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MÓDULO 3 – FASCÍCULO 3 Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers
Administração de Suprimentos e Logística 1
Fascículo 3 MRP e MRPII Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América passaram por um longo período de crescimento, uma vez que tomaram a responsabilidade pela reconstrução de muitos países no pós guerra, assumindo uma inegável posição de liderança mundial. As indústrias americanas cresceram e tinham presença nos cinco continentes, o que exigia um esforço muito grande de administração de estoques, troca de informações, logística, entre outros, tudo isso em uma época onde os meios de comunicação eram o telex, a carta e o telefone a cabo (que consumia horas para completar uma ligação que fosse). Porém, no fim da década de 1950, os volumes de itens tratados já eram de tal monta, que manualmente tornava-se impossível fazer um controle razoavelmente correto das necessidades das operações produtivas. Surge então o MRP – Material Requirements Planning – Planejamento das Necessidades de Materiais, que permitiu que as empresas começassem a calcular o quanto de determinado tipo de material seria necessário para atender à demanda, e, o mais importante, quando seria necessário. Baseado nos pedidos de clientes e em uma previsão de vendas, o MRP (hoje em dia mais conhecido como MRP1) faz uma avaliação de todos os itens necessários para atender a tais pedidos e previsões, garantindo sua disponibilidade a tempo. É, portanto, um sistema que calcula volume e tempo para grandes quantidades de itens diferentes, o que é extremamente complexo. Manualmente, executar tais cálculos era extremamente desgastante e custoso (muitas pessoas envolvidas no processo, com grande probabilidade de erros). Com o início da utilização industrial dos computadores, a partir dos anos 1960, estava estabelecida a condição de fazer esses cálculos detalhadamente e de forma, para a época, fácil. Desde então, com a popularização do uso dos computadores, que finalmente saíram das grandes salas e chegaram às mesas dos escritórios, muitas oportunidades foram desenvolvidas nos mais diversos ramos do saber, entre eles o da Administração e, particularmente, o conjunto de necessidades requeridas para o planejamento das necessidades de materiais, e mais ainda, sua conexão com outras atividades que são relacionadas a esse planejamento. Essa nova versão, mais completa e complexa, é conhecida até os dias de hoje como MRP2 (mais exatamente sua versão em número romano: MRPII), que deixa de ser um planejamento das necessidades, e passa a ser o Manufacturing Resource Planning – Planejamento dos Recursos de Manufatura Com o MRPII as organizações passaram a ter a capacidade de visualizar o que a demanda futura, prevista, causa à empresa em termos financeiros, de produção, de engenharia e de necessidade de materiais.
MÓDULO 3 – FASCÍCULO 3 Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers
Administração de Suprimentos e Logística 2
Se entendemos que uma simples atividade de planejar n máquinas para executar m tipos diferentes de produtos pode resultar em um número gigantesco, representado por (n!)
m possibilidades diferentes de programação, imagine-se agora o que acontece se a organização produz e comercializa muitos produtos finais, com todas suas possíveis configurações individuais, para muitos clientes constantes ou não, que geram demanda constante e ocasional ao mesmo tempo.
Difícil imaginar uma situação assim? Pense em uma montadora de automóveis, que ofereça cinco tipos diferentes de veículos, cada um deles com dois tipos de motorização, dois tipos de câmbio, possibilidade de tração nas quatro rodas para alguns modelos, dez diferentes cores, quinze tipos de acabamentos de bancos, com ou sem direção hidráulica, com ou sem ar condicionado, acabamento “pé-de-boi” ou “de luxe”, etc, etc.......
O MRPII é a ferramenta capaz de mostrar aos administradores quais serão as necessidades para atender tais situações, gerando a base para o planejamento e para as decisões estratégicas e operacionais. Todavia fica claro que o MRP – Material Requirement Planning – Planejamento das Necessidades de Materiais, é a base do sistema, e que a partir dele pode-se gerir o sistema de materiais integrado com o restante da organização.
Começamos assim a buscar entender o que se faz necessário para que a primeira etapa do processo, a gestão dos materiais possa ser executada de forma adequada.
