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JF | 3 Que se pode impor mais aos trabalhadores portugueses, grupo em que os professores se incluem e onde têm merecido um tratamento particularmente violento? MÁRIO NOGUEIRA (Secretário-Geral da FENPROF) editorial Em luta, pelo direito de sermos felizes! A troika está em Portugal para avaliar o grau de concreti- zação das medidas que impôs e as suas consequências. Não precisava de se incomodar com a viagem, pois o governo PSD/CDS não aplica as medidas contrariado ou por força do compromisso, mas porque se enquadram nas suas políticas, mesmo sem crise como, aliás, já esclareceu Pas- sos Coelho. Quanto às consequências, estão à vista: desemprego, empobrecimento, emigração… tudo como previsto e desejado. O que dirá a troika já todos sabemos. Que Portugal está a cumprir, que estes sacrifícios são necessários para superar as dificuldades e que, agora que estamos no bom caminho, não vamos desperdiçar o que já foi feito, desistindo. Pelo contrário, são só mais uns sacri- ficiozinhos… e a espiral não pára numa louca correria que nos está a levar à desgraça. Que se pode impor mais aos trabalhadores portugueses, grupo em que os professores se incluem e onde têm merecido um trata- mento particularmente violento? Temos as carreiras congeladas, o tempo de serviço a não ser contado, o salário reduzido, ao subsídio de Natal passado foi subtraído metade e do próximo, como do de férias, não restará nada… os impostos aumentaram, os descontos para fins sociais também, os requisitos para aposentação agravaram-se mas as pensões diminuíram, o custo de vida aumenta a olhos vistos (combustíveis, transportes, saúde, educação, alimentação…)… mas já se anuncia mais: em nome de uma alegada harmonização entre público e privado, o governo pretende aplicar as regras de mobilidade geográfica forçada, de flexibilidade e adaptabilidade dos horários de trabalho, de criação de banco de horas (já não quer, por exemplo, uniformizar no que respeita ao ingresso nos quadros, à salvaguarda dos subsídios ou à manutenção, sem cortes, dos salários). Anuncia- -se também para breve a revisão do estatuto da carreira docente e, em baixa, das tabelas salariais! O que pode, então, acontecer mais? Se tivermos em conta a receita da troika e a disposição do governo só mais do mesmo: mais desemprego (em resultado de mais mega-agrupamentos e encer- ramentos de escolas, da revisão curricular em curso e de outras medidas como o aumento do número de alunos por turma), mais reduções salariais, agravamento dos horários de trabalho, perda de mais direitos… Há ainda quem ache que isto não está a acontecer e que, quem o afirma, exagera; quem ache que este caminho é inevitável; quem pense que em breve estaremos de novo a crescer; quem já esteja resignado e/ou tenha desistido do combate; quem procure passar por entre os pingos da chuva… mas são muitos os que nunca de- sistiram de lutar pelo que é justo, pelo que é merecido, pelo que é possível e necessário, pelo que é futuro! É deste lado, do lado dos que lutam, que a história se tem escrito e continuará a escrever. Nem sempre foi fácil, como agora também não é, mas é nestes momentos, em que é preciso ser corajoso que os povos se unem e se libertam. Sempre foi assim, sendo que, também hoje, é por direitos fundamentais que lutamos: o direito de sermos respeitados e o direito de sermos felizes no presente e no futuro! Jornal da FENPROF | Propriedade, Redação e Administração: Federação Nacional dos Professores | Rua Fialho de Almeida, 3 | 1070-128 LISBOA | Tels.: 213819190 - Fax: 213819198 E-mail: [email protected] | www.fenprof.pt | Diretor: Mário Nogueira | Chefe de Redação: Luís Lobo | [email protected] | Conselho de Redação: Abel Macedo (SPN), António Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Luís Lobo (SPRC), Manuel Grilo (SPGL), Manuel Nobre (SPZS), Nélio de Sousa (SPM) | Coordenação ténica e apoio à Redação: José Paulo Oliveira (jornalista) | [email protected] | Paginação e Grafismo: Tiago Madeira | Revisão: Luís Lobo | Fotos: Jorge Caria e Arquivo FENPROF | Impressão: MULTIPONTO, S.A. | Tiragem média: 58.000 ex. | De- pósito Legal: 3062/88 | ICS 109940 | NIPC: 501646060 | Edição, Distribuição e Publicidade: EDITPROF – Publicações, LDA | NIPC: 509434720 | Capital Social: 5.000,00 euros | Registo: Conservatória do Registo Comercial – R.N.P.C. Lisboa | Sede: R. Fialho de Almeida, n.