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Flávio Augusto Cotrim-Ferreira Danilo Furquim Siqueira Acácio Fuziy Fechamento de espaços CAPÍTULO 15 INTRODUÇÃO A fase de fechamento de espaços ou fase de retração é aquela que busca a aproximação dos dentes da bateria anterior aos dentes da região posterior de um mesmo arco dental. O espaçamento pode ter sido criado em virtude de três procedimentos ortodônticos rotineiros: o primeiro e mais usual é a extra- ção de dentes permanentes, em geral pré-molares, realizada para incremento do espaço presente na arcada; o segundo é a retração, que pode ser necessá- ria para fechar os espaçamentos do arco dental obtidos pela distalização dos molares em mecânicas de correção de Classe II; e finalmente há outra situação em que há a necessidade de retrações dentais: nos casos de pacientes com diastemas generalizados, quando em geral concentramos todos os espaços na região entre caninos e primeiros pré-molares, para então realizar a retração. É importante salientar que essa fase da terapia somente deverá ser inicia- da após o correto alinhamento e nivelamento dos dentes, a partir do fechamen- to dos diastemas anteriores, assim como da planificação da curva de Spee. Outro requisito fundamental para iniciar a retração anterior é o controle da ancoragem, exposto detalhadamente nos Capítulos 9 e 10. Conforme des- crito, em função da complexidade da terapia, podemos estabelecer a ne- cessidade de ancoragem absoluta (máxima), moderada ou leve (mínima), de acordo com a quantidade de movimentação mesial permitida para os dentes posteriores. Em função desse objetivo, o fechamento dos espaços das ex- trações pode ser realizado priorizando-se a retração anterior, a aproximação recíproca dos blocos anteriores e posteriores, ou por meio do movimento me- sial dos molares (perda de ancoragem). Durante a retração dos dentes anteriores dos arcos superior e inferior, as forças empregadas devem ser moderadas, em média de 100 a 300 g, o que possibilita o fechamento eficaz do espaço, com inclinação mínima dos den- tes e manutenção do nivelamento do arco. A utilização de forças muito pe- sadas poderá ocasionar exagerada inclinação lingual dos dentes anteriores, perda de ancoragem posterior, assim como processos de hialinização do li- gamento periodontal e consequente atraso no fechamento dos espaços. Os fios ortodônticos de secção retangular são essenciais para o adequado con- trole da inclinação vestibulolingual dos dentes anteriores durante a retração.

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Flávio Augusto Cotrim-FerreiraDanilo Furquim SiqueiraAcácio Fuziy

Fechamento de espaços

CA

PÍT

ULO

15

INTRODUÇÃO

A fase de fechamento de espaços ou fase de retração é aquela que busca a aproximação dos dentes da bateria anterior aos dentes da região posterior de um mesmo arco dental. O espaçamento pode ter sido criado em virtude de três procedimentos ortodônticos rotineiros: o primeiro e mais usual é a extra-ção de dentes permanentes, em geral pré-molares, realizada para incremento do espaço presente na arcada; o segundo é a retração, que pode ser necessá-ria para fechar os espaçamentos do arco dental obtidos pela distalização dos molares em mecânicas de correção de Classe II; e finalmente há outra situação em que há a necessidade de retrações dentais: nos casos de pacientes com diastemas generalizados, quando em geral concentramos todos os espaços na região entre caninos e primeiros pré-molares, para então realizar a retração.

É importante salientar que essa fase da terapia somente deverá ser inicia-da após o correto alinhamento e nivelamento dos dentes, a partir do fechamen-to dos diastemas anteriores, assim como da planificação da curva de Spee.

Outro requisito fundamental para iniciar a retração anterior é o controle da ancoragem, exposto detalhadamente nos Capítulos 9 e 10. Conforme des-crito, em função da complexidade da terapia, podemos estabelecer a ne-cessidade de ancoragem absoluta (máxima), moderada ou leve (mínima), de acordo com a quantidade de movimentação mesial permitida para os dentes posteriores. Em função desse objetivo, o fechamento dos espaços das ex-trações pode ser realizado priorizando-se a retração anterior, a aproximação recíproca dos blocos anteriores e posteriores, ou por meio do movimento me-sial dos molares (perda de ancoragem).

Durante a retração dos dentes anteriores dos arcos superior e inferior, as forças empregadas devem ser moderadas, em média de 100 a 300 g, o que possibilita o fechamento eficaz do espaço, com inclinação mínima dos den-tes e manutenção do nivelamento do arco. A utilização de forças muito pe-sadas poderá ocasionar exagerada inclinação lingual dos dentes anteriores, perda de ancoragem posterior, assim como processos de hialinização do li-gamento periodontal e consequente atraso no fechamento dos espaços. Os fios ortodônticos de secção retangular são essenciais para o adequado con-trole da inclinação vestibulolingual dos dentes anteriores durante a retração.

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FORÇAS DE ATRITO

Sempre que o ortodontista emprega um aparelho fixo para movimentar dentes, deslocando o canal de encaixe do braquete ao longo de um fio orto-dôntico contínuo, é gerada uma força de atrito entre esses dois elementos. O atrito ou fricção pode ser definido como a força que retarda ou impede o deslocamento de dois objetos em contato, quando estes são forçados a des-lizar um sobre o outro.

As forças de atrito podem ser classificadas em duas categorias: estáticas (quando as superfícies em contato encontram-se na iminência do movimento relativo, mas ainda não se moveram) e dinâmicas (surgidas a partir do mo-mento em que as superfícies de contato deslizam entre si). No deslocamento entre superfícies sólidas, como é o caso do fio e do braquete, o coeficiente de atrito estático sempre será maior (mas não necessariamente muito maior) que o coeficiente de atrito dinâmico. Isso significa que a força necessária para o início do movimento é mais elevada que aquela despendida após o início do deslize.

É importante salientar que um percentual da força empregada para se deslizar um braquete ao longo de um fio ortodôntico é perdido pela ação do atrito. Peterson e colaboradores1 citaram um exemplo no qual o desliza-mento de um braquete convencional de um canino, prescrição edgewise e slot 0,022”, em um fio de aço 0,019 x 0,025” geraria uma resistência friccio-nal de 100 g. Como a força necessária para movimentar esse dente também seria em torno de 100 g, o ortodontista deveria aplicar uma carga de 200 g, pois a metade é dissipada em atrito, para mover o canino (Fig. 15.1).

