Félix-Émile Taunay O Epítome de Anatomia De

  • Upload
    neosaga

  • View
    221

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    1/14

    RHAA 6 83

    RESUMO Flix-mile Taunay, diretor da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiroentre 1834 e 1851, foi o responsvel pela organizao de uma metodologia de ensino baseadaem fundamentos clssicos, advinda do modelo acadmico francs. Para tanto, organiza em1837 umEptome de anatomia, a partir de obras fundamentais ao estudo do desenho, quaissejam, a teoria das expresses de Charles Le Brun (1668), o tratado dos ossos e musculaturade Franois Tortebat e Roger de Piles (1668), o tratado baseado em figuras da Antigidadede Gerard Audran (1683) e o verbete propores, do Dictionnaire des Beaux-Artsde Aubin-Louis Millin (1806), que sero aqui analisados para o entendimento de sua metodologia deensino e da recepo da tradio clssica no Brasil.

    PALAVRAS-CHAVE Eptome de Anatomia, Flix-mile Taunay, Academia Imperial de Belas

    Artes do Rio de Janeiro.

    ABSTRACT Flix-mile Taunay, director of the Imperial Academy of Fine Arts of Rio deJaneiro between 1834 and 1851 was the responsible for the organization of a teaching me-thodology, which was based on classical grounds and derived from the French academicmodel. In order to attain this objective, he organized in 1837 an Epitome of Anatomybasedupon fundamental works for the study of drawings, namely: Charles Le Bruns theory of

    expressions (1668), Francois Tortebats and Roger de Piless treatise on bones and muscles(1668), Gerard Audrans treatise based upon figures of Antiquity, and the entry propor-tions from Aubin-Louis Millins Dictionnaire des Beaux-Arts (1806); these ideas will be hereinanalised for the understanding of his teaching methodology and the reception of the classictradition in Brazil

    KEYWORDS Epitome of Anatomy, Flix-mile Taunay, Imperial Academy of Fine Arts ofRio de Janeiro

    OEptome de anatomiadeFlix-mile Taunay, 1837

    (em francs, p. 222)

    ELAINE DIAS

    Doutora em Histria pela UnicampBolsista Fapesp de ps-doutoramento pela FAU/USP

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    2/14

    Elaine Dias

    84 RHAA 6

    Introduo

    Flix-Emile Taunay dedicou grande parte de suavida Academia Imperial de Belas Artes, no Rio deJaneiro. Pintor de paisagem e filho do tambm pai-sagista francs Nicolas-Antoine Taunay, Flix-mile

    ocupava, desde 1824, a cadeira de pintura de paisagemdeixada pelo pai em 1821, momento em que este re-torna a Paris. Inicia-se, neste ano de 1824, uma longatrajetria dedicada ao ensino. Aps a morte do diretorportugus Henrique Jos da Silva, em 1834, Taunay eleito o novo diretor da academia de belas-artes brasi-leira, cargo que ocupar durante 17 anos. Neste longoperodo, foi o responsvel pela organizao de umsistema de ensino baseado, sobretudo, em modelosacadmicos franceses. Entre as medidas implantadaspor ele durante os anos de dedicao quela instituio

    de ensino, h todo um sistema de aperfeioamento dosestudos do desenho, destacando-se o curso de modelovivo,1as aulas de anatomia,2a organizao e traduode obras didticas.

    Dentre essas medidas, interessa-nos mais pron-tamente a obraEptome de anatomia relativa s bellas artesseguido de hum compndio de physiologia das paixes e de algu-mas consideraes geraes sobre as propores com as divises docorpo humano; offerecido aos alumnos da Imperial Academiadas Bellas Artes do Rio de Janeiro.3Era um compndiode teorias artsticas relativas anatomia, organizadoe traduzido4por Taunay,5publicado em 1837 [Fig.1].O eptome era um complemento fundamental s au-las de modelo vivo e de anatomia, implantadas e de-senvolvidas neste perodo. Baseava-se nos principaistratados artsticos anatmicos utilizados na academiafrancesa desde o sculo XVII. Era composto apenasde textos referentes s obras citadas e no apresentavaimagens.6

    A primeira parte referia-se osteologia e mio-logia. Os textos originais vinham da obra Abrg

    danatomie, accommode aux arts de peinture et de sculpturede autoria de Franois Tortebat e Roger de Piles, pu-blicado em 1668. A segunda parte referia-se temticada fisiologia das paixes de Charles Le Brun presenteem LExpression Gnrale et Particulire, objeto de sua Con-frencede 1668. A terceira advinha do verbete referentes propores gerais de autoria de Aubin-Louis Millin,contido em seu Dictionnaire des Beaux-Arts publicado em1806. Taunay acrescenta ainda uma pequena parte re-

    ferente diviso do corpo humano, da obra de GrardAudran Les proportions du corps humain mesures sur les plusbelles figures de lAntiquit, publicado em 1683. A publica-o de Taunay composta, deste modo, das principaisteorias artsticas relacionadas anatomia utilizadas na

    Acadmie Royale de Peinture et Sculpture no sculoXVII, embora haja uma pequena parte relativa aosculo XIX advinda do dicionrio de Millin, dandoespecial nfase questo das propores.