Os cálculos de volume e tempo feitos pelos sistemas de MRP necessitam que as informações correspondentes a certas variáveis sejam “carregadas” (inseridas, digitadas) nos arquivos eletrônicos específicos, e mantidas atualizadas, de forma que ao executar a rotina do MRP, tudo seja atualizado. A figura a seguir apresenta os grandes grupos de informações necessárias para carregamento do MRP.
MÓDULO 3 – FASCÍCULO 3 Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers
Administração de Suprimentos e Logística 3
Fig. 2.1 – Esquema do planejamento de necessidades de materiais Fonte: SLACKS, Nigel e outros. Administração da produção
Partindo da figura 2.1, temos como dados de entrada para o processamento do MRP quatro grandes grupos de informações:
1. A carteira de pedidos, que informa quais pedidos de clientes a organização tem em seus registros e que devem ser atendidos no prazo de tempo contratado. A flexibilidade em aceitar alterações nos pedidos (contratos) de venda depende muito da capacidade da organização em reagir rapidamente a essas alterações
2. A previsão de vendas, exercício realizado pelo pessoal de marketing / vendas, que informa ao restante da organização o que se espera no futuro próximo em termos de novos pedidos / projetos.
Com a carteira de pedidos e a previsão de vendas, a organização consegue fazer um planejamento de necessidades futuras, considerados no que se denomina programa-mestre de produção (MPS – Master Production Schedule). Com este programa torna-se possível definir necessidades de máquinas e equipamentos, alocação de mão-de-obra, necessidades de treinamentos, etc, além da previsão de volumes a serem fornecidos para atender aos pedidos em carteira e à previsão de vendas. O programa-mestre de produção (MPS) mantém a informação de cada produto final, em termos de demanda e estoque disponível, e faz a projeção futura desse estoque para descobrir as necessidades em termos de componentes e produtos finais a produzir na escala de tempo. A figura 2.2 mostra os dados requeridos para a elaboração do programa-mestre de produção (MPS).
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Fig. 2.2 – Dados de entrada para o programa-mestre de produção Fonte: SLACKS, Nigel e outros. Administração da produção
Como exemplo simples de um programa mestre de produção, podemos imaginar uma padaria que precisa fazer bolos de fubá todos os dias, para atender a demanda de um asilo que compra esses bolos todos os dias. Observar que o principal dado de partida para a programação é o estoque em mãos (bolos de fubá prontos, considerando que a “vida” antes do descarte de cada bolo é de três dias):
PROGRAMA MESTRE DE PRODUÇÃO DE BOLOS DE FUBÁ
Semana 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Demanda 10 10 10 10 15 15 15 20 20 Dísponivel 20 10 0 0 0 0 0 0 0
MPS 0 0 10 10 15 15 15 20 20 Em mãos 30
Tab. 2.2 – Exemplo de programa-mestre de produção
Fonte: SLACKS, Nigel e outros. Administração da produção
3. As listas de materiais são documentos técnicos que indicam as necessidades dos itens que compõe cada um dos produtos que foram (pedidos em carteira) / serão (previsão de vendas) vendidos.
Receita de Bolo de Fubá:
4 ovos, 2 xícaras de chá de açúcar, 2 xícaras de chá de trigo, 1 xícara de chá de fubá, 3 colheres de sopa de margarina, 1 xícara de chá de leite, 4 colheres de chá de fermento
Tipicamente, uma simples receita de bolo contém uma lista de material, que será necessário parta fazer a quantidade de um bolo.
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4. Os registros de estoques, que informam a disponibilidade de materiais (itens que compõe os produtos finais, ou produtos finais disponíveis) em estoque, e que podem atender o que foi (pedidos em carteira) / será (previsão de vendas) vendido.
É possível assim imaginar que a quantidade de variáveis e informações que devem ser tratadas ao mesmo tempo, a fim de definir novas necessidades de materiais e prazos de atendimento ao que foi (pedidos em carteira) / será (previsão de vendas) vendido, é muito grande. O MRP realiza os cálculos combinando todas essas informações, resultando em informações que são dependentes das informações inseridas nos quatro primeiros itens citados.
A partir do processamento do MRP, são geradas as ordens de compra para itens que estão faltando / irão faltar no estoque, os planos de materiais e as ordens de trabalho (ordens de produção).
