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FEMPAR – FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ MARCELLO AUGUSTO CLETO MELLUSO PROCESSO CIVIL COLETIVO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR CURITIBA 2010

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FEMPAR – FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ

MARCELLO AUGUSTO CLETO MELLUSO

PROCESSO CIVIL COLETIVO

NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

CURITIBA

2010

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MARCELLO AUGUSTO CLETO MELLUSO

PROCESSO CIVIL COLETIVO

NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Ministério Público Democrático na Fundação Escola do Ministério Púbico do Paraná – Fempar.

Orientador: Prof. Clayton Maranhão.

CURITIBA

2010

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MARCELLO AUGUSTO CLETO MELLUSO

PROCESSO CIVIL COLETIVO

NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Ministério Público Democrático na Fundação Escola do Ministério Púbico do Paraná – Fempar.

EXAMINADOR

____________________________________

Orientador: Prof. Clayton Maranhão.

Aprovada em_____/_____/2011.

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“ Venho dedicar este estudo aos mestres, professores e colegas...”

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AGRADECIMENTOS

A Deus;

Aos colegas;

Aos mestres;

Aos familiares...

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RESUMO

Este estudo tem como objeto de pesquisa a processo civil coletivo, sendo que além

de posições doutrinária e jurisprudencial, aprofundando o estudo sobre a

importância do processo civil coletivo como resguardo das garantias fundamentais.

Embasa-se na necessidade da ampliação do leque constitucional de atuação do

Ministério Público trazendo a lume a importância do tema em se tratando de ações

coletivas, incipientes, a princípio na Lei de Ação Civil Pública, sendo pacífica em

matérias como meio ambiente e negadas em se tratando da seara tributária. È

necessário pois nova discussão sobre a garantia dos direitos sociais e coletivos, em

busca da tutela efetiva da justiça social e da cidadania. Desta forma, a ampliação do

papel desses entes, e do rol dos direitos tuteláveis pelas ações coletivas de

consumo, faz emergir a preocupação com os possíveis abusos praticados. Daí a

necessidade da delimitação da legitimidade dos entes habilitados para a defesa dos

direitos coletivos dos consumidores em juízo. De fato, em que pese a inegável

relevância da tutela coletiva, o CDC atribui a mesma relevância à defesa

individualizada dos direitos dos consumidores.

Palavras- Chave: Processo Coletivo, garantia, Consumidor, tutela.

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ABSTRACT

This study aims to research the civil collective, and besides doctrinal and

jurisprudential positions, deepening the study on the importance of collective civil

guard as fundamental guarantees. Rests on the need for expansion of the scope of

the constitutional role of the prosecutor bringing to light the importance of the issue in

the case of class actions, tentative, at first in the Law of Public Civil Action, was

peaceful on issues such as environment and denied in it comes to the tax field. It is

necessary for further discussion of the guarantee of social rights and collective, in

pursuit of effective protection of social justice and citizenship. Thus, expanding the

role of these entities, and the list of protectable rights by the collective actions of

consumption, gives rise to concern about possible abuses. Hence the necessity of

defining the legitimacy of the entities entitled to collective rights of consumers in

court. In fact, despite the undeniable importance of collective protection, the CDC

gives equal importance to the defense of individual rights of consumers.

Key-words: Collective Process, warranty, Consumer protection.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 06

1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................. 10

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO CIVIL COLETIVO....................... 10

1.2 DOS DIREITOS COLETIVOS EM ESPÉCIE...................................................15

2 PROCESSO CIVIL COLETIVO NO CODIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR...................................................................................................... 17

2.1 A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS INTERESSES

DOS CONSUMIDORES................................................................. 23

2.2 O PAPEL DA UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E o DISTRITO FEDERAL... 30

2.3 ENTIDADES E ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA OU

INDIRETA DESTINADOS À DEFESA DO CONSUMIDOR................................... 30

2.4 ASSOCIAÇÕES............................................................................................... 31

3 DA EFETIVIDADE DO PROCESSO CIVIL COLETIVO NO CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR................................................................................ 35

3.1 OS BENEFÍCIOS DA AÇÃO COLETIVA NO CDC........................................ 38

3.2 COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS NO CDC.................................. 39

CONCLUSÃO........................................................................................................ 43

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 44

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INTRODUÇÃO

Verifica-se que a tutela coletiva vem sendo gradativamente ampliada pelos

Tribunais Pátrios, de molde a alcançar um número cada vez maior de beneficiários,

mesmo se considerando a enxurrada de ações de natureza individual.

Iniciou-se com o advento da Lei de Ação Civil Pública, Lei nº 7.347 de

1.985, e foi enfocada diferencialmente com o advento da Constituição Federal, mais

precisamente no tocante às funções do Ministério Pùblico, sendo esta a Instituição

que mais evoluiu na Nova Carta Política.

Como o leque de atuação foi deveras ampliado posteriormente, inclusive

com a Lei de Improbidade Administrativa, passou-se a questionar da legitimidade

ministerial nesta seara, sendo cadente no caso de tributos, infelizmente.

Considerando que esta exceção pautou-se pela exclusão de legitimidade

para a causa em relação ao Ministério Público, é necessário repensar seu campo de

atuação, sua missão constitucional e seu perfil de Advogado da Sociedade, como

forma de garantia e concretização dos direitos fundamentais e é aqui que reside a

sua importância.

Dessa forma, mostra-se relevante a discussão sobre este fascinante tema,

visando-se oxigenar a temática em tela, com visão inclusive no Direito Comparado,

instrumentalizando-se assim a democracia e tutela dos direitos fundamentais e

nefastas conseqüências de sua omissão.

Ademais, tendo em vista que a jurisdição é inerte, somente com salutar

provocação do Ministério Público estarão resguardados os cidadãos, aquilatando-se

o controle da legalidade, que se deve fazer diminuir o ceticismo da população

quanto à efetivação da Justiça. Enfim, considera-se imprescindível trazer o tema à

baila, no contexto de molecularização dos beneficiários da atuação ministerial, seja

em tema de defesa do meio ambiente, ou qualquer outro direito coletivo.

Embasa-se na necessidade da ampliação do leque constitucional de atuação

do Ministério Público trazendo a lume a importância do tema em se tratando de

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ações coletivas, incipientes, a princípio na Lei de Ação Civil Pública, sendo pacífica

em matérias como meio ambiente e negadas em se tratando da seara tributária. È

necessário pois nova discussão sobre a garantia dos direitos sociais e coletivos, em

busca da tutela efetiva da justiça social e da cidadania.

Portanto, considerando o contexto atual da tutela coletiva, inclusive da

própria antecipação de tal tutela pelo CPC, também a nível trans-individual, tal tema

merece mais discussão nos meios acadêmicos.

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1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO CIVIL COLETIVO

Os direitos difusos são transindividauais na medida em que não podem ser

mensurados individualmente, vale dizer, não podem ser quantificados sob o prisma

individual. Não se pode definir a abrangência do direito de cada consumidor.

Ademais, para caracterizar o direito difuso, é necessário que seus titulares

sejam membros da comunidade mas, ao mesmo tempo, pessoas indeterminadas. A

coletividade das pessoas é que detém a titularidade dos direitos difusos.

Pode-se exemplificativamente, citar o direito de que é titular a coletividade

dos consumidores quando da transmissão de propaganda enganosa por parte de

um estabelecimento comercial. Neste caso, todos são considerados consumidores

potenciais do produto anunciado, sendo, portanto, impossível individualizar a parcela

do direito cabível a cada consumidor específico.

Para Diddier e Zaneti:

Ora, o CDC conceitua os direitos coletivos lacto sensu dentro da perspectiva processual, com o objetivo de possibilitar a sua instrumentalização e efetiva realização. Do ponto de vista do processo, a postura mais correta, a nosso juízo, é a que permite a fusão entre o direito subjetivo (afirmado) e a tutela requerida, como forma de identificar, na 'demanda', de qual direito se trata e, assim, prover adequadamente a jurisdição. Não por outro motivo reafirmamos a característica híbrida ou interativa de direito material e direito processual intrínseca aos direitos coletivos, um direito a meio caminho.1

A própria Lei, em seu artigo 81 do CPC, cuida da definição dos direitos

mencionados:

Art.81 - A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

1 DIDIER JR, Fredie e ZANETI JR, Hermes. Curso de Direito Processual Civil: Processo coletivo. Bahia: Juspodivm, 2007. p.120.

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I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

Já os direitos coletivos são aqueles direitos transindividuais, ou seja, que

não podem ser mensurados individualmente, dos quais são titulares grupos de

pessoas determinadas, ligadas entre si por uma relação jurídica base.

Pedro Lenza:

Pode-se dizer que os instrumentos processuais suficientes e adequados para a solução dos litígios individuais, marcantes na sociedade liberal, perdem a sua funcionalidade perante os novos e demasiadamente complicados conflitos coletivos.

