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FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ MIGUEL ADOLFO KALABAIDE O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE JUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE BRASILEIRO EM ÂMBITO FEDERAL CURITIBA 2008

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FEMPAR – FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ

MIGUEL ADOLFO KALABAIDE

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE JUDICIAL DE

CONSTITUCIONALIDADE BRASILEIRO EM ÂMBITO FEDERAL

CURITIBA

2008

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MIGUEL ADOLFO KALABAIDE

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE JUDICIAL DE

CONSTITUCIONALIDADE BRASILEIRO EM ÂMBITO FEDERAL

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Direito da FEMPAR/UNIBRASIL, como requisito parcial à obtenção de título de Especialista em Direito Constitucional.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Coutinho Pagliarini

CURITIBA

2008

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TERMO DE APROVAÇÃO

MIGUEL ADOLFO KALABAIDE

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE JUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE BRASILEIRO EM ÂMBITO FEDERAL

Monografia aprovada, com pontuação 10, como requisito parcial para obtenção do

grau de Especialista no curso de Pós-Graduação em Ministério Público - Estado

Democrático de Direito, Fundação Escola do Ministério Público do Paraná -

FEMPAR, Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, examinada pelo Professor

Orientador Dr. Alexandre Coutinho Pagliarini.

_________________________________

Prof. Dr. Alexandre Coutinho Pagliarini

Orientador

Curitiba, 11 de dezembro de 2008.

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ii

À minha esposa, Bruna, pela dedicação e apoio nesta caminhada chamada vida.

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iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, ao meu professor orientador Dr. Alexandre Coutinho

Pagliarini, pela atenção dispensada na elaboração deste trabalho.

Agradeço, também, aos professores, colegas de trabalho, da Faculdade

Aprovação, os quais, entre um intervalo e outro, ajudaram na construção do meu

pensamento.

Ao meu sócio e colega de escritório, Evandro Limongi e sua esposa Lúcia,

que me ajudam consideravelmente nas atividades da advocacia, possibilitando mais

tempo para a elaboração deste trabalho.

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iv

A verdade é sempre um argumento mais forte. (Sófocles, poeta grego - séc. V a.C.)

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v

SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................... vi

ABSTRACT.... ............................................................................................................... vii

PALAVRAS CHAVE ..................................................................................................... viii

KEY WORDS ................................................................................................................ ix

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

1 CAPITULO – HISTÓRICO ........................................................................................ 4

1.1 Aspectos importantes da origem do Ministério Público: Antiguidade, Idade Média

e França................ ........................................................................................................ 4

1.2 A evolução do Ministério Público Brasileiro ............................................................. 7

1.3 Breve histórico do controle de constitucionalidade no Brasil......................... .......... 11

1.4 A participação histórica do Ministério Público no controle de constitucionalidade .. 16

2 CAPÍTULO – O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL ............... 20

2.1 Sistemas de controle de constitucionalidade: político e judicial .............................. 20

2.2 O controle judicial de constitucionalidade no Brasil: difuso e concentrado.............. 23

2.3 O atual controle de constitucionalidade no plano federal ....................................... 27

3 CAPÍTULO – LEGITIMAÇÃO PARA O CONTROLE DE

CONSTITUCIONALIDADE ........................................................................................... 31

3.1 A legitimação do Ministério Público no controle difuso ............................................ 31

3.2 A legitimação do Ministério Público no controle concentrado .................................. 36

3.3 A legitimação do Ministério Público no controle interventivo .................................. 43

4 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 47

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 50

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vi

RESUMO

O presente trabalho investiga o papel do Ministério Público no controle de constitucionalidade brasileiro, em especial no controle judicial difuso e concentrado em face da Constituição Federal de 1988, tanto como legitimado a propor ações como custos legis. Para tanto, analisou-se a doutrina, legislação e jurisprudência brasileiras, as definições e os procedimentos adotados no âmbito do controle de constitucionalidade.

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vii

ABSTRACT

The present work investigates the purpose of the Public Prosecution Service (reported as Public Ministry in brazilian reality) in the brazilian judicial review system, specially in abstract (centralized) and concrete (or decentralized) review system in view of the Federal Constitution of 1988, as much as legitimized to propose (file) actions like “custos legis”. For so much, there was analysed the Brazilian doctrine, legislation and jurisprudence, the definitions and the proceedings adopted in the context of the judicial review.

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viii

PALAVRAS CHAVE

Ministério Público – controle de constitucionalidade – legitimação – custos legis –

difuso – concentrado – abstrato – mandado de segurança – ação civil pública – ação

popular – ação direta de inconstitucionalidade – ação declaratória de

constitucionalidade – ação por descumprimento de preceito fundamental – ação

interventiva – controle político – controle judicial

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ix

KEY WORDS

Public Ministry - judicial review – legitimation – custos legis – diffuse – concentrate -

abstract – writ of mandamus – class action - citizens action – unconstitutionality

direct action – constitutionality declaratory action – unaccomplished fundamental

rule action – intervention action – politic control - judicial control

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1

INTRODUÇÃO

A idéia da presente monografia é investigar o papel do Ministério Público no

controle de constitucionalidade brasileiro, em especial no controle judicial difuso e

concentrado em face da Constituição Federal de 1988, tanto como legitimado a

propor ações como custos legis. Para tanto, estruturamos o trabalho em três partes,

a saber: histórico, o controle de constitucionalidade no Brasil e a legitimação para o

controle de constitucionalidade.

O primeiro capítulo, dividido em quatro subcapítulos, cuida da parte histórica.

No primeiro subcapítulo, abrangemos os aspectos importantes da origem do

Ministério Público, fazendo breves referências à existência do órgão na Antiguidade,

Idade Média e, especialmente, na França, visto que é aqui que a maioria dos

tratadistas se inclina a reconhecer, de fato, sua origem. Tanto que, até hoje, a

expressão parquet é freqüentemente utilizada por nós para se referir à instituição.

O estudo da evolução do Ministério Público Brasileiro fica a cargo do

segundo subcapítulo, iniciando com a menção ao Código de Processo Criminal, de

1832, passando pelo início da fase republicana que desencadeou o movimento pela

independência da instituição e pela Constituição de 1934 que concedeu importantes

prerrogativas ao Ministério Público, e chegando à Constituição atual, de 05 de

outubro de 1988, que consagrou sua total autonomia e independência e ampliando-

lhe, consideravelmente, suas funções institucionais, em defesa dos direitos,

garantias e prerrogativas da sociedade.

Na terceira parte, do primeiro capítulo, dedicamo-nos a fazer um breve

histórico do controle de constitucionalidade no Brasil. Inicialmente, devemos à

primeira Constituição republicana (1891) a positivação, em nível constitucional, do

controle (judicial) de constitucionalidade. Mas, não há como negar a importância

histórica da Constituição de 1934, um verdadeiro marco no campo do controle de

constitucionalidade, especialmente a previsão da representação de

inconstitucionalidade interventiva a ser proposta pelo Procurador-Geral da

República.

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2

Destacamos, também, a Emenda Constitucional n.º 16, de 06/12/65, que

alargou, consideravelmente, no Brasil, o controle de constitucionalidade concentrado

ou abstrato, ao atribuir ao Supremo Tribunal Federal a competência para processar

e julgar originariamente a representação de inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo federal ou estadual, apresentada pelo Procurador-Geral da República,

apesar da existência, como já visto, da representação interventiva desde a

Constituição de 1934.

Encerrando a primeira parte (histórico), investigamos a participação ao longo

do tempo do Ministério Público no controle de constitucionalidade. A Constituição de

1934, ao trazer a possibilidade da representação interventiva, a ser proposta pelo

Procurador-Geral da República, situa o Ministério Público em lugar de destaque. No

mesmo diapasão, a Emenda Constitucional n.º 16, de 26 de novembro de 1965, ao

estabelecer ser de competência originária do Supremo Tribunal Federal o processo

e julgamento da representação contra a inconstitucionalidade de lei ou ato de

natureza normativa, federal ou estadual, encaminhada pelo Procurador-Geral da

República.

O segundo capítulo é dedicado ao estudo do controle de constitucionalidade

no Brasil. Este capítulo se divide em três subcapítulos, a saber: a) sistemas de

controle de constitucionalidade: político e judicial; b) o controle judicial de

constitucionalidade no Brasil: difuso e concentrado; e c) o atual controle de

constitucionalidade no plano federal.

Quanto aos sistemas de controle de constitucionalidade, abordamos alguns

sistemas constitucionais, especialmente o francês, o norte-americano e o austríaco.

Identificamos que há sistemas que reconhecem que o controle de

constitucionalidade das leis tem efeitos políticos e, portanto, deveria ser exercido por

um corpo político, normalmente distinto dos Poderes Legislativo, Executivo e

Judiciário. Outros sistemas adotam o controle judicial, ficando a cargo de um órgão

jurisdicional o exame de constitucionalidade das leis.

No segundo subcapítulo, do segundo capítulo, abordamos o controle judicial

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3

de constitucionalidade no Brasil, tanto difuso quanto concentrado, explicando as

diferenças básicas entre um e outro e seus efeitos subjetivos.

Na última parte do segundo capítulo, estudamos o atual controle de

constitucionalidade no plano federal, destacando as inovações trazidas pela Emenda

Constitucional n.º 45, de 8 de dezembro de 2004, no plano do controle difuso, tais

como a demonstração da repercussão geral no Recurso Extraordinário e a súmula

com efeitos vinculantes. No que toca ao controle concentrado de

constitucionalidade, a Constituição de 1988 representou um novo marco histórico,

criando novas ações e alargando consideravelmente os legitimados a propô-las,

retirando a exclusividade do Procurador-Geral da República.

O terceiro capítulo é dedicado ao tema da legitimação do Ministério Público

no controle de constitucionalidade.

Inicialmente, fazemos a abordagem do papel do Ministério Público no

controle difuso, destacando a sua participação, seja como parte ou como custos

legis, nos procedimentos de mandado de segurança, de ação civil pública e de ação

popular, verificando a possibilidade real de o Ministério Público cumprir seu papel

institucional.

No segundo subcapítulo da última parte deste trabalho, desenvolvemos o

estudo da legitimação do Ministério Público no controle concentrado de

constitucionalidade. No plano federal, enfoque desta monografia, assume

importância a participação do Ministério Público na ação direta de

inconstitucionalidade, na ação declaratória de constitucionalidade e na ação por

descumprimento de preceito fundamental, destacando a tendência, a partir de 1988,

do direito brasileiro em intensificar o controle concentrado, alargando os legitimados

para o processo de fiscalização da regularidade normativa do sistema.

Finalmente, abordamos a participação do Ministério Público no controle

interventivo, observando que a Constituição de 1934 inaugurou a possibilidade da

propositura da ação interventiva, mantida pela atual Carta.

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4

1 CAPITULO – HISTÓRICO

1.1 Aspectos importantes da origem do Ministério Público: Antiguidade, Idade

Média e França

Sobre a origem do Ministério Público há muito controvérsia. Não cabe,

evidentemente, neste trabalho, verificar tais divergências, senão que apresentar,

sucintamente, alguns pensamentos doutrinários a respeito do nascimento desta

Instituição, em especial sobre o Ministério Público francês.

Há quem diga que a origem do Ministério Público tenha sido no Egito, há

cerca de quatro mil anos, pois havia um funcionário real do Egito chamado magiaí,

que possuía, entre outras funções, a de castigar os rebeldes, reprimir os violentos,

proteger os cidadãos pacíficos, acolher os pedidos do homem justo e verdadeiro,

perseguindo o malvado e mentiroso.1

Outros vêem na Antiguidade clássica, como nos éforos de Esparta, um

Ministério Público nascente, pois eles tinham a função, embora juízes, de

contrabalançar o poder real e o poder senatorial, exercendo o ius accusationis, ou,

ainda, como nos thesmotetis ou tesmãtetas gregos, forma rudimentar de acusador

público.2

Há, ainda, quem veja em Roma a origem do Ministério Público, com os

censores e os procuratores caesaris, encarregados de vigiar a administração de

bens do Imperador. Ensina Hugro Nigro MAZZILLI que “Os censores podiam impor

multas e até notas de infâmia (...). Já os procuratores caesaris foram instituídos pelo

imperador romano Augusto, mas cuidavam apenas da gestão dos domínios

imperiais e da arrecadação das receitas. Subseqüentemente, passaram a poder

confiscar bens de cidadãos condenados; daí, seu interesse pela persecução

1 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime jurídico do Ministério Público: análise do Ministério

Público na Constituição, na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, na Lei Orgânica do Ministério Público da União e na Lei Orgânica do Ministério Público paulista. 5.ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 42.

