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FEMPAR - FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ CARLOS HENRIQUE ZANETTI TRIBUNAL DO JÚRI: COMPETÊNCIA, ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E RITO PROCEDIMENTAL DE ACORDO COM A LEI N. 11689/2008 CURITIBA 2008

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FEMPAR - FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

CARLOS HENRIQUE ZANETTI

TRIBUNAL DO JÚRI: COMPETÊNCIA, ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E RITO PROCEDIMENTAL DE ACORDO COM A LEI N. 11689/2008

CURITIBA 2008

CARLOS HENRIQUE ZANETTI

TRIBUNAL DO JÚRI: COMPETÊNCIA, ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E RITO PROCEDIMENTAL DE ACORDO COM A LEI N. 11689/2008

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Ministério Público – Estado Democrático de Direito, na área de concentração em Direito Processual Penal, Fundação Escola do Ministério Público do Paraná - FEMPAR, Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil. Orientador: Prof. Dr. Emerson Luiz Laurenti

CURITIBA 2008

TERMO DE APROVAÇÃO

CARLOS HENRIQUE ZANETTI

TÍTULO: TRIBUNAL DO JÚRI: COMPETÊNCIA, ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E RITO PROCEDIMENTAL DE ACORDO COM A LEI N. 11689/2008

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista

no curso de Pós-Graduação em Ministério Público - Estado Democrático de Direito,

Fundação Escola do Ministério Público do Paraná - FEMPAR, Faculdades

Integradas do Brasil – UniBrasil, examinada pelo Professor Orientador Emerson Luiz

Laurenti.

_____________________________

Prof. Dr. Emerson Luiz Laurenti

Orientador

Curitiba, ____ de ______________ de _____.

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................... 6

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 7

2 HISTÓRICO..................................................................................................... 8

2.1 PREVISÃO CONSTITUCIONAL DO JÚRI..................................................... 10

2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.................................................................. 10

2.2.1 Plenitude de defesa...................................................................................... 11

2.2.2 Sigilo nas votações ...................................................................................... 11

2.2.3 Soberania dos veredictos............................................................................. 13

3 ORGANIZAÇÃO DO JÚRI.............................................................................. 15

3.1 COMPETÊNCIA ESTADUAL E FEDERAL...................................................... 15

3.2 FIXAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE POR PREVENÇÃO E

DISTRIBUIÇÃO..................................................................................................... 15

3.3 MODIFICAÇÃO, PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO E

CONTINÊNCIA......................................................................................................16

3.4 PERPETUAÇÃO DA COMPETÊNCIA(Perpetuatio Jurisdicionis)................... 18

3.5 CARACTERÍSTICAS DO JÚRI........................................................................ 18

3.5.1 Prerrogativa de foro ..................................................................................... 20

3.5.2 O serviço do Júri é obrigatório ..................................................................... 21

3.5.3 Prerrogativas do jurados............................................................................... 22

3.5.4 Isentos do serviço do júri.............................................................................. 22

3.5.5 Alistamento dos jurados................................................................................ 23

4 RITO PROCEDIMENTAL (Lei n. 11689/2008)............................................... 25

4.1 PROCEDIMENTO ESCALONADO (BIFÁSICO)............................................. 25

4.2 PRONÚNCIA .................................................................................................. 26

4.3 DESPRONÚNCIA ........................................................................................... 30

4.4 IMPRONÚNCIA............................................................................................... 30

4.5 DESCLASSIFICAÇÃO................................................................................... 32

4.6 ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA............................................................................... 34

4.7 DESAFORAMENTO....................................................................................... 35

5. FORMAÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA............................................... 39

5.1 SESSÃO DE JULGAMENTO........................................................................... 39

5.2 INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO.......................................................................... 40

5.3 DEBATES ORAIS............................................................................................ 41

5.4 FIM DO LIBELO E DA CONTRARIEDADE..................................................... 42

5.5 QUESITOS (nova sistemática e sua concentração)....................................... 43

5.5.1 FORMULAÇÃO E LEITURA DOS QUESITOS............................................ 44

6. SENTENÇAS .................................................................................................... 47

6.1

MODALIDADES.................................................................................................... 47

6.2

CONDENATÓRIA..................................................................................................47

6.3

ABSOLVIÇÃO........................................................................................................48

6.4 DESCLASSIFICAÇÃO..................................................................................... 48

6.5 FIM DO PROTESTO POR NOVO JÚRI......................................................... 48

7 CONCLUSÃO.................................................................................................... 50

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 52

RESUMO

O Tribunal do Júri tem importante função jurisdicional porque julga crimes dolosos contra a vida sejam tentados ou consumados. Por opção legislativa sua composição se dá por 7 jurados que fazem análise fática do crime. Assim, o Tribunal do Júri é chamado na doutrina de “Tribunal de Leigos”. Isso porque é composto por pessoas do povo que, uma vez conclamadas, têm o dever legal de se manifestarem quanto ao juízo de fato do crime, decidindo pela absolvição ou culpa do acusado. Exatamente por esses aspectos o legislador cuidou de manter a instituição do Tribunal do Júri como cláusula pétrea estabelecendo como princípios a plenitude de defesa; o sigilo das votações; e a soberania dos veredictos. Assim é que o objetivo principal deste estudo é analisar as circunstâncias que estão envoltas à reforma do Código de Processo Penal, em especial na parte do Tribunal do Júri e seus desdobramentos.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é a apresentação em sua extensão dos

aspectos envoltos ao rito especial do Tribunal do Júri, abordando sua composição

competência e rito procedimental de acordo com a Lei n. 11689/2008.

Para tanto, dividiu-se a argumentação em duas partes distintas ao longo

de dois capítulos cada. A primeira parte destinou-se a demonstrar numa

conceituação introdutória as características de organização e a evolução histórica

do Tribunal do Júri no Brasil.

Já a segunda parte cuidou de descrever amiúde todo o procedimento

escalonado em duas fases culminando com a conclusão do veredicto pelo

Conselho de Sentença.

Com a sanção da Lei n. 11689/2008, de 9 junho de 2008, ainda restam

muitas dúvidas por parte dos doutrinadores quanto ao procedimento especial do

júri. É de se constar que ao pesquisar sobre o tema percebeu-se que a intenção

do legislador da reforma é clara, ou seja, buscou corrigir falhas e garantir a

celeridade, simplicidade e segurança aos atos e processos de competência penal.

Parece este é o anseio dos Poderes Legislativo e Judiciário em atender às

demandas crescentes de uma sociedade cada vez mais em conflito, em

atendimento ao preceito estatuído na Constituição Federal em seu art. 5º, inciso

LXXVIII, de garantir: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são

assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a

celeridade de sua tramitação”.

Por fim, vale dizer que durante toda a discussão teórica, houve sempre

uma preocupação presente no sentido de interpretar sistematicamente o Direito.

Com efeito, como na dialética, partiu-se da premissa da lei conjugando-a com a

doutrina e concretizando-as na jurisprudência com a análise dos casos concretos.

Isso foi feito assim com o escopo de trazer um resultado mais prático à conclusão

do trabalho.

Dito isso, passaremos à argumentação teórica.

2 HISTÓRICO 2.1 PREVISÃO CONSTITUCIONAL DO JÚRI

Analisando o contexto histórico verifica-se que os primeiros traços do

Tribunal do Júri no Brasil surgiram com a outorga da Constituição Imperial de 1824

que passou a prevê-lo como um órgão integrante do Poder Judiciário.1 A

constituição política estabeleceu como competência o julgamento de questões

criminais e também cíveis, na hipótese de não haver regulamentação a respeito.

Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889 e mais tarde

com a outorga da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil o Júri

permaneceu como instituição soberana.2

Já a Constituição de 1934 disciplinou o Júri no capítulo do Poder Judiciário,

mantendo sua organização e as atribuições contidas na lei.3 Houve um retrocesso

quanto à manutenção da importância do Tribunal do Júri na organização judiciária

na Constituição de 1937. Isso porque referido texto constitucional não fez previsão

do Júri. Tal distorção abriu brecha para que o Poder Executivo baixasse o Decreto-

Lei n. 167, de 5 de janeiro de 1938, com a supressão da soberania dos veredictos

do Júri. Com isso, o tribunal superior podia retificar o veredicto prolatado pelo júri

lançando decisão de mérito com aplicação da lei penal.4

Historicamente essa distorção foi afastada pelo contido no ordenamento

constitucional de 1946. Aqui, há que se ressaltar que a Constituição Federal de 1946

trouxe um importante avanço, pois, pela primeira vez, estabeleceu parâmetros de

1 BRASIL. CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRAZIL, de 25 de março de 1824.

Registrada na Secretaria de Estados dos Negócios do Império a fls. 17 do Liv. De Leis Alvarás e Cartas Imperiaes, Rio de Janeiro em 22 de Abril de 1824. Art. 151. O poder Judicial independente, e será composto de Juízes, os quaes terão logar assim no Cível, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os Códigos determinarem.

2 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, de 24 de fevereiro de 1891. Coleção de Leis do Brasil (CLBR), Rio de Janeiro, RJ, 24.02.1891. Art. 72. É mantida a instituição do júri, com a organização e as atribuições que lhe der a lei. § 31 – É mantida a instituição do Júri.

3 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, de 16 de julho de 1934. Coleção de Leis do Brasil (CLBR), Rio de Janeiro, RJ, 16/07/1934.

4 BRASIL. DECRETO-LEI n. 167, de 5 de janeiro de 1938. Coleção de Leis do Brasil (CLBR), RJ, 5.01.1938. Art. 94 – Si se verificar divergência entre a sentença proferida pelo presidente do Júri e as respostas dos jurados, o Tribunal de Apelação fará a retificação devida, aplicando a pena legal.

competência, organização e soberania dos veredictos ao prever em seu art. 141, §

28:

§ 28 – É mantida a instituição do Júri, com a organização que lhe der a lei, contanto que seja sempre ímpar o número dos seus membros e garantido o sigilo das votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos. Será obrigatoriamente da sua competência o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.5

Por outro lado, a Constituição de 1967 abandonou este modelo apenas

fazendo referência ao princípio da soberania dos veredictos. Estabeleceu ainda

competência jurisdicional nas questões relacionadas aos crimes dolosos contra a

vida.

