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0 FACULDADE DE SÃO BENTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM FILOSOFIA MESTRADO ACADÊMICO Daniel Froes de Abreu O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL E A ADMINISTRAÇÃO MODERNA São Paulo 2011

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FACULDADE DE SÃO BENTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM FILOSOFIA

MESTRADO ACADÊMICO

Daniel Froes de Abreu

O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL E A ADMINISTRAÇÃO MODERNA

São Paulo

2011

1

FACULDADE DE SÃO BENTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM FILOSOFIA

MESTRADO ACADÊMICO

O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL E A ADMINISTRAÇÃO MODERNA

Daniel Froes de Abreu

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação Stricto Sensu em Filosofia da

Faculdade de São Bento do Mosteiro de São

Bento de São Paulo, como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em

Filosofia.

Área de Concentração: Ética e Política

Orientador: Franklin Leopoldo e Silva

São Paulo

2011

2

DANIEL FROES DE ABREU

O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL E A ADMINISTRAÇÃO MODERNA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Filosofia da

Faculdade de São Bento do Mosteiro de São Bento de São Paulo, como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em Filosofia.

Aprovada em18 de maio de 2011.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva

Faculdade São Bento

Orientador - Presidente

________________________________________

Prof. Dr. Douglas Ferreira Barros

Pontifíca Universidade Católica de Campinas

Titular

________________________________________

Prof. Dr. Pedro Monticelli

Faculdade São Bento

Titular

3

“E conhecereis a verdade e a verdade vos

libertará”

Yeshua, O Messias – João 8:32

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a D-us por ter me capacitado e abençoado com pessoas essenciais,

que me auxiliaram no crescimento acadêmico, profissional e principalmente pessoal.

À minha esposa, pelo amor, paciência e incentivos, companheira em todos os

momentos, presente e auxiliadora que nunca me deixa desanimar, me encorajando

diante das adversidades e me alertando ao me aproximar do erro.

À minha filha, que nasceu durante a época que cursei a pós-graduação, que

soube suportar a ausência física do pai nas horas de estudos e que, com seu sorriso me

motiva sempre a prosseguir.

Ao meu orientador, mestre, amigo e exemplo a ser seguido que com sua imensa

sapiência demonstrou humildade e amizade ao levar um neófito chegar até este ponto.

Muito obrigado por ter acreditado na minha capacidade e ter tornado o meu caminho

muito mais fácil de trilhar.

A todos os professores, em especial aos Dr. Djalma Medeiros e Dr. Bruni,

professores que transmitiram ensinos e conselhos de forma brilhante e que me

apresentaram o mundo encantador da Filosofia.

Aos colaboradores da Faculdade São Bento, em especial, os da secretaria, na

pessoa da Sra. Nanci, e os da Biblioteca, que foram além das suas obrigações

profissionais e demonstraram carinho e realização ao me ajudarem inúmeras vezes que

me socorri dos mesmos.

A todos os meus colegas da pós-graduação, que tornaram esta fase da minha

vida inesquecível e que graças à D-us não citarei os nomes, porque são muitos.

5

RESUMO

A eficácia do pensamento de Maquiavel é garantida pela sua atualidade pode

ser considerada a mola propulsora de líderes, governantes e administradores no que se

refere a nações e corporações, na qual a política e a ética maquiavélicas entram como

elementos da manutenção do poder. A presente dissertação busca encontrar uma

simetria entre as lições existentes em O Príncipe de Maquiavel e o funcionamento das

corporações modernas. Desta forma, os famosos princípios que ajudaram grandes

administradores no percorrer da História até os dias atuais, são aplicados nas

corporações empresariais, onde os administradores podem aplicá-los, proporcionando

crescimento e estabilidade para as mesmas e tendo o benefício do sucesso dos seus

“súditos”/colaboradores, retornado para si, garantindo estabilidade e segurança.

6

ABSTRACT

The effectiveness of Machiavelli's thought is guaranteed by its actuality can be

considered the primary driver of leaders, governors and administrators with regard to

nations and corporations, in which politics and ethics come as Machiavellian elements

of maintaining power. This work tries to find a symmetry between the existing lessons

in Machiavelli's The Prince and the functioning of modern corporations. Thus, the most

impotant manager principles that helped the History go on until today, are applied to

business corporations, where managers can apply them, providing growth and stability

for them and having the benefit of the success of his "subjects"/collaborators returned to

you, also guaranteeing stability and security.

7

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................08

2. A FILOSOFIA POLÍTICA DO PRÍNCIPE..............................................................12

1. Maquiavel e o Nascimento da Política Moderna.........................................12

2. A Comparação com os espelhos do príncipes............................................. .13

3. A Política de Maquiavel comparada à Antiguidade Clássica......................14

2.4. Maquiavel e a tradição do contratualismo moderno....................................14

2.5. Eficácia e soberania no pensamento político moderno.................................15

2.6. O princípio da eficácia, segundo De Guicciardini e a reforma do governo

republicano em Florença.............................................................................................. 16

2.7. O pensamento republicano de Maquiavel ou a difícil refundação moderna da

liberdade dos antigos.....................................................................................................17

2.8. Maquiavel e os novos objetos da política...................................................17

2.9. O conceito de Estado, segundo O Príncipe.................................................18

2.10. O Príncipe e o Estado..................................................................................18

2.11. A Razão e a Unidade do Estado em Maquiavel..........................................20

2.12. O caráter performático do poder para Maquiavel......................................22

3. O MANUAL DO PRÍNCIPE....................................……………………….….......24

3.1 O que levou Maquiavel a escrever O Príncipe............................................27

4. O PRÍNCIPE..............................................................................................................28

5. A ATUALIDADE DE O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL.........................................42

6. CONCLUSÃO...........................................................................................................69

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... ....71

Apêndice sobre os Tributos Existentes no Estado Brasileiro no ano de 2010...............76

Apêndice sobre a cronologia do Tempo, da Vida e das Obras de Nicolau Maquiavel...85

8

1. INTRODUÇÃO

Um substantivo: maquiavelismo; um adjetivo: maquiavélico; um nome:

Maquiavel. Niccolò Di Bernardo Machiavelli, nasceu em Florença, Itália, em 03 de

maio de 1469 e morreu, aos 58 anos, na mesma cidade, em 21 de junho de 15271. Seu

pai foi um advogado estudioso das humanidades, o que certamente influenciou seus

pensamentos, que permanecem atuais até os dias de hoje.

A eficácia do pensamento de Maquiavel é garantida pela sua atualidade, pode

ser considerado como mola propulsora de líderes, governantes e administradores, de

corporações a nações, nas quais a política e a ética maquiavélicas podem ser

classificadas como elementos da manutenção do poder.

Maquiavel inovou a filosofia ético-política, tendo a coragem de sair do

pensamento de um mundo idealizado para o mundo real, de forma a garantir o que todo

o líder quer, o poder, e ensinando como aplicar a força no limite desejado, “pois a força

é justa, quando necessária” (Maquiavel), para conquista e continuidade no poder.

A principal obra de Maquiavel que mostra a maneira política e ética do

governante agir é seu título mais famoso, “O Príncipe”, sendo que suas outras obras

poderiam ser consideradas como um complemento desta. Neste trabalho, como em

outros, Maquiavel traz conselhos ao administrador e governante público, o príncipe,

porém tais “sugestões” podem ser aplicáveis na administração corporativa, tanto nas

grandes quanto nas que pretendem crescer.

A ética está entre as primeiras preocupações que motivaram a reflexão desde os

primórdios da cultura ocidental. Quando se volta para as primeiras tentativas de

ordenação do pensamento em função da explicação do mundo e do lugar que o homem

nele ocupa, nota-se, imediatamente, a mescla dos objetivos de compreensão do cosmos,

como ordem física, com a preocupação em atingir os princípios de caráter ético que

fundamentam e governam a organização do universo.2

1 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Maquiavel: A lógica da força. São Paulo: Moderna, 1993, p. 34.

2 Silva. Franklin Leopoldo. Breve Panorama Histórico da Ética. Revista de Bioética. Conselho Federal

de Medicina, v.18, n 3, 2010.

9

Em seu principal texto, Maquiavel diferenciou-se dos filósofos tradicionais,

como Aristóteles e Platão; não descuidou da procura por regras universais, mas

vinculou-as à História e aos acontecimentos políticos da atualidade.

Conforme Fernando Henrique Cardoso apresenta no prefácio de “O Príncipe”,

da Editora Companhia das Letras3: “A chave milagrosa para dotar o texto de “eterna

juventude” terá sido a capacidade demonstrada por Maquiavel para interpretar uma

experiência pessoal, datada, sem descuidar do olhar reflexivo, ampliado pela cultura

histórica, para tirar de sua vivência ensinamentos que vão além do seu tempo e do seu

espaço? Sem dúvida, estes fatores, além da genialidade do autor, contribuíram para o

êxito desta obra”.

O príncipe foi escrito na Renascença, época em que os estudos estavam

baseados em fontes humanistas e não mais na moral cristã. Neste sentido, o Estado

libertou-se da influência do poder papal e frisa-se haver uma separação do sagrado e do

profano na política. Assim, o objeto primordial é o Estado fora da área de influência da

igreja.

“E há de se entender o seguinte: que um príncipe, e especialmente um príncipe

novo, não pode observar todas as coisas que são obrigados os homens considerados

bons, sendo-lhe frequentemente forçado, para manter o governo, agir contra a caridade,

a fé, a humanidade, a religião”.4

A obra dos principados não está fundada nem na política grega, com os ideais

platônicos e aristotélicos, nem no direito romano ou no cristianismo. Doravante o

conhecimento da realidade histórica e a experiência política deverão substituir uma

imagem idealizada de soberania passando a realidade a ter prioridade sobre o ideal.

3 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Os pensadores. Tradução: Lívio Xavier. São Paulo:

Athena, 1973. Daqui em diante este livro servirá como referência para as citações de número de

página.

4 O príncipe, p. 80.

10

A realidade política da época fez com que Maquiavel criasse uma nova forma

de pensar a ética e a política, de forma que o príncipe pudesse alcançar o poder e se

manter nele.

Com Maquiavel, a política alcança uma autonomia que a diferencia da moral. A

administração do Estado deve levar em conta motivação e impulsos inerentes ao ser

humano; tais como os impulsos das motivações egoístas, a inveja, o interesse próprio, a

ambição, a vontade de domínio e demais fatores que de fato condicionam as ações

humanas.

“É que os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e

ambiciosos de dinheiro...”5.

Não se deve interpretar Maquiavel a ter más ações desprovido de qualquer

proposito. Conforme ensina o professor Franklin Leopoldo e Silva, “a banalidade do

mal provém da impossibilidade de pensar, no sentido da formulação de juízos que

possam discernir entre condutas humanas e inumanas, a banalidade da moral no

contexto da experiência histórico-política poderia ser entendida como a impossibilidade

de refletir sobre a origem, o sentido e o alcance das decisões e das ações”6.

Pode-se entender a obra de Maquiavel também do ponto de vista das

estratégias necessárias para buscar e realizar a manutenção do poder e, por isso, atribuir

a ela um alcance geral que recobre não apenas a política no seu sentido público, mas

também a organização de corporações nas quais deve vigorar uma estrutura de poder.

Maquiavel foi uma figura importante da política da república na administração

pública florentina, ingressando em 1489, após o fim de Savonarola e exercendo suas

funções até o retorno dos Médici em 1512.

Após um ano de afastamento de suas atividades políticas, depois de ter

colaborado por 14 anos em participação ativa na política de Florença, Maquiavel vive

administrando o pequeno patrimônio herdado de seus pais.

5 O príncipe, p. 76.

6 SILVA, Franklin Leopoldo. Conhecimento e Razão Instrumental. São Paulo:

USP, v.8, n.1, 1997.

11

Após ser destituído de suas funções foi proibido de deixar o território

florentino durante um ano e submetido a uma série de interrogatórios sobre suas

atividades, com uma ênfase especial na administração das milícias. Entre as suas

funções destacam-se: iniciador, recrutador e depois administrador das milícias de

Florença, que deveriam substituir os caros e complicados exércitos de mercenários.

Em 1513, após ser torturado, sob a acusação de um complô contra os Médici,

do qual supostamente fazia parte, foi liberado pela intervenção de Juliano de Médici,

com quem provavelmente viveu a infância. Retira-se para uma modesta casa que herdou

de seu pai perto de San Casciano, onde espera ansiosamente seu retorno à política, que

ocorreu quando o cardeal Giovanni de Médici subiu ao pontificado.

O conteúdo essencial do tratado dos Principados nasce em 1513, como uma

série de sugestões que Maquiavel espera chegar aos ouvidos dos Médici, dedicando a

obra a Juliano de Médici, com uma série de conselhos e observações sobre a atualidade

política, com reflexões sobre obra de pensadores antigos, na esperança de retornar à

política7.

Maquiavel, na carta a Vettori, propôs investigar “qual a essência dos

principados, de quantas espécies podem ser, como adquiri-los, como conservá-los e qual

a razão da sua perda”.

Além da vontade de voltar ao poder, Maquiavel queria ver a sua Itália livre dos

bárbaros, conforme explícito no capítulo XXVI “Exortação a Libertar dos Bárbaros a

Itália”, de O Príncipe.

7 O Príncipe, p. 117.

12

2. A FILOSOFIA POLÍTICA DO PRÍNCIPE

A sabedoria política de Maquiavel, originária de O Príncipe, além de

inovadora, é singular, especialmente com fama controversa e polêmica.

Maquiavel inovou tanto com relação à análise política, quanto à redefinição e

renovação dos problemas e objetos fundamentais da teoria política.

2.1. Maquiavel e o Nascimento da Política Moderna8

Sob o ponto de vista epistemológico, Maquiavel inovou, trazendo novos

modos de análise, problemas, objetos e redefinindo o próprio conceito do que é o

saber9.

Ao analisar O Príncipe e os Discorsi, nota-se a mudança dos padrões

tradicionais de análise da política, na medida em que introduzirão novos problemas e

novos objetos, ocorrerá a alteração da ontologia do político, revolucionando o sentido

tradicional da sabedoria política.

Desta forma, observa-se uma alteração dos padrões tradicionais de análise

política com relação aos padrões tradicionais da análise de política, referente aos

padrões ou estilos tradicionais de análise conceitual da política, havendo, pelo menos,

três contraposições a fazer:

1º) A mais imediata, que compara a obra de Maquiavel aos miroirs du prince;

2º) A que avalia a política tomando como referência as grandes obras de

Filosofia política da Antiguidade Clássica;

3º) A que a confronta com tratados especulativos que viriam a ser a forma

padrão da Filosofia política contratualista nos séculos XVII e XVIII.

8 Este subtítulo e os que virão a seguir significam apenas os assuntos que serão mencionados e de forma

alguma a pretensão de esgotar cada um deles.

9 TORRES, João Carlos Brum. Mutações do Conhecimento: Maquiavel e o Nascimento da

Política Moderna. Porto Alegre: Philia & filia, 2010, p. 98.

13

Assim, os dois primeiros itens demonstram-se como Maquiavel se afastou de

seus antecessores e como a sua obra inovou, os três pontos permitem reconhecer a sua

singularidade de pensamento, também quanto ao seu futuro, vislumbra-se o que nele

viria a ser o main stream da Filosofia Política que o sucederia.

2.2. A Comparação com os espelhos do príncipes

Conforme Jacques Krynen10

,os espelhos dos príncipes, gênero literário típico

da Idade Media, tinham como objetivo principal influenciar os governantes, de modo

que fossem inclinados na direção da virtude privada, responsabilidade e justiça pública,

questões críticas numa época em que o poder monárquico não se encontrava submetido

a quaisquer limitações formais.

Desta forma, algumas grandes obras políticas que podem ser incluiídas entre

os espelhos dos príncipes: o Policraticus, de John de Salisbury ou o De Reginine

Principum, de Gilles de Rome, eram complementadas por uma contribuição de caráter

teórico, voltada a uma doutrina sistemática do poder real11

, porém era indiscutível o

caráter moralizador e a função educadora dos espelhos dos príncipes, buscando

estabelecer como modelo da imagem de um príncipe perfeito.

Nos espelhos dos príncipes, especialmente os escritos pelos humanistas, nota-

se que buscavam associar o exercício do poder às virtudes cristãs e políticas12

, como

prudência, temperança, fortaleza de alma, justiça, piedade, humanidade, fé cristã,

liberalidade, magnificência, clemência e palavra honrada.

Maquiavel rompe com esta tradição, preferindo a realidade ao invés do ideal,

não alcançável, de forma mais ampla pode-se considerar “O príncipe” como um

espelho inovador, prático e eficaz na “arte da governança”, rompendo com a

10 A despeito de que se lhe possam encontrar antecedentes na Antiguidade clássica. Cf. Jacques

Krynen, Idéal du Prince et pouvoir royal em France à la fin du Moyen Age (1380-1440) – Étude de

laliterature politique du temps, Éditions A. Et. J. Picard, Paris, 1981, p.52.

11 TORRES, João Carlos Brum. Mutações do Conhecimento: Maquiavel e o

Nascimento da Política Moderna. Porto Alegre: Philia & filia. 2010, pg. 100.

12 SKINNER, Quentin . As funções do pensamento político moderno. Tradução: Renato Janine

Ribeiro e Laura Teixeira Mota. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 147.

14

ingenuidade da idéia tradicional de que ao levar uma vida virtuosa o príncipe já

realizaria as metas políticas fundamentais.

O modo com que “O Príncipe” leva o governante a reconhecer as próprias

virtudes rompe com os espelhos dos príncipes elaborados de forma tradicional13

.