No caso do bolo de fubá, a lista de materiais indica quais e quanto de cada produto necessitamos para fazer o bolo, sem se preocupar com os recursos de transformação (instalações e pessoas) necessários. Mas a observação de uma lista não é tão eficiente como a análise de um desenho que mostra como o produto é composto, denominada estrutura do material.
Fig. 2.3 – Estrutura de produto para o bolo de fubá
O exemplo acima é, por si, muito simples, uma vez que torna o entendimento do que é uma estrutura de material fácil. Porém, se desejamos analisar algo que mais comum nas indústrias, do que somente um bolo de fubá, deve-se entender que um produto final ( que esta no nível “zero” da estrutura) é feito de uma série de componentes (que se encontram no nível “um” da estrutura) , que por sua vez nascem de outros componentes ou matérias-prima (que se encontram no nível “dois” da estrutura), e assim por diante.
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Analisando uma caneta BIC cristal azul, vamos encontrar mais um exemplo simples que mostra como é entendida a estrutura dos materiais.
Fig 2.4 Estrutura e lista de material para uma caneta BIC Cristal azul
Observa-se que na estrutura da BIC Cristal algumas características relevantes:
• Não é exatamente o caso de uma única caneta BIC, mas se
entendemos que, por exemplo, uma loja de artigos de papelaria nunca iria comprar 1.000 canetas BIC e recebê-las a granel (soltas), mas sim 20 caixas com 50 canetas cada, percebemos que, para o fabricante da BIC, existem quantidades múltiplas de alguns itens. Nesse caso teríamos:
- Nível “0” = Caixa com 50 canetas BIC Cristal azul - Nível “1” = Uma caneta BIC Cristal azul - Nível “2” = Tampa traseira / Carga / Corpo / Tampa traseira - Nível “4” = Ponta / Tinta azul / Tubo plástico
O MRP precisa assim conhecer a quantidade necessária de cada item, em cada nível, para multiplicar pelas quantidades necessárias.
• Não é o caso da BIC Cristal, mas um mesmo item pode aparecer
mais de uma vez na estrutura do material. É o caso daqueles araminhos plastificados utilizados para amarrar fios de aparelhos eletro-eletrônicos quando novos. Um computador novo, por exemplo, necessita de pelo menos 6 desses araminhos para ser despachado. E o MRP deve levar em conta tal multiplicidade, somando as necessidades que aparecem nos diferentes níveis, e apresentando uma quantidade final a encomendar.
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• Todo estudo de estrutura se encerra nos itens produzidos pela organização. SE imaginarmos que o fabricante da BIC não produz a tinta, mas sim compra de um outro fabricante, não é a fábrica da BIC que irá controlar as necessidades de estoque do fabricante de tinta. Ele deverá ter seu próprio MRP, enquanto o fabricante da BIC controla o estoque disponível de tinta.
Conforme Slack, o MRP é um processo sistemático de tomar as informações de entrada (programa-mestre de produção, listas de materiais e registros de estoque), referentes ao planejamento, e calcular a quantidade e o momento das necessidades que irão satisfazer a demanda.
O MRP calcula as quantidades de materiais necessários, partindo do programa-mestre de produção, considerando todos os itens do nível “0”, verificando suas listas de materiais, e ai partindo para os demais níveis da estrutura de materiais. Durante o cálculo, é verificada a disponibilidade em estoque dos itens, e então são emitidas as ordens de trabalho ou ordens de compra para as quantidades faltantes a atender as necessidades. A figura 2.5 mostra a seqüência do processo de calculo do MRP.
Fig. 2.5 – Processo de cálculo das necessidades no MRP Fonte: SLACKS, Nigel e outros. Administração da produção
Desde a revolução industrial japonesa, “capitaneada” entre outros por Deming, ficou claro que a manutenção de estoques deve ser feita de maneira absolutamente estratégica, de forma a direcionar os recursos financeiros para outras áreas de investimento, como pesquisa e desenvolvimento, por exemplo.