A Constituição Federal de 1988 disciplinou o Tribunal do Júri no capítulo dos

Direitos e Garantias Individuais (no artigo 5º, inciso XXXVIII). Assim, como

verdadeira cláusula pétrea não pode ser suprimido nem por emenda constitucional

por fazer parte do que é chamado núcleo constitucional inatingível. Tudo por força

da limitação material contida no artigo 60, § 4.º, inciso IV, da Carta Magna que assim

está disposto:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: III – de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV – os direitos e garantias individuais.6

Feita a necessária evolução no contexto histórico do Brasil, a seguir, serão

apresentados os princípios constitucionais.

5 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, de 18 de setembro de 1946.

Coleção das Leis do Brasil (CPBR), Rio de Janeiro, RJ, 18 de setembro de 1946. 6 NERY JÚNIOR, Nelson. Constituição comentada e legislação constitucional. São Paulo: RT,

2006, p. 247.

2.2 PRINCÍPÍOS CONSTITUCIONAIS

A Carta Magna assegura à instituição do Júri três princípios basilares no

sistema constitucional:

a) da plenitude de defesa;

b) sigilo das votações; e,

c) soberania dos veredictos.

Com o olhar mais detido, logo abaixo, será examinado cada um deles.

2.2.1 Plenitude de defesa

Inicialmente pode-se dizer que a plenitude de defesa divide-se em duas

frontes que dá à defesa técnica produzida por advogado a possibilidade de utilizar

argumentos jurídicos e até extrajurídicos. Significa dizer, portanto, que o juiz deve

fazer dois quesitos: o primeiro representado pelas alegações da defesa técnica e,

segundo, aqueles alegados pelo réu em sua defesa. Mesmo embora sejam

incompatíveis entre si.

Cita-se, como exemplo, a situação em que o réu, no seu interrogatório em

plenário, alegue que agiu em legítima defesa. Por outro lado, seu o defensor

considerando que será difícil convencer os jurados da legítima defesa sustenta outra

tese, ou seja, alega que o réu não conhece o instituto da legítima defesa. Por isso,

argumenta que as qualificadoras não existiram e que há um privilégio. Neste caso

em comento, compete ao juiz fazer dois quesitos. Um para cada tese de defesa

alegada: “legítima defesa” e “privilégio”.

Esta situação demonstra tecnicamente a preservação do princípio

constitucional da plenitude de defesa. Contudo, vale dizer que o Supremo Tribunal

Federal tem precedente contrário a esse princípio. Há acórdão prolatado por aquela

Corte Superior de Justiça que entende não haver necessidade de desdobramento

dos quesitos, pois bastam aqueles referentes às teses apresentadas pelo defensor.

A seguir, colaciona-se a decisão.

JÚRI. DEFESA. QUESITOS. NULIDADES. 1. NÃO SÃO NECESSARIOS QUESITOS AO JÚRI SOBRE TESES DEFENSIVAS, DECORRENTES APENAS DAS DECLARAÇÕES DO RÉU NOS INTERROGATORIOS. BASTAM QUESITOS SOBRE AS TESES APRESENTADAS PELO DEFENSOR, EM PLENÁRIO DO JÚRI, SOBRETUDO QUANDO AQUELE NÃO SE OPOE, OPORTUNAMENTE, A RESPECTIVA FORMULAÇÃO. PRECEDENTES. 2. NÃO HÁ NECESSIDADE DE DESDOBRAMENTO DOS QUESITOS, EM SERIES, SE UMA SÓ BASTA PARA PROPICIAR AOS JURADOS O ENTENDIMENTO SEGURO DAS INDAGAÇÕES NELES CONTIDAS, SEM QUALQUER PREJUIZO PARA A DEFESA. H.C. INDEFERIDO.7

Outra questão que está envolta à plenitude de defesa é a liberdade que o

advogado tem para elaborar a defesa do réu, podendo alegar o que melhor lhe

aprouver, ainda que sem amparo jurídico. Na prática, cita-se a possibilidade do

advogado alegar na tréplica que o crime foi praticado há 11 anos, sendo que, depois

disso, o réu mudou de vida arrumando um emprego, casando-se e tendo filhos e

tornou-se líder comunitário, por exemplo.

De tudo, o que sempre estará sendo policiado pelo juiz presidente do

Tribunal do Júri é a atuação da defesa. Por isso, caso entenda que o réu está

indefeso poderá dissolver o Conselho de Sentença e designar novo dia para o

julgamento, com nomeação ou constituição de novo defensor, como prevê a reforma

no artigo 497, inciso V, do CPP.

2.2.2 Sigilo das votações

O sigilo das votações guarda em si a garantia da “imparcialidade que os

jurados devem guardar”. Essa é a anotação feita em sua obra por Adriano Marrey.8

Exatamente este é o princípio da lei, ou seja, a votação dos quesitos sempre é

sigilosa como prevê o artigo 487, da Lei 11689, de 2008, a saber: “Art. 487. Para

assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça recolherá em urnas separadas as

7 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 67192/RS, 1ª Turma do STF, Ministro Relator

Sydney Sanches, DJ 05/05/1989, p 07161. 8 MARREY, Adriano. Teoria e prática do Júri: doutrina, roteiros práticos, questionários,

jurisprudência. 6 ed. Ver. Atual. E ampl. – São Paulo: RT, 1997, p. 362.

cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas.” 9 (grifo nosso)

Ao examinar referido disposto, conclui-se que se cada jurado pudesse

revelar o seu entendimento, poderia influenciar outros. A idéia principal do sigilo é

exatamente preservar a intimidade e poder de convicção de cada membro do

Conselho de Sentença. Portanto, a lei confere a cada jurado o poder de decidir

sozinho, conforme seu entendimento e convencimento dos fatos tratados durante a

audiência. Poder-se-ia dizer que a votação é um verdadeiro exercício de

consciência.

Aqui cabe uma ressalva. O sigilo das votações é um princípio informador

específico do Júri. A ele não se aplica o disposto no artigo 93, inciso IX, da

Constituição Federal que resguarda o princípio da publicidade ao prever que: “todos

os julgamentos do Poder Judiciário serão públicos.“

Como sistemática do procedimento o Código de Processo Penal estabelece

várias maneiras de manter o sigilo nas votações. Para melhor ilustrar, logo abaixo,

enumeram-se algumas delas:

a) Incomunicabilidade dos jurados: os jurados não podem emitir qualquer

opinião sobre o processo. Podem conversar entre eles, desde que não

seja sobre o julgamento. Os jurados são impedidos de se comunicar com

qualquer pessoa e a comunicação com o mundo externo ocorre somente

por meio do oficial de justiça.

b) O julgamento é feito em sala secreta evitando os presentes no plenário

percebam qual foi o voto dos jurados e, também, qualquer tipo de

constrangimento.

c) O julgamento feito pelos jurados tem por base a íntima convicção.

Assim, não há fundamentação legal da decisão. É exceção à regra do

livre convencimento motivado.10

9 BRASIL. Lei n. 11689, de 9 de junho de 2008. Altera os dispositivos do Decreto-Lei n. 3689, de 3 de

outubro de 1941 – Código de Processo Penal – relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências.

10 NERY JÚNIOR, Nelson. op. cit., 2006, p. 267: “Art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário são públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.”

2.2.3 Soberania dos veredictos

A soberania do júri significa que o juiz presidente nem os tribunais

superiores podem reformar a decisão dos jurados pelo mérito proferindo outra em

seu lugar. Ainda que a decisão seja contrária à prova dos autos. Conclui-se,

portanto, que realmente o veredicto é decidido exclusivamente pelos jurados. Neste

sentido, entende José Frederico Marques que: “A soberania consiste na

impossibilidade dos juízes togados se substituírem aos jurados na decisão da

causa.”11

Contudo, o artigo 593, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo Penal,

permite a apelação das decisões do júri quando consideradas manifestamente

contrárias às provas dos autos.12 A apelação é julgada pelo Tribunal de Justiça.

Caso o tribunal dê provimento à apelação, anula o julgamento e determina a

realização de outro. Neste caso, o tribunal não decide o mérito. Frise-se que a

apelação com esse fundamento só pode ser interposta uma vez, pois não cabe uma

segunda apelação contra decisão manifestamente contrária à prova dos autos,

conforme se vê do dispositivo legal sobredito.

Ainda quanto ao princípio da soberania dos veredictos cabe uma importante

ressalva feita por Fernando CAPEZ que anota em sua obra a hipótese da mitigação

do princípio da soberania do júri na revisão criminal.

Conheça o ensinamento:

Na revisão criminal, a mitigação desse princípio é ainda maior, porque o réu, condenado definitivamente pode ser até absolvido pelo tribunal revisor, caso a decisão seja arbitrária. Não há anulação nesse caso, mas absolvição, isto é, modificação direta do mérito da decisão dos jurados.13

11 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller,

1997, p. 143. 12 BRASIL. Decreto-Lei n. 3689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial

[da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1941. “Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: §3º Se a apelação se fundar no nº III, d, deste decreto artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.”

13 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

Assim, conclui-se que a revisão criminal é a ação rescisória de coisa julgada

penal. Sempre em favor do réu, nunca em prol da sociedade (pro societate). No

caso do júri, interposta a revisão criminal, ela será julgada por 10 desembargadores

(normalmente o recurso é julgado por três) e os juízes togados decidirão o mérito

nesse caso.

De tudo, nunca é demais esclarecer que a soberania do Júri é um princípio

relativo, pois não pode jamais impedir a busca da verdade real que também é

princípio informador do processo penal.

3. ORGANIZAÇÃO DO JÚRI 3.1 COMPETÊNCIA ESTADUAL E FEDERAL

O Júri é um órgão da justiça comum. Dentro dessa competência Adriano

MARREY destaca que o júri: “(...) caracteriza-se como um órgão especial, por suas

atribuições e pela forma de sua composição.”14 Portanto, sua competência pode ser

tanto da esfera estadual como também federal.

A competência do Júri federal é para julgamento de:

a) crimes dolosos contra a vida de funcionários públicos federais, em razão

de suas funções;

b) crimes dolosos contra a vida praticados a bordo de navio ou aeronave.

