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1 Fatores considerados para escolha de parceiros de pesquisa: uma proposta teórico- metodológica para estudos em redes colaborativas de pesquisa por meio dos capitais simbólicos de Pierre Bourdieu Autoria: Juliana Cristina Teixeira Resumo: Inserindo-se no contexto das redes colaborativas que se estabelecem entre pesquisadores e/ou instituições em determinado campo científico, o presente ensaio teórico visa propor uma opção teórico-metodológica para a investigação e/ou compreensão de quais fatores são considerados por pesquisadores para o estabelecimento de parcerias de pesquisa. Ou seja, quais elementos justificam uma decisão por um parceiro, seja em projetos de pesquisa ou publicação de artigos científicos. Para tanto, recorre-se tanto à postura epistemológica de Bourdieu, em sua mediação entre a estrutura e agência, quanto à forma com que o autor considera o campo (especificamente o campo científico). Além disso, subjacente à noção de campo, utiliza-se a noção de habitus. Ainda, como conceito central, propõe-se a utilização da noção de capitais simbólicos de Bourdieu para a determinação das variáveis que estariam envolvidas em um processo de escolha de parceiros de pesquisa. Assumindo, pois, tal proposição, considera-se a importância da agência em meio às determinações estruturais do campo científico, em que os agentes empreenderiam estratégias direcionadas para a aquisição de lucro simbólico dentro do campo. A proposta visa uma compreensão dos fatores para escolha de parcerias por meio dos capitais propostos por Bourdieu: econômico, cultural e social, os quais podem se reverter em capital simbólico dentro do campo que se estuda. Quanto à utilização da perspectiva de poder simbólico de Bourdieu (cuja dinâmica aqui é empreendida pelos conceitos de habitus, campo e capital) para o estudo de redes, aproveita-se uma lacuna apontada por Emirbayer e Johnson (2008). Trata-se de um aproveitamento apenas parcial da natureza relacional do capital mesmo nos estudos de redes sociais. Além disso, é por meio da teoria de redes que se torna possível compreender melhor as formas de poder e dominação descritas por Bourdieu (DUBOIS, 2005). Ainda, a teoria de Bourdieu pode possibilitar uma visão inovadora do que se passa no interior do campo (THIRY-CHERQUES, 2006). Por fim, ressalta-se que a escolha pela perspectiva de Bourdieu para a análise do presente objeto de estudo tem como simples pretensão viabilizar uma forma diferente de se compreender os fenômenos a serem estudados, considerando que “[...] compreender não é compreender melhor, nem saber mais, no sentido objetivo, em virtude de conceitos mais claros [...]. Bastaria dizer que, quando se logra compreender, compreende-se de um modo diferente” (GADAMER, 1997, p. 444).

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Fatores considerados para escolha de parceiros de pesquisa: uma proposta teórico-metodológica para estudos em redes colaborativas de pesquisa por meio dos capitais

simbólicos de Pierre Bourdieu

Autoria: Juliana Cristina Teixeira

Resumo: Inserindo-se no contexto das redes colaborativas que se estabelecem entre pesquisadores e/ou instituições em determinado campo científico, o presente ensaio teórico visa propor uma opção teórico-metodológica para a investigação e/ou compreensão de quais fatores são considerados por pesquisadores para o estabelecimento de parcerias de pesquisa. Ou seja, quais elementos justificam uma decisão por um parceiro, seja em projetos de pesquisa ou publicação de artigos científicos. Para tanto, recorre-se tanto à postura epistemológica de Bourdieu, em sua mediação entre a estrutura e agência, quanto à forma com que o autor considera o campo (especificamente o campo científico). Além disso, subjacente à noção de campo, utiliza-se a noção de habitus. Ainda, como conceito central, propõe-se a utilização da noção de capitais simbólicos de Bourdieu para a determinação das variáveis que estariam envolvidas em um processo de escolha de parceiros de pesquisa. Assumindo, pois, tal proposição, considera-se a importância da agência em meio às determinações estruturais do campo científico, em que os agentes empreenderiam estratégias direcionadas para a aquisição de lucro simbólico dentro do campo. A proposta visa uma compreensão dos fatores para escolha de parcerias por meio dos capitais propostos por Bourdieu: econômico, cultural e social, os quais podem se reverter em capital simbólico dentro do campo que se estuda. Quanto à utilização da perspectiva de poder simbólico de Bourdieu (cuja dinâmica aqui é empreendida pelos conceitos de habitus, campo e capital) para o estudo de redes, aproveita-se uma lacuna apontada por Emirbayer e Johnson (2008). Trata-se de um aproveitamento apenas parcial da natureza relacional do capital mesmo nos estudos de redes sociais. Além disso, é por meio da teoria de redes que se torna possível compreender melhor as formas de poder e dominação descritas por Bourdieu (DUBOIS, 2005). Ainda, a teoria de Bourdieu pode possibilitar uma visão inovadora do que se passa no interior do campo (THIRY-CHERQUES, 2006). Por fim, ressalta-se que a escolha pela perspectiva de Bourdieu para a análise do presente objeto de estudo tem como simples pretensão viabilizar uma forma diferente de se compreender os fenômenos a serem estudados, considerando que “[...] compreender não é compreender melhor, nem saber mais, no sentido objetivo, em virtude de conceitos mais claros [...]. Bastaria dizer que, quando se logra compreender, compreende-se de um modo diferente” (GADAMER, 1997, p. 444).

