para o atual o que a mesma relatou foi que a nomenclatura

utilizada para o cuidador social inicialmente era educador social. Essa

mudança ocorreu após o estabelecimento da Tipificação e junto a mudança de

nome veio também a mudança das atribuições.

Ao chegar na Casa de Passagem com seu encaminhamento (Centro

Pop ou CREAS) o usuário passa por um acolhimento inicial com o cuidador

social, em que durante este primeiro momento vão ser ditas as regras da Casa

estabelecidas em um Termo de Convivência (ANEXO 1).

São mostradas as acomodações e verificado se existe algum tipo

de material perfuro-cortante, caso exista irá ser devidamente identificado e

guardado por um cuidador e só será devolvido após seu desligamento.

Após o usuário ser acomodado, o mesmo passará por um

atendimento técnico com uma assistente social. É aberto um prontuário para

cada homem acolhido com informações sigilosas, uma vez que durante os

atendimentos técnicos são respeitadasàs individualidades de cada um.

11

Prefeitura de Fortaleza: Disponível em http://portalantigo.fortaleza.ce.gov.br/semas/index.php?option=com_content&task=view&id=273 acessado em: 15.09.14.

31

É durante o atendimento técnico que são identificadas as demandas

que podem ser de saúde, de cidadania, de trabalho entre outras.

Posteriormente serão feitos os devidos encaminhamentos de acordo com a

necessidade de cada demanda. Por exemplo, um senhor queestá na rua

porque veio para Fortaleza na procura de ”melhorar de vida”, porém quando

chega aqui não consegue se estabelecer e por isso tenta voltar para sua

cidade de origem. Em uma situação como essa feita todo um procedimento

para possibilitar o retorno desse homem para sua terra natal.

Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais

(2009) a acolhida dos usuários deve ter o mínimo de segurança e apresentar

as seguintes características:

- Ser acolhido em condições de dignidade;

- Ter sua identidade, integridade e história de vida preservadas;

- Ter acesso a espaço com padrões de qualidade quanto a: higiene, acessibilidade, habitabilidade, salubridade, segurança e conforto;

- Ter acesso a alimentação em padrões nutricionais adequados e adaptados a necessidades específicas;

- Ter acesso a ambiência acolhedora e espaços reservados a manutenção da privacidade do usuário e guarda de pertences pessoais.(BRASIL, 2009, p.32)

Uma demanda que é bastante comum dentre os homens que

chegam a Casa de Passagem é a procura por emprego. Na maioria das vezes

eles perderam tudo no tempo em que estavam em situação de rua, por conta

do uso abusivo de álcool, de drogas, de roubo, e querem iniciar uma vida nova.

Assim,esses indivíduos têmnesse equipamento uma chance de mudar de vida

e o primeiro passo é encontrar um emprego que possa sustentar sua vida

social.

A partir do exposto é relevante tratar das formas de trabalho, seja

ele formal ou informal, mostrando que uma pessoa que está em situação de

rua pode fazer parte do mercado de trabalho. Outros pontos de relevância são:

A política de assistência social e política da pessoa em situação de rua.

32

3 ANALISANDO AS CATEGORIAS DA PESQUISA: TRABALHO,

ASSISTÊNCIA SOCIAL E PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA.

Vivemos em um sistema capitalista que visa à obtenção de lucros

como um fator determinante de sobrevivência de uma sociedade. Todo aquele

que não trabalhar ou não vendera sua força de trabalho em prol da acumulação

desse lucro será deixado de lado e passará a fazer parte da margem da

sociedade.

Assim como é visto nas palavras de GURGEL & JUSTEN(2011) que

elaboram um pensamento sobre Marx e Engels mostrando que “mas é evidente

que o Estado, para eles, é apenas, nada mais é do que senão um subsidiário

do capital, cuja autonomia é avassaladora, salvo em momentos muito especiais

[...]”,os autores colocam que para Marx e Engels o Estado que sobrevive dentro

de sistema capitalista está sempre ligado aos interesses do Capital.

Diante de um Estado Neoliberal no qual estamos inseridos

encontramos a necessidade de criação de políticaspúblicascapazes de atender

a sociedade que não tem acesso aos direitos previstos na CF de 1988.

Como mostra SILVA (1998)

A bandeira erguida pelo neoliberalismo é a da desregulamentação das barreiras ao capital, mercados livres e desuniversalização de proteções jurídicas para fazer cessar o “parasitismo” de certa classes, particularizando os benefícios sociais e a desestatização como melhor forma de dinamizar o capitalismo em crise e comomedidas para abrir as economias nacionais e proporcionar melhor bem-estar a seus povos, com a constituição de um “Estado mínimo”, eficiente em suas atividades clássicas e no controle do dinheiro.[...] As reformas sociais, tal qual as políticas, seriam vistas como decorrência natural da liberalização econômica. Ou seja, deverão emergir exclusivamente do livre jogo das forças da oferta e da procura num mercado inteiramente auto-regúlavel.(SILVA, 1998, p.219)

A partir desse conceito de Estado neoliberal serão

pontuadasalgumas considerações ao que se refere o Trabalho e as Políticasde

Assistência Social e da Pessoa em Situação de Rua para que seja possível o

entendimento sobre a temática levantada nessa pesquisa.

3.1. Trabalho formal X Trabalho informal

33

O trabalho é considerado formal quando o trabalhador exerce sua

função com carteira assinada. A Carteira de Trabalho e Previdência Social

(Imagem 6) é instituída pelo Decreto-Lei nº 926 de 10 de outubro de 1969 e a

partir dela os direitos trabalhistas são defendidos. Porem pela conjuntura social

capitalista em que vivemos onde o mercado formal não absorve a todos, cria-

se um mercado considerado informal, mas que também desenvolve atividades

consideradas trabalho.

Imagem 6 –

Fonte:http://www.oestadoce.com.br/noticia/grande-fortaleza-tem-17-mi-empregados

Segundo mostra ANTUNES (2010),

[...] a erosão do trabalho contratado e regulamentado, herdeiro das eras taylorista e fordista, que foi dominante no século XX e que está sendo substituído pelas diversas formas de “empreendedorismo”, “cooperativismo”, “trabalho voluntário”, “trabalho atípico”, formas que mascaram frequentemente a autoexploração do trabalho. E presenciando também a exploração do desemprego estrutural em escala global, que atinge a totalidade dos trabalhadores, sejam homens ou mulheres, estáveis ou precarizados, formais ou informais, nativos ou imigrantes, sendo que estes últimos são os primeiros a ser penalizados. (ANTUNES, 2010, p. 633)

34

Dados do RAIS- Relação Anual de Informações Sociais12mostra que

o emprego formal cresceu na atualidade (Gráfico 3). BRASIL(2012) diz que

Segundo os dados da RAIS, em 2012, o emprego formal cresceu 2,48%comparativamente ao estoque de trabalhadores formais do ano anterior, indicando a geração de 1,148 milhão de postos de trabalho. Tal comportamento mantém a trajetória de crescimento ininterrupto revelando, porém, uma perda de dinamismo, quando comparado com o resultado registrado em 2011 (+2,242) milhões de empregos ou +5,09%), o segundo melhor da série histórica, iniciada em 1985, movimento consoante com a desaceleração no nível de atividade econômica. (BRASIL, 2012, p. 3)

Gráfico 3

Fonte: Mistério do Trabalho e Emprego. Disponível:<http://portal.mte.gov.br/portal-

mte/rais/>Acessado em 17.09.14

Para Marx (1985, p.153) a atividade do trabalho é vista como “O

processo de trabalho, como o apresentamos em seus elementos simples e

abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso,

apropriação do natural para satisfazer asnecessidades humanas [...].”

12

A RAIS - Relação Anual de Informações Sociais – é um Registro Administrativo criado pelo Decreto nº 76.900/75, com declaração anual e obrigatória a todos os estabelecimentos existentes no território nacional.

35

O trabalho é necessário para que o homem possa satisfazer suas

necessidades e por isso devemos entender que toda atividade que venha

resultar em um valor deve ser entendida como trabalho.