Conheça, a seguir, um interessante aresto que trata dos casos da

competência do Tribunal do Júri federal:

EMENTA: Homicídio doloso e homicídio culposo praticado contra funcionário público no exercício de suas funções. No homicídio doloso praticado contra agente público federal em razão de suas funções, o alvo consciente da ofensa não é apenas o supremo bem jurídico do indivíduo, a vida, mas também o funcionamento do serviço público da União. É delito plurifensivo, que, de resto, deveria assumir forma qualificada na lei penal. Já no homicídio culposo, os efeito da ação delituosa ocorrem por accidens, não constituindo núcleo da vontade do agente, a qual se esgotou na escolha da conduta imprópria, de que resultou a destruição da vida. Competência, na primeira hipótese, de Tribunal do Júri constituído na Justiça Federal, Competências, na segunda hipótese, da Justiça Comum estadual.15

3.2 FIXAÇÃO DO JUÍZO COMPENTE POR PREVENÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

Prevenção é o fenômeno jurídico que ocorre quando um dos juízes,

igualmente competentes, antecede o outro na prática de algum ato do processo ou

medida antes do oferecimento da denúncia ou queixa. Por exemplo, gera prevenção

14 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 72. 15 BRASIL. Tribunal Federal de Recurso. Tec. 342-RJ, 2ª Turma, Ministro Décio Miranda, DJ 10/06/1976, p. 4294, citado na RT 611/442.

os atos de: a) concessão der fiança; b) decretação de prisão preventiva; c)

decretação de busca e apreensão.

Não havendo prevenção a fixação do juízo competente se dará por

distribuição, que ocorre com o sorteio para a fixação do juiz para a causa.

3.3. MODIFICAÇÃO, PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO E CONTINÊNCIA

Há ainda as hipóteses de conexão e continência previstas no artigo 69, V do

CPP que trazem os critérios de modificação e prorrogação da competência.

Primeiro a conexão que está prevista no artigo 76, do CPP onde se

estabelece que quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas em um

mesmo nexo causal há junção dos processos. Neste caso, as ações penais são

reunidas e julgadas conjuntamente, para se evitar decisões conflitantes, bem como

possibilitar ao juiz uma visão ampliada do quadro probatório. A conexão pode ocorrer: a) por simultaneidade: quando as infrações

houverem sido praticadas por várias pessoas, sem vínculo subjetivo, ao mesmo

tempo (exemplo: um caminhão carregado de laranjas tomba, e vários moradores da

região apanham as laranjas); b) por concurso: quando as infrações houverem sido

praticadas por várias pessoas, com vínculo subjetivo, embora diverso o tempo e o

lugar; c) por reciprocidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias

pessoas, umas contra as outras.

Segundo a continência prevista no artigo 77 do Código de Processo Penal

que estabelece a competência quando: a) quando duas ou mais pessoas forem

acusadas pela mesma infração, configurando-se concurso de agentes; ou, b) no

concurso formal (artigo 70, 1.ª parte, do Código Penal) com a unidade de agentes e

a pluralidade de resultados hipótese de aberratio ictus – erro na execução com

resultado duplo (artigo 73, parte final, do Código Penal); ou, aberratio criminis –

resultado diverso do pretendido com resultado duplo (artigo 74, parte final, do

Código Penal).

Lembrando que o artigo 78 do Código de Processo Penal determina qual o

foro deve prevalecer em caso de conexão e continência. Primeiro, havendo

concurso entre jurisdições de categorias diversas (instâncias diferentes): prevalece a

mais graduada. Exemplo: Tribunal de Justiça e juiz singular – prevalece o Tribunal

de Justiça. Se a conexão for entre crime de competência da Justiça Estadual e da

Justiça Federal são jurisdições de mesma categoria para a jurisprudência, a Justiça

Federal é especial em relação à Justiça Estadual. Essa é a constatação de Torinho

Filho.16 Neste sentido, a Súmula n. 122 do Superior Tribunal de Justiça decidiu a

questão, determinando que: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento

unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a

regra do artigo 78, inciso II, ‘a’, do Código de Processo Penal”. Segundo, no

concurso de jurisdições de mesma categoria prepondera o local da infração mais

grave, isto é, à qual for cominada pena mais grave (a pena de reclusão é mais grave

que a de detenção que é mais grave que a prisão simples). Se a pena máxima for

igual, compara-se a pena mínima; se iguais as penas (máxima e mínima), prevalece

o local onde foi praticado o maior número de crimes; se nenhum desses casos fixar

a competência, utiliza-se o critério da prevenção. Terceiro, competência do Júri e de

outro órgão da jurisdição comum: prevalecerá a competência do Júri. Quarto,

concurso entre Jurisdição Comum e Jurisdição Especial: prevalecerá a Especial.

Quinto, concurso entre Jurisdição Eleitoral e Jurisdição Comum, prevalecerá a

Jurisdição Eleitoral.

Vale dizer que não serão reunidos os processos para julgamento em

conjunto nos casos do artigo 79 do Código de Processo Penal:

a) concurso entre jurisdição comum e militar – Súmula n. 90 do Superior

Tribunal de Justiça – “Compete à Justiça Estadual Militar processar e

julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à Comum pela

prática do crime comum simultâneo àquele”.

b) concurso entre Justiça Comum e Justiça da Infância e Juventude.

c) superveniência de doença mental a um dos co-réus (suspenso o

processo do enfermo);

16 TOURINHO FILHO, 2003, p. 47.

O artigo 80 do Código de Processo Penal determina os casos em que a

separação dos processos é facultativa, apesar da conexão e continência: (i) se as

várias infrações forem praticadas em diferentes condições de tempo e lugar; (ii) se

excessivo o número de acusados; (iii) se, por outro motivo relevante, o juiz julgar

conveniente a separação (o juiz tem discricionariedade para determinar isso).

3.4 PERPETUAÇÃO DA COMPETÊNCIA (Perpetuatio Jurisdicionis)

A doutrina chama vis atractiva o efeito principal do deslocamento para a

competência de um mesmo julgador os crimes conexos aos de sua competência.

Veja, se o juiz ou o Tribunal absolver ou desclassificar o crime de sua competência,

continuará competente para o julgamento das demais infrações (artigo 81 do Código

de Processo Penal). Exemplo: concurso de agentes – juiz e escrivão cometem crime

de furto. Os dois serão julgados pelo Tribunal de Justiça pela vis atractiva. Se o juiz

for absolvido, o escrivão continua a ser julgado pelo Tribunal de Justiça.

A lei lança exceção à regra. Conheça-a: no Júri, se o juiz monocrático

desclassificar, impronunciar ou absolver sumariamente o acusado, de maneira que

exclua a competência do Júri, remeterá o processo ao juiz competente (artigo 81,

parágrafo único, do Código de Processo Penal). O juiz aguarda o trânsito em julgado

e remete os autos ao juiz competente.

Se os jurados desclassificam o crime, a competência para o julgamento da

infração passa para o juiz presidente, que terá de proferir a decisão naquela mesma

sessão. Caso haja crimes conexos, a desclassificação também desloca para o juiz

presidente a competência para seu julgamento artigo 492, § 1.º, do CPP).

Por outro lado, se o Júri absolver o acusado da imputação por crime doloso

contra a vida continuará competente para a apreciação dos conexos, pois só pode

proferir absolvição quem se julga competente para analisar o fato.

3.5 CARACTERÍSTICAS INSTITUCIONAIS DO JÚRI

O júri é um órgão colegiado, heterogêneo. Veja o detalhamento.

a) primeiro é colegiado pelo fato de ser composta por um juiz

presidente togado e 25 jurados leigos, sendo necessário no

mínimo 15 jurados presentes para instalar a sessão de

julgamento, com a escolha de 7 jurados para formação do

conselho de sentença.

b) segundo, heterogêneo, considerando ser composto por órgãos

de natureza distinta, ou seja, juiz togado e jurados leigos.

c) terceiro, horizontal, porque não há hierarquia entre os jurados e

o juiz-presidente do Júri. O que existe são divisões de

competências.

d) quarto, temporário, porque uma vez prolatada a decisão o

conselho de sentença e dissolvido e renovado.

As funções jurisdicionais com uma característica única, ou seja, não é

composto necessariamente por profissionais da área jurídica. É claro que a exceção

do juiz-presidente que é um magistrado de carreira e o representante do Ministério

Público como autor da ação penal (dominus litis). Neste sentido, ensina Eugênio

Pasceu de Oliveira que ao juiz-presidente caberá a direção e condução de todo o

procedimento, bem como a prolação de sentença final, após as conclusões

apresentadas pelo corpo de jurados, por intermédio das respostas aos quesitos.17

Além dessas questões, o tribunal tem sua competência fixada na

Constituição Federal, isto é, existe para julgar os crimes dolosos contra a vida,

consumados ou tentados. Neste caso, enquadram-se ao exame e competência as

condutas, típicas, antijurídicas, culpáveis de:

a) homicídio doloso;

b) infanticídio;

c) participação em suicídio; e,

d) aborto.

Cabe dizer ainda que essa competência do Tribunal do Júri pode ser

17 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 676.

ampliada por norma infraconstitucional. Essa é a observação feita por Fernando da

Costa Tourinho Filho.18

Nesta altura uma observação: o crime de latrocínio definido no artigo 157. §

3º, última parte, do Código Penal é considerado crime contra o patrimônio. Por isso,

seu julgamento é de competência do juiz singular, jamais do Tribunal do Júri que

trata dos crimes contra a vida. Este é o entendimento sumular do STF, conforme

enunciado n. 603. A saber.

Súmula n. 603 do STF – A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz e não do tribunal do júri.

Quanto ao procedimento do júri ele é denominado bifásico, ou escalonado.

Assim, a primeira fase inicia-se com o recebimento da denúncia e tem seu término

com o trânsito em julgado da sentença de pronúncia.

De outra forma, caso a primeira fase seja terminada com a impronúncia,

absolvição sumária ou a desclassificação, não haverá julgamento pelo júri popular.

A segunda fase tem seu início em decorrência da pronúncia (art. 420, do

CPP), com a intimação do Ministério Público ou querelante como também do

defensor do acusado para apresentação do rol de testemunhas no máximo de 5

(cinco), oportunidade em que poderão ser juntados documentos e requeridas

diligências, até a sentença final do juiz presidente.