 

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1. Introdução

A rede colaborativa é um tipo de rede caracterizado pela presença de entes e de financiamento públicos. Seu foco é a criação e difusão de tecnologia (SEBÁTIAN, 1999), buscando o atendimento de objetivos que são definidos em programas políticos. Sendo, pois, arranjos formados por entes públicos, são predominantemente acadêmicas, e estão sujeitas a uma regulação informal, caso forem comparadas com arranjos privados nos quais predominam uma natureza contratual típica (ARAÚJO, 2008). São ainda objetos de estudo para uma análise da evolução de campos do saber, e para estudos dentro do âmbito da sociologia da ciência (SCHOEPFLIN; GLÄNZEL, 2001). De acordo com Araújo (2008), na literatura internacional tomam a forma de Centros de Pesquisas (Research Centers). São redes atrativas para pesquisa, dado que se tornam um padrão difundido em política pública de P&D (ARAÚJO, 2008), além do caráter público de suas informações, o que permite um acesso facilitado às mesmas (KATZ; MARTIN, 1997). Desse modo, se tornam objeto de estudo de várias pesquisas.

A título de exemplo é possível [...] indicar o trabalho de Moody (2004), que estudou a tipologia da estrutura de co-autoria americana em sociologia, enquanto Chen et al. (2008) examinaram os impactos do Capital Social na criatividade de time de P&D, usando uma amostra de 54 projetos de alta tecnologia, em Taiwan. No Brasil, Parreiras et al. (2006) pretendem montar um banco de dados sobre a rede de pesquisa em ciência da informação. Aguiar (2003) estudou a percepção de pesquisadores imersos em redes de pesquisa em Minas Gerais, quanto à motivação, dinâmica e consecução de objetivos em trabalhos cooperados. Braga et al. (2008) utilizaram os anais do Enanpad para estudar a formação de padrões nas estruturas de disseminação do conhecimento acadêmico na área de administração da informação (ARAÚJO, 2008, p. 08).

O que justifica geralmente a existência desse modo específico de arranjo é a crença de que a eficiência em pesquisas seria aumentada pela existência de ligações entre pesquisadores e instituições de pesquisa, em uma resposta à imagem dos centros de pesquisas e universidades como detentores de conhecimentos e capacidades que são insuficientemente explorados (AGUIAR, 2003). Adequando-se a essa lógica, Rigby e Edler (2005) observaram a correlação existente entre o aumento do índice de colaboração entre pesquisadores com a diminuição da variabilidade da qualidade da pesquisa. Motivos apontados para a colaboração em pesquisa são (1) a necessidade de acesso a conhecimento, equipamentos e recursos; (2) necessidade de encorajar a fertilização cruzada entre disciplinas; (3) de aumento de produtividade e de especialização da ciência; (4) por divertimento ou prazer (BOZEMAN e CORLEY, 2004); (5) desejo de aumentar o número de publicações; (6) de aumentar as inovações; (7) de melhorar a qualidade do ensino e a empregabilidade dos estudantes; e (8) de construir uma rede de colaboradores (LANDRY e AMARA, 1998). Não sendo então a cooperação natural, para que tais redes possam funcionar, ressalta-se a necessidade de criação de uma estrutura que integre todo o conjunto. Além disso, configurando o que seria aqui a doxa e o nomos presentes no campo, torna-se necessário definir as regras, consolidar os valores e harmonizar as percepções de seus integrantes para que os objetivos sejam compartilhados (AGRANOFF e MACGUIRE, 2001). Como características das redes colaborativas freqüentemente apontadas pelos estudos estão (1) a concentração da publicação de uma grande parte dos artigos por pequeno número de pesquisadores; (2) a concentração de um grande número de parceiros por um pequeno número de pesquisadores, enquanto a maioria possui um número de parceiros significativamente menor; (3) a distância média entre os pesquisadores é pequena, sendo

 

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representada pelo número de ligações de um ponto a outro da rede, o que facilita a disseminação de informações; (4) o menor caminho entre dois pontos geralmente passa por poucos pesquisadores mais bem conectados; (5) a maior parte dos pesquisadores está conectada de alguma forma entre si; (6) são redes que não correm riscos imediatos de fragmentação; (7) e são distintas dependendo do campo em que atuam (ARAÚJO, 2008). Inserindo-se no contexto das redes colaborativas que se estabelecem entre pesquisadores e/ou instituições em determinado campo científico, o presente ensaio teórico visa propor uma opção teórico-metodológica para a investigação e/ou compreensão de quais fatores são considerados por pesquisadores para o estabelecimento de parcerias de pesquisa. Ou seja, quais elementos justificam uma decisão por um parceiro, seja em projetos de pesquisa ou publicação de artigos científicos. Para tanto, recorre-se tanto à postura epistemológica de Bourdieu, em sua mediação entre a estrutura e agência, quanto à forma com que o autor considera o campo (especificamente o campo científico). Além disso, subjacente à noção de campo, utiliza-se a noção de habitus. Ainda, como conceito central, propõe-se a utilização da noção de capitais simbólicos de Bourdieu para a determinação das variáveis que estariam envolvidas em um processo de escolha de parceiros de pesquisa. Assumindo, pois, tal proposição, considera-se a importância da agência em meio às determinações estruturais do campo científico, em que os agentes empreenderiam estratégias direcionadas para a aquisição de lucro simbólico dentro do campo.