    O tratado de Tortebat e de Piles

    A primeira obra que compe o eptome de Tau-nay aquela de autoria de Franois Tortebat e Rogerde Piles, constituindo tambm a parte principal e maislonga da publicao (31 pginas). Franois Tortebat,primeiro pintor da Acadmie Royale de Peinture et

    Sculpture desde sua fundao oficial por Lus XIVem 1663, compe seuAbrg dAnatomie7em 16688[Fig.2], baseando-se nas pranchas do tratado de anatomiado belga Andrea Vesalius, De humani corporis fabrica, de1538, e em outra obra de sua autoria realizada a partirda primeira, intituladaAndrea Vesalii Bruxellensis, scholamedicorum Patauina professoris, suorum de Humani corporisfabrica librorum, publicado em 1543, a partir de desenhosrealizados por Tiziano.9Tortebat compe o primeirotratado anatmico publicado na Frana inteiramentevoltado educao artstica:

    & cest ce qui ma fait entreprendre ce petit AbrgdAnatomie, que jai tir des meilleurs Auteurs quejai lus, avec tout le soin que ma curiosit ma faitprendre. Je lai accomod la Peinture de telle forteque lon ma voulu persuader quil fera trouv nonseulement facile & agrable, mais mme trs utile tous ceux qui ont quelque ambition de se ren-dre habiles dans le Dessein. Au reste cet Abrgsera si succinct, quon naura pas lieu de se plaindredu trop grand embarras de choses diffrentes: &

    loeconomie que jy garde est mme toute nouvelle;car ayant reconnu que ceux qui ont crire pour laMdecine, ont parl dune infinit des choses inuti-les aux Peintres, jai voulu que tout dun coup lon vtle nom, loffice & la situation des muscles dun ct,& la figure dmonstrative de lautre. Jai cru aussiquil toit ncessaire, aprs les muscles, de faire voirle squlette, tant le soutien des autres parties, & leprincipal btiment du corps humain ... ensorte que,parmi cette grande fort de difficults, on a peine

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    3/14

    Eptome de anatomiade Taunay

    RHAA 6 85

    reconnotre ce qui es ncessaire, davec ce qui nestpas: & cest quoi jai cru avoir apport quelqueremede, en vou donnant ce petit Abrg.10

    Tortebat preocupa-se com a realizao de uma

    obra que seja livre de concepes anatmicas conside-radas inteis no mbito das artes plsticas, da a neces-sidade de retirar da obra de Vesalius aquilo que parecemais apropriado aos artistas. A obra constitui-se detrs pranchas para o esqueleto [Fig. 3] e outras setepara o corch [Fig. 4]. A parte dedicada miologia subdividida em textos de trs colunas, onde constamseus respectivos nomes, as origens e inseres, e seuofcio. Na edio brasileira, Taunay segue o mesmoesquema de Tortebat, respeitando a subdiviso dos tex-tos e seus contedos no que se refere miologia. Para

    a parte de osteologia, suprime a pequena explicaode Tortebat sobre os ossos da cabea, indicando emnota a traduo da obra de Charles Le Brun contidano mesmo eptome, para o aprendizado desta partedo corpo humano. A obra de Tortebat faz algumasreferncias aos ossos da cabea, mas no os trata demaneira individual em suas pranchas. Por isso, Taunaysuprime o trecho completo e adverte para a leitura deLe Brun, fazendo um resumo das principais compo-sies sseas do tronco, das extremidades inferiores eposteriores advindas do tratado de Tortebat.

    A obra do sculo XVII alcana grande sucessona Europa, ainda que outros tratados sobre o tematenham surgido nos sculos seguintes.11Isto lhe ga-rante o aparecimento de novas edies em 1733, 1760e 1765. H, no entanto, algo a ser ressaltado no que serefere autoria do tratado francs. O nome de Rogerde Piles aparece somente a partir da edio de 1733,causando certo estranhamento, uma vez que se sabeque Tortebat o autor das pranchas, mas no dostextos, como ele prprio indica na apresentao de suaobra: ce petit abrg danatomie qui m est tomb entre

    les mains. No se sabe, contudo, por que Tortebatno cita de Piles e porque seu nome aparece somentena edio posterior e no em sua primeira edio, em1668. Talvez por mero desinteresse do autor ou porquestes referentes s discusses acerca do predomnioda cor ou da linha, em pauta naquele perodo, emboraa publicao de Dialogue sur le coloristenha ocorrido so-mente em 1673, e sua entrada efetiva como acadmicono se concretize antes de 1699, ano em que publica

    a obra Labrg de la vie des peintres. Porm, o prprio dePiles declara, anos mais tarde, ser o autor do pequenotexto includo desde a primeira edio, conforme eleexplicita: Jen ai fait voir lutilit et la ncessit dansla Prface dun petit Abrg que jen ai fait, et que

    Monsieur Tortebat a mis en lumire.12

    No entanto, aedio de 1765 inclui um outro autor no que se refere parte de osteologia, de onde Tortebat ou o prpriode Piles teriam extrado as informaes, qual seja, oTrait des osde Guichard-Joseph Duverney (1648-1730)incluso em sua obra intitulada uvres anatomiques, im-pressa somente em 1761 pela mesma editora que im-prime a obra de Tortebat do ano de 1765, chez Jombert.Embora o autor fosse ainda muito jovem em 1668,apenas vinte anos de idade, alguns historiadores, comoDuval, consideram que a obra de Duverney poderia

    ter sido iniciada antes mesmo da obra de Tortebat,da sua possvel referncia, fato menos provvel. Osescritos de Duverney s foram reunidos alguns anosdepois de sua morte, precisamente em 1761 por essaeditora, a qual inclura a nota referente sua obra aofinal do tratado de Tortebat. No certo, no entanto,que Tortebat tenha se baseado na obra de Duverney naseo de osteologia. Como bem nota Duval, no h,no texto de Duverney, algumas informaes referentes forma dos ossos e suas funes. Ao mesmo tempo,Duval enfatiza as imprecises relativas aos ossos da

    obra de Tortebat:

    Ces explications sont dune trs grande exactitude;mais, malheureusement, lorsque lauteur veut, dansde rares occasion il est vrai , expliquer les causes, laraison dtre de certaines dispositions, il commetdes erreurs dapprciation; il ne faut pas cependantlui en garder rancune, car de nos jours encore nousles avons entendu rpter. Par exemple, il dit: LeFmur est vot par devant, et enfonc par der-rire, pour la commodit de sasseoir; et plus loin:Entre lOs de la Cuisse et la Jambe, il se voit un

    Os rond appel la Rotule (nous ninsisterons passur cette indication dos rond appliqu un os deforme triangulaire) qui sert empescher que lesJambes ne flchissent en devant.13

    Duval, ao comparar as obras de Tortebat e Du-verney, no confirma as referncias dadas pela casaJombert, uma vez que o tratado de Duverney no seassemelha quele de Tortebat e no contm os erros

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    4/14

    Elaine Dias

    86 RHAA 6

    presentes neste ltimo. No caso da traduo brasileira,Taunay conhece as imprecises contidas no tratado,conforme menciona ele prprio no prefcio de suaobra, ainda que reproduza em sua traduo, malgradoa nota de advertncia, as imprecises de Tortebat ou

    de de Piles.