No processo tradicional de produção utilizado até então pela maioria das organizações ocidentais, a programação era “empurrada”, dando-se entrada nas ordens de produção assim que chegassem à fábrica, gerando altos estoques em processo (estoques de peças entre etapas do processo produtivo), e estoques de produtos acabados antes dos prazos contratados com os clientes finais.
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LapiseiraP207
Corpoexterno 207
PlásticoABS
Coranteazul
Presilhade bolso
Miolo207
Corpo daponteira
Guia daponteira
Tampa
Tira.1 mm
Borracha Capa daborracha
Grafite0.7 mm
Miolointerno 207
Tira.1 mm
Mola GarrasCorpo domiolo
Suporteda garra
Capada garra
PlásticoABS
Corantepreto
Fio deborracha
10g
7g
.01g
.05g
4x
3x2 cm
2g
2g
Através das técnicas japonesas, desenvolveu-se o conceito de programação “puxada”, que é aquela que ocorre a partir do momento em que o cliente solicita a entrega de um produto, e então, do último processo produtivo, começa a requisição de componentes “para trás”, no processo produtivo. Como já vimos, esse planejamento elimina desperdícios e estoques em processo.
O MRP, além de calcular as quantidades de materiais necessários, também considera o momento em que tais materiais deverão estar disponíveis, ou seja, o quando. Para que isso aconteça, cada componente deve ter, dentro do sistema, “carregada” a informação sobre seu tempo de processamento (lead time). Assim sendo, é possível fazer a programação “para trás”, levando em conta o lead time de cada componente em cada nível da estrutura de material, definindo os momentos em que ordens de fabricação devem ser inicializadas, ou pedidos de compra devem ser emitidos.
Para bem entender a programação para trás, vamos utilizar um exemplo apresentado por Corrêa, da programação através do MRP para uma lapiseira.
Fig. 2.6 – Estrutura de produto de uma lapiseira Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
A partir da estrutura de material pode-se responder a duas questões: o que e quanto produzir e comprar. No exemplo proposto por Correa, se desejarmos produzir 1.000 lapiseiras, precisamos comprar 4.000 grafites, produzir 1.000 corpos, e assim por diante, gerando a tabela a seguir.
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ITEM PRODUZIDO QTD ITEM COMPRADO QTD ITEM COMPRADO QTD
Lapiseira P207 1000 Presilha de bolso 1000 Tira 0,1 mm 2 kg Corpo Externo 207 1000 Corpo da ponteira 1000 Mola 1000 Miolo 207 1000 Guia da ponteira 1000 Suporte da garra 1000 Tampa 1000 Plástico ABS 10 kg Capa da garra 1000 Borracha 1000 Corante azul 10 g Garras 3000 Capa da borracha 1000 Tira 0,1 mm 2 kg Plástico ABS 7 kg Miolo interno 207 1000 Grafite 0,7 mm 4000 Corante preto 50 g Corpo do miolo 1000 Fio de borracha 20 m
Tab. 2.3 – Explosão das necessidades brutas Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
Uma vez identificada a lista de necessidades, surge a segunda questão, que é o quando. Em que momento produzir ou comprar. Nada deve ser feito antes da real necessidade, pois não se deve estocar nada que não seja estritamente necessário. Assim, as atividades, como vimos antes, devem ser programadas para o momento mais tarde possível, diminuindo os estoques. A tabela abaixo mostra os tempos de obtenção para cada um dos itens da estrutura de material da lapiseira.
ITEM PRODUZIDO
LEAD TIME
(semanas)
ITEM COMPRADO
LEAD TIME
(semanas)
ITEM COMPRADO
LEAD TIME
(semanas)
Lapiseira P207 1 Presilha de bolso 1 Tira 0,1 mm 1 Corpo Externo 207 2 Corpo da ponteira 2 Mola 1 Miolo 207 1 Guia da ponteira 1 Suporte da garra 2 Tampa 1 Plástico ABS 1 Capa da garra 3 Borracha 1 Corante azul 2 Garras 1 Capa da borracha 1 Tira 0,1 mm 1 Plástico ABS 1 Miolo interno 207 3 Grafite 0,7 mm 2 Corante preto 2 Corpo do miolo 2 Fio de borracha 1
Tab. 2.3 – Lead time para os componentes da lapiseira P207 Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
Existe agora a condição de “desenhar” a estrutura de material para a lapiseira P207, porém adicionando os tempos de obtenção, e partindo da data de entrega contratada (o que o cliente solicitou). Conforme proposto por Correa, os itens são representados não por “caixas”, mas por segmentos de reta, cada segmento correspondendo a escala de tempo utilizada para o gráfico, e representando o tempo de obtenção do item. E a estrutura é “desenhada” na horizontal ao invés de ser na vertical.