2 Idem.

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5

criminal.”.3

São também mencionadas origens na Idade Média, nos saions germânicos,

nos bailios e senescais, aos quais incumbia a defesa dos senhores feudais em juízo;

ou ainda nos missi dominici ou gastaldi do direito lombardo ou também no gemeiner

Anklager (acusador comum) da Alemanha, que tinha a função de exercer a

acusação quando o particular permanecia passivo.4

Em Portugal, sob o reinado de Afonso III, existia a figura do procurador da

Coroa, no ano de 1289. Em 1387, o Rei Dom João I criou El Ministerio Fiscal,

semelhante ao Ministério Público atual.5

Na Itália, parte da sua doutrina pretende demonstrar a origem peninsular do

Ministério Público em Pávia ou Piemonte, nos chamados advocatus de parte publica

ou os avogadori di comun della repubblica veneta ou, ainda, os conservatori delle

leggi di Firenze; outros, entretanto, concedam que, talvez, na sua figura definitiva, o

Ministério Público italiano seja mesmo derivado do francês.6

Nessa linha, aliás, converge a maioria dos tratadistas que se inclina a admitir

sua origem na França, visto que ali o órgão se apresentou com caráter de

continuidade.

Fernando da Costa TOURINHO FILHO ensina que

“Ce corps de magistrats”, doutrina Donnedieu de Vabres, “a une origine três modeste”. Antes do século XIV, os procurateurs ou procureurs du roi eram simplesmente os representantes dos interesses privados dos monarcas ante os Tribunais. Todavia tais procureurs podem ser instituídos quer pelas partes, quer pelos senhores feudais, inclusive os monarcas. Mas, quando o processo acusatório foi substituído pelo inquisitório, tornaram-se os procureurs representantes dos interesses sociais.

7

3 Ibidem, p. 42-43.

4 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. v. 2. 21. ed., rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 1999. p. 324. 5 MAZZILLI, Regime..., p. 46.

6 Ibidem, p. 43.

7 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 324.

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6

Em 1302 (Ordonnance de 25 de março), coube à França criar o Ministério

Público. Nesta Ordenança, o rei da França Felipe IV, o Belo, referindo-se aos

procuradores do rei, impunha-lhes que prestassem o mesmo juramento dos juízes,

proibindo-lhes patrocinarem outros que não o rei. Em 1790, houve um decreto na

França que atribuía vitaliciedade aos agentes do Ministério Público. Neste mesmo

ano, outro decreto dividiu as funções do Ministério Público entre dois agentes: um

comissário do rei (era nomeado pelo rei e velava pela aplicação da lei e execução

dos julgados) e um acusador público (era eleito pelo povo e sustentava as

acusações diante dos tribunais). 8

Daí por diante, o Ministério Público foi se desenvolvendo tamanhamente,

culminando por conseguir, no ano revolucionário de 1792, as garantias da

inamovibilidade e independência em face do Poder Executivo, se bem que elas

durassem pouco tempo.9

Foram, porém, os textos napoleônicos que instituíram o Ministério Público

que a França conhecesse hoje, difundindo a instituição por diversos países. É

inegável a influência da doutrina francesa na história do Ministério Público, tanto que

hoje a expressão parquet é freqüentemente utilizada por nós para se referir à

instituição.

Aliás, sobre este termo – parquet – Hugo Nigro MAZZILLI explica que

A menção a parquet (assoalho), muito usada com referência ao Ministério Público, provém dessa tradição francesa, assim como as expressões magistrature débout (magistratura de pé) e les gens du roi (as pessoas do rei). Com efeito, os procuradores do rei (daí les gens du roi), antes de adquirirem a condição de magistrados e terem assento ao lado dos juízes, tiveram inicialmente assento sobre o assoalho (parquet) da sala de audiências, em vez de terem assento sobre o estrado, lado a lado, à magistrature assise (magistratura sentada). Conservaram-se, entretanto, a denominação de parquet ou de magistrature débout.

10

Assim, independentemente do momento histórico do surgimento desta

importante instituição, certo é que as suas raízes próximas firmam-se na vitória das

8 MAZZILLI, Regime..., p. 44.

9 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 325.

10 MAZZILLI, Regime..., p. 45.

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7

idéias iluministas, consagradas na Revolução Francesa.

1.2 A evolução do Ministério Público Brasileiro

A primeira Constituição brasileira, de 25 de março de 1824, também

conhecida como Constituição Imperial, não se referiu à Instituição do Ministério

Público, conquanto saibamos que a maioria dos tratadistas inclina-se a admitir a

criação deste órgão na França, já no início do século XIV.11

O que havia, sob a Constituição de 1824, era a figura do procurador da

Coroa e Soberania Nacional, ao qual competia a acusação no juízo de crimes,

ressalvadas as hipóteses de iniciativa acusatória da Câmara dos Deputados (art.

48).12

Passados mais de 500 anos do surgimento do Ministério Público francês, o

Brasil cria, em 1832, pelo Código de Processo Criminal, a figura do promotor da

ação penal. Interessante notar que a criação deste importante órgão de Estado se

deu via legislação ordinária, visto que, à época, a Constituição não era vista,

contemplada como nos moldes atuais (é inegável, hoje, a supremacia formal e

material que detém a Constituição Brasileira sobre todo o ordenamento jurídico).

Basta lembrar, também, que a abolição da escravatura, momento importantíssimo da

história brasileira, teve sua concretização estabelecida, igualmente, em lei ordinária.

Posteriormente, o Decreto n° 120, de 21 de janeiro de 1843, que

regulamentou o Ministério Público, nitidamente subordinou este órgão ao Poder

Executivo, característica que perduraria por vários anos. Neste Decreto, por

exemplo, ficou estabelecido que os promotores seriam nomeados pelo Imperador do

Município da Corte e pelos Presidentes nas Províncias, por tempo indefinido, e

seriam mantidos no cargo enquanto houvesse conveniência na sua conservação no

serviço público, sendo, caso contrário, indistintamente demitidos por aqueles que os

nomearam.

11

Ibidem, p. 43-44. 12

Ibidem, p. 56.

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8

Ainda durante o Império, em 1876, com a Consolidação Ribas, surgiu na

segunda instância o Procurador da Coroa, mas sem o status de chefe dos

Procuradores.

É na fase republicana que se inicia o movimento pela independência do

Ministério Público. O Ministro da Justiça Campos SALLES foi precursor deste

movimento com a edição do Decreto nº. 848, de 11 de outubro de 1890, reformando

a justiça brasileira. Ainda, no mesmo ano, o Ministério Público surge como instituição

necessária (Decreto n.º 1.030).

A primeira Constituição republicana, de 1891, e a primeira a fazer menção à

figura do Ministério Público, referiu-se, no art. 58, § 2º, ao Procurador-Geral da

República, a ser escolhido entre os membros do Supremo Tribunal Federal,

prevendo que “O Presidente da República designará, dentre os membros do

Supremo Tribunal Federal, o Procurador Geral da República, cujas atribuições se

definirão em lei.” Interessante notar que essa disposição está localizada na Seção

III, que se destinava ao Poder Judiciário. Ou seja, se no período Imperial o Ministério

Público estava ligado ao Poder Executivo, na República, a ligação se dá com o

Poder Judiciário.

Somente com a Constituição de 1934 é que o Ministério Público ganharia

uma Seção própria (Seção I), do Capítulo VI (Dos Órgãos de Cooperação nas

Atividades Governamentais), do Título I (Da organização Federal). Entre as normas

mais importantes, destacam-se a previsão da existência de Ministérios Públicos da

União, do Distrito Federal e Territórios, e nos Estados, a serem organizados por lei.

Além disso, o Chefe do Ministério Público, no âmbito federal (Procurador-Geral da

República), passou a ser nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, sem a

necessidade de fazer parte do Poder Judiciário, porém, com os mesmos

vencimentos destes. Previu também a estabilidade e vedações aos membros do

Ministério Público, e a necessidade de concurso público para o ingresso na carreira,

além da participação no controle de constitucionalidade.

Não há dúvidas que a Constituição de 1934 concedeu importantes

Page 20: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

9

prerrogativas ao Ministério Público, desenhando-o como uma instituição13, de fato,

independente, vale dizer, sem ligação direta com o Poder Executivo ou o Judiciário.

Mas a Carta Magna de 1937 diminuiu a previsão constitucional do Ministério

Público, apenas fazendo breves referências no título referente ao Poder Judiciário.

No art. 99 previa a investidura do chefe do Ministério Público Federal; no art. 101,

parágrafo único, previu a possibilidade de interposição de recursos pelo Ministério

Público; e, finalmente, no art. 105 estipulou a cláusula do chamado quinto

constitucional a ser aplicado somente nos tribunais superiores. Não houve previsão

da participação do Ministério Público no controle de constitucionalidade.

Já a Constituição de 1946 resgataria a importância do Ministério Público,

situando em título especial (Título III – Do Ministério Público), independente dos

demais Poderes de Estado. Importante previsão era a do art. 127, que estabelecia

três regras importantes: concurso público, estabilidade e inamovibilidade. Mas, ainda

aqui, o Procurador-Geral da República, apesar de nomeado pelo Presidente da

República após aprovação pelo Senado Federal, era demissível ad nutum.

Ademais, é nítida a confusão estabelecida pela Carta de 46, estabelecendo

que a representação da União em juízo era atribuição constitucional dos

Procuradores da República, podendo a lei cometer esse encargo, nas comarcas do

interior, ao Ministério Público local (parágrafo único, do art. 126). Houve aqui, de

fato, um conflito de interesses, vale dizer, o Ministério Público, muitas vezes,

defendia interesses do Estado ao invés dos interesses da sociedade. Isso, contudo,

não retirou da Constituição de 1946 o mérito pelo avanço em termos de organização

do Ministério Público.

Como houve a previsão, no art. 125, da Constituição de 1946, de que a lei

organizaria o Ministério Público da União junto aos órgãos judiciários federais, foi

editada a lei 1.341/51.

13

Ibidem, p. 60.

Page 21: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

10

Apesar de todo o avanço promovido pela Constituição de 1946, mais uma

vez o Ministério Público sofreria um reverso em sua posição estrutural, dentro do

texto constitucional. A Carta de 1967, alterando a posição adotada em 1946,

recolocou o Ministério Público dentro do Poder Judiciário (Capítulo VIII – Do Poder

Judiciário – Seção IX – Do Ministério Público), ainda que não inovasse em nada as

regulamentações anteriores. Ressalta-se que a representação em juízo da União

permaneceu com o Ministério Público (art. 138, §2º).

Mais tarde, este posicionamento foi alterado pela Emenda Constitucional nº

1, de 1969, e pela Emenda Constitucional n.º 7, de 1977, voltando o Ministério

Público a ocupar posição dentro do Poder Executivo (Capítulo VII – Do Poder

Executivo; Seção VII – Do Ministério Público), prevendo como novidade a edição de

lei complementar, de iniciativa do Presidente da República, para estabelecimento de

normas gerais a serem adotadas na organização dos Ministérios Públicos Estaduais

(parágrafo único, do art. 96).

A Constituição atual, de 05 de outubro de 1988, situa o Ministério Público em

capítulo especial, fora da estrutura dos demais poderes da República, consagrando

sua total autonomia e independência e ampliando-lhe, consideravelmente, suas

funções institucionais, em defesa dos direitos, garantias e prerrogativas da

sociedade, vedando, expressamente, a representação judicial e a consultoria jurídica

de entidades públicas (art. 129, IX).