    O eptome de Osteologia e Miologia tem sido com-posto por De Piles no principio do ultimo sculo, epublicado para o uso dos artistas debaixo do nomede Tortebat. Quaisquer que tenham sido os progres-sos da anatomia desde esse tempo, e as modificaesno vocabulrio dela, o apreo desta obra elementarno tem diminudo, visto que, como nela se trataprincipalmente das aparncias exteriores, logo quese d conta destas, umas deficincias e at erros nanatureza intima das partes e diferenas de nome

    no se fazem mui prejudiciais. Basta conservar-seinteligvel.14

    Malgrado suas imperfeies, Taunay ciente douso contnuo da obra desde sua primeira edio ata atualidade nas academias europias.15Sabemos quea mesma obra foi utilizada no s na Frana comotambm na Academia de Bellas Artes de San Fernandoquando, em 1803, o diretor Francisco J. Ramos pediuque fosse incorporada a obra de Tortebat no mtodode ensino anatmico, ainda reconhecido como o me-

    lhor para a educao artstica, outrora indicado porAnton Raphael Mengs a seus alunos. Para tanto, seriaprovidenciada sua traduo para o espanhol.16Tam-bm foi traduzido para o alemo em 1706 e diversasedies em ingls foram realizadas at 1842.17

    O tratado traduzido e adotado por Taunay foiutilizado por muitos anos, ainda que seu uso sofressealgumas crticas por parte dos professores, que so-licitavam sua atualizao ou o acrscimo de outraspartes.

    A Physiologia das paixes, de Le Brun

    A Physiologia das paixes por Carlos Lebrun,assim designada por Taunay, constitui a segunda partede seu eptome. Refere-se s expresses humanas pro-venientes das paixes da alma. Como a prpria obracita, a traduo provm dos escritos de Charles LeBrun contidos em sua Confrence sur lexpression gnrale etparticulire,de 1668. A conferncia fazia parte, outros-

    sim, de um programa didtico e no menos intelectualpromovido pelo diretor da Acadmie Royale de Pein-ture et de Sculpture, Charles Le Brun, responsvel pelaorganizao didtica da instituio recm-fundada sobo domnio de Lus XIV. Era, portanto, mais uma ex-

    presso do poder real, o qual se estendia a uma srie deoutras instituies tambm criadas sob a investidurado ministro Colbert, todas com o objetivo direto decelebrao do Estado do Rei Sol. Baseado no Trait despassionsde Ren Descartes, elaborado em 1649, e tam-bm na obra Charactres des passions, do mdico Cureaude la Chambre, publicada em 1640, o tratado de LeBrun remonta tambm, assim como os dois primeiroscitados, ao quarto livro da Repblicade Plato, onde formulada a teoria das partes da alma:

    Les traducteurs mdivaux de Platon, dont les coll-ges jsuites et les universits perptuaient encore auXVIIe sicle le langage, avient pris lhabitude dequalifier le logos de partie rationnelle de lme,dont lapptit (la forme de dsir) tait nomm in-tellectuel. Lautre partie, la partie sensitive, toutimpulsive et passionnelle, faisait chez Platon lobjetdune subdivision en thumos le courage, lardeur senflammer pour les causes nobles (justice, pi-t, vertu, ordre public) et pithumia, lapptitgrossier, tourn vers la nutrition, la conservationet la procration, et qui il pouvait arriver de se

    rvolter contre le logos, se souillant alors de luxureprovocatrice et perverse. Les scolastiques tradui-saient thumos par apptit irascible et pithumiapar apptit concupiscible.18

    A teoria de Plato aparecer nas primeiras pas-sagens de Cureau, Descartes e, por conseguinte, naobra de Le Brun, quando descreve as denominadaspaixes simples como aquelas advindas do apptitconcupiscible, como o amor, o dio, o desejo, a ale-gria e a tristeza, e as paixes compostas provenientes

    do apptit irascible, quais sejam, o temor, a ousadia,a esperana, o desespero, a clera e o pavor. H aquitambm referncia clara obra de Senault, De lusagedes passions, editada em 1641, na qual so elaboradosos conceitos de paixes simples e compostas, tambmemprestados por Le Brun em sua obra. convenientea Le Brun no citar nenhum desses autores como fon-tes de suas principais teorias sobre as paixes da alma.Tira dessas teorias o proveito necessrio ao mbito ar-

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    5/14

    Eptome de anatomiade Taunay

    RHAA 6 87

    tstico, sem tocar as questes filosficas que em muitoabalavam a poltica e a religio naquele perodo de LusXIV, partidrio da excluso do filsofo e suas teorias.Vale lembrar que Descartes havia morrido em 1650em Estocolmo, depois de ter vivido durante quase

    trinta anos na Holanda, temeroso das perseguies noEstado de Lus XIV, que s corrobora seus escritosno ensino francs a partir de 1675. No era necessrio,portanto, a Le Brun, adentrar as discusses acerca dasteorias e suas diferenas. Julien Philippe destaca naPrsentation da obra de Le Brun reeditada em 1994esta questo, advinda do prprio comentrio de LeBrun em sua obra: il y a tant de personnes savantesqui ont trait des passions, que lon nen peut dire quece quils en ont dj crit.19Apesar de Le Brun noser claro quanto referncia a Descartes, clara a sua

    aluso, segundo ressalta Philippe:

    Mais le contexte est ici important: nous sommesdans une acadmie de Louis XIV et ltat, par-lant par la bouche de Le Brun, confisque la vritet na pas se soucier de faire des citations. Cetteimpersonnalit dtat, cet art anti-subjectif qui r-sout tout en mthode, incline Le Brun supprimerpour ainsi dire lauteur de la doctrine dont il estlinventeur.20

    A referncia, no entanto, a Cureau de la Cham-bre, bem-vinda, uma vez que o mdico era protegidodo Estado de Lus XIV e um dos protetores da aca-demia dirigida por Le Brun, ainda que este no res-salte sua participao efetiva em sua conferncia. Dequalquer maneira, torna-se atraente a idia suscitadapela unio entre filosofia, medicina e arte, a qual tor-nava-se perfeita na elaborao de um tratado sobre aspaixes da alma dedicado s belas-artes, tirando delasos propsitos que lhe convinham. Aos pintores, eraoferecido o ponto de partida de seu trabalho, qual seja,

    a expresso da alma que, concentrada nos movimentosdo rosto, convertia-se no motor das outras partes docorpo, correspondendo plenamente ao carter sistem-tico do ensino proposto por Le Brun como diretor daAcadmie Royale de Peinture et Sculpture.

    Lexpression, mon avis, est une nave et naturelleressemblance des choses que lon a reprsenter:elle est ncessaire, et entre dans toutes les parties

    de la peinture, et un tableau ne saurait tre parfaitsans lexpression; cest elle qui marque les vritablescaractres de chaque chose; cest par elle que londistingue la nature des corps, que les figures sem-blent avoir du mouvement, et que tout ce qui estfeint parat tre vrai.21

    Ao pintor era ensinado (ou imposto) o que ele

    deveria pintar, aquilo que deveria compor qualquerrepresentao pictrica do Estado de Lus XIV. Dessamaneira, os desenhos feitos por Le Brun e os textossobre as paixes contidos em sua Confrence associa-vam-se a outra obra tambm editada nesse mesmoano de 1668, isto , quela de Tortebat, constituindoas bases fundamentais ao aprimoramento do estudodo desenho. Os dois textos so fundamentais a Taunayna construo de sua metodologia de ensino.

    O texto de Taunay acerca das paixes apresentatrs partes: osteologia da cabea (duas pginas), myo-logia da cabea (duas pginas) e physiologia das pai-xes movimentos dos msculos nas paixes da alma(oito pginas), assim mencionadas. No fica claro qual a edio tomada por Taunay para sua traduo e nemqual foi a obra utilizada para a concepo dos ossos emsculos da cabea que introduzem o tema. Taunaypode ter se baseado na obra de Vesalius, uma vez queo cita quando se refere aos ossos do tronco em meio

    traduo do eptome de osteologia de Tortebat, ci-tao que, de resto, no existe nessa parte do texto deTortebat. Para a traduo das paixes, Taunay parece,contudo, alternar entre aquela editada por Picart em1698, considerada a mais fiel s notas originais de LeBrun, e aquela editada por Jean Audran em 1727, emque este apresenta uma espcie de resumo das paixes,concentrando-se nas partes tcnicas de cada descriopresente na Confrence, dando-lhes a forma de legendascompostas por textos breves juntamente s pranchasgravadas. Os textos elaborados por Taunay so bem

    semelhantes aos dessa ltima edio, uma vez que seaproximam de seu formato de legenda, com brevesexplicaes:

    A Tranqilidade CHAPA 1

    Quando a alma est nhum socego perfeito, asfeies do semblante fico no seu estado natural.Hum aspecto de satisfaco pde ento exprimiresta situao tranqilla.

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    6/14

    Elaine Dias

    88 RHAA 6

    A aproximao a Audran ainda reforada pelaconservao, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,de um exemplar da edio de Audran, de 1727, com-posta somente das pranchas, embora no existam naedio os textos em forma de legendas [Fig. 5]. Porm,

    Taunay acrescenta partes que no esto presentes nessapublicao de 1727, o que remonta novamente hip-tese de utilizao da edio de Picart. Parece valer-se,portanto, de duas edies para compor sua traduo.

    Antes de iniciar a descrio das paixes, Taunayressalta:

    As diferentes paixes da alma tem huma influenciamui marcada sobre os msculos da cara. Estes ex-perimento modificaes mais ou menos conside-rveis, em relao com a intensidade e violncia da

    paixo: assim acontecer que a clera e o desesperodesfigurem todas as feies do semblante, quandoa compaixo e o jbilo se limitaro a modifica-lolevemente. Hum conselho til para os estudanteshe que devem cuidar em caracterizar o tempera-mento e as feies de huma figura por hum modoanlogo paixo que nele querem expressar. Seriaridculo, por exemplo, representar nhuma cleraviolenta hum homem, cujos cabelos louros, estaturadelgada, e feies efeminadas indicassem a mollezae falta de energia, ao mesmo passo que a douraseria mal caracterizada por huma disposio abso-

    lutamente oposta.