Profissionais despreparados que utilizam sistemas mecânicos que geram grande atrito em um aparelho fixo, frequentemente elevam os níveis de força buscando solucionar a lentidão dos deslocamentos dentais. Tal atitude oca-siona sobrecarga das unidades de ancoragem, além de poder gerar hialiniza-ções e dano tecidual nas regiões envolvidas na movimentação.

Descreveremos a seguir os diversos fatores que interferem na fricção en-tre o fio ortodôntico e o braquete quando realizada mecânica de deslizamento.

15.1 / A aplicação de 200 g de força para a distalização de um canino desli-zando em fio de aço 0,019”×0,025” pode gerar uma resistência friccional no slot do braquete 0,022” em torno de 100 g. 100 g

200 g

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Força de tração

A magnitude do atrito é diretamente proporcional à força de tração empregada pelo ortodontista para deslocar o fio no interior da canaleta dos braquetes. Dessa forma, nosso “adversário” – o atrito – fica mais forte quanto maior a carga mecânica que empregamos na fase de retração dos dentes.

Fatores associados ao fio ortodôntico

Quanto à conformação e constituição dos fios ortodôn-ticos, três fatores que interferem na fricção entre o fio e o braquete devem ser levados em conta: a dimensão transver-sal do fio, a forma de sua secção transversa e as caracterís-ticas de superfície do fio.

É intuitivo imaginar que fios ortodônticos de menor cali-bre geram menores interferências friccionais. Esse é um dos motivos pelo qual a grande maioria das técnicas ortodônticas prescreve fios que não preenchem completamente o interior das canaletas dos braquetes nas fases iniciais do tratamento, fase em que grandes deslocamentos dentais são necessários.

A forma da secção do arco também interfere no grau de liberdade do fio-canaleta. Assim, para uma mesma dimen-são transversal, fios de secção redonda geram menor atrito que os fios quadrados e, estes, por sua vez, produzem menor fricção que os fios retangulares. Pensando somente no atri-to, seria lógico realizar a retração com fios redondos, contu-do, a necessidade do controle de torque faz com que as mais sofisticadas técnicas ortodônticas procedam à retra-ção com fios retangulares.

Quanto às características da superfície dos fios orto-dônticos, a literatura demonstra que ao deslizarem no in-terior dos braquetes, aqueles que apresentam superfícies mais regulares, isto é, com menor quantidade e menor ex-tensão de interdigitações, geram menor atrito. Além disso, algumas propriedades de reatividade superficial (reações químicas entre o fio e o braquete) podem aumentar signifi-cantemente o coeficiente de atrito na interface. Os fios com menor coeficiente de atrito são os de aço inoxidável e os de cromo-cobalto, empregados frequentemente nas técnicas de deslize. Já os arcos constituídos por ligas de níquel-titâ-nio possuem resistência friccional intermediária, enquanto os fios de titânio-molibdênio (TMA ou betatitânio) seriam os de maior fricção, e, portanto, empregados principalmente na retração com alças (Fig. 15.2).

15.2 / Aspecto superficial de fios ortodônticos de aço inoxi-dável (A), Ni-Ti (B) e betatitânio (C), observado em micros-copia eletrônica de varredura com aumento de 350 vezes.

A

B

C

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É interessante destacar que, seja na fase de nivelamento seja na de re-tração, a utilização de alças nos fios ortodônticos é capaz de minimizar ou até anular a geração de atrito entre o fio e o braquete. Isso ocorre porque nos sistemas mecânicos que produzem retração de um ou mais dentes, ou que geram o nivelamento dental, empregando alças, o fio ortodôntico pouco desliza no interior do canal de encaixe dos braquetes. De fato, o movimento dental será produzido pelo retorno da alça à sua forma original, depois de ela ter sido deformada pelo ortodontista quando da inserção do fio na canaleta de dentes mal posicionados. Por esse motivo, alguns autores distinguem os desenhos dos sistemas ortodônticos em aparelhos com fricção (aparelhos fixos sem alças) e sistemas livre de atrito (no caso de mecânicas de nivela-mento ou retração que empregam alças).

Fatores associados ao braquete

Durante muitos anos a ortodontia contou apenas com braquetes metáli-cos para produzir movimentos dentais. Apesar de os dispositivos fabricados pelas diversas empresas serem constituídos por uma liga metálica similar, inúmeros processos de fabricação influenciam suas propriedades de fricção. Em pesquisas desenvolvidas por nossa equipe observou-se, em microscópio

15.3 / Interior da ranhura de braquetes de aço de diferentes marcas comerciais, mostrando na coluna da esquerda, o ân-gulo entre a aleta e o fundo da canaleta, e na coluna da direita o assoalho da canale-ta, vistos em microscopia eletrônica de varredura. Em (A) braquete de superfí-cies regulares; em (B) e (C) a presença de sulcos, ranhuras e granulações que po-dem elevar o atrito gerado pelo braquete.

A

B

C

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15.4 / Braquete cerâmico com canaleta metálica (Clarity – 3M).

eletrônico de varredura, o interior da ranhura dos braquetes, e verificou-se que defeitos de superfície, tais como sulcos, ranhuras e granulações, são frequen-tes e podem elevar sobremaneira o atrito gerado pelo braquete (Fig. 15.3).

A crescente demanda por uma melhor estética dos aparelhos ortodônti-cos fixos fez com que a indústria de materiais para ortodontia desenvolvesse braquetes confeccionados em material plástico (policarbonato) ou com es-trutura cerâmica (monocristalina ou policristalina). Os braquetes constituí-dos por policarbonato exibem, segundo Dobrin e colaboradores,2 alta fricção, além de outros problemas, como descoloração, grande desgaste e baixo con-trole de torque. Quanto aos braquetes cerâmicos, embora superiores aos de policarbonato pela maior resistência, melhor estética e por não apresentarem descoloração ou desgaste, apresentam alguns inconvenientes, como alta fric-ção com os fios ortodônticos e possibilidade de fraturas. Atualmente, para compensar os problemas friccionais, alguns modelos apresentam canaleta de me tal em todos os braquetes e outros apresentam tratamento regularizador na superfície da canaleta, propiciando maior lisura de superfície. Entretanto, a literatura relata que, mesmo com canaleta de metal ou com tratamento para aumento da lisura de superfície, os braquetes estéticos conferem fricção sua vemente maior que os metálicos, principalmente em situações de desnive-lamento, nas quais o fio sofre angulações nas canaletas (Fig. 15.4).