Desta forma, nota-se uma ruptura profunda em relação a O Príncipe e os

ensinamentos clássicos dos miroir, pois é evidente que Maquiavel não buscou fazer um

resumo da educação virtuosa ou ditar as regras sobre como deveriam organizar-se

político-socialmente a partir de princípios organicistas.

2.3. A Política de Maquiavel comparada à Antiguidade Clássica

Ao analisar o pensamento de Maquiavel transcrito em O Príncipe observa-se

um grande contraste e distância com as obras políticas da Antiguidade Clássica, o que a

torna mais uma vez a sua obra inovadora.

Não se notam resquícios do projeto platônico de fundar metafisicamente os

princípios de uma cidade ideal, nem um exame minucioso dos elementos que compõem

a cidade com a preocupação de classificar as formas políticas e avaliá-las normativa e

prescritivamente, encontradas na política de Aristóteles14

.

Assim, Maquiavel não faz uma teoria da pólis, não traça desenho da polis

ideal, nem esclarece os elementos e princípios que devem compor uma cidade que

exista conforme os fins essenciais, mas traz a questão específica filosófico-política de

como o poder deve ser exercido com vista à preservação de seu controle, por parte de

quem o detém.

2.4. Maquiavel e a tradição do contratualismo moderno

Mesmo em relação aos seus sucessores, em especial com os tratados

contratualistas que viriam a formar o núcleo principal da Filosofia Moderna, a obra O

13 BERLIN, Isaiah. A originalidade de Maquiavel. In: Estudos sobre a humanidade. Tradução:

Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

14 TORRES, João Carlos Brum. Mutações do Conhecimento: Maquiavel e o

Nascimento da Política Moderna. Porto Alegre: Philia & filia, 2010, pg. 103.

15

príncipe se distingue porque a questão da legitimação normativa das instituições

políticas é inteiramente alheia às preocupações de Maquiavel, sendo foco do seu

interesse a questão do puro poder e das condições que concernem a este exercício, ou

seja, o poder em si mesmo.

2.5. Eficácia e soberania no pensamento político moderno

Maquiavel em Florença no início do século XVI, De Guicciardini na França

no fim do século XVI e Bodin e Hobbes na Inglaterra da primeira metade do século

XVII foram autores que brilhantemente formularam princípios que deram importância

ao nosso conhecimento atual sobre “Estado”, “República” ou “estado civil”.

A Filosofia de O Príncipe se desenvolveu após a observação de Maquiavel

durante os 14 anos de suas funções a serviço da república florentina.

Entre a redação de O Príncipe de Maquiavel, em 1513, e a publicação de

Leviatã, de Hobbes, em 1591, é impossível notar o reflexo histórico e filosófico do

pensamento e a construção dos princípios políticos da modernidade.

Ao estudar o pensamento de Maquiavel, perspectivado com o de Guicciardini,

seu contemporâneo e amigo, nota-se que no centro do pensamento republicano

florentino está o nascimento do princípio de eficácia política.

O pensamento de eficácia política levou Maquiavel a reler de forma

extremamente original a história da república de Roma e, da mesma forma, a república

florentina, sem minorar a importância do humanismo cívico na sua formação, buscou a

“verdade efetiva das coisas”.

Existiam posições diferentes entre Maquiavel e Francesco De Guicciardini,

também devido às origens, De Guicciardini (1983-1540), que pertencia a uma das

famílias mais poderosas da oligarquia florentina e Maquiavel (1469-1527), ao ramo

mais novo e empobrecido de uma velha família patrícia.

16

2.6. O princípio da eficácia, segundo De Guicciardini e a reforma do

governo republicano em Florença

De Guicciardini mostrou-se desde muito cedo interessado em conciliar as

instituições republicanas de Florença, que proibiam a confiscação do bem comum para

fins pessoais, com uma nova preocupação com a eficácia governamental, que

emparelhava, segundo ele, com predominância dos homens competentes.

Preconizou a eficácia governamental, alegando que o governo dos assuntos de

estados fossem confiados a homens competentes, complementando, assim, o princípio

republicano de legitimidade popular.

Para Guicciardini, o pensamento político de Maquiavel se ressalta com a

verdade efetiva das coisas, onde Maquiavel buscava a verdade real e não uma utopia

idealizada, instruindo àquele que tem como único fim a conservação e o aumento da

autoridade daquele que o conquistou.

Desta forma, Maquiavel se baseia em dois pensamentos, de que é perigoso

assumir a responsabilidade de um empreendimento novo que envolve muita gente e que,

na política, a opinião que conta é a da maioria.

Para se manter no poder, um príncipe que sabe que não pode contar com a

fidelidade de seus súditos, deve aprender a não se envolver em compromissos que lhe

sejam prejudiciais.

No final, a arte de governar irá se assentar na capacidade do príncipe de passar

uma imagem favorável de si mesmo e na representação que o povo tem de suas ações.

Desta forma, Maquiavel dá ao príncipe um espelho no qual deve contemplar a

sua imagem para que ele reflita como deve parecer ao seu povo, conforme as suas

ações.

17

2.7. O pensamento republicano de Maquiavel ou a difícil refundação

moderna da liberdade dos antigos

Consciente de que é mais fácil dizer mal do povo do que dos príncipes,

Maquiavel, em seus Discursos, toma partido da virtude política dos povos livres, não

se esquecendo dos princípios de eficácia política trazida pelo O Príncipe, não

encontrada nos precursores de Maquiavel15

.

Para os teóricos da soberania, como Jean Bondin, jurista do final do século

XVI, o Estado é, em primeiro lugar, uma estrutura jurídica, para Maquiavel, ele é antes

de tudo uma organização dinâmica fundada nos costumes dos atos políticos. Desta

forma, a preocupação com a eficácia que observamos tanto em O Príncipe como nos

Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, exprimiu-se, principalmente através

da teoria da virtude.

Enquanto os teóricos entendiam que era preferível por em evidência as

condições efetivas como econômicas, demográficas e militares do domínio político de

preferência, ao invés de expor as condições jurídicas, teológicas e políticas do exercício

de uma soberania.

Na releitura dos teóricos do Estado, o princípio de Maquiavel de eficiência já

não encontrava onde aplicar uma teoria da virtude, mas sim de um governo eficaz.

HOBBES afirma que a necessidade da representação dos soberano visa

produzir uma conformidade, evitando, todavia, a subordinação dos fins políticos da

cidade, ou seja, a preservação dos direitos do soberano e da segurança dos cidadãos,

para fins extrapoliticos, mesmo sob a justificação da procura da eficácia.

2.8. Maquiavel e os novos objetos da política

Pelo fato de que, para Maquiavel, o que interessa é o poder considerado em si

mesmo, podemos considerá-lo o grande teórico da política pura, do poder dissociado

15 RENAULT, Alain. História da Filosofia Política 2. Nascimentos da Modernidade. Tradução:

Felipe Duarte. Lisboa: Calmann Lévy, 1999, p. 186.

18

das considerações normativas, deixando claro que é preciso se afastar das idéias

normativas se quiser fazer uma obra útil, capaz de ensinar como deve ser o real poder e

o governo16

.

2.9. O conceito de Estado, segundo O Príncipe

Em nenhum momento Maquiavel chega a formular uma conceituação expressa

do Estado, mas é nítido que se refere às mais variadas formas conceito de Estado em

sentido estrito.

Maquiavel foi o primeiro teorizador dos Estados modernos a analisar a sua

verdadeira natureza despida de quaisquer considerações de ordem moral ou religiosa,

indo ao cerne da questão e analisando suas possíveis relações com o período histórico

de sua gênese, tido como a fase de consolidação dos Estados nacionais, sob forma de

organização absolutista.

Jean Touchard, afirma que, embora o secretário florentino não tenha em

nenhum momento de sua vida formulado uma “teoria geral do Estado, este encontra-se

inegavelmente no cerne de todo seu pensamento17

.

A mensagem básica de O Príncipe é a autonomia da política com a moral,

remetendo necessariamente à já comentada primazia da política sobre a moral, em que o

Estado, por sua própria natureza, não pode ser impedido por quaisquer considerações de

natureza ética.

2.10. O Príncipe e o Estado

Maquiavel viveu em uma época em que a Renascença iluminava os

pensamentos e influenciava a política da época, como fruto de uma criteriosa

16 Capítulo 15, de O Príncipe.

17 MAQUIAVEL, Nicolau apud CHEVALLIER, Jean-Jacques. As Grandes Obras Políticas: de

Maquiavel a Nossos Dias. 6. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1993. p.23.

19

observação das coisas, assim, descreve os fatos observados com um criterioso método

de eficácia, indo do mundo idealizado para o real e dando sentido prático a conceitos

imaginários.

Pode-se notar, claramente, na alusão do centauro, como Maquiavel pretende

indicar a própria natureza dúplice do poder político, que embora possa ser exercido por

meios pacíficos, em momento algum o homem poderá prescindir totalmente da fraude

ou da violência, próprias dos animais na execução de seus fins.

“Isso não quer dizer outra coisa, não ter por preceptor um ser meio animal e

meio homem, senão que um príncipe precisa saber usar uma e outra dessas naturezas:

uma sem a outra não é durável.18”

Maquiavel separa a política da moral, conceitos tidos até então como

essenciais ao príncipe, como não matar, não mentir ou até mesmo manutenção da sua

palavra, podem ser considerados secundários.

“Logo, um senhor prudente não pode nem deve guardar sua palavra quando

isso seja prejudicial aos seus interesses e quando desaparecerem as causas que o

levaram a empenhá-la.”19

Porém, tais pensamentos não devem ser entendidos como um problema de

caráter do autor, mas sim como a metodologia preconizada por ele para aquisição e

manutenção do poder.

Diferente da tradição medieval, que vinculou o Estado aos valores morais,

Maquiavel o vê despido de considerações éticas, possibilitando seu correto

entendimento e reconhecendo o fenômeno político distinto do campo da moral.

Na sua visão, a política desconhece completamente considerações de natureza

ética, só voltando-se para a moral somente quando a mesma puder, de alguma forma,

contribuir para a realização dos fins políticos objetivados pelo governante, assim, a arte

política não deve ser uma realização da ética como um fim em si mesma.

18 O Príncipe, p. 80.

19 O Príncipe, p. 81.

20

“Não é necessário a um príncipe ter todas as qualidades mencionadas, mas é

indispensável que pareça tê-las. Direi, até que, se as possuir, o uso constante delas

resultará em detrimento seu, e que, ao contrário, se não as possuir, mas afetar possuí-las,

colherá benefícios. Daí a conveniência de parecer clemente, leal, humano, religioso e

íntegro, contanto que, em caso de necessidade, saiba tornar-se o inverso.”20

Maquiavel faz um corte radical entre a Ética e a Política. Angel L. Cappelletti

afirmou que, não obstante já no tempo de Platão, sofistas como Trasímaco procurarem

reduzir a moralidade à força, no sentido de que ético será o governo que se organizar em

proveito do mais forte, promovendo uma subordinação da ética à força, é com

Maquiavel, no começo da Idade Moderna, que se estabeleceu uma verdadeira antítese

conceitual e principiológica entre os termos moral e Estado. Ou no dizer do referido

autor:

“ Era preciso que transcurriera más de um milenio de Imperio Cristiano para

que alguiem pudiera decir en Occidente que Estado y moralidad no sólo son términos

diversos, de tal modo que el Estado há de reconocerse en principio como algo a-moral

(o sea, ajino a toda ética, como los entes de la naturaleza, astros, plantas o bestias), sino

tambiém como algo contrario a ella y, por tanto, como algo in-moral, en cuanto no

puede lograr sus fines próprios sin transgredir los más elementales princípios éticos y

sin conculcar los más altos valores morales, como la justicia y la libertad.”21

Desta forma, Maquiavel desvincula o estado da moral e traz o sentido real das

coisas como são, observando a natureza humana.

2.11. A Razão e a Unidade do Estado em Maquiavel

Maquiavel foi o primeiro pensador a formular um dos principais aspectos da

Razão de Estado, embora sobre o mesmo não tenha desenvolvido uma teoria completa,

sobre o qual Sérgio Pistone afirmou:

20 O Príncipe, p. 80.

21 CAPELLETTI, Angel apud CONDE, Francisco Javier. Lo Saber Político en Maquiavelo. 2. ed.

Madrid: Biblioteca de la Revista de Ocidente, 1947, p. 23.

21

“É possível descobrir na história antecipações parciais, às vezes bastante

agudas, de tal teoria, mas está fora de dúvida que é só com Maquiavel que se registra

um salto qualitativo capaz de constituir o começo de uma nova tradição de

pensamento.”22

Em Maquiavel observamos que a doutrina da Razão de Estado, também

denominada de doutrina do Estado Potência, preconiza a libertação dos governantes de

impedimentos jurídicos, éticos ou religiosos, em favor da conservação do poder, ao

reconhecer-se a conservação deste como um valor absoluto.

Ele aconselha a emancipação do soberano de todos os impedimentos de

natureza ética, entendimento este tradicionalmente chamado, em sentido depreciativo,

de maquiavelismo.

Com relação às mudanças nos padrões tradicionais de análise política, trazidas

por Maquiavel, sobressaía a própria ontologia do político.

O príncipe inovou não só em relação aos miroirs Du Prince, Filosofia grega,

tradição contratualista, mas também, com o pensamento do político tradicional, formado

no recurso heurístico para poder ver com nitidez como o pensamento de Maquiavel

muda os próprios objetos da análise política.

Assim, faz uma análise ostensiva do realismo, tratando de relações entre o

príncipe, a aristocracia e o povo em termos puramente pragmáticos, inteiramente

alheios às visões organicistas do corpo político, que haviam sido trazidas para o centro

das organizações político-sociais durante a Idade Média, permanecendo até o início da

modernidade.

Nota-se que as monarquias hereditárias, facilmente compreendidas no

contexto da França ou Inglaterra são inovadoras na Itália, onde o conflito entre o

Papado e o Império não haviam produzido apenas uma fragmentação nas unidades

políticas e na estrutura de autoridade, criando o fenômeno do poder puro, o qual brota

22 TOUCHARD, Jean et all. História das Idéias Políticas. v. 3. Lisboa: Publicações Europa

América, 1970, p. 22.

22

no sentido mais estrito da palavra, gerando um pensamento puramente estratégico e

técnico.

Ao centrar o foco de sua atenção sobre a iniciativa e condução política, que

deixa de lado as estruturas ideológicas e institucionais, cria a unidade e identidade

política.

2.12. O caráter performático do poder para Maquiavel

Ao examinar o processo de tomada do poder e de fundação do Estado, a partir

da ação política do príncipe, e colocar-se na situação em que tem lugar toda

fundamentação política, por mais oculta, imemorial e mitificada, que em alguns casos

podem ser a origem dos Estados.

Isto é provado quando Maquiavel enfatiza questões relativas à tomada e

preservação do poder, e, por consequência, à sua legitimidade política.

Desta forma, Maquiavel propõe não apenas isolar o fenômeno do poder, mas

reconhecer um novo fundamento para a unidade política, ou seja, a força fundadora e

confrontadora da ação do príncipe, fundação e confrontação não só em um momento

inaugural , mas como a abertura de uma nova ordem normativa.

Ao se isolar do fenômeno do poder, faz com que a visão da identidade política

se constitua de uma ação performática, assim, fazendo com que a entidade política, em

última análise, resulte mais da ação política do fundador do Estado do que de inércias

sociais.

Além disso, propõe que se reconheça um novo fundamento para a unidade da

identidade política, ou seja, a força fundadora e conformadora da ação do príncipe, não

apenas de forma inaugural, mas como uma nova ordem política.

A fortuna como sinal do caráter constitutivo de risco da perfomatividade do

poder foi considerada por Maquiavel como categoria da sua política fundacional.

23

Estas idéias podem ser encontradas em O Príncipe (por exemplo nos capítulos

VII e XXIV), observando desatentamente, o leitor pode pensar que há coisas que

escapam do controle, porém uma leitura mais atenta demonstra que o autor as

contrapõe sistematicamente, desvendando fortuna e virtude como um conjunto de

capacidades e habilidades de condução política necessárias à conquista do poder, da

fundação à manutenção do Estado.

24

3. “O MANUAL” DO PRÍNCIPE

A obra estudada poderia ser intitulada: “O Manual do Governante”, entendendo

por governo a estrutura política e o procedimento administrativo, por isso os conselhos

de Maquiavel ao príncipe podem ser transplantados para a conduta daqueles que

desfrutam do poder nas corporações modernas. Neste sentido, este trabalho busca

desenvolver a analogia entre o príncipe e o administrador moderno, bem como os

súditos e os empregados da empresa.

Desta forma, o “manual”, resumidamente, divide os principados em novos e

hereditários. Por achar demasiadamente fácil governar um principado hereditário e

devido às instabilidades políticas da época na Itália, Maquiavel aconselha que, em sua

administração, o príncipe procure “não ultrapassar os limites estabelecidos pelos

antepassados e contemporizar com os acontecimentos”.

Maquiavel entende que a verdadeira dificuldade para a aquisição e conservação

do que está nos principados novos.

Dinâmica semelhante pode ser observada no mundo corporativo, onde há

relação entre solidez da empresa e sua duração no mercado e onde se observa, também,

a fragilidade daquelas que possuem menos tempo de vida.

Enquanto alguns principados são absolutamente novos, outros são agregados a

um principado hereditário (como o exemplo do Reino de Nápoles e da Espanha),

tornando-se misto, o que origina uma série de problemas acerca dos quais Maquiavel

propôs uma série de conselhos para anexação. Além disso, também existem os

principados eclesiásticos que formam uma categoria à parte.