A sessão de julgamento é instaurada desde que presentes 15 dos 25

jurados sorteados para cada reunião periódica, conforme nova disposição prevista

no artigo 462, da Lei n. 11689/2008.19 O conselho de sentença é formado por 7

jurados e o julgamento se dá sempre pela maioria de votos. A idéia de se manter o

conselho formado por número ímpar é justamente para se evitar empates técnicos

no julgamento dos quesitos.

18 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de Processo Penal comentado. 7 ed. – São

Paulo: Saraiva, 2003, p. 406. 19 BRASIL. Lei n. 11689, de 9 de junho de 2008. Altera os dispositivos do Decreto-Lei n. 3689, de 3

de outubro de 1941 – Código de Processo Penal – relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências.

3.5.1 Prerrogativas de foro

Aqueles que têm prerrogativas em razão das funções que exercem, citando

como exemplo os Magistrados e membros do Ministério Público (art. 96, inciso III, da

Constituição Federal) não estão sujeitos ao júri.20

Diante da revogação da Súmula n. 394 do Supremo Tribunal Federal, acaso

o acusado tenha perdido o cargo cessa a prerrogativa funcional, os autos remetidos

ao juízo ordinário. Conheça o teor do referido documento:

SÚMULA STF 394: COMETIDO O CRIME DURANTE O EXERCÍCIO FUNCIONAL, PREVALECE A COMPETÊNCIA ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO, AINDA QUE O INQUÉRITO OU A AÇÃO PENAL SEJAM INICIADOS APÓS A CESSAÇÃO DAQUELE EXERCÍCIO (CANCELADA).

3.5.2 O serviço do Júri é obrigatório

Na visão de Adriano MARREY, jurado “é o cidadão incumbido pela

sociedade de declarar se os acusados submetidos a julgamento são culpados ou

inocentes”.21 Diante dessa importância, o serviço do júri é obrigatório para os

maiores de 18 anos de notória idoneidade. Nenhum cidadão poderá ser excluído do

júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão,

classe, social ou econômica, origem ou grau de instrução. Esta é à disposição do

art. 436, §1º, do CPP. Ocorrendo a recusa a lei impõe multa de 1 a 10 salários

mínimos a critério do juiz.

A reforma do CPP traz uma questão interessante. Nos casos de recusa ao

serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política traz ao cidadão a

sanção imposta pelo juiz de ter que prestar serviço alternativo devendo exercer

atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico, ou mesmo produtivo

20 NERY JÚNIOR, Nelson. Op. cit., 2006, 271. 21 MARREY, Adriano. Op. cit., 1997, p. 105.

em órgãos da Administração Pública, ou entidade conveniada (art. 438 e

parágrafos).

3.5.3 Prerrogativas do jurado

Em contrapartida ao exercício efetivo da função de jurado o Estado garante

a presunção de idoneidade moral assegurando ao cidadão prisão especial em caso

de crime comum, considerando tratar-se de serviço público relevante, conforme art.

439, do CPP. O Supremo Tribunal Federal assim decidiu:

Prisão especial. Exercício efetivo da função de jurado. Direito assegurado até o trânsito em julgado da decisão condenatória. O exercício da função de jurado assegura o direito à prisão especial, que só cessa com o transito em julgado da condenação.22

Por fim, ao jurado convocado à sessão do júri é proibido lançar qualquer tipo

de descontos em seus vencimentos.

3.5.4 Isentos do serviço do júri

A lei prevê expressamente 437 e incisos do Código de Processo Penal

aqueles que são isentos do serviço do Júri. Entre eles:

I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;

II – os Governadores e seus respectivos Secretários;

III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais;

22 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 75.811-6 - RJ, 1ª Turma do STF, Ministro Relator Ilmar Galvão, DJU 12/12/1997, p. 65568.

IV – os Prefeitos Municipais;

V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;

VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública;

VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;

VIII – os militares em serviço ativo;

IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;

X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.

A novidade neste contexto é que o legislador previu é que não existe mais o

que a doutrina chamava de “escusa de consciência”.23 Ou seja, quem por razões de

convicção filosófica, política ou de crença religiosa, recusar o serviço ao júri

importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos

direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

Havendo a recusa da prestação alternativa, ocorrerá a perda dos direitos

políticos (artigo 5.º, inciso VIII, e artigo 15, inciso IV, da Constituição Federal).

3.5.5 Alistamento dos jurados

Anualmente, os jurados serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri.

Consta do art. 425, § 2º, do CPP que:

O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado.

Assim, a lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões,

será publicada primeiro na imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano. A seguir,

23 MARREY, Adriano, op. cit., 1997, p. 104.

divulgada em editais afixados na porta do Tribunal do Júri. Feito isso, a lista poderá

ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz

presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. Neste caso o

juiz decidirá quanto à exclusão ou não de nome da lista. Havendo indeferimento por

parte do juiz que resolve fundamentadamente incluir o nome, aquele que argüiu a

exclusão pode interpor recurso em sentido estrito no prazo de 20 dias, conforme o

artigo 581, inciso XIV, e artigo 586, parágrafo único, ambos do Código de Processo

Penal.24 Quem julga o recurso é o Presidente do Tribunal de Justiça.

Com a reforma do Código de Processo Penal pela Lei n. 11689/2008, da

lista definitiva, serão sorteados os 25 jurados pra reunião periódica ou extraordinária.

24 BRASIL. Decreto-Lei n. 3689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1941. “Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de cinco dias. Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contados da data da publicação definitiva da lista de jurados.”

4. RITO PROCEDIMENTAL

4.1. PROCEDIMENTO ESCALONADO (BIFÁSICO)

O procedimento do Júri é bifásico ou escalonado.25 É o procedimento mais

solene do Código de Processo Penal razão essa que lhe dá o status jurídico de rito

especial. Neste sentido, vale a pena dizer que a primeira fase do Júri é denominada

pela doutrina como: “formação da culpa”, ou, ainda, “judicium accusationis”. Dito em

outras palavras, é o procedimento judicial que visa estabelecer a admissibilidade da

acusação e seu limite para oferecimento do réu em Plenário. Inicia-se com o

oferecimento da denúncia ou da queixa (ação penal privada subsidiária da pública)∗

e termina com o trânsito em julgado da pronúncia.

Tourinho Filho anota em sua obra que a decisão de pronúncia tem natureza

processual, mesmo embora não faça coisa julgada. Infere ainda referido autor que

nesta hipótese o juiz, convencido da existência do crime, autoria e materialidade do

fato criminoso, prefere competência do julgamento ao Tribunal do Júri.26

Diante disso, conclui-se que essa fase tem por objetivo verificar a

admissibilidade da acusação e verificar se há requisitos mínimos para a acusação, o

que a doutrina chama de juízo de prelibação**.

Conheça abaixo a seqüência de atos que envolvem a instrução criminal no

sobredito procedimento:

a) oferecimento da denúncia ou da queixa;

b) recebimento da denúncia ou da queixa;

c) citação do acusado;

d) interrogatório;

e) fixação do tríduo para a defesa prévia (apresentação facultativa); 25 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 129. ∗ AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA: Hipótese legal em que é lícito ao ofendido

intentar queixa-crime, substituindo assim a denúncia do Ministério Público como ação subsidiária da ação penal pública.

26 TOURINHO FILHO, 2003, p. 30. ** Na visão de Paulo RANGEL, juízo de prelibação é: “O despacho liminar positivo da acusação feita

na denúncia tem caráter decisório, sendo, portanto, uma decisão interlocutória simples (...). Neste despacho, o juiz limita-se a dizer que recebe, fundamentadamente, a denúncia, determina o chamamento do réu em juízo para se defender (citação) e marca interrogatório para determinado dia e hora.”, in RANGEL, Paulo. Op. cit., 2003, p. 562.

f) oitiva das testemunhas de acusação (número máximo de oito);

g) oitiva das testemunhas de defesa (número máximo de oito).

h) alegações finais (cf. art. 406 do Código de Processo Penal).

Feito isso, após as alegações que são obrigatórias por parte do

representante do Ministério Público e facultadas à defesa do réu, os autos vão

conclusos ao juiz, que ordenará diligências para sanar nulidades ou suprir falhas.

Ato contínuo, os autos vão conclusos para a sentença. Aqui, o juiz pode decidir pela:

(i) pronúncia; (ii) impronúncia; (iii) desclassificação; (iv) absolvição sumária (depende

de reexame necessário, que é condição de eficácia). É bom frisar que referidas

decisões podem ser impugnadas por meio do recurso em sentido estrito conforme

estatui o artigo 581, incisos II, IV e VI, do CPP. Logo abaixo, examinaremos amiúde

cada uma delas.

4.2 PRONÚNCIA (art. 413, do CPP)***

Trata-se da decisão do juiz que entende existir prova de autoria e indícios

suficientes de materialidade do fato criminoso. Assim, o magistrado julga admissível

a acusação. Por isso submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri.

Fernando CAPEZ ensina em sua obra que:

“Na fase da pronúncia vigora o princípio in dúbio pro societate, uma vez que há mero juízo de suspeita, não de certeza. O juiz verifica apenas se a acusação é viável, deixando o exame mais acurado para os jurados. Somente não serão admitidas acusações manifestamente infundadas, pois há juízo de mera prelibação”.27

Ressalte-se que, na verdade, essa decisão não é uma sentença, visto que

não julga o mérito. Sua natureza jurídica é de decisão interlocutória mista não-

terminativa. Todavia, como qualquer ato judicial a pronúncia necessita de

*** Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do

fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. 27 CAPEZ, Fernando. Op. cit.

fundamentação. Neste sentido, o legislador da reforma fez constar do parágrafo

primeiro do artigo em exame o seguinte:

§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena. (grifo nosso)

Como visto, é claro que a fundamentação não precisa analisar com

profundidade o mérito da causa como numa decisão de mérito proferida em

sentença, porque isso poderia influenciar a decisão dos jurados.