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Método de ligação fio-braquete

Quando Angle criou o braquete de aço inoxidável com o modelo edgewise formado por um canal de encaixe horizontal e aletas verticais, a amarração do fio no braquete era realizada por meio de ligaduras metálicas torcidas em torno das aletas. O sistema edgewise tradicional, que empregava fios, bra-quetes e ligaduras de aço, proporcionava baixa fricção, mas demandava um longo tempo para a remoção e colocação das ligaduras, além de estas cau-sarem desconforto quando deslocadas. É importante saber que quanto maior a pressão do fio de ligadura que comprime o arco metálico em direção ao fundo da canaleta do braquete, maior será o atrito gerado para o desliza-mento fio-braquete.

As ligaduras elásticas trouxeram à prática clínica maior agilidade no siste-ma de ligação fio-braquete, uma vez que segundo Paduano e colaboradores,3 o tempo médio para amarrar os arcos dentais completos empregando anéis elásticos é de 2 minutos, contra 3 minutos usados para a amarração metálica. Entretanto, há um grave problema relacionado ao uso dos elásticos: o fato de eles incrementarem fortemente o coeficiente de fricção gerado no deslize entre o fio e o braquete. O uso de módulos elásticos revestidos por polímeros produz efetiva redução do atrito, segundo Hain e colaboradores4 (Fig. 15.5).

Com o objetivo de diminuir ainda mais a fricção entre o braquete e o fio ortodôntico, os aparelhos autoligados, isto é, livres de ligaduras, têm sido amplamente empregados pelos ortodontistas nos últimos anos. Os braque-tes autoligados apresentam um clip de abertura e fechamento que apreen-de o fio no interior dos dispositivos. O clip de fechamento pode ser ativo ou

15.5 / Módulo elástico revestido por polímero fixando o arco ortodôntico à canaleta metálica do braquete.

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passivo: denomina-se ativo aquele que aplica uma força em direção lingual, empurrando o fio para o interior do braquete; já nos passivos, o clip de abertura e fechamento apenas mantém, sem força, o fio dentro da canale-ta (Fig. 15.6). A mesma pesquisa descrita anteriormente, na qual a amarra-ção de um arco completo com ligadura metálica demorava cerca de 3 mi-nutos e outro com ligadura elástica durava em média 2 minutos, informa que os braquetes autoligados demoram, em geral, menos de 30 segundos para a completa ligação.

No tocante ao atrito, os braquetes autoligados apresentam vantagens com relação aos convencionais, pois proporcionam um maior grau de liberda-de fio-braquete quando do emprego de arcos de baixo calibre. Esse fato traz evidentes benefícios quando se trata de agilizar o nivelamento dental, princi-palmente em casos de apinhamento elevado (Fig. 15.7).

15.7 A-C / Fase de nivelamento dental em paciente portador de aparelho ortodôntico provido de braquetes autoligados passivos.

15.6 / Braquete autoligado (A) ativo e (B) passivo.

A B

A B C

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Contudo, alguns autores têm relatado dificuldades na retração dental e na finalização de casos clínicos que empregam braquetes autoligados, uma vez que, em virtude do alto grau de liberdade do fio no interior do canal de encaixe, reduz-se o controle de torque, de rotações e a eficiência nas corre-ções de angulações mesiodistais.

Com base nesses aspectos, Rinchuse e Miles5 ponderam que o braquete autoligado ideal seria aquele que combinasse um clip passivo e um clip ativo ou a possibilidade de amarração convencional. O sistema passivo seria em-pregado nas fases iniciais do tratamento, quando os fios são delgados e a necessidade de baixa fricção é maior. Em fases subsequentes, quando da necessidade de maior controle tridimensional, seria empregado o clip ativo ou a amarração convencional.

Saliva ou biofilme

O papel da saliva ou do biofilme (placa bacteriana) com relação à fricção dos fios ortodônticos é pouco pesquisado e os relatos são conflitantes. Intui-tivamente, imaginamos que o meio líquido propicia um maior deslizamento, tal como um veículo freando em uma pista de asfalto molhada. Mas convém lembrar que o mesmo automóvel, sob as mesmas condições de chuva, pode ficar com as rodas presas em uma estrada de terra. Assim, de forma similar ao nosso exemplo, o coeficiente de atrito não dependerá somente de um fator, mas da interação entre o material constituinte do fio, a característica do meio ambiente, com ou sem saliva, e o material de fabricação do canal de encaixe do braquete.

Stannard e colaboradores6 afirmaram que os fios comumente empregados em ortodontia (aço, níquel-titânio e betatitânio) apresentam maior fricção quando deslizam em braquetes de aço sob saliva artificial. Kusy e colabora-dores7 concordaram com este desempenho em relação aos fios de aço em braquetes de aço, mas contradizem esses resultados ao verificar em suas pesquisas que os fios de beta-titânio deslizam melhor em meio úmido.

O biofilme ou placa bacteriana também pode desempenhar um importan-te papel com relação ao atrito. Imagens obtidas de fios ortodônticos em microscópio eletrônico de varredura provam que, em comparação aos fios recém-retirados da embalagem, os arcos metálicos que permaneceram por um longo período na cavidade bucal aumentaram em muito a variedade e a quantidade de irregularidades superficiais. Essas irregularidades por certo incrementam o coeficiente de atrito do fio nas fases de retração, o que nos leva a indicar a remoção e higienização dos arcos em todas as consultas de ativação, principalmente nas mecânicas que se valem do deslizamento.

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Geometria do aparelho

Denominamos geometria do aparelho a relação tridimensional existente entre o fio ortodôntico e as canaletas dos braquetes. Apesar das caracte-rísticas descritas anteriormente, isto é, a força de tração dos arcos quando deslizam nos braquetes, as características dos fios ortodônticos, os fatores associados aos braquetes, o método de ligação e a saliva ou biofilme influen-ciarem fortemente o atrito, é a geometria do aparelho o mais importante fa-tor determinante do coeficiente de fricção.