Hoje, o Ministério Público abrange o Ministério Público da União, o Ministério

Público dos Estados e o Ministério Público junto aos Tribunais de Contas. O

Ministério Público da União compreende o Ministério Público Federal, o Ministério

Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito

Federal e Territórios.

Com base na atual Carta Magna foi editada a Lei 8.625, de 12 de fevereiro

de 1993, que instituiu a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispondo sobre

normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados. Já a Lei

Complementar Federal n.º 75, de 20 de maio de 1993, dispõe sobre a organização,

Page 22: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

11

as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União.

1.3 Breve histórico do controle de constitucionalidade no Brasil

Inicialmente, quando se fala em controle de constitucionalidade devemos

ligá-lo à idéia de supremacia da Constituição sobre todo o ordenamento e, também,

à de rigidez constitucional e proteção aos direitos fundamentais.

Essa breve idéia nos ajuda a entender a evolução do controle de

constitucionalidade no Brasil. É que não houve, na Constituição Imperial, uma

remissão ao controle judicial de constitucionalidade, pois é sabido que, no Império,

não havia, ainda, a idéia central de supremacia da Constituição, e, ao mesmo tempo,

esta Carta se classificava como semi-rígida, vale dizer, apenas uma parte dela podia

ser classificada como rígida (a parte respeitante aos limites e atribuições dos

poderes políticos e os direitos políticos e individuais dos cidadãos).14

O que houve, então, foi uma tímida averiguação de constitucionalidade,

ainda de feição política, estabelecida no art. 173, nestes termos: “A Assembléia

Geral no princípio das suas sessões examinará se a Constituição Política do Estado

tem sido exatamente observada, para prover como for justo”.

Foi com a primeira Constituição republicana (1891) que se positivou, em

nível constitucional15, o controle (judicial) de constitucionalidade, ao dispor, em seu

art. 59, § 1º, que “das sentenças das justiças dos Estados em última instância

haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal: b) quando se contestar a validade

de leis ou de atos dos Governos dos Estados em face da Constituição, ou das leis

federais, e a decisão do Tribunal do Estado considerar válidos esses atos, ou essas

leis impugnadas.”

14

TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 243.

15 Isso porque, a partir do Decreto nº 1, de 1889, denominado Constituição provisória, e

mais especificamente com o Decreto nº 510, de 1890, passou a ser prevista a competência do Supremo Tribunal Federal para exercer o controle da constitucionalidade, nos seguintes termos: “quando se contestar a validade das leis ou atos dos governos dos Estados em face da Constituição ou das leis federais e a decisão do Tribunal do Estado considerar válidos os atos ou leis”.

Page 23: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

12

Rui BARBOSA, comentando o dispositivo acima, acrescenta que a norma

em comento “obriga esse tribunal a negar validade às leis federaes, quando

contrarias à Constituição, e as lei federaes são contrarias à Constituição, quando o

Poder Legislativo, adoptando taes leis, não se teve nos limites, em que a

Constituição o autorizava a legislar, isto é, transpassou a competência, em que a

Constituição o circunscreve”.16

Foi assim que o Supremo Tribunal Federal, sob inspiração norte-americana,

nasceu com o papel de intérprete máximo da Constituição republicana e o controle

difuso de constitucionalidade instalou-se de forma efetiva no Brasil, com a Lei

Federal n.° 221, de 189417 que concedeu competência aos juízes e tribunais para

apreciarem a validade das leis e regulamentos e deixarem de aplicá-los aos casos

concretos, se fossem manifestamente inconstitucionais.18

Paulo BONAVIDES, comentando a importância da aproximação desse

sistema de controle brasileiro ao modelo norte-americano, afirmou que:

Sem a presença dessa inspiração tão forte, tão individualista, tão liberal, jamais teríamos chegado talvez a cimentar o alicerce de um controle jurisdicional, de preferência a um controle político. Ficamos, portanto, de início, mais vizinhos do modelo norte-americano, que nos serviu de espelho, que do padrão francês, inclinado, pelo seu teor político, a resguardar a inviolabilidade da soberania legislativa, e a desconhecer limitações à legislatura ordinária em nome da preservação do princípio da separação de poderes.

19

A Emenda Constitucional n.º 1, de 03 de setembro de 1926, alterando o

16

BARBOSA, Rui. Commentários à Constituição Federal Brasileira. São Paulo: Saraiva, 1993. v.4. p. 23.

17 Art. 24. O Supremo Tribunal Federal julgará os recursos extraordinarios das sentenças

dos tribunaes dos Estados ou do Districto Federal nos casos expressos nos arts. 59 § 1º e 61 da Constituição e no art. 9º paragrapho unico, lettra (c) do decreto n. 848 de 1890, pelo modo estabelecido nos arts. 99 a 102 do seu regimento interno, mas em todo caso a sentença do tribunal, quer confirme, quer reforme a decisão recorrida, será restricta á questão federal controvertida no recurso sem estender-se a qualquer outra, por ventura, comprehendida no julgado.

A simples interpretação ou applicação do direito civil, commercial ou penal, embora obrigue em toda a Republica como leis geraes do Congresso Nacional, não basta para legitimar a interposição do recurso, que é limitado aos casos taxativamente determinados no art. 9º paragrapho unico, lettra (c) do citado decreto n. 848.

18 Inteiro teor do art. 13, § 10 da Lei 221, de 20 de novembro de 1894: “Os juízes e tribunais

apreciarão a validade das leis e regulamentos e deixarão de aplicar aos casos ocorrentes as leis manifestamente inconstitucionais e os regulamentos manifestamente incompatíveis com as leis e com a Constituição.”

19 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 19.ed. São Paulo: Malheiros,

2006. p. 325.

Page 24: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

13

disposto sobre os recursos ao Supremo Tribunal Federal previsto no art. 59, da

Constituição de 1891, deixou mais clara a idéia do controle difuso, em especial sobre

as leis federais, deslocando-o para o art. 60 e dispondo que

Art. 60. (...) § 1º Das sentenças das justiças dos Estados em última instância haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal: a) quando se questionar sobre a vigência, ou a validade das leis federais em face da Constituição e a decisão do Tribunal do Estado lhes negar aplicação; b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos governos dos Estados em face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão do tribunal do Estado considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas;

Em 1934, a Carta Magna traz o Recurso Extraordinário em seu texto, já

anteriormente previsto em legislação ordinária (Lei 221/1894), ao dispor, em seu art.

76, número 2, inciso III, que

Art. 76. A Corte Suprema compete: 2) julgar: III – em recurso extraordinário, as causas decididas pelas Justiças locais em única ou última instância: b) quando se questionar sobre a vigência ou a validade de lei federal em face da Constituição, e a decisão do Tribunal local negar aplicação à lei impugnada; c) quando se contestar a validade de lei ou de ato dos Governos locais dos Estados em face da Constituição, ou de lei federal, e a decisão do Tribunal local julgar válido o ato ou a lei impugnada;

Disposições semelhantes vieram nas Constituições de 1937 (art. 101, III,

alíneas b e c), de 1946 (art. 101, III, b e c) e nas Constituições de 1967 e 1969 (art.

114, III, b e c).

Mas, ainda sobre a Constituição de 1934, não há como negar-lhe a

importância histórica, um verdadeiro marco no campo do controle de

constitucionalidade. Os historiadores constitucionais quase todos coincidem em

assinalar a importância desta Carta no avanço do Estado brasileiro em direção a um

controle direto de constitucionalidade.

A segunda Constituição republicana trouxe quatro inovações de cunho

constitucional importantes: a reserva de plenário para declaração de

inconstitucionalidade, a possibilidade de o Senado Federal suspender leis

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14

declaradas inconstitucionais, a representação de inconstitucionalidade interventiva a

ser proposta pelo Procurador-Geral da República e o mandado de segurança.20

Porém, a Constituição do Estado-Novo, de 1937, autoritária e outorgada,

retrocedeu em termos de controle de constitucionalidade, inferiorizando as decisões

dos tribunais sobre declaração de inconstitucionalidade ao sujeitar a matéria a um

reexame pelo Parlamento. Isso ocorreria se o Presidente da República julgasse a lei

“necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de

alta monta”.21

Neste caso, por dois terços de votos de cada uma das Casas Legislativas, o

órgão legislativo poderia invalidar a decisão judiciária, em escancarado desrespeito

ao princípio da separação de poderes.

Tal situação não perduraria por muitos anos. Antes mesmo da Constituição

de 1946, a Lei Constitucional n.º 18, de 11 de dezembro de 1945 tratou de revogar o

malferido parágrafo único do art. 96, acima mencionado.

Por conseguinte, a Constituição de 1946 retomaria o curso adotado pelo

constituinte de 34, repetindo muitas de suas disposições, inclusive a argüição de

inconstitucionalidade interventiva (art. 8.º, parágrafo único: no caso do n.º VII, o ato

argüido de inconstitucionalidade será submetido pelo Procurador-Geral da República

ao exame de Supremo Tribunal Federal, e, se este a declarar, será decretada a

intervenção).

Durante a vigência da Constituição de 1946, duas importantes leis

disciplinaram a matéria de constitucionalidade relativa ao controle estabelecido no

parágrafo único, do art. 8.º, de salvaguarda dos princípios básicos do n. VII, do art.

20

TAVARES, op. cit., p. 244. 21

Art. 96. Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus juízes poderão os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato do Presidente da República.

Parágrafo único. No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por dois terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal.

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15

7.º22. Estas leis foram as de números 2.271, de 22 de julho de 1954 e 4.377, de 1º

de junho de 1964.

A primeira, que nos interessa, criou um novo instrumento processual,

denominada ação direta de declaração de inconstitucionalidade, ponto de partida

para a nova forma de controle – o da via por ação. Ressalta-se, contudo, que os

atos questionados por essa ação eram os ligados as hipóteses de intervenção

federal.

José Luiz de Anhaia MELLO, citado por Paulo BONAVIDES, esclarece sobre

o campo estreito de aplicação das normas acima citadas: “Escapavam de seu

campo de incidência os atos federais em geral e os estaduais que não ofendiam os

princípios do art. 7º, inciso VII da Constituição Federal, bem como os atos locais que

ofendiam a Constituição estadual, além dos municípios.

A mudança profunda viria com a Emenda Constitucional n.º 16, de 06 de

dezembro de 1965, que alargou, consideravelmente, no Brasil, o controle de

constitucionalidade concentrado ou abstrato, ao atribuir ao Supremo Tribunal

Federal a competência para processar e julgar originariamente a representação de

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual, apresentada pelo

Procurador-Geral da República, apesar da existência, como já visto acima, da

representação interventiva desde a Constituição de 1934.

Versando matéria referente à competência originária do Supremo Tribunal

Federal, o art. 2º da Emenda deu nova redação à alínea k do art. 101, inciso I, da

Constituição de 1946.

22

Art. 7.º. O Governo federal não intervirá nos Estados salvo para: VII – assegurar a observância dos seguintes princípios: a) forma republicana e representativa; b) independência e harmonia dos Poderes; c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das funções federais

correspodentes; d) proibição de reeleição de Governadores e Prefeitos, para o período imediato; e) autonomia municipal; f) prestação de contas da Administração; g) garantia do Poder Judiciário.

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16

Com isso, toda a lei do nosso ordenamento jurídico, a partir do novo

dispositivo constitucional, poderia ser objeto de um exame de constitucionalidade,

mediante uma ação direta. Era a lei em tese, abstratamente considerada,

desvinculada da via incidental, passível, agora, de um controle jurisdicional de

constitucionalidade, a partir da provocação do Procurador-Geral da República, único

legitimado até então.

Tanto a Constituição de 1967 quanto a Emenda Constitucional n.º 1, de

1969, conservaram o novel instituto de controle de constitucionalidade por via de

ação.