    22

    Em seu compndio, Taunay apresenta 23 pai-xes; a Confrencede Le Brun, 21; e Audran, 19. Issose explica pelo fato de Taunay desdobrar em duas ex-plicaes algumas das paixes, como La joiede 1668 eLa joie tranquilede 1727, transformadas em TranqilidadeeAlegria,ambas em pargrafos separados.A Douleurcorporelle, assim concentrada nos textos de Le Brun edestacada em suas pranchas como Douleur aigu,Douleurdesprite Douleur corporelle, foi desdobrada no texto de

    Taunay em Dr corporal aguda e de esprito,Dr corporalsimplese Dr corporal extrema. A edio de 1727 apresentaa Douleur aigu e a Douleur corporelle simple. O Desejo ea Esperana, ao contrrio, esto separados na ediode 1668 e a Esperana est excluda naquela de 1727.Taunay une as duas paixes numa s explicao, assimcomo aquela referente ao Desprezo e dio, separadas nasduas edies. A edio de 1727 apresenta a Compassion[Fig. 6], paixo criada pelo prprio Jean Audran, no

    existindo, portanto, no original de 1668. No entanto, aCompaixo foi incorporada traduo de Taunay, o quenos indica o uso efetivo dessa edio. A Raivaapareceincorporada aoExtremo desespero, isolada na Confrencede 1668 (La rage) e ausente naquela de 1727.

    A contrao dos msculos da testa e o movi-mento do nariz, a abertura da boca e dos olhos, aposio da pupila e, principalmente, a elevao dassobrancelhas constituem as caractersticas principaisda construo da paixo nas figuras. As sobrance-lhas seriam, segundo Le Brun,

    ... la partie de tout le visage ou les passions se fontmieux connatre, quoique plusieurs aient pense quece soit dans les yeux. Il est vrai que la prunelle parson feu et son mouvement fait bien voir lagitationde lme, mais elle ne fait ps connatre de quellenature est cette agitation. La bouche et le nez ont be-aucoup de part lexpression, mais pour lordinaireces parties ne servent qu suivre les mouvementsdu coeur ...23

    O compndio de Taunay apresenta as seguintespaixes, assim denominadas: A Tranqilidade (chapa1), A Alegria (chapa 2), A Admirao (chapa 3), OPasmo (chapa 4), Atteno e Estima (chapa 5), O des-prezo e o dio (chapas 6 e 16), O Horror (chapa 7),O Espanto (chapas 8 e 16), A Tristeza e o Abatimento(chapas 9 e 14), O Riso (chapa 10), O Choro (chapa11), A Colera (chapas 12 e 13), O extremo Desespero(chapa 13), O Amor Simples (chapa 14), O Desejoe a Esperana (chapa 14), A Venerao (chapa 15),A xtase (chapa 15), Dr Corporal Simples (chapa19), Dr Aguda de Corpo e de Esprito (chapa 19),Dr Corporal Extrema (chapa 15), O Temor (chapa16), A Compaixo (chapa 17), O Cime (chapa 18).Taunay apresenta, portanto, 23 paixes descritas sepa-radamente, embora utilize 19 chapas como ilustrao,o que o aproxima ainda mais da reedio de Audrande 1727, tambm composta por 19 pranchas.

    As propores do corpo humano Millin e Audran

    A terceira e ltima parte da traduo compostapor Taunay intitula-se Algumas consideraes geraissobre as propores. Refere-se ao verbete Propor-tion do Dictionnaire des Beaux-Arts24de Aubin-LouisMillin, editado em 1806 na Frana. O verbete de

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    7/14

    Eptome de anatomiade Taunay

    RHAA 6 89

    Millin constitui-se, na realidade, de um curto ensaiosobre a proporo dentro das belas-artes, quais sejam,as relaes matemticas estabelecidas entre as diversaspartes do corpo, no qual tambm procura fazer umaaluso msica25ao trabalhar as questes da harmonia

    aplicadas ao corpo humano, modelo perfeito das boaspropores.26

    O effeito produzido pela proporo ou dispropor-o se percebe todas as vezes que vrios objetos de-vem concorrer para formar hum todo harmonioso.Nos objectos visveis, ha propores a respeito dotamanho das partes, neste sentido: que algumaspodem ser grandes de mais e outras demasiada-mente pequenas; a respeito da luz e do claro-escuroalgumas podem ser muito iluminadas, outras insu-ficientemente; a respeito da expresso, pode haver

    partes mais lindas, mais tocantes, em huma palavra,mais expressivas do que o permite o todo. No querespeita o sentido do ouvido, ha propores na du-rao, na fora, na elevao dos tons, na sua graae efeito que produzem. Seria pois um erro imagi-nar que no se deve observar as boas proporesseno no desenho e na architectura. A ellas devecada artista atender: dellas nascem a harmonia e averdadeira unidade do todo.

    O desenho e a arquitetura desempenham

    funes fundamentais nesse sentido. Em seguida,quando compara os tamanhos de cada parte do corpo,de modo que ofeream ao todo a sua perfeio nosentido da proporo, Taunay faz novamente men-o cidade e sua composio, s partes que podemlhe conferir propores adequadas, aos espaos quepodem ou no ser preenchidos com a luz dentro deuma edificao, aos tamanhos das colunas e sua so-lidez, enfim, aos elementos que devem se adequar perfeio do todo. Esses exemplos so utilizados paradescrever como cada parte se relaciona com o todo.

    Percebe-se claramente a vertente seguida por Millinem sua concepo de natureza, aproximando-se dateoria do todo orgnico formulada por Goethe quenourrit un culte de la nature, quil conoit comme untout organique, dont lharmonie repose sur des lois dcouvrir.27Millin discorre em seu verbete sobre oconceito de natureza relacionado harmonia, isto , asubmisso da natureza das partes e de suas relaescom a natureza do todo, em que o desenhista deve

    escolher as partes que lhe parecem mais convenientes construo de sua figura.

    Em seguida, apresenta como devem ser as me-didas da cabea e da face, as quais ditaro as medidasdas outras partes do corpo. O ensaio, no entanto, acaba

    servindo para discorrer sobre a questo do desenhoj amplamente discutida em seus detalhes anatmicosnos tratados anteriores. Na realidade, Taunay acabaobedecendo, em seu eptome, ordem condizente aoscursos de anatomia: osteologia, miologia, proporese forma, incorporando a fisiologia das paixes de LeBrun e no deixando de incluir ali os ossos e msculosda cabea.