O coeficiente de atrito nas situações em que um fio de pequena dimen-são transversal e a canaleta de um braquete encontram-se paralelos é muito baixo ou quase zero. Contudo, à medida que o desnível dos dentes aumenta e, portanto, eleva-se o desajuste fio-braquete, cresce a fricção. Para mensu-rar o grau de desajuste entre o arco metálico e o braquete, emprega-se o ângulo crítico de contato (Φ), isto é, o ângulo formado entre o fio e o slot do braquete, a partir do qual o atrito começa a aumentar significativamente. Apesar de esse ângulo poder ser medido nos três planos espaciais, é no plano vertical (2a ordem) que ele se torna mais evidente (Fig. 15.8).

O ângulo crítico de contato (Φ) depende da dimensão transversal do fio, da altura do slot (0,018” ou 0,022”) e da largura do braquete. Quanto maior o calibre do fio, quanto maior a largura mesiodistal e quanto menor a altura cérvico-oclusal do braquete, menor será o ângulo crítico de contato.

Experimentos desenvolvidos por Kusy e Whitley,8 em 1999, mostraram que para se deslizar um fio de aço 0,014 x 0,022” em um braquete de aço com slot 0,018”, o ângulo crítico de contato é de 2,9º. Entretanto, se empregarmos

15.8 / Quanto maior o ângulo entre o fio ortodôntico e o canal de encaixe do braquete, maior é o atrito gerado durante o deslizamento do dente.

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MÉTODOS DE RETRAÇÃO

Algumas filosofias de tratamento preconizam que, após a extração dos pré-molares devemos realizar a retração dos caninos até que estes se encos-tem nos pré-molares, para então realizar a retração dos incisivos. Existe mui-ta controvérsia sobre as vantagens dessa mecânica, mas Heo e colaboradores9 concluíram que a quantidade de retração dos dentes anteriores e a perda de ancoragem dos dentes posteriores superiores foi equivalente empregando-se a retração anterior em massa ou em duas fases (inicialmente os caninos e depois os incisivos). Além do mais, a retração individualizada dos caninos pode provocar maior aprofundamento da mordida – em decorrência da angu-lação dos braquetes dos caninos –, perda adicional de ancoragem posterior, e efeito fortemente antiestético, por abrir espaços na região anterior do arco dental. Por todos esses motivos, indicamos, na maioria dos casos, a retração em massa ou retração em bloco, procedimento no qual unimos caninos e incisivos para então se realizar a distalização.

Existem inúmeros métodos para a realização da retração anterior, direta-mente relacionados à técnica ortodôntica utilizada e à preferência de cada pro-fissional. Contudo, didaticamente, podemos dividir em dois principais sistemas: retração com alças e retração sem alças.

um fio 0,019 x 0,025”, o Φ será de apenas 0,5º. Esse exemplo demonstra a necessidade de realizarmos um excelente nivelamento e alinhamento dental antes de qualquer tentativa de retração, principalmente se empregarmos as técnicas de deslizamento (Fig. 15.9).

15.9 A-E / O adequado nivelamento e alinhamento das canaletas dos braquetes é essencial para o início da fase de retração.

A B

D

C

E

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Retração com alças

As alças são dobras de 2a ordem e apresentam como vantagem a possi-bilidade de maior controle na intensidade de ativação e, portanto, na força empregada para a movimentação das unidades ativas e reativas. Além disso, as alças são altamente favoráveis por produzir um sistema de forças previsí-vel em relação ao controle de torque e por minimizar alguns dos efeitos inde-sejáveis da mecânica de retração, como o atrito. No uso de alças para o fe-chamento dos espaços das extrações, três importantes critérios deverão ser analisados: a posição, a pré-ativação e o desenho da alça.

O tipo de movimentação resultante dependerá do plano de tratamento estabelecido, estando diretamente relacionado à geometria da alça utilizada, à forma e às dimensões do fio, à liga metálica, bem como ao uso de forças auxiliares como a de elásticos intermaxilares. Uma vez ativada, a alça tende a voltar ao seu estado inicial, liberando a energia elástica que foi armazenada durante a sua abertura (ativação) e provocando o deslocamento dos dentes.

Alça de Bull

A alça de Bull (Bull loop) foi idealizada originalmente com um fio de aço inoxidável 0,021 x 0,025” segmentado, e centralizada no espaço da extração para a realização da retração inicial dos caninos. A ativação não deveria ex-ceder 1 mm de abertura da alça, realizada por meio da tração distal do fio e fixação deste no tubo dos segundos molares. Além disso, a alça de Bull po-deria ser utilizada em fios contínuos e localizada na distal dos caninos, para a retração do segmento anterior.

Existem inúmeras modificações da alça proposta por Bull, mas todas com o mesmo objetivo de fechamento de espaço. Elas podem ser confeccionadas com fios 0,017” x 0,025”, 0,018” x 0,025”, 0,019” x 0,025”, 0,019” x 0,026” ou ainda 0,021” x 0,025”, porém, quanto maior o calibre do fio de aço inoxidável, maior a força liberada pela alça (Fig. 5.10).

15.10 A e B / Alça de Bull para retração do segmento dental anterior.

A B

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Existem alguns pontos que deverão ser observados na confecção da alça, uma vez que a sua forma e dimensão interferem no comportamento mecânico: altura, diâmetro externo e pré-ativação. Em relação à altura, as mais curtas apresentam maior rigidez se comparadas às mais longas, devido à menor quantidade de fio. As alças mais altas apresentam forças mais suaves durante a ativação e melhor controle radicular dos incisivos durante a retração. Porém, existe uma limitação anatômica, ou seja, o fundo do vestíbulo é um fator limi-tante para a altura das alças. Segundo Tweed,10 as alças inferiores deveriam possuir 6 mm de altura e as superiores 6,5 mm, porém, pode haver variações destas alturas. O diâmetro externo pode ser de 3 mm, com a base fechada e cada vez mais larga em direção apical, em forma de gota invertida ou lágrima.

Em relação à pré-ativação da alça de Bull, recomenda-se a realização do efeito Gable para evitar extrusão e inclinação excessivas dos incisivos para lingual, com aprofundamento da mordida. Esta dobra de 15° deve ser realiza-da na base da alça e é considerada uma dobra de compensação vertical, o que aumenta o torque vestibular anterior, sendo indicada para uma movi-mentação de translação. Na prática clínica, recomenda-se a ativação distal até que ocorra a separação das hastes verticais de 1,25 mm no máximo, pois acima dessa abertura poderá ocorrer deformação permanente (Fig. 15.11).