º 3 – 1070 Lisboa. O “JF” está aberto à colaboração dos professores, mesmo quando não solicitada. A Redação reserva-se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicar quaisquer artigos, em função do espaço disponível. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. ficha técnica Em foco 04 Revisão do diploma de concursos e colocações do pessoal docente Propostas da FENPROF Currículos 06 Revisão da estrutura curricular: Posição da FENPROF sobre o documento do MEC 10 Mitos sobre revisão da estrutura curricular… Marco Rosa Gestão 11 FENPROF promoveu debate “Que lugar para a democracia?” 13 Projeto de decreto-lei para alteração ao regime jurídico de autonomia, adminis- tração e gestão das escolas Parecer da FENPROF Legislação laboral 18 Apreciação pública A FENPROF e a alteração ao regime de horário de trabalho Precariedade 20 Uma realidade que atinge fortemente os professores 22 “24 horas contra a precariedade e o desemprego” Vigília à porta do MEC 29 Desemprego e subemprego: mais de 1.160.000 pessoas JPO Calendário escolar 32 MEC insiste na discriminação da Educação Pré-Escolar Ação 34 11 de fevereiro Terreiro do Povo contra a precariedade e o desemprego 35 11 de fevereiro Professores de viva voz no XII Congresso da CGTP-IN Culturais 39 Fernando Lopes-Graça Uma Antologia (Im)possível Trabalhadores enchem o Terreiro do Povo Eram milhares que, literalmente, entravam pelos 4 cantos da Praça. Foram milhares, muito milhares os que, a uma só voz, exigiram uma mudança profunda de políticas. A exploração acrescida que está a ser imposta aos portugueses e o empobrecimento que daí resulta são causa e consequência de uma estratégia que visa desvalorizar o trabalho para encher ainda mais os bolsos do capital. Os trabalhadores deixaram muito claro que rejeitam e repudiam esse caminho! O acordo de agressão aos trabalhadores Mais exploração laboral, agravamento e desregulação dos horários de trabalho, flexibilidades e mobilidades forçadas, menos apoios sociais, apesar de maiores descontos… a UGT juntou-se aos que exploram e aos que, ao seu serviço, desenvolvem políticas antissociais celebran- do, com eles, um acordo que agride quem trabalha. Com “amigos” destes, aos trabalhadores resta reforçarem a luta pelos seus direitos, pelos seus salários, pelo seu futuro… Há outro caminho? No fecho desta edição do JF arrancava a Semana de Luta da Administração Pública, promovida pela Frente Comum, e que previa, nos últimos dias de fevereiro e nos primeiros de março, a realização de debates, de uma vigília junto à residência oficial do PM, de ações de esclarecimento junto da população, de ações distritais no âmbito da jornada europeia, da votação de moções para entrega na AR e de um plenário nacional de sindicalistas com deslocação ao Ministério das Finanças. Como referiu à comunica- ção social a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, “os problemas dos trabalhadores do setor público e do setor privado são os mesmos: o aumento do custo de vida, os impostos, os problemas sociais. Por isso, esta semana de luta pode servir de preparação para criar uma dinâmica para a greve geral” de 22 de março. Às políticas frenéticas de destruição do emprego público/regime de contrato de trabalho e de ataque às funções sociais do Estado, os trabalhadores e as suas legítimas e representativas organizações respondem assim: com res- ponsabilidade, com firmeza, com o protesto e a luta. Há outro caminho? | JPO JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