2. O Campo Científico na visão de Pierre Bourdieu

Bourdieu (1989) define campo como sendo um universo relativamente autônomo de

relações específicas, ou seja, é um espaço estruturado com regras próprias de funcionamento e com suas próprias relações de força (ROSA, 2007). Desta forma, a noção de campo traduz a concepção social do autor (SETTON, 2002), considerando a sociedade como sendo composta por vários campos diversos, vários espaços dotados de uma autonomia relativa, com regras e características próprias que lhe conferem particularidades (BOURDIEU, 1996). Ou seja, são “microcosmos sociais, com valores (capitais, cabedais), objetos e interesses específicos” (BOURDIEU, 2004, p. 32), demonstrando a visão de uma sociedade heterogênea. O campo social é uma configuração da distribuição desigual de diferentes tipos de capital (MISOCZKY, 2003), no qual os agentes e instituições se enfrentam de acordo com suas posições relativas dentro de seu espaço, conservando ou transformando a estrutura desse campo (BOURDIEU, 1996; BOURDIEU, 2004).

Considerando que, para Bourdieu, o agente só se integra em um campo se agir com as armas deste próprio campo; e que é este campo que define a estrutura do jogo, vale aqui discutir algumas características ou propriedades do que seria o campo científico na visão do autor.

Diz-se que o universo da ciência se submete às mesmas leis gerais da teoria dos campos, assumindo ao mesmo tempo formas específicas no interior desse campo. De acordo com Bourdieu, o campo científico é

[...] o lugar e o espaço de uma luta concorrencial. O que está em luta são os monopólios da autoridade científica (capacidade técnica e poder social) e da competência científica (capacidade de falar e agir legitimamente, isto é, de maneira autorizada e com autoridade) que são socialmente outorgadas a um agente determinado (BOURDIEU, 2003, p. 112).

E no qual os agentes seriam, nesse caso, desigualmente capazes de se apropriar do produto de um trabalho científico. Dessa forma, Bourdieu (2003) afirma que o universo puro da mais pura ciência é um campo social como outro qualquer, dotado de relações de força,

 

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lutas, estratégias, interesses e lucros, os quais se revestem, contudo, de formas específicas. Assim, considerar o campo científico sobre as lentes de Bourdieu implica em romper com uma imagem de concorrência pura e perfeita das idéias, em que as verdadeiras é que ganhariam o jogo. Implica, pois, em considerar que o funcionamento desse campo pressuponha uma forma específica de interesse e que, dessa forma, as práticas científicas sejam “desinteressadas apenas quando referidas a interesses diferentes, produzidos e exigidos por outros campos” (BOURDIEU, 2003, p. 113).

Dessa forma, assume-se que os interesses por uma atividade científica no campo tem sempre dupla face, haja vista que as práticas científicas são orientadas para a aquisição de autoridade científica, como prestígio, reconhecimento e celebridade. Conseqüentemente, as estratégias direcionadas para a satisfação de tais interesses também terão dupla face.

Como em outros campos, a importância desse reconhecimento também é destacada no campo científico, pois um pesquisador não é motivado apenas por sua satisfação intrínseca, pois “seu trabalho não deve ser interessante somente para ele, mas deve ser também importante para os outros” (BOURDIEU, 2003, p. 115). Assim, “o que é percebido como importante e interessante é o que tem chances de ser reconhecido da mesma forma por outros, aquilo com possibilidades de fazer aparecer aquele que o produz como importante e interessante aos olhos dos seus pares” (BOURDIEU, 2003, p. 115).

Nesse campo, a percepção social vai além de questões puramente técnicas por envolver julgamentos simbólicos, sendo que o próprio julgamento sobre a capacidade técnica de um pesquisador está contaminado pelo conhecimento da posição que este ocupa nas hierarquias instituídas, tais como as escolas e universidades pelas quais tenha passado ou esteja atuando (BOURDIEU, 2003).

Em se tratando de um campo científico referente a uma rede de pesquisas da qual universidades fazem parte, é importante considerar que, também para este campo acadêmico ou universitário, como outros campos simbólicos, Bourdieu (2004) considera a existência de um campo de luta no qual se opõem interesses de ordem simbólica. Pois, segundo o autor,

[...] a universidade também é o lugar de uma luta para saber quem, no interior desse universo socialmente mandatário para dizer a verdade sobre o mundo social (e sobre o mundo físico), está realmente (ou particularmente) fundamentado para dizer a verdade (BOURDIEU, 2004, p. 116).