15.11 / Desenho esquemático da alça de Bull para retração (A) e do efeito Gable no fio (B), para que seja evitada a extrusão e a inclinação excessiva dos incisivos para lingual.

A

B

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Alça em T

A alça em T é um dispositivo bastante versátil para o fechamento de es-paços. Ela pode ser confeccionada com fios retangulares de aço ou de be-tatitânio nos calibres 0,017” x 0,025”; 0,016” x 0,022” e 0,019” x 0,025”. O aumento do calibre do fio (secção transversal) influencia diretamente na magnitude da força horizontal; as alças confeccionadas com liga de betatitâ-nio produzem menor força quando comparadas às de aço inoxidável. A con-fecção e a conformação geométrica da alça podem ser orientadas por meio de um gabarito (template).

A alça em T apresenta, como principal característica, uma quantidade maior de fio no seu desenho, o que reduz a força gerada por ela, permitin-do dessa forma maior amplitude de ativação. Em decorrência de restrições anatômicas, como a profundidade do fundo de vestíbulo, houve um aumento horizontal na alça em T com relação à alça de Bull, para a produção de um fechamento de espaço mais controlado e com forças mais suaves (Fig. 15.12). Partindo desta premissa, podem ser realizadas alterações adicionais, como a inclusão de helicoides, objetivando a redução da magnitude da força.

Os momentos de inclinação dental promovidos pela alça são os momen-tos anteriores (alfa) e posteriores (beta), além dos momentos diferenciais quando se aplicam os princípios da dobra em V assimétrica. Baseado nisso, a alça pode ser posicionada centrada simetricamente em relação às unidades alfa e beta, produzindo momentos de mesma magnitude e em sentidos opos-tos. Esse tipo de posicionamento é indicado para casos de ancoragem mode-rada, a ativação é de 6 mm, que no fio TMA 0,017” x 0,025” gera forças hori-zontais de aproximadamente 340 g, resultando em inclinações controladas nos segmentos anterior e posterior (Fig. 15.13B). Após a desativação de 3 mm recomenda-se uma nova ativação da alça. A alça T simétrica pode ser longa (convencional) ou curta, em decorrência de uma limitação da altura do fundo do vestíbulo, e a ativação da alça curta é de apenas 3 a 4 mm.

Segundo Uribe Restrepo,11 se as alças forem confeccionadas em aço inoxidável 0,017” x 0,025” e a ativação for de 2 mm, a resultante será uma força de 450 g/mm. Já em uma ativação de 5 mm em um fio de TMA, a força gerada será de apenas 280 g/mm.

Ao se posicionar a alça ligeiramente fora do centro do espaço da retra-ção, serão produzidos momentos diferentes, e a unidade mais distante da alça receberá o maior momento. Nos casos de ancoragem máxima dos mo-lares, a alça deverá ser deslocada para a região anterior e a dobra de pré--ativação de 45° será feita próxima ao tubo do molar, gerando maior tendên-cia de inclinação distal destes dentes e contribuindo para seu controle de ancoragem (Fig. 15.13A). Segundo Sakima e colaboradores,12 se a alça for deslocada para a região posterior e uma dobra de pré-ativação for realizada na região anterior, existirá um maior movimento dos dentes posteriores na fase de retração (Fig. 15.13C).

15.12 / Alça em T para fechamento de espaço com dimensão padronizada: 7 mm de altura por 10 mm de largura.

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15.13 A / Retração do tipo A, na qual a alça em T está deslocada para a região anterior e a dobra de pré-ativação é mais acentuada no segmento posterior; indicada para maior retração incisal.

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15.13 B / Retração do tipo B, com posicionamento simétrico da alça em T e dobra de pré-ati-vação nos segmentos anterior e posterior; indicada para casos de ancoragem moderada.

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15.13 C / Retração do tipo C, com alça deslocada para a região posterior e dobra de pré--ativação acentuada no segmento anterior; indicada para maior perda de ancoragem.

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15.13 D / Retração dental anterior unilateral. O uso da alça em T proporciona maior controle e menor perda de ancoragem.

As ativações deverão ser realizadas previamente à instalação do fio na cavidade bucal e orientadas em função dos movimentos que se almeja. Após a sua conformação geométrica, as alças deverão apresentar inclinações em suas extremidades, as quais geram os momentos de força.

Como vantagens desse tipo de alça podem ser citados a possibilidade de aplicação de forças suaves, os movimentos controlados, o mínimo atrito e a menor perda de ancoragem. Mas para isso é necessário o conhecimento profundo das bases biomecânicas que norteiam essa técnica, além de maior habilidade manual se comparada com a técnica de deslizamento (Fig. 15.13D).

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Dupla chave

O arco dupla chave ou double key hole pode ser confeccionado com fio de aço inoxidável 0,019” x 0,025” ou 0,021” x 0,025”. Ele possui quatro alças verticais localizadas nas faces proximais dos caninos, com 4 mm de altura e 5 mm de largura (Fig. 15.14 A e B). A ativação pode ser realizada com do-bras distais dos arcos após os últimos dentes, promovendo uma abertura das alças e consequente força de retração. Porém, Suzuki e Lima,13 propuse-ram, em 2001, uma ativação mais simples e controlada, na qual se usa um fio de amarrilho 0,010” ou um segmento de cadeia elástica desde o tubo do molar até a parte superior da alça distal. Essa ativação deve ser muito len-ta e sua ve (Fig. 15.15 A e B).

Em casos de extração de quatro pré-molares, as ativações do arco supe-rior e inferior deverão ser realizadas em fases distintas. Inicia-se a ativação inferior e depois de quatro semanas faz-se a superior. Além disso, para que haja um controle vertical dos incisivos durante a retração, realiza-se a rever-são de curva de Spee no arco inferior e a acentuação no superior. Quando inseridos nos tubos dos molares, os arcos deverão passar pela cervical dos incisivos. Nos casos de sobremordida mais acentuada, pode-se amarrar as duas alças para aumentar o efeito Gable e minimizar o efeito extrusivo ante-rior. Para que o arco de retração se torne mais flexível, é possível incorporar helicoides na base da segunda alça.