Fevereiro de 2012

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Jornal da FENPROF - Fevereiro de 2012

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Que se pode impor mais aos trabalhadores portugueses, grupo em que os professores se incluem e onde têm merecido um tratamento particularmente violento?

MÁRIO NOGUEIRA (Secretário-Geral da FENPROF)

edito

rial

Em luta, pelo direito de sermos felizes!

A troika está em Portugal para avaliar o grau de concreti-zação das medidas que impôs e as suas consequências. Não precisava de se incomodar com a viagem, pois o governo PSD/CDS não aplica as medidas contrariado ou por força do compromisso, mas porque se enquadram

nas suas políticas, mesmo sem crise como, aliás, já esclareceu Pas-sos Coelho. Quanto às consequências, estão à vista: desemprego, empobrecimento, emigração… tudo como previsto e desejado.

O que dirá a troika já todos sabemos. Que Portugal está a cumprir, que estes sacrifícios são necessários para superar as dificuldades e que, agora que estamos no bom caminho, não vamos desperdiçar o que já foi feito, desistindo. Pelo contrário, são só mais uns sacri-ficiozinhos… e a espiral não pára numa louca correria que nos está a levar à desgraça.

Que se pode impor mais aos trabalhadores portugueses, grupo em que os professores se incluem e onde têm merecido um trata-mento particularmente violento? Temos as carreiras congeladas, o tempo de serviço a não ser contado, o salário reduzido, ao subsídio de Natal passado foi subtraído metade e do próximo, como do de férias, não restará nada… os impostos aumentaram, os descontos para fins sociais também, os requisitos para aposentação agravaram-se mas as pensões diminuíram, o custo de vida aumenta a olhos vistos (combustíveis, transportes, saúde, educação, alimentação…)… mas já se anuncia mais: em nome de uma alegada harmonização entre público e privado, o governo pretende aplicar as regras de mobilidade geográfica forçada, de flexibilidade e adaptabilidade dos horários de

trabalho, de criação de banco de horas (já não quer, por exemplo, uniformizar no que respeita ao ingresso nos quadros, à salvaguarda dos subsídios ou à manutenção, sem cortes, dos salários). Anuncia--se também para breve a revisão do estatuto da carreira docente e, em baixa, das tabelas salariais!

O que pode, então, acontecer mais? Se tivermos em conta a receita da troika e a disposição do governo só mais do mesmo: mais desemprego (em resultado de mais mega-agrupamentos e encer-ramentos de escolas, da revisão curricular em curso e de outras medidas como o aumento do número de alunos por turma), mais reduções salariais, agravamento dos horários de trabalho, perda de mais direitos…

Há ainda quem ache que isto não está a acontecer e que, quem o afirma, exagera; quem ache que este caminho é inevitável; quem pense que em breve estaremos de novo a crescer; quem já esteja resignado e/ou tenha desistido do combate; quem procure passar por entre os pingos da chuva… mas são muitos os que nunca de-sistiram de lutar pelo que é justo, pelo que é merecido, pelo que é possível e necessário, pelo que é futuro!

É deste lado, do lado dos que lutam, que a história se tem escrito e continuará a escrever. Nem sempre foi fácil, como agora também não é, mas é nestes momentos, em que é preciso ser corajoso que os povos se unem e se libertam. Sempre foi assim, sendo que, também hoje, é por direitos fundamentais que lutamos: o direito de sermos respeitados e o direito de sermos felizes no presente e no futuro!

Jornal da FENPROF | Propriedade, Redação e Administração: Federação Nacional dos Professores | Rua Fialho de Almeida, 3 | 1070-128 LISBOA | Tels.: 213819190 - Fax: 213819198 E-mail: [email protected] | www.fenprof.pt | Diretor: Mário Nogueira | Chefe de Redação: Luís Lobo | [email protected] | Conselho de Redação: Abel Macedo (SPN), António Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Luís Lobo (SPRC), Manuel Grilo (SPGL), Manuel Nobre (SPZS), Nélio de Sousa (SPM) | Coordenação ténica e apoio à Redação: José Paulo Oliveira (jornalista) | [email protected] | Paginação e Grafismo: Tiago Madeira | Revisão: Luís Lobo | Fotos: Jorge Caria e Arquivo FENPROF | Impressão: MULTIPONTO, S.A. | Tiragem média: 58.000 ex. | De-pósito Legal: 3062/88 | ICS 109940 | NIPC: 501646060 | Edição, Distribuição e Publicidade: EDITPROF – Publicações, LDA | NIPC: 509434720 | Capital Social: 5.000,00 euros | Registo: Conservatória do Registo Comercial – R.N.P.C. Lisboa | Sede: R. Fialho de Almeida, n.º 3 – 1070 Lisboa. O “JF” está aberto à colaboração dos professores, mesmo quando não solicitada. A Redação reserva-se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicar quaisquer artigos, em função do espaço disponível. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.fi

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Em foco04Revisão do diploma de concursos e colocações do pessoal docente Propostas da FENPROF

Currículos06Revisão da estrutura curricular:Posição da FENPROF sobre o documento do MEC

10Mitos sobre revisão da estrutura curricular…Marco Rosa

Gestão11 FENPROF promoveu debate

“Que lugar para a democracia?”