A atual Carta de 1988, em tema de controle difuso, originariamente, pouco

inovou, situação que perduraria até a entrada em vigor da Emenda Constitucional n.º

45, de 08 de dezembro de 2004; já no controle concentrado, a Constituição de 1988

representou um novo marco histórico. Por economia, remetemos o leitor ao item 2.3,

abaixo, que tratará do tema com mais profundidade.

1.4 A participação histórica do Ministério Público no controle de

constitucionalidade

Como vimos no item 1.1 acima, inicialmente as referências ao Ministério

Público eram esparsas, fixando-se apenas uma ou outra função, primeiro, ao

procurador da Coroa, depois, ao Procurador-Geral da República, mantendo-se

amorfo enquanto instituição.23

Assim, a Constituição do Império (1824) não faz qualquer referência à

participação do Ministério Público no controle de constitucionalidade, mesmo porque

sequer havia previsão de controle judicial de constitucionalidade (há, como vimos,

apenas uma nítida remissão ao controle político).

A primeira Constituição republicana inova ao estabelecer, expressamente, a

23

MAZZILLI, Regime…, p. 60.

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17

possibilidade de controle difuso. Estabeleceu também, no art. 81, § 1°, a

competência do Procurador-Geral da República para a propositura, ex officio, de

revisão criminal em favor do réu, legitimando-o, assim, para a argüição incidental, se

fosse o caso, de inconstitucionalidade.

A segunda Constituição republicana (1934) trouxe, como já visto acima,

quatro inovações importantes: a reserva de plenário para declaração de

inconstitucionalidade, a possibilidade de o Senado Federal suspender leis

declaradas inconstitucionais, a representação de inconstitucionalidade interventiva a

ser proposta pelo Procurador-Geral da República e o mandado de segurança, esta

última simbolizando típico instrumento processual de controle difuso de

constitucionalidade.

Quanto à ação interventiva, Paulo BONAVIDES entende que:

Dessas inovações a que mais importa com o respeito à via de ação é a terceira, um largo passo dado na direção desse instituto, porquanto o exame de constitucionalidade pelo Pretório supremo já não ocorreria apenas incidentalmente, no transcurso de uma demanda, mas por efeito de uma provocação cujo objeto era a declaração mesma de constitucionalidade da lei que decretara a intervenção federal.

24

Além disso, dispunha o texto da Constituição Federal de 16 de julho de

1934, em seu art. 96, que: “Quando a Corte Suprema declarar inconstitucional

qualquer dispositivo de lei ou ato governamental, o Procurador Geral da República

comunicará a decisão ao Senado Federal para os fins do art. 91, nº IV, e bem assim

à autoridade legislativa ou executiva, de que tenha emanado a lei ou o ato.”25

Por sua vez, a Carta outorgada na ditadura de Vargas, em 1937, impôs

severo retrocesso à instituição do Ministério Público, não fazendo referências

importantes a participação do Ministério Público no controle de constitucionalidade,

até porque este também sofreu imenso retrocesso em sua organização.

24

BONAVIDES, op. cit., p. 328. 25

Art. 91, IV: Compete ao Senado Federal: suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajam sido declarados inconstitucionais pelo Poder Judiciário.

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18

Por conseguinte, a Constituição de 1946 retomaria o curso adotado pelo

constituinte de 34, repetindo muitas de suas disposições, inclusive a argüição de

inconstitucionalidade interventiva (art. 8.º, parágrafo único: no caso do n.º VII, o ato

argüido de inconstitucionalidade será submetido pelo Procurador-Geral da República

ao exame de Supremo Tribunal Federal, e, se este a declarar, será decretada a

intervenção).

Ainda, e mais importante, a Constituição democrática de 1946, em seu art.

101, I, alínea k, estabelecia ser de competência originária do Supremo Tribunal

Federal o processo e julgamento da representação contra a inconstitucionalidade de

lei ou ato de natureza normativa, federal ou estadual, encaminhada pelo Procurador-

Geral da República (redação da alínea k dada pela Emenda Constitucional n.º 16, de

26 de novembro de 1965), criando, entre nós, o controle concentrado de

constitucionalidade.

André Ramos TAVARES explica que “O Procurador-Geral da República,

único legitimado para intentar a ação, era considerado substituto processual de toda

a coletividade, diferentemente da representação interventiva, na qual era titular a

União, figurando no pólo passivo o Estado-membro.”26

Regra semelhante foi prevista no art. 114, inciso l, da Constituição Federal

de 1967, ao estabelecer que competisse ao Supremo Tribunal Federal processar e

julgar, originariamente, a representação do Procurador-Geral da República, por

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual. Esta regra foi

repetida pela Emenda Constitucional n.º 1, de 1969.

A Emenda Constitucional n.º 7, de 1977, inovou ao acrescentar, além da

representação do Procurador-Geral da República por inconstitucionalidade, a

representação para interpretação de lei ou ato normativo federal ou estadual. Previu,

também, o pedido cautelar nas representações oferecidas pelo Procurador-Geral da

República (art. 119, incisos l e p).

26

TAVARES, op. cit., p 245.

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19

Em 1988, é promulgada a Constituição hoje vigente, destacando o art. 127,

caput, o qual estabelece que: “O Ministério Público é instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem

jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Quanto à participação atual do Ministério Público no controle de constitucionalidade,

remetemos ao item 3, infra.

Page 31: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

20

2 CAPÍTULO – O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL

2.1 Sistemas de controle de constitucionalidade: político e judicial

As Constituições rígidas, é sabido, demandam um processo especial de

reforma. Disso resulta que as normas constitucionais gozam de superioridade em

relação às leis ordinárias. A conseqüência dessa hierarquia é que a Constituição

passa a ocupar a posição de lei das leis.

Por outro lado, o órgão legislativo, ao derivar da Constituição sua

competência, não pode obviamente introduzir no sistema jurídico leis contrárias às

disposições constitucionais.27 Até aqui, não há qualquer problema.

As dificuldades surgem quando se trata de definir quais os meios e,

principalmente, qual o órgão responsável para expelir do ordenamento as leis ditas

inconstitucionais, vale dizer, qual o órgão responsável pelo controle de

constitucionalidade. Daí, as duas formas básicas, os dois sistemas de controle de

constitucionalidade: o político e o judicial.

Alguns sistemas constitucionais, reconhecendo que o controle de

constitucionalidade das leis tem efeitos políticos e confere ao órgão que o exerce

uma posição de prevalência no Estado, remetem o controle de constitucionalidade a

um corpo político, normalmente distinto dos Poderes Legislativo, Executivo e

Judiciário.

Paulo BONAVIDES esclarece que “Esse órgão pode ser uma assembléia

como um conselho ou comitê constitucional. O país onde tal controle primeiro

floresceu foi a França, que o viu nascer da obra de um dos principais legisladores da

Revolução Francesa: o jurista Sieyès.”.28

A finalidade primordial do controle político é assegurar a repartição

27

BONAVIDES, op. cit. p. 297. 28

Ibidem, p.299.

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21

constitucional das competências (controle eminentemente formal, portanto29),

evitando o nascimento de uma lei inconstitucional, relegando a segundo plano a

proteção direta das liberdades individuais.

A segunda técnica de controle de constitucionalidade da lei é aquela em que

referido controle fica entregue a um órgão jurisdicional. Surge aqui, com efeito, um

grave problema teórico, pois o juiz passaria a ter uma posição eminentemente

política e, com isso, graves objeções relativas à preservação dos princípios básicos

de separação e igualdade entre os poderes.

Paulo BONAVIDES, entretanto, tempera a preocupação estampada

afirmando que:

Não há dúvida de que exercido no interesse dos cidadãos, o controle jurisdicional se compadece melhor com a natureza das Constituições rígidas e sobretudo com o centro de sua inspiração primordial – a garantia da liberdade humana, a guarda e proteção de alguns valores liberais que as sociedades livres reputam inabdicáveis. A introdução do sobredito controle no ordenamento jurídico é coluna de sustentação do Estado de direito, onde se alicerça sobre o formalismo hierárquico das leis.

30

Logo, historicamente, é possível identificar, ao menos, três modelos

clássicos de controle de constitucionalidade: o modelo francês, o modelo norte-

americano e o modelo austríaco.

O modelo francês, como já citado, prevê um controle de constitucionalidade

preventivo a ser realizado pelo Conselho Constitucional, que, durante o processo

legislativo, poderá, desde que provocado pelo Governo, ou pelo presidente de

qualquer uma das Casas legislativas, analisar a constitucionalidade de uma

proposição ou emenda, antes de sua promulgação. Há, também, uma forma de

controle repressivo, podendo o Conselho analisar abstratamente a repartição

constitucional de competências entre o Governo e o Parlamento.

29

Importante ter em mente que das duas categorias distintas de controle, formal e material, advém uma explicação para a preferência eventualmente concedida a cada uma das formas básicas de controle de constitucionalidade: o controle por um órgão político ou jurisdicional. O controle formal é estritamente jurídico, destinado a examinar se as leis foram elaboradas de conformidade com a Constituição, se houve a observância das formas estabelecidas, da repartição de competências; já o controle material tem um elevado teor de politicidade, pois incide sobre o conteúdo da norma.

30 Ibidem, p. 301.

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22

Jorge MIRANDA denomina esse modelo de

o modelo de fiscalização política, que, algo impropriamente, pode denominar-se francês (por remontar à „juria constitucional‟ de Sieyès e ao Senado Conservador napoleônico e hoje se traduzir no Conselho Constitucional da Constituição de 1958 e que pode também entender-se ser o que prevalece, de harmonia com uma concepção jurídica diversa, nas Constituições marxistas-lenistas, excepto na Jugoslávia) – ou de fiscalização por órgão político, ainda quando adopta processo jurisdicionalizado, e fiscalização necessariamente concentrada, seja preventiva ou a posteriori.

31

A Constituição de 1958, da França, estabelece, em seu art. 62, que “as

decisões do Conselho Constitucional não são suscetíveis de recurso” e “se impõem

a todos os poderes públicos e a todas as autoridades administrativas e

jurisdicionais”.32

O modelo norte-americano ficou consagrado pelo célebre caso Marbury

versus Madison, de 1803, em que o relator do caso, John MARSHALL, Chief Justice

da Suprema Corte, afirmou a supremacia jurisdicional sobre todos os atos dos

poderes constituídos, inclusive sobre o Congresso dos Estados Unidos da América,

permitindo-se ao Poder Judiciário, mediante casos concretos postos em julgamento,

interpretar a Constituição, adequando e compatibilizando os demais atos normativos

às suas superiores normas.

Já o modelo austríaco nasceu em 1920, quando a Constituição deste Estado

criou, de forma inédita, um Tribunal Constitucional com exclusividade para o

exercício do controle judicial de constitucionalidade das leis e atos normativos, em

oposição ao sistema adotado pelos Estados Unidos, pois não se pretendia a

resolução dos casos concretos, mas a anulação genérica da lei ou ato normativo

incompatível com as normas constitucionais.33

Interesse observar que, após o período nazista, onde se constatou uma

verdadeira crise na democracia representativa, com o distanciamento entre a

vontade popular e as emanações dos órgãos legislativos, a idéia de um Tribunal

31

MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. 2.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1988. t.2. p. 320.

32 BONAVIDES, op. cit., p. 300.

33 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1985. p. 288

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23

Constitucional cria corpo, adotando, com variantes importantes, o sistema

kelseniano.

Otto BACHOF chega a afirmar que

o facto de haver sido justamente um acto do legislativo – a chamada lei de autorização – que desarticulou (aus den Angeln gehoben hat) definitivamente, e sob uma aparência de preservação da legalidade, a Constituição da República de Weimar pode ter contribuído para dotar o Tribunal Constitucional Federal, como guarda da Constituição, de poderes extraordinariamente amplos precisamente em face do legislador.

34

Assim, o controle exercido pelos Tribunais Constitucionais, longe de

configurar um desrespeito à vontade popular emanada por órgãos eleitos, seja no

Executivo ou Legislativo, constitui um sistema de complementaridade entre

Democracia e o Estado de Direito. Vale dizer, nem tudo o que o povo quer o povo

pode (princípio da legalidade).