15.14 / Arco dupla chave com alças verticais localizadas nas faces proximais dos caninos (A e B).

A

B

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15.15 / Arcos dupla-chave ativados com segmentos de cadeia elástica em (A), e com fio de amarrilho “0,010” unindo as duas alças em (B).

A

B

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Quando as diversas formas de ativação do arco dupla chave foram com-paradas, concluiu-se que a ativação feita com o gurin localizado na mesial dos segundos pré-molares e preso ao arco pode produzir movimento de re-tração anterior com componente extrusivo; a tensão na alça distal é capaz de ocasionar movimento de retração anterior sem componente vertical; e a ati-vação entre as alças e na alça distal deve produzir um movimento intrusivo, além da retração.

Dentre as principais características e vantagens desse tipo de arco estão: maior controle das inclinações axiais durante a retração; possibilidade de eleger a melhor maneira de fechar os espaços, ou seja, com maior ou menor perda de ancoragem; e o fato de as alças poderem ser usadas como apoios de elásticos intermaxilares e permitirem ao ortodontista fazer o fechamen-to de todos os espaços com apenas um par de arcos.

Alça em cogumelo

O arco de retração com alças em forma de cogumelo está disponível nas dimensões 0,016” x 0,022”, 0,017” x 0,025” e 0,019” x 0,025” em tamanhos que variam de 24 a 56 mm, com incrementos de 2 mm. Essa medida repre-senta a distância entre as faces distais dos incisivos laterais direito e esquer-do. Assim como na alça em T, a incorporação de mais fio na configuração da alça em cogumelo produz uma força de menor magnitude e mais contínua se comparada à alça de Bull (Fig. 15.16).

Este arco pré-fabricado é confeccionado com uma liga de betatitânio III, denominada comercialmente pela Ortho Organizers de CNA, com proprieda-des incrementadas se comparado ao de betatitânio convencional, tais como melhor formabilidade, proporção carga-deflexão diminuída e menor risco de ruptura do fio, tão comum em dobras de ângulo reto do fio original.

Inicialmente, esse arco era recomendado para a retração dos quatro inci-sivos superiores, após a retração individual dos caninos, por meio de mecâni-ca de deslize. No entanto, pode-se utilizar essa alça na mecânica de retração em massa dos dentes anteriores, especialmente nos casos de ancoragem moderada ou movimentação recíproca, segundo Almeida e colaboradores14 (Fig. 15.17 A e B).

15.16 / Alça em cogumelo.

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15.17 A e B / Desenho esquemático da alça em cogumelo ativada.

B

A

A pré-ativação deve ser realizada fora da cavidade bucal, após a seleção do arco. Esta é feita na junção entre as duas extremidades e o início da por-ção superior do “cogumelo”, de modo a criar momentos para controle vertical dos molares superiores e incisivos, além de um acréscimo de torque na re-gião anterossuperior. Segundo Nanda,15 realiza-se uma abertura de 3 mm da alça para sua ativação. Se necessário, confeccionam-se dobras em V para aumentar o momento anterior ou o momento de ancoragem (Fig. 15.18).

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15.18 A / Caso clínico cuja retração do segmento dental anterior foi realizada com alças em cogumelo no fio pré-contornado (CNA-Orto Organizers).

Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Márcio Rodrigues de Almeida.

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15.18 B / Sequência do caso clínico anterior-mente citado exibindo o aparelho fixo colocado, com alças em cogumelo para retração do seg-mento dental anterior. As últimas figuras mos-tram a finalização do tratamento.

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Após a instalação da alça no tubo dos molares pode-se ativar mais 1 mm (de 4 a 5 mm de ativação total), o que irá promover o fechamento de todo o segmento anterior, por meio de uma força leve, biológica e constante, com menor solicitação da ancoragem dos dentes posteriores envolvidos na mecâ-nica. Além disso, a alça em cogumelo não interfere nos tecidos gengivais e a ativação não distorce sua forma, o que permite uma distribuição de força mais homogênea e controlada. Nanda15 recomenda uma nova ativação a cada 6 a 8 semanas.

A alça pode ser localizada em diversos pontos de acordo com a estratégia de fechamento de espaço e a ancoragem necessária para o caso. Para um fechamento recíproco, ela deve ser colocada em uma distância igual do tubo do molar e do braquete anterior ao local de extração. Quanto menor a neces-sidade de ancoragem posterior, menor o momento beta, ou seja, recomenda--se 40° de momento beta para ancoragem máxima, 30° para moderada e 20° para mínima.

Arco utilidade

O arco utilidade é parte integrante da técnica bioprogressiva de Ricketts; ele é confeccionado com o fio quadrado 0,016” x 0,016” Elgiloy azul (sem tratamento térmico), fornecido pelos fabricantes em formato de varetas. Es-se fio é composto por uma liga de cromo-cobalto que contém 40% de cobal-to, 20% de cromo, 15% de níquel, 15,8% de ferro, 7% de molibdênio, 2% de manganês, 0,16% de carbono e 0,04% de berílio, o que facilita a confecção de dobras.

Com um desenho ao mesmo tempo simples e original, o arco utilidade tornou-se parte integrante do arsenal ortodôntico utilizado no período das dentaduras mista e permanente. O nome do arco é uma referência à sua versatilidade e aos vários efeitos que pode promover durante o tratamento. Os tipos mais comuns de arco utilidade são o arco utilidade básico e o arco utilidade de retração.

Para a confecção do arco utilidade básico, inicialmente o fio é inserido no tubo do molar de um lado da boca, e uma dobra de 90º, justaposta ao tubo em direção gengival, é realizada. Esse segmento é denominado de degrau posterior e mede aproximadamente 5 mm para a mandíbula e 6 mm para a maxila. O degrau vertical posterior impede a deformação do arco pelas for-ças da oclusão e possibilita efetuar melhores movimentos nos molares e nos incisivos. Uma nova dobra de 90° é realizada no fio que segue em direção anterior, sem encostar na gengiva; nova dobra é feita em direção distal ao incisivo lateral e mesial ao canino em um ângulo de aproximadamente 75°. Uma última dobra em ângulo de 75° é realizada em direção aos braquetes dos incisivos laterais para formar o segmento anterior do arco; altura do degrau anterior deve ser a mesma da do degrau posterior. Uma so bra de 2 mm na distal dos braquetes dos incisivos laterais deve ser mantida para pequenos alinhamentos. Nesse momento, a secção anterior deve ser contor-

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15.19 / Arco utilidade básico com suas respectivas dobras não ativadas (A e B) e após ativações (C e D).