Assim, torna-se mais apropriado ressaltar que o foco específico nessa dimensão simbólica para o estudo do objeto escolhido pode representar justamente a contribuição em potencial da presente pesquisa, já que a conquista de prestígio dentro do campo escolhido depende de aprovações de projetos de pesquisa, por exemplo. E para que tais aprovações ou publicações ocorram, torna-se necessário que os agentes estejam aptos a “jogar o jogo” e tentar a aquisição dos capitais que são valorizados dentro do campo para que os projetos de pesquisa sejam financiados. E é na perspectiva de Bourdieu que se encontram as ferramentas analíticas para o estudo sob esta ótica, considerando, portanto, que Como microcosmos,

os campos (filosófico, literário, artístico, jurídico, religioso, científico etc.) constituem mundos sociais idênticos, dotados de concentrações de poder e capital, monopólios, relações de força, conflitos e, ao mesmo tempo, universos de exceção, quase miraculosos, nos quais as máscaras da razão se encontram entranhadas na realidade das estruturas e das disposições. Cumpre, assim, focalizar as formas específicas de interesse, de energia, de pulsão, de investimento, que orientam os agentes em suas lutas pela conquista das moedas correntes em cada um deles (MICELI, 2003, p. 72).

Na presente análise, tais moedas seriam os requisitos para que projetos de pesquisa

sejam aprovados pelas instituições financiadoras. E, por intermédio destes requisitos, os

 

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capitais que são valorizados dentro do campo para que um pesquisador escolha outro parceiro de pesquisa, para que este compartilhe, sendo o projeto aprovado, da legitimidade alcançada de se agir e de se falar no que se refere à produção de um conhecimento científico.

Sob uma perspectiva então que não pretende assumir uma filosofia idealista em que a ciência se desenvolveria de acordo com sua lógica imanente, os citados investimentos que orientam os agentes em suas estratégias dentro do campo se organizam conforme uma antecipação consciente ou inconsciente das chances de lucro em função do capital acumulado (BOURDIEU, 2003). Como afirma Bourdieu (2003, p.123-124):

Num determinado estado do campo, os investimentos dos pesquisadores se apóiam tanto na sua importância (medida, por exemplo, em tempo dedicado à pesquisa) quanto na sua natureza (particularmente no grau do risco assumido), na importância de seu capital atual e potencial de reconhecimento e sua posição atual e potencial no campo. Segundo uma lógica freqüente, as aspirações – chamadas muitas vezes de ambições científicas – são tanto mais altas quanto o capital de reconhecimento é elevado: a posse do capital que o sistema escolar confere sob a forma de um título raro, desde o começo da carreira científica, implica e supõe [...] a busca de objetivos elevados, socialmente desejados e garantidos por esse título.

Assim, já que o autor afirma que, por exemplo, a escolha por problemas de pesquisa pelos pesquisadores, atende àqueles que são considerados mais importantes; nessa mesma lógica, a escolha por parceiros de pesquisa também pode se concentrar em uma decisão que propicie um lucro simbólico mais importante, podendo tal lucro estar relacionado a qualquer um dos tipos de capitais, desde que estes sejam efetivados como simbólicos dentro do campo. A busca por esse lucro, no caso específico, pode vir como resultado da manutenção de estratégias já presentes, em um campo no qual a competição se destaca (da forma como o campo científico é tratado por Bourdieu), mas que, contudo, demanda a formação de parcerias e a cooperação entre os pesquisadores. Já que a lógica da própria rede depende dessa interação, mesmo que essa rede, se inserindo em um campo científico, seja também caracterizada da mesma forma que ele o é. O que ocorre especificamente no âmbito então da rede de pesquisa científica é a tentativa de resguardar as mesmas características inerentes a um campo científico da forma como se descreve, porém, tendo que responder à demanda por cooperação.

Dessa forma, uma simples relação estabelecida por critérios de afinidade, por exemplo, aparentemente desinteressada, pode relacionar-se à existência, no campo, de uma valorização do capital social, o qual poderia ser um meio para a obtenção do próprio reconhecimento pelos pares. Dessa forma, “não há escolha científica [...] que não seja uma estratégia política de investimento objetivamente orientada para a maximização do lucro científico, a obtenção do reconhecimento dos pares-concorrentes” (BOURDIEU, 2003, p. 116).

Além do mais, “o pesquisador depende também de sua reputação junto aos colegas para obter fundos para pesquisa, atrair estudantes de qualidade, conseguir subvenções e bolsas, convites, consultas, distinções” (BOURDIEU, 2003, p. 121). O interessante é que essa aura de competição se choca justamente com a necessidade de cooperação relacionada ao ambiente de uma rede de pesquisa, cuja execução de pesquisas fica condicionada à formação de equipes de trabalho, à formação de parcerias que pareçam, aos avaliadores de projetos referentes a editais, uma equipe consolidada em termos de capacitação para a execução do projeto.