Fig. 2.7 Representação da
mesma estrutura de material,
desenhada na vertical e na
horizontal, nesta ultima forma permitindo a
informação de tempo.
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MioloCorpo do miolo
Grafite (4)
Borracha
Capa daborracha
Fio deborracha
(2cm)
Tira.1 mm (2g)
Miolo interno
PlásticoABS (7g)
Corante preto(.05g)
Mola
Garra (3)
Suporte da garra
Capa da garra
LT = 1
LT = 2
LT = 3
LT = 1
LT = 1 LT = 1
LT = 1 LT = 1
LT = 3
LT = 1
LT = 1
LT = 2
LT = 2
OC corante
0,05 kg
OP miolo1000 OP lapiseira
1000OP borracha
1000
OP capa1000
OP miolo int.1000
OC fio20 m
OC tira2 kg
OC grafite4000
OC mola1000
OC garra3000
OP corpo1000
OC suporte1000
OC capa da garra1000
OC ABS7 kg
LT = 2
201918171615141312
LT = 1 LT = 1
Tira.1 mm (2g) Tampa
21
Corante azul(.01g)
LT = 2LT = 1
LT = 1
LT = 2PlásticoABS (10g)
LT = 2
LT = 1
Lapiseira
Corpo externo
Corpo ponteira
Guia pont
Presilha
OC tampa1000
OC corpo1000
OP guia1000
OC presilha1000
LT = 1
Pedidolapiseira
1000
OC ABS10 kg
OC corante0,01 kg
Assim sendo, no modelo da lapiseira P207, a estrutura de material “desenhada” na horizontal e tendo por referencia uma escala de tempo resulta na figura abaixo.
Fig. 2.7 – Representação do tempo de obtenção de todos os componentes da lapiseira em uma programação “para trás”
Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
A partir da figura 2.7, são identificados os momentos em que ações devem ser tomadas nos diferentes instantes de tempo. Dessa forma, as quantidades certas estarão disponíveis no momento certo para a produção da quantidade desejada (resultante da melhor visão de futuro, como o caso do pedido de 1.000 lapiseiras) de produtos acabados. Correa sugere como exemplo a seguinte lista de ações.
PONTO PARA REFLEXÃO
Você sabia que para efeito de programação de produção é muito comum o uso do calendário de semanas?
Cada ano tem 52 semanas, e a semana 1 de cada ano é a que contém a primeira quinta-feira do ano,
mesmo que o dia 1 de Janeiro seja uma quinta-feira !!!
LT = Lead Time OC = Ordem de compra OP = Ordem de produção
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Tab. 2.4 – Algumas ações que devem ser tomadas tendo por base a estrutura de material Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
Partindo-se das listas de materiais e das estruturas de materiais, o MRP pode, muitas vezes, recomendar a aquisição de quantidades que normalmente não são encontradas no mercado, como por exemplo o plástico ABS, para o qual o sistema requer 7 kg, mas (por exemplo) só é encontrado em embalagens de 50 kg. Tipicamente é um caso sem solução, obrigando a aquisição dos 50 kg, a utilização dos 7 kg e a armazenagem do excedente. Analisando a estrutura de materiais horizontal, se na semana 21 a empresa tem de entregar 1.000 lapiseiras, e o lead time de montagem é de 1 semana, a montagem das 1.000 lapiseiras deve começar obrigatoriamente na semana 20, permitindo que se gaste o prazo de montagem.