Ademais disso, na pronúncia, o juiz deve utilizar uma linguagem comedida e

cautelosa, sem referir-se a culpado ou inocente, pois levaria à nulidade da decisão. 28 Quanto à essa questão, brilhante é a lição dada por Fernando da Costa TORINHO

FILHO que assim preleciona:

A pronúncia precisa ser fundamentada? Sim, mas em termos: a fundamentação deverá ficar adstrita tão-só aos seus requisitos: indicar as provas que demonstram a materialidade, autoria e eventual qualificadora. Infelizmente juízes há que, na pronúncia, pensando tratar-se de decisão de mérito, analisam o feito como se fossem, em seguida, condenar ou absolver. (...) Na pronúncia, o Juiz cinge-se e restringe-se em demonstrar materialidade e autoria. (...) E numa linguagem sóbria. (grifo nosso)29

Prosseguindo, referido autor cita Adriano MARLEY e exemplifica dizendo

que devem ser abolidas da pronúncia expressões tais como: ‘O réu é culpado’, ‘o

réu não agiu em legítima defesa’, ‘o réu agiu com torpeza’, ‘o réu provocou a vítima’,

‘o réu confessou plenamente o delito, tanto na polícia como em juízo’.30

28 “A pronúncia deve ser lançada em termos sóbrios e comedidos a fim de não exercer qualquer

influência no Ânimo dos jurados. Não pode o juiz antecipar-se ao julgamento do Tribunal do Júri com uma interpretação definitiva e concludente da prova em favor de uma das versões existentes nos autos. O juízo de comparação e escolha de uma das viabilidades decisórias cabe ser feito pelos Jurados e não pelo juiz da pronúncia.” (RT 557/369)

29 TORINHO FILHO, Fernando da Costa. op. cit., 2003, p. 31. 30 TORINHO FILHO, Fernando da Costa. op. cit., 2003, p. 31.

Com isso em mente, tem-se que uma vez prolatada a pronúncia seu efeito é o de

submeter o réu a julgamento pelo Júri fixando a classificação jurídica do fato. Aqui

cabe uma observação: o artigo 418, do CPP, permite ao magistrado dar definição

jurídica diversa da constante da acusação, ainda que o acusado fique sujeito a pena

mais grave. Novamente Fernando Costa TOURINHO FILHO traz à lume um

interessante exemplo. Conheça-o:

Assim, por exemplo, pronunciado o réu por tentativa, se, após a preclusão temporal, houver notícia de que a vítima falecera em conseqüência dos ferimentos, deve o Acusador, munido do atestado de óbito e, se for o caso, do exame necroscópico, requerer ao Juiz a alteração da qualificação jurídica do fato consignada na pronúncia.

Outro efeito jurídico decorrente da pronúncia é a interrupção da prescrição

com a publicação do decisório. Verifica-se da interpretação da Súmula n. 191 do

Superior Tribunal de Justiça que a pronúncia é causa interruptiva da prescrição,

ainda que ocorra a desclassificação do crime pelo Júri.

Cabe ainda um esclarecimento quanto à decretação da prisão. Ora, os

parágrafos 2° e 3° do artigo 413, do CPP, dizem que: “Se o crime for afiançável, o

juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade

provisória.” E por fim que: “O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção,

revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente

decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da

prisão ou imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste

Código.

Assim, se o réu for primário e de bons antecedentes, poderá o juiz deixar de

decretar-lhe a prisão ou revogá-la, caso já se encontre preso. Trata-se de mera

faculdade, pois o juiz deverá avaliar a existência de elementos que indiquem a

necessidade da prisão com estabelece o artigo 312, do CPP.31

31 BRASIL. Decreto-Lei n. 3689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial

[da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1941. “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.”

O Superior Tribunal de Justiça vem decidindo que, em face do princípio da

inocência presumida, somente é admissível a imposição de prisão processual

quando suficientemente demonstrado por decisão plenamente motivada a

necessidade da cautela, em face da presença de uma das circunstâncias inscritas

no artigo em comento. Conheça o aresto e sua ementa.

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. PRESSUPOSTOS. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. A prisão preventiva, medida extrema que implica sacrifício à liberdade individual, concebida com cautela à luz do princípio constitucional da inocência presumida, deve fundar-se em razões objetivas, demonstrativas da existência de motivos concretos susceptíveis de autorizar sua imposição. Meras considerações no sentido de que a liberdade dos acusados poderia influir no ânimo das testemunhas quando do julgamento pelo Tribunal do Júri, não justifica a custódia preventiva, por não atender aos pressupostos inscritos no art. 312, do CPP. Habeas-corpus concedido.32

Por outro lado, há uma questão que precisa ser enfrentada. É o caso da

Súmula n. 21 do Superior Tribunal de Justiça. Consta do enunciado que uma vez

pronunciado o réu, fica superada a alegação de excesso de prazo na instrução

criminal. O que afasta por vez a possibilidade de concessão de segurança jurídica

sob alegação de que o réu deve ser liberto por estar muito tempo encarcerado.

Neste caso, a Constituição Federal garante ao réu o não lançamento de seu

nome no rol dos culpados em razão do princípio da presunção de inocência. Por fim,

conste-se que a intimação da decisão de pronúncia varia conforme a situação do

réu. Conheça as hipóteses que podem ocorrer (art. 420, do CPP): (i) pessoalmente

ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público; (ii) ao defensor

constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, ou; (iii) intimação do

acusado solto por edital na hipótese de não ser encontrado.

32 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 8291 - RR, 6ª Turma do STJ, Ministro

Vicente Leal, DJ 13/09/1999, p. 115.

4.3 DESPRONÚNCIA

Despronúncia é a decisão judicial que revoga uma decisão de pronúncia.

Ocorre em duas hipóteses: a) a primeira em decorrência da interposição de recurso

em sentido estrito contra a sentença de pronúncia, o próprio juiz da causa

reconsiderar a decisão revogando-a; b) a segunda, se mantida a pronúncia em 1a.

Instância, o Tribunal a revogá-la.

4.4 IMPRONÚNCIA

A decisão de impronúncia julga inadmissível a acusação. Neste sentido,

Paulo RANGEL ensina que: “A impronúncia é a decisão oposta à pronúncia, ou seja,

ocorre quando o juiz julga inadmissível a acusação, entendendo não haver prova da

existência do crime e/ou indícios suficientes de autoria”.33

Assim, como visto, a decisão de impronúncia tem natureza jurídica de

decisão interlocutória mista terminativa, posto que não julga o mérito, extinguindo o

processo.

Essa decisão só faz coisa julgada formal. Surgindo novas provas, o

processo poderá ser reaberto se não estiver extinta a punibilidade. É o que prevê o

art. 414, parágrafo único, do CPP: “Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a

extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver

prova nova”.

Contudo, há que se constar que a decisão de impronúncia apenas faz “coisa

julgada material” nas hipóteses de: a) atipicidade do fato (o fato narrado não

constitui crime), ou; b) comprovação da inexistência material do fato (não houve

crime).

Outro detalhe importante é que no caso da acusação discordar quanto à

impronúncia, poderá interpor o recurso previsto no artigo 581, IV, segunda parte, do

CPP. Todavia, uma vez preclusa a via impugnativa, nada impede ao Ministério

33 Paulo RANGEL, op. cit., 2003, p. 527.

Público, a qualquer tempo, enquanto não extinta a punibilidade, instaurar outro

processo contra o réu. Essa é a anotação feita por Fernando da Costa TOURINHO

FILHO em sua obra.34

Neste sentido, referido autor prossegue em seus ensinamentos

argumentando sobre a correlação existente entre a impronúncia e a possibilidade de

abertura de nova ação penal, bem como a impossibilidade de novo processo face a

extinção da punibilidade.

Examine a lição do renomado jurista.

Trata-se de nova ação penal, nada obstando seja apensado a este processo aquele que ensejou a impronúncia ou despronúncia. E isso é possível porque a decisão de impronúncia, sendo de natureza processual, não faz coisa julgada. Evidente que se o Juiz, ao impronunciar, reconheceu a inexistência do fato, ou ocorrendo uma causa extintiva da punibilidade, novo processo não mais será admitido, mesmo porque a decisão, aí, embora proferida em sede de impronúncia, é verdadeiramente absolutória. (grifo nosso) 35

Quanto à relação entre a impronúncia e os crimes conexos, Adriano MAREY

faz interessante alusão em sua obra. Afirma referido o autor que a impronúncia não

se estende aos crimes conexos. Explica neste sentido enquanto “não preclusa a

decisão de impronúncia, o juiz não deve decidir a respeito dos crimes em conexão,

com os da competência do Júri”. Termina argumentando que: “Decorrido o prazo

para recurso, o juiz poderá então julgar os crimes antes em conexidade, se for o

competente. Do contrário, ordenará a remessa do processo ao que for (...)”.

Exatamente esta é a forma dada pelo legislador que reformou o Código.

Conheça o teor da norma: “Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância

com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74

deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que

o seja”.

34 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. op. cit. 2003, p. 37. 35 TORINHO FILHO, Fernando da Costa. op. cit., 2003, p. 38.

4.5 DESCLASSIFICAÇÃO

A desclassificação ocorre quando o juiz se convence de que o réu não

cometeu um crime doloso contra a vida. Portanto, em face da existência de crime

diverso a competência é do juiz singular.

É o que dispõe o art. 419, do CPC:

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. (grifo nosso)

Outra hipótese que deve ser aventada é se o juiz tem dúvida com relação à

ação do acusado entre tentativa de homicídio ou lesão corporal. Aqui, deve

pronunciar o réu e deixar que o Tribunal do Júri decida se houve ou não a intenção

de matar. Com essa atitude conclui-se está preservada a competência constitucional

do Tribunal do Júri.

Após a decisão do Tribunal do Júri havendo desclassificação da infração por

outra de competência do juiz singular, caberá ao presidente proferir sentença, como

prevê o 492, §1º e §2º, do CPP. Conheça a disposição.

§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Ainda no que tange à existência de crimes em conexão que não seja doloso

contra a vida prevê o §2º daquele diploma legal que o juiz do tribunal julgará. Veja a

referida norma.

§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo.

Em ambos os casos de desclassificação simples ou nos em crimes de

conexão a sentença será proferida e lida em Plenário (art. 493, do CPP).