Bourdieu (2003) discute a lógica da distinção presente no campo científico, em que acumular capital é fazer um nome conhecido e reconhecido, uma marca distintiva do pesquisador. Afirma até que tal lógica se mantenha no caso de assinaturas múltiplas em pesquisas. Pois o trabalho em equipe, nesse caso, reduziria o valor distintivo a ser atribuído a cada um dos integrantes. Como forma de manter a distinção, o autor enfatiza a estratégia dos agentes relacionada ao estabelecimento de uma ordem na qual os pesquisadores são citados,

 

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ou seja, em que seu nome consta na autoria de artigos científicos publicados, por exemplo. Tal ordem minimizaria, então, a perda de valor distintivo pelos pesquisadores.

Diante dessa possibilidade de estratégias dos agentes, a agência continua, dessa forma, a se manter importante também para o campo científico. Além disso, as suposições de Bourdieu revelam aproximações dos próprios valores e tradições do campo com as estratégias dos agentes, o que seria um exemplo prático do interesse no aparente desinteresse. Dessa forma,

O mercado dos bens científicos possui leis que nada têm a ver com a moral. Arriscamo-nos a utilizar na ciência das ciências (sob diversos nomes eruditos) aquilo que os agentes [...] chamam de valores ou tradições da comunidade científica se não soubermos reconhecer como tais as estratégias que (nos universos onde se tem interesse no desinteresse) tendem a dissimular outras estratégias. Essas estratégias de segunda ordem, pelas quais nos colocamos dentro das regras, permitem acrescentar às satisfações do interesse bem-compreendido os lucros mais ou menos universalmente prometidos às ações cuja determinação aparente é a do respeito puro e desinteressado da regra (BOURDIEU, 2003, p. 122).

Com essa afirmação, pode-se empreender que até mesmo o nomos do campo seria também fruto de estratégias (des)interessadas dos agentes. O que provavelmente lhes dá o status de regra ou lei do campo é, não só o fato de ser compartilhado, ou de também já ter assumido algum caráter institucional, como também o fato de sua “determinação” preceder a entrada de novos agentes, por exemplo, que já estariam “submetidos” às regras e padrões já anteriormente criados. O que não implica, contudo, na não existência de estratégias dos agentes direcionadas para sua alteração, ou até mesmo manutenção. A diferenciação desses dois objetivos poderia ser obtida pela análise da posição que o agente ocupa no campo. Ou seja, dada a distribuição de capitais no campo, os valores já existentes favoreceriam ou não esse determinado agente?

Dessa forma, tanto os interesses quanto as estratégias empreendidas pelos agentes para satisfazê-los dependem da posição que estes ocupam no campo, o capital científico que detêm, e o poder que este capital lhe confere em relação à produção e circulação científicas. Assim, como a posição influencia o tipo de estratégia, dominantes e aspirantes recorrerão a estratégias logicamente opostas (BOURDIEU, 2003). O seguinte esquema sintetiza a forma como Bourdieu (2003) trata as estratégias dos pesquisadores sob cada uma das lógicas:

Figura 01: Estratégias dos pesquisadores em relação à ordem científica estabelecida

Fonte: elaborado pela autora com base em Bourdieu (2003).

 

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O esquema demonstra que: Os dominantes recorrem a estratégias de conservação para manter a ordem científica

com que compactuam; A ordem científica é constituída pela ciência oficial e pelo sistema de ensino. A

ciência oficial compreende os recursos científicos objetivados, como instrumentos, obras e instituições; e os recursos científicos incorporados, que são os habitus científicos, enquanto esquemas de percepção, apreciação e ação, que orientam as escolhas referentes às pesquisas. Já o sistema de ensino compreende o conjunto de instituições que são responsáveis pela permanência e consagração da ciência oficial, inculcando, por meio de ação pedagógica, os habitus científicos aos novatos;

Esses mesmos novatos, ao se inserirem no campo de pesquisa, tomam a posição de aspirantes (em relação aos dominantes), assumindo uma lógica oposta de ação, podendo empreender estratégias de sucessão ou de subversão. As primeiras mais seguras, por meio da adoção do ideal de excelência científica já estabelecido pela ordem. Já as últimas são estratégias mais arriscadas e de altos investimentos, que vão contra a lógica do sistema.

Tais estratégias se relacionam também ao fato de existir, no campo, uma “retórica de cientificidade pela qual a comunidade dominante produz a crença no valor científico de seus produtos e na autoridade científica de seus membros” (BOURDIEU, 2003, p. 141).

3. A noção de habitus na visão de Pierre Bourdieu

Bourdieu buscou um conceito que fizesse com que as estruturas sociais deixassem de ser vistas como externas e independentes dos indivíduos e passassem a ser abordadas como um conjunto de ações e relações sociais do mundo social. Nessa perspectiva, a relação social entre os indivíduos seria também uma relação de crenças, valores e idéias aprendidas por eles ao longo de suas vidas (ROSA, 2007). Bourdieu chamou de habitus esse conjunto de comportamentos aprendidos e estruturadores da ação. Compreender o habitus quando se utiliza seu conceito para a pesquisa científica é importante, dado que, para Bourdieu, a noção do habitus é

[...] um modo estenográfico de designar uma postura de investigação, ao apontar um caminho para escavar as categorias implícitas através das quais as pessoas montam continuadamente o seu mundo vivido, que tem informado pesquisas empíricas em torno da constituição social de agentes competentes numa gama variada de quadros institucionais (WACQUANT, 2007, p. 14).