Em uma sociedade de massa, industrialmente desenvolvida, é natural que, além dos conflitos individuais, existam e aflorem conflitos de massa, nunca antes imaginados, uma vez que a 'descomplexidade' social não produzia ambiente propício para a sua eclosão, nem tampouco dos conflitos difusos, transindividuais. 2

Trata-se de direitos cuja titularidade não abrange a totalidade dos indivíduos,

mas grupos homogêneos tomados segundo um determinado aspecto.

Nas concepções de Mazzilli:

Os interesses individuais homogêneos, para o CDC, são aqueles de grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos divisíveis, de origem comum, ou seja, oriundos das mesmas circunstâncias de fato. Mas, em sentido lato, os interesses individuais homogêneos não deixam de ser também interesse coletivos.

Tanto os interesses individuais homogêneos como os difusos originam-se de circunstâncias de fatos comuns; entretanto, são indetermináveis os titulares de interesses difusos, e o objeto de seu interesse é indivisível; já nos interesses individuais homogêneos, os titulares são determinados ou

2 LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.89.

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determináveis, e o dano ou a responsabilidade se caracterizam por sua extensão divisível ou individualmente variável.3

Como exemplo temos o direito coletivo dos titulares de plano de saúde que

têm as condições contratuais acordadas alteradas unilateralmente pelo prestador do

serviço. Neste caso, apenas os consumidores daquele serviço específico são

titulares do direito coletivo de verem as condições contratuais iniciais

reestabelecidas.

Por fim, destaca o Código os denominados direitos individuais homogêneos.

Agora, não se tratam mais de direitos transindividuais. Os direitos individuais

homogêneos são quantificáveis e mensuráveis de forma individual. São indivíduos

específicos os seus titulares. Entretanto, por decorrerem de fato comum, que gera

conseqüências individuais a diversos consumidores, a lei permite também sua

defesa coletiva.

É o caso de intoxicação alimentar sofrida por diversas pessoas em

decorrência do consumo de determinado produto que não respeita as condições

sanitárias mínimas. Aqui, cada consumidor sofreu prejuízo singular e mensurável

mas, devido à amplitude das conseqüências, podem ter seus direitos defendidos

individual ou coletivamente.

A complexidade da vida social demonstrou, em certo momento, a

insuficiência dos instrumentos processuais voltados unicamente para defesa dos

direitos individuais em juízo.

Durante muito tempo, a necessidade de o direito subjetivo esteve

diretamente associado a um titular definido, impediu que ia interesses pertencentes

concomitantemente a toda a coletividade fossem adequadamente tutelados, Assim,

interesses relacionados ao meio ambiente, saúde, educação, patrimônio histórico,

dentre outros, foram relegados a um segundo plano.

O reconhecimento da existência e relevância destes interesses determinou

que, gradativamente, fossem criados instrumentos para a defesa de direitos comuns

a vários indivíduos. 3 MAZZILLI Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 12.ed. São Paulo Saraiva: 2000, p. 47/48.

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No Brasil, o marco do reconhecimento da relevância da tutela dos direitos

coletivos é a instituição da ação popular, num primeiro momento, regulamentada

pela Constituição de 1934 e posteriormente pela Lei 4.717/65.

Referida lei é inovadora, pois rompe com o princípio tradicional que

concentrava na mesma pessoa os sujeitos da relação jurídica material e os sujeitos

da relação jurídica processual.

Posteriormente, é editada a Lei 7.347/85 que disciplina a ação civil pública

de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e a bens

e direitos de valor artístico, estético, histórico turístico e paisagístico.

A ação civil pública nada mais é que o instrumento processual criado pela

Lei n.º 7.347/85 para se postular a tutela jurisdicional dos interesses transindividuais.

Para Grinover:

A lei ocupa-se da tutela dos interesses ligados à saúde pública, ao ambiente, à qualidade de vida, à proteção do consumo de bens e serviços, ao patrimônio cultural e ao domínio público (art. 1º.2)

Em 28 artigos, a lei n.º 83/95 regula o direito de participação popular na preparação de planos ou na localização e realização de obras e investimentos públicos (Cap. II) e o exercício da ação popular (Cap. III), contendo, ainda, disposições sobre a responsabilidade civil e penal (Cap. IV). O Cap. I versa sobre as disposições gerais, e o Cap. V sobre disposições finais e transitórias.4

A Constituição Federal de 1988 incorporou em definitivo a tutela dos

interesses coletivos, legitimando as entidades associativas para representar seus

filiados judicial ou extrajudicialmente (art. 5.°, XXI) e os sindicatos para a defesa dos

direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, seja na via administrativa

ou judicial (art. 8.°, III). Foram, ainda, tipificados, o mandado de segurança coletivo

(art. 5.°, LXX), a ação popular (art. 5.°, LXXIII) e a ação civil pública (art. 129, III, §

1.°).

4 GRINOVER. Ada Pellegrini. Uma nova modalidade de legitimação à ação popular. Possibilidade de conexão, continência e litispendência, in Ação civil pública, São Paulo Edis Milaré, Editora Revista dos Tribunais, 1995, p.34.

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Com apoio na Constituição Federal de 1988, são editadas novas leis criando

outras espécies de ações civis públicas, como a Lei 7.853/89 (proteção de

interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiências); Lei

7.913/89 (ressarcimento de danos causados aos titulares de valores mobiliários e

aos investidores no mercado); Lei 8.069/90 (proteção dos interesses individuais,

difusos e coletivos relativos à infância e adolescência); Lei 8.884/94 que transformou

o Conselho Administrativo de Defesa Econômica - Qtde em autarquia e dispôs sobre

a prevenção e a repressão ás infrações contra a ordem econômica; e a Lei 9.784/99

que, ao regular o processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta

e indireta, permite que pedidos de uma pluralidade de interessados, com conteúdo e

fundamentos idênticos, sejam formulados em um único requerimento.

Todavia, uma das mais significativas iniciativas nesta seara foi o Código de

Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) que dedica um título inteiro ã Defesa do

Consumidor em Juízo (Título III) e um Capítulo às Ações Coletivas para a Defesa de

Interesses Individuais Homogêneos (Título III, Capítulo II, arts, 91 a 100).

A preocupação com a defesa dos direitos coletivos no CDC pode ser

percebido desde a conceituação da figura do consumidor trazida pelo código.

Nos termos do art. 2° do CDC, consumidor é "toda pessoa física ou jurídica

que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". O grafo único

deste mesmo dispositivo equipara ao consumidor "a coletividade de pessoas, ainda

que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Ainda, o art. 29 do CDC equipara ao consumidor "todas as pessoas deter

mináveis ou não" expostas às práticas comerciais previstas nos Capítulos V e VI do

CDC. São, portanto, equiparados ao consumidor, todas as pessoas sujeitas à oferta,

publicidade, práticas abusivas, cobrança de dívidas, aos registros como bancos de

dados e aos cadastros de consumidores. Igualmente são equiparadas as pessoas

sujeitas aos contratos de consumo, pouco importando que estas pessoas possam

ser identificadas individualmente ou façam parte de uma coletividade indeterminada.

São estes aspectos que permitem afirmar que o CDC é um dos principais

instrumentos para a defesa dos direitos coletivos lato sensu, formando junto com a

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Lei da Ação Civil Pública o que Gregório Assagra de Almeida denomina de "um

microssistema integrado de tutela dos direitos ou interesses coletivos lato sensu ".5

1.2 DOS DIREITOS COLETIVOS EM ESPÉCIE

Barbosa Moreira pronunciou-se a respeito da tutela de direitos de grupos

antes da promulgação do CDC:

Na verdade, convém observar que a terminologia nessa matéria, a despeito

de várias propostas doutrinárias, não chegou a uma cristalização definitiva. Ora se

tem usado as expressões ‘interesses coletivos’ e ‘interesses difusos’

promiscuamente, no mesmo sentido, mais geral, ora se tem proposto este ou aquele

critério para extremar, de um lado, os interesses coletivos e, de outro lado, os

interesses difusos; mas no assunto não há ainda uniformidade que nos possa levar

a adotar tranquilamente determinado critério de distinção. O melhor é, talvez,

falarmos em interesses coletivos e difusos,porque assim estamos certos de abranger

todas as figuras possíveis e imagináveis .

Até a edição do CDC, o principal instrumento para a defesa de direitos

coletivos no ordenamento brasileiro era a Lei 7.347/85 que disciplinava a ação civil

pública de responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente, ao

consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico,

paisagístico, bem como "qualquer outro interesse difuso ou coletivo.6

Embora os direitos difusos ou coletivos sejam categorias há muito

incorporadas pela doutrina e jurisprudência, a sua definição legislativa somente foi

realizada com o advento do Código de Defesa do Consumidor.