2.2 O controle judicial de constitucionalidade no Brasil: difuso e concentrado

O controle jurisdicional da constitucionalidade das leis consagra duas formas

básicas: o controle difuso e o controle concentrado.

O controle por via da exceção, ou também chamado controle concreto,

ocorre quando, no curso de um processo judicial, uma das partes levanta, em defesa

da sua causa, a objeção de inconstitucionalidade da lei que se lhe quer aplicar.

Ocorre que o julgamento só se estende às partes em juízo, vale dizer, a

sentença que liquida a controvérsia constitucional não leva à anulação da lei, mas

tão-somente à sua não aplicação ao caso particular, objeto da lide.

Rui BARBOSA, sobre esse efeito subjetivo inter partes do controle difuso,

comenta que

O ato criminado subsiste no corpo geral das leis ou dos decretos, enquanto o poder competente o não desfizer (...). Essa função, pois, não obra senão caso a caso, a favor dos

34

BACHOF. Otto. Normas constitucionais inconstitucionais? Coimbra: Almedina, 1994. p. 12.

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24

que reivindicarem a imunidade constitucional, não atuando para a série das espécies afins, senão moralmente, pelo prestígio do julgado, pela concludência de seus fundamentos, pela paridade das suas conclusões.

35

Ou seja, a lei que ofende a Constituição não desaparece da ordem jurídica,

podendo ser aplicada em outra demanda, a menos que o poder competente a

revogue. Logo, o julgado não ataca a lei em tese ou in abstracto. É o chamado

controle por via incidental.

Carlos CERETTI, citado por Paulo BONAVIDES, esclarece o que seja via

incidental no sistema jurídico italiano: “Diz-se por via incidental porque constitui

incidente do julgamento principal que se desenvolve perante uma autoridade

jurisdicional, ordinária ou administrativa, civil ou penal, constituída por órgãos

judiciários ordinários ou por seções especializadas ou também, até que continue a

existir, por alguns juízes especiais”.36

José Afonso da SILVA, no mesmo sentido, afirma que “a argüição da

inconstitucionalidade é questão prejudicial e gera um procedimento incidenter

tantum, que busca a simples verificação da existência ou não do vício alegado. E a

sentença é declaratória. Faz coisa julgada no caso e entre as partes.”37

A crítica, contudo, reside no fato de que pode o juiz recusar a defesa

adotando tese exatamente oposta àquela que prevaleceu outrora. A segurança

jurídica, assim, estaria ameaçada, pois “no sistema brasileiro, qualquer que seja o

tribunal que a proferiu, não faz ela coisa julgada em relação à lei declarada

inconstitucional, porque qualquer tribunal ou juiz, em princípio, poderá aplicá-la por

entendê-la constitucional, enquanto o Senado Federal, por resolução, não

suspender sua executoriedade”.38

Ocorre que, nos sistemas clássicos de controle de constitucionalidade

35

BARBOSA, Rui. A Constituição e os Atos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal. 2.ed. Rio de Janeiro: Flores & Mano. p. 121.

36 BONAVIDES, op. cit., p. 303.

37 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 30. ed. São Paulo:

Malheiros, 2008. p. 53-4. 38

Ibidem, p. 54.

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25

difuso, esse perigo restaria afastado quando a declaração é feita por um aresto da

Corte Suprema, como no caso norte-americano, e mesmo no Brasil, mais

precisamente após a Emenda Constitucional n.º 45/04 (que criou a súmula com

efeitos vinculantes). Nestes casos, é provável que nenhum ou poucos juízes ou

tribunais se pronunciassem contrariamente ao que decidido pelo Supremo Tribunal.

No sistema de controle por via de ação, igualmente chamado de controle

abstrato, o controle da norma é feito, como a própria nomenclatura sugere, in

abstracto, por meio de uma ação de inconstitucionalidade prevista formalmente no

texto constitucional, consistindo, portanto, num controle direto.

Por esse sistema, uma lei é impugnada perante determinado tribunal (no

caso brasileiro, perante o Supremo Tribunal Federal se a contrariedade de atos

normativos federais e estaduais tiver como paradigma a Constituição Federal) e

poderá perder sua validade, com efeitos erga omnes (em relação a todos, contra

todos).

José Afonso da SILVA ensina que “Essa ação, como vimos, tem por objeto a

própria questão de constitucionalidade. Portanto, qualquer decisão, que decrete a

inconstitucionalidade, deverá ter eficácia erga omnes (genérica) e obrigatória”.39

Aliás, sobre esses efeitos subjetivos, a Emenda Constitucional n.º 3/93,

ratificada pela Emenda Constitucional n.º 45/04, foi clara ao prevê-los

expressamente40, em seu art. 102, § 2.º, in verbis: “As decisões definitivas de mérito,

proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de

inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão

eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do

Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,

estadual e municipal”. Os destaques são nossos.

39

Idem. 40

A Constituição, em sua redação originária, não havia previsto expressamente os efeitos erga omnes da ação direta de inconstitucionalidade.

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26

Paulo BONAVIDES esclarece que: “Uma vez declarada inconstitucional, a lei

é removida da ordem jurídica com a qual se apresenta incompatível. O órgão

competente para julgar essa ação tanto poderá ser um tribunal ordinário como uma

corte especial, a exemplo dos chamados tribunais constitucionais, dotados para esse

fim de jurisdição específica.” 41

Quanto ao efeito vinculante, a sentença em ação direta de

inconstitucionalidade faz coisa julgada material, vinculando as autoridades

aplicadoras da lei, que não poderão mais dar-lhe execução sob pena de afrontar a

eficácia da coisa julgada.

O problema desse sistema, contudo, reside na restrição imposta aos

legitimados a propor essas ações diretas. Vale dizer, em alguns sistemas

constitucionais, como no caso brasileiro, o controle abstrato fica reservado apenas a

algumas autoridades públicas, não se abrindo aos cidadãos, de modo individual.

Com efeito, em tese, o controle por via da ação não pareceria ser o melhor para

resguardar direitos individuais, os quais encontrariam maior proteção no controle por

via da exceção.

Sobre este tema, Paulo BONAVIDES entende que

O controle por via de ação toma nesse caso um sentido de controle formal de constitucionalidade, voltado sobretudo para resolver conflitos entre os poderes públicos. Desde então relega-se a segundo plano a defesa do conteúdo da ordem constitucional, dos direitos e garantias dos cidadãos, que a sobredita técnica nem sempre resguarda em toda a amplitude, talvez pelo preconceito antidemocrático de não consentir ao cidadão a possibilidade de desfazer por sua iniciativa mesma aquilo que foi obra do legislador.

42

Disso tudo, resulta a importância em identificar a participação do Ministério

Público no controle de constitucionalidade e sua real efetivação de defensor da

ordem jurídica.

Em resumo, pela atual Constituição brasileira, temos a possibilidade de

controle de constitucionalidade por ação ou por omissão e este controle, em regra,

41

BONAVIDES, op. cit., p. 307-8. 42

Ibidem, p. 308.

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27

se dá via jurisdicional, combinando os critérios difuso e concentrado, este de

competência originária do Supremo Tribunal Federal.

2.3 O atual controle de constitucionalidade no plano federal

A atual Carta de 1988, como já dito alhures, em tema de controle difuso,

originariamente, pouco inovou, estabelecendo que

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: (...) b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.

Já a Emenda Constitucional n.º 45, de 8 de dezembro de 2004, praticamente

revolucionou o sistema de controle difuso, criando o instituto da repercussão geral43

do recurso extraordinário, tornado, cada vez mais, o Supremo Tribunal, de fato, um

Tribunal constitucional, e a súmula com efeitos vinculantes44.

No que toca ao controle concentrado de constitucionalidade, a Constituição

de 1988 representou um novo marco histórico. Se a Constituição de 1934 abriu as

portas para o alargamento material do controle abstrato de constitucionalidade, a

43

Art. 102, § 3º, da CF/88: No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

44 Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante

decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.

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28

atual Carta de 88 não só criou novas ações como alargou consideravelmente os

legitimados a propô-las, retirando a exclusividade do Procurador-Geral da República.

Agora, além do Procurador-Geral, podem propor ações diretas de

inconstitucionalidade perante o STF o Presidente da República, a Mesa do Senado

Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa de Assembléia Legislativa ou

da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do Distrito

Federal, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o partido político

com representação no Congresso Nacional e a confederação sindical ou a entidade

de classe de âmbito nacional. “Pena não ter incluído o cidadão”.45

“Com isso satisfez o constituinte apenas parcialmente a exigência daqueles

que solicitavam fosse assegurado o direito de propositura da ação a um grupo de,

v.g., dez mil cidadãos ou que defendiam até mesmo a introdução de uma ação

popular de inconstitucionalidade”, ressaltou o, hoje Ministro e Presidente do

Supremo Tribunal Federal, Gilmar Ferreira MENDES.46

Interessante notar, também, a evolução dos institutos na atual Carta.

Originariamente, a Constituição estabelecia que:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual;

Mas a Emenda Constitucional nº 3, de 17 de março de 1993, criou a ação

declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.

Além disso, a Constituição de 1988 já havia previsto que declarada a

inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma

constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das

providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em

45

SILVA, Curso..., p. 51. 46

MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na Alemanha. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 78.

Page 40: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

29

trinta dias, criando, assim, a chamada ação direta de inconstitucionalidade por

omissão.

Sobre esta nova ação, Paulo BONAVIDES ensina que

Esse novo instrumento, provavelmente de inspiração constitucional portuguesa, se dirige sem dúvida aos comportamentos omissivos do legislador como uma garantia destinada a resolver o problema de eficácia das normas constitucionais programáticas, principalmente em matéria de direitos sociais. O silêncio legislativo ulterior em muitos preceitos que demandam ação complementar ou regulamentadora do dispositivo constitucional tolheu ou invalidou alguns avanços básicos do Estado social brasileiro. Em virtude do volume e extensão da matéria programática inserida na Constituição, aquela garantia, formulada para conferir juridicidade e normatividade fática às regras constitucionais respectivas, se acaso malograr, será indubitavelmente em futuro não longínquo um fator desestabilizante da própria constitucional e do Estado social que ela buscou estabelecer e resguardar.

47

Finalmente, houve a criação da argüição de descumprimento de preceito

fundamental, decorrente da Constituição de 1988, sendo, igualmente, apreciada pelo

Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.

Assim, no controle abstrato, a Constituição reconhece duas formas de

inconstitucionalidade: a inconstitucionalidade por ação ou atuação e a

inconstitucionalidade por omissão.

A inconstitucionalidade por ação ocorre quando há produção de atos

legislativos ou administrativos contrários às normas ou princípios da Constituição.

Essa incompatibilidade pode se apresentar sob dois aspectos: formal e material.48

A incompatibilidade formal ocorre quando tais normas são formadas por

autoridades incompetentes ou em desacordo com as formalidades legais, cujo

exemplo mais comum é o vício de iniciativa no processo legislativo

(exemplificativamente, quando um deputado federal propõe um projeto de lei para

aumento de remuneração de servidor público estranho à estrutura da Câmara dos

Deputados).

47

BONAVIDES, op. cit., p. 332-333. 48

SILVA, Curso..., p. 47.

Page 41: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

30

A incompatibilidade material, por sua vez, se manifesta quando o conteúdo

de tais leis ou atos contraria preceito ou princípio da Constituição. Imaginemos, por

exemplo, uma lei que resolva instituir a pena de morte no Brasil, além do caso já

constitucionalmente previsto (guerra externa declarada).

Quanto à inconstitucionalidade por omissão, esta se verifica quando não são

praticados atos legislativos ou administrativos requeridos para tornar plenamente

aplicáveis normas constitucionais.49 Vale dizer, quando o legislador, diante de uma

norma de eficácia limitada, queda-se inerte, impossibilitando, com isso, o exercício

do direito constitucionalmente previsto.