Ao esboçar uma reconstituição da gênese da noção de habitus com base na obra de Bourdieu, Wacquant (2007) afirma que habitus é uma noção filosófica antiga, que teve origem com o pensamento de Aristóteles e com a Escolástica medieval, sendo recuperada e retrabalhada por Bourdieu com o intuito de forjar uma teoria disposicional da ação que fosse capaz de trazer novamente à antropologia estruturalista a agência (a capacidade inventiva dos agentes). A filosofia disposicional da ação permitiu também uma propulsão dos “socialmente constituídos e individualmente incorporados esquemas de percepção e apreciação” (WACQUANT, 2002, p. 98). O conceito de habitus, para Bourdieu, seria então um sistema de disposições duráveis, transferíveis e socialmente constituídas que são incorporados a um agente ou a um conjunto de agentes, acabando por orientar e dar significado às suas ações e representações, ou seja, funcionando como um princípio gerador e organizador de práticas e de representações. Faz uma mediação entre as estruturas sociais e as práticas individuais (BOURDIEU, 1983, 1989). Assim, a partir do autor, a noção do habitus surge de uma “necessidade empírica de apreender

 

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as relações de afinidade entre o comportamento dos agentes e as estruturas e condicionamentos sociais” (SETTON, 2002, p. 62). Os habitus são os princípios geradores de práticas distintas, como por exemplo, o que o trabalhador come e, sobretudo, sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, e assim por diante (BOURDIEU, 1996). São disposições, gestos, modos de perceber, de sentir, pensamentos, formas de estar, de fazer, que os indivíduos incorporam de tal forma que já não têm consciência. O habitus acaba constituindo, assim, a forma com que o indivíduo percebe, julga e valoriza o mundo. Vale ressaltar que suas disposições não são mecânicas e nem mesmo determinísticas, são plásticas e flexíveis, podendo ser fortes ou fracas (THIRY-CHERQUES, 2006).

Bourdieu afirma que o habitus (1) resume uma aptidão natural mas social, sendo variável de acordo com o tempo e o lugar e principalmente, de acordo com as distribuições de poder (BOURDIEU, 1979/1984); (2) é durável mas não estático nem eterno, ou seja, pode ser modificado, pois as disposições sociais podem ser corroídas, contrariadas ou desmanteladas; (3) porém, possui uma inércia incorporada, pois produz práticas moldadas depois das estruturas sociais que os geraram; (4) introduz um hiato entre as determinações passadas que o produziram e as determinações atuais que o interpelam, pois o habitus

[...] é aquilo que confere às práticas a sua relativa autonomia no que diz respeito às determinações externas do presente imediato. Esta autonomia é a do passado, ordenado e actuante, que, funcionando como capital acumulado, produz história na base da história e assim assegura que a permanência no interior da mudança faça do agente individual um mundo no interior do mundo (Bourdieu 1980/1990, p. 56).

4. Capitais simbólicos na visão de Pierre Bourdieu

Para compreender como as estruturas de poder são traçadas e investigadas de maneira

sistemática em uma configuração de relações de poder, o conceito de capital deve ser incluído, pois além de sua interdependência com o conceito de campo, (EMIRBAYER & JOHNSON, 2008), ele é o elemento central das disputas entre os agentes.

Bourdieu deriva o conceito de capital que utiliza da noção econômica, em que há as noções de acumulação por operações de investimento, de extração de lucro, de transmissão por herança e de reprodução de acordo com a habilidade de investimento de seu detentor (THIRY-CHERQUES, 2006; ROSA, 2007). Porém, em sua concepção social, o conceito de capital ganha outras interfaces para além do econômico, considerando também o capital cultural, o social e o simbólico (BOURDIEU, 1996; 1998, 1998).

Assim, Bourdieu (BOURDIEU, 1996; 1998, 1998) os define da seguinte forma:

a) Capital econômico: formado pelos fatores de produção (terra, fábrica e trabalho) e de recursos econômicos (renda, patrimônio, bens materiais);

b) Capital cultural: compreende o conhecimento, as habilidades possuídas, as informações detidas, que correspondem ao conjunto das qualificações intelectuais produzidas e transmitidas por meio da família e das instituições escolares. O capital cultural adquire três formas: (1) o estado incorporado, como uma disposição durável do corpo (exemplo: falar outro idioma, a forma de se apresentar em público, talentos); (2) o estado objetivo, como a posse de bens culturais (exemplo: posse de obras de arte); e (3) o estado institucionalizado, que é o sancionado por instituições, como títulos acadêmicos (exemplo: diploma universitário);

c) Capital social: formado pela rede durável de relações (mais ou menos institucionalizadas) de interconhecimento e conhecimento mútuo, que corresponde ao conjunto de acessos sociais e redes de contatos que se possui (exemplo: círculo de

 

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amigos, colegas de faculdade, convites recíprocos). Um quantum social que determina a posição de um agente no campo, sendo que Bourdieu trata do capital social mais voltado para uma dimensão individual;

d) Capital simbólico: relaciona-se ao conjunto de rituais de honra e reconhecimento social, ou seja, trata-se do conhecimento e reconhecimento dos capitais anteriores segundo sua importância em cada campo, sendo, portanto, uma síntese dos demais capitais.