Maquiavel não discute a legitimidade da aquisição dos principados, mas apenas

o domínio da força, “pois o triunfo do mais forte é fato essencial da história humana”23

.

Esta tese não exclui o discernimento na aplicação da força. Este discernimento

consiste na razão e arte da política, por isso a principal função do príncipe está em saber

aplicar a força segundo o novo estilo de racionalidade política inaugurada por

Maquiavel, que leva em consideração a eficácia deste procedimento.

23 O Príncipe, p. 29.

25

O realismo político proposto nesta eficácia supõe boas leis e boas armas, mas é

preciso que os súditos sejam estimulados pelo bem público, o que desaconselha, por

exemplo, a formação de exércitos mercenários.

A conquista ou maneira de se conservar o poder ou perdê-lo se dá por via de 4

modalidades diferentes, sendo que nas 2 (duas) primeiras Maquiavel dá uma ênfase

maior, interessando-se mais fortemente:

1º) Conquista pela própria virtude, isto é, pelas próprias armas;

2º) Conquista pela fortuna e pelas armas alheias;

3º) Por “perversidade” e

4º) Por favor e consentimento dos concidadãos.

Sendo que o capítulo XXV é dedicado à discussão da relação entre a fortuna e

a virtude.

Ao examinar os itens acima percebe-se a coerência do enunciado que diz que a

virtude é mais adequada para a conservação do poder do que para a sua conquista.

Outra questão importante é como o príncipe deve se manter em relação aos

seus súditos, observando os perigos que um novo príncipe enfrentará.

Neste sentido, predicados morais tradicionais, como a honestidade, por

exemplo, não são necessariamente considerados como virtudes do príncipe. Como a

finalidade é manter-se no poder, a virtude pode implicar apenas na imagem pública de

tais predicados.

“Contudo, o príncipe não precisa possuir todas as qualidades citadas, bastando

que aparente possuí-las. Antes, teria eu a audácia de afirmar que, possuindo-as e

usando-as todas, essas qualidades seriam prejudiciais, ao passo que, aparentando possuí-

las, são benéficas; por exemplo: de um lado, parecer ser efetivamente piedoso, fiel,

26

humano, íntegro, religioso, e de outro, ter ânimo de, sendo obrigado pelas

circunstâncias, e não o ser, tornar-se o contrário.”24

Desta forma, o príncipe utiliza a opinião pública ao seu favor, que conforme

ensina o nobre prof. Franklin Leopoldo e Silva25

, “opinião pública" nada mais é do que

a manipulação dos indivíduos pelos dispositivos de poder e pelos meios de

comunicação.

O príncipe que quer se manter deve aprender a agir de modo assertivo, com

firmeza, o que, portanto, vale mais que critérios de bondade ou maldade. Suas ações

devem ser guiadas pela percepção da oportunidade, é esta que torna a ação necessária.

Mais vale ser amado e temido, ou temido e amado? O ideal é ser amado e

temido, mas se isto não for possível é melhor ser temido porque:

1º) “os homens são geralmente ingratos, inconstantes dissimulados, trêmulos

em face ao perigo e ávidos de lucro. Enquanto lhe fazem o bem são dedicados;

oferecem-vos o sangue, os bens, a vida, os filhos, enquanto o perigo se apresenta

remotamente, mas, quando este se aproxima, bem depressa se desviam”;

2º) Além disso, os homens receiam muito menos ofender aquele que se faz

amar do que aquele que se faz temer e

3º) Um sábio príncipe deve basear-se no que depende de si e não no que

depende de outrem.

Ser temido não significa ser odiado e, quanto a isto, o livro dos principados

aconselha que para o príncipe não ser odiado deve “abster-se de atentar, seja contra os

bens dos súditos, seja contra a honra de suas mulheres”.

Quanto à palavra do príncipe, Maquiavel disserta em seu capítulo XVII –

Como os príncipes devem cumprir a sua palavra. Maquiavel escolheu os mitos de

Aquiles e do centauro, informando que é necessário que o príncipe aja tanto como

homem, quanto como animal. É próprio do homem combater pelas leis,

24 O Príncipe, p. 80.

25 SILVA, Leopoldo Franklin. A Banalidade da Política. São Paulo: Cultura. 2007.

Disponível em http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia=1610&cod_Canal=41,

acesso em 05 de abril de 2011.

27

regulamentação, com lealdade e fidelidade e é próprio do animal combater com força e

astúcia. Entre os animais, o príncipe deve “tratar de ser simultaneamente a raposa e o

leão, pois se for apenas o leão, não perceberá as armadilhas; se for apenas a raposa, não

se defenderá do lobo; portanto, tem igual necessidade de ser raposa para conhecer as

armadilhas, e leão para atemorizar os lobos”. Em relação às promessas, ser raposa, não

observando as suas promessas quando estas se demonstram inconvenientes. Isto porque

nem todos os homens são bons e, como não observam a palavra dada ao príncipe, este

não estaria obrigado a respeitar a palavra dada aos outros.

3.1. O que levou Maquiavel a escrever O príncipe

Além da vontade de voltar ao poder, encontra-se, principalmente no capítulo

XXVI, “Exortação a Libertar dos Bárbaros a Itália”, seu grande segredo de amor e

nostalgia à Itália:

“Um violento amor da pátria despedaçada, subjugada e devastada, arde no

íntimo do coração desse funcionário de espírito tão implacavelmente positivo, de olhos

frios, tão abertos sobre a dureza da realidade, sobre a sua selvageria até. O sonho de um

libertador, de um redentor da Itália, atormentada”.

Assim, Maquiavel irá ensinar de que forma a virtu e a fortuna irão influenciar

as decisões do administrador, diferenciando-se de outros espelhos dos príncipes.

Conforme ensina HEBECHE26

o significado de a virtu e de fortuna têm origem na

cultura clássica, na qual a deusa fortuna simbolizava o inesperado, o acaso, a

inconstância, distribuindo o bem e o mal ao seu bem prazer e, por isso, os romanos a

tratavam com admiração, mas também com apreensão. Já a virtu representa a fortaleza

de ânimo, determinação e solidez.

Ou seja, enquanto a fortuna representa a indeterminação, a “sorte”, a virtu é a

determinação, o “esforço”. O príncipe se destaca ao elaborar o modelo de homens

virtuosos que se distinguem ao enfrentar a fortuna e não depender da sorte,

transformando a situação ao seu favor.

26 HEBECHE, Luis Alberto. A guerra de Maquiavel. Ijuí: Unijuí, 1988.

28

4. O PRÍNCIPE

Nicolau Maquiavel escreve máximas no seu “manual do príncipe”,

demonstrando sua idéia e depois demonstrando a historicidade de seu pensamento.

Conforme Fernando Henrique Cardoso apresenta no prefácio que redigiu da

obra “O príncipe”27

, “A clave milagrosa para dotar o texto de “eterna juventude” terá

sido a capacidade demonstrada por Maquiavel para interpretar uma experiência pessoal,

datada, sem descuidar do olhar reflexivo, ampliado pela cultura histórica, para tirar de

sua vivência ensinamentos que vão além do seu tempo e do espaço? Sem dúvida estes

fatores, além da genialidade do autor, contribuíram para o êxito desta obra”.

Desta forma, Maquiavel escreveu “O Príncipe”, em 1513, editado a primeira

vez em 1532, com seus 26 (vinte e seis capítulos).

A carta de Nicolau Maquiavel ao Magnífico Lourenço de Médici, ao apresentar

a obra, menciona os assuntos abordados:

Quais os gêneros de principados e por que meios são conquistados;

Dos principados hereditários;

Dos principados mistos;

Por que o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra seus

sucessores após a morte deste;

De que modo se podem administrar cidades ou principados que, antes de

conquistados, tinham suas próprias leis;

Dos principados novos que são conquistados por virtude e armas próprias;

Dos principados novos que são conquistados por armas alheias e pela fortuna;

Daqueles que, por atos criminosos, chegaram ao principado;

Do Principado civil;

27 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução: Maurício Santana Dias. Prefácio: Fernando

Henrique Cardoso. Tradução dos apêndices: Luiz de Araújo. São Paulo: Penguim Classic Companhia das

Letras, 2010.

29

De que modo se deve avaliar a força dos principados;

Dos principados eclesiásticos;

Quais são os tipos de exércitos e de milícias mercenárias;

Das milícias auxiliares mistas e próprias;

Como o príncipe deve proceder acerca das milícias;

Das coisas pelas quais os homens, sobretudo os príncipes são louvados ou

vituperados;

Da liberdade e da parcimônia;

Da crueldade e da piedade; e se é melhor ser amado que temido;

Como o príncipe deve honrar sua palavra;

De como escapar ao desprezo e ao ódio;

Se fortalezas e outros expedientes a que os príncipes frequentemente recorrem

são úteis ou não;

Como um príncipe deve agir para obter honra;

Dos ministros de um príncipe;

Como escapar aos aduladores;

Por que os príncipes da Itália perderam seus reinos;

Em que medida a fortuna controla as coisas humanas e como se pode resistir a

ela;

Exortação a tomar a Itália e a libertá-la dos bárbaros;

Em todos esses capítulos podemos aproveitar lições valiosas, verdadeiras

máximas filosóficas e aplicá-las em muitos aspectos das nossas vidas.

Já no prefácio, “Carta de Nicolau Maquiavel ao Magnífico Lourenço de

Médici”, ao qual o autor dedica seu livro, podemos tirar algumas lições importantes,

30

como “Aqueles que desejam conquistar a graça de um príncipe costumam obsequiá-lo o

mais das vezes com o que possuem de mais valioso ou que possa deleitá-lo de modo

especial”28

, e conclui sua carta “prefácio” com uma grande observação de que para

enxergar as coisas temos que olhar de outra perspectiva, “pois os que desenham os

contornos dos países se colocam na planície para considerar a natureza dos montes, e

para considerar a das planícies ascendem aos montes assim também para conhecer bem

a natureza dos povos é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é

necessário ser do povo”29

.

A seguir apresentamos uma descrição dos assuntos tratados em cada capítulo:

No capítulo I, aprende-se que os principados podem ser hereditários ou novos,

sendo estes últimos inteiramente novos ou membros anexados a um Estado hereditário,

além disso a sua forma de conquista se dá por armas alheias ou próprias, por fortuna ou

por virtude30

.

O capítulo II relata que nos principados hereditários há menos dificuldade em

conservá-los do que nos novos, pois neles é necessário somente manter a tradição dos

antepassados31

.

No capítulo III surge a figura “Dos principados mistos”, que são facilmente

conquistados, porém há uma grande dificuldade de mantê-los.

A facilidade de conquista se dá porque os homens, buscando a melhoria de sua

vida, levantam-se em armas contra o senhor atual, sendo o povo a chave para o sucesso,

“pois mesmo que sejas fortíssimo nos exércitos, necessitas do favor dos habitantes para

entrar numa província”32

.

São, no entanto, difíceis de manter pois, ao perceber que o novo senhor

também é um tirano, o povo percebe o erro cometido e levanta-se em armas contra o

novo líder.

28 O Príncipe, p.09.

29 O Príncipe, p. 10.

30 O Príncipe, p. 11. 31 O Príncipe, p.13.

32 O Príncipe, p. 15.

31

O autor cita o caso de Luís XII da França, que conquistou o reino com

facilidade, mas o perdeu da mesma forma.

A solução vem através da extinção da família do antigo príncipe ou, para que a

insatisfação não seja maior do que a de antes, que não se mudem as leis e impostos, para

que o Estado continue parecendo com o antigo; além disso o príncipe conquistador deve

habitar ali, para que seu domínio continue mais estável e durável33

, sendo mais fácil

conquistar o amor de seus súditos, pois a “sua presença evitará que os prepostos

espoliem a província, e seus súditos poderão satisfazer-se recorrendo diretamente ao

príncipe”34

.

No capítulo IV, Maquiavel, o autor, demonstra por que o reino de Dario,

ocupado por Alexandre, não se rebelou contra seus sucessores após a morte deste, pois o

império alexandrino era composto por dois tipos de principados.

No primeiro tipo de principado, o príncipe possui ministros ou barões,

dedicados ao príncipe e que auxiliam o governo, não sendo, por isto, não serão

facilmente corrompidos; e mesmo se o fossem, pouco se poderia esperar da parte deles.

No segundo, o príncipe poderia ter problemas com seus ministros ou barões

que, descontentes ou desejosos de renovação, poderiam facilmente se aliar ao novo

príncipe.

Desta forma, a conclusão lógica é que os principados com o poder concentrado

são mais trabalhosos para a conquista, mas difíceis de manter, com vários poderosos a

conquista se torna fácil, mas a possibilidade de perda também se torna maior.

No capítulo V, “De que modo se podem administrar cidades ou principados

que, antes de conquistados, tinham suas próprias leis”; Maquiavel demonstra que há três

modos de governá-las35

:

1º) Remexendo na sociedade;

2º) Residindo nesse estado ou

33 O Príncipe, p. 16. 34 O Príncipe, p.16.

35 O Príncipe, p.27.

32

3º) Deixando que vivam sob as leis anteriores, aplicando somente um tributo ao

estado anexador e criando um governo de poucos, no qual mais de uma pessoa governa

partes do estado e são “amigas” do príncipe, porém alerta que não há modo mais seguro

de controlar tais cidades do que destruindo-as, para que não seja arrasado por elas

futuramente, “pois sempre se abrigam nas rebeliões o nome da liberdade e suas antigas

leis, coisas que nunca se esquecem, nem pela duração do tempo, nem por quaisquer

benefícios”36

, usando o exemplo de Pisa, após cem anos de submissão aos florentinos.

No capítulo VI, “Dos principados novos que são conquistados por virtude e

armas próprias”, o autor diz que a facilidade de conquistar e manter um estado

dependem da virtude do conquistador.

“Portanto afirmo, que, nos principados inteiramente novos, onde há um novo

príncipe, a dificuldade em mantê-los varia segundo a maior ou menor virtude de quem o

conquista”37

.

Virtude pode ser descrita como valor. No entanto, para um estado conquistado

somente com a virtude, é necessário que haja a ocasião para que a virtu produza efeito.

Os exemplos aplicáveis ao caso são de Moisés, Rômulo, Teseu e Ciro.

No capítulo VII, “Dos principados novos que são conquistados por armas

alheias e pela fortuna”, é dito que neste caso são conquistados facilmente e mantidos

dificilmente.

Quando o homem privado passa a príncipe por obra da fortuna, consegue-o de

forma fácil, mas a manutenção do poder é sobremodo difícil.

Se um príncipe ganha um principado através das armas alheias só poderá

confiar no poder de quem lhe concedeu o principado, que normalmente é instável e

volúvel.

“Todos estes se assentam simplesmente na vontade e na fortuna de quem o

favoreceu, duas coisas bastante volúveis e instáveis, e não sabem nem podem manter

36 O Príncipe, p.21.

37 O Príncipe, p.22.

33

sua condição”38

. Não sabem porque é natural que, por não ter virtude ou engenho, tendo

vivido na vida privada, não aprenderam a comandar e não podem fazê-lo, simplesmente

porque não dispõem de forças fiéis e amigas. Sendo certo que, pelo fato do Estado

crescer rapidamente, não haverá oportunidade para criar raízes de forma que possa

sustentá-lo no poder.

Quando um estado nasce subitamente há problemas para ser governá-lo, pois

como todas as coisas que crescem rapidamente, o príncipe tem que ter virtu o bastante

para poder acompanhar o crescimento do principado.

No capítulo VIII, “Daqueles que, por atos criminosos, chegaram ao

principado”, Maquiavel demonstra outra forma de chegar ao poder, sem que seja

atribuído tudo à fortuna e à virtude, portanto podem ser observados dois modos de um

homem privado ser elevado a príncipe: “Chegar ao principado pela maldade, por vias

celeradas, contrárias a todas as leis humanas e divinas; tornar-se príncipe por mercê do

favor de seus conterrâneos”39

. Através de atos criminosos ou por favores de seus

concidadãos.

Após os exemplos, o autor dá uma solução para quando o príncipe precisa

realizar uma ofensa. Se, por necessidade de segurança, necessitar fazer o mal, deve

fazê-lo de uma só vez e depois deve converter o máximo de benefícios aos seus

súditos40

.

“As injúrias devem ser feitas todas de uma vez, afim de que, tomando-se-lhes

menos o gosto, ofendam-se menos, e os benefícios devem ser realizados pouco a pouco,

para que sejam mais bem saboreados”41

.

Por fim, o príncipe deve ser estável, convivendo com seus súditos de forma que

nenhum imprevisto, bom ou ruim, o faça mudar de atitude, porque em tempos adversos

não terá tempo de fazer o mal e mesmo o bem que fez não lhe renderá a gratidão dos

seus súditos.

38 O Príncipe, p.36.

39 O Príncipe, p.41. 40 O Príncipe, p.42.

41 O Príncipe, p.44.

34

No capítulo IX, “Do Principado civil”, o autor demonstra um caso em que não

há necessidade da sorte da fortuna e nem do esforço da virtu, apenas de uma astúcia

afortunada para se conquistar o poder dos principados civis.

Este tipo de principado surge por necessidade, na verdade, quando “os

grandes” vêem que não estão podendo resistir ao povo, exaltam um deles e o tornam

príncipe, para que o povo se sinta confortável e se acalme.

Por sua vez, o povo, percebendo que não pode resistir aos grandes, elege um

príncipe do povo para que o proteja.