    Por ltimo, dentro do prprio verbete de Millin,h uma curta passagem intitulada Com as divisesdo corpo humano por Gerardo Audran, acerca das

    propores a partir das mais belas formas da Anti-gidade realizadas por Grard Audran. O tratado re-alizado pelo gravador Audran, Les proportions du corpshumain mesures sur les plus belles figures de lAntiquit, foieditado em 1683 [Fig. 7] e se juntava a uma srie deoutros tratados destinados formao dos alunos daAcadmie Royale de Peinture et Sculpture no que serefere s propores,28e ainda quele j realizado porTortebat e por Le Brun. Como o prprio ttulo diz,Audran apresenta as medidas de dez modelos gre-gos masculinos, entre os quais as esttuas de Apolo

    do Belvedere, Laocoonte [Fig. 8], Hrcules Farnese eAntnoo, dois modelos femininos, entre eles a Vnusde Mdicis, e um modelo egpcio, o Egpcio do Capi-tlio. As esttuas esto em diferentes posies e sotambm apresentadas as medidas de seus fragmentos.No prefcio de sua obra, Audran esclarece os objetivosdo tratado:

    Cela parot dabord fort ais: car puisque toute laperfection de lArt consiste bien imiter la na-ture, il semble qui l ne fail le point consulter dautre

    Maistre, & quon nait qu travailler daprs lesmodelles vivans; toutefois si l on veut approfondirla chose, on verra quil ne se trouve pas que peuau point dhommes dont toutes les parties soientdans leur juste proportion sans aucun default. Ilfaut donc choisir ce quil y a de beau dans chacun,& ne prendre que ce quon nomme communmentla belle nature ... On peut avancer hardiment quilsont en quelque sorte surpass la nature; car bienquil soit vray de dire quils non fait veritablement

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    8/14

    Elaine Dias

    90 RHAA 6

    que limiter, cela sentend pour chaque partie enparticulier, mais jamais pour le tout ensemble, &il ne sest point trouv dhomme aussi parfait entoutes ses parties que le sont quelques-unes de leursFigures. Ils ont imit les bras de lun, les jambesde lautre, ramassant ainsi dans une seule Figure

    toutes les beautez qui pouvoient convenir au sujetquils representoient, comme nous voyons quilsont rassembl dans lHercule tous les traits quimarquent la force, & dans la Venus toute la dli-catesse & toutes les graces qui peuvent former unebeaut acheve. Ils ne plaignoient ny le temps nyles soins; ils sen est trouv tel qui a travaill toutesa vie en vu de produire seulement une Figureparfaite.29

    O estudo do modelo vivo no seria, portanto,

    suficiente para a construo da figura, embora fossefundamental ao aprendizado artstico. Por meio doestudo do antigo e da apropriao de cada uma de suaspartes, chegar-se-ia perfeio dos gregos, seguindo omodelo de Zuxis, mas do ponto de vista da estaturia.Evoca, portanto, a superioridade da estaturia antigaperante a natureza. Ainda em seu prefcio, Audrandiscorre acerca das partes irregulares de cada um dosmodelos que sero encontradas em seu tratado, justi-ficadas, no entanto, pela posio em que as esttuasse encontravam em sua originalidade, o que no lhestira a sua perfeio.

    Percebe-se, no entanto, algumas diferenas te-ricas entre a obra de Audran e o artigo de Millin,principalmente no que se refere questo das partese do todo, como verificamos anteriormente. Taunay,no entanto, preocupa-se mais com o mtodo didticoe menos com as questes tericas que envolvem cadaum dos tratados traduzidos, assim como fez Le Brunna organizao de suas paixes. Millin, por exemplo,no cita explicitamente o nome de Audran em seuartigo de 1806, fazendo apenas meno existncia

    de uma obra que trata das medidas gerais das belasesttuas. Taunay, ao contrrio, faz referncia ao tra-tado de Audran ainda ao final do texto sobre Millin,fazendo a ponte entre as duas obras: Gerard Audrantem adoptado esta escala na sua obra intitulada:Pro-pores do corpo humano medidas sobre as mais bellas esttuasda Antiguidade, Paris, 1683.

    Em seu eptome, Taunay faz um resumo dessetratado editado em 1683, tecendo algumas considera-

    es sobre as medidas de Apolo do Belvedere e Vnusde Mdicis, e uma curta meno ao Hrcules Farnese.Com apenas dois pargrafos de explicao acerca dasmedidas das esttuas, o prprio Taunay reconhece adificuldade do assunto e ressalta, ao final: He tudo

    isso mui complicado: convm que os alunos recor-ro s figuras de Audran que existem na Academia,e nas quaes se offerecem vista as medidas certasdo Hercules Farnese, Vnus de Medicis, Apollo doBelvedere, Antinoo e Egypcio do Capitlio. E assimtermina sua curta referncia a Audran, sem maioresexplicaes sobre a questo que envolve a estaturiaantiga e o estudo das propores, embora destine, aolongo de sua carreira como diretor, especial atenoao exemplo do antigo.

    ConclusoAo traduzir tais obras e organizar o eptome

    para seus alunos, Taunay coloca a academia brasileirano conjunto de instituies que utilizavam e traduziamos tratados artsticos, incorporando-se ao sistema decirculao das obras anatmicas destinadas meto-dologia de ensino.