São essas formas de capital que estruturam o espaço social, e por isso ele se torna

diferenciado e hierarquizado, devido à sua desigual distribuição (BOURDIEU, 1989; 1996). Os capitais são, assim, tipos específicos de poder que são ativos em um dado campo de forças e de lutas, sendo simultaneamente instrumentos e objetos de disputa.

Sobre o capital simbólico, afirma-se que o mesmo “refere-se à acumulação de prestígio, honra, consagração” (CARVALHO & VIEIRA, 2007, p.28). São sinais de distinção, capitais que foram percebidos e reconhecidos como legítimos em um dado campo, distinguindo as posições relativas dentro do mesmo. Desta forma, “a noção de poder simbólico não se caracteriza pela posse de um recurso ou propriedade objetiva [...], mas pelo reconhecimento desse recurso, propriedade ou capital, pelos outros atores sociais” (CARVALHO & VIEIRA, 2007, p. 28). Tal reconhecimento faz com que os vários tipos de capitais se convertam em capital simbólico, conversão esta que ocorre de forma particular em cada campo e, ainda, sob certas condições. Ainda, um capital é conversível no outro, podendo tanto haver, por exemplo, uma conversão de capital econômico em capital simbólico, quanto vice-versa (BOURDIEU, 2004).

Conhecendo então os conceitos de habitus, campo e capital, compreende-se que o que acontece dentro do campo é uma expressão simbólica e tradução de sua própria lógica interna, e não um reflexo de pressões externas, pois a história própria do campo, ou seja, o que compõe o habitus, acabam por funcionar como prisma para os acontecimentos exteriores (BOURDIEU, 2004). Dessa forma, as influências externas a um campo, como fatores econômicos e políticos, por exemplo, são mediadas pela estrutura particular de cada campo, fazendo com que este seja relativamente autônomo, estabelecendo suas próprias regras, “embora sofra influências e até mesmo seja condicionado por outros campos [..]” (BOURDIEU, 2004, p. 126).

5. A proposta teórico-metodológica para o estudo de fatores para escolha de

parceiros de pesquisa

Após a discussão no referencial teórico dos conceitos que aqui serão trabalhados – campo, capital, habitus e, especificamente, campo científico– torna-se possível uma síntese reforçando o modo como a perspectiva teórica utilizada dialoga com o fenômeno a ser estudado. É relevante, previamente à fase empírica da pesquisa, o esforço de descrição do modelo teórico de análise porque Bourdieu trata o empírico, “desde o recorte do real a ser examinado até as formulações de questões, a partir de uma teorização prévia” (THIRY-CHERQUES, 2006, p. 46). Assim, define-se que o modelo de análise empregado assume, como proposições, que

A rede de pesquisa é um espaço social de diferenciação dos agentes, enquanto campo resultado de relações de poder e disputas de interesses, e seu funcionamento depende da existência de objetos de disputa (como a aprovação de projetos de pesquisa) e de pessoas prontas para disputar o jogo (pesquisadores);

 

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a posse de certos capitais (cultural, social, econômico e simbólico) e o conjunto de relações históricas (o habitus) de cada pesquisador condicionam seu posicionamento em um espaço de distinções simbólicas;

as leis (nomos) que governam a rede, como por exemplo as regras contidas em editais de pesquisa, influenciam o tipo de capital que será objeto de disputa entre os agentes;

o habitus dos pesquisadores leva ao conhecimento e reconhecimento das leis imanentes no jogo bem como dos objetos de disputa;

os pesquisadores internalizaram disposições e crenças de modo diferenciado, ou seja, sua forma de ser e de conhecimento do mundo são diferentes, ainda que estejam submetidos às mesmas condições estruturais do campo em que estão inseridos;

as escolhas dos pesquisadores por parceiros são produtos da relação entre um habitus e as pressões e estímulos de uma conjuntura;

os pesquisadores são agentes ativos e atuantes, e não simples fenômenos da estrutura, enxergando também sua ação a partir de um caráter intencional;

O modelo aqui utilizado, apesar de não poder ser chamado dessa forma, já que a teoria que Bourdieu submete à análise empírica não é um modelo, mas sim um referencial de conceitos relacionais: o campo, o habitus, o capital, e estratégia e outros (THIRY-CHERQUES, 2006). Além disso, devem ser seguidas algumas etapas utilizadas por Bourdieu no desenvolvimento de seus trabalhos de pesquisa, que são descritas por Thiry-Cherques (2006, p. 42), tais como:

a) “marcação de um segmento do social com características sistêmicas (campo)”, tratando-se da escolha da rede de pesquisa como campo específico a ser analisado, dentro de um campo maior, o das redes de pesquisa e, em seguida, do campo científico;

b) “construção prévia do esquema das relações dos agentes e instituições objeto do estudo (posições)”, por meio da construção de sociogramas formados pelas parcerias de pesquisa estabelecidas;

c) “decomposição de cada ocorrência significativa, característica do sistema de posições do campo (doxa, illusio...)”, por meio de entrevistas e pesquisa documental, que embora não permitam uma apreensão significativa da doxa, nomos e illusio do campo estudado, permitem a análise de alguns de seus elementos.