Nas palavras de GOMEZ(2004):

Enquanto o homem existir ele terá que dedicar parte do tempo da sociedade para se apropriar dos objetos da natureza e de transforma-los em objetos de uso humano através do trabalho. Essa é uma necessidade insuprimível da realidade humana. No entanto, é importante observar que se é verdade que o homem jamais poderádeixar de se apropriar dos objetos da natureza por intermédio do trabalho, o modo como ele realiza essa apropriação é historicamente cambiante. A compreensão do modo como os homens se apropriam e transformam a natureza está indissociavelmente ligado às formas como os homens se relacionam entre si e ao desenvolvimento das forças produtivas da sociedade. (GOMEZ, 2004, p.38).

O foco da pesquisa, e o que devemos entender é que ainda que

exista um crescimento do trabalho formal, como mostra o gráfico 4, aquele em

que o empregador assina a CTPS do empregado e paga um salário que no

mínimo alcança a quantia de R$ 724,00, existem outras atividades que também

devem ser consideradas como trabalho.

Gráfico 4 - Empregos Formais

Fonte: http://blogdolobo.com.br/tag/ministro-do-trabalho-e-emprego/

36

Dentro do públicoalvo da pesquisa, todos aqueles que foram

entrevistados, relataram que sua CTPS: ou nunca foram assinadas, ou é a

primeira vez. Porem todos se veem como trabalhadores uma vez que já foram

catadores de lixo, faziam artesanato, “pastoravam” carros, entre outras

atividades que foram citadas ao longo das conversas.

Se tratando da cidade de Fortaleza um estudo do IDT- Instituto de

Desenvolvimento do Trabalho, mostra que na maioria das vezes a população

procura sobreviver desempenhando atividades de “baixa produtividade” que

[...] envolve uma multiplicidade de fenômenos que vão das estratégias de sobrevivência dos “bicos” até o comércio de rua (camelôs e ambulantes, por exemplo), passando, muitas vezes, pelas práticas ilegais das contratações irregulares, da evasão fiscal e da venda dos mais variados produtos falsificados, encontrados hoje em qualquer lugar da cidade. (MESQUITA, 2008, p.9)

A RAIS mostra que ainda que o crescimento do trabalho formal seja

um ponto de bastante relevância, os trabalhos intermediários, ou informais, tem

um aumento bastante considerável no período que vai desde 1994 a

2010(Gráfico 5). Observa-se que a informalidade é um fator que vem

superando as atividades trabalhistas consideradas formais. O fato é que

possivelmente na ordem societária na qual estamos vivendo: o capitalismo, o

que sempre irá ser cobrado seráas margens de lucro, mas nem por isso o

comercio informal deixará de ser relevante, posto que também movimenta o

mercado financeiro.

Gráfico 5

37

Fonte: http://www.dmtemdebate.com.br/abre_artigos.php?id=20

Colocam-se também na categoria de trabalho informal as atividades

autônomas e os assalariados que não são registrados. Segundo o estudo do

IDT, em Fortaleza, do período que vai desde os anos de 1990atéos anos

atuais, houve aumento significativo da informalidade nas relações de trabalho.

Considerando que a pesquisa trata do homem em situação de rua

que esta tentando se inserir no mercado de trabalho, ainda que seja ele

informal, devemos entender que este homem deve está amparado pelo Estado

através da Política de Assistência Social.

3.2. Política de Assistência Social

A assistência faz parte do tripé da seguridade social (saúde,

assistência e previdência) prevista na CF de 1988 que diz no artigo 194

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.(BRASIL,1998)

Segundo o artigo supracitado o Poder Público organiza o tripé

(saúde, assistência e previdência) pautado em alguns objetivos, dentre eles:

“uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas

e rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade na forma de participação no

custeio;” entre outros.

Logo em seguida a Implementação da Constituição de 1988 que

iniciava os marcos legais no que se dizia respeito à assistência, em 7 de

dezembro de 1993 a lei de nº 8.742, LOAS – LEI ORGÂNICA DA

ASSISTÊNCIA SOCIAL dizia em seu artigo 2 que

Art. 2º A assistência social tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

38

V - a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência, ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.

Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais,visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento decondições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.

Dentro das diretrizes da LOAS pode-se verificar que a assistência

social necessita ser descentralizada e que a sociedade civil precisa ser

participativa, sendo o Estado responsável pela garantia da política.

A CF de 1988 e a LOAS foram a base para a implantação da Política

Nacional de Assistência Social que está em vigor até os dias atuais e que foi

aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS em 15 de

outubro de 2004.

Com relação aosdireitos POTYARA diz que,

Efetivamente, embora desde 1934 as Constituições Federais venham disciplinando direitos e relações de trabalho, como forma de regular a economia e o mercado, só em 1988 os destituídos, inclusive de condições de trabalho, foram legalmente amparados no seu direito de proteção gratuita e desmercadorizável pelos poderes públicos.(POTYARA, 1996, p.66)

Segundo site do MDS o SUAS Sistema Único de Assistência Social

Organiza a oferta da assistência social em todo o Brasil, promovendo bem-estar e proteção social a famílias, crianças, adolescentes e jovens, pessoas com deficiência, idosos – enfim, a todos que dela necessitarem. As ações são baseadas nas orientações da PNAS

13

Assim, os objetivos que regem a PNAS são

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem.

Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural.

Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária. (BRASIL, p.33, 2005)

13

Mistério De Desenvolvimento Social disponível em :<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial> Acessado em 03.10.14

39

O público que é atendido pela Política de Assistência é formado por

todo aquele que encontrar-se em situação de vulnerabilidade ou risco social,

independente de qual grupo faça parte, uma vez que é dever do Estado ofertar

a superação deste risco, bem como garantir através desta políticapública, a

garantia de direitos.

As proteções sociais são divididas em: PSB e PSE de Média e Alta

Complexidade. A PSB (BRASIL, 2005),

Prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada. Deverão incluir as pessoas com deficiência e ser organizados em rede, de modo a inseri-las nas diversas ações ofertadas. Os benefícios, tanto de prestação continuada como os eventuais, compõem a proteção social básica, dada a natureza de sua realização. (BRASIL, 2005, p.34)

Dentre os serviços, programas, projetos e benefícios que são

mostrados pela PNAS, ofertados na proteção social básica estão o “Programa

de Atenção Integral a Família – PAIF (Imagem7), Programa de Inclusão

produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza, Centro de informação e de

educação para o trabalho, voltados para jovens e adultos”, entre outros. A

maioria destes são encontrados nos CRAS, que como vemos no

BRASIL(2005),” executa serviços de proteção social básica, organiza e

coordena a rede de serviços socioassistenciais locais da política de assistência

social.”

Imagem 7

Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/296158/

40

No tocante a PSEBRASIL(2005) diz que

A ênfase da proteção social especial deve priorizar a reestruturação dos serviços de abrigamento dos indivíduos que, por uma série de fatores, não contam mais com a proteção e o cuidado de suas famílias, para as novas modalidades de atendimento. A história dos abrigos e asilos é antiga no Brasil. A colocação de crianças eadolescentes, pessoas com deficiência e idosos em instituições para protegê-los ou afastá-los do convívio social e familiar foi, durante muito tempo, materializada em grandes instituições de longa permanência, ou seja, espaços que atendiam a um grande número de pessoas, que lá permaneciam por longo período – às vezes a vida toda. São os chamados, popularmente, como orfanatos, internatos, educandários, asilos, entre outros.(BRASIL, 2005, p.37)

O CREAS faz parteda rede de Proteção Social Especial. Dentre os

programas de destaques temos o PETI – Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil.Um exemplo de combate ao trabalho infantil feito pelo CREAS

de Bezerros, em Pernambuco, é a campanha realizada no dia 12 de Junho –

Dia mundial de combate ao trabalho infantil, realizada em 2012. O tema da

campanha estáilustrada na imagem 8.