    A difuso desse modelo francs passava, comsuas tradues, pelas academias inglesa, espanhola,portuguesa, alem e, agora, brasileira. No caso do Bra-

    sil, Taunay faz uma seleo de obras, traduzindo-as ereunindo-as numa nica publicao, algo incomum secomparado s outras academias.30O caso mais pr-ximo ao livro de Taunay talvez seja a obra portuguesaMedidas gerais do corpo humano, publicada em 1810 pelopintor Joaquim Leonardo da Rocha, professor de umaescola de desenho na Ilha de Madeira, o qual se baseiatambm nos principais tratados acerca das propor-es.31No entanto, a publicao concentra-se nessatemtica, isto , as propores, diferenciando-se docompndio de Taunay, que composto de vrias pu-

    blicaes que vo alm da questo das propores. Naobra brasileira, alm da praticidade e da importnciade cada um desses tratados na metodologia de ensinode desenho, Taunay pensa certamente na questo fi-nanceira da academia e sua dependncia do governono aumento das despesas da instituio ao incluir asobras destes autores franceses em um nico livro, vistoque este era um problema anualmente enfrentado pelacongregao acadmica.

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    9/14

    Eptome de anatomiade Taunay

    RHAA 6 91

    Parece claro que Taunay preocupa-se, nos pri-meiros anos de sua atuao como diretor, em criaruma sistemtica adequada ao ensino acadmico, isto, a partir de elementos que compunham a academiafrancesa desde sua origem, com a devida nfase nas

    questes acerca do antigo, essenciais esttica neocls-sica levada a cabo ao final do sculo XVIII e inciodo XIX. A meno ao tratado de Audran, ainda quereduzida, identificava-se no s com a retomada doantigo como concepo esttica a partir das teoriasde Johann Winckelmann, das quais Taunay era umseguidor como diretor da academia, mas tambm coma realizao de novas edies (1801 e 1855) de seutratado, que passava a ser reutilizado nas academias,ou em publicaes atualizadas32 de outros autores,principalmente no que se refere s medidas, como

    o caso daquela elaborada por Nicolas Poussin e tra-duzida para o francs em 1803.33

    Taunay bem sabe que a concepo perfeita docorpo humano obtida por meio do desenho consistena unio de todos esses fatores, subtraindo as irregu-

    laridades do modelo vivo com o estudo da anatomiae com os modelos da Antigidade, nascendo da a suaforma perfeita. O desenho do nu e a estaturia antigacompem, portanto, as principais classes a que Taunayse dedica com extremo zelo durante longos anos desua carreira. A obra rarssima de Taunay, publicadaem 1837 e hoje conservada no Museu D. Joo VI noRio de Janeiro, uma prova concreta desses mode-los tericos, amplamente empregados nas academias,instrumento poderoso para o desenvolvimento domtodo didtico empregado no Brasil.

    1O curso de modelo vivo foi aprovado pelo governo imperialem 1834.

    2As aulas de anatomia constavam j nos estatutos reformados de1833. Os alunos, segundo os estatutos, deveriam acompanharas aulas no Hospital Militar (Ata de 10/10/1833, Museu Dom

    Joo VI, EBA, UFRJ), o que no ocorreu. A contratao do

    primeiro professor foi efetivada em 1837.3Desaparecido do Museu Dom Joo VI desde os ltimos traba-lhos desenvolvidos pelo professor Alfredo Galvo, oEptomede anatomiafoi reencontrado em junho de 2004 graas ao an-damento da pesquisa de doutoramento intitulada Flix-mileTaunay: cidade e natureza no Brasil. Publicao datada de 1837 eimpressa pela Typographia Nacional, a obra rarssima encon-tra-se em perfeito estado, com exceo da capa e contra-capa. composta somente da teoria presente nos textos citados.

    4... e ento o senhor Ferrez insistiu sobre a necessidade de sedesenvolver esta classe, para cuja preparao acaba o senhordiretor de traduzir o eptome de anatomia, que est a sair doprelo. Ata de 1/3/1837, Museu Dom Joo VI, EBA, UFRJ.

    5Vale ressaltar que Taunay havia traduzido em 1836 a obraArtede pintar a leo conforme a prtica de Bardwell, baseada sobre o estudo ea imitao dos primeiros mestres das escolas italianas, inglesa e Flamenga,a partir da obra inglesa de Thomas Bardwell, The Practice ofPainting and Perspective Made Easy. O livro de Bardwell foi edi-tado em 1756 e Taunay baseia-se na 13 edio.

    6Os alunos deviam recorrer aos originais para a anlise daspranchas.

    7Abrg danatomie, accommod aux arts de peinture et de sculpture, Etmis dans un ordre nouveau, dont la mthode est trs-facile, et dbarasse

    de toutes les difficultez et choses inutiles, qui ont tojours est un grandobstacle aux Peintres, pour arriver la perfection de leur Art. Ouvragetrs-utile, et trs-ncessaire tous ceux qui font profession du Dessein. Misen lumire par Franois Tortebat, Peintre du Roy dans son AcadmieRoyale de la Peinture et de la Sculpture. Paris, 1765. Bibliothquede lInstitut National dHistoire de lArt Collections JacquesDoucet.

    8Alguns autores indicam a data de 1667 como aquela da primeiraedio. H indicao no exemplar da cole des Beaux-artsacerca do ano de 1668. De plus, nous adoptons la date de 1668pour une autre ra ison qui nous semble plus valable encore: lasuite du Privi lge, qui est dat du 2 novembre 1667, se trouvela mention Achev dimprimer pour la premire fois le dou-zime janvier 1668. DUVAL, Mathias & CUYER, douard.Histoire de lanatomie plastique. Les matres, les livres et les corchs.Paris, Socit franaise dditions dart, 1898, p. 139.

    9DUVAL, Mathias, p. 141. Entretanto, a atribuio das pranchasa Tiziano uma tese que ganha corpo somente no sculoXVII. Tambm Johannes Stephanus Calcar, assistente de Ti-ziano, considerado autor das pranchas de Vesalius, citado por

    Vasari na segunda edio das Vite. Cf. RHRL, Boris. Historyand bibliography of artistic anatomy. New York: 2000 e tambmROBERTS, K. B. The fabric of Body: European traditions of anato-mical illustration. Oxford: Clarendon Press, 1992.