Assim, o homem que se eleva à condição de príncipe pelo favor do povo deve

manter-se aliado a este, o que é fácil, querem apenas ser poupados da opressão e mesmo

aquele que, com o patrocínio dos grandes elevou-se a príncipe, deve buscar a simpatia

da população, pois o povo amará mais quem apoiou para chegar ao poder, pois não

supõem receber o mal de quem lhes fez o bem42

.

O grande problema deste principado é quando o príncipe depende

exclusivamente da vontade de alheios, como magistrados, correndo perigo quando saem

da ordem civil para a absoluta.

O príncipe precisa ter o povo ao seu lado, caso contrário não terá o seu apoio

na dificuldade43

, contrariando o adágio “quem constrói sobre o povo constrói sobre o

lodo”44

, pois se um príncipe basear-se no povo e o comandar sem amedrontá-lo nas

adversidades, mantendo todos animados sob sua ordem e ânimo, nunca será traído

pelos seus e observará que seus fundamentos são bons45

.

No capítulo X, “De que modo se deve avaliar a força dos principados”,

aconselha que um príncipe de um Estado muito poderoso deveria, em caso de

necessidade, defender-se com as suas próprias forças ou poderia depender de forças

externas.

42 O Príncipe, p. 46.

43 O Príncipe, p.46. 44 O Príncipe, p.47.

45 O Príncipe, p.47.

35

Aqui o autor avalia dois tipos de príncipes em relação aos ataques externos.

Aquele que tem muito território e pode protegê-lo, pois tem riqueza de homens ou de

dinheiro, e por isto não tem nada a temer, pois tem força bastante para entrar na guerra e

se defender de quem tente conquistá-lo.

Mas há principados que têm muito território, mas que seu príncipe não pode

protegê-lo completamente. Neste caso, dependem de outros para defendê-lo, por isso

Maquiavel alerta que, neste caso, o principado não deve se preocupar com a conquista

de territórios extras, sendo a sua única preocupação externa a proteção da cidade.

Assim, hesitarão em atacar esse príncipe, pois saberão que será difícil conquistá-lo, uma

vez que este príncipe terá suas terras mais fortificadas e não poderá ser odiado pelo

povo.

E como o príncipe pode manter o seu poder ao iminente ataque se conseguir

manter os súditos firmes ao ataque inimigo. Dando-lhes a esperança de que o mal não é

duradouro e incutindo-lhes o medo de que o inimigo é cruel, assim todos unirão a ele46

.

No capítulo XI, “Dos principados eclesiásticos”, ao discorrer sobre o poder do

príncipe, que advém de uma força inexplicável, porém afirma que, como os problemas

destes principados são anteriores à posse do príncipe, não há problemas no mesmo, são

os únicos que não precisam se defender, nem governar os seus súditos, por isto, são

principados seguros e felizes.

No capítulo XII, “Quais são os tipos de exércitos e de milícias mercenárias”,

ressalta que “Os principais fundamentos de todos os Estados, tanto dos novos quanto

dos antigos ou mistos, são boas leis e boas armas”47

.

Segundo ele, existem três tipos armas:

A própria,

a auxiliar e a

mercenária.

46 O Príncipe, p .49.

47 O Príncipe, p. 55.

36

As armas auxiliares e mercenárias são inúteis, pois são desunidas, ambiciosas,

indisciplinadas, infiéis, valentes entre amigos e covardes entre inimigos. Querem ser

soldados enquanto não há guerra e fugir quando há, pois estão interessados somente no

dinheiro.

No capítulo XII, “Das milícias auxiliares mistas e próprias”:

“Tais armas podem ser boas e úteis per se, mas quase sempre são prejudiciais a

quem as solicita: se perdem, sua derrota será certa; se ganham, se tornará refém

delas”48

.

A milícia auxiliar é outra arma inútil, pode até ser útil e boa para si mesma,

mas para quem a chama é nociva, pois se perde, o príncipe perde com ela. Se ganha, é

aprisionado por ela.

Este tipo de milícia é muito mais perigosa que as mercenárias, pois estas não

constituem um corpo uno e são pagas pelo príncipe, enquanto o perigo das milícias

auxiliares está na sua obediência totalmente voltada para terceiros. Desta forma, o

príncipe prudente deve evitar as milícias auxiliares em favor das próprias.

Maquiavel utiliza-se de uma alegoria do Antigo Testamento, para ilustrar esta

questão. Quando o futuro rei Davi recusa-se a utilizar a armadura do então rei Saul, para

combater Golias, pois “as armas de outros ou lhe caem das mãos ou pesam

demasiadamente ou tolhem o movimento”49

.

Conclui o capítulo, alertando que nenhum príncipe que não possui exércitos

próprios viverá livre de ameaças, ficando inteiramente a favor da fortuna e não havendo

virtude que o defenda lealmente da adversidade50

.

No capítulo XIV, “Como o príncipe deve proceder acerca das milícias”, mostra

que o objetivo primário do príncipe é conhecer a arte da guerra.

48 O Príncipe, p. 56. 49 O Príncipe, p. 58.

50 O Príncipe, p. 59.

37

“Assim, um príncipe que não entenda de milícias, além de padecer de outras

infelicidades - como foi dito51

, não pode ser estimado por seus soldados nem confiar

neles”52

.

O príncipe deve exercitar sua arte, na guerra e na paz. Na paz pode-se exercitar

com obras e com a mente; com obras pode organizar seu exército, dedicar-se a caçadas,

estudar o terreno ao seu redor.

Quanto à mente, o príncipe deve ler obras históricas e refletir sobre as ações

dos homens excelentes, ver seu comportamento na guerra, examinar as derrotas e as

vitórias e suas causas, para poder escapar das derrotas e imitar as vitórias.

No capítulo XV, “Das coisas pelas quais os homens, sobretudo os príncipes são

louvados ou vituperados”, o autor descreve como são as relações entre o príncipe e os

homens, seus súditos.

Alertando sobre distância entre o modo como se vive e como se deveria viver,

adverte que quem se deixa levar pelo que faz contribui para sua rápida ruína e

compromete a sua preservação, “porque o homem que quiser ser bom em todos os

aspectos terminará arruinado entre tantos que não são bons. É preciso que o príncipe

aprenda, caso queira se manter no poder, que não será bom valer-se disso, segundo a

necessidade”53

.

Todos os homens são dignos de atenção, mas um príncipe por estar em uma

posição mais elevada é julgado pelas suas liberalidades ou pela sua miserabilidade, seus

elogios ou reprovações, devendo evitar os vícios que coloquem em risco o seu governo.

No capítulo XVI, “Da liberdade e da parcimônia”, um príncipe será

considerado liberal por aqueles de quem nada tome e miserável por aqueles de quem

tome algo.

Apesar de ser vantajoso ser considerado liberal, é perigoso. Para manter esta

fama será preciso aumentar os impostos do povo, o que gera descontentamento. Melhor

a fama de miserável que a de pródigo.

No capítulo XVII, “Da crueldade e da piedade; e se é melhor ser amado que

temido”, Maquiavel relata que os príncipes desejam ser chamados de piedosos e não de

51 Perda do Estado. 52 O Príncipe, p. 66.

53 O Príncipe, p. 70.

38

cruéis, no entanto, se a crueldade for moderada, o príncipe será mais piedoso do que se

tivesse piedade; um príncipe não deve se preocupar com a fama de cruel, pois às vezes

ela ajuda na união de seu povo, como o exemplo usado por César Bórgia54

, “portanto

um príncipe não deve preocupar-se com a sua fama de cruel se quiser manter seus

súditos unidos e fiéis”55

.

Um príncipe deve ser poderoso em seus julgamentos e em suas ações, sem

medo do poder, tendo equilíbrio entre a prudência e a benevolência, para que não se

torne incauto ou intolerável.

“Daí nasce a controvérsia, qual seja, “se é melhor ser amado ou temido”56

. O

ideal seria ter as duas qualidades, porém, na ausência de uma, é melhor ser temido, pois

em geral os homens naturalmente têm maior possibilidade de prejudicar a quem amam

do que a quem temem.

Sendo possível ser temido sem ser odiado e, ainda, se precisar atentar contra o

sangue de alguém, deverá fazê-lo com uma decorosa justificação e uma razão manifesta,

abstendo-se dos bens de outrem, porque os homens tardam mais em esquecer a perda de

um patrimônio do que a perda de um pai57

.

No capítulo XVIII, “Como o príncipe deve honrar sua palavra”, apesar de ser

louvável um príncipe que honre as suas palavras e viva uma vida íntegra, a experiência

mpstra que os príncipes que mais se destacaram não se preocuparam em honrar a sua

palavra, mas em ludibriar a opinião pública, envolvendo com astúcia a mente dos

homens58

.

Desta forma, há dois gêneros de combate. Com as leis, natural dos homens, e

com a força, natural dos animais, um príncipe deve valer-se dos dois, como a lenda do

centauro, meio homem e meio animal.

Mesmo em sua natureza animal, Maquiavel aconselha a seguir o exemplo da

raposa e do leão59

, ou seja, o príncipe não deve se preocupar em cumprir todas as suas

promessas, quando as mesmas diluem as próprias razões que o levaram a prometer, pelo

simples fato de que nem todos os homens são bons e não mantêm a sua palavra para

54 O Príncipe, p.75 . Apesar de considerado cruel, uniu e pacificou Roma.

55 O Príncipe, p. 75.

56 O Príncipe, p. 76.

57 O Príncipe, p. 79. 58 O Príncipe, p. 80.

59 O Príncipe, p. 81.

39

com o príncipe, não faltando razões legítimas para a inobservância deste preceito por

parte do príncipe.

O importante para um príncipe é que ele pareça ser piedoso, fiel, humano,

íntegro e religioso, muito mais do que realmente possuir tais qualidades, sabendo agir

conforme a situação: havendo possibilidade, não se apartando do bem, mas, conforme

a necessidade, sabendo valer-se do mal60

.

No capítulo XIX, “De como escapar ao desprezo e ao ódio”, aconselha o

príncipe a fugir de tudo que o torne odiado ou desprezado, não atentando contra o

patrimônio, nem contra a honra de seus súditos e não buscando o desprezo ao ser tido

como leviano, volúvel, fraco, pusilânime e irresoluto, coisas da qual um príncipe deve

se afastar.

Um príncipe deve ter dois receios: o externo e o interno, compostos,

respectivamente, pelas potências estrangeiras e pelos súditos, ambos devendo ser

combatidos: o primeiro, com boas armas e o segundo, com bons amigos61

.

Quando se põe em risco frente ao estrangeiro, não deve desconsiderar a trama

secreta de um conluio, perigo que ele facilmente evita satisfazendo as expectativas do

povo, o mais eficaz antídoto contra o conluio e ódio popular.62

.

O príncipe deve cuidar de não levar desespero aos grandes para agradar o povo,

pois esta é uma das ocupações mais importantes do príncipe: não contrariar os

poderosos ao favorecer o povo e não irritar o povo ao beneficiar os poderosos, desta

maneira o príncipe encontrará um seguro alicerce para ele e seu reino63

.

No capítulo XX, „Se fortalezas e outros expedientes a que os príncipes

frequentemente recorrem são úteis ou não”, relata que algumas ações dos príncipes são

úteis, outras não.

O novo príncipe não deve desarmar seus súditos, pelo contrário, deve armá-los,

pois armando-os as armas tornam-se suas, tornando fiéis os que eram suspeitos64

.

Quando desarma seus súditos ele demonstra desconfiança, o que acende o ódio

contra ele, algo que deve ser evitado, porém, quando um Estado é anexado a outro, faz-

60 O Príncipe, p. 81.

61 O Príncipe, p. 84.

62 O Príncipe, p. 85. 63 O Príncipe, p. 87.

64 O Príncipe, p. 100.

40

se necessário tornar todos os exércitos daquele Estado exércitos do Estado anexador,

para se evitar uma revolta.

No capítulo XXI: “Como um príncipe deve agir para obter honra”, onde revela

que um príncipe é estimado quando realiza grandes campanhas e dá de si exemplos

memoráveis65

.

O príncipe deve também fornecer exemplos raros para a política interna;

quando alguém faz um ato extraordinário para o bem ou para o mal, deve ser premiado

ou punido de uma forma que seja comentada e lembrada por muito tempo.

No caso de guerra entre dois estados vizinhos, o príncipe deve se declarar sem

temor algum a favor de um e contra outro. Esse partido é melhor pois, de acordo com o

autor, se dois estados vizinhos entram em guerra, quando um deles ganhar, o príncipe

virará presa do vencedor, observando que o vencedor não o estimará tanto quanto antes,

pois desconfiará de alguém que não o ajudou na adversidade.

Por fim, em épocas convenientes o príncipe deve promover festas e espetáculos

para o povo, reunir-se a ele, dando exemplo de humanidade, mas sempre mantendo-se

firme no seu posto de majestade.

No capítulo XXII, “Dos ministros de um príncipe”, descreve a extrema

importância da escolha dos ministros dos príncipes, os quais serão bons ou ruins,

conforme a sensatez do príncipe. “Quando estes são capazes e fiéis, pode-se considerá-

lo um homem sábio, porque soube reconhecer suas capacidades e sabe mantê-los fiéis;

porém se seus homens não tiveram tais qualidades, pode-se fazer mal juízo do príncipe,

pois o primeiro erro cometido consiste na má eleição”66

.

No capítulo XXIII, “Como escapar aos aduladores”, adverte de que eles

omitem a verdade ao falar com o príncipe, portanto são um problema para o Estado67

.

Maquiavel diz que o correto seria informar os “aduladores” de que a verdade não fará

mal a ninguém. No entanto, se todos puderem dizer o que quiserem, faltarão com

respeito com o príncipe. Sugere que os príncipes devem agir selecionando os sábios do

Estado, sábios que falarão a verdade, somente sobre as coisas que o príncipe lhes

perguntar. O príncipe deveria, então, perguntar sobre todas as coisas para saber a

65 O Príncipe, p. 101. 66 O Príncipe, p. 103.

67 O Príncipe, p. 105.

41

verdade, perguntar muito e ouvir pacientemente, demonstrando seu descontentamento

com quem omite a verdade.

No capítulo XXIV, “Por que os príncipes da Itália perderam seus reinos”, ao

observar as recomendações feitas anteriormente, um príncipe novo parecerá antigo,

tornando mais seguro e firme.68

Os homens apreciam o bem no presente e, se o encontram, não procuram outra

coisa, desse modo, não haverá desordem ou problemas internos, o príncipe alcançará

duas glórias: uma por ter fundado um principado novo, e outra, por tê-lo ornado e

consolidado com boas leis, boas armas e bons exemplos.

Sendo certo que as defesas do Estado dependem exclusivamente do príncipe e

de sua virtude69

.

No capítulo XXV, “Em que medida a fortuna controla as coisas humanas e

como se pode resistir a ela”, Maquiavel não ignora que muitos têm a opinião de que as

coisas são governadas por Deus e pela fortuna, sem que o homem possa corrigi-las com

a sua sensatez, mas para que o livre-arbítrio não seja anulado, alega que a fortuna decide

metade de nossas ações70

.

A fortuna é comparada, pelo autor, a um rio impetuoso que, quando se irrita,

alaga casas e florestas, todos fogem dele, mas acabam cedendo ao seu ímpeto, sem

poder detê-lo. Os diques que impedem a fortuna são a virtu. Uma virtu ordenada impede

que a fortuna venha com seu ímpeto. Duas pessoas agindo diferentemente podem

chegar ao mesmo objetivo e duas pessoas agindo da mesma maneira podem chegar a

objetivos diferentes.

No capítulo XXVI: “Exortação a tomar a Itália e a libertá-la dos bárbaros”, o

último capítulo de “O Príncipe”, exorta e estimula a introdução de um novo príncipe na

Itália e alerta “Tudo tem concorrido para vossa grandeza. O que resta deve ser feito por

vós: Deus não quer fazer todas as coisas, para não tolher o livre-arbítrio e parte daquela

glória que nos cabe”71

.

68 O Príncipe, p. 107.

69 O Príncipe, p. 108. 70 O Príncipe, p. 110.

71 O Príncipe, p. 115.

42

5. A ATUALIDADE DE O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL

Muitos princípios enunciados em O Príncipe de Maquiavel podem ser

relacionados com modernos ensinamentos no campo da administração e, por

consequência, devem ser considerados atuais72

.

Os princípios filosóficos existentes na obra de referência de Maquiavel são tão

atuais quanto os mais modernos ensinamentos em administração de empresas.

Desta forma, podemos utilizar os ensinamentos do autor e realizar

aproximações indiretas com os princípios da administração contemporânea. Assim, este

capítulo demonstra probabilidades de aplicabilidade dos princípios maquiavélicos

transportados para a atualidade de forma que muito se assemelha com os princípios do

livro O príncipe.

Até mesmo Peter Drucker73

, reconhecido mundialmente por explicar os efeitos

da globalização na economia empresarial e reconhecendo a administração como ciência

que trata as pessoas, sob grande influência de Sigmund Freud, observando as relações

psicológicas, humanas e de poder dentro das empresas, através de uma linguagem

simplificada, não deixa de falar de assuntos de extrema relevância para o “príncipe”,

administrador, descrevendo as práticas para se chegar à teoria.

Ao comparar o príncipe com o administrador percebe-se que eles têm uma

tarefa em comum: administrar, mas o que seria o administrar?