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Como o sistema de calculo MRP tem como dados de entrada os pedidos de clientes e o planejamento de vendas futuras, além das listas de materiais e dos estoques disponíveis, podemos então simular uma situação para a montagem das 1.000 lapiseiras, tendo em conta os itens de primeiro nível. Correa propôs a seguinte hipótese, como exemplo:
Tab. 2.5 – Estoque projetado disponível e cálculo das necessidades
Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
A partir dessa primeira planilha repete-se o processo para os demais níveis da estrutura de material, para trás no tempo: para liberar uma ordem de produção de 600 miolos na semana 19, é necessário que os componentes que compõe o miolo estejam disponíveis em quantidade suficiente na semana 19. Considerando que também no nível 2 da estrutura de material existia um estoque disponível, o cálculo resulta em:
Tab. 2.6 – Estoque projetado disponível e cálculo das necessidades para componentes nível 2
Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
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MioloCorpo do miolo
Grafite (4)
Borracha
Capa daborracha
Fio deborracha
(2cm)
Tira.1 mm
(2g)
Miolo interno
PlásticoABS (7g)
Corante preto(.05g)
Mola
Garra (3)
Suporte da garra
Capa da garra
LT = 1
LT = 2
LT = 3
LT = 1
LT = 1 LT = 1
LT = 1 LT = 1
LT = 3
LT = 1
LT = 1
LT = 2
LT = 2
OP miolo600
OP lapiseira1000
OP miolo int.350
OC grafite900
OC garra0
OC suporte200
LT = 2
201918171615141312
estoque projetadopara a semana 16
garra = 1100suporte = 150
estoque projetadopara a semana 16
garra = 1100suporte = 150
estoque projetadopara a semana 19:
miolo int. = 250grafite = 1500
estoque projetadopara a semana 19:
miolo int. = 250grafite = 1500
estoque projetadopara a semana 20:
miolo = 400
estoque projetadopara a semana 20:
miolo = 400
Continuando a repetir o processo, temos a visão geral das necessidades em termos de liberação de ordens de compra e produção
Fig. 2.8 – Demonstração das necessidades brutas e líquidas para alguns itens da lapiseira
Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
Não é tema a abordar nessa explicação, mas torna-se evidente que qualquer atraso na entrega de algum componente irá provocar o atraso de entrega de todo o lote. Por esta razão a seleção adequada de fornecedores e canais logísticos responsáveis são fundamentais para que o MRP resulte em decisões efetivas e lucrativas. O MRP deve informar a quem esta gerenciando o processo, quais são as necessidades que a organização deve prover a fim de atender a uma demanda real (pedidos) e planejada (previsão). Cada software tem sua própria “cara”, isto é, o lay-out de apresentação varia de caso para caso. Mas, segundo Correa, uma forma básica de apresentação dos registros do MRP é dada pela figura abaixo.
Tab. 2.7 – Registro básico do MRP
Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
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Temos, na tabela 2.7, todos os registros necessários para identificar o que fazer com o item em questão:
• Identificação do componente – no exemplo o miolo interno • O lote mínimo de compra ou fabricação – no caso 1 como mínimo • O tempo de obtenção ou produção – lead time – LT • O estoque de segurança - ES, muitas vezes utilizado como proteção
ao sistema produtivo – no caso igual a zero • Os períodos nos quais os eventos devem ocorrer – como já
comentado recomenda-se o uso do calendário de semanas, utilizando como período a semana.
• Necessidades brutas – são as necessidades de disponibilização do item em cada período futuro, que são saídas esperadas de material de estoque.
• Recebimentos programados – são os materiais que chegam à operação, ficando disponibilizados no estoque.
• Estoque disponível projetado – são as quantidades do item que sobram no estoque (após o cálculo de quanto existia no estoque, mais as entradas esperadas e menos as saídas esperadas).
• Recebimento de ordens planejadas – quantidade de material que deverá ficar disponível no início do período correspondente, para atender as necessidades brutas.
• Liberação de ordens planejadas – mostra o período onde as ordens devem ser lançadas e em que quantidade. O lead time é mostrado através do registro da quantidade na linha de recebimento de ordens planejadas.