Por outro lado, há que se constar que uma vez pronunciado o acusado se o

júri decidir que o réu não teve intenção de matar, o processo será remetido ao juiz

competente, como visto acima. Necessário dizer ainda que o júri não se manifesta

sobre agravantes ou qualificadoras, nem menciona para qual delito o crime foi

desclassificado, mantendo assim o livre convencimento do juiz competente. Se,

porventura manifestar-se excedendo em sua função o juiz competente da causa não

estará vinculado à imputação. Contudo, Adriano MARREY citando Espínola Filho

lembra que: “O Juiz, a que for o processo submetido por força da desclassificação,

não está obrigado a aceitar a nova classificação dada em sentença.”36 Diante disso,

referido autor lança uma pergunta: “O juiz, ao desclassificar, deve apontar o novo

crime?” Já em seguida comenta: “Não, sob pena de invadir a competência do juiz

monocrático”.37

Se o juiz singular, ao receber o processo, concluir que o juiz do Júri se

equivocou, e que o réu deveria ter sido pronunciado, qual medida deve tomar?

Entendemos que o juiz para o qual o processo foi remetido não pode suscitar conflito

de competência, pois a decisão de desclassificação já transitou em julgado. Se ele

se convencer que era mesmo o crime doloso contra a vida, ainda que tentado,

deverá absolver o réu. Há, no entanto, entendimento no sentido de que a decisão

tem natureza processual e tem-se somente a preclusão, sendo possível, pois,

suscitar conflito de competência.

A desclassificação é decisão interlocutória mista não terminativa (encerra

uma etapa do processo, sem julgar o mérito).

Contra essa decisão cabe recurso em sentido estrito com fundamento no

artigo 581, inciso II, do Código de Processo Penal, embora alguns doutrinadores

prefiram a hipótese no inciso IV (o argumento é o de que a desclassificação contém

embutida uma impronúncia).

No que se refere à competência para o julgamento dos crimes conexos em

caso de desclassificação, há dois entendimentos na doutrina. Entendemos que

todos os delitos passarão para a esfera do juiz togado, pois, se o Júri reconhece que

36 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 247. 37 Id. 1997, p. 248.

não tem competência para julgar o crime principal, seria um contra-senso que

decidisse os demais. Alguns afirmam que, mesmo ocorrendo a desclassificação, o

Júri continuaria competente para julgar os crimes conexos ante o disposto no artigo

81, caput, do Código de Processo Penal.

4.6 ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

A absolvição sumária do réu ocorre quando o juiz entende que:

a) está provada a inexistência do fato;

b) está provado que o acusado não é autor ou partícipe do fato;

c) o fato apontado não é tido como infração penal;

d) está provada a isenção de pena ou de exclusão do crime nas hipóteses

de legítima defesa e inimputabilidade, citando como exemplo. Todavia, o legislador

da reforme fez ressalva quanto à inimputabilidade. Consta do art. 415, parágrafo

único, do CPP, que só se aplica a inimputabilidade ao acusado “quanto esta for a

única tese defensiva”.

Assim é que da decisão de absolvição sumária é prolatada sentença com

julgamento de mérito fazendo coisa julgada material, cabendo recurso de apelação.

Aqui se faz necessária uma anotação. Antes da reforma, a sentença de

absolvição sumária desafiava recurso em sentido estrito. Como visto, pelo novo

procedimento do Tribunal do Júri ao procedimento foi alterado nos moldes do art.

416, do CPP.38

Adriano MARREY em sua obra trata questão interessante que se volta em

saber se o juiz deve absolver ou pronunciar o réu na hipótese de ter certeza da

excludente de culpabilidade pois há laudo que comprova a inimputabilidade do réu,

mas, com tudo, tem dúvida sobre a excludente de ilicitude considerando que há

dúvida quanto à legítima defesa. A reposta segundo o autor é que o juiz não pode

reconhecer a legítima defesa e absolver o réu no sumário da culpa, pois esta não

38 BRASIL. Lei n. 11689, de 9 de junho de 2008. Altera os dispositivos do Decreto-Lei n. 3689, de 3

de outubro de 1941 – Código de Processo Penal – relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. “Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.”

restou provada. Conclui, portanto, que deverá pronunciar o réu, pois o Tribunal do

Júri pode reconhecer a legítima defesa e absolver o réu.39

Dentro dessa análise aquele autor diz que se o juiz no sumário da culpa

reconhecer a excludente de culpabilidade, terá de dar a absolvição imprópria,

impondo ao réu uma medida de segurança. Ainda pondera que, no caso dele

pronunciar, o réu terá uma chance de o Tribunal do Júri reconhecer a legítima

defesa e o absolver; ou, de outra forma, será condenado e receberá uma medida de

segurança pela inimputabilidade já comprovada.40

Neste sentido, TORINHO FILHO explica que se o juiz reconhecer que o fato

é atípico deverá impronunciá-lo (essa impronúncia fará coisa julgada material). Mas

assevera que há quem entenda que o juiz deverá absolvê-lo. Conclui o autor que, na

prática, tudo depende do caso concreto e do que ele chama de “sentir do juiz”.41

Assim, está terminado o estudo da primeira fase do procedimento do Júri.

Inicia-se, a seguir, a segunda fase do procedimento especial do Tribunal do Júri com

a fase chamada pela doutrina de juízo da causa ou judicium causae, previsto na

reforma a partir do art. 422, do CPP, com a novidade da revogação da figura do

libelo-crime acusatório.∗∗∗∗

4.7 DESAFORAMENTO

Veja, normalmente os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo

Tribunal do Júri da Comarca onde o delito foi praticado. Isto é chamado como o

distrito da culpa. Contudo, quando houver dúvida sobre a imparcialidade do júri,

sobre a segurança pessoal do réu, atraso superior a seis meses para o julgamento

ou por interesse da ordem pública, o réu poderá ser julgado fora do distrito da culpa.

O legislador da reforma manteve a hipótese de desaforamento que é o

deslocamento da competência territorial do júri, para a comarca mais próxima 39 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 247. 40 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 248. 41 TORINHO FILHO, Fernando da Costa. op. cit., 2003, p. 42. ∗∗∗∗ LIBELO-CRIME ACUSATÓRIO: Na visão de Adriano MARREY libelo-crime é o ato processual de

postulação da acusação. Anota-se que pela reforma do CPP este ato deixou de existir. MARREY, Adriano, op. cit.,1997, p. 252.

sempre que houver interesse de ordem pública, dúvida sobre a imparcialidade dos

jurados, sobre a segurança do réu, ou quando, ocorrer excesso de prazo por

acúmulo de serviço judicial.

O excesso de prazo ocorre 6 meses após o trânsito em julgado da sentença

de pronúncia (art. 428, do CPP), podendo ser requerido o desaforamento com a

ouvida do juiz e da parte contrária. O desaforamento é do julgamento e o pedido

deve ser formulado após o trânsito em julgado da pronúncia pelas partes direto ao

Tribunal de Justiça competindo ao relator designado apreciar o pedido e determinar

ou não suspensão do julgamento pelo júri.

Encontra-se na jurisprudência pesquisa quanto à hipótese não prevista na

lei que é o caso de reaforamento. Reaforamento é o retorno da causa para o distrito

da culpa antes do desaforamento. Ocorre, todavia, que os tribunais têm entendido

que uma vez processado o desaforamento, subsiste este primeiro se mantidas as

razões que o justificaram.

Conheça os arestos.

'HABEAS CORPUS'. PEDIDO DE DESFORAMENTO DE JULGAMENTO PARA OUTRA COMARCA. TENDO SIDO CONCEDIDO O DESAFORAMENTO DO JULGAMENTO, PELO TRIBUNAL DO JÚRI, PARA OUTRA COMARCA, ANTE PEDIDO DO M.P., NÃO E DE ATENDER-SE O PLEITO AGORA FORMULADO PELA DEFESA, PARA QUE VOLTE O JULGAMENTO A SER REALIZADO NA COMARCA DO CRIME OU EM OUTRA PROXIMA, POIS SE TEM COMO PERMANECENDO INTEGRAS AS RAZOES QUE JUSTIFICARAM AQUELE PRIMEIRO DESAFORAMENTO. (STF, 2ª Turma, HC 64000/GO. Ministro Rel. Aldir Passarinho, DJ, 14-11-1986, p. 22149).

E ainda,

'HABEAS CORPUS'. JÚRI. JUIZ NATURAL. TRIBUNAL DE EXCEÇÃO. DESAFORAMENTO. REAFORAMENTO. 1. NÃO E DE SER CONHECIDO O 'HABEAS CORPUS', NO PONTO EM QUE SE IMPUGNA O DESAFORAMENTO DEFERIDO, PORQUE PRETENSAO IDÊNTICA JA FOI REPELIDA POR DUAS VEZES PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 2. JUIZ NATURAL DE PROCESSO POR CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA E O TRIBUNAL DO JÚRI. MAS O LOCAL DO JULGAMENTO PODE VARIAR, CONFORME AS NORMAS PROCESSUAIS, OU SEJA, CONFORME OCORRA ALGUMA DAS HIPÓTESES DE DESAFORAMENTO PREVISTAS NO ART.424 DO C.P. PENAL, QUE NÃO SÃO INCOMPATIVEIS COM A CONSTITUIÇÃO

ANTERIOR NEM COM A ATUAL (DE 1988) E TAMBÉM NÃO ENSEJAM A FORMAÇÃO DE UM 'TRIBUNAL DE EXCEÇÃO'. 3. NÃO SE JUSTIFICA O RESTABELECIMENTO DA COMPETÊNCIA DO FORO DE ORIGEM ('REAFORAMENTO'), SE PERMANECEM AS RAZOES QUE DITARAM O DESAFORAMENTO. 'H.C.' CONHECIDO, EM PARTE, E NESSA PARTE, INDEFERIDO. (STF, 1ª Turma. HC 67851/GO. Ministro Sydney Sanches. DJ, 18-05-1990, p. 04343)

Há também a possibilidade de o réu ser julgado por um júri federal (artigo

109 da Constituição Federal), a exemplo da prática dos seguintes crimes dolosos

contra a vida: crime contra funcionário público federal em razão de suas funções,

crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, crimes cometidos por servidores

federais no exercício de suas funções e crimes praticados contra índios dentro de

reservas indígenas (artigos 22, inciso XIV e 109, inciso XI, ambos da Constituição

Federal).