Mas, aqui, devemos observar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal,

conforme comenta Gilmar Ferreira MENDES

parte da idéia de que a chamada omissão legislativa envolve não só os casos em que o legislador permaneceu absolutamente inerte (omissão total), como também os casos em que cumpriu, de maneira insatisfatória ou imperfeita, a tarefa que lhe foi confiada pelo constituinte. Constituem, portanto, hipótese de omissão legislativa aqueles casos nos quais se identifica a presença de uma norma imperfeita.

50

49

Idem. 50

MENDES, op. cit., p. 249.

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31

3 CAPÍTULO – LEGITIMAÇÃO PARA O CONTROLE DE

CONSTITUCIONALIDADE

3.1 A legitimação do Ministério Público no controle difuso

Sob o aspecto do controle difuso de constitucionalidade, devemos atenção

especial a participação do Ministério Público nos procedimentos de mandado de

segurança, de ação civil pública e de ação popular.

Quanto ao mandado de segurança, embora saibamos que é possível sua

impetração contra ilegalidade51, em seu sentido amplo, a jurisprudência não o

admite contra lei em tese, entendimento este já sedimentado pelo Pretório Excelso,

a teor da sua Súmula 266, in verbis: “Não cabe mandado de segurança contra lei em

tese”.

Isso porque, veremos mais adiante, a declaração geral de

inconstitucionalidade das leis é obtida por meios especiais, como a argüição de

descumprimento de preceito fundamental e a ação direta de inconstitucionalidade.

André Ramos TAVARES, concordando com a posição do Supremo Tribunal

Federal, explica que

Realmente, a proibição sumular não significa senão a impossibilidade de utilizar o mandado de segurança como uma porta aberta para instituir o controle individual-popular da constitucionalidade em tese das leis. Portanto, há de concluir-se, validamente, que, desde que o impetrante esteja se referindo a uma situação específica e concreta, sua ou daquele a quem veio representar ou substituir judicialmente, não há violação da diretriz contida na Súmula do Supremo Tribunal Federal, que, assim compreendida, está posta em plena consonância com os ditames constitucionais.

52

Entretanto, é possível o uso do mandado de segurança, a par dos

mecanismos próprios para o controle concentrado, quando a lei,

51

Art. 5º, LXIX, da CF/88: conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

52 TAVARES, op. cit., p. 642.

Page 43: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

32

exemplificativamente, venha a afetar um direito claro de qualquer pessoa. Neste

caso, o mandado de segurança pode ser concedido contra o efeito atuante da lei

inconstitucional, não contra a lei em si.53

O Ministério Público, por sua vez, foi incumbido, pela Lei n.º 1.533/5154, de

oficiar em todos os mandados de segurança, tratando-se de uma inovação

legislativa, sendo a sua falta causa de anulação do feito.

Não bastasse esta posição como custos legis, a Lei Complementar n.º 75/93

(que dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da

União) estabeleceu, em seu art. 6º, inciso VI, competir ao Ministério Público da

União impetrar habeas corpus e mandado de segurança, funcionando, também,

como parte no processo.

Pena que a Constituição de 1988 não inovou um pouco mais, permitindo a

participação do Ministério Público, como legitimado ativo, nos procedimentos de

mandado de segurança coletivo55.

No que se refere à ação civil pública, a Lei 7.347/85 trouxe, entre outros

legitimados56, o Ministério Público. Esta ação visa responsabilizar os causadores de

danos morais e patrimoniais ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de

valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, à ordem urbanística, por

infração da ordem econômica e da economia popular e aos outros interesses difusos

e coletivos (art. 129, III, da CF/88).

53

Ibidem, p. 627. 54

Art. 10 - Findo o prazo a que se refere o item I do art. 7º e ouvido o representante do Ministério Público dentro em cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz, independente de solicitação da parte, para a decisão, a qual deverá ser proferida em cinco dias, tenham sido ou não prestadas as informações pela autoridade coatora.

55 A Constituição apenas previu, como legitimados a propor o mandado de segurança

coletivo, as seguintes pessoas jurídicas: a) partido político com representação no Congresso Nacional; e b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados (art. 5º. LXX).

56 Além do Ministério Público, temos a União, Estados, Distrito Federal, Municípios,

autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista e associação que esteja constituída há pelo menos um ano e inclua entre suas finalidades institucionais a proteção aos bens jurídicos tutelados.

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33

Coube ao Código de Defesa do Consumidor definir os direitos coletivos,

difusos e individuais homogêneos, em seu art. 81, parágrafo único:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

A lei, entretanto, expressamente prevê que não será cabível ação civil

pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições

previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos

de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente

determinados (então, neste caso, caberá quando for direito difuso).

O Ministério Público, para além de legitimado a propor a ação civil pública,

também tem a função de custos legis, pois a lei de regência determina que “O

Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente

como fiscal da lei” (art. 5º, §1º), além do que, em caso de desistência infundada ou

abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro

legitimado assumirá a titularidade ativa.

Importante questão é sobre a sentença proferida em sede de ação civil

pública. É sabido que a referida sentença fará coisa julgada erga omnes, nos limites

da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado

improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado

poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (há

muita divergência sobre essa disposição, pois houve nítida confusão do legislador

entre os institutos da coisa julgada e da competência territorial; o art. 93, do CDC

fala em danos de âmbito local, regional e nacional que, s.m.j., deve ser a lógica

adotada para a abrangência da decisão).

Certo é, porém, que nada impede o controle difuso de constitucionalidade

Page 45: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

34

em sede de ação civil pública. O que não se permite é a utilização desta ação como

sucedâneo da ação direta de inconstitucionalidade. Daí, o que se veda é a obtenção

de efeitos erga omnes nas declarações de inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo em sede de ação civil pública.

Neste ponto, Hugo Nigro MAZZILLI explica que

A jurisprudência tem recusado o uso da ação civil pública ou coletiva destinada a atacar leis em tese. A razão desse entendimento é que, se elas pudessem ter esse objeto, tornar-se-iam indevidos sucedâneos da ação direta de inconstitucionalidade ou da ação interventiva, que são privativas dos tribunais, enquanto as ações de caráter coletivo são processadas originariamente junto aos juízos de primeiro grau. Ora, pelo sistema constitucional em vigor, somente por meio de ação direta de inconstitucionalidade ou ação interventiva é que os tribunais podem retirar erga omnes a eficácia das leis; aos juízes singulares só se admite proclamar a inconstitucionalidade de leis ou atos normativos com imutabilidade inter partes, de maneira que não se podem valer dos processos coletivos para suprimir a eficácia de uma norma legal abstrata para toda a sociedade.

57

Quanto à ação popular, sabemos que qualquer cidadão é parte legítima

para propô-la, visando anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que

o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio

histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas

judiciais e do ônus da sucumbência (art. 5º, LXXIII, da CF/88).

Logo, num primeiro momento, o Ministério Público não detém legitimidade

ativa para a propositura da referida ação, mesmo porque “a ação popular é um dos

instrumentos de participação política do cidadão na gestão governamental”58 e, “não

obstante se tratar de uma forma de participação indireta, nem por isso poder-se-á

afirmar tratar-se de uma participação secundária”.59

Há quem sustente, inclusive, como o mestre José Afonso da SILVA, que a

ação popular é uma forma de participação direta do povo na vida política do Estado,

um instituto da democracia direta, tal qual a iniciativa popular, o referendo e o

57

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 16. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 123.

58 TAVARES, op. cit., p. 679.

59 Ibidem, p. 680.

Page 46: FEMPAR FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO …

35

plebiscito.60

Mas a lei 4.717/65 (que regula a ação popular), em seu art. 6º, § 4º,

determina que o Ministério Público atue como custos legis: “O Ministério Público

acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a

responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em

qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores”.

Além disso, conquanto o Ministério Público não possa inaugurar o

procedimento da ação popular, importante função lhe é reservada pela lei de

regência. Estabelece a referida norma, em seu art. 9º, que “Se o autor desistir da

ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e

condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem

como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias

da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.”

André Ramos TAVARES, comentando este dispositivo, esclarece que “o

Ministério Público só pode assumir a ação no caso de desistência do autor popular,

e desde que seja do interesse público”.61

Ou seja, na ação popular, a participação do Ministério Público é igualmente

importante, mormente quando aqui, tal qual no procedimento de mandado de

segurança e da ação civil pública, há a possibilidade de realização do controle de

constitucionalidade incidental.

Questão importante, a saber, é sobre a possibilidade de controle de

constitucionalidade de lei em tese, via ação popular.

José Afonso da SILVA entende que, desde que o ato, ainda que legislativo e

dotado da generalidade própria das leis, gere lesão ao patrimônio público, é possível

a impetração do remédio popular.

60

SILVA, Curso..., p. 462. 61

TAVARES, op. cit., p. 703.

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36

A tese é, portanto, no sentido de que, pela ação popular, podem ser atacados leis e atos padecentes do vício de inconstitucionalidade, desde que concomitantemente lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público, ou ao patrimônio de entidades outras em que interesses da coletividade, sob qualquer forma, se façam presentes. Nesse particular, o remédio poderia e poderá ser rico de perspectivas, com características marcantes de ação direta de inconstitucionalidade. O autor popular não impugnará a constitucionalidade da lei ou do ato por via de exceção, num processo em que seja interessado pessoal, mas diretamente, e legitimamente.

62

André Ramos TAVARES, contudo, esclarece que o Supremo Tribunal

Federal já se manifestou no sentido de que a ação declaratória de

inconstitucionalidade não é sucedâneo da ação popular constitucional.63

Em todas essas ações citadas, percebe-se a possibilidade real do Ministério

Público cumprir seu papel institucional de defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, zelando pelo efetivo

respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos

assegurados na Constituição.

3.2 A legitimação do Ministério Público no controle concentrado

No controle concentrado de constitucionalidade, no plano federal, assume

importância a participação do Ministério Público na ação direta de

inconstitucionalidade, na ação declaratória de constitucionalidade e na ação por

descumprimento de preceito fundamental.

Não é demasiado destacar “a tendência que, a partir de 1.988, manifesta-se

no Direito brasileiro no sentido de intensificar o controle concentrado da

constitucionalidade, sem prejuízo do método difuso”64. Tem-se, com isso, que o

papel dos legitimados a propor ações do controle concentrado se destaca e se

intensifica igualmente, mormente quando é sabido que o Supremo Tribunal Federal,

nestes casos, está impedido de agir de ofício.

62

SILVA, José Afonso da. Ação popular constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968. p.125-7

63 TAVARES, op. cit., p. 709.

64 Ibidem, p. 250.

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37

André Ramos TAVARES ensina que “Os legitimados são considerados

representantes da sociedade para deflagrar perante o órgão competente para

proteger a Constituição o processo de fiscalização da regularidade normativa do

sistema. Os legitimados não são partes, processualmente falando.” 65

No que tange a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de

constitucionalidade, a Constituição de 1988 estabeleceu que:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (...) VI - o Procurador-Geral da República;

A ação direta de inconstitucionalidade, na realidade, foi introduzida no

ordenamento jurídico brasileiro em 1965, com a Emenda Constitucional n.º 16.

O pedido, no caso da ação direta, “será a declaração de

inconstitucionalidade. O sentido mediato é a preservação da ordem jurídico-

constitucional com a restituição ao estado de coisas anterior. É a desconstituição do

ato impugnado”.66

E os atos impugnados, conforme dispõe o art. 102, I, alínea a, da CF/88, são

leis ou atos normativos federais ou estaduais, não se admitindo o controle

concentrado, em face da Constituição Federal, de atos administrativos, decretos e

leis ou atos normativos municipais, ou mesmo de leis ou atos normativos anteriores

à Constituição, por se tratar, nestas hipóteses, de não-recepção.

Alguns legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade precisam

demonstrar a pertinência temática. A pertinência temática refere-se “à necessidade

de demonstração, por alguns legitimados, como as entidades de classe e as

confederações sindicais, de que o objeto da instituição guarda relação (pertinência)

65

Ibidem, p. 275. 66

Ibidem, p. 263.