5 ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito processual coletivo brasileiro: um novo ramo do direito processual. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 361. 6 BARBOSA Moreira. Ações coletivas na Constituição Federal de 1988. Revista deProcesso. São Paulo: RT, 1991.

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Nos termos do art. 81, parágrafo único, I, do CDC direitos ou interesses

difusos são os "transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares

pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato".

Em outras palavras, os direitos ou interesses difusos têm como titulares

pessoas não apenas indeterminadas, mas determináveis. Por isto são indivisíveis e

sua origem comum, não pressupõem a existência de vínculo prévio entre seus

entes.

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2 PROCESSO CIVIL COLETIVO NO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

As Ações Coletivas destinadas à defesa dos direitos difusos e coletivos têm

caráter predominantemente preventivo, enquanto que nas ações coletivas em

defesa de interesses individuais homogêneos prevalece o caráter reparatório.

A Lei 8078/90, em seu artigo 91, prevê os entes legitimados para a

propositura das Ações Coletivas em defesa de direitos difusos, coletivos e

individuais homogêneos dos consumidores:

Art.91 - Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.

Art.82 - Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I - o Ministério Público;

II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III - as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código;

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.

§ 1º O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas no art. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

Assim sendo, a letra da lei almeja ampliar ao máximo o rol de entidades

legitimadas em nome próprio, vindo defender interesses dos consumidores,

considerando sempre a hipossuficiência dos mesmos em face aos fornecedores de

produtos e serviços.

Ao que difere da doutrina se, in casu, trata-se de representação ou

substituição processual. Para a solução da lide e elucidação da questão, veja-se

alguns aspectos.

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O Código de Processo Civil dispõe: Art.6° “Ninguém poderá pleitear, em

nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei."

Segundo Humberto Theodoro Júnior:”... a titularidade da ação vincula-se à

titularidade do pretendido direito material subjetivo envolvido na lide”.7

Há, só por exceção, portanto, casos em que a parte processual é pessoa

distinta daquela que é a parte material do negócio jurídico litigioso.

Quando isso ocorre, dá-se o que em doutrina se denomina substituição

processual, que consiste em demandar a parte, em nome próprio, a tutela de um

direito controvertido de outrem. Trata-se de uma faculdade excepcional, pois só nos

casos expressamente autorizados em lei é possível a substituição processual.

Há que se verificar, portanto, de quem é a titularidade do direito material

controvertido nos casos previstos no CDC.

Quanto aos direitos difusos, temos que seus titulares são a coletividade de

pessoas indeterminadas ligadas por circunstâncias de fato. Por ser indeterminada,

logicamente a coletividade titular do direito difuso é incapaz de exercê-lo, sendo

patente a necessidade de um ente legitimado para tal. Pelo exposto, tratam-se de

interesses de "A" sendo demandados judicialmente por "B".

Resta a questão se "B" deverá agir em Juízo em nome próprio ou não. Tal

questão é respondida pelo próprio Código de Defesa do Consumidor ao dispor:

Art.91 - Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.

Pelo exposto, no caso de defesa de interesses difusos pelos entes de que

trata o art. 82 do CDC, tem-se substituição processual.

No que tange aos direitos coletivos, sendo também direitos transindividuais

impossíveis de serem quantificados, aplica-se o mesmo raciocínio demonstrado

anteriormente.

7 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p.68.

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Já os direitos individuais homogêneos apresentam uma particularidade. Por

não se tratarem de direito transindividual, podem ser demandados singular e

isoladamente por cada um dos afetados. Neste caso, há legitimidade ativa ordinária.

Entretanto, não podem os indivíduos afetados isoladamente proporem as

Ações Coletivas de que tratam os arts. 91 a 100 do CDC. As partes legítimas para

tal são aquelas taxativamente enumeradas pelo art. 82 do mesmo diploma legal.

Assim sendo ao propor uma Ação Coletiva em defesa de direitos individuais

homogêneos, o ente legitimado vem agindo em nome próprio em defesa de direitos

de outrem. Presente aqui, novamente a figura da substituição processual.

A seu turno, os direitos ou interesses coletivos stricto sensu (art. 81,

parágrafo único, II, do CDC) tem como titulares pessoas indeterminadas, mas

determináveis, e têm origem comum, com vínculo prévio entre seus titulares. Isto é,

os seus titulares ''estão ligados entre si ou com a parte contrária por relação jurídica

base.

Segundo Leonel :

... os direitos difusos dizem respeito a "interesses que se referem a grupos menos determinados de pessoas, entre as quais inexiste uni vínculo jurídico ou fático muito preciso, possuindo objeto indivisível entre os membros da coletividade, compartilhavel por número indeterminável de pessoas.8

Tal como os direitos difusos, os direitos coletivos em sentido estrito são

indivisíveis. É dizer: estes direitos têm como titulares simultaneamente os indivíduos

e o grupo de pessoas. Analogamente, pode-se dizer que estes direitos têm dois

titulares - o indivíduo e o grupo - que se colocam em comunhão pró-indiviso.

Nas concepções de Pedro Lenza.

Nas relações de consumo são inúmeros os direitos que podem ser qualificados como difusos como, por exemplo, a publicidade enganosa divulgada amplamente através da imprensa. Neste exemplo, a publicidade atingirá um número incalculável de pessoas, que não poderão ser determinadas. A lesão ao direito de uma só dessas pessoas, acarreta a

8 LEONEL, Ricardo de Barros. Manual do processo coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 99.

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lesão aos direitos de todas as * demais, e a cessação da lesão com relação a apenas uma delas também beneficia a todas.

Sendo que mesmo caso acontece, com os beneficiários de determinado

plano de saúde com relação ao qual se discute o aumento abusivo da mensalidade.

Todavia, neste caso, as pessoas titulares do direito em questão, ainda que

inicialmente indeterminadas, poderão ser identificadas.

Para Moreira:

Os titulares desses interesses se põem numa espécie de comunhão, tipificada pelo fato de que a satisfação de um só implica, por força, a satisfação de todos. Assim como a lesão de um só se constitui, ipso facto, em lesão da inteira coletividade.9

Era relação aos interesses coletivos, a indivisibilidade dos bens é percebida

no âmbito interno, dentre os membros do grupo, categoria ou classe de pessoas.

Frisa Lenza que:

O bem ou interesse coletivo não pode ser partilhado internamente entre as pessoas ligadas por uma relação jurídica-base ou por urn vínculo jurídico; todavia externamente, o grupo, categoria ou classe de pessoas, ou seja, o ente coletivo, poderá, partir o bem, exteriorizando o interesse da coletividade.10

Pode-se entender que o reconhecimento da existência dos interesses

difusos coletivos stricto sensu e a criação vias para a sua defesa, ao lado dos

mecanismos já tradicionais de tutela dos interesses individuais, seria suficiente para

prevenir e reparar toda e qualquer ofensa aos direitos do consumidor. Contudo, n

Código de Defesa do Consumidor foi além. O art. 81, parágrafo único, II, do CDC

estendeu a defesa coletiva dos direitos dos consumidores também aos direitos

individuais homogêneos "assim entendidos aqueles decorrentes de uma origem

comum".

Os direitos individuais homogêneos têm como titulares pessoas

individualizadas ou indeterminadas, mas determináveis e têm origem comum. Neste 9 (A legitimação para a defesa dos interesses difusos no direito brasileiro, p. 184). 10 LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 71.

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ponto, como destaca Gregório Assagra de Almeida, os direitos individuais

homogêneos se assemelham a direitos difusos pois nascem ligados "pelas mesmas

circunstâncias de fato, não obstante sejam, quanto à titularidade e objeto totalmente

distinguíveis".

Rigorosamente, os direitos ou interesses individuais homogêneos são

direitos individuais. Daí porque se diz que a sua inserção como espécie de

interesses coletivos dá-se formalmente ou acidentalmente para fins de tratamento

processual.11

A possibilidade da tutela dos direitos individuais homogêneos na via coletiva

parte de uma constatação eminentemente prática: a complexidade social e os

amplos efeitos que determinados atos, em especial os de consumo, adquirem,

fazem com que danos, antes circunscritos à esfera de algumas poucas pessoas,

sejam sentidos por inúmeras. Não há como comparar o número de pessoas

atingidas pelo defeito existente em um produto artesanal de consumo restrito, com o

número de pessoas que sofrem os danos de um produto industrializado em larga

escala.

Sob esse prisma a tutela coletiva de direitos com origem comum

desempenha papel preponderante para a redução do número de demandas levadas

a juízo. A defesa coletiva dos direitos individuais homogêneos é também importante

instrumento para a tutela de direitos que, individualmente considerados, não teriam

repercussão econômica significativa a ponto de levar os consumidores a buscarem

sua defesa em juízo.