Em julgado de 14.4.2001 (RE n. 270.370), no qual se considerou que o

assassinato de índio no interior de sua aldeia tivera relação direta com questão

concernente a “direitos originários sobre terras indígenas”, com base no inciso XI do

artigo 109 da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a

competência da Justiça Federal.

Observe-se, porém, que a Súmula n. 140 do Superior Tribunal de Justiça

estabelece que: “compete à justiça estadual processar e julgar crime em que o

indígena figure como autor ou vítima”.

Havendo conexão entre o delito de competência do júri e outro de

competência da justiça comum, o júri será competente para o julgamento das duas

infrações.

4.7 JUDICIUM CAUSAE (segunda fase e o julgamento de mérito)

Como visto no item 4.1 e seguintes, o rito especial do Tribunal do Júri é

escalonado em duas fases. A primeira denominada como “formação da culpa” que

se inicia com o oferecimento de denúncia pelo representante do Ministério Público e

se encerra com a sentença de pronúncia do acusado. E a segunda fase se inicia a

partir do art. 473, do CPP, com a instrução do feito em plenário para julgamento de

mérito.

Há que se ressaltar que a reforma do CPP trouxe mudanças marcantes ao

procedimento com o fim do libelo, bem como a contrariedade do libelo. Outra

alteração no rito foi à questão envolta à pronúncia. Agora, a sentença de pronúncia

passa a ser o limite para a acusação em plenário do Tribunal. Estas são as

constatações de Guilherme de Souza NUCCI.42

Da mesma forma, ainda da fase da formação da culpa, o art. 422, do CPP,

estabelece que ao receber o processo o presidente do Tribunal do Júri determinará

intimação do Ministério Público ou querelante, bem como do defensor do acusado

para que em 5 dias apresentem:

a) rol de testemunhas até no máximo de 5 (cinco);

b) petição com a juntada de documentos;

c) requerimento de diligências.

Assim, em audiência única será procedida a colheita da prova, os debates

entre acusação e defesa e o julgamento propriamente dito.

Consta do art. 423 do rito em comento que compete ao juiz presente

determinar as diligências que entender necessárias para sanar qualquer nulidade ou

até esclarecer fato de interesse ao julgamento da causa, bem como fará relatório

sucinto do processo determinando sua inclusão em pauta de julgamento em

plenário.

Guilherme de Souza NUCCI anota em sua obra que relatório referido passa:

“(...) a ser oferecido aos jurados em plenário”. E que com isso há: “restrição à leitura

de peças”, considerando que a sentença de pronúncia delimita a acusação e o

relatório em questão rememora os principais fatos tratados no processo.43

42 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008, p. 132. 43 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008, p. 133.

5. FORMAÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA 5.1 SESSÃO DE JULGAMENTO

Designado o julgamento, o juiz instala a sessão, desde que estejam

presentes pelo menos 15 dos 25 jurados sorteados. Antes da reforma registra-se

que eram 21 sorteados. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença o

juiz esclarecerá sobre os impedimentos, suspeição e as incompatibilidades,

previstos no art. 448 e 449, do CPP, a saber:

Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho: I – marido e mulher; II – ascendente e descendente; III – sogro e genro ou nora; IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; V – tio e sobrinho; VI – padrasto, madrasta ou enteado. § 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar. § 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados. Art. 449. Não poderá servir o jurado que: I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior; II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado; III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.

Vencida esta parte, uma vez sorteados os jurados compete ao juiz

presidente adverti-los que “não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem

manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e

multa”, conforme consta da inteligência do art. 466, § 1º, do CPP. Ao oficial de

justiça designado compete fiscalizar a incomunicabilidade dos jurados como

elemento essencial da preservação da convicção íntima de cada um.

O Conselho de sentença é formado por 07 jurados sorteados, sendo que,

acusação e defesa tem o direito de recusar sem motivação até 3 (três) cada parte.

Havendo dois ou mais acusados as recusas poderão ser feitas apenas por um

defensor. Ainda, na hipótese de não ser obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados

para compor o Conselho de Sentença poderá ser determinada a separação dos

julgamentos. Como preferência na pauta será apreciado o julgamento ao acusado a

quem for atribuída a autoria. Contudo, na hipótese de co-autoria o legislador previu a

seguinte escala de urgência: (i) – acusados presos; (ii) – dentre os acusados presos,

aqueles que estiverem há mais tempo na prisão; (iii) em igualdade de condições, os

precedentemente pronunciados.

Necessário frisar que depois de todo este procedimento superadas as fases

de impedimento, suspeição, incompatibilidade, dispensa e recusa não houver

número para formação do Conselho de Sentença o julgamento será adiado para oi

primeiro dia desimpedido, após o sorteio dos jurados suplentes.

Por outro lado, uma vez formado o Conselho de Sentença com 7 jurados o

juiz presidente anunciará: “Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com

imparcialidade e a justiça proferir a vossa decisão de acordo com a vossa

consciência e os ditames da justiça”. E em conseqüência disso os jurados

nominalmente chamados responderão: “Assim o prometo”.

Após o compromisso, o jurado receberá cópias da pronúncia ou, se for o

caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do

processo.

Nunca é demais lembrar que o Conselho de Sentença julga matéria de fato

decidindo se o acusado deve ser absolvido (art. 482, do CPP). AS questões de

direito compete ao juiz presidente deliberar.

5.2 INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO

A instrução em Plenário do Júri se inicia com a ouvida do acusado por parte

da acusação, assistente de acusação e defesa seguida da inquirição das

testemunhas de acusação. No interrogatório, o Ministério Público, o assistente, o

querelante e o defensor acusado poderão formular diretamente perguntas ao

acusado quebrando a tradição do sistema em que todas as perguntas eram dirigidas

ao juiz presidente que primeiro aferia sua relevância para depois o réu respondê-las.

Já as testemunhas de defesa serão ouvidas antes pela defesa com a

formulação de perguntas e depois pelo Ministério Público e assistente de acusação,

se houver.

Tanto as partes como os jurados poderão requerer acareações,

reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a

leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta

precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. Há que se

ressaltar que os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.

Quanto ao acusado não é permitido mantê-lo algemado durante o período

que permanecer em plenário do júri. Salso se absolutamente necessário à ordem

dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos

presentes.

5.3 DEBATES ORAIS

Encerrada a instrução o MP fará acusação nos limites da sentença de

pronúncia ou das decisões posteriores podendo citar, inclusive circunstância

agravante. Se houver assistência sempre falará depois do MP. No caso de ação

penal privada, primeiro fala o querelante e, em seguido, o Ministério Público.

O tempo destinado à acusação e à defesa é de uma hora e meia

para cada. A réplica para a acusação é de uma hora, tendo a defesa o direito à

tréplica, por igual prazo. Se for mais de acusador ou defensor, combinarão entre si a

distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de

forma a não exceder o determinado. Por outro lado, havendo mais de um acusado o

tempo de defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e

da tréplica.

A grande novidade nesta parte é a possibilidade da reinquirição de

testemunha já ouvida em plenário.

Outra questão interessante é que não será permitida a leitura de documento ou a

exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima

de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência a outra parte. Ainda com referência a letra do

artigo 479, do CPP, o parágrafo único traz definição jurídica da proibição. A saber.

Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

Por fim, as partes têm o direito, a qualquer momento, pedir ao orador que

indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, bem como

a faculdade dos jurados solicitar-lhe esclarecimentos do fato alegado (art. 480, do

CPP).

Ao juiz presidente compete à dissolução do Conselho, ordenando a

realização das diligências entendidas necessárias, se não puder ser realizada

imediatamente, reconhecida como essencial para o julgamento da causa.

5.3 Fim do libelo e da contrariedade ao libelo

Uma das medidas que visa assegurar uma maior agilidade aos processos no

júri é o fim do libelo e da contrariedade ao libelo. Esta é a constatação de Guilherme

de Souza NUCCI.44 Realmente, como o rito em comento é especial e por isso traz

uma série de formalidades ao procedimento a reforma visa dar mais agilidade ao

processo no intuito dar uma prestação jurisdicional mais célere.

A idéia central relembrada pelo autos é a elaboração de relatório escrito do

processo pelo juiz, a ser oferecido ais jurados em plenário como prevê o art. 423, II,

do CPP.45

44 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008, p. 154. 45 BRASIL. Lei n. 11689, de 9 de junho de 2008. Altera os dispositivos do Decreto-Lei n. 3689, de 3

de outubro de 1941 – Código de Processo Penal – relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. “Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente: II - fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri.

5.4.QUESITOS (nova sistemática e sua concentração)

Consta do Código de Processo Penal que “os quesitos serão redigidos em

proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser

respondido com suficiente clareza e necessária precisão.” Da mesma forma, “na sua

elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões

posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações

das partes”. Este é o contexto.

Adriano MARREY lança importante reflexão em sua obra dizendo em suma

que os quesitos não devem ser formulados negativamente. Neste sentido, cita, José

Frederido MARQUES lembrando que: ‘as proposições simultaneamente

interrogativas e negativas podem causar confusão no espírito doa jurados sobre a

maneira de enunciarem o seu pensamento ou ocasionar dúvidas no tocante à

intenção da resposta’.46

Prossegue referido autor descrevendo que: “Ao jurado leigo uma resposta

positiva pode anular em forma negativa e uma reposta negativa pode ensejar uma

conclusão positiva, em razão da existência de duas negativas”. E, portanto, conclui,

que: “Com isso, o julgamento pode se tornar ambíguo”.

Corroborando com este raciocínio veja o aresto do Supremo Tribunal

Federal:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. JÚRI. QUESITOS. FÓRMULA NEGATIVA. NULIDADE ABSOLUTA. SENTENÇA CONTRADITÓRIA. 1. A redação do sexto quesito, redigido com os advérbios de negação não e nem, causou perplexidade aos jurados. O que enseja a nulidade absoluta do quesito. Precedentes. A lei processual recomenda que os quesitos sejam redigidos em proposições simples e bem distintas para que as respostas dos jurados sejam claras (CPP, art. 484, VI). 2. A sentença do juiz mostra-se contraditória porque proclama que o réu tem péssimos antecedentes e se trata de pessoa violenta. E em seguida, afirma que não tem elementos para aferir a conduta social e a personalidade do réu. Inconsistente é a decisão porque o Júri condenou o réu por homicídio p privilegiado-qualificado e a sentença afirmou que o motivo do crime foi de somenos importância e não beneficia o acusado. O julgamento deve ser anulado para que outro seja realizado. HABEAS conhecido e deferido. (STF, 2ª Turma. HC 82410/MS. Ministro Nelson Jobim. DJ, 21-03-2002, p. 72).