Conforme Peter Drucker74

, há duas respostas bem populares, uma, sem

perceber o eufemismo da palavra, diz que é o pessoal superior e outra diz que é o

pessoal que faz com que os outros trabalhem, porém elas não definem a função do

administrador, mas ajudam a refletir sobre a sua função.

72 Não há dúvida da correspondência entre os capítulos de O príncipe e os aspectos da

administração e esta simetria não deve ser levada ao pé da letra, pois visa apenas sistematizar a

correspondência.

73 Peter Ferdinand Drucker, o filósofo e economista austríaco, reconhecido como o pai da

administração moderna.

74 DRUCKER, P. The practice of management. New York: Random House, 1954.

43

Assim como os principados, as corporações não possuem vida própria, só

necessitam de alguém, do príncipe, do administrador, para que tenham vida e para tomar

todos os tipos de decisões, para que os objetivos sejam alcançados e ocorra a

manutenção das pessoas que dependem deles.

Os conceitos de O Príncipe, do prefácio ao último capítulo do livro, podem

encontrar guarita nas corporações75

atuais. Maquiavel traz uma grande verdade: o

príncipe deve enxergar as coisas sob uma perspectiva mais ampla, como Peter

Drucker76

, que considera que a primeira tarefa de um administrador é identificar e

adiantar-se aos impactos sociais, pois os “impactos sociais que causam,

inevitavelmente, ultrapassam a contribuição específica que é a razão de sua existência”.

O objetivo de uma metalúrgica não é produzir poluição, porém, para alcançar

seu objetivo, inevitavelmente produzirá poluição, o bom príncipe deverá enxergar de

maneira mais ampla, de forma a prever os possíveis impactos negativos que o seu

objetivo primário causará e, assim, definir estratégias de como minimizá-los.

As dificuldades dos principados novos, demonstrados no segundo capítulo,

podem ser facilmente transportadas para a atualidade para explicar o que acontece nas

novas corporações, que não possuem tradição.

A falta de tradição afeta tanto os principados como, também, as empresas e até

mesmo a economia emergente do Brasil77

, em que o país se destaca do resto do mundo

com projeções econômicas favoráveis para micros, pequenas, médias e grandes

corporações, em especial na capital nacional do trabalho, São Paulo, onde cerca de 27%

das empresas fecham suas portas antes de completar seu primeiro ano de vida, chegando

a 64% de mortalidade antes de chegarem aos 6 anos de vida.78

75 Para os fins da presente dissertação, adota-se o termo “Corporações” para designar a sociedade

empresaria, na foma do artigo 983 do Código Civil.

76 DRUCKER, P. Management: Tasks, Responsabilities, Practices. New York: Harper Row, 1974.

77 Em 2010. 78 SEBRAE, consultado em http://martacafeo.wordpress.com/2010/04/06/27-das-empresas-paulistas-

fecham-antes-de-completar-um-ano/. Assessado em 6 de outubro de 2010.

44

Conforme o SEBRAE do estado de Minas Gerais79

, em entrevista com Marcos

Hashimoto80

, há inúmeras dificuldades das empresas se estabelecerem em seu primeiro

ano de vida, indo de problemas internos, como desconhecimento básico de

administração, até o desconhecimento total de como lidar com seus clientes, ou seja, a

falta de tradição leva, consequentemente, à falta de conhecimento do setor produtivo da

corporação e, por consequência, manter uma nova corporação é muito mais difícil do

que manter uma empresa com sua tradição reconhecida no mercado.

É claro que não é um único fator que leva a corporação a fechar as portas, mas

enquanto as novas empresas não sabem como agir ao enfrentarem um novo problema,

as corporações mais experientes já passaram por vários problemas e sabem, através de

suas experiências anteriores, qual o melhor método e tradição a seguir frente ao

problema.

Desta forma, as empresas com mais experiência e, por consequência, com uma

sedimentada tradição têm menor dificuldade em se manter do que as novas.

No capítulo III, surge a figura “Dos principados mistos”, aquele que é

facilmente conquistado, porém há uma grande dificuldade de mantê-lo.

Da mesma forma que na antiguidade existiam várias formas de principados,

hoje as corporações podem ser novas, familiares ou que se agregaram através de uma

das modernas operações de reorganização societária.

No mundo globalizado em que vivemos a competitividade entre as corporações

alcança níveis extremos que afetam todos os que as cercam, o estímulo crescente à

produção ocorre devido ao aumento da concorrência, assim, faz-se necessário a

otimização de seus produtos e a racionalização dos custos operacionais, o que, por

consequência, aumenta o lucro das corporações empresariais.

79 SEBRAE, consultado em http://sebraemgcomvoce.wordpress.com/2009/04/24/por-que-as-empresas-

fecham/. Assessado em 6 de outubro de 2010.

80 Coordenador do Centro de Empreendedorismo do IBMEC São Paulo em 2009.

45

Atualmente, verifica-se que um grande número de corporações busca reunir

forças com outras, seja para saírem de um crise financeira ou simplesmente para

aumentarem seus ganhos e ficarem ainda maiores.

A junção de empresas novas com tradicionais fica cada vez em maior evidência

no cenário mundial, uma vez que com essa união superam-se concorrências, as

corporações se tornam mais competitivas no seu maior campo de atuação e evitam o

aumento do passivo e a diminuição do ativo, sendo a forma mais eficaz a reorganização

societária.

A reorganização societária é uma prerrogativa da pessoa jurídica, corporação

empresarial, que possui o direito de alterar a estrutura fundamental, reorganizando-se

conforme a necessidade da adequação de mercado em que seu objeto social se faz

relevante.

Através da operação de reorganização societária, a corporação terá uma nova

roupagem através de quatro tipos de operação societária, transformando a antiga

corporação em uma corporação “mista”, pelo meio da transformação, incorporação,

cisão ou fusão.

Com a reorganização societária se dará através de agrupamentos ou divisões de

corporações, que além de poder alterar o tipo empresarial, alterará de forma substancial

a forma de condução da sociedade, os direitos e deveres das sociedades e terceiros, além

de outros aspectos relevantes.

Porém não basta apenas se alterar a estrutura fundamental da corporação, para

que o sucesso seja atingido, aliás, essa mudança é relativamente fácil, através de

conhecimentos jurídico-administrativos pode-se alterá-lo e se conquistar um novo

principado misto, porém para manter esta nova corporação é necessário mudar a

filosofia da empresa, extinguir antigos hábitos, para que os problemas anteriores não

permaneçam e, principalmente, ter a presença do príncipe administrador perto para que

os súditos sintam-se seguros e tenham a possibilidade de se socorrer com o “soberano”

frente à nova corporação, que se criou através da mistura de duas ou mais corporações

anteriores.

46

Hoje seria uma total incoerência o administrador buscar realizar todas as

funções de liderança em uma empresa, as corporações assemelham-se a principados em

tamanho, poder econômico e alcance de seus atos, da mesma forma Maquiavel valoriza

muito os auxiliares, no capítulo IV, de onde é possível concluir que o sucesso de um

administrador dependerá muito dos seus auxiliares.

Os auxiliares são de suma importância para que o líder alcance o seu objetivo,

como escolhê-los?

Não basta apenas ter auxiliares, eles têm que estar aptos a alcançar o resultado

esperado e isto não quer dizer melhor nível acadêmico ou mais anos de experiência,

tudo dependerá do objetivo que se pretende alcançar.

Um gerente com mais tempo no principado poderá entender melhor as

necessidades de clientes antigos e poderá mantê-los no “principado” da corporação por

muito mais tempo do que outro extremamente preparado em níveis técnicos, mas com

pouca experiência na corporação; por sua vez, um auxiliar que não conhece muito bem

os clientes antigos, mas com sólidas bases acadêmicas poderá alcançar novos clientes,

sem praticar os vícios dos antigos auxiliares, que até então dificultaram a entrada destes

clientes no principado da corporação.

Desta forma, o príncipe terá sucesso ao escolher de forma clara e precisa o

melhor auxiliar para o fim desejado, pois seu auxiliar executará sua tarefa com maior

facilidade e se dedicará de forma plena, pois estará dentro da sua “área de conforto” e

se dedicará ao príncipe, não ficando descontente ou se rebelando contra ele.

É certo que quanto maior o poder concentrado dentro de uma corporação tanto

difícil será administrá-la, e, ao se delegar poder a muitos auxiliares, a administração

ficará mais fácil, porém, de igual modo, a possibilidade de perda também será maior.

Ou seja, manter um empregado dentro da corporação para satisfazer clientes

antigos pode alcançar o objetivo de melhorar o desenvolvimento da empresa, por outro

lado um empregado novo poderia atingir novos clientes.

No capítulo V, Maquiavel traz 3 (três) formas de se administrar os estados

conquistados e elas podem ser analisadas quando uma corporação adquire uma nova

47

empresa ou quando um novo administrador chega e se depara com corporações

virtuosas, porém com vícios existentes em todo sistema composto por pessoas.

Uma das opções pode ser remexer na sociedade, ou seja, destruir o pensamento

anterior, porém, ao realizar esta mudança radical, ficará claro que junto com a

destruição das coisas ruins, como vícios que atrapalham o sistema produtivo, coisas

boas serão destruídas, como as virtudes que colaboram com o crescimento de toda

corporação.

Assim, um novo administrador, ao constatar que os empregados estão passando

muito tempo na internet, poderá mudar radicalmente a política da empresa e bloquear o

acesso à rede mundial de seus empregados, buscando uma maior produtividade, porém

ao realizar esta operação estará, automaticamente, cortando o acesso rápido de seus

colaboradores com seus clientes, o acesso a rádio, a informações e até mesmo criando a

insatisfação de seus colaboradores, que passarão a produzir menos e com pior

qualidade. Desta forma, esta não parece a melhor forma de se administrar uma nova

corporação, pelo fato das modernas corporações possuírem colaboradores que podem se

revoltar com uma administração oposta à anterior.

Outra maneira seria deixar que os colaboradores vivam sob as leis anteriores,

porém este ato teria pouco efeito sobre a corporação, não havendo mudança

significativa em relação à época anterior.

Porém há uma resposta adotada por Maquiavel que pode ser aplicada nos dias

atuais, “residindo nesse estado”, ou seja, acompanhando de perto a vida da empresa,

pode-se verificar abusos de seus auxiliares, deficiências corporativas e, principalmente,

poderá corrigi-las a tempo para que não se transformem em um problema maior. O que

melhor poderia ilustrar este antigo princípio, comprovando o fato em todas as

corporações, independentemente de seu tamanho, é “o olho do patrão é que faz o boi

engordar”81

.

Maquiavel alega que a forma mais fácil seria destruir o principado, porém

alega que, ao se tratar de repúblicas em nome da liberdade, os súditos poderiam se

81 Dito popular, muito conhecido no interior de São Paulo, que significa que os empregados trabalham

corretamente quando o superior está por perto.

48

revoltar e dá outra opção que seria o soberano residir no principado, de forma a poder

acompanhar a vida dos seus súditos, o que é aplicável e aconselhável nas corporações.

No capítulo VI, “Dos principados novos que são conquistados por virtude e

armas próprias”, o autor traz que a facilidade de conquistar e manter um estado

dependem da virtude do conquistador.

Com certeza, a conquista de uma corporação através da virtude pode ser mais

difícil do que com a ajuda da fortuna, porém a sua manutenção se tornará mais fácil.

A grande barreira da conquista pela virtude se dá porque o administrador terá

que administrar mudanças.

Conforme Peter Drucker82

, a necessidade de informação sobre o ambiente

externo vai ser cada vez mais importante, pois dali surgirão as maiores ameaças e,

também, as melhores oportunidades.

As informações são obtidas facilmente, principalmente com a ajuda da

tecnologia e da internet, o que nos facilita a um baixo custo realizar algo que, há alguns

anos, seria extremamente dispendioso e trabalhoso, porém a grande chave do sucesso

está em como processar estas informações.

Isto significa que a ferramenta não é mais importante do que o método, ou seja,

o sistema integrado de informação deve possibilitar o diagnóstico e facilitar a estratégia

das corporações para que os administradores tomem decisões corretas.

Para inovar radicalmente os conceitos, o sistema de informação, deverá ter

como objetivo realizar uma medição sobre qual a ação futura e não uma autópsia e um

registro daquilo que já aconteceu83

.

Desta forma, o administrador que chegou ao poder por seus próprios méritos,

poderá utilizar-se de um sistema de informação eficaz, para que tome decisões acertadas

e se mantenha no poder.

82 DRUCKER, P. Managing in a time of great change. Tradução: Nivaldo Montigelli Júnior. São Paulo:

Pioneira, 1995. 83 DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker: a administração. Tradução: Arlete Simille

Marques. São Paulo: Nobel, 2001, p. 130.

49

No capítulo VII, “Dos principados novos que são conquistados por armas

alheias e pela fortuna” são conquistados facilmente e mantidos dificilmente.

A questão das armas alheias já foi discutida ao se tratar dos problemas da

terceirização, porém ao enfocar a manutenção do administrador que alcançou sua

função ou cargo através da fortuna, pode-se encontrar e/ou esperar verdadeiros

desastres.

Um desastre pode ocorrer primeiramente pela falta de capacidade técnica ou

acadêmica, assim como o administrador tem que saber escolher seus auxiliares, tem que

saber administrar, pois dificilmente um barco chegará ao seu destino se o capitão não

sabe qual direção deve seguir.

Atualmente, o mundo é globalizado e dinâmico, há 30 (trinta) anos seria um

absurdo falar que uma máquina poderia substituir 30 (trinta) homens do departamento

de contabilidade de uma grande corporação, mas hoje pode-se afirmar que um

computador, por mais simples que seja, realiza os cálculos de 30 contadores, com

velocidade muito superior aos mesmos.

Peter Drucker84

, dá outro exemplo interessante da inovação lembrando que o

cartão de crédito, criado na década de 60, transformou-se em verdadeira moeda corrente

dos dias atuais e demonstra porque algumas empresas do setor financeiro estão

passando por imensas dificuldades; a falta de inovação no setor nos últimos 30 anos,

ocorrido pelo comodismo da fortuna, as empresas que não tiveram a virtude da

inovação ficaram estagnadas e têm que passar por grandes reformulações,

demonstrando que realmente a fortuna traz consigo a falta de inovação.

No capítulo VIII, Maquiavel ilustra o príncipe que chegou ao poder por meios

criminosos, o que inevitavelmente leva a um ponto, a função social do administrador.

Antigamente, na época dos pós principados ou mesmo pré- revolução

industrial, pouco ou nada se falava da função social do administrador, o que havia era a

84 A obra de resumo bibliográfico de Peter Drucker utilizada neste trabalho foi O melhor de Peter

Drucker: a administração. Tradução: Arlete Simille Marques. São Paulo: Nobel, 2001, que contém o

artigo escrito para a revista The Economist, de 25 de setembro de 1999.

50

manutenção rígida da disciplina dos administradores, porém, com o passar do tempo

foi-se percebendo que o administrador exerce uma função social importantíssima.

Na era pré-revolução francesa, até os “administradores” burgueses estavam

sujeitos aos caprichos do soberano, pois o príncipe escolhia com quem e de que forma

os burgueses poderiam negociar, não existindo liberdade de contratar, igualdade entre as

partes e, muito menos, fraternidade e os empregados eram tratados como verdadeiros

objetos.

Porém, com a revolução francesa, os administradores “burgueses” passaram a

ter liberdade de celebrarem os seus contratos com quem considerassem melhor para os

seus negócios, houve igualdade entre os burgueses e o príncipe, pois ficaram em pé de

igualdade nas transações comerciais e buscavam a fraternidade entre as pessoas, pelo

menos entre os burgueses, o que acarretou na revolução industrial com modernas

máquinas e, por consequência, aumento dos meios de produção e aumento da mão de

obra, porém o administrador ainda não conhecia a real função social da sua posição,

sendo o carro chefe de seu cargo a produção de seus subalternos e o lucro para as

empresas.

Após algumas tragédias, como o conhecido “1º de maio”, na qual um

“administrador” mal preparado, não pensou na sua força de trabalho, não forneceu

condições de segurança para suas empregadas, não pode controlar um incêndio pequeno

que acabou se tornando grande pela inexistência de equipamentos eficazes de controle

de acidentes e resultou na morte de mais de 110 mulheres; o desrespeito com

empregados, principalmente mulheres e crianças; a fortificação dos sindicatos, com a

luta pelos direitos dos trabalhadores e, principalmente, o esclarecimento dos

trabalhadores levaram o administrador a reconhecer a verdadeira função social de seu

cargo.

Conforme Peter Drucker85

, “a tarefa fundamental da administração continua a

mesma: fazer com que as pessoas funcionem em conjunto por meio de metas comuns,

valores comuns da estrutura correta e do treinamento e desenvolvimento necessários

85 DRUCKER , Peter. The new realities in government and politics, in economics and business, in

society and world view. Tradução: Arlete Simille Marques. New York, Harper & Row, 1989.

51

para agir e para responder às mudanças”, porém o significado da tarefa mudou, pois os

subalternos mudaram de pessoas ignorantes desconhecedoras de seus direitos, para

pessoas extremamente cultas, com elevada educação e conhecimento.

Desta forma, a administração é a “arte liberal”86

, arte porque é a prática e

aplicação e liberal por se tratar do conhecimento e autoconhecimento, sabedoria e

liderança.

Porém, dentro desta “arte liberal”, algumas vezes é necessário se “fazer o mal”,

ou o que os súditos/empregados não gostariam, Maquiavel, nos alerta que, caso isso

ocorra, deverá ser feito de uma única vez, o que certamente evitará que o terror se

espalhe e o mal pareça maior do que é e, logo em seguida, o líder deverá fazer o que for

necessário para que o terror do mal não engrandeça ainda mais a realidade, trazendo o

máximo de benefícios aos seus subalternos, para que esqueçam do mal anterior ou para

que se apazigue.