A Lei 7.347/83, que disciplinou a ação civil pública, conferiu legitimidade

para propositura de ações em defesa dos interesses coletivos ao Ministério Público,

à União, Estados e Municípios, às autarquias, empresas públicas, fundações e

sociedades de economia mista e às associações.

Sendo que com o advento da Constituição Federal de 1988, foi criada a

figura do mandado de segurança coletivo para o qual são legitimados ativos os

partidos políticos com representação no Congresso Nacional, as organizações

11 ALMEIDA, Gregório Assagra de. Op. cit., p. 491.

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sindicais, as entidades de classe ou associações legalmente constituídas e em

funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros

ou associações.

Art. 5.° A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que: I - esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil; II - inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio-ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (vetado). § 1.° O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. § 2.° Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes. § 3° Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público assumirá a titularidade ativa.

No que tange à legitimidade para o ajuizamento das ações coletivas, o CDC

foi inovador, atribuindo legitimidade a outros entes, ainda que despersonalizados,

como as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta.

Para Nunes, apud Mazzel, um dos mais marcantes aspectos do Código de

Defesa do Consumidor, apesar de regrar uma série de direitos individuais dos

consumidores, é o de sua preocupação especial com a proteção coletiva, isto é, de

toda a coletividade de consumidores. Isso é significativo na Lei 8.078/90. Se

observarmos o título III da Lei. Defesa do Consumidor em Juízo, percebe-se a

demonstração disso. Muito embora a proteção individual não esteja excluída o que,

aliás, era mesmo de esperar por sua obviedade, a natureza do regramento é

claramente coletiva.

Tanto que, como se sabe, o CDC acabou por ser o responsável, rio Sistema

Jurídico Nacional, por definir o sentido de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais

Homogêneos.12

12 MAZZEL Rodrigo; NOLASCO, Rita Dias (Coords.), Processo civil coletivo. São Paulo: Quarlier Latin, 2005, p. 82.

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2.1 A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS INTERESSES

DOS CONSUMIDORES

Dentre os legitimados ativos para a defesa dos direitos dos consumidores, o

Ministério Público tem um papel de destaque, tendo em vista que muitos juristas

consideram-no como o ente mais bem preparado para a defesa dos interesses

coletivos.

Todavia, há muito a doutrina alerta para o perigo de "que o Parquet perca a

importância de sua função institucional por eventual vedetismo de qualquer um de

seus membros, que faça do inquérito civil ou das ações coletivos instrumentos de

sua projeção pessoal ou até mesmo de alguma pressão irrazoável ou em virtude

ainda da incorreta conceituação dos interesses ou direitos difusos ou coletivos, que

o leve a propor demandas que veiculem interesses eminentemente privados, sem

qualquer relevância social".13

Em parte, este risco deriva dos amplos poderes conferidos ao Ministério

Público. É inegável que o Ministério Público passou a ter maior reconhecimento com

o advento da Constituição Federal de 1988, que ampliou os poderes e prerrogativas

a ele conferidas, e garantiu, também, mais autonomia e independência para a

prática de suas funções.

A Constituição Federal de 1988 ampliou sobremaneira as funções do

Ministério Público, transformando-o em um verdadeiro defensor da sociedade, tanto

no campo penal, com a titularidade exclusiva da ação penal pública, quanto no

campo cível, como fiscal dos demais Poderes Públicos e defensor da legalidade e

moralidade administrativa, inclusive com a titularidade do inquérito civil e da ação

civil pública.14

Segundo alguns autores a menção expressa apenas aos direitos difusos e

coletivos em sentido estrito, não permitiria que o dispositivo abarcasse, os direitos

individuais homogêneos. Nesta linha de raciocínio, caso o constituinte pretendesse

conferir ao Ministério Público legitimidade para a defesa dos direitos individuais 13 Ibidem, p.82. 14 GRINOVER. Ada Pellegrini. Et ali. Código de Defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 7.ed. Rio de janeiro: Forense, 2001, p.756.

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homogêneos, o texto utilizar-se-ia explicitamente deste termo ou apenas da

expressão "direitos coletivos", a qual, então, poder-se-ia interpretar como adotada

em sentido amplo.

Constitucional. Processual Civil. Ação Civil Pública. Direitos Individuais Homogêneos. Ilegitimidade do Ministério Público. Constituição Federal, artigo 129, III e Leis 7.347/85, artigo 21, 8.078/90, artigo 81 e 117 - Extinção do processo sem julgamento do mérito.

1. Objetivando a Ação Civil Pública cobrar responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, ou proteger qualquer outro interesse difuso e coletivo - Lei 7.347, artigo 1º, incisos I, II e IV, nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, é competente para o seu ajuizamento, dentro de suas funções institucionais, o Ministério Público;

omissis ...

Direitos individuais que, mesmo homogêneos, transcendem a individualidade de seus titulares.

3. Cuidando a espécie dos autos de participação em concurso público para o cargo de Fiscal de Trabalho de portador de diploma de título universitário de qualquer carreira, direitos individuais homogêneos, não coletivos nem difusos, pois, e não dizendo respeito tais direitos à proteção de consumidores, imperioso concluir-se pela ilegimatio ad causam do Ministério Público;

4. Extingue-se o processo sem julgamento do mérito com base no artigo 267, IV do Código de Processo Civil.

(Apelação Cível 79.813/95-CE, Tribunal Regional Federal 5ª Região, 2ª Turma; Relator Juiz PETRUCIO FERREIRA; julgado em 19.09.95; Diário da Justiça da União 20.10.95, páginas 72.144/5).

A ação civil pública, embora não esteja elencada entre as garantias

constitucionais do artigo 5º da CF, a ação civil pública vem se transformando em um

poderoso meio de combate às lesões aos interesses difusos e coletivos. Por força

dessa determinação, o artigo 129, inciso III, da CF preceitua que cabe ao Ministério

Público promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos.na ação civil pública, o rol de interesses transindividuais defendidos é mais

extenso que nas outras garantias de tutela dessa espécie de interesses, abarcando

a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio cultural, público e

social, aos portadores de deficiência, aos investidores no mercado de valores

mobiliários, as crianças e aos adolescentes, á ordem econômica, á economia

popular e as pessoas idosas.

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Chamando atenção ao fato da necessidade de contenção dos poderes

conferidos ao Ministério Público para a tutela dos interesses e direitos coletivos lato

sensu em juízo que alguns autores têm defendido a ilegitimidade deste órgão para a

defesa dos direitos individuais homogêneos.

Ao enumerar as funções institucionais do Ministério Público, o art. 129, III, da

CF/88 prevê a competência para "promover o inquérito civil e a ação civil pública,

para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos".

Para Araken de Assis:

Nos termos do art. 129, III, da Constituição Federal, o Ministério Público só tem legitimidade para promover ação civil pública em defesa de interesses difusos e coletivos, que são os 'interesses sociais' insculpidos no caput do art. 127.

A inexistência de menção expressa aos direitos individuais homogêneos, segundo alguns, impediria que o Ministério Público arguisse na defesa destes interesses, ainda que assim preveja o art. 81, parágrafo único, III, do CDC, Com base nesta interpretação, sustenta-se que lei hierarquicamente inferior não poderia ampliar os limites da competência do Ministério Público, expressamente arroladas na Constituição Federal.

Assim, atualmente prepondera entendimento no sentido de que o Ministério

Público é legitimado para a tutela de interesses individuais homogêneos, haja vista

que a própria Constituição Federal enumera dentre as suas funções institucionais,

promover a defesa de "de outros interesses difusos e coletivos" ( art.129, III)

Nelson Nery Júnior destaca que a menção à defesa dos direitos individuais

homogêneos somente não foi feita pelo art. 129, III, da CF/88 porque a criação desta

categoria somente se deu por lei posterior à promulgação da Constituição Federal.

Ademais, o art. 129, IX, da CF/88 permite que lei federal atribua ao Ministério

Público outras funções que sejam compatíveis com sua finalidade institucional.15

Assim, "Como a defesa coletiva de interesses sociais, como o são os do consumidor

(CDC 1.°), é função institucional do MP (CF 127, caput), a legitimação dada ao

Parquet pelo CDC 82, para a tutela em juízo dos direitos individuais homogêneos

está em perfeita consonância com o sistema constitucional brasileiro".