13 Projeto de decreto-lei para alteração ao regime jurídico de autonomia, adminis-tração e gestão das escolasParecer da FENPROF

Legislação laboral18 Apreciação pública A FENPROF e a alteração ao regime de horário de trabalho

Precariedade20Uma realidade que atinge fortemente os professores

22“24 horas contra a precariedade e o desemprego”Vigília à porta do MEC

29Desemprego e subemprego: mais de 1.160.000 pessoasJPO

Calendário escolar32MEC insiste na discriminação da Educação Pré-Escolar

Ação3411 de fevereiroTerreiro do Povo contra a precariedade e o desemprego

3511 de fevereiroProfessores de viva voz no XII Congresso da CGTP-IN

Culturais39Fernando Lopes-GraçaUma Antologia (Im)possível

Trabalhadores enchem o Terreiro do PovoEram milhares que, literalmente, entravam pelos 4 cantos da Praça. Foram milhares, muito milhares os que, a uma só voz, exigiram uma mudança profunda de políticas. A exploração acrescida que está a ser imposta aos portugueses e o empobrecimento que daí resulta são causa e consequência de uma estratégia que visa desvalorizar o trabalho para encher ainda mais os bolsos do capital. Os trabalhadores deixaram muito claro que rejeitam e repudiam esse caminho!

O acordo de agressão aos trabalhadoresMais exploração laboral, agravamento e desregulação dos horários de trabalho, flexibilidades e mobilidades forçadas, menos apoios sociais, apesar de maiores descontos… a UGT juntou-se aos que exploram e aos que, ao seu serviço, desenvolvem políticas antissociais celebran-do, com eles, um acordo que agride quem trabalha. Com “amigos” destes, aos trabalhadores resta reforçarem a luta pelos seus direitos, pelos seus salários, pelo seu futuro…

Há outro caminho?No fecho desta edição do JF arrancava a Semana de Luta da Administração Pública, promovida pela Frente Comum, e que previa, nos últimos dias de fevereiro e nos primeiros de março, a realização de debates, de uma vigília junto à residência oficial do PM, de ações de esclarecimento junto da população, de ações distritais no âmbito da jornada europeia, da votação de moções para entrega na AR e de um plenário nacional de sindicalistas com deslocação ao Ministério das Finanças. Como referiu à comunica-ção social a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, “os problemas dos trabalhadores do setor público e do setor privado são os mesmos: o aumento do custo de vida, os impostos, os problemas sociais. Por isso, esta semana de luta pode servir de preparação para criar uma dinâmica para a greve geral” de 22 de março. Às políticas frenéticas de destruição do emprego público/regime de contrato de trabalho e de ataque às funções sociais do Estado, os trabalhadores e as suas legítimas e representativas organizações respondem assim: com res-ponsabilidade, com firmeza, com o protesto e a luta. Há outro caminho? | JPO

JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

EM FOCO4

A FENPROF reclama, há muito, a revisão destes quadros legais. As razões aduzidas pela FENPROF têm sido, essencialmente, relacionadas

com a necessidade de estabelecer regras que promovam a estabilidade dos docentes, de fixar critérios para a dotação dos quadros dos estabelecimentos de educação e ensino e de eliminar a possibilidade de, em virtude de determinadas regras que vigoram [ou por omissão], haver soluções que dependem de decisões arbitrárias e discricionárias que, tratando-se do acesso a emprego público e do desempenho de funções em escolas públicas, são de eliminar.

A FENPROF recorda que, na prática, des-de 2006, ano em que foram eliminados os concursos anuais para ingresso e mobilidade nos quadros, que, praticamente, não houve mais concursos. Realizou-se, em 2009, um concurso com essa finalidade, contudo, devido à divisão então imposta à carreira dos docentes, milhares de educadores e professores dos quadros foram impedidos de concorrer para efeito de mobilidade e, quanto a ingresso, os números são quase simbólicos: 396 docentes ingressaram nos quadros das escolas e agrupamentos. Estes 396 docentes acabam por ser os que, nos últimos 6 anos, “substituíram” os cerca de 23.000 que se aposentaram. Desta realidade, resulta um grande aumento da precariedade na profissão docente, com milhares de educadores e professores contratados a termo, alguns já com mais de 20 anos de serviço, e o corpo docente das escolas a tornar-se muito instável, o que prejudica a sua organização pedagógica e o seu funcionamento.