46 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 426.

5.5 FORMAÇÃO E LEITURA

Neste sentido, ensina Guilherme de Souza NUCCI dizendo que quesito

“trata-se de uma pergunta ou indagação, que demanda, como respostas, a emissão

de uma opinião ou juízo”.47 E antes da reforma para não provocar nulidade à

quesitação as perguntas deviam versar sobre:48

a) autoria e materialidade;

b) letalidade;

c) tese da defesa relativa à desclassificação;

d) tese da defesa relativa às causas de exclusão de ilicitude;

e) teses da defesa relativa às causas de exclusão de culpabilidade;

f) tese referente ao homicídio privilegiado (Súmula 162 do STF);

g) qualificadoras (um quesito para cada uma);

h) causas de aumento e de diminuição (exceto a tentativa);

i) agravantes genéricas;

j) atenuantes alegadas;

k) atenuante genérica;

Hoje a idéia da reforma do CPP traz à concentração dos quesitos para

facilitar o procedimento. Está é a constatação de Guilherme de Souza NUCCI. 49

Assim, pela nova sistemática as perguntas versam sobre:

I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação;

III – se o acusado deve ser absolvido;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena

reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação.

47 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 3 ed. Ver. E atual e amp. –

São Paulo: RT, 2004, p. 743. 48 cf. MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 426. 49 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008, p. 27.

Aqui uma importante mudança! Havendo resposta negativa de 3 (três) dos 7

(sete) jurados a qualquer dos quesitos referidos nos itens I e II encerra-se a votação

com a absolvição do acusado.

Por outro lado, se a resposta for afirmativa por parte de 3 (três) jurados aos

quesitos de materialidade e autoria ou participação do fato o juiz formulará um

quesito com a seguinte redação (art. 483, §2º, do CPP): “O jurado absolve o

acusado?”. Acaso decidam os jurados pela condenação o julgamento prossegue

devendo ser formulados quesitos sobre:

I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas

na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a

acusação.

Está previsto que para cada réu será feito uma série de quesitos para cada

crime.

Aqui cabe um alerta que na hipótese do júri desclassificar para outro crime

de sua competência, certamente o tribunal continua na competência de julgar. Por

outro lado, havendo a desclassificação para outro crime que não seja de sua

competência e diz qual o crime (desclassificação imprópria), cabe ao Juiz Presidente

dar a sentença, ficando vinculado ao crime afirmado pelos jurados. Se o júri não

afirma qual o outro crime (desclassificação própria), cumpre ao juiz presidente dizer

qual e proferir a decisão.

Se o Júri absolver o crime doloso contra a vida, o crime conexo deve ser

julgado pelo Tribunal do Júri.

Feito isso, o juiz presidente indagará às partes se há algum requerimento ou

reclamação a fazer, constando em ata as ocorrências. Não havendo a dúvida “o juiz

presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do

acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser

procedida a votação” (art. 485, do CPP). Antes da votação juiz presidente explicará

o procedimento mandando distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel

opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a

palavra não.

Visando assegurar o sigilo das votações o oficial de justiça recolherá as

cédulas correspondentes aos votos e, por conseguinte, as não utilizadas. Ao término

de cada votação de quesito será revelado o resultado do julgamento com registro

em ata. Constará do termo ainda a conferência das cédulas não utilizadas. Todas as

decisões são aclamadas pela maioria de votos.

O legislador ainda pensou na hipótese de haver contradição entre quesitos.

Nestes casos o juiz presidente submeterá novamente à votação os quesitos a que

se referem à sobredita contradição.

6. SENTENÇAS

6.1. Condenatória

A sentença a ser proferida tem por base a decisão do Conselho de Sentença

com o pronunciamento do juiz presidente. Na visão de Adriano MARREY “dispensa

tal sentença um prévio relatório do processo, que já se encontra na sentença de

pronúncia”.50

Contudo, vale dizer que como qualquer decisão judicial necessita de

fundamentação conforme comando constitucional previsto no art. 93, IX, da CF:

IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Portanto, com os fundamentos de fato e de direito o juiz presidente na sala

secreta de votação à vista do Termo de Votação encerrado e assinado pelos jurados

declarará a condenação, absolvição do réu ou a desclassificação do crime lendo o

comando em plenário.

A seguir, será visto cada uma dos comandos judiciais.

6.2 Condenatória

Como está previsto no art. 492, do CPP proferida a sentença o juiz

condenará o réu à imputação do crime fixando a pena-base no sistema trifásico.

Primeiro, fixa-se a pena-base, obedecido o disposto no art. 59, do CP. Segundo,

50 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 395.

consideram-se as circunstâncias atenuantes e agravantes; incorporando-se ao

cálculo final as causas de diminuição e aumento.

6.3 Absolvição

Adriano MARREY lembra que no processo do júri quem decide é o Conselho

de Sentença. Prossegue afirmando que ao juiz presidente compete dar forma e

sentido jurídico ao veredicto dos jurados.51 Assim é que se o réu estiver preso,

sendo sentenciada sua absolvição, será expedido alvará de soltura. Se não for o

caso o juiz mandará revogar as medidas restritivas provisoriamente decretadas. Ou,

ainda, imporá medida de segurança cabível quanto tratar-se de réu inimputável, será

substituída a pena.

6.4 Desclassificação

A hipótese de desclassificação tem novo formato, pois, compete ao juiz

presidente, proferir a sentença aplicando a medida cabível ao delito de menor

potencial ofensivo de acordo com a Lei n. 9099/95.

Ainda havendo desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra

vida será julgado pelo juiz presidente.

6.5 Fim do protesto por novo júri

Tratava-se de um recurso especial previsto no CPP antes da reforma contra

decisão tomada pelo Tribunal do Júri por imposição ao réu de pena superior ou igual

a 20 anos.

51 MARREY, Adriano. op. cit., 1997, p. 385.

Com a alteração legislativa referido recurso foi extinto do rol de possibilidades. Neste

sentido, Guilherme de Souza NUCCI comemora esta alteração relembrando que

pelo sistema anterior se a pena fosse igual ou superior 20 anos era necessário um

novo julgamento. Com a alteração do CPP o autor aponta que os magistrados

podem individualizar a pena podendo para tanto ultrapassar os 20 anos, se for o

caso. Lembra ainda que tal situação vai impedir a repetição do caso ocorrido no

assassinato da missionária Dorothy Stang, em que um dos acusados, Valtamiro

Bastos de Moura, foi absolvido em segundo julgamento após ter sido condenado a

30 anos de prisão.52

52 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. cit., 2008, p. 127.

7. CONCLUSÃO

Ao longo da argumentação teórica buscou-se discorrer à exaustão todos os

assuntos propostos nesta monografia. Além da análise dos artigos do código

ampliou-se a discussão trazendo à baila alguns exemplos práticos da tramitação no

Tribunal do Júri.

Para que isso ocorresse com perfeição à temática foi tratada tendo como

fundamento a doutrina e a jurisprudência. Isso realmente trouxe um resultado

interessante ao trabalho vez que houve um verdadeiro entrelaçamento teórico à

matéria processual.

Outra questão relevante é que o Código de Processo Penal foi editado em 3

de outubro de 1941 pelo Decreto-Lei n. 3689. Assim, evidente que a realidade da

época permitia todo esse ritual processualístico, pois há que se constar que o

procedimento especial do júri certamente é um dos mais metódicos existentes. À

vista disto, percebe-se que a idéia central da reforma do CPP é corrigir falhas,

simplificar formas e até dar maior celeridade à prestação jurisdicional.

O que se pode chamar de a grande novidade da reforma é a: (i)

concentração de todos os atos em uma única audiência; (ii) a imposição legal de 90

dias para encerramento da instrução; (iii) a redução para 18 anos da idade mínima

dos jurados; (iv) a hipótese de absolvição sumária do acusado; (v) extinção do

protesto por novo júri. Contudo, juristas argumentam que dificilmente as duas

primeiras partes da reforma serão cumpridas, pois coadunam da opinião que a lei

por si só não tem força de mudar a realidade das coisas. Essa é a opinião de Ivan

Luiz Marques da Silva e Guilherme de Souza Note que entendem de forma uníssona

que há falta de estrutura ao Estado que não aparelha suficientemente o Poder

Judiciário.1 2 E sabe-se que diariamente são múltiplas ocorrências policiais em uma

sociedade que demanda cada vez mais por justiça em todos os níveis quer seja

social, econômica, política e judiciária. De tudo, conclui-se que, isoladamente, o

esforço do legislativo em alterar a lei parece que não resolverá o problema.

Certamente o Estado Brasileiro em sua tripartição de poderes precisa repensar sua

1 In, A SILVA, Ivan Luiz Marques. Reforma Processual Penal. São Paulo: RT, 2008. 2 In, NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008.

infraestrutura e a distribuição da justiça. Sempre se ouve no popular que a: “Justiça

tarda mas não falha.” Contudo nunca é demais lembrar que: “Justiça tardia não é

Justiça”. Daí a preocupação do legislador constitucional em trazer respostas céleres

aos litigantes em um prazo médio com o comando de garantir “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (art. 5º, LXXVIII, da CF)

(grifamos).

De tudo, sabe-se que toda reforma é vista com ressalva porque tende a

romper com um sistema anteriormente utilizado. Mas, nem o sistema que passou

nem o atual são perfeitos. Pois, todos têm suas falhas e brechas. Enfrentar a

realidade da aplicação da lei processual penal ao caso concreto é matéria e

competência dos Tribunais Superiores. Cabe sim, a jurisprudência, orientar o

sistema para o que deve ser entendido neste ou naquele caso. Ademais disso,

necessário frisar que “jurisprudência” significa a “prudência do direito” realizada no

exercício da interpretação reiterada que os tribunais dão à lei. Exatamente situação

que ocorrerá com a reforma do Código de Processo Penal relativa ao trâmite dos

processos no Tribunal do Júri com a realidade dos casos concretos.

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