15 Apud WAMBIER, L.R. Liquidação de sentença. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 236-239.

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Para Nery Jr, um óbice intransponível para a admissão da legitimidade do

Ministério Público, em se tratando de demandas relativas aos direitos individuais

homogêneos. Trata-se do dispositivo a que nos referimos algumas linhas atrás, e

que está contido no inciso III do art. 129 da CF :

(...) É certo que em relação à legitimidade do Ministério Público - onde o legislador constituinte a omitiu, não quis incluí-la. Nem mesmo os esforços de interpretação dos organismos superiores do Ministério Público, como é o caso do Conselho Superior do Ministério Público, parecem suficientes para ampliar a sua legitimidade. Nesse sentido já decidiu o TJSP, conforme se verifica: "De acordo com a interpretação dos arts. 1.° da Lei 7.347/85, 127 e 129, III, da CF, o Ministério Público não está legitimado para interpor ação civil pública, visando impedir aumento unilateral de preços de serviços prestados por empresa distribuidora de sinais televisivos via cabo, pois trata-se de defesa de interesses de pequenos grupos determinados, em razão de danos variáveis e divisíveis, cabendo ao consumidor, caso entenda estar sendo lesado seu direito individual homogêneo, defende-lo, chamando ajuízo a pessoa física ou jurídica que o esteja prejudicando, dispensando-se a ação tutelar do órgão do Parquet. (Agln 866 168-5, rei. Juiz Hélio Lobo Júnior, DJ 05.10.1999).

Nesta esfera, o Ministério Público é parte legítima para interpor ação civil

pública contra instituição financeira em liquidação extrajudicial, objetivando a

satisfação dos créditos de investidores que não se habilitaram no pagamento e que

tinham direito por títulos de capitalização de que eram portadores, pois, em tal

hipótese, o órgão do Parquet não está visando a proteção e defesa de interesses

individual de pessoa determinada, mas protegendo interesses difusos, coletivos e

homogêneos, entendidos como de toda a massa de credores portadores dos títulos

emitidos e que não foram honrados pela instituição liquidada" (TJSP, 6a Câm. Cív,

Ap 89.665-4/0, rei. Dês. Octavio Helene, DJ 16.03.2000).

STJ, 1ª T., REsp 171.283-PR, Min. rei. José Delgado, j. 23.02.1999. No mesmo sentido: "Processual civil. Ação civil pública. Ementa: Ministério Público. Ação civil pública. Taxa de iluminação pública do município de Rio Novo-MG. Exigibilidade impugnada por meio de ação pública. Acórdão que concluiu pelo seu não cabimento, sob invocação dos arts. 102,1, a, e 125, § 2", da Constituição. Ausência de legitimação do Ministério Público para ações da espécie, por não configurada, no caso, a hipótese de interesses difusos, como tais os pertencentes concomitantemente a todos e a cada um dos membros da sociedade, como um bem não individualizáveí ou divisível, mas, ao revés, interesses de grupo ou classe de pessoas, sujeitos passivos de urna exigência tributária cuja impugnação, por isso, só pode ser promovida por eles próprios, de forma individual ou coletiva. Recurso não conhecido" (STF; Tribunal Pleno, RE 213.631-0-MG, Min. rei. limar Galvão, j. 09.12.1999).

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O que se tem sustentado, na doutrina e na jurisprudência, é que a

legitimidade do Ministério Público para postular proteção de direitos individuais

homogêneos adviria da norma contida no art. 127, caput, da CF/88, segundo o qual

para o Ministério Público cabe a "defesa da ordem jurídica, do regime democrático

dos interesses sociais e individuais indisponíveis".

Nada obstante, mesmo os consectários desta opinião, como Hugo Nigro

Mazzili intuem a necessidade de limitação dos poderes conferidos ao Parquet.

Segundo este autor, a interpretação conjunta do art. 129, III, com o art. 127

da CF/88 permitiria afirmar que o Ministério Público terá legitimidade para ação civil

pública na defesa de interesse difuso ou coletivo, bem como na defesa e interesses

sociais e individuais indisponíveis. O art. 127 da CF/88 seria, nas palavras do autor,

"norma de encerramento que permite à lei infra-constitucional atribuir-lhe outras

funções". Contudo, nenhuma das novas atribuições infraconstitucionais poderia se

distanciar da função institucional do Ministério Público que vedaria a defesa de

interesses exclusivamente individuais disponíveis.

Nesse sentido já decidiu o STJ: "O direito individual há que ser indisponível,

a fim de dar ensejo a sua defesa pela via da ação civil pública".

A interpretação mais acertada, a nosso ver, é aquela que postula a

legitimidade do Ministério Público para a defesa de interesses individuais

homogêneos somente quando caracterizada a relevância social do direito envolvido.

No mesmo sentido, Kazuo Watanabe sustenta que "somente a relevância

social do bem jurídico tutelado ou da própria tutela coletiva poderá justificar a

legitimação do Ministério Público para a propositura de ação coletiva em defesa de

interesses privados disponíveis".16

Assim é que a jurisprudência tem reconhecido a legitimidade do Ministério

Público para a defesa de interesses individuais homogêneos quando ligados a

direitos fundamentais, como a educação.

Watanabe frisa que a relevância social está também presente nos casos em

que a lesão, embora ínfima na perspectiva individual, é significativa quando

16 WATANABE, Op. Cit, p.111.

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coletivamente considerada como ocorre no caso de embalagens de óleo comestível

que contenham quantidade inferior àquela indicada.

Desta forma, é possível dizer, todavia, que o conceito de interesse social

encerra em si não apenas variáveis qualitativas, mas também quantitativas. Em

outras palavras, relevante socialmente a fim de legitimar a atuação do Ministério

Público são somente os direitos comuns a um número significativo de pessoas. Caso

contrário, a tutela poderia ser realizada na via individual. PROCESSO CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSE DA ANATEL. INEXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA LOCAL. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERESSE SOCIAL. INÉPCIA DA INICIAL. INOCORRÊNCIA. PROCESSO COLETIVO. DESNECESSIDADE DE JUNTADA DOS DOCUMENTOS DEMONSTRATIVOS DA EVENTUAL COBRANÇA INDEVIDA. PEDIDO FORMULADO DECORRE LOGICAMENTE DA NARRATIVA. PETIÇÃO REDIGIDA DE FORMA CLARA E OBJETIVA. DIFICULDADE DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. SUPERVENIÊNCIA DO PRAZO DECADENCIAL. INOCORRÊNCIA. PRESTADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS E USUÁRIOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. VIOLAÇÃO DE NORMA DO CDC (ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO). OCORRÊNCIA. CONTRATO REDIGIDO NOS MOLDES DA RESOLUÇÃO DA ANATEL. BOA-FÉ DA EMPRESA. SEGURANÇA JURÍDICA. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAR A CONCESSIONÁRIA A RESSARCIR EM DOBRO TODOS OS CONSUMIDORES LESADOS. DESPROPORCIONALIDADE. EFEITOS DA COISA JULGADA NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAR OS EFEITOS DA DECISÃO À COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO JUIZ. OFENSA À ISONOMIA E À UNICIDADE DA JURISDIÇÃO. LAPSO TEMPORAL PARA A ADEQUAÇÃO DOS CONTRATOS SUFICIENTE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DESCABIMENTO. I. A ANATEL não tem qualquer responsabilidade pelas eventuais cobranças indevidas efetivadas pela concessionária de serviços de telefonia, inexistindo qualquer razão que autorize a sua inclusão como litisconsorte passivo necessário no presente feito, motivo pelo qual não há que se falar em competência da Justiça Federal. Precedentes. II. O Ministério Público é parte legítima para ajuizar ação civil pública quando o interesse é social. III. Em se tratando de processo coletivo, a juntada dos documentos comprobatórios da suposta cobrança irregular somente são imprescindíveis na fase de execução, quando os eventuais consumidores efetivamente lesados teriam o ônus de se habilitar no processo para que, então, se procedesse à liquidação e execução. Art. 103, § 3o, CDC, in fine. IV. Não há que se falar em inépcia da inicial na hipótese em que o pedido formulado decorre logicamente da narrativa deduzida na peça vestibular. V. Petição redigida de forma clara e objetiva não dá ensejo à extinção do processo por inépcia da inicial, porquanto não representa qualquer dificuldade para a defesa da ré. VI. Não se vislumbra a alegada superveniência do prazo decadencial para a "anulação de atos regulamentares afetos à lide", uma vez que a presente ação não tem por objeto a anulação de qualquer ato regulamentar emanado da ANATEL. VII. A relação entabulada entre a concessionária de serviço público e os seus usuários reveste-se de nítido caráter consumerista, a teor do artigo 3o, da Lei 8.078/90. VIII. A cláusula contratual impugnada viola diretamente a norma protetiva consubstanciada no parágrafo único do artigo 42 do CDC, proporcionando vantagem exagerada e desproporcional à concessionária de serviço público, sendo, portanto, nula de pleno direito, a teor do artigo