A

B

C

D

nada com um alicate De La Rosa, para se obter uma forma de arco ideal, e inserida aos braquetes dos incisivos. O mesmo procedimento é realizado no lado oposto (Fig. 15.19 A e B).

90 graus 75 graus

Ativação de 30 graus no degrau posterior

Dobra encostada no tubo

Curva do efeito sorriso na região dos incisivos

Dobra ligeiramente afastada do braquete

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A ativação para intrusão dos incisivos inferiores é realizada com o auxílio do alicate Weingart, que deve apreender o degrau posterior do arco utilidade, e com o apoio dos dedos a secção molar é inclinada para baixo entre 30º e 45º. Com essa ativação, o arco utilidade deve promover uma força intrusiva entre 70 e 80 g para os quatro incisivos inferiores. Como a força gerada pelo arco é mais intensa nos incisivos laterais, uma suave curva para gengival deve ser realizada na região dos incisivos centrais inferiores (efeito sorriso) para que os quatro dentes recebam força semelhante (Fig. 15.19 C e D).

O arco utilidade de retração é uma modificação do arco utilidade básico, realizado por meio da adição de oito helicoides colocados nas extremidades do degrau vertical posterior, anterior e na ponte lateral. Os helicoides fornecem ao desenho original uma ação de força mais leve e contínua, para que possa ser utilizado na retração dos incisivos. Essa retração é realizada, principalmente, nos casos de extração, quando o espaço é criado na distal dos incisivos laterais pela distalização dos caninos e em casos de Classe II, 1a divisão (Fig. 15.20).

15.20 / Arco utilidade de retração.

A retração é realizada pela força que o arco utilidade de retração produz nos incisivos. Esta é gerada puxando-se o segmento de fio da seção molar do arco de retração (que passa dentro do tubo triplo) e dobrando-se a ponta do fio. A força de retração é possível por conta dos helicoides e do fio Elgiloy 0,0016” x 0,016”, que fornecem ao arco elasticidade sem deformação perma-nente. Dessa maneira, a retração dos incisivos é feita com os dentes movi-

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mentando-se junto com o fio, sem gerar atrito. As pré-ativações realizadas no arco de retração são: 45º de dobra na seção molar (e se necessário 45º na seção dos incisivos), o que permite um controle de torque dos dentes anterio-res, promovendo a translação, representada pelo movimento para distal sem verticalização e sem extrusão dental. Além disso, o arco deve ser pré-ativado 45º para dentro (distopalatino), para neutralizar o efeito de rotação mesial que a força de retração produz nos molares. Essa pré-ativação pode ser des-necessária se estivermos utilizando uma ancoragem adicional nos molares.

Existem ainda algumas modificações do arco utilidade de retração, mas que não fogem muito do desenho original. Uma delas é a remoção de dois helicoides da extremidade gengival do degrau vertical posterior para a dimi-nuição do componente extrusivo.

Como principais vantagens desse arco de retração destacam-se o con-trole vertical durante a mecânica de retração, o controle de ancoragem e a aplicação de forças suaves. Por outro lado, como na maioria das terapêuticas citadas anteriormente, existe a necessidade de maior habilidade manual, de prática e conhecimento da biomecânica dos arcos.

Retração sem alças

Esse tipo de retração é conhecido como mecânica de deslizamento (me-cânica friccional ou mecânica com atrito) e é muito utilizado nos aparelhos pré-ajustados. Apresenta como principal característica a grande necessidade de ancoragem posterior, devido ao atrito causado durante o processo de fe-chamento de espaço.

Inicialmente, deve-se contornar o fio retangular com a torre imprimindo a curvatura incisal de acordo com o diagrama. Após ajustes desse fio retangu-lar, individualizando a curvatura anterior e a abertura posterior, deve-se inse-rir o fio na cavidade bucal e nos braquetes devidamente alinhados e nivelados pelo último fio utilizado. O arco de retração poderá ser 0,019” x 0,025” de aço, com torque neutro no alicate, para um braquete com canaleta de 0,022” x 0,028”. Esse arco oferece boa resistência quando submetido às forças de retração, sem sofrer deflexões e dificultar a mecânica. Segundo a técnica MBT, a utilização de arcos mais espessos restringe o livre deslizamento, en-quanto fios mais finos não terão um controle vertical e de torque adequados. Como o arco indicado não preenche completamente as canaletas dos bra-quetes, existe a necessidade, em alguns casos, de incorporação de torques adicionais durante essa fase do tratamento, principalmente devido à tendên-cia de inclinação lingual dos incisivos.

Antes do início da fase de retração, o arco retangular deverá permanecer na cavidade bucal por no mínimo 30 dias, somente com amarrilhos passivos. Esta fase tem o objetivo de nivelar as canaletas e promover o assentamento dos torques, facilitando a mecânica de deslizamento. O amarrilho passivo é confeccionado com fio 0,008” e deve ser trançado dos últimos dentes banda-dos até o gancho soldado entre incisivos laterais e caninos no arco de retração.

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Para o sistema de retração, utilizam-se módulos elásticos que devem ser tracionados até o dobro do seu tamanho original, com um fio de amarrilho me-tálico 0,008” ou 0,010”. Pode existir variação na força decorrente desse sistema, devido ao tipo de elástico, à pré-ativação antes da instalação e a quantidade de ativação, mas em geral, os elásticos necessitam ser trocados a cada 21 dias. O apoio para os elásticos são os ganchos entre os incisivos laterais e caninos. Os ganchos podem ser confeccionados com fio de aço 0,6 mm, fio de latão 0,7 mm e soldados, ou ainda pré-fabricados e presos nos fios com alicates apropriados. Outra opção para a retração é a mola aberta de níquel-titânio, principalmente em casos com grandes espaços e/ou quando o paciente não pode retornar com frequência ao consultório para a troca dos elásticos de retração (Fig. 15.21).