Imagem 8 – Campanha realizada pelo CREAS de Bezerros/PE

Fonte: http://creasb.blogspot.com.br/

41

Na Proteção Social Especial de Média Complexidade são

encontrados os serviços para aqueles que tiveram os direitos violados, porém

ainda permanecem com os vínculos familiares e comunitários. Já na Proteção

Social Especial de Alta Complexidade tanto os direitos são violados quanto os

vínculos familiares e sociais foram “quebrados” e por conta disto é necessária

proteção integral para todo aquele que necessite. O acolhimento institucional,

Casa de Passagem, onde foi realizada esta pesquisa faz parte dessa rede de

proteção.

A gestão da política nacional de assistência social na perspectiva do

sistema único de assistência social mostra que os serviços socioassistenciais

no SUAS são encontrados nas referênciasde vigilância social, proteção social e

defesa social e institucional.

O papel da família tem um lugar de destaque na PNAS uma vez que

a matricialidade sócio familiar mostra que a (BRASIL,2005)

[...] centralidade da família e a superação da focalização, no âmbito da politica de assistência social, repousam no pressuposto de que para a família prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal. Nesse sentido, a formulação da politica de Assistência Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos

indivíduos. (BRASIL, 2005, p.41)

Se tratando do financiamento da Assistência, enquanto política, no

artigo 194 da CF de 1988 vemos que o financiamento da Seguridade Social,

nesse caso da assistência, “se dápor toda a sociedade, de forma direta e

indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”

Assim, como lemos na PNAS de 2004, para que seja possível

operacionalizar os benefícios, serviços, programas, e projetos de

enfretamentos a todas as formas de pobreza é preciso que haja uma

articulação entre a distribuição de renda com trabalhos sociais e projetos de

geração de renda com famílias.

A Norma Operacional Básica do SUAS – NOB/SUAS

É fundada em pacto entre os entes federativos, o que assegura unidade de concepção e de âmbito da politica de Assistência Social

42

em todo território nacional, sob o paradigma dos direitos à proteção social publica de seguridade social e á defesa da cidadania do usuário. Assegura, ainda, a primazia e a permanência da regulamentação estatal sobre essa atividade publica, cuja dinâmica democrática sob controle social prevê a participação da população e da sociedade na formulação e controle das ações e o comando único das ações em cada esfera de governo.(BRASIL, 2005,p.86)

A Norma regulamenta o SUAS assim como define os instrumentos

padronizados de gestão da PNAS apontando as necessidades para o

ordenamento dos serviços, programas e benefícios da Assistência Social.

O ponto seguinte a ser tratado nesse trabalho se refere

apolíticanacional da população em situação de rua. Essa política está

diretamente ligada a política de assistência social.

3.3. Pessoa em Situação de Rua: O fenômeno para alguns autores e a

Política Nacional da População em Situação de Rua.

O fenômeno da pessoa em situação de rua na palavra de Silva

(2006) diz que,

[...] pode-se dizer que o fenômeno população em situação de rua esteja diretamente ligado à estrutura da sociedade capitalista e possui uma multiplicidade de fatores de natureza imediata que o determinam. Na contemporaneidade, constitui uma expressão radical da questão social, localiza-se nos grandes centros urbanos, sendo que as pessoas por ele atingidas são estigmatizadas e enfrentam o preconceito como marca do grau de dignidade e valor moral atribuído pela sociedade. É um fenômeno que tem características gerais, porém possui particularidades vinculadas ao território em que se manifesta. No Brasil, essas particularidades são bem definidas. Há uma tendência à naturalização do fenômeno, que no país se faz acompanhada da quase inexistência de dados e informações científicas sobre o mesmo e da inexistência de políticas públicas para enfrentá-lo. (SILVA, 2006,p. 95)

Fortaleza é a capital cearense e segundo dados do IBGE possui

uma população estimada para o ano de 2014 de 2.471.896, uma área de

314,930km² (Imagem9)

43

Imagem9 via satélite de Fortaleza

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=221416

Diante de uma população tão extensa, Fortaleza apresenta um

grande número de pessoas que estão em situação de rua. Segundo o jornal

Diário do Nordeste do dia 10 de outubro de 2013, em média 4.500 pessoas

moram na rua. De acordo com a SETRA, o perfil de maior incidência na

população de rua é o de homens com idade entre 26 e 35 anos, ensino

fundamental incompleto, com origem de Fortaleza, com vínculo familiar

fragilizado ou rompido, e que não desenvolve nenhum tipo de trabalho/renda.

Assim como mostra a informaçãoNotícia do jornal supracitado,

muitos utilizam o termo morador de rua para aqueles que estão na condição de

situação de rua. Para GIORGETTI (2006),

Temos adotado a expressão morador de rua (embora ele deixe a desejar), pois não encontramos outro que possa substituí-lo de maneira adequada. O termo mendigo nos parece pejorativo [...] O termo sem-teto é muito específico e diz respeito [...] ao movimento organizado de luta por moradia.(GIORGETTI, 2006, p. 20).

O termo população de rua veio para dá um caráter passageiro, para

algo que não é permanente, dá um olhar para o fenômeno de

44

Delimitar as trajetórias (idas e vindas) e enfraquecer a ideia predominante (e pejorativa) de que se trata de pessoas de rua, que não tem outra característica senão o fato de permanecer as ruas da cidade. (GIORGETTI, 2006, p.20)

Segundo a Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de

Rua BRASIL(2008), as características mais encontradas em pessoas em

situação de rua são:

• A população em situação de rua é predominantemente masculina (82%).

• Mais da metade (53%) das pessoas adultas em situação de rua entrevistadas (somente foram entrevistadas pessoas com 18 anos completos ou mais) possui entre 25 e 44 anos.

• 39,1% das pessoas em situação de rua se declararam pardas. Essa proporção é semelhante à observada no conjunto da população brasileira (38,4%). Declararam-se brancos 29,5% (53,7% na população em geral) e pretos 27,9%, 7 (apenas 6,2% na população em geral). Assim, a proporção de negros (pardos somados a pretos) é substancialmente maior na população em situação de rua.

• Os níveis de renda são baixos. A maioria (52,6%) recebe entre R$ 20,00 e R$ 80,00 semanais.(BRASIL, 2008, p.6-7).

Devemos entender o fenômeno de estar na rua deve ser

compreendido dentro das relações sociais presente na sociedade

contemporânea. Para SCHUCH& GEHLEN

[...] tanto das multicausalidades que estão na origem desse fenômeno, entre as quais devem ser incluídos processos sociais e históricos, tecnologias de governo específicas e certas práticas dos sujeitos, quanto o reconhecimento de que a rua é, também, um espaço de produção de relações sociais e simbólicas habitado por sujeitos com agência política que exploram o mundo na instabilidade de seu movimento (SCHUCH & GEHLEN, 2012, p.13).

Não devemos pensar no fenômeno das pessoas em situação de rua

como algo “solto”, algo que estaraparte da sociedade, mas entender que o

Estado deve atuar na garantia dos direitos de todos.

A PolíticaNacional para População em Situação de Rua foi instituída

pelo decreto-Lei nº 7053 de 23 de dezembro de 2009. No Artº2 desse decreto

vemos que a implantação da políticanacional para população de rua deve ser

de “forma descentralizada e articulada entre a União e os demais entes

federativos que a ela aderirem por meio de instrumento próprio.” Fica instituída

também nesse decreto a participação dessa população no Comitê Intersetorial

45

de Acompanhamento e Monitoramento da política nacional da pessoa em

situação de rua.14

Os objetivos previstos na políticamostra que devemos, além da

igualdade e da equidade, devemos ter, entre outros, o “respeito às condições

sociais e diferenças de origem, raça, idade, nacionalidade, gênero, orientação

sexual e religiosa, com atenção especial às pessoas com

deficiência”.(REPUBLICA, art.5, 2009)

Na LOAS no Art 23 fala sobre os serviços socioassistenciais que

visam as melhorias das condições de vida. As pessoas que vivem em situação

de rua só foram incluídas com a alteração da Lei de nº 11.258, 30/12/05.

Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais

(2009) encontramos vários serviços de atendimentos que as pessoas em

situação de rua podem ter acesso.Se dividem entre as Proteção Social Básica

e Proteção Social Especialde Média e Alta Complexidade dependendo do risco

de vulnerabilidade. A imagem 10 mostra a rede de serviços ofertados para as

pessoas que estão em situação de rua.

14

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Política Nacional para a População em situação de rua, Decreto n. 7.053, 2009. < Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7053.htm> Acessado em 08. 10. 14

46

Imagem 10 – Rede de Atendimento para Pessoas em situação de Rua

Fonte:http://slideplayer.com.br/slide/292247/

Ao falar sobre os direitos, que em alguns pontos foram conquistados

se analisarmos a LOAS, a PNAS, a Política Nacional de Pessoa em Situação

de Rua, NOB/SUAS, Tipificação Nacional de Atendimentos Socioassistenciais,

percebe-se porém, que ainda existe a negação de muitos direitos. Como coloca

DANTAS

Na perspectiva da negação de direitos, o indivíduo em situação de rua experimenta a não-cidadania de forma emblemática. A ausência de direitos caracteriza a situação de rua, sendo os indivíduos considerados como não humanos, impregnados por forte estigmatização e vistos como parte do lixo da cidade. Discriminada, ignorada ou muitas vezes perseguida, esta população possui baixo poder de vocalização e representação política praticamente nula.(DANTA ,2007,p.27-28)

Assim, percebe-se que o meio no qual a pessoa em situação de rua

está inserida faz parte da sociedade de direitos, que estão estabelecidos na CF

de 1988 devem ser aplicados igualmente perante esta sociedade e que as

Políticas Públicas do Estado devem ser aplicadas a esse grupo de pessoas e

que na maioria das vezes são excluídos.

47

4 PROBLEMÁTICAS ENFRENTADAS PELOS HOMENS QUE VIVEM(OU VIVERAM) EM SITUAÇÃO DE RUA E PASSARAM (OU ESTÃO) EM UM

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL.

4.1. Como o homem em situação de rua é percebido pela sociedade: entrevistas com os homens acolhidos na casa de passagem.

Durante a construção do trabalho de pesquisa foram realizadas

entrevistas semiestruturadas com oito homens acolhidos na Casa de

Passagem Elizabeth Almeida Lopes, no período que se iniciou no começo do

mês de Agosto do ano de 2014 e se estendeu até o fim do mês de setembro do

mesmo ano.

Analisando as entrevistas, foi observado que algumas problemáticas

encontradas nas falas de todos os entrevistados e a partir dos resultados serão

analisadas essas problemáticas que se tornaram comuns nas respostas dos

pesquisados.

O preconceito surgiu, dentre as respostas, como a principal

problemática sofrida pelos entrevistados. Todos disseram que são vítimasde

preconceito por estarem na rua. Na fala de um dos homens foi dito:

Moro na rua desde os 18 anos, e olha que já tenho 30, em todo esse tempo não me lembro um dia se quer, que alguém não me olhou com aquele ar de desprezo, como se eu fosse um lixo. Olha! Mas eles nem me conhecem, nunca me viram, porque me julgam? Por que moro na rua? Por que não tenho dinheiro ou não tomei banho hoje?(D. L. T. vivem na rua há 12 anos)

Como mostra o dicionário de português15 existem alguns tipos de

preconceito: social, classe, religião, racial. “Conceito ou opinião formados antes

de ter os conhecimentos adequados.”

Para Bartholo (2007) o significado de preconceito de dá quando uma

pessoa supõe um saber prévio e independente a qualquer escuta interpessoal,

fazendo com que não seja possível a relação entre as pessoas.

Segundo o jornal O Povo de 28.09.14 diz que

15

Dicionário de Portuguêsonline – Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=preconceito> Acessado em 12.10.14

48

O Brasil é um dos países mais preconceituosos do mundo, demonstram dados de violência contra mulheres, negros, pobres e população LGBT.[...]O preconceito causa danos àqueles que são alvo e também afeta uma Nação.(O POVO, 2014, p.1)

Os entrevistados expuseram, em suas falas, que sofrem

preconceitos o tempo todo, principalmente no que diz respeito à associação do

fatoda pessoa estar em situação de rua relacionado ascom pessoas envolvidas

na criminalidade. “A sociedade pensa que o morador de rua é um ladrão” (M. T.

O. N, 35 anos, vive na rua há 6anos); o Sr. D. L. T. afirma em suas palavras

que “Na época de rua, as pessoas me tratavam como lixo, com discriminação.

Quando me viam, as mulheres seguravam logo a bolsa e passavam olhando

como se eu fosse um ladrão.”

Outra problemática que também surgiu foi a discriminação.

Preconceito e discriminação andaram juntos nas respostas. Nas palavras de

um dos entrevistados foi dito que

Sou discriminado. As pessoas dessa sociedade são preconceituosas. Nem me conhece e muitas vezes fingem nem ver. Passam por como se eu não existisse. E tudo isso por que tô deitado no meu papelão (L. T. F., 48 anos, vive há 8 anos na rua)

Segundo a Cartilha Cidadania Direito16 para a grande maioriadas

pessoas a diferença entre preconceito e discriminação se dá em vista de que o

preconceito é “uma indisposição, um julgamento prévio negativo que se faz de

pessoas estigmatizadas por estereótipos” já se tratando de discriminação é

visto que “é o nome que se dá para a conduta (ação ou omissão) que viola

direitos das pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como:

a raça, o sexo, a idade, a opção religiosa e outros.”

Em muitos casos o fato de esses homens estarem na Casa de

Passagem também faz com que as pessoas os discriminem, porque associam

o equipamento a uma instituição que só “abriga” pessoas que estão em

situação de rua. Esse ponto reflete nas ações dos usuários da Casa, uma vez

que eles passam a não dizer onde estão morando.

Arrumei um emprego só a massa depois que sai da rua e vim para cá, Casa de Passagem. Mas lá não tive coragem de contar para

16

Cartilha Cidadania Direito para Todos – Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/w3/ceddhc/bdados/cartilha14.htm> acessado em 12.10.14

49

ninguém que moro aqui por conta da discriminação. O mundo deles é outro. Todo mundo lá tem uma casa, uma família. E eu também tenho, mas o problema é que estava na rua. Para eles a Casa de Passagem é casa de drogado. (A.J.T.J., 39 anos, vive na rua há2 anos, grifo da pesquisadora).

Na maioria das vezes e na visão da maioria das pessoas aqueles

que estão em situação de rua são associados a “vagabundos”, “ladrões”,

“mendigos”, “pedintes”. Mas o que a sociedade não ver é que a rua não é uma

opção. Existem aqueles que na verdade estão na rua por falta de opção. Nas

palavras de ROSA(2005),

Um problema frequentemente lembrado pelos entrevistados é a humilhação que sofrem quando são confundidos com maloqueiros, mendigos, vagabundos, ou seja, com os que já se entregaram, desistiram de lutar e de trabalhar. Diante disso a fora dos preconceitos e estigmas, em relação a população de rua, atua como reforço a essa identidade negativa.(ROSA, 2005,p.122)

Em alguns casos as pessoas que estão em situação de rua passam

de “mendigos”, “vagabundos” para pessoas “loucas”, não conseguem perceber

o simples fato de que elas não têmtrabalho, casa, muito menos família.

Considerando ainda que historicamente são excluídos do acesso a diversos

direitos sociais. Assim é percebido que

[...] morar em uma residência fixa, trabalhar formalmente e constituir família são padrões sociais que caracterizam os indivíduos normais, logo, sem residência fixa, sem família e trabalho formal, as pessoas em situação de rua são alvos de investidas ideológicas que acentuam suas anormalidades (MATTOS & FERREIRA, 2004, p. 4).

“A sociedade na maioria das vezes não enxerga a gente que vive na

rua. Váriaspessoas já toparam em mim. Esbarram, sabe? Assim quando tô

dormindo no meu quanto ninguém nem me ver”(L. T. F., 48 anos, vive há 8

anos na rua). A fala desse homem mostra que a população em situação de rua

é excluída e essas pessoas não são vistas como membros da sociedade.