    10TORTEBAT, Franois. Op. cit., prefcio.11A esse respeito, ver BARBILLON, Claire. Canons et thories

    de proportions du corps humain en France (1780-1895). Thse pourlobtention du Doctorat prsente devant lun iversit de ParisX Nanterre, sous la direction de M. le professeur Pierre

    Vaisse, 1998, v. 2.

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    10/14

    Elaine Dias

    92 RHAA 6

    12Duval citando a obra de Piles, Lart de la peinture. Paris, 1751,p. 148, In DUVAL, Mathias, Op. cit., p. 144.

    13Idem, p. 140.14Prefcio do eptome organizado por Taunay.15Em sua obra, Schlosser confirma o uso e traduo da obras

    em diversas lnguas. SCHLOSSER, Julios von. La littrature

    artistique. Paris: Flammarion, 1996, p. 629.16Jos Luis Munrriz qued encargado de traducir los textos de

    los tres esqueletos y de las figuras. NAVARRETE MARTI-NEZ, Esperanza. La Academia de Bellas Artes de San Fernando

    y la pintura en la primera mitad del siglo XIX. Madrid: FundacinUniversitaria Espaola, 1999, p. 168. Munrriz era acadmicode honra desde 1796 e secretrio geral a partir de 1807.

    17RHRL, Boris. Op. cit., p. 105.18PHILIPE, Julien, Op. cit., p. 27-8.19LE BRUN, Charles. Lexpression des passions & autres confrences,

    correspondances.Paris: ditions Ddale, 1994, p. 52.20PHILIPE, Julien. Prsentation, In LE BRUN, Charles. Op.

    cit., p. 25.21LE BRUN, Charles, Op. cit., p. 51.22Taunay, na introduo da parte referente physiologia das

    paixes.23LE BRUN, Charles, Op. cit., p. 60-1.24MILLIN, Aubin-Louis. Dictionnaire des Beaux-Arts. Paris: Im-

    primerie de Crapelet, 1806.25O dicionrio de Millin era destinado s belas-artes, incluindo

    tambm a msica.26BARBILLON, Claire. Op. cit., p. 461-5.27MODIGLIANI, Denise & BRUGRE, Fabienne. Prface,

    In MENGS, Anton Raphael. Penses sur la beaut et sur le gotdans la peinture.Paris: ENSBA, 2000, p. 22.

    28Por exemplo, os tratados de Henry Testelin (1696) e AbrahamBosse (1656).

    29AUDRAN, Gerard. Les Proportions du corps humain mesures sur lesplus belles figures de lAntiquit. Paris, Chez Grard Audran, Gra-veur du Roy, rue S. Jacques, aux deux Pilier dor. MDCLXX-XIII. Avec privilge du roy. Bibliothque de lInstitut NationaldHistoire de lArt, Collections Jacques Doucet.

    30No final do sculo XIX, surgem novos tratados de anato-mia a partir da reunio de obras j publicadas, como aquelede William Rimmer,Art Anatomy, de 1877. H combinaesnovas entre os tratados e a criao de novas figuras, configu-rando o aparecimento de um outro tipo de publicao da reade anatomia destinada ao ensino, como no caso de Rimmer.No acontece o mesmo com Taunay, que, apesar de trabalharconjuntamente com vrias obras, apenas traduz sem incluirnovas concepes a partir dos textos originais. Tambm no hincluso de novas figuras, baseando-se nas pranchas originaispara consulta. Cf. RHRL, Boris.Op. cit.

    31RHRL, Boris. Op. cit. O primeiro tratado portugus deanatomia,Mtodo de propores e anatomia do corpo humano, foipublicado em 1836 por Francisco de Assis Rodrigues, professorde escultura da Academia de Belas Artes de Lisboa.

    32Barbillon cita os imitadores e os plgios de sua obra realizadosno final do sculo XVIII e XIX, por exemploProportions des plusbelles figures de lAntiquit, editado em 1794 por Franois-AnneDavid, Lesproportions du corps humain, mesures sur les plus bellesstatues de lAntiquit, datado de 1800, do autor desconhecidoRinmon. BARBILLON, Claire, Op. cit., p. 153.

    33Trata-se do manuscrito de Nicolas Poussin intitulado Mesuresde la clbre statue de lAntinos suivies de quelques observations sur la

    peinture, transcrito e publicado por Bellori em 1672 e traduzidodo italiano por M. Gault de Saint-Gervais em Paris, pela edi-tora Egron em 1803.

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    11/14

    Eptome de anatomiade Taunay

    RHAA 6 93

    12

    1 Flix-mile Taunay.Eptome de Anatomia, 1837

    2 Franois Tortebat.Abreg dAnatomie, 1755

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    12/14

    Elaine Dias

    94 RHAA 6

    3 Franois Tortebat. Prancha de EsqueletodoAbreg dAnatomie, 1755

    4 Franois Tortebat. Prancha de MusculaturadoAbreg dAnatomie, 1755

    3

    4

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    13/14

    Eptome de anatomiade Taunay

    RHAA 6 95

    5 Jean Audran.Expressions desPassions de lme,1793

    6 Jean Audran. La Compassion.Expressions des Passions de lme,1793

    56

  • 7/25/2019 Flix-mile Taunay O Eptome de Anatomia De

    14/14

    Elaine Dias

    96 RHAA 6

    7 Grard Audran.Les Proportions du Corps Humain mesures

    sur les plus belles formes dAntiquit,1683

    8 Grard Audran. Laocoon.Les Proportions du Corps Humain mesures

    sur les plus belles formes dAntiquit,1683

    7

    8