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38

com o pedido da ação direta proposta por referida entidade”.67 O Procurador-Geral

da República, no entanto, é legitimado universal, vale dizer, não precisa demonstrar

a relação com o pedido feito em ação direta.

Interessante observar, também, que mesmo nas ações propostas pelo

Procurador-Geral, deverá este se pronunciar, posteriormente, conforme

determinação do art. 8º, da Lei 9.868/99 (que dispõe sobre o processo e julgamento

da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade

perante o Supremo Tribunal Federal), in verbis: “Decorrido o prazo das informações,

serão ouvidos, sucessivamente, o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral

da República, que deverão manifestar-se, cada qual, no prazo de quinze dias.”

Neste mister, aliás, o Procurador-Geral poderá se pronunciar contrariamente ao

pedido que ele mesmo propôs.

Isso porque, o próprio Regimento Interno68 do Supremo Tribunal Federal

admite como legítimo ao Procurador-Geral da República propor a representação de

inconstitucionalidade, podendo, no parecer definitivo, manifestar-se pela sua

improcedência.

Gilmar Ferreira MENDES, sobre este tema, esclarece que

Em relação ao Procurador-Geral da República não tem o Supremo Tribunal Federal, mesmo após o advento da Constituição de 1988, exigido que ele sustente, inequivocadamente, a inconstitucionalidade da norma, afigurando-se suficiente que indique ser relevante o fundamento jurídico do requerimento que lhe foi endereçado por diferentes entidades, organizações ou pessoas. Assim, não raras vezes, submete o Procurador-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal ações diretas de inconstitucionalidade que lhe foram requeridas por terceiros, manifestando-se, no parecer definitivo, pela improcedência da argüição.

69

Mas é o próprio Gilmar Ferreira MENDES que propõe uma revisão na

67

Ibidem, p. 265. Inclui-se, nesta lista, a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal e o Governador de Estado ou do Distrito Federal.

68 Art. 169. O Procurador-Geral da República poderá submeter ao Tribunal, mediante

representação, o exame de lei ou ato normativo federal ou estadual, para que seja declarada a sua inconstitucionalidade.

§ 1° Proposta a representação, não se admitirá desistência, ainda que afinal o Procurador-Geral se manifeste pela sua improcedência.

69 MENDES, op. cit. p. 123.

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39

posição acima, entendendo que “Com o advento da Constituição de 1988 e, mais

precisamente, a consagração expressa da ação declaratória de constitucionalidade

(Emenda n.3, 1992) certamente estão a impor novas reflexões sobre o tema, não

mais parecendo legítimo que o Procurador-Geral da República se valha da fórmula

ambígua utilizada”.70

Em relação ao quantitativo de ações diretas de inconstitucionalidade, desde

1988 até o mês de setembro de 2008, chegaram ao STF 4.152 ações diretas de

inconstitucionalidade. Nesses 20 anos, 659 ações foram julgadas procedentes

(15,9%), mas a maioria delas, 1.726 (41,6%), foi arquivada. As demais aguardam

julgamento. Entre as mais importantes, temos a que julgou a constitucionalidade da

cobrança de contribuição social sobre os inativos e a que declarou a

constitucionalidade da lei que liberou as pesquisas com células-tronco embrionárias,

esta última proposta pelo Procurador-Geral da República.71

Entre os legitimados para ajuizar essas ações, os governadores de Estados

e do Distrito Federal estão entre os que mais utilizam o instrumento, com 1.051

ações até setembro de 2008. Em segundo lugar, estão as confederações sindicais e

as entidades de classe de âmbito nacional, com 901, e, em terceiro, o Procurador-

Geral da República, com 894 ações. Entretanto, se levarmos em conta que são 27

Governadores e centenas de confederações e entidades de classe, o Procurador-

Geral da República é o que mais promove, isoladamente, ações diretas de

inconstitucionalidade.72

Quanto à ação declaratória de constitucionalidade, esta foi introduzida no

direito brasileiro por meio da Emenda Constitucional nº 3/93 à Constituição Federal

de 1988, criando um novo mecanismo de controle concentrado de

constitucionalidade dos atos normativos. Da mesma forma que na ação direta de

inconstitucionalidade, entre outros legitimados, aparece o Procurador-Geral da

República.

70

Ibidem, p. 125. 71

<http://www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=97168&caixaBusca=N > Acesso em: 27 out. 2008.

72 Idem.

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40

A ação declaratória tem como objetivo a confirmação da constitucionalidade

de determinada lei ou ato normativo federal (art. 102, I, a, da CF/88) cuja

legitimidade esteja sendo questionada. Neste sentido, transforma o princípio da

presunção relativa de constitucionalidade das leis em presunção absoluta.

André Ramos TAVARES comenta que “a ação declaratória presta-se à

eliminação, em definitivo, do estado de incerteza gerado pela discussão jurídica da

lei, seja no Judiciário, seja no Executivo”.73

Por ocasião da primeira ação de constitucionalidade, o Procurador-Geral da

República, em seu parecer,

ressalta a importância do papel de correção de situações de incerteza suscetíveis de desencadear conflitos e afetar a tranqüilidade geral da sociedade a que a ação declaratória de constitucionalidade se presta, retomando o posicionamento doutrinário de que o objetivo da tutela constitucional do controle concentrado, do qual a A.D.C. é espécie, é a segurança e certeza jurídica.

74

Além disso, a ação declaratória de constitucionalidade somente pode ser

proposta se o autor indicar, na petição inicial, a existência de controvérsia judicial

relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória (art. 14, III, da

Lei 9.868/99).

Aqui, igual ao que acontece na ação direta de inconstitucionalidade, o

Procurador-Geral da República é legitimado universal. Além disso, há, tal qual na

ação de inconstitucionalidade, a peculiaridade de que mesmo sendo o autor da ação

deverá oferecer, em virtude de expresso mandamento constitucional75, parecer em

todas as ações declaratórias.76

73

MENDES, op. cit., p. 272. 74

Ibidem, p. 273. 75

Art. 103, § 1º, da CF/88: O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.

76 No mesmo sentido, o art. 19, da Lei 9.898/99, ao disciplinar a participação do Procurador-

Geral na ação declaratória de constitucionalidade, dispõe que: Decorrido o prazo do artigo anterior, será aberta vista ao Procurador-Geral da República, que deverá pronunciar-se no prazo de quinze dias.

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41

O Procurador-Geral da República, portanto, é o único do rol dos legitimados

que além de deter legitimidade ativa ad causam deve funcionar como custos legis.

Renata Porto ADRI diz que

enquanto legitimado ativo, exerce função sui generis, por estar apto a receber representações de inconstitucionalidades e constitucionalidades das leis e atos normativos federais, podendo ou não apresentá-los ao Supremo Tribunal Federal. Apesar disso, em qualquer hipótese de declaração favorável ou não à constitucionalidade, deverá ele sempre proferir seu parecer, por ser membro do Ministério Público e possuir função de custos legis em sentido lato.

77

Em termos quantitativos, da entrada em vigor da Emenda que criou a ação

declaratória (1993) até o mês de setembro de 2008, chegaram ao Supremo Tribunal

Federal 20 (vinte) ações declaratórias. Destas, quatro foram julgadas procedentes e

sete foram arquivadas. A de maior repercussão na sociedade foi proposta pela

Associação Nacional dos Magistrados Brasileiros (AMB) a fim de declarar a

constitucionalidade da Resolução do Conselho Nacional de Justiça que vedou o

nepotismo no Judiciário.78

Já a argüição de descumprimento de preceito fundamental é

ação ou incidente judicial, de competência originária do Supremo Tribunal Federal, que desencadeia o denominado processo objetivo, cujo fundamento é o descumprimento de preceito constitucional que consagra valores basilares para o Direito pátrio, descumprimento este perpetrado por ato de natureza estatal, quando direta a modalidade, ou por atos normativos, quando se tratar de argüição na modalidade incidental.

79

A Carta Magna apenas dispõe que: “A argüição de descumprimento de

preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo

Tribunal Federal, na forma da lei.”. A lei de regência, por sua vez, estabeleceu que

podem propor argüição de descumprimento de preceito fundamental os legitimados

para a ação direta de inconstitucionalidade (art. 2º, da Lei 9.882/99, que dispõe

sobre o processo e julgamento da argüição de descumprimento de preceito

fundamental, nos termos do § 1º do art. 102 da Constituição Federal).

77

ADRI, Renata Porto. Ação Declaratória de Constitucionalidade. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência jurídica, São Paulo, v. 7, n. 26, p. 193-209, jan./mar. 1999.

78<http://www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=97168&caixaBusca=

N > Acesso em: 27 out. 2008. 79

ADRI, op. cit., p. 258.

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42

Interessante destacar que a lei trazia, ainda no artigo 2º, inciso II, a

possibilidade de a argüição ser proposta por qualquer pessoa lesada ou ameaçada

por ato do Poder Público; neste caso ainda, facultava-se ao interessado, mediante

representação, solicitar a propositura de argüição de descumprimento de preceito

fundamental ao Procurador-Geral da República, que, examinando os fundamentos

jurídicos do pedido, decidiria do cabimento do seu ingresso em juízo. Ou seja, a

pessoa lesada ou ameaçada de lesão poderia ingressar diretamente com o pedido

ou por intermédio do Procurador-Geral da República.

Entretanto, houve veto presidencial ao inciso II, do mencionado artigo,

entendendo o Presidente da República que

A disposição insere um mecanismo de acesso direto, irrestrito e individual ao Supremo Tribunal Federal sob a alegação de descumprimento de preceito fundamental por "qualquer pessoa lesada ou ameaçada por ato do Poder Público". A admissão de um acesso individual e irrestrito é incompatível com o controle concentrado de legitimidade dos atos estatais – modalidade em que se insere o instituto regulado pelo projeto de lei sob exame. A inexistência de qualquer requisito específico a ser ostentado pelo proponente da argüição e a generalidade do objeto da impugnação fazem presumir a elevação excessiva do número de feitos a reclamar apreciação pelo Supremo Tribunal Federal, sem a correlata exigência de relevância social e consistência jurídica das argüições propostas. (...) De resto, o amplo rol de entes legitimados para a promoção do controle abstrato de normas inscrito no art. 103 da Constituição Federal assegura a veiculação e a seleção qualificada das questões constitucionais de maior relevância e consistência, atuando como verdadeiros agentes de representação social e de assistência à cidadania. Cabe igualmente ao Procurador-Geral da República, em sua função precípua de Advogado da Constituição, a formalização das questões constitucionais carentes de decisão e socialmente relevantes.

80

Observa-se nas razões do veto presidencial a importância conferida ao

Procurador-Geral da República. Aliás, se o Presidente da República achou por bem

manter o § 1º, do artigo 2º, da Lei 9.882/9981, apenas vetando a participação direta

de qualquer pessoa lesada ou ameaçada de lesão no processo de argüição, resta

clara a manutenção da possibilidade das pessoas lesadas ou ameaçadas de lesão

por ato do Poder Público representar ao Procurador-Geral a fim de solicitar o

ingresso da argüição. Cabe ao Procurador-Geral, ao examinar os fundamentos

80

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/Mensagem_Veto/1999/Mv1807-99.htm> Acesso em: 23 set. 2008.

81 Na hipótese do inciso II, faculta-se ao interessado, mediante representação, solicitar a

propositura de argüição de descumprimento de preceito fundamental ao Procurador-Geral da República, que, examinando os fundamentos jurídicos do pedido, decidirá do cabimento do seu ingresso em juízo.

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jurídicos do pedido, decidir sobre o ingresso ou não da argüição.