Por exemplo, se tomarmos as colunas correspondentes aos períodos 4 e 5 da tabela 2.7, teremos a seguinte avaliação:
Período 4: Necessidades brutas = ..........................................................230 Estoque projetado no fim do período 3 = ...............................380 Recebimento de ordens planejadas no período 4 = ...................0 Portanto, o estoque projetado ao fim do período 4 será =.......380 – 230 + 0 = 150 Período 5: Necessidades brutas = ..........................................................400 Estoque projetado no fim do período 4 = ...............................150 Recebimento de ordens planejadas no período 5 = ................250 Portanto, o estoque projetado ao fim do período 5 será =.......150 – 400 + 250 = 150 Observar que a ordem planejada recebida no período 5 havia sido liberada para produção no período 2. Considerando o LEAD TIME de 3 períodos informado na tabela, temos então o recebimento no período 5, atendendo assim a necessidade bruta.
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Para que o MRP funcione de maneira adequada e, principalmente, compreensível, algumas informações devem ser pré-definidas quando da parametrização do programa, durante sua implantação. Tais parâmetros são importantes em função da estratégia a ser seguida pela organização, e compreendem lotes, estoques de segurança e tempos de reposição:
• Lotes mínimos: algumas operações necessitam de um volume mínimo
de produtos para a abertura de ordens de produção, devido a custos operacionais, entre outras razões. Acima da quantidade prevista no lote mínimo, não existe, em princípio, restrições.
• Lotes máximos: outras operações apresentam restrições em termos de
volume de processamento ou de estoque para aguardar processamento (silos de moinhos de trigo, por exemplo), que não permitem que quantidades superiores à de processamento ou de estocagem sejam solicitadas.
• Períodos fixos: definem-se períodos de tempo fixos ao longo do planejamento futuro e, em seguida, no início de cada um desses períodos, planeja o recebimento dos itens necessários para a produção. As ordens de produção podem ser liberadas em períodos pré-definidos.
• Estoque de segurança: todo processo tem incertezas, e no Brasil, com greves em portos que podem durar meses, impedindo a chegada de mercadorias, ou “sinal vermelho” na liberação alfandegária, ou ainda uma máquina que quebra em um fornecedor principal, a possibilidade de atraso na entrega de itens essenciais é bastante provável. Essas inseguranças obrigam aos gestores de manter um estoque de reserva para contingências, que se denomina estoque de segurança. Eventualmente pode-se substituir o estoque de segurança por um tempo de segurança, que considera um tempo de planejamento para obtenção dos itens maior que o real, e dessa forma protegendo a produção quando algo errado acontece. A tabela abaixo mostra um registro de MRP considerando a existência de um estoque de segurança:
Tab. 2.8 – Registro básico do MRP considerando estoque de segurança Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
Observar, por exemplo, no período 4, que mesmo existindo um saldo de 380 itens no fim do período 3, e o recebimento de uma ordem planejada de 50 itens no período 4, o MRP considera a necessidade de manter um estoque de segurança de 200 itens, que resulta no período 4 como estoque projetado.
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• Tempo de obtenção ou LEAD TIME: é o tempo de ressuprimento, ou seja, o tempo gasto desde a liberação das ordens de compra até a disponibilidade do material para consumo da produção.
Até agora apresentamos o MRP aplicado para um item único de determinada estrutura de material, porém já vimos que, como no caso da BIC ou da lapiseira, existem muitos componentes que devem ser planejados para que o lote final de canetas ou lapiseiras seja entregue na data final planejada.
Fig. 2.9 – Parte de estrutura de material a ser analisada e planejada pelo MRP Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
A estrutura acima torna-se muito mais complexa no momento em que tentarmos visualizar todos os registros do MRP correspondentes ao trecho:
Fig. 2.10 – Calculo de necessidades ao longo da estrutura Fonte: CORREA. Administração de produção e operações
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Observar que os suportes da garra e as garras ficam prontos sempre um período antes do miolo interno, e que, por sua vez, o miolo interno e o grafite ficam disponíveis sempre um período antes do término do lote de lapiseiras.