Mattos & Ferreira (2004) falam que na maior parte do tempo ao se tratar das

pessoas em situação de rua,

[...] nós as olhamos amedrontados, de soslaio, com uma expressão de constrangimento. Alguns as vêem como perigosas, apressam o passo. Outros logo as consideram vagabundas e que ali estão por não quererem trabalhar, olhando-as com hostilidade. Muitos atravessam a rua com receio de serem abordados por pedido de esmola, ou mesmo por pré-conceberem que são pessoas sujas e mal cheirosas. Há também aqueles que delas sentem pena e olham-nas com comoção ou piedade. Enfim, é comum negligenciarmos involuntariamente o contato com elas. Habituados com suas

50

presenças, parece que estamos dessensibilizados em relação à sua condição (sub) humana. Em atitude mais violenta, alguns chegam a xingá-las e até mesmo agredi-las ou queimá-las, como em alguns lamentáveis casos noticiados pela imprensa. (MATTOS & FERREIRA, 2004, p. 2)

Ao tratar da problemática, “invisibilidade”, foi constatado que de uma

maneira geral esse ponto é realmente relevante. Baseada na matéria do jornal

O Povo do dia 03.02.14, “Fortaleza não sabe quantos moradores de rua tem”.

Essas pessoas são deixadas de lado, na maioria das vezes, e se não são

enxergadas como parte da sociedade, imagina se tem acesso aos direitos?

Na imagem 11 temos que a população em situação de rua, no ano

de 2008, em Fortaleza, chega ao númerode 1.701. De 31.922 entrevistados, no

Brasil, o perfil encontrado nas ruas de 82% do sexo masculino, 74% sabiam ler

e escrever, o álcool e as drogas apareceram como o principal motivo de

estarem em situação de rua e no tocante ao trabalho a grande maioria exercia

atividades remuneradas.

Imagem 11

Fonte: Jornal o Povo Online

No caso dos entrevistados desta pesquisa, baseada no convívio

profissional com o publico estudado, o álcool e principalmente o uso das

51

drogas, associado a problemas familiares, foram os principais motivos dos

homens, acolhidos na Casa de Passagem, terem saído de casa. A maioria

deles tem filhos e tinham uma família estável antes do vício.

Atualmente eles fazem acompanhamentos no CAPS AD – Centro de

Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas, e fazem tratamento à base de

medicamento para o controle do vício. Lembrando que o encaminhamento para

o CAPS AD é feito pelas assistentes sociais da Casa de Passagem que

trabalham ligadas a rede de atendimento.

Nas palavras de GIOGETTE(2006),

A situação das pessoas de rua é marcada por rupturas de todo tipo, que os levam ao isolamento social. Alguns são ex-presidiários e enfrentam dificuldades para se inserir novamente na sociedade. Verifica-se também entre essa população, um grande número de usuários de álcool e de drogas[...]. (GIORGETTI, 2006, p. 25)

O trabalho é o fator central desta pesquisa. O que eu me propusa

investigar foi na tentativa de responder sobre a inserção da pessoa em

situação de rua no mercado de trabalho. Entendendo que o público estudado

teve acesso ao acolhimento institucional, Casa de Passagem, e a partir de

então passou por um atendimento com o/a profissional.

Ainda analisando os dados da imagem anterior (Imagem 11), no

ponto em que são tratadosTrabalho e Renda, é visto que aparecem as

atividades: catadores de materiais recicláveis, flanelinha, operadores de

construção civil, servidores de limpeza, carregadores. Durante as entrevistas

realizadas pela pesquisadora, todas essas funções apareceram, o que mostra

que o perfil estudado há seis anos continua sendo encontrado nos dias atuais.

Levando em consideração que a maioria dos homens estudados

nessa pesquisa está, ou estavam, na rua por um tempo superior a seis anos,

mostra que os motivos que os leva a situação de rua podem ser os mesmos

mencionados na pesquisa de 2008. Mattos & Ferreira (2004) dizem que,

O emprego formal e o registro em carteira servem como legitimadores da identidade de trabalhador (embora quase a metade dos trabalhadores atue no mercado informal). Desprovidas desta referência, as pessoas em situação de rua, apesar de desenvolverem atividades informais, são, sob a ótica do trabalho, frequentemente consideradas como improdutivas, inúteis, preguiçosas e vagabundas.

52

(MATTOS & FERREIRA, 2004, p. 3)

Ao perguntar sobre o que eles consideram trabalho? As respostas

mostravam que somente os trabalhos considerados formais eram os bons.

Exercendo as atividades informais, ainda que remuneradas, não tinham o

mesmo valor diante da sociedade.

Já vendi vassouras, peixe, já pastorei carros e fui flanelinha. Eu trabalhei em tudo isso, mas nunca fui reconhecido como trabalhador. Para as pessoas eu ainda continuava sendo um vagabundo. Só agora que trabalho em uma empresa grande renomada, que todo mundo conhece é que sou visto como trabalhador. (D. L.T., 30 anos, vive na rua há 12 anos, estátrabalhando ,atualmente, em uma padaria).

O que foi compreendido é que esses homens pelo fato de estarem

acolhidos na Casa de Passagem, passam a se reconhecer como capazes de

trabalhar em ambientes que antes não o visualizava. O equipamento

institucional passou a ser considerado a casa deles. A Casa de Passagem

contribui para que esses homens acolhidos sejam percebidos. Mostra a

importância do acolhimento na inserção da pessoa em situação de rua.

A primeira coisa que as empresas pedem é um comprovante de endereço. A rua não tem comprovante de endereço hoje eu durmo aqui, amanhã eu durmo ali. Outra coisa na Casa a gente aprende a ter regras. As pessoas começam a confiar mais em nos. Só consegui esse trabalho porque tava aqui. A irmã, lá da igreja veio até aqui procurando alguém para trabalhar lá. Você acha que se eu tivesse na rua eu teria sido procurado. Foi só porque eu tava aqui. (L.T.F.,48 anos, vive na rua há 8 anos, está trabalhando atualmente de jardineiro).

Segundo o Diário do Nordeste17 de 10.10.2013, “Em Fortaleza, 4500

moradores de rua disputam 70 vagas em casas de acolhimento todos os dias.”

A SETRA é a Secretaria responsável por esses acolhimentos.

Segundo mostra na reportagem o Secretário da SETRA, Claudio

Ricardo, coloca como motivos para o aumento da população das ruas de

Fortaleza: o desemprego, as drogas, os rompimentos com os vínculos

familiares, e o aumento populacional. Nas palavras do Sr. Claudio por conta

desses fatores eles acabam chegando no “fim do poço”.

17

Diário do Nordeste, Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/online/em-fortaleza-4500-moradores-de-rua-disputam-70-vagas-em-casas-de-acolhimento-todos-os-dias-1.848973 Acessado em 16.10.14.

53

Atualmente,na cidade de Fortaleza, o cenário dos atendimentos das

pessoas, que por qualquer motivo estejam nas ruas, mudou. Tivemos um

avanço nesses atendimentos, considerando que houve um aumento do número

de Centro Pop, passando de um para dois; e além desses atendimentos foram

inaugurados também dois novos equipamentos de acolhimento institucional no

ano de 2014 – Abrigo Institucional para Homens e Abrigo Institucional para

Famílias. Cada acolhimento tem a capacidade de atendimento, segundo

mostra a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009), de ate

50 usuários. Porém, é necessário ressaltar que apesar do aumento de

atendimentos ainda não é suficiente considerando que ainda existe um grande

número de pessoas nas ruas de Fortaleza.