Portanto, apesar do art. 103, incisos I ao IX, da CF/88 enumerar, além do

Procurador-Geral da República, outros tantos legitimados, “o certo é que se

atentarmos para ao estabelecido no § 1º do referido artigo, chega-se, facilmente, à

convicção de que continua aquele como principal protagonista em qualquer das

modalidades mencionadas”.82

Até o mês de setembro deste ano, 147 ações por descumprimento de

preceito fundamental ingressaram no Supremo Tribunal, sendo duas julgadas

procedentes e outras 75 arquivadas. A mais acompanhada pela sociedade é a de

número 54, que pede a liberação da antecipação terapêutica de partos de fetos com

anencefalia.83

3.3 A legitimação do Ministério Público no controle interventivo

A intervenção federal é uma medida reservada à União, para defender,

primordialmente, a unidade federativa, assegurando a concreta articulação dos

Estados com a ordem nacional, não deixando que ultrapassem as linhas de sua

autonomia ou, ainda, há quem sustente que serve também à defesa dos direitos

individuais contra a prepotência dos poderes estaduais.84

Entre outras hipóteses taxativas previstas na atual Constituição, temos a

possibilidade de intervenção federal em face do descumprimento, pelos Estados-

membros e o Distrito Federal, dos chamados princípios constitucionais sensíveis.

Isso porque, tais entidades, no exercício de suas competências legislativas,

administrativas e tributárias, “devem respeitá-los, sob pena de ensejar atos

82

PACHECO, José da Silva. O mandado de segurança e outras ações constitucionais típicas. 3.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998. p. 427.

83<http://www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=97168&caixaBusca=N > Acesso em: 27 out. 2008.

84 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à constituição do Brasil: (promulgada em 5 de

outubro de 1988). v. 3. t. II. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 378.

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interventivos em suas respectivas autonomias”.85

Como já visto acima, foi a Constituição de 1934 que inaugurou a

possibilidade da propositura da ação interventiva, a ser proposta pelo Procurador-

Geral da República, um verdadeiro marco no campo do controle de

constitucionalidade, em especial no avanço, pelo Estado brasileiro, em direção a um

controle direto de constitucionalidade das leis e atos normativos.

Tudo isso porque, na época, com a ação interventiva, o exame de

constitucionalidade pelo Pretório Supremo já não ocorreria apenas incidentalmente,

no transcurso de uma demanda, mas por efeito de uma provocação cujo objeto era a

declaração mesma de constitucionalidade da lei que decretara a intervenção federal.

E a Constituição Federal de 1988, em seu art. 34, mantendo o referido

instrumento de controle de constitucionalidade, dispõe que:

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: (...) VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

Celso Ribeiro BASTOS, comentando o dispositivo constitucional acima

transcrito, entende que

Caso qualquer desses princípios constitucionais esteja sendo lesado por parte de algum Estado-Membro ou do Distrito Federal, cabe ao procurador-geral da República, mediante representação, pedir ao Supremo Tribunal Federal que, dando provimento à representação, requisite a decretação da intervenção ao Presidente da República. Esta ação é diferente da ação de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em tese, cuja legitimação vem enunciada no art. 103 da Constituição Federal.

86

85

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 4.ed. rev. e atual. até a Emenda Constitucional n. 35/2001. São Paulo: Saraiva, 2002. p 560.

86 BASTOS, op. cit., p. 423-424.

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45

Trata-se do que a doutrina convencionou chamar de ação direta de

inconstitucionalidade interventiva, cujas finalidades são duas: uma jurídica, visando

declarar a inconstitucionalidade formal ou material da lei ou ato normativo estadual

ou distrital; outra política, buscando a decretação da intervenção federal no Estado-

membro ou no Distrito Federal.87

A Lei 4.337, de 1.º de junho de 1964, regula a declaração de

inconstitucionalidade para os efeitos de intervenção federal nos Estados-membros

por descumprimento dos princípios constitucionais sensíveis.

Primeiramente, cabe ao relator designado ouvir, em 30 (trinta) dias, os

órgãos que hajam elaborado ou praticado o ato argüido e, findo esse termo, terá

prazo igual para apresentar o relatório, com cópia a todos os Ministros integrantes

do Supremo Tribunal Federal. Feito isso, o Presidente designará dia para que o

Tribunal Pleno decida a espécie, cientes os interessados.

Na sessão de julgamento, findo o relatório, poderão usar da palavra, na

forma do Regimento Interno do Tribunal, o Procurador-Geral da República,

sustentando a argüição, e o Procurador dos órgãos estatuais interessados,

defendendo a constitucionalidade do ato impugnado.

Quanto à possibilidade de recurso, a lei estabelece que só caibam embargos

quando, na decisão, forem 3 (três) ou mais os votos divergentes.

Uma vez procedente a ação, fica dispensada a apreciação pelo Congresso

Nacional do decreto de intervenção, devendo o decreto limitar-se a suspender a

execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da

normalidade.88

87

BULOS, op. cit., p. 561. 88

Art. 36, § 3º, da CF/88: Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.

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O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (art. 175, parágrafo

único) noticia que, em sendo procedente a ação, a comunicação será feita, logo

após a decisão, à autoridade interessada, bem como, depois do trânsito em julgado,

ao Presidente da República, para as providências acima mencionadas (suspensão

do ato impugnado).

Neste caso, a intervenção é vinculada, vale dizer, “indeclinável a expedição

do decreto de intervenção quando resultar de provimento de representação

interventiva do procurador-geral da República”.89

E, por se tratar de um mecanismo de controle de constitucionalidade

concentrado, direto, para fins concretos, fica impossibilitada a concessão de liminar,

nos termos da Lei 4.337/64, pois, em caso de urgência, só cabe a convocação

imediata do Tribunal.90

Uadi Lammêgo BULOS, por fim, discorrendo sobre o papel do Procurador-

Geral da República na ação direta de inconstitucionalidade interventiva, entende que

A atribuição do procurador-geral da República, no que diz respeito à propositura da ação direta interventiva, é discricionária (RTJ, 98:3, 48:156, 59:333 e 100:1013). De sua parte, inexiste obrigatoriedade de ajuizar ações desse teor. A uma, porque o Ministério Público é autônomo (art. 127, § 1º). A duas, pois o chefe do Parquet poderá arquivar qualquer representação que lhe tenha sido dirigida.

91

Assim, teríamos que essa representação do Procurador-Geral da República

possui a mesma natureza jurídica da ação, visto tratar-se de um poder se submeter

ao julgamento do Supremo Tribunal Federal o ato argüido de inconstitucionalidade.

89

MAZZILLI, Regime…, p. 432. 90

Art. 5º Se, ao receber os autos, ou no curso do Processo, o Ministro Relator entender que a decisão de espécie é urgente em face de relevante interesse de ordem pública, poderá requerer, com prévia ciência das partes, a imediata convocação do Tribunal, e este, sentindo-se esclarecido, poderá suprimir os prazos do artigo 3º desta lei e proferir seu pronunciamento, com as cautelas do artigo 200 da Constituição Federal. (remissão à Constituição Federal de 1946).

91 BULOS, op. cit., p. 564.

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47

4 CONCLUSÃO

Inicialmente, em relação à parte histórica do presente trabalho, concluímos

que, apesar das divergências em relação à origem do Ministério Público, é inegável

a influência da doutrina francesa na história desta Instituição, tanto que hoje a

expressão parquet é freqüentemente utilizada por nós para se referir à instituição.

Em outras palavras, independentemente do momento histórico do

surgimento desta importante instituição, certo é que as suas raízes próximas firmam-

se na vitória das idéias iluministas, consagradas na Revolução Francesa.

Junto a esta evolução histórica, percebe-se a crescente participação da

instituição do Ministério Público, não só na vida política do Estado em geral, como

também no controle de constitucionalidade no Brasil, função estatal hoje que

assume importância ímpar no cenário jurídico nacional.

Isso se extrai dessa própria evolução histórica da instituição, com crescentes

atribuições institucionais ao longo das Constituições brasileiras, firmando o Ministério

Público como uma função essencial à Justiça. Se antes, na sua origem francesa,

procurador do rei, hoje, pela atual Carta brasileira, um defensor da sociedade.

Logo, é de se verificar que desaparece a sua ligação com o Poder Executivo

e emerge um Ministério Público com independência e autonomia administrativa e

financeira, que lhe permite propor medidas que, muitas vezes, são contrárias aos

interesses dos governantes.

De 1934, quando houve a instituição da representação de

inconstitucionalidade interventiva a ser proposta pelo Procurador-Geral da

República, até a Constituição de 1988, que lhe consagrou a total autonomia e

independência, ampliando-lhe, consideravelmente, suas funções institucionais, o

Ministério Público se apresenta como o mais importante órgão do Estado em defesa

dos direitos, garantias e prerrogativas da sociedade.

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Nesse caminho percorrido, não há como desconsiderar a importância

histórica da Emenda Constitucional n.º 16, de 06 de dezembro de 1965, que alargou,

no Brasil, o controle de constitucionalidade concentrado ou abstrato, ao atribuir ao

Supremo Tribunal Federal a competência para processar e julgar originariamente a

representação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual,

apresentada pelo Procurador-Geral da República, chefe do Ministério Público da

União. Na época, o único legitimado.

Podemos encontrar aqui, sim, o início da trajetória do Ministério Público no

sentido de se consagrar como um dos maiores e mais importantes legitimados a

propor ações do controle concentrado de constitucionalidade, a par da sua, ainda

hoje, exclusividade na propositura da representação interventiva.

Atualmente, e especialmente após as inovações trazidas pela Emenda

Constitucional n.º 45, de 8 de dezembro de 2004, no plano do controle difuso (tais

como a demonstração da repercussão geral no Recurso Extraordinário e a súmula

com efeitos vinculantes), bem como o alargamento dos legitimados a proporem

ações do controle concentrado provocado pela Constituição de 1988, retirando a

exclusividade do Procurador-Geral da República, o Ministério Público continua a

exercer o seu papel de defensor da ordem jurídica.

No plano do controle difuso, o Ministério Público, seja como parte ou como

custos legis, especialmente nos procedimentos de mandado de segurança, de ação

civil pública e de ação popular, é chamado a cumprir seu papel institucional,

devendo nessas ações preservar, não só a correta aplicação da legislação

infraconstitucional, mas também dos preceitos estampados pela atual Constituição

republicana.

Concluímos, portanto, que em todas essas ações acima citadas, há a

possibilidade real de o Ministério Público cumprir seu papel institucional de defesa

da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis, zelando pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos assegurados na Constituição.

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No âmbito do controle concentrado, no plano federal, a participação do

Ministério Público na ação direta de inconstitucionalidade, na ação declaratória de

constitucionalidade e na ação por descumprimento de preceito fundamental é de

suma importância. Ressalta-se que, nestes procedimentos, a legitimação do

Procurador-Geral é universal, vale dizer, não necessita demonstrar pertinência

temática.

Ademais, a posição assumida pelo órgão nessas ações, se acolhida pela

Suprema Corte, terá o condão de produzir efeitos para todos, diferentemente do

controle difuso, em que os efeitos subjetivos ficam restritos às partes do processo.

Daí a responsabilidade daqueles que dirigem a instituição, especialmente do

Procurador-Geral da República, que deve ser alguém preocupado com as novas

aspirações sociais, principalmente no âmbito dos direitos coletivos.

E tamanha é sua independência nesses procedimentos, que se admite que o

Procurador-Geral da República proponha a representação de inconstitucionalidade

e, no parecer definitivo, manifeste-se pela sua improcedência.

Não é demasiado lembrar, ainda, que quando se fala em controle de

constitucionalidade devemos ligá-lo à idéia de Supremacia da Constituição sobre

todo o ordenamento e, também, à de rigidez constitucional e proteção aos direitos

fundamentais. E serão os legitimados, muitas vezes, que escolherão os temas a

serem discutidos pelo Supremo Tribunal, mormente quando sabemos que este não

age de ofício. Exemplificativamente, foi o Procurador-Geral da República que

resolveu levar ao Supremo Tribunal Federal a discussão sobre a pesquisa em

células-tronco embrionárias.

Daí a importância do papel a ser desempenhado pelo Procurador-Geral da

República ao propor ações do controle concentrado, visto que é considerado

representante da sociedade para deflagrar perante o órgão competente para

proteger a Constituição o processo de fiscalização da regularidade normativa do

sistema.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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