Um exemplo clássico dos tempos modernos, foi o conhecido “Plano Collor”,

praticado pelo ex-presidente Fernando Collor de Melo, que inesperadamente, apreendeu

os valores existentes nas poupanças dos brasileiros, podendo sacar apenas CR$

50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros), o que trouxe grande revolta na época, mas trouxe

outros benefícios, como a extinção do temido SNI87

, abertura das importações

brasileiras e acelerar a tecnologia dos produtos nacionais, ações que ajudaram a mantê-

lo no cenário político até os dias atuais.

Maquiavel demonstra, no capítulo IX, que às vezes o mais importante é ser

astucioso e, por sua vez, isso não depende da virtu ou da fortuna.

Há casos em que o príncipe não depende do seu conhecimento ou de sua sorte

para que alcance o resultado esperado, mas sim da ajuda de seus súditos.

Nas corporações, a força trabalhadora é essencial para a saudabilidade de

qualquer empresa, mas como conseguir alcançar este objetivo?

86 DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker: a administração. Tradução: Arlete Simille

Marques. São Paulo: Nobel, 2001, p.30.

87 SNI – Serviço Nacional de Informação, conhecido por torturar pessoas opositoras ao governo.

52

Peter Drucker 88

, cita 2 premissas básicas com relação aos empregados, “uma é

que as pessoas que trabalham para uma corporação são empregados da organização

trabalhando em tempo integral e dependendo dela para ganhar a vida e desenvolver suas

carreiras” e a outra é que os trabalhadores são subordinados, porém fica claro que este

tipo de “súdito” tem pouca aptidão no que trabalham e fazem apenas o que lhe mandam

fazer.

Estas teorias poderiam ser válidas durante a Primeira Guerra Mundial quando

foram criadas, mas hoje se demonstram com pouca veracidade, seja porque há poucos

trabalhadores exclusivos de uma única corporação ou porque até os trabalhadores de

ditos níveis mais baixos, possuem conhecimento suficiente para passarem de

subordinados para colaboradores, sendo que, pelo fato de saberem realizar a sua função

melhor do que muitos encarregados, podem ser definidos desta forma.

Os trabalhadores são subordinados e dependem dos seus superiores, quanto à

contratação, promoção ou demissão, porém seus superiores dependem de seus

empregados para que a produção seja o mais próximo possível da perfeição.

Há diferentes tipos de trabalhadores e para cada tipo há uma forma especial de

se lidar e uma época especial para isso, uns precisam de elogios, outros de benefícios,

porém há uma regra geral, que a cada dia se sedimenta mais, os empregados não podem

ser tratados como súditos e sim como parceiros, onde todos são iguais e nenhum recebe

ordens de outro, mas se ajudam mutuamente.

No capítulo X, Maquiavel demonstra de que forma um príncipe pode avaliar a

força de seu principado, demonstrando fatos que mais uma vez podem ser transportados

para o mundo corporativo, trazendo para o príncipe a avaliação a ataques externos, os

quais as grandes corporações não precisam temer ao entrar em uma guerra por terem

força, homens e dinheiro para se defender de quem tenta atacá-las, buscando conquista

de mercado.

As empresas que têm uma grande projeção de mercado, porém, não podem se

defender completamente, neste caso, as corporações não devem buscar alcançar

88 DRUCKER, Peter. Management challenges for 21 century. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1999,

p.104.

53

mercados externos, mas se defender para que não percam seu mercado já alcançado e,

neste caso, a preocupação maior do administrador deverá ser manter seus colaboradores

motivados para que busquem defender a sua corporação e não passem a apoiar um

potencial inimigo indo para seu lado.

Ao se identificar uma ameaça potencial é muito comum o administrador buscar

a administração por impulsos, porém este tipo de administração se tornará ineficaz com

o passar do tempo.89

Ao se administrar por “impulsos” ou por “crises”, a solução será apenas por um

tempo determinado e não de forma permanente. Apesar de alguns administradores só

reagirem à crise com uma medida de impulso frente à ela, esta exceção passa a ser

regra, pois é notório que após o resultado alcançado com o impulso a situação status

quo costuma retornar ao estado inicial. Desta forma, a ineficiência da administração por

impulso se mostra evidente, porque ao se direcionar todos os esforços para um único

objetivo, os demais atos importantes à manutenção e crescimento da empresa,

negligenciando-se pessoas ou tarefas que devem ser permanentes, com consequentes

efeitos futuros negativos.

Mesmo os colaboradores que têm ciência das tarefas permanentes, que fogem

da tarefa impulsionada, realizarão o impulso desmotivadamente ou sabotarão o

administrador, só realizando o impulso na sua frente, para buscar ineficazmente realizar

as tarefas cotidianas e importantes e aparentar realizarem o impulso.

Por tudo isso, a administração por impulso deve ser uma exceção à regra, o

administrador deve motivar seus colaboradores dando esperanças novas, mas sem

esquecer das tarefas perenes, dando esperança de dias melhores aos colaboradores.

O capítulo XI, discorre sobre os principados eclesiásticos, onde Maquiavel

relata que os mesmos possuem uma força inexplicável, Peter Drucker também afirma

que as organizações não empresariais possuem um grande poder na sociedade.90

89 DRUCKER, Peter. The practice of management. New York: Random House, 1954.

90 DRUCKER, Peter, “o homem que inventou a administração”, p. 146.

54

A história das empresas demonstra claramente a “diminuição” do tamanho

físico das corporações visualizando-se, ultimamente, no corte de empregados e aumento

da produção, isto como próprio reflexo da revolução industrial e inovações

tecnológicas.

As grandes empresas típicas de hoje são menores do que antigamente e,

certamente, daqui a vinte anos terão menos da metade dos níveis gerenciais da sua

equivalente atual e não mais que um terço dos gerentes.

A grande empresa que se assemelhava às montadoras da década de 50 não será

mais encontrada, provavelmente a empresa do futuro se parecerá com organizações às

quais nem os gerentes praticantes, nem os estudiosos de administração hoje dão muita

atenção: o hospital, a universidade e a orquestra sinfônica. Como elas, a empresa típica

será baseada no conhecimento, uma organização composta em grande parte por

especialistas que dirigem e disciplinam seu próprio desempenho através do retorno

organizado fornecido por colegas, clientes e sede central; por esta razão, será conhecida

como organização baseada na informação.

Subjacente a isto está o compromisso com o gerenciamento, as instituições sem

fins lucrativos aprenderam que necessitam de gerenciamento ainda maior do que uma

empresa, precisamente por carecer da disciplina do lucro. É claro que elas ainda se

dedicam a "fazer o bem", mas também compreendem que boas intenções não

substituem organização, liderança, responsabilidade, desempenho e resultados que exige

começam com a missão da organização.

De modo geral, as instituições sem fins lucrativos são mais conscientes do

dinheiro que as empresas. Elas se preocupam com dinheiro porque é muito difícil

levantá-lo e sempre têm muito menos do que necessitam, mas suas estratégias não se

baseiam no dinheiro, a primeira lição que as empresas podem aprender com as

instituições bem-sucedidas começa com o desempenho da sua missão e seus requisitos.

Ela focaliza a organização na ação, define as estratégias específicas necessárias à

realização das metas cruciais e cria uma organização disciplinada.

Nos capítulos XII e XIII, Maquiavel exporá tipos de armas, forças que irão

colaborar com a manutenção do principado.

55

“Os principais fundamentos de todos os Estados, tanto dos novos quanto dos

antigos ou mistos, são boas leis e boas armas”91

, sendo que suas armas poderão ser

própria, auxiliar e mercenária, porém, Maquiavel afirma que o melhor é possuir armas

próprias, pelo fato das armas auxiliares e mercenárias serem inúteis, pois são desunidas,

ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, valentes entre amigos e covardes entre inimigos.

Querem ser seus soldados enquanto não há guerra e fugir quando há, pois estão

interessados somente no dinheiro.

Na atualidade, a corporação poderia utilizar-se de forças auxiliares ou

mercenárias para conseguir um melhor resultado?

Ao observar que o trabalho de um administrador é dirigir os recursos e os

esforços da empresa no sentido de oportunidades para resultados economicamente

significativos, nota-se nitidamente que o resultado dependerá da força de trabalho.

Como alguns príncipes se utilizaram de milícias mercenárias, atualmente,

algumas corporações buscam a terceirização de seus exércitos produtores, como se

fosse a solução para todos os seus problemas.

Maquiavel se preocupou com a falta de fidelidade destes tipos servos, da

mesma forma, a atual força mercenária pode se caracterizar através de trabalhadores

terceirizados que, além de não vestirem a “camisa da corporação”, pelo simples fato de

não fazerem parte dela e estarem interessados apenas na remuneração que esta poderá

lhe oferecer, podem passar para o concorrente/inimigo todo o know how da corporação,

ainda há problemas jurídico-administrativos que podem levar a grandes perdas

financeiras das corporações.

A necessidade de trabalhadores especializados a um “custo reduzido”, visando

o aumento da competitividade leva inúmeros administradores a optarem por contratar

verdadeiros exércitos mercenários, terceirizados, ao invés de buscar uma força

produtora própria.

As corporações começaram a utilizar-se deste método nos Estados Unidos,

antes da Segunda Guerra Mundial, porém no Brasil foi sendo implantado

91 O Príncipe, p. 83.

56

gradativamente92

, o que foi ganhando espaço, principalmente, através das grandes

montadoras automobilísticas, com a terceirização de peças.

Com a terceirização, o administrador busca transferir para terceiros a execução

de um serviço através de um custo/benefício vantajoso para ele, hoje podemos ver a

terceirização é observada em diversos setores e áreas, do chamado “chão de fábrica” até

funções mais técnicas, como médicos, advogados e até administradores.

A mais aparente vantagem da terceirização é que, ao contratar este tipo de

força, o administrador fugirá dos altos encargos trabalhistas, como horas extras, férias,

13º salários, Previdência, etc.

Porém, a terceirização tem seus limites e, por consequência, seus

complicadores, pois não basta apenas realizar o “outsourcing”93

e pensar que todos os

problemas com este tipo de trabalhador se resolveram.

Em primeiro lugar, não se pode terceirizar trabalhadores para se realizar o

objeto fim de uma empresa, podendo-se terceirizar apenas o objeto meio daquela

empresa. Em uma empresa de alimentação, não se pode terceirizar os trabalhadores da

produção do alimento, uma montadora de automóveis, não pode terceirizar os

montadores, em uma faculdade, não se pode terceirizar os professores, podendo apenas

ocorrer a terceirização de funções que irão colaborar com a melhor execução do objeto

final da empresa.

Segundo MARTINS (2001, p.23), “consiste a terceirização na possibilidade de

contratar terceiro para a realização de atividades que não constituem o objeto principal

da empresa”.

Se um administrador resolver terceirizar trabalhadores que realizam a atividade

fim da empresa ele não terá a proteção legal de considerar o trabalhador terceiro como

responsabilidade de uma terceirizadora, uma pessoa jurídica distinta da sua e que é

responsável por todos os encargos trabalhistas, previdenciários, cíveis do trabalhador.

92 QUEIROZ (1998, p.63).

93 Outsourcing, que significa terceirização, referenciado sempre pela concepção estratégica de

implementação (GIOSA, 1997, p.13).

57

Segundo MARTINS (2001, p.46), as áreas terceirizadas podem ser

caracterizadas como:

a) atividades acessórias da empresa, como limpeza, segurança, manutenção,

alimentação, etc.;

b) atividades-meio: departamento pessoal, manutenção de máquinas,

contabilidade, etc.;

c) atividades fim: produção, vendas, transporte dos produtos, etc.

Isto ocorre porque ao se terceirizar um empregado para realizar a atividade fim

da empresa automaticamente há o enquadramento obrigatório ao artigo 2 e 3 da CLT94

:

Art. 2° da CLT: “considera-se empregadora a empresa individual ou coletiva

que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação

pessoal de serviços.”

Artigo 3° da CLT: “considera-se empregado toda pessoa física que prestar

serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste, mediante

salário.”

Assim, o empregado que labora com pessoalidade, em caráter não eventual,

com dependência hierárquica e recebe remuneração para realizar um serviço intuitu

personae, poderá ser condenado em juízo a pagar ao terceiro todos os valores como se

este fosse seu empregado.

De acordo com ROBORTELLA (1999, p.34), é possível vislumbrar-se, em

tese, a diferenciação entre as atividades-fim e as atividades-meio da empresa tomadora

dos serviços terceirizados, porém não há critérios absolutamente seguros para realizar

esta diferenciação. Desta forma, o administrador poderá estar se condenando a pagar

um alto preço por utilizar-se de terceiros, pois, na dinâmica empresarial, em questão de

pouco tempo, a atividade-meio pode converter-se em atividade-fim.

94 Consolidações das Leis do Trabalho.

58

A Súmula 331 do TST95

alerta sobre os riscos da terceirização e possíveis

encargos que o administrador poderá ocorrer ao contratar este tipo de empregado.

“SUM-331 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE

(mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se

o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho

temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não

gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou

fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços

de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de

serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a

pessoalidade e a subordinação direta.

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,

implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas

obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das

fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde

que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo

judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).”

Além deste possível risco, o administrador poderá contratar empresas

inadequadas para realizar o trabalho, sem competência e idoneidade financeira, podendo

advir problemas, principalmente de natureza trabalhista.

95 Tribunal Superior do Trabalho.

59

Outro aspecto negativo é o de pensar a terceirização apenas como forma de

reduzir custos, se esse objetivo não for alcançado ou, ao final, a terceirização não der

certo, implicará no desprestígio de todo o processo, conforme MARTINS (2001, p.46).

Até mesmo para o trabalhador a terceirização apresenta seus riscos ao, como

diziam os antigos, “trocar o certo pelo duvidoso”, pois, ao aceitar ser terceirizado, estará

abrindo mão da sua estabilidade no emprego, verbas trabalhistas e indenizatórias, como

Aviso Prévio96

e FGTS97

.

Assim, o novo exército mercenário poderá levar as corporações a grandes

perdas de qualidade e financeiras.

No capítulo XIV, “Como o príncipe deve proceder acerca das milícias”,

Maquiavel afirma que o objetivo primário do príncipe é conhecer a arte da guerra e o

administrador das corporações também.

Todos os administradores devem seguir o conselho de Maquiavel em “O

príncipe”, capítulo XIV, o administrador deve ler sobre a história de seus concorrentes,

refletir sobre as ações dos homens excelentes, ver seu comportamento na guerra,

examinar as derrotas, as vitórias e suas causas para poder escapar das derrotas e imitar

as vitórias, a isto Peter Drucker98

dá o nome de judô do empreendedor.

A Sony é um exemplo prático disso: Em 1947 o transistor foi inventado pela

Bell Laboratories e a troca dos transistores pelas válvulas era eminente, existindo até

um plano dos fabricantes líderes de mercado de realizar as conversões em 1970, porém

a Sony, empresa desconhecida fora do Japão percebeu o potencial do novo invento,

dirigiu-se aos EUA e comprou uma licença para usar o transmissor por apenas US$

25,000.00 (vinte e cinco mil dólares), dois anos mais tarde lançou um rádio portátil que

96 Direito que todo trabalhador registrado tem de saber 30 dias antes da sua rescisão que será dispensado,

sob pena de receber o equivalente a 1 (um) salário, conforme o artigo 457 da CLT.

97 Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, equivale a um porcentual da remuneração do trabalhador

que é depositado em uma conta para ser utilizado em alguns casos especiais, como na dispensa de suas funções.

98 DRUCKER, P. The pratice of management. New York: Harper & Row, 1954.

60

pesava 1/5 e custava 1/3 dos rádios da época conquistando, por consequência, o

mercado de rádios do EUA e do mundo.99

Ao aplicar o judô empreendedor deve-se levar em conta todos os aspectos,

estratégias, prós e contras, estudar a história de seus concorrentes e analisar o que pode

e o que se torna inviável dentro de uma corporação.

O capítulo XV, traz o por quê os homens são louvados, todos os homens são

dignos de atenção, mas um príncipe, por estar em uma posição mais elevada, é julgado

pelas suas liberalidades ou pela sua miserabilidade, seus elogios ou reprovações,

devendo evitar os vícios que coloquem em risco o seu governo.

Segundo WICK & LEÓN (1997), pode-se fazer uma comparação entre o

administrador do passado e o administrador do futuro, que na realidade pertence a um

futuro que já deveria estar presente nas organizações, como mostra o quadro abaixo:

OS ADMINISTRADORES

DO PASSADO

OS ADMINISTRADORES DO

TERCEIRO MILÊNIO

Aprendiam quando alguém

lhes ensinava.

Procuram deliberadamente

aprender.

Achavam que o

aprendizado ocorria principalmente

na sala de aula.

Reconhecem o poder do

aprendizado decorrente da experiência

de trabalho.

Responsabilizavam o chefe

pela carreira.

Sentem-se responsáveis pela

sua própria carreira.

Não eram considerados Assumem a responsabilidade

99 A obra de resumo bibliográfico de Peter Drucker utilizada neste trabalho foi O melhor de Peter

Drucker: a administração. Tradução: Arlete Simille Marques. São Paulo: Nobel, 2001, que contém o artigo The pratice of management, publicado inicialmente em 1954.Conforme Peter Drucker, no artigo

Innovation and entrepreneurship:practice and principles, publicado em 1985.