Continuando a falar das problemáticas vivenciadas pela população

em situação de rua, durante as entrevistas foi perguntado como eles se

organizavam para sobreviver na rua,e dentre as respostas o Sr. A colocou que

Na rua a gente se vira como pode. Tem dia que a fome é tão grande que eu ia procurar os restos das lanchonetes ali do centro. Ai batia aquela vergonha, mas eu precisava comer. Quando dava para esperar até a noite ficava na porta dos restaurantes para pedir. Tomar banho? Eu tomava banho no Centro Pop e as vezes durante a noite pedia nos postos de gasolina. Eles sempre deixavam. E para dormir? Dormir é sempre mais difícil. A briga na rua é principalmente por conta da hora de dormir. Cada um já tem seu canto. Se você é novato você sofre pra caramba. O jeito é procurar um canto mais afastado do centro que ainda não tenha ninguém, o que deixa o negócio mais perigoso. (A.J.T.M.J, 38 anos, natural de João Pessoa, nas ruas de Fortaleza há um ano e oito meses).

Baseada nas entrevistas, a pesquisadora, constatou que o Centro da

cidade de Fortaleza é a principal localização das pessoas que se encontra na

rua. Por conta que é um grande centro comercial, durante o dia eles tem mais

chances de desempenharem suas atividades laborais, seja na reciclagem,

pastorando carros, ou vendendo bombons no sinal, até os trabalhos formais,

nas padarias, igrejas, entre outros.

Durante o período da noite, eles dormem nas portas das lojas,

calçada, praças e principalmente em lugares que são cobertos por conta da

chuva.”Dormir em um alpendre é luxo para quem tá na rua, se chove, quem tá

nas calçadas sofre, e olhe que a gente já tem lidar com o frio, ai só dá para

aguentar com uma cachaça”(J.B.C, vive na rua há mais de quatro anos)

54

“A madrugada é o pior. Ainda salva porque o povo da igreja tem

pena de nóse traz uma sopinha que ajuda a matar a fome e o frio”.(D.L.T.na

rua há 12 anos).

Essa parte da sociedade que não é percebida tem seus direitos

violados. E passam a ser conhecidos nas palavras de ALMEIDA (2011, p.78)

como “Um ex-cidadão. Sujeito apagado do restante da sociedade e receptor de

estigmas criados por ela própria. Exposto à miséria, é evidente que seus

direitos não são assegurados pelas instituições que têm este objetivo.”

4.2. A inserção do “morador de rua” no mercado de trabalho após o

acolhimento na casa de passagem

A Casa de Passagem não acolhe somente pessoas que estão em

situação de rua, porém os entrevistados nesta pesquisa foram pessoas que

estavam em situação de rua, foram acolhidos neste equipamento da prefeitura

de Fortaleza e após essa acolhida conseguiram se inserir no mercado de

trabalho.

Um dos objetivos específicos da pesquisadora é entender porque

esses homens tiveram maior facilidade de conseguir um trabalho após saírem

da rua, ainda que por um breve espaço de tempo, considerando que o tempo

estimado de permanência no equipamento estudado é de até três meses.

Dentre os trabalhos conseguidos pelos entrevistados estão: Garçom,

Padeiro e Auxiliar de Padeiro, trabalhador de Serviços Gerais e Artesão.

Alguns desses já estão trabalhando de carteira assinada e outros estão no

período de experiência que pode chegar até três meses, mais todos estão com

a expectativa de trabalharem e conseguir sair das ruas.

Ao perguntar o que mudou ao sair da rua e chegar a Casa de

Passagem? O Sr. J.C afirmou

A Casa facilitou tudo. Agora tenho um endereço não é mesmo? Encontrei um rumo depois que cheguei aqui. As Assistentes sociais me encaminharam para o SINE e comecei a procurar um emprego para tentar mudar de vida e graças a Deus já tô no trampo e agora

55

sei que minha vida vai mudar. Eu vou sair dessa. (J.C.S. ,32 anos, vive na rua há 8 anos).

O público alvo estudado precisa de uma atenção para que haja uma

mudança na sua dinâmica de vida. O trabalho pode ser um dos meios para que

haja essa mudança. Sua inserção no mercado de trabalho pode garantir

também sua inserção ou reestabelecimento com os vínculos familiares, ou

ainda a formação de uma nova conjuntura familiar. A PSE coloca que

No caso da proteção social especial, à população em situação de rua serão priorizados os serviços que possibilitem a organização de um novo projeto de vida, visando criar condições para adquirirem referências na sociedade brasileira, enquanto sujeitos de direito.(BRASIL, 2005, p. 37).

Após a finalização da análise das entrevistas foi percebido que

esses homens, por meio do trabalho, acreditam em uma mudança de vida.

Começam a se reconhecer e serem reconhecidos como cidadãos perante o

meio social que os rodeiam. E outro fato que também foi reconhecido é de eles

não se enxergarem simplesmente como trabalhadores, mas sim ao

responderem os questionamentos da entrevista foi colocado em questãoa

importância da Casa de Passagem, um equipamento da Políticade Assistência

Social, na organização das suas vidas futuras.

A Casa de Passagem tem capacidade de atender até 50 usuários.

Nos dias atuais ela atende a 33 homens com idade de 18 a 81 e o cenário que

atende ao trabalho mostra que, exceto os oitos entrevistados, mais sete

homens conseguiram trabalho após o acolhimento mostrando que mais de 50%

do público atendido na casa tiveram acesso ao mercado de trabalho seja ele

informal ou formal. Ainda deve-se ser levando em consideração dentro dos

outros 50% de acolhidos estão em uma faixa etária de idosos que não tem

condições de desempenhar nenhuma atividade, a quantidade de ingressantes

no mercado de trabalho é bastante considerável.

Um dos grandes objetivos dos entrevistados ao passarem pela

Instituição é conseguir um emprego e mudar de vida. “Voltar para minha

Família”, “Comprar uma casa”, “Ter meu cantinho”, “Arrumar uma mulher”,

56

“Tenho a maior vontade de casar”,”Nunca mais voltar para a rua”. São algumas

visões de futuro que eles relataram durante a coleta de dados.

A perspectiva de futuro para os homens abordados pela

pesquisadora tem como característica predominante está em não precisar

voltar a precisar ficar acolhido na Casa de Passagem. “Quero me estabelecer e

nunca mais morar aqui (Casa de Passagem).”(J.C.F.S, 29 anos, grifos da

pesquisadora).

Ainda que o equipamento ofereça a garantia de condições mínimas

de sobrevivência para todos que passam por lá, esses homens mostram que o

que realmente faz falta é ser reconhecido perante a sociedade como cidadão

trabalhador capaz de viver em um convívio familiar.

4.3. Atuação profissional da assistente social na casa de passagem

Elizabeth Almeida Lopes.

Assim como mostra o Conselho Federal de Serviço Social- CFESS,

no tocanteas atribuições e competências do/a assistente social na atuação do

seu exercício profissional, suas atividades

[...] são orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos/as profissionais, quanto pelas instituições empregadoras.(CFESS, 2011,p.16)

O/A Assistente Social desempenha suas atividades em diferentes

espaços de políticaspúblicas, dentre eles está a Política de Assistência e assim

como mostra o CFESS (2011)

O perfil do/a assistente social para atuar na política de Assistência Social deve afastar-se de abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, que reforçam as práticas conservadoras que tratam as situações sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmente. (CFESS,2011, p.18)

O/A Assistente Social é um/a profissional que atua nas mais

diferentes expressões da questão social. Dentre essas expressões está a

condição, ou a falta de condição de uma pessoa que está em situação de rua,

ou seja, que não tem nem o direito à moradia.

57

Na Casa de Passagem, como dito anteriormente no ponto três do

primeiro capítulo, tem em sua grade profissional duas Assistentes Sociais.

Essas profissionais trabalham de forma interventiva com o público masculino

tentando atender as mais diversas demandas que surgem quando os mesmos

necessitam de acolhimento na instituição.

Um exemplo a essas demandas, e o foco da pesquisa, está no

encaminhamento para a inserção no mercado de trabalho para todo aquele que

demonstrar interesse e apresentar condições físicas e psicológicas para

desempenhar uma atividade.