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51, IV, do CDC. IX. Tendo em vista que a cláusula contratual em questão foi redigida nos mesmos moldes do parágrafo único do artigo 65 da Resolução no 85/98 da ANATEL, não se revela razoável condenar a empresa que, de boa-fé, seguiu a orientação emanada do órgão regulador ao qual se encontra vinculada. X. O critério determinante da extensão dos efeitos da coisa julgada, na Ação Civil Pública, rege-se pela natureza do dano ou dos interesses que são veiculados na demanda: se o dano é indivisível ou se os interesses são de âmbito nacional (como no caso), não há como limitar os efeitos da decisão, sob pena, como já se frisou, de trazer soluções diferenciadas, tão-só pela localização física dos substituídos, com ofensa à isonomia e à própria unicidade da jurisdição. Inviabilidade da regra que limita a extensão dos efeitos da coisa julgada de acordo com a competência territorial do juiz. Art. 103, III, da Lei 8.078/90. XI. O lapso temporal concedido para a adequação dos contratos aos ditamos do Código de Defesa do Consumidor é mais do que suficiente para a alteração de uma simples cláusula contratual. XII. Descabe a condenação em honorários advocatícios em favor do Ministério Público, mesmo quando a ação civil pública proposta for julgada procedente. Precedentes do STJ. XIII. Recurso provido parcialmente. Unânime. (TJDF. 20040110854810APC, Relator OTÁVIO AUGUSTO, 6a Turma Cível, julgado em 06/06/2007, DJ 28/06/2007 p. 118)

Não se pode perder de vista que a proteção aos direitos individuais

homogêneos na via coletiva tem por escopo a facilitação processual da defesa dos

interesses de um grupo de pessoas, com vistas a assegurar a maior efetividade do

processo. Se essa efetividade não é comprometida com a tutela na via individual

porque o número de atingidos é bastante reduzido, não há motivo razoável para que

o Ministério Público assuma a defesa desses direitos em detrimento de seus

titulares.

Certo é que ao permitir-se que vingue a interpretação segundo a qual o

Ministério Público estaria legitimado para intentar ações cujo escopo seria a tutela de

interesses de natureza individual, sem qualquer repercussão significativa, ofendidos

estariam o art. 6.° do CPC, o art. 2° da Lei 8.906/94 e o art. 133 da CF/88, já que a

figura do advogado se tornaria prescindível, sendo suficientes a atuação do

Ministério Público, Juiz e réus. Mais o que isto, entendimento neste sentido

acarretaria a injustificada preponderância da tutela coletiva sobre a individual o que,

certamente, não foi a intenção do legislador ao editar o Código de Defesa do

Consumidor.

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2.2 O PAPEL DA UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E o DISTRITO FEDERAL

Segundo Almeida, os órgãos da administração pública direta, ou seja, União,

Estados, Municípios e Distrito Federal, por se tratarem de entes públicos, dotados de

personalidade jurídica, nos termos do art. 82, II, do CDC, são dotados de

legitimidade ativa ampla.

Frisa Watanabe, decorre do art, 5°, XXXII, da CF/88, que dispõe que

incumbe ao Estado "promover, na forma da lei, a defesa do consumidor", sendo a

tutela em juízo uma de suas mais significativas modalidades.17

Sendo que o âmbito de atuação desses entes é restrito ao espaço territorial

originário de cada um.

2.3 ENTIDADES E ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA ou

INDIRETA DESTINADOS À DEFESA DO CONSUMIDOR

O art. 105 do CDC criou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor

SNDC, posteriormente regulamentado pelo Dec. 2.181/97, que dispõe sobre a

organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC e estabelece as

normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas na Lei 8.078/90

(arts. 55 a 60 do CDC).

Fazem parte do SNDC a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da

justiça SDE, por meio do seu Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

DPDC, e os demais órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal, municipais e as

entidades civis de defesa do consumidor.

Porém, qualquer entidade ou órgão da administração pública direta ou

indireta, da União, Estados ou Municípios, vocacionados à defesa dos interesses e

direitos dos consumidores, agindo na área de atuação que lhes cabe, ainda que não

17 GRINOVER, Op. cit, p.758.

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tenham personalidade jurídica, terá legitimidade para a defesa dos direitos dos

consumidores.

Para Arruda Alvim, "tais órgãos não devem ter outra finalidade, senão a de

estarem com sua competência destinada à defesa a título coletivo do consumi dor ".

Nesse prisma, todos os órgãos que integram o SNDC, a Secretaria de

Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE), por meio do seu Departamento de

Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), e os demais órgãos federais, estaduais,

do Distrito Federal, municipais e as entidades civis de defesa do consumidor têm

legitimidade para a causa e poderão ajuizar ações judiciais coletivas na defesa do

consumidor.

2.4 ASSOCIAÇÕES

A CF/88 atribuiu às associações, quando expressamente autorizadas,

legitimidade para representar judicial e extrajudicialmente, seus filiados, conforme o

art. 5.°, XXI.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho afirma que:

... a autorização tem que ser dada no caso concreto e não pode ser genérica, o que determinaria que cada ação proposta tivesse que ser acompanhada de listagem dos associados autorizando a propositura da ação. No mesmo sentido é a opinião de Celso Ribeiro Bastos, para quem da existência da associação não decorre o direito de representar os associados em qualquer situação, sendo necessário por este motivo, sua autorização expressa para ingresso em juízo.18

Este entendimento já foi confirmado pelo extinto 1.° Tribunal de Alçada Cível

de São Paulo, que deu provimento a agravo de instrumento para reconhecer a

ilegitimidade ativa de associação que postulava em juízo a defesa de direitos

individuais homogêneos.

18 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários a Constituição Federal de 1988. São Paulo,1990, p.45.

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No corpo da decisão, reportando-se a considerações feitas por Celso

António Bandeira de Mello, o d. relator destacou os prejuízos que podem sofrer os

filiados quando a associação comparece em juízo, sem autorização, e realiza

deficiente defesa dos interesses que visa a tutelar.

Todavia, o entendimento preponderante é o de Nelson Nery Júnior e Rosa

Maria de Andrade Nery no sentido de que a autorização pode estar prevista em lei,

nos estatutos, ser dada pelos associados individualmente ou ocorrer em assembleia

19Isto porque, nesta hipótese, a associação não estaria representando seus

associados, mas estaria atuando em nome próprio, já que teria legitimação

autônoma para a propositura da ação.

A dispensa de autorização em assembléia para que a associação possa

demandar decorre da própria essência do fenômeno. Se a entidade é constituída

com o escopo de promover a defesa judicial daqueles interesses supra-individuais,

não há razão para que, em cada nova demanda coletiva, seja promovida a previsão

da Lei da Ação Civil Pública quanto aos requisitos mas dispensou autorização

assemblear.

Nas concepções de Mancuso, mediante a exigência de tais requisitos

pretende-se "evitar que associações não suficientemente sólidas, ou cujos objetivos

não se coadunem com O Interesse difuso em causa, venham a propor a ação

açodadamente C...)".20 Permite-se desta forma, um controle a priori da idoneidade e

honestidade de propósito das associações.

O requisito de constituição de um ano poderá ser dispensado nas ações

coletivas que tenham por objetivo a defesa dos interesses individuais homogêneos,

quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica

do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (art. 82, §1.°, do CDC).

19 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. 20 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 103.

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No que tange à finalidade institucional é relevante notar que com freqüência

os estatutos das associações que ingressam em juízo na defesa dos interesses

coletivos dos consumidores prevêem uma verdadeira "legitimação universal" a estas

entidades. Muitas vezes os estatutos apenas reproduzem o art. 5.°, II, da LACP,

atribuindo legitimidade as associações, concomitantemente, para « defesa em juízo

do meio ambiente, consumidor, patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico.

Todavia, é inegável que a intenção do legislador, ao estabelecer como

requisito para a legitimação das associações a previsão em suas finalidades

institucionais da proteção ao meio-ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico,

estético, histórico, turístico ou paisagístico, não é somente a de que esta

possibilidade esteja formalizada em uma cláusula do estatuto. Trata-se de exigir

pertinência entre a atuação da associação em juízo e o interesse efetiva-mente

tutelado, fato que deve ser inequivocamente refletido e apurado a partir da

interpretação sistemática das previsões insertas em seu estatuto.

Conforme leciona José dos Santos Carvalho Filho, deve haver pertinência

objetiva finalística entre o objetivo da associação e o interesse a ser tutelado.

a exigência que figure entre as finalidades institucionais da associação à defesa do interesse coletivo ou difuso "se condicionará ao cará ter de pertinência objetiva finalistica, derivado do confronto entre o objetivo da associação e o interesse a ser tutelado na ação. Se uma associação, por exemplo, alveja a proteção dos interesses de consumidores, não tem legitimidade para propor ação civil pública que vise à tutela de interesses difusos relacionados ao meio ambiente. Essa é a melhor interpretação que, em nosso entender, dimana do sistema de legitimação adotado na lei21

No mesmo sentido, afirma João Batista de Almeida que para a associação

atuar em juízo deve haver pertinência temática, ou seja, deve haver correspondência

entre a finalidade institucional e o bem tutelado objeto da lesão ou da ameaça, sob

pena de faltar-lhe interesse na tutela.22

21 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 1999. p.122-123. 22 ALMEIDA. Op. Cit, p.29.