A este propósito, a FENPROF recorda o teor da Resolução Parlamentar sobre a inte-gração excecional dos docentes contratados com mais de 10 anos de serviço, apresen-tada pelo CDS em 7 de abril de 2010 e que

compromete, em particular, todos os que a votaram favoravelmente. Não corresponden-do às propostas da FENPROF – que, nesta matéria, defende um regime de ingresso em quadro, de forma semelhante ao que é praticado no setor privado – reconhece-se que, a ser adotada, transitoriamente, uma solução destas, seria um sinal importante dado pelo governo no sentido de resolver este grave problema que afeta os docentes e as escolas públicas.

A FENPROF considera, então, indispen-sável a realização, ainda em 2012, de um concurso para mobilidade e ingresso (con-curso interno e concurso externo), para além, claro está, do concurso para contratação. Este concurso, aliás, por compromisso da anterior ministra, deveria ter-se realizado em 2011, o que não aconteceu.

Tem sido preocupação da FENPROF o facto de necessidades permanentes das escolas e agrupamentos estarem a ser supridas por docentes contratados a termo, pois trata-se de um abuso e de uma ilegalidade; as propostas que o MEC apresentou em 17 de fevereiro não vão no sentido de integrar nos quadros (na carreira) esses docentes.

Ou seja, se dúvidas restassem quanto às consequências de inúmeras medidas que estão a ser tomadas pelo MEC na sequência da asfixia orçamental imposta à Educação pelo OE para 2012 (encerramento de escolas, criação de mega-agrupamentos, revisão da estrutura curricular, aumento do número de alunos por turma, extinção de projetos das escolas…), elas estão refletidas no documento apresentado pelo Ministério: eliminação de milhares de postos de trabalho, remetendo para o desemprego milhares de docentes contratados e agravando a instabilidade dos docentes dos quadros, com a consequente criação de, também, milhares de horários--zero nas escolas!

• 1.º Ciclo do Ensino Básico: Máximo de 19 alunos por turma, sendo de 15 caso incluam alunos com NEE, no máximo de 2; turmas com máximo de dois anos de escolaridade e apenas em situações excecionais.

• 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico: Máximo de 25 alunos por turma; a nenhum docente deverá ser atribuído mais do que 5 turmas, nem mais de 3 níveis / disciplinas diferentes; máximo de 20 em turmas que incluam alunos com NEE, no máximo de 2.

• O concurso deverá ter, em todas as suas modalidades, periodicidade anual;

• As necessidades permanentes deverão ser satisfeitas por docentes do quadro (que o MEC designa de carreira) e as necessidades temporárias por docentes contratados;

• A afetação de docentes a estabele-cimentos dentro de um agrupamento de escolas deverá ter lugar de acordo com a sua ordenação, respeitada a graduação profissional, e obedecer às preferências manifestadas.

• Em todos os concursos (interno ou externo) e em todas as modalidades de

Revisão do diploma de concursos para seleção, recrutamento e permuta de pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário

Posição e propostas da FENPROF

Se dúvidas restassem quanto às consequências de inúmeras medidas que estão a ser tomadas pelo MEC na sequência da asfixia orçamental imposta à Educação pelo OE para 2012, elas estão refletidas no documento apresentado pelo Ministério: eliminação de milhares de postos de trabalho, remetendo para o desemprego milhares de docentes contratados e agravando a instabilidade dos docentes dos quadros, com a consequente criação de, também, milhares de horários-zero nas escolas!

contratação, o critério para a ordenação de candidatos deverá ser a graduação profissional. A FENPROF recusa o recurso a entrevistas ou a critérios que permitam decisões arbitrárias, recordando que se tra-ta de um concurso público para acesso a emprego público;

• A qualificação profissional dos docentes da Educação Especial deverá considerar-se obtida na data de conclusão do curso de for-mação especializada, nos termos do artigo 56.º do ECD. A FENPROF defende ainda a criação de um grupo de recrutamento para a Intervenção Precoce (IP);