Se falarmos no tocante aos desafios que este/a profissional enfrenta

durante a execução do seu trabalho é mostrado nas palavras de Netto (2007)

[...] entendo que os desafios profissionais do Assistente Social inscreve-se no âmbito da compreensão do significado social da sua intervenção, e este significado só é inteligível se elucidarem as condições em que as relações sociais se processam (vale dizer: produzem e reproduzem-se) na sociedade contemporânea. (NETTO, 2007, p. 165)

Na Casa de Passagem as Assistentes Sociais fazem um

atendimento técnico para conhecer as especificidades de cada usuário,

reconhecendo que cada umtem suas individualidades e devem ser atendidos e

respeitados. Além do atendimento individual é feito: a articulação com a rede

socioassistencial, sensibilização para que os serviços recebam os usuários da

Casa de Passagem, bem como, reuniões para tentar possibilitar que o homem

acolhido reestabeleça seus vínculos familiares.

Ao se tratar das pessoas em situação de rua, segundo mostra o

site18 do MDS é necessário que haja um processo de saída das ruas, ou seja,

aquelas pessoas que estão em situação de rua e são acolhidas na Casa de

Passagem devem passar por um atendimento no objetivo que não seja preciso

voltar para as ruas.

18

SUAS E POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA- SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA. DISPONÍVEL EM: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/populacao-em-situacao-de-rua-cadastro-unico-e-servicos-socioassistenciais/arquivos/servicos-de-acolhimento-para-pessoas-e-familias-em-situacao-de-rua.pdf> Acessado em 20.10.14

58

O site supracitado mostra alguns elementos que possibilitam a

construção do processo da saída das ruas e dentre os pontos citados está

“Trabalho digno e formal de acordo com as aptidões dos (as) usuários (as)”

Portanto, deve-se ser entendido que o trabalho profissional do/a

Assistente Social que atua na Casa de Passagem possibilita o acesso aos

direitos através da articulação ética dos atendimentos e a inserção com a rede

de atendimento a esses homens que estão em situação vulnerabilidade sociais.

Desta forma, a pesquisadora destaca que em meio a uma política de

Assistência, assim como em outras políticas como a de saúde, a presença

desse/a profissional irá proporcionar um atendimento que irá levar o usuário da

política ao acesso dos seus direitos.

59

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi enfatizada a importância de se percebercomo é

visto o homem que está em situação de rua quando é acolhido na Casa de

Passagem, e após esse acolhimento passa a desenvolver um trabalho.

Para que pudéssemos entender o fenômeno da pessoa em situação

de rua foi necessário o entendimento sobre o processo de urbanização,

processo esse que promoveu um crescimento desordenado da população

urbana de Fortaleza, tendo como um dos principais motivos o Êxodo Rural, no

qual vimos que ocasionoutambém um crescimento na população em situação

de rua.

Essa população que passou a ter as ruas de Fortaleza como a casa

que não tinha, e falando dos dias atuais, considerando que essa realidade é

bem presente nas ruas da capital cearense, continuam não tendo o acesso aos

direitos básicos, a exemplo da moradia.

O acolhimento institucional Casa de Passagem serve, em alguns

momentos, como essa moradia. Após serem acolhidos os usuários começam

um processo de se estabelecer socialmente. Um dos primeiros passos se dá

com a procura por um trabalho.

Assim, podemos encontrar ao longo desta pesquisa os traços

pertinentes à inserção do homem, acolhido na Casa de Passagem, no mercado

de trabalho.

Foi realizada a pesquisa com oito homens e dentre os empregos

exercidos tinha artesão, padeiro, garçom, catador de material reciclável, entre

outros, o que nos mostra que o fato da pessoa não ter uma moradia não quer

dizer que ela não tenha condição de desempenhar um trabalho.

Outro ponto importante na pesquisafoi referenteà atuação do/a

profissional Assistente Social que trabalha diretamente de forma interventiva na

articulação com a rede de atendimento sócioassistencial na tentativa de

garantir o acesso aos direitos desses homens que na maioria das vezes são

esquecidos pela sociedade e até mesmo pelo Estado.

60

O Estado do qual fazemos parte está inserido em uma ordem

societária do capitalismo. Um Estado neoliberal que prega políticas públicas

com gastos mínimos e que visa uma acumulação de riquezas. Com isso

deixam de lado uma parte da sociedade, as pessoas que estão em situação de

rua, considerando que elas só resultam em mais gastos.

Essas pessoas, se tratando da pesquisa, esses homens, passam a

ser reconhecidos como vagabundos, mendigos, desocupados, e até mesmos

ladrões. Ou seja, esses homens que não tem condições mínimas de

sobrevivência ainda passam a ser discriminados somente pelo fato de estarem

nas ruas.

Quando sãoacolhidos na Casa de Passagem eles passam a ter um

endereço o que permite a entrada no mercado de trabalho, porém não garante

a falta do preconceito, considerando que por ser um acolhimento da Prefeitura

para dar assistência, as pessoas rotulam que quem precisa desse acolhimento

é por que é um “morador de rua”.

Assim, é mostrado à importância de conhecer a Casa de Passagem

e o quanto é relevante para os homens que lá são acolhidos, e a partir do

acolhimento encontram uma possibilidade de conseguir um trabalho e terem

uma perspectiva de futuro de se estabelecer socialmente.

Vale destacar que existem aqueles que se tornaram “visíveis” dentro

da sociedade, vencendo o preconceito, se reestabelecendo no convívio familiar

e conseguindo concretamente um trabalho.

61

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65

APÊNDICES

APÊNDICE A: Roteiro de Entrevista Semiestruturada

Dados do entrevistado:

Nome Completo -

Idade -

Naturalidade –

Tempo que esta ou esteve em Situação de Rua –

Profissão -

Perguntas:

1. Como as pessoas que “moram” na rua são enxergadas (tratadas) pela sociedade?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Como o Sr., que vive em situação de rua, se organiza para sobreviver na rua? Dormir, se alimentar, tomar banho?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. O Sr. Trabalha? O que o Sr. considera como Trabalho?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

4. Como esta sendo sua vida depois que foi acolhido na Casa de

Passagem? O que mudou?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

5. Como o Sr. é tratado no seu local de trabalho quando as pessoas

descobrem que você é um “morador de rua” e esta acolhido na Casa de

Passagem.

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

66

6. Qual a contribuição da Assistente Social na sua Inserção no mercado de

trabalho?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

7. E agora? O que o Sr. espera do seu futuro?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

67

APÊNDICE B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, você está sendo

convidado a participar de um importante estudo sobre “A INSERÇÃO DA

PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA APÓS ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

NA CASA DE PASSAGEM”, a ser realizada pela aluna Mayara Duarte da

Rocha da Faculdade Cearense.

Neste estudo você responderá a um questionário com perguntas sobre os

resultados do acolhimento. Tal pesquisa tem como objetivo principal identificar

a importância da Casa de passagem para que seja possível adentrar no

mercado de trabalho.

Informamos que sua participação não lhe trará nenhum prejuízo sendo

garantida a privacidade das suas respostas, que serão utilizadas

cientificamente, não sendo o participante submetido a qualquer despesa

financeira, como também não receberá gratificação ou pagamento pela

participação neste estudo, podendo desistir de continuar colaborando a

qualquer momento.

Concordo em participar como voluntário no estudo sobre “A INSERÇÃO DA

PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA APÓS ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

NA CASA DE PASSAGEM”. Declaro ter sido informado das finalidades e do

desenvolvimento da pesquisa. Estou ciente que poderei deixar de colaborar

com o estudo a qualquer momento que desejar.

Obs.: Este Termo terá duas vias (uma para o participante e outra para o

pesquisador).

Fortaleza, _____ de ___________ de2014.

Assinatura do sujeito da pesquisa:

_______________________________________________________________

Informações da Pesquisadora: Nome: Mayara Duarte da Rocha, RG:

2006010433538, Telefone85 87656589, residencial: 85 34973038.

Informações da Orientadora: Nome: Mestre Eva Pimenta; Profissão: Assistente

Social; Telefone para contato: 85 99706948.

68

ANEXOS

Anexo 01: Termo de Compromisso e Convivência utilizado no período da pesquisa.