Segundo a técnica MBT, a força poderá ser produzida de diversas maneiras:

amarrilho ativo tipo 1: deve-se unir os ganchos das bandas aos ganchos soldados no fio por meio de um segmento de fio de amarrilho 0,010” e um módulo elástico; o elástico deve estar na região posterior, unido às bandas. Sempre que necessário, pode-se conjugar os segundos molares aos primeiros para aumentar a ancoragem;

amarrilho ativo tipo 2: apresenta o mesmo princípio do tipo 1, mas o elástico está situado na região anterior, no gancho soldado no arco retangular;

amarrilho ativo tipo 3: é uma variação do amarrilho tipo 2; difere deste, pois se utiliza um amarrilho conjugado nos dentes posteriores, ao qual o elástico de retração é unido. O arco é preso nos braquetes dos se-gundos pré-molares, por meio desse amarrilho e não por uma ligadura elástica, o que diminui o atrito durante a retração.

15.21 / Retração dos dentes anteriores com mecânica de deslizamento. Nesse caso empregam-se arcos de aço 0,019” × 0,025” com ganchos soldados na distal dos incisivos laterais e módulos elásticos para ativação (Power 120 Ormco).

BA

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A simplicidade e o tempo mínimo de dobras no fio são algumas vanta-gens da mecânica de deslize. Por outro lado, o atrito é maior do que na retra-ção com alças e há dificuldade em padronizar os níveis de forças das ativa-ções e em contrabalançar os efeitos indesejáveis da mecânica (Fig. 15.22).

Na maioria dos casos, o fechamento dos espaços se dá de maneira simples e controlada, com uma movimentação média de 1 mm/mês. Se o espaço não estiver fechando após algumas consultas consecutivas, os itens abaixo deve-rão ser analisados, pois são considerados inibidores da mecânica de deslize:

níveis de força incorretos: níveis de força abaixo do ideal dimi-nuem a tendência de deslizamento do arco e tornam o fechamento dos espaços muito lento ou até mesmo inviável, principalmente nas situações de elevado atrito. Por outro lado, forças excessivas geram hialinização do ligamento periodontal, dor, dano tecidual e aumentam a tendência de in-clinação descontrolada dos dentes. Para evitar estes problemas, as liga-duras elásticas que são utilizadas para promover a força de retração de-vem ser de alta qualidade, ou seja, possuírem níveis de força padronizados. Sua substituição deve ocorrer a cada consulta, para minimizar os efeitos da degradação do material, em meio bucal;

interferências dos dentes antagonistas: este fator inibidor da mecânica de retração pode ser decorrente de um posicionamento verti-cal inadequado dos braquetes. Caso o reposicionamento da peça não seja possível, recomenda-se o uso de placas de levantamento de mordida ou a colocação de ionômero de vidro na oclusal dos molares;

método de ligação: na fase de fechamento de espaços devemos evitar a colocação de amarrilhos elásticos em braquetes cujo canal de encaixe deverá propiciar o deslize do arco de retração. Assim sendo, na retração em bloco dos incisivos e caninos, os braquetes de pré-molares deverão ser amar-rados com ligadura metálica. Aparelhos autoligados minimizam a fricção;

nivelamento inadequado: o arco retangular deve ser mantido por no mínimo 30 dias antes do início da retração anterior, para assegurar o correto alinhamento e nivelamento dos dentes, assim como estabilizar a forma do arco e imprimir o torque prescrito pelo aparelho ortodôntico. Conforme já descrito, o arco de retração, por apresentar diâmetro eleva-do, possui baixo ângulo crítico de contato, isto é, um desajuste vertical de apenas 0,5º em um fio 0,019 x 0,025 é capaz de gerar um atrito signifi-cante. Constata-se que é chegado o momento de iniciar a retração, quan-do o fio retangular de aço é facilmente inserido e removido do interior dos braquetes;

resistência dos tecidos moles: a retração dental pode ser res-tringida caso o tecido gengival, localizado no espaço das extrações, seja muito fibroso ou tenha volume excessivo. Em raros casos clínicos, a remo-ção cirúrgica deste tecido pode ser a solução.

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15.22 A e B / Retração por deslize em caso clínico montado com aparelho fixo autoligado, prescrição MBT (Smart Clip – 3M) (A). Notar que na fase intermediária (B), empregou-se elástico Classe II do lado esquerdo para ajuste da linha média.

A

B

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15.22 C e D / Retração terminada em (C). Em (D), caso clínico concluído com a linha média corrigida. Notar que os dentes inferiores estão mantidos em posição definitiva graças à contenção fixa 5 × 5.

C

D

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braquetes, tubos e fios danificados: um braquete com uma aleta amassada, ou a deformação de um tubo molar, poderá interferir significantemente na mecânica de deslizamento. Fios metálicos com su-perfície áspera também retardam a fase de retração (Fig. 15.23). Estes fatos podem ocorrer pela baixa qualidade de fabricação do aparelho orto-dôntico, pelo acúmulo de placa bacteriana nas superfícies de deslize ou por injúrias causadas pela ação da força mastigatória. Neste último caso, recomenda-se a troca imediata do acessório;

obstrução nos tubos molares: o bloqueio da região posterior do tubo molar por um fio de amarrilho pode ser a causa do atraso ou impedi-mento da retração dental, uma vez que impede o deslize do arco ortodônti-co. Tubos de alta qualidade, em geral, apresentam leitos distintos para o fio ortodôntico e para o fio de amarrilho conjugado. Outro cuidado é sempre deixar um pequeno excesso de fio na distal do molar, para que a extremida-de áspera do arco de retração não se prenda ao interior do tubo (Fig. 15.24).

15.23 / Fio ortodôntico de aço inoxidá-vel com asperezas em sua superfície, visto em microscopia eletrônica de varredura com aumento de 350 vezes.

15.24 / Para adequado deslize do fio or-todôntico na fase de fechamento de espa-ço, a região posterior do tubo molar deve estar livre do bloqueio que o fio de amar-rilho pode ocasionar.

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Na técnica ortodôntica lingual, o fechamento de espaços é igualmente realizado pela mecânica de deslizamento, uma vez que as alças de retração, em geral, são pouco aceitas pelos pacientes (Fig. 15.25).

15.25 / Retração dental anterior na técnica ortodôntica lingual realizada com mecânica de deslizamento.

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