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Assim, não basta que a associação tenha sido genericamente autorizada a

atuar na defesa de todo e qualquer interesse coletivo, sendo necessário que da

análise do estatuto reste claro que sua finalidade é a de atuar na defesa de uma

categoria de interesses que guardem pertinência lógica com o objeto da ação.

A exigência quanto a uma certa especialização em suas finalidades e

atuação é compatível com a necessidade de que os interesses da coletividade

sejam defendidos em juízo com um mínimo de diligência e de domínio da matéria

discutida.

A possibilidade de que associações inidôneas venham a propor ações

coletivas que revertam em prejuízo ã sociedade (em razão dos efeitos subjetivos da

decisão a ser proferida) é que determina o rigor na análise de sua legitimação. Há

que se exigir um mínimo de estabilidade (e daí porque devem estar constituídas há

mais de um ano) e coerência em sua atuação, a fim de que se evite que associações

sejam constituídas unicamente com a finalidade de ajuizamento de ações civis

públicas quaisquer que sejam os interesses tutelados. Evitar a fraude aos

verdadeiros objetivos da ação civil pública, como já assentou o extinto 1.° Tribunal

de Alçada do Estado de São Paulo, é uma das finalidades dos requisitos do art. 5.°

da Lei 7.347/85.

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3 DA EFETIVIDADE DO PROCESSO CIVIL COLETIVO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Segundo Assis, a tutela coletiva valoriza-se, cada vez mais, no Direito

Brasileiro, seja pela defesa dos direitos transindividuais (difusos e coletivos), seja a

dos direitos individuais homogêneos. A execução é destacada, pois o ato executivo

se distingue dos demais atos jurisdicionais por “provocar alterações no mundo

natural”, sendo que o objetivo da execução é “adequar o mundo físico ao projeto

sentencial, empregando a força do Estado.

Quando envolvida relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor

deixa claro algumas características às ações coletivas e individuais.

Chama-se atenção que a Lei n. 8.078/90 estabelece a legitimação para as

ações e a dispensa do requisito de pré-constituição para as associações, conforme

visto na ação civil pública.

Porém há vedação expressa à denunciação da lide nessas ações, evitando-

se, portanto, que se postergue a prestação jurisdicional com ela. A denunciação da

lide apenas é admitida nas ações de responsabilidade do fornecedor, limitada,

todavia, à seguradora.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA GENÉRICA DO ART. 95 DO CDC. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DO JULGADO. COMPETÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE PREVENÇÃO DO JUÍZO QUE DECIDE A AÇÃO COLETIVA PARA AS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. PRECEDENTES.

A ação civil pública para a defesa de interesses individuais homogêneos proposta por associação legitimada para tanto, apresenta condenação genérica, fixando a responsabilidade do réu, a teor do art. 95 do CDC. Porém, não é prevento, para as execuções individuais que decorrerem da referida sentença o Juízo que prolatou a sentença da ação civil pública, sob pena de violação aos arts. 98, § 2º, inciso I, e 101, inciso I, ambos do CDC e de ofensa aos princípios da instrumentalidade das formas e do amplo acesso à Justiça. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. Recurso improvido.( Apelação Cível 20090111991466APC).

Ao que tange à competência nas ações coletivas de defesa de interesses

individuais homogêneos, embora a regra geral seja a do foro onde ocorreu ou deva

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ocorrer o dano, se este for de âmbito regional ou nacional, o foro competente é o da

Capital do Estado ou do Distrito Federal. Já a execução, a competência é do juízo

que prolatou a sentença condenatória, quando coletiva a execução, ou, quando

individual, do juízo que a liquidou ou que a condenou.

Elenca-se a decisão da 3ª Seção desta Corte (CC 96.682⁄RJ, Rel. Arnaldo

Esteves Lima, DJe de 23⁄03⁄2010) que frisou o entendimento, assinando ementa

abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO COLETIVA. EXECUÇÃO INDIVIDUAL NO DOMICÍLIO DO AUTOR. FORO DIVERSO DO FORO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS LEIS 8.078⁄90 E 7.347⁄85. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS.

1. As ações coletivas lato sensu – ação civil pública ou ação coletiva ordinária – visam proteger o interesse público e buscar a realização dos objetivos da sociedade, tendo, como elementos essenciais de sua formação, o acesso à Justiça e a economia processual e, em segundo plano, mas não de somenos importância, a redução dos custos, a uniformização dos julgados e a segurança jurídica.

2. A sentença coletiva (condenação genérica, art. 95 do CDC), ao revés da sentença que é exarada em uma demanda individualizada de interesses (liquidez e certeza, art. 460 do CPC), unicamente determina que as vítimas de certo fato sejam indenizadas pelo seu agente, devendo, porém, ser ajuizadas demandas individuais a fim de se comprovar que realmente é vítima, que sofreu prejuízo e qual o seu valor.

3. O art. 98, I, do CDC permitiu expressamente que a liquidação e execução de sentença sejam feitas no domicílio do autor, em perfeita sintonia com o disposto no art. 101, I, do mesmo código, que tem como objetivo garantir o acesso à Justiça.

4. Não se pode determinar que os beneficiários de sentença coletiva sejam obrigados a liquidá-la e executá-la no foro em que a ação coletiva fora processada e julgada, sob pena de lhes inviabilizar a tutela dos direitos individuais, bem como congestionar o órgão jurisdicional.

5. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas⁄AM, o suscitado.

Assim sendo, qualquer conclusão que imponha ao consumidor o

deslocamento da competência para o julgamento da execução individual ao Juízo no

qual foi prolatada a sentença condenatória coletiva dificulta seu acesso ao Judiciário.

Porém no caso de ação de responsabilidade do fornecedor, a competência é

do domicílio do autor.

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Assim, se a ação individual pode ser proposta no foro do domicílio do Autor, é

evidente que também lá pode ser executada. Não faria sentido negar ao

consumidor, na fase da liquidação ou execução individuais de sentença proferida em

ação coletiva, o benefício da competência fixada por seu domicílio.

Além do mais, a norma do art. 98, § 2º, do CDC estabelece a competência do

foro “da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução

individual”. Os prejudicados, individualmente considerados, podem assim eleger o

foro da liquidação da sentença coletiva ou o que seria competente para eventual

ação condenatória individual que pretendam ajuizar. Em outras palavras, o foro da

liquidação ou da execução individual pode ser distinto do foro da ação coletiva.23

A intervenção de terceiros, como litisconsortes, é provocada mediante

publicação de editais.Em outra esfera, além da “coisa julgada secundum eventum

litis”, a lei admite a res iudicata ultra partes, salvo o caso de improcedência por

insuficiência de provas.

Entende-se também que certou o legislador ao municiar associações de

classe e entes específicos com legitimidade para a propositura das Ações Coletivas

em defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

Discute-se a limitação da autonomia contratual das partes com a vigência do

Código Consumerista e a conseqüente estatização das relações particulares.

Entretanto, visto sob uma perspectiva do Direito Econômico, conforme o disposto no

art. 107 da Constituição Federal, observamos que o Código de Defesa do

Consumidor delega e pulveriza a função de fiscalização do mercado a entes não

estatais, tornando tal tarefa mais ágil e eficiente, com o uso das Ações Coletivas. É

este o grande mérito do diploma legal em questão.

23 GRINOVER.Op. Cit, p.32.

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3.1 OS BENEFÍCIOS DA AÇÃO COLETIVA NO CDC

A opção do legislador por aplicar as técnicas processuais coletivas aos

interesses coletivos (difusos, coletivos strictu sensu e individuais homogêneos) visa,

além do acesso à justiça, a economia processual e a efetividade do processo,

evitando que haja julgados diferentes para situações iguais, viabilizando demandas

de massa que, seja pelo custo-benefício, seja pela praticidade processual,

ensejavam uma verdadeira abertura do Judiciário a essas demandas para que

fossem processadas no direito processual civil individual dificilmente chegariam a ser

judicializadas.