O MRP é, assim, um método que realiza todas as rotinas de cálculo de necessidades, vindo do ponto mais alto da estrutura até o ponto mais baixo, até que todos os itens necessários estejam calculados e planejados. Em resumo, conforme Slack:
O PROCESSO DO MRP 1
• “Explode” o programa – mestre da produção
• Identifica que componentes e montagens são necessárias
• Verifica quando os componentes e montagens necessários
estarão disponíveis
• Para cada componente ou montagem que é necessária, mas não disponível, identifica quando o trabalho de produção precisa começar para que o item esteja disponível até a data requerida
• Gera as ordens de produção e pedidos de compra
• Repete o processo para o próximo nível da lista de materiais
Dessa forma, o MRP 1 consegue atender ao requisito básico de planejar as necessidades de materiais e lançar ordens de produção e pedidos de compra. Todavia, o uso do MRP 1 somente não contempla o uso dos recursos, pois trata dos materiais e considera os tempos de obtenção (lead time) como válidos sempre. Resulta em uma abordagem de capacidade infinita, isto é, a fábrica deveria ser suficientemente “elástica” para acomodar a fabricação das necessidades planejadas fosse quando fosse.
A realidade nas fábricas não é assim, e faz-se obrigatório um ajuste à capacidade disponível, surgindo os gargalos (pontos de estrangulamento do processo, máquinas mais lentas) e os recursos-chaves (processos por si só mais complexos). O programa mestre de produção – MPS, deve então ser ajustado.
Uma forma de fazer tal ajuste é a de utilizar o MRP 1 de ciclo fechado, que ao mesmo tempo que verifica as necessidades de materiais, confere se a capacidade de fabricação correspondente esta disponível, e nos casos onde não se consegue o equilíbrio, realiza-se novamente o ciclo do MRP 1, gerando novos planos corrigidos e adequados ao momento.
MÓDULO 3 – FASCÍCULO 3 Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers
Administração de Suprimentos e Logística 18
Fig. 2.11 – MRP de ciclo fechado
Fonte: SLACKS, Nigel e outros. Administração da produção
Porém o sucesso do seu uso chamou a atenção para a aplicação do conceito nas demais partes das organizações. O criador do MRP, Oliver Wight, definiu o novo MRP, chamado de MRP 2 (MRP II) como sendo: “ Um plano global para o planejamento e monitoramento de todos os recursos de uma empresa de manufatura: manufatura, marketing, finanças e engenharia.” O grande sucesso do sistema esta na integração de informações e sua manutenção ao longo do tempo, ou seja, qualquer mudança em um produto desenvolvida pela engenharia, é imediatamente repassada para as demais áreas, gerando inclusive novas reservas de materiais por suprimentos, e assim por diante. Toda a empresa passa a utilizar o mesmo banco de informações, conforme suas características funcionais, diminuindo a incidência de erros. Porém, como cita Slack, enquanto não existir uma real inteligência artificial, não haverá forma de um computador substituir a inteligência, intuição e experiência local do pessoal de fábrica. Ou seja, o final dos MRP’s sempre irá depender dos gestores para a tomada final de decisões.
Fig. 2.12 – Conceito geral do MRP II Fonte: SLACKS, Nigel e outros. Administração da produção
MÓDULO 3 – FASCÍCULO 3 Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers
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Exercício resolvido A partir do processamento do MRP, Planejamento das Necessidades de Materiais, são geradas as ordens de compra para itens que estão faltando / irão faltar no estoque, os planos de materiais e as ordens de trabalho (ordens de produção). Se tomamos por exemplo a fabricação de um bolo de fubá, a lista de materiais indica quais e quanto de cada produto necessitamos
para fazer o bolo, sem se preocupar com os recursos de transformação (instalações e pessoas) necessários. Mas a observação de uma lista não é tão eficiente como a análise de um desenho que mostra como o produto é composto, denominada estrutura do material. Todavia, para a realização dos cálculos do MRP, faz-se necessário mais informações do que somente a
estrutura do material / produto. Assim sendo, teremos de conhecer e informar ao sistema de cálculo:
a) Quanto fazer, quando entregar, qual a composição por item, qual o tempo de entrega
b) Que qualidade fazer, a que custo, qual o canal de distribuição c) Quando mudar, a que custo entregar o novo, em quanto tempo fazer o novo d) Que processo usar, aonde comprar, que qualidade exigir e) Qual o lead time do item, que canal de distribuição usar, que meio de transporte
selecionar Comentário: O MRP é um processo de análise de necessidades de materiais, que permite indicar necessidades para atender pedidos.