SECRETARIA MUNICIPAL DE TRABALHO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL E

COMBATE À FOME - SETRA CÉLULA DE PROTEÇÃO ESPECIAL - CEPE

CASA DE PASSAGEM ELISABETE DE ALMEIDA LOPES

TERMO DE COMPROMISSO E DE CONVIVÊNCIA

Eu______________________________________________RG__________________________________________CPF __________________________, após tomar conhecimento do regulamento e normas abaixo descritas, comprometo-me a cumpri-las durante o período em que eu estiver acolhido (a) provisoriamente neste equipamento.

1.A Casa de Passagem é um equipamento da Proteção Social Especial – PSE de Alta Complexidade, da Secretaria Municipal de Assistência Social que objetiva ofertar acolhimento provisório a pessoas adultas ou grupos familiares que estão com seus direitos violados, com vínculos familiares e/ou comunitários fragilizados e/ou rompidos, que se encontram em situação de desabrigo em decorrência: de abandono, migração ou em trânsito (tentando retornar para a Cidade/Estado/País onde tem residência, vínculos familiares ou estabelecido uma rede de solidariedade), que estejam impossibilitadas, temporariamente de suprir suas necessidades e de suas famílias, bem como, sem condições de prover seu retorno imediato ao lar;

2.A Casa de Passagem é um acolhimento institucional que funciona de forma ininterrupta (24 horas) e dispõe aos usuários: acolhimento temporário (período de permanência de 30 dias), alimentação (café da manhã, almoço, jantar e ceia), guarda de pertences (pessoais) e espaço para higienização;

3.É de competência da Casa de Passagem o acompanhamento sistemático das demandas apresentadas pelo usuário no período de sua chegada, realizado através de: atendimento inicial, atendimentos individuais, rodas de conversas, encaminhamentos à rede socioassistencial e às demais políticas públicas, realizar a identificação e manter contato com a família ou rede de solidariedade apontadas pelos usuários buscando assim resgatar e/ou fortalecer vínculos familiares e comunitários. Compete ainda realizar encaminhamentos para retirada de documentação oficial, disponibilização de atendimento e acompanhamento sistemático com assistente social, psicológico e jurídico através dos Centros de Referência Especializados da Assistência Social – CREAS, possibilitando ao usuário a superação da situação de risco pessoal e social, assim como, de violações de direitos identificadas no período

69

de acolhimento;

4.Compete aos usuários acolhidos na Casa de Passagem participar assiduamente das atividades e rotinas propostas por este equipamento (salvo exceções pactuadas em atendimento individual). São atividades e rotinas da Casa de Passagem: oficinas em grupo, rodas de conversa, atendimentos e encaminhamentos diversos que tem como objetivo o fortalecimento do processo de autonomia e a superação das situações de direitos violados identificadas;

5.Compete aos usuários responsabilizar-se pelos seus filhos principalmente no que diz respeito a alimentação, higiene e cuidados de saúde. Salientamos que não é permitido qualquer tipo de violência como agressões verbais, físicas e/ou psicológicas;

6.Compete aos usuários agir de forma respeitosa com os funcionários(as) e demais usuários(as).

7.Compete aos usuários cumprir os horários e rotinas estabelecidas pela Casa de Passagem, salvo exceções pactuadas em atendimento individual;

8.Compete aos usuários zelar e conservar os materiais e equipamentos da Casa de Passagem;

9.Não é permitido desperdiçar alimentos, bem como materiais de limpeza e de higiene pessoal, os quais são entregues pelos serviços gerais e educadores sociais, respectivamente, da Casa de Passagem;

10.Não é permitido vender e comprar qualquer tipo de objeto, ou mesmo solicitar doação a Casa de Passagem;

11.Não é permitido o empréstimo de celular entre funcionários e usuários da Casa de Passagem, bem como disponibilizar o número do telefone para os usuários;

12.Será garantido dormitórios específicos para homens, mulheres e mulheres acompanhadas de filhos e seus dependentes menores de 12 anos;

13.Não é permitido a prática de relações sexuais nas dependências da Casa de Passagem;

14.Quanto a troca de roupas, estas devem ser feitas somente dentro dos banheiros. Não é permitido circular dentro do equipamento sem camisa ou em trajes inadequados (roupas de dormir ou íntimas);

15.O banheiro deve ser utilizado por apenas um usuário (a) de cada vez;

16.Serão realizadas rondas diuturnamente pelos educadores sociais, seguranças e/ou guardas municipais deste equipamento nos espaços coletivos inclusive nos dormitórios;

70

17.Não é permitido o fluxo dos usuários (as) entre os quartos;

18.Em caso de envolvimento em conflitos dentro da Casa de Passagem que gerem ameaças, agressões verbais e/ou físicas, o usuário poderá ser desligado do serviço;

19.Todas as vezes que o usuário (a) ausentar-se da Casa de Passagem, entregará as chaves do armário e assinará Instrumental de registro de entrada e saída dos usuários (as);

20.Usuários (as) que se ausentarem três dias do equipamento, sem comunicação prévia, serão automaticamente desligados (as);

21.É de responsabilidade dos usuários (as) colaborar na organização e limpeza dos espaços coletivos e pessoais, tais como: quartos, banheiros e refeitórios;

22.O usuário somente poderá ausentar-se da Casa de Passagem com a autorização da equipe e/ou Coordenação deste equipamento;

23.De segunda à sexta-feira, o retorno ao equipamento deverá ser feito até às 18h, sábados e feriados às 17h.

24.Os usuários poderão utilizar o domingo para lazer ou outras atividades externas ao equipamento, desde que o usuário comunique ao educador social até a sexta-feira. O retorno ao equipamento deverá ser feito até às 17h do domingo.

25.A televisão somente poderá ser ligada/desligada pelo educador social e nos horários estabelecidos;

26.Não é permitido a entrada do usuário (a) sob efeito ou portando álcool ou outras drogas. Como também, não será permitido o uso de substâncias psicoativas dentro do equipamento. Caso o usuário tenha feito uso dessas substâncias, mesmo que identificado após sua entrada, o mesmo será convidado a retirar-se do equipamento;

27.Todos os usuários (as) serão revistados na entrada e saída da Casa de Passagem, sendo proibida a entrada/saída com armas brancas ou de fogo, e/ou qualquer tipo de objeto que possa configurar-se como arma. Salientamos que objetos ou instrumentos de trabalho que possam ser usados como armas também serão recolhidos na entrada e devolvidos na saída do equipamento;

28.Usuários (as) desligados (as), quando de saída do equipamento, não poderão deixar seus pertences no equipamento.

Fortaleza,___/___/___ Assinatura do usuário(a) Técnico/Educador Social (a)responsável Testemunha

71

Anexo 02: Depoimento da Assistente Social* da Casa de Passagem

“Inicialmente a Casa de Passagem contava com a equipe técnica de apenas uma assistente social, no presente nos somos duas, e o trabalho é pertinente ao trabalho desenvolvido pelo profissional Assistente Social. Dentro os trabalhos desempenhados pela equipe técnica da Casa de Passagem atualmente esta: o atendimento inicial e individual ao homem que é acolhido e a partir de então vem o atendimento das demandas que eles trazem, contando que também existem aquelas demandas que surgem no cotidiano dele aqui no equipamento; Posteriormente vem os encaminhamentos para rede socioassistencial do município e em alguns casos com outros municípios; E a partir da elaboração dos relatórios sociais executamos o trabalho exigido. É muito importante que o assistente social da Casa, bem como das demais áreas de atuação social, ter um conhecimento ampliado das políticas de atendimento do usuário para que seja possível a articulação entre estas e possibilitando o acesso aos direitos para todos. Dificuldades? Em todos ambientes de trabalhos elas vão surgir, por isso a importância de sempre estar se atualizando e participando de atividades que possam nos dar suporte teórico e ate mesmo experiências vividas por outros profissionais que possam servir de base para os atendimentos(lembrando que devemos estará atentos ao respeito e sigilo nos atendimento que são sempre individuais).”

*Foto tirada pela pesquisadora durante pesquisa de campo