61

responsáveis pelo próprio

desenvolvimento.

pelo seu próprio desenvolvimento.

Acreditavam que sua

educação estava completa ou só

precisava de pequenas reciclagens.

Encaram a educação como uma

atividade permanente para a vida toda.

Não percebiam a ligação

entre o que aprendiam e os

resultados profissionais.

Percebem como o aprendizado

afeta os negócios.

Deixavam o aprendizado a

cargo da instituição.

Decidem intencionalmente o

que aprender.

Fonte: WICK & LEÓN (1997)100

.

No quadro acima, é possível perceber nitidamente que os administradores

devem se responsabilizar pelo próprio aprendizado e estar conscientes que seu

desenvolvimento pessoal e profissional dependem muito mais das suas ações pessoais

na busca de novos conhecimentos.

Daí pode-se citar o caso de diferenças etárias nas organizações, o que ainda

hoje é visto como um problema. Vêem-se pessoas jovens bem sucedidas e outras, de

maior idade, que não conseguem atingir os objetivos que traçaram há anos. Isso pode

ser perfeitamente explicado pelo quadro acima, tendo em vista a grande concorrência

no mercado de trabalho, onde os jovens estão buscando, cada vez com mais ansiedade,

seus objetivos, tendo maior poder de decisão sobre suas atitudes, poder de escolha entre

o que fazer ou não, aprender ou não, responsabilizando-se pelos seus próprios atos.

Assim, percebe-se que, no mundo corporativo atual, o administrador de

destaque não será aquele que esperará a corporação realizar algo por ele, mas aquele

que tomará uma atitude pró-ativa.

100 Análise comparativa entre os Administradores do passado e os Administradores

modernos.

62

Como antigamente os príncipes de destaque eram aqueles que eram

reconhecidos pela sua miserabilidade ou suas liberalidades, os administradores de

destaque hoje são os pró-ativos, que tomam decisões assertivas, liberais, na medida do

possível, mas também miseráveis, para que a saúde da empresa não seja atingida pelas

incertezas do futuro.

Afinal, o chefe também tem que prestar contas, seja para os proprietários das

corporações, conselho, fisco ou outros administradores.

De acordo com o capítulo XVI, “Da liberdade e da parcimônia”, um príncipe

será considerado liberal de quem nada tome e miserável de quem tome algo.

Apesar de ser vantajoso, ser considerado liberal é perigoso. Para se manter a

fama de liberal será preciso aumentar os impostos do povo, o que gera

descontentamento, por isso, melhor a fama de miserável do que a de pródigo.

As corporações também sofrem com o grande número de impostos e alta carga

tributária.

No Brasil atual, temos a segunda maior carga tributária do mundo sobre os

salários dos trabalhadores. O Governo Federal abocanha entre 42% e 82% do salário

pago ao trabalhador, conforme um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento

Tributário (IBPT)101

.

Ao longo dos últimos 16 anos a carga tributária vem aumentando

sistematicamente sobre os trabalhadores.

Também os colaboradores sofrem as consequências com a alta incidência de

impostos sobre seus salários, existindo várias incidências sobre a folha de pagamento,

como INSS, SAT, FGTS, o que reflete na política de pessoal.

No Brasil, atualmente, temos entre impostos, taxas e contribuições de

melhorias, vários impostos que prejudicam as corporações de uma forma geral102

.

O aumento ou criação de mais impostos tornará tanto o administrador quanto o

trabalhador insatisfeitos, pois ambos sofrerão prejuízos financeiros; este princípio

trazido por Maquiavel tem grande abrangência nos dias atuais, refletindo entre os

101 O estudo é do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Disponível em

http://www.ibpt.com.br. Acesso em 26 de novembro de 2010.

102 Verificar apêndice sobre os impostos existentes no Estado brasileiro em 2010.

63

príncipes menores, administradores das corporações, como também nos súditos,

trabalhadores que recebem cerca de 100 % (cem por cento) a mesmos do que deveriam,

em virtude da exorbitante carga tributária.

No capítulo XVII, “Da crueldade e da piedade; e se é melhor ser amado que

temido”, Maquiavel considera que os homens são essencialmente maus, em geral, são

ingratos, volúveis, fingidos, dissimulados, avessos ao perigo e gananciosos, por isto

aconselha o príncipe a ter cautela ao lidar com seus colaboradores.

Conforme ensina o site merkatus103

, em seu boletim semanal, “as pessoas

falham, e muito!”

Não é por acaso que a forma mais antiga de aprendizado se chama tentativa e

erro. Para uma criança aprender que não se deve brincar com fogo, talvez seja

necessário se queimar algumas vezes, o erro é inerente Ao ser humano e devemos

aprender a conviver com ele.

Por isso, ao lidar com homens, é necessário ter cuidado, pois não há como

saber o que realmente se passa na cabeça de cada colaborador, aliás, um princípio muito

bem aplicado ao se tratar de colaboradores é bíblico, exposto por Yeshua

HaMashiach104

, em Mateus 3:16 “simples como a pomba e prudentes como a serpente.”,

ou seja, ao lidar com pessoas deve-se ser cauteloso para não ser surpreendido.

No capítulo XVIII, “Como o príncipe deve honrar sua palavra”, segundo

Maquiavel, existem duas “matrizes de combate”: o combate por meio das leis, própria

dos homens; e o combate pelo uso da força, própria dos animais. Como nem sempre a

primeira matriz basta, é preciso recorrer à segunda. O autor associa a astúcia à raposa e

a força ao leão.

O Administrador moderno tem que ponderar entre os seus instintos animal e

humano, sabendo a hora certa de raciocinar e agir rapidamente, para que não se perca o

“time” do negócio, porém sempre evitando escapar do ódio de seus colaboradores, para

que seu trabalho se desenvolva de uma forma mais positiva.

As decisões têm que ser tomadas de forma rápida, porém levando em

consideração os altos riscos dos atos do administrador, não significando, no entanto, que

103 FARIA, Carlos Alberto. Merkatus. Santa Catarina: 2011. Disponível em

http://www.merkatus.com.br/10_boletim/62.htm. Acesso em 26 de novembro de 2010.

104 Nome aramaico de Jesus, o Cristo.

64

serão implementadas, por exemplo, ao correr o risco de perder um bom colaborador,

pode-se prometer um novo cargo a ele, mas isso não quer dizer que o administrador dará

o mesmo logo em seguida.

Não há como saber, testar ou prever se o temperamento de uma pessoa irá se

adequar a um novo ambiente. Se a passagem de um tipo de trabalho para outro não for

bem sucedida, o executivo que tomou a decisão precisa transferir depressa o

desajustado. Manter pessoas em um trabalho que elas não conseguem realizar não é

bondade, é crueldade, mas também não é motivo para deixá-las ir embora.

Tomar decisões certas sobre pessoas é o meio básico de se controlar bem a

organização. Essas decisões revelam o quanto a gerência é competente, quais são seus

valores e se ela leva a sério suas funções.

Não se trata de mentir ou omitir, mas de tomar uma decisão rápida, forte e

racional no tempo correto e implementá-la também na época própria.

Os executivos que não se esforçam para acertar em suas decisões sobre pessoas

estão se arriscando a algo mais que o mau desempenho, arriscam-se a perder o respeito

de suas organizações.

No capítulo XX, “Se fortalezas e outros expedientes a que os príncipes

frequentemente recorrem são úteis ou não”, o autor reflete que algumas ações dos

príncipes são úteis outras não.

O novo príncipe, não deve desarmar seus súditos, pelo contrário, deve armá-

los, pois armando-os as armas tornam-se suas, tornando fiéis os que antes eram

suspeitos105

, quando um príncipe desarma seus súditos demonstra desconfiança, o que

ascende o ódio contra o príncipe, o que deve ser evitado.

No mundo corporativo, o administrador deve encorajar seus colaboradores a

melhorar, fornecendo meios para que suas auxiliares e colaboradores sintam-se

motivados.

O administrador moderno deve treinar mais do que exigir, todos têm que

influenciar o colaborador para que adote o comportamento desejado, assim, os

105 O Príncipe, p. 118

65

administradores precisam criar ambientes de trabalho que sejam positivos e

motivadores106

.

No mundo corporativo é importante respeitar e valorizar seus empregados,

conforme alerta Robert Grandal, “nada mais importante do que garantir que cada

funcionário se sinta respeitado e valorizado”107

, assim o bem feito ao colaborador

retornará em benefício para o próprio administrador, “tratar bem seus funcionários fará

com que seu negócio melhore. É simples assim”, conforme Julian Richer (Fundador da

Richer Sounds)108

.

Ao tratar bem seus empregados, o administrador terá como retorno o benefício

levado aos seus colaboradores, que certamente melhorarão a eficiência da sua força

produtiva.

No capítulo XXI, “Como um príncipe deve agir para obter honra”, um príncipe

é estimado quando realiza grandes campanhas e dá de si exemplos memoráveis109

.

O príncipe deve oferecer hospitalidade aos homens virtuosos e aos artistas.

Deve encorajar os cidadãos a exercer seus ofícios no comércio, na agricultura e em

outras atividades, assegurando o direito à propriedade e incentivando a abertura de

novos negócios, sem que os impostos sejam um empecilho à atividade comercial. Deve

promover festas e espetáculos populares e periodicamente se reunir com a comunidade,

conhecendo as corporações e os bairros, dando exemplo de generosidade sem perder a

sua majestade.

Por isto, no meio corporativo as confraternizações, “happy hours”110

e eventos

externos tornam-se cada vez mais importantes para a motivação dos cooperados e para

que a idéia de trabalho se separe a cada evento de algo massante ou cansativo, porém

sem condicionar a participação do empregado a qualquer compensação.

O capítulo XXII, “Da escolha dos ministros”, discorre que a escolha dos

auxiliares será de extrema importância na administração de um principado ou de uma

corporação e esta é uma função que pertence ao soberano.

106 NELSON, Bob. 1001 maneiras de premiar seus colaboradores. Tradução: Antonio Evangelista

de Moura Filho. Rio de Janeiro: Sextante, 2007. p. 10.

107 “Nada mais importante do que garantir que cada funcionário se sinta respeitado e valorizado” -

Robert Grandal, ex presidente da American Air Lines.

108 NELSON, Bob. 1001 maneiras de premiar seus colaboradores. Tradução: Antonio Evangelista

de Moura Filho. Rio de Janeiro: Sextante, 2007. p. 1154. 109 O Príncipe, p. 122.

110 Happy hours – encontros entre a equipe de trabalho, após o expediente.

66

Exemplos clássicos da escolha dos auxiliares podem ser encontradas ao longo

da História, na época de Pearl Harbour, em que o comandante chefe, George Marshall

escolheu pessoalmente todos os seus auxiliares que estiveram

à frente da guerra, ou o caso de Alfred P. Sloan, que esteve à frente da GM durante anos

escolhendo a sua equipe de frente, em ambos os casos o sucesso é notório até os dias de

hoje, sendo que o que houve em comum entre estes dois homens é o que Maquiavel

aconselhou em seu capítulo XXII de “O Príncipe” e foi o que os levou a serem

considerados homens sábios, por acertarem em seus assessores.

Havia 4 pontos em comum entre eles111

:

1. Se designo uma pessoa para certo trabalho e ele ou ela não corresponde, eu

cometi um erro, desta forma, não se pode culpar outra pessoa por um erro de escolha do

príncipe.

2. “Todo soldado tem direito a um comandante competente”, sendo dever do

príncipe escolher pessoas competentes para exercer a liderança.

3. De todas as decisões que um príncipe toma as mais importantes se referem

ao pessoal, porque elas irão definir o desempenho da corporação.

4. Não se deve designar compromissos importantes para os recém chegados,

devendo ser passado para pessoas que o príncipe já conhece os hábitos e tenha

confiança para que não se tenha surpresas desagradáveis. O recém chegado deve ser

colocado em posições que tenham decisões estáveis e fácil ajuda.

Como conseguir a ajuda para um recém chegado? Peter Drucker112

, alerta sobre

um detalhe importante, dificilmente os liderados aceitam ordens de quem eles não

respeitam, portanto, ao escolher um líder para um determinado setor é importante que a

pessoa conheça e tenha credenciais do setor, ao escolher uma líder para o departamento

jurídico é importante que o mesmo seja um advogado com conhecimento, ao escolher

um líder de produção é importante escolher alguém que as pessoas respeitem.

O gerente também precisa ter a coragem para comprometer recursos – e, em

particular, pessoal de primeira classe – para trabalhar para fazer o futuro acontecer. O

pessoal necessário para este trabalho deve ser pequeno, mas constituído pelos melhores

111 DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker: a administração. Tradução: Arlete

Simille Marques. São Paulo: Nobel, 2001, p. 145. 112 DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker: a administração. Tradução: Arlete

Simille Marques. São Paulo: Nobel, 2001, p. 147.

67

elementos disponíveis, caso contrário, nada acontecerá. O homem de negócios necessita

de uma base de validade e praticabilidade para idéias empreendedoras que fazem o

futuro. Uma idéia precisa passar por testes rigorosos de praticabilidade para conseguir

tornar um negócio bem-sucedido no futuro. Em primeiro lugar, ela deve ter validade

operacional. Pode-se agir com base nela? Ou pode-se apenas falar a seu respeito? Pode-

se realmente fazer algo imediatamente para provocar o tipo de futuro que se deseja? Por

outro lado, a idéia também precisa:

Ter validade econômica, ou seja, se pudesse ser posta para funcionar

imediatamente, ela teria de ser capaz de produzir resultados econômicos;

Passar no teste do empenho pessoal – acredita-se, realmente, na idéia?

Realmente se quer ser esse tipo de pessoa, fazer esse tipo de trabalho, dirigir esse tipo

de negócio?

Fazer o futuro requer coragem e trabalho, mas também requer fé.

Comprometer-se com o oportuno simplesmente não é prático. Não será suficiente para

os esforços que estão à frente, porque nenhuma idéia é perfeitamente segura – nem deve

ser.

Saber antecipar é o grande segredo; é a característica de um administrador

ideal.

Uma empresa se compõe de duas partes: uma que atua pelo lado de fora, no

movimento, é a parte ativa da empresa; a outra atua nos bastidores, nos controles, nas

estatísticas, na vigilância que mantém equilibrados seu ativo e passivo.

O administrador ideal tem essa dupla visão de fora e de dentro como resultado

daquilo que aplica em si mesmo, de tal modo que sua administração seja a projeção de

sua vida pessoal.

No capítulo XXIII, “Como escapar aos aduladores antes que seja um respeitado

engenheiro e assim por diante”, os aduladores, que omitem a verdade ao falar com o

príncipe são problema para o Estado113

. A verdade pode ser dura no início, mas

produzirá um efeito importante no resultado da corporação.

113 O Príncipe, p. 127.

68

Peter Drucker114

, alerta que quando as recompensas vão para os aduladores ou

para a mera esperteza, a corporação logo descambará para a falta de desempenho

adulação e incerteza.

Executivos que não se esforçam para tomar as decisões corretas quanto ao seu

pessoal, favorecendo os aduladores irão além de um fraco desempenho, arriscar o

respeito da sua corporação.

No capítulo XXIV, “Por que os príncipes da Itália perderam seus reinos”, ao

observar as recomendações anteriormente feitas, um príncipe novo parecerá antigo,

tornando mais seguro e firme, por isto os exemplos passados através de grandes

empresários tornam-se cada vez mais eficientes no meio cooperativo atual.

No capítulo XXV, “Em que medida a fortuna controla as coisas humanas e

como se pode resistir a ela”, lembra que alguns acham que tudo é governado pela

fortuna e por D-us, por isso não vale a pena lutar.

Maquiavel, não ignora que muitos têm a opinião de que as coisas são

governadas por D-us e pela fortuna, sem que o homem possa corrigi-las com a sua

sensatez, mas para que o livre-arbítrio não seja anulado, alega que a fortuna decide

metade de nossas ações115

.

Maquiavel discorda desta idéia comparando a fortuna a um rio caudaloso e

devastador, que com suas águas enfurecidas alaga planícies, derruba árvores e faz ruir

construções. Com isso, a fortuna demonstra toda sua potência, se a virtude não lhe

colocar freios,portanto, para Maquiavel, é melhor ser impetuoso que prudente.

Portanto, para que um administrador tenha a fortuna ao seu lado, deverá

trabalhar virtuosamente, para que a fortuna e a virtude trabalhem para si e seu número

de acertos seja o mais alto possível, atingindo seu objetivo, que é o sucesso de sua

corporação, traduzido em poder e lucros para si.

114 DRUCKER, Peter. The frontiers of management: where tomorrow's decisions are being shaped

today. New York: Truman Talley Books, 1986.

115 O Príncipe, p. 109.

69

6. CONCLUSÃO

Após estas análises, é possível concluir que Nicolau Maquiavel foi um italiano

de origem humilde que alcançou altos cargos administrativos em Florença devido à sua

genialidade e a um pensamento político avançado, com uma ética singular.

A eficácia do pensamento de Maquiavel pode ser demonstrada nas ações de

líderes, governantes e administradores, seja nas nações ou nas corporações, na qual a

política e a ética maquiavélicas entram como elementos da manutenção do poder.

Através da sua obra mais conhecida, O Príncipe, inovou em relação aos seus

antecessores, contemporâneos e até diferenciou-se dos filósofos posteriores, escrevendo

uma obra marcada pela realidade das coisas como são, trazendo conselhos ao

administrador e governante público, o príncipe, porém tais conselhos podem ser

aplicáveis na administração corporativa, tanto nas grandes empresas quanto nas que

pretendem um dia crescer.