d) “síntese da problemática geral do campo”. Para a identificação dos capitais que se convertem em capital simbólico dentro do campo,

após a construção do quadro de referências baseado na obra de Bourdieu e também levando em consideração alguns resultados obtidos por Araújo (2008) quanto a critérios considerados importantes para parceria no Consórcio de pesquisa que estudou, descrevem-se as seguintes variáveis a serem consideradas para o presente estudo:

Tabela 1. Fatores possivelmente determinantes para a escolha de parceiros de pesquisa

Tipo de capital

Fatores (variáveis) Critério importante para parceria

Lógica de mobilização dos agentes

Lógicas relacionadas a elementos de caráter:

Capital econômico

- Nível de apropriação pelo pesquisador das verbas da rede; - Facilidade do pesquisador em obter acesso a recursos e

- Acesso a meios requeridos para a pesquisa; - Possibilidade de aprovação do projeto.

- Lógica da dependência de recursos.

Estrutural

 

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financiamentos; - Recursos detidos pela instituição do pesquisador.

Capital cultural

- Estado incorporado: conhecimentos, habilidades e experiência do pesquisador; - Estado objetivo: informações detidas (não em nível de conhecimento) e prêmios adquiridos pelos pesquisador; - Estado institucionalizado: qualificações intelectuais do pesquisador representadas pelas titulações acadêmicas que possui; - Qualificações e especializações da instituição do pesquisador.

- Complementaridade de competências; - Interesses comuns - Possibilidade de aprovação do projeto; - Acesso a meios requeridos para pesquisa.

- Lógica da dependência de recursos; - Lógica do ambiente científico.

Estrutural

Capital social

- Relação de amizade estabelecida com o pesquisador; - Rede de contatos possuída pelo pesquisador; - Rede de contatos estabelecida pela instituição do pesquisador.

- Interesses comuns; - Amizade; - Proximidade física.

- Lógica afetiva; - Lógica da proximidade física; - Lógica do mundo pequeno; - Lógica histórica; - Lógica voltada ao sucesso.

Subjetivo

Capital simbólico

- Prestígio e reconhecimento detido na rede pelo pesquisador e/ou sua instituição.

- Reputação - Possibilidade de aprovação do projeto - Acesso a meio requeridos para pesquisa

- Lógica da dependência de recursos; - Lógica voltada ao sucesso.

Subjetivo

Fonte: Adaptado pela autora com base em Araújo (2008)

Importante ressaltar que a variável relacionada ao capital simbólico pode assumir a forma de todos os outros tipos de capitais que se convertam em simbólico por meio do processo de conhecimento e reconhecimento. Assim, quando dos resultados da pesquisa se obtiver os tipos de capitais mais valorizados na rede, sejam econômicos, sociais ou culturais, pode-se dizer que estes funcionam como capitais simbólicos, conferindo status, prestígio e poder aos pesquisadores.

6. Considerações finais

Acredita-se também que a teoria de Bourdieu possa “propiciar outro olhar sobre o tema da ação social [...], e que este outro olhar pode propiciar diferente compreensão dos fenômenos organizacionais” (MISOCZKY, 2003, p. 11), já que se trabalha no presente estudo com instituições nas quais ocorrem fenômenos característicos de organizações de cunho

 

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científico. Ainda, a análise organizacional tem muito a explorar dos escritos de Bourdieu, pois estes fornecem contribuições tanto teóricas quanto empíricas para os estudos organizacionais. E, apesar dos conceitos de campo e de capital simbólico serem já conhecidos na literatura organizacional, os mesmos ainda não são suficientemente explorados (EMIRBAYER e JOHNSON, 2008). Assim, a relevância da perspectiva de Bourdieu especificamente para o conhecimento de fatores considerados por pesquisadores para escolherem parceiros de pesquisa se dá também pela possibilidade de compreensão, por meio da teoria do autor, de que a lógica intrínseca aos gostos e preferências dos agentes é submetida à lógica interna de cada campo tomado em uma relação simbólica, o que fica evidente na obra A distinção: crítica social do julgamento (BOURDIEU, 2007). Assim, no que se refere a considerar uma rede de pesquisa como um campo de lutas e forças, tal como propõe Bourdieu sobre os campos sociais, observa-se que há no Consórcio uma dinâmica de lutas por recursos escassos, sendo que alguns pesquisadores vêem, por exemplo, na ampliação da rede de entidades candidatas a recursos uma ameaça à continuidade do Consórcio (ARAÚJO, 2008). Por fim, ressalta-se que a escolha pela perspectiva de Bourdieu para a análise do presente objeto de estudo tem como simples pretensão viabilizar uma forma diferente de se compreender os fenômenos a serem estudados, considerando que “[...] compreender não é compreender melhor, nem saber mais, no sentido objetivo, em virtude de conceitos mais claros [...]. Bastaria dizer que, quando se logra compreender, compreende-se de um modo diferente” (GADAMER, 1997, p. 444).

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