Como conceitua Zaneti, o CDC conceitua os direitos individuais homogêneos

como aqueles decorrentes de origem, ou seja, os direitos nascidos em conseqüência

da própria lesão ou ameaça de lesão, em que a relação jurídica entre as partes é ex

posto factum (fato lesivo). Frise-se, não em razão do local ou da época do evento

danoso, mas sim da sua origem fática comum (agente lesivo).24

Batista, elenca os benefícios da ação coletiva e dos atos normativos que

vieram regular sua tutela, citando que:

Tais corpos normativos engendraram fantásticas transformações como por exemplo: 1) atribuíram legitimidade ao Ministério Público e entes coletivos públicos e privados para a propositura de medidas judiciais em defesa de interesses metaindividuais (art.5º, da Lei nº. 7.347, de 24.07.1985, e art.82, da Lei nº.8.078, de 11.09.1990); 2) alargaram o âmbito de tutela desses interesses, enunciando outros além do patrimônio público, como o meio ambiente, o consumidor, o patrimônio artístico, histórico, turístico e paisagístico, entre outros, e deixando o rol aberto a ser completado de acordo com sua geração na sociedade de massa, que não cessa de apresentar o nascimento de novos direitos e carências, como já se estudou (art.129, III, fine, da Constituição Federal e art. 1º, da Lei nº.7.347, de 24.07.1985, em especial o inciso IV, introduzido pela Lei nº. 8.078, de 11.09.1990; 3) viabilizaram a inversão do ônus probante nas ações coletivas, a critério do juiz, segundo exigir o caso concreto (art.6º., VIII, Lei nº. 8.078, de 11.09.1990), estabeleceram a fórmula conceitual dos interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos para servir de parâmetro na classificação dos novos direitos emergentes e, ante à tipologia, tornar viável sua proteção pelas ações coletivas; 5) admitiram a tão útil e necessária coisa julgada erga omnes e ultra partes, no domínio das tutelas coletivas, reproduzindo o conteúdo expresso no art.18, da Lei nº.

24 ZANETI JR, Hermes. Processo coletivo. Salvador: Editora JusPodivm, 2006.p.38.

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4.717, de 29.06.1965 (art.16, da Lei nº. 7.347, de 24.07.1985, art.103, da Lei nº. 8.078, de 11.09.1990.25

3.2 COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS NO CDC

O artigo 103 do Código de Defesa do Consumidor regula a eficácia da coisa

julgada no caso das mencionadas Ações Coletivas. O inciso I dispõe acerca da

eficácia da coisa julgada nas Ações Coletivas ajuizadas em defesa dos interesses

difusos. Vejamos seu teor:

Art.103 - Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81.

Portanto, há extensão subjetiva dos efeitos da coisa julgada em dois casos:

procedência da ação; e

improcedência da ação.

Ressalte-se que, caso seja a Ação Coletiva julgada improcedente por falta de

provas, qualquer dos entes elencados no art. 82 do CDC, inclusive o autor da

mencionada ação, poderão ajuizá-la novamente, sem que os efeitos da coisa

julgada a prejudique.

Julgada procedente ou improcedente a Ação Coletiva em defesa de

interesses difusos, resta saber se particulares poderão defendê-los em nome

próprio. Neste caso, sendo a coletividade indeterminada titular dos interesses

difusos, não há que se falar em legitimidade de particulares para defendê-los em

25 BATISTA, Roberto Carlos. Coisa julgada nas ações civis públicas: direitos humanos e garantismo. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005. p.35.

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Juízo. Tal fato se dá não em decorrência dos efeitos da coisa julgada na Ação

Coletiva, mas em decorrência da ilegitimidade ad causam do indivíduo para sua

propositura.

Entretanto, o particular poderá intentar ação ordinária visando a reparação

dos danos causados pelo fornecedor declarado culpado nos autos da referida ação

coletiva, sem que este possa argüir a adequação de seu produto ou serviço, uma

vez que tal questão é abarcada pelos efeitos da coisa julgada.

Finalmente, devemos destacar que, no caso em exame, temos, de um lado,

um direito transindividual do qual é titular a coletividade indeterminada, e de outro,

um interesse particular do fornecedor.

Portanto, questiona-se se fornecedores diversos estariam também sujeitos

aos efeitos da coisa julgada, no caso da prática de conduta semelhante, mesmo

sendo terceiros em relação à lide. Neste caso, a resposta afirmativa é óbvia e

decorre diretamente da eficácia erga omnes atribuída à coisa julgada pelo

dispositivo legal em tela.

No caso de Ações Coletivas em defesa de Direitos Coletivos:

Art.103. (...)

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81.

Pelo exposto, constata-se que a eficácia dos efeitos da coisa julgada no caso

de defesa de Direitos Coletivos é menos abrangente quando comparada à primeira

hipótese, uma vez que restringe-se ao grupo titular do mencionado direito.

No que se refere à extensão subjetiva da coisa julgada neste caso, aplica-se

o mesmo raciocínio já demonstrado no caso de defesa de direitos difusos.

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Quanto à prejudicialidade dos efeitos da coisa julgada, dispõe o CDC:

Art.103. (...)

§ 1º Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe."

"§ 3º Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste Código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos artigos 96 a 99.

Desta forma, caso seja julgada improcedente Ação Coletiva, nada impede que

o consumidor consiga provar, em ação própria, inadequação do produto ou serviço e

prejuízos pessoais sofridos em decorrência dos mesmos.

O inciso III do art. 103 estabelece a eficácia dos efeitos da coisa julgada no

caso de Ação Coletiva em defesa de interesses individuais homogêneos:

Art. 103 (...)

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

Sendo os particulares titulares dos direitos individuais homogêneos, visam as

Ações Coletivas ajuizadas em sua defesa a satisfação direta daqueles interesses

individuais e particulares. Assim, não há necessidade de nova demanda judicial para

satisfazê-los. Deverá, entretanto, ser quantificado o interesse individual, em

procedimento de liquidação de sentença.

Ressalte-se que só ocorre eficácia erga omnes no caso de procedência do

pedido.

No que se refere à extensão subjetiva dos efeitos da coisa julgada neste

caso, temos:

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Art. 103 (...)

§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

A doutrina interpreta o dispositivo afirmando que a improcedência da Ação

Coletiva, neste caso, implica na preclusão da via judicial coletiva para novas

demandas. Assim, os demais entes legitimados pelo artigo 82 do CDC sofrem,

também, os efeitos da coisa julgada.

Não obstante, os particulares que não tiverem intervindo na ação julgada

improcedente podem ajuizar pedidos individuais.

Tendo em vista a análise das características e particularidades das Ações

Coletivas previstas na Lei 8078/90, observamos um considerável aprimoramento na

defesa dos interesses dos consumidores.

Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 5.139/09 que se propõe a

unificar a regulamentação do processo coletivo brasileiro e tratá-lo como uma

disciplina processual autônoma.

Busca-se a aprovação de uma nova lei da Ação Civil Pública, de forma a

unificar todos os diplomas legislativos existentes que envolvem o processo coletivo.

Além disso, há a ampliação dos direitos coletivos, do rol dos legitimados,

alteração dos critérios para definição da competência para reparação de dano

coletivo que englobe diferentes partes do país; disposições diferenciadas a respeito

da conexão, continência e litispendência, visando a evitar a divergência entre as

decisões e a redução do número de processos; trata da coisa julgada coletiva e da

relação entre demandas individuais e coletivas; incentiva os meios alternativos de

solução de controvérsias coletivas;estabelece a forma de liquidação, execução e

cumprimento das sentenças coletivas.26

26 http://www.ambito-juridico.com.br. Acesso em fevereiro de 2011.

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CONCLUSÃO

Conclui-se com este estudo que ao lado da Lei da Ação Civil Pública, o

CDC apresenta-se como é um dos mais importantes instrumentos para a defesa dos

direitos coletivos dos consumidores por meio deste diploma, não só o rol dos

legitimados para a defesa coletiva dos direitos dos consumidores foi alargado como

também os interesses tuteláveis foram ampliados. Considera-se uma significativa

conquista, principalmente quando se entende que as práticas de consumo atingem

um número cada vez maior de pessoas o que amplia, na mesma medida, os efeitos

dos danos e lesões causados.

Ministério Público, União, Estados, Municípios, autarquias, empresas

públicas, fundações, sociedades de economia mista, associações, entidades e

órgãos da Administração Pública, direta ou indireta adquirem uma nova função

dentro da dinâmica social.

Desta forma, a ampliação do papel desses entes, e do rol dos direitos

tuteláveis pelas ações coletivas de consumo, faz emergir a preocupação com os

possíveis abusos praticados. Daí a necessidade da delimitação da legitimidade dos

entes habilitados para a defesa dos direitos coletivos dos consumidores em juízo.

De fato, em que pese a inegável relevância da tutela coletiva, o CDC atribui

a mesma relevância à defesa individualizada dos direitos dos consumidores.

Sob pena de que a defesa individualizada dos direitos dos consumidores

seja relegada a um plano secundário, é imperioso que a tutela coletiva permaneça

circunscrita àqueles interesses que, efetivamente, têm uma feição que extrapola a

esfera individual. Mais do que isto, esta defesa deve ser exercida apenas por

aqueles entes que efetivamente demonstrem condições para adequada defesa que

esta natureza de direitos exige.

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