Maquiavel inovou tanto com relação à análise política, quanto com à

redefinição e renovação dos problemas e objetos fundamentais da teoria política.

Firmou-se como filósofo da teoria pura, do poder dissociado das considerações

normativas, preconizando a libertação dos governantes de impedimentos jurídicos,

éticos ou religiosos.

A atualidade dos princípios filosóficos existentes em O Príncipe de Maquiavel

são tão atuais quanto os mais modernos ensinamentos dos cursos de administração de

empresas e nos apresenta um estudo sobre a natureza humana isento de preconceitos e

ética tradicional, o que nos obriga a também realizar uma análise sobre estes aspectos

para melhor contextualizá-los e utilizá-los de maneira útil para as corporações.

A presente dissertação buscou uma correspondência entre os capítulos de O

Príncipe e os aspectos da administração.

É possível encontrar respostas para problemas atuais das corporações

empresariais, como concorrência, perda de mercado, trato com empregados e,

principalmente, conquista e manutenção do poder.

70

Nota-se que, como os principados, as corporações têm vida, não sendo “seres”

estagnados, onde as decisões de seus líderes influenciam diretamente os resultados

almejados.

As corporações vizinhas podem representar ameaças, porém com uma

liderança forte, que sabe o que faz, somada da ajuda de seus súditos colaboradores, a

corporação poderá se tornar cada vez mais forte.

As idéias de O Príncipe podem ser utilizadas de maneira eficaz pelos líderes

organizacionais, administradores, diretores, executivos, gerentes, supervisores e demais

cargos de chefia dentro das organizações, para conseguir uma melhor produtividade de

seus colaboradores.

Os empregados não são mais súditos sem vontade própria, com o passar do

tempo evoluíram e se capacitaram, tornando-se verdadeiros colaboradores dos príncipes

administradores. Assim, o administrador deverá motivar a sua equipe para que os

resultados almejados sejam alcançados.

O administrador moderno deve ponderar entre os seus instintos animal e

humano, sabendo a hora certa de agir rapidamente, para que não se perca o “time dos

negócios”, porém raciocinando para que suas ações não tragam um futuro ruim para a

corporação.

Através da escolha correta de auxiliares, o administrador poderá conseguir o

fim desejado de maneira mais tranquila e menos trabalhosa.

O príncipe deve sempre buscar a verdade, fugindo dos aduladores que omitem

a verdade, e ser prudente ao implementar as suas promessas.

O príncipe deve ser virtuoso para que a sorte trabalhe ao seu favor, lembrando

que D-us deu o livre arbítrio para que o homem possa demonstrar que vale a pena lutar

pelos seus ideais.

Por fim, que ao realizar o bem para seus súditos e colaboradores este mesmo

bem retornará a favor do príncipe administrador e o fará VITORIOSO em todas as suas

lutas.

71

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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76

Apêndice sobre os Tributos116

existentes no Estado Brasileiro no ano de 2010.

No Brasil, atualmente, temos entre impostos, taxas e contribuições de

melhorias, vários impostos que prejudicam as corporações de uma forma geral, entre

eles:

- Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante117

;

- Contribuição à Direção de Portos e Costas 118;

- Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico 119

;

- Contribuição ao Funrural;

- Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária120

;

- Contribuição ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT);

- Contribuição ao Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa 121

;

116 Tributos são impostos, taxas e contribuições de melhorias.

117 AFRMM - Lei 10.893/2004.

118 DPC - Lei 5.461/1968.

119 FNDCT - Lei 10.168/2000.

120 INCRA - Lei 2.613/1955.

77

- Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Comercial122

;

- Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado dos Transportes 123;

- Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Industrial124

;

- Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Rural125

;

- Contribuição ao Serviço Social da Indústria126

;

- Contribuição ao Serviço Social do Comércio127

;

- Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo128

;

- Contribuição ao Serviço Social dos Transportes129;

- Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados);

121 SEBRAE - Lei 8.029/1990.

122 SENAC – Decreto-Lei 8.621/1946.

123 SENAT - Lei 8.706/1993.

124 SENAI - Lei 4.048/1942.

125 SENAR - Lei 8.315/1991.

126 SESI - Lei 9.403/1946.

127 SESC - Lei 9.853/1946.

128 SESCOOP - art. 9, I, da MP 1.715-2/1998.

129 Lei 8.706/1993.

78

- Contribuição Confederativa Patronal (das empresas);

- Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico 130;

- Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico 131;

- Contribuição para a Assistência Social e Educacional aos Atletas

Profissionais132;

- Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública133;

- Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional

– CONDECINE134

;

- Contribuição para o Fomento da Radiodifusão135

;

- Contribuição Sindical Laboral (não se confunde com a Contribuição

Confederativa Laboral);

130 CIDE Combustíveis - Lei 10.336/2001.

131 Lei 10.168/2000.

132 FAAP - Decreto 6.297/2007.

133 Emenda Constitucional 39/2002.

134 Art. 32 da Medida Provisória 2228-1/2001 e Lei 10.454/2002.

135 Pública - art. 32 da Lei 11.652/2008.

79

- Contribuição Sindical Patronal;

- Contribuição Social Adicional para Reposição das Perdas Inflacionárias do

FGTS;

Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social

(COFINS);

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL);

- Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (OAB, CRC, CREA,

CRECI, CORE, etc.);

- Contribuições de Melhoria: asfalto, calçamento, esgoto, rede de água, rede de

esgoto, etc.;

- Fundo Aeroviário (FAER)136

- Decreto Lei 1.305/1974;

- Fundo de Combate à Pobreza 137

;

- Fundo de Fiscalização das Telecomunicações138

;

136 Decreto Lei 1.305/1974

137 Art. 82 da EC 31/2000.

80

- Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)

- Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações 139

;

- Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de

Fiscalização140

;

- Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações 141

;

- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS);

- Imposto sobre a Exportação (IE);

- Imposto sobre a Importação (II);

- Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA);

- Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU);

138 FISTEL - Lei 5.070/1966 com novas disposições da Lei 9.472/1997.

139 FUST - art. 6 da Lei 9.998/2000.

140 FUNDAF - art.6 do Decreto-Lei 1.437/1975 e art. 10 da IN SRF 180/2002.

141 FUNTTEL – Lei 10.052/2000.

81

- Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR);

- Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR - Pessoa Física

e Jurídica);

- Imposto sobre Operações de Crédito (IOF);

- Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS);

- Imposto sobre Transmissão Bens Inter-Vivos (ITBI);

- Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD);

- INSS Autônomos e Empresários;

- INSS Empregados;

- INSS Patronal;

- IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados);

- Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio

do Servidor Público (PASEP);

82

- Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro;

- Taxa de Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de

Graduação142;

- Taxa de Classificação, Inspeção e Fiscalização de produtos animais e vegetais

ou de consumo nas atividades agropecuárias143

;

- Taxa de Coleta de Lixo;

- Taxa de Combate a Incêndios;

- Taxa de Conservação e Limpeza Pública;

- Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA144;

- Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos145

;

- Taxa de Emissão de Documentos (níveis municipais, estaduais e federais);

142 Lei 10.870/2004.

143 Decreto-Lei 1.899/1981;

144 Lei 10.165/2000.

145 Lei 10.357/2001, art. 16.

83

- Taxa de Fiscalização da Aviação Civil - TFAC146

;

- Taxa de Fiscalização da Agência Nacional de Águas – ANA147

- Taxa de Fiscalização CVM (Comissão de Valores Mobiliários)148

;

- Taxa de Fiscalização de Sorteios, Brindes ou Concursos149

;

- Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária 150;

- Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército

Brasileiro 151;

- Taxa de Fiscalização dos Mercados de Seguro e Resseguro, de

Capitalização e de Previdência Complementar Aberta 152;

- Taxa de Licenciamento Anual de Veículo;

- Taxa de Licenciamento, Controle e Fiscalização de Materiais Nucleares

146 Lei 11.292/2006.

147 art. 13 e 14 da MP 437/2008.

148 Lei 7.940/1989.

149 art. 50 da MP 2.158-35/2001.

150 Lei 9.782/1999, art. 23.

151 Lei 10.834/2003.

152 Art. 48 a 59 da Lei 12.249/2010.

84

e Radioativos e suas instalações153

- Taxa de Licenciamento para Funcionamento e Alvará Municipal;

- Taxa de Pesquisa Mineral DNPM 154

;

- Taxa de Serviços Administrativos – TSA – Zona Franca de Manaus155

- Taxa de Serviços Metrológicos 156;

- Taxas ao Conselho Nacional de Petróleo (CNP);

- Taxa de Outorga e Fiscalização - Energia Elétrica157;

- Taxa de Outorga - Rádios 158;

- Taxa de Outorga - Serviços de Transportes Terrestres e Aquaviários159;

- Taxas de Saúde Suplementar - ANS160

;

- Taxa de Utilização do SISCOMEX 161;

- Taxa de Utilização do MERCANTE 162;

- Taxas do Registro do Comércio (Juntas Comerciais);

- Taxa Processual Conselho Administrativo de Defesa Econômica -

CADE 163;

153 Lei 9.765/1998;

154 Portaria Ministerial 503/1999

155 Lei 9.960/2000;

156 Art. 11 da Lei 9.933/1999.

157 Art. 11, inciso I, e artigos 12 e 13, da Lei 9.427/1996.

158 Art. 24 da Lei 9.612/1998 e nos art. 7 e 42 do Decreto 2.615/1998.

159 Art. 77, incisos II e III, a art. 97, IV, da Lei 10.233/2001.

160 Lei 9.961/2000, art. 18

161 Art. 13 da IN 680/2006.

162 Decreto 5.324/2004.

163 Lei 9.718/1998.

85

Apêndice sobre a Cronologia do tempo, da vida e das obras de Nicolau

Maquiavel 164

1469. Nasce no dia 3 de maio, em Florença, Nicolau Maquiavel, filho de

Bernardo e Bartolomea. Terceiro de quatro filhos, veio ao mundo no mesmo ano em que

morre Pedro de Médici, que foi sucedido por seu filho Lourenço, o Magnífico.

1476. Aos sete anos, inicia o estudo da matemática e do latim.

1477. Aos oito anos, começa a estudar na escola de Battista de Poppi.

1478. Conjura dos Pazzi: morre Juliano, irmão de Lourenço.

1481. Aos doze anos, começa a estudar com o latinista Paolo de

Ronciglione.

1490. Savonarola, que já tinha pregado em Florença de 1482 a 1487,

volta à cidade e retoma suas prédicas.

1492. Morre Lourenço, sucedido pelo filho Pedro (1471-1503). Morre o

papa Inocêncio VIII, sucedido por Alexandre VI, da família Bórgia.

164 MACHIAVELLI, Niccolò, Il Príncipe. Milão: Rizzoli, 1977.

86

1494. Carlos VIII, rei da França, invade a Itália e entra em Florença.

Pedro de Médici, acusado de ter cedido às suas exigências, é expulso da cidade pelos

florentinos, que proclamam a república. Aumenta a influência de Savonarola.

1497. Aos 28 anos, Nicolau Maquiavel viaja para Roma, com uma

recomendação para o cardeal Piccolomini (futuro Pio III).

1498. Aos 29 anos, se apresenta em vão como candidato ao cargo de

secretário da segunda chancelaria do governo de Florença, responsável pelos assuntos

internos e extraordinários, inclusive os relacionados à guerra. Para a função, é nomeado

um candidato de Savonarola. Nesse mesmo ano, Savonarola é processado, condenado e

morto. Segue-se um expurgo do governo e Nicolau Maquiavel volta a candidatar-se à

segunda chancelaria, desta vez, com êxito. Logo em seguida, torna-se secretário dos

Dieci di Balia, conselho incumbido de superintender as relações de Florença com outros

Estados, exercendo várias missões diplomáticas, uma das quais origina o Discorso fatto

ai magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa.

1500. Missão diplomática na França, com Francisco della Casa.

1501. Aos 32 anos, casa-se com Marietta di Luigi Corsim; esse conúbio

dar-lhe-á seis filhos. Mas Nicolau Maquiavel parece ter dedicado pouca atenção à

família (foi amante, durante muitos anos, da cantora Barbara Salutari).

1502. Missão em Pistóia: Ragguaglio delle cose fatte dalla repubblica

fiorentina per quietare le parti di Pistola, e De rebus pistoriensibus.

87

1503. Testemunha os crimes cometidos por César Bórgia, o Duca

Valerilino, em Senigállia, e escreve a Descrizione del modo tenuto dai Duca Valentino

nello ammazzare Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, il signor Pagolo e il duca di

Gravina Orsini. Escreve também Parole da dirle sopra la provisione del denaio e Del

modo di trattare i popolí della Valdichiana ribellati. Morre o papa Alexandre VI (pai de

César Bórgia), sucedido por Pio III. Missão em Roma.

1504. Missão na França. Escreve Decennale Primo. Missões em Mântua

e Siena.

1506. Acompanha como observador a expedição de Júlio II contra

Perúgia e Bolonha. Escreve Ghiribizzi scripti in Perugia ai Soderino e Discorso dell’

ordinare lo stato di Firenze alle armi. 1507. Missão no Tirol.

1508. De volta a Florença, escreve Rapporto delle cose della Magna,

texto que reescreveu em 1509 e em 1512.

1509. Missão em Piombino. Os venezianos são derrotados pela Liga de

Cambrai. Nicolau Maquiavel adverte contra o perigo representado pelo expansionismo

do Estado pontifício. É dessa época (entre 1509 e 1514) o Decennale Secondo. Missão

em Verona.

1510. Nicolau Maquiavel atua como mediador entre o papa e o rei da

França. Escreve Ritratto delle cose di Francia.

88

1511. Agrava-se o conflito entre o papa e o rei da França, que convoca

um concílio de cardeais filo-franceses para depor Júlio II, sob a acusação de simonia.

Este proclama a Santa Liga contra a França (incluindo Veneza e a Espanha) e Nicolau

Maquiavel é enviado em missão para a França, Milão e Pisa.

1512. Batalha de Ravena: os franceses vencem as tropas pontifícias.

Florença é ameaçada pelas forças da Santa Liga. Cai o governo republicano da cidade e

os Médici voltam ao poder. Nicolau Maquiavel é exonerado das funções que exerce,

multado e proibido de entrar no palácio do governo durante um ano.

1513. Aos 44 anos, é preso e torturado, sob suspeita de participar de uma

conjura contra os Médici; reconhecida sua inocência, é liberado e se retira para Sant‟

Andrea in Percussina, onde passa a residir, na vila L‟Albergaccio. Nesse ano morre Júlio

II, sucedido por Leão X, da família Médici. Em carta a Francisco Vettori, escrita em

dezembro, Nicolau Maquiavel diz ter escrito um “opúsculo”, De Principatibus (Il

Principe) dedicado a Lourenço II, da família Médici. 1515. Aos 46 anos, apresenta Il

Principe a Lourenço II, que o acolhe com frieza.

1516. À margem da vida política e governamental, Niccolò Machiavelli

continua a se dedicar à atividade literária. Começa a escrever L'Asino.

1517. Termina a redação do Discorso sopra la prima deca di Tito Lívio,

iniciada em 1513 e interrompida pelo preparo de Il Principe.

1518. Commedia di Callimaco e di Lucrezia (Mandragola) e Belfagor

arcidiavolo (Il demonio che prese moglie), bem como Discorso o diálogo intorno alla

nostra lingua.

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1519. Morre Lourenço lI, o que possibilita o retorno de Niccolà

Machiavelli à vida política. O cardeal Júlio de Médici, voltando ao governo de

Florença, pede sugestões sobre a organização política do Estado, e Nicolau Maquiavel

escreve Discursus fiorentinarum rerum Post mortem iunioris Laurentii Medices. Nesse

ano, ele começa a escrever o DelI'arte delIa guerra, concluída no ano seguinte.

1520. Missão de Luca. Escreve Vita di Castruccio Castracani e

Sonimario delle cose della città di Lucca. A universidade de Florença incumbe Nicolau

Maquiavel de escrever a história da cidade, trabalho que o ocupará durante cinco anos

(especialmente em 1523-24), mas que ficará incompleto: Istorie fiorentine.

1521. Frustrada a sua tentativa de aproveitamento pleno na vida política

de Florença, retorna ao retiro de Sant‟Andrea. Cresce, contudo, seu prestígio como

homem de letras e autor teatral.

1522. Morre Leão X, sucedido por Adriano VI.

1523. Morre Adriano VI, sucedido por Clemente VII (Júlio de Médici).

1524. O cardeal Ippolito de Médici, filho natural de Juliano de Nemours,

é feito Senhor de Florença. 1525. Aos 56 anos, Nicolau Maquiavel escreve uma segunda

comédia. Viaja a Roma para oferecer as Istorie Fiorentine a Clemente VII. Reabilitado

pelo governo de Florença, é enviado em missão a Veneza.

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1526. Liga de Cognac (o papa, a França, Veneza e Milão) contra Carlos

V. Missões em Roma e em Urbino.

1527. Tropas de Carlos V saqueiam Roma. Restauração da república em

Florença. Nicolau Maquiavel, que tinha viajado a Civitavecchia, retorna à sua cidade,

mas é recebido com hostilidade devido à colaboração que havia prestado aos Médici e

às interpretações facciosas de Il Principe, agora bastante conhecido. No dia 21 de junho,

Nicolau Maquiavel morre, aos 58 anos, sem dinheiro e sem poder, sendo sepultado no

cemitério de Santa Croce no dia seguinte.