• É necessário clarificar que os docentes colocados em escolas das Regiões Autó-nomas são candidatos a concurso interno para efeitos de transferência, assim como para destacamento para outras escolas ou agrupamentos do país;

• Ao fim de três anos de serviço, os docentes deverão ser integrados nos quadros. A FENPROF admite negociar um regime de transição que, até final da atual legislatura, permita atingir este desiderato;

Revisão dos DL N.º 20/2006, de 31/01, DL N.º 35/2077 de 15/02, DL N.º 51/2009, de 27/02 e Portaria 622/92, de 30/06

A FENPROF denuncia estas medidas como resultando de políticas que não vi-sam promover a qualidade do ensino, a boa organização pedagógica das escolas ou a estabilidade dos docentes, que pretendem satisfazer, por um lado, as imposições da troi-ka, por outro, as opções políticas do governo.

É neste quadro que a FENPROF, que emitirá um parecer após a reunião que se realiza em 27 de fevereiro de 2012 e depois de esclarecidas as dúvidas que apresenta no final, explicita as suas propostas para a realização e revisão do atual regime de concursos de docentes:

• Abertura de concurso interno e con-curso externo em 2012, com efeitos em 1 de setembro de 2012;

• Dotação dos lugares nas escolas e agrupamentos de acordo com os critérios seguintes:

• Educação Pré-Escolar: 1 docente até 19 crianças; 1 docente por cada 10 crianças em grupos homogéneos de crianças com 3 anos e em grupos heterogéneos que incluam crianças com NEE.

• Os horários, para efeitos de contra-tação, deverão ser colocados a concurso tendo em conta os seguintes intervalos: completos (a partir de 20 horas, devendo as horas em falta ser atribuídas ainda que em componente não letiva de estabelecimento); 16 – 19; 11 – 15; 6 – 10;

• Para acesso à contratação, a FENPROF considera que, em primeira prioridade, de-verão candidatar-se os docentes que, tenham prestado serviço em escolas públicas (ainda que não dependentes do MEC, outros minis-térios, Regiões Autónomas, ensino superior e EPE) em, pelo menos, um dos últimos 3 anos. A FENPROF recusa em absoluto a in-tegração na primeira prioridade de docentes provenientes do ensino privado, ainda que de colégio com contrato de associação. São realidades diversas, com processos de sele-ção completamente diferentes, pelo que é inaceitável ser dado tratamento igual para este efeito. Preparar-se-á o MEC para apresentar um projeto em que o acesso a lugares em colégios particulares com contrato de associação será feito através de concurso público?

• A agora designada reserva de recruta-mento deverá manter-se até se ter esgota-do. Assim, a contratação resultante de oferta de escola apenas deverá ter lugar quando a lista definitiva de ordenação no respetivo grupo de recrutamento se tiver esgotado ou quando os horários tiverem sido recusados duas vezes. Não tem sentido que a reserva de recrutamento encerre em 30 de outubro;

• As colocações através da reserva de recrutamento deverão fazer-se cicli-camente, sendo previamente estabelecidas as datas para colocação. Os docentes serão colocados, nessas datas, de acordo com a sua ordenação e as preferências manifestadas;

• A FENPROF defende que a seleção de docentes para os TEIP, para as escolas com contrato de autonomia, bem como para as escolas de ensino artístico e ensino artístico especializado, nomeadamente, para os docentes das disciplinas não específi-cas, se faça no âmbito das regras gerais de concurso para contratação e não por “oferta de escola”. Também os docentes de Técnicas Especiais deverão ser colocados em sequência de concurso que respeite as regras gerais estabelecidas, tendo em conta a especificidade da situação;

• Os docentes com habilitação própria deverão poder ser candidatos ao concurso, sendo ordenados em prioridade seguinte à dos docentes profissionalizados. A estes docentes deverá ser garantido, pelo MEC, o acesso à profissionalização até final da legislatura;

• Os docentes contratados profissiona-lizados deverão vencer pelo índice salarial 167 que corresponde ao do 1.º escalão da carreira. Os restantes índices salariais apli-cados a docentes contratados deverão ser atualizados na mesma proporção deste.

www.fenprof.pt

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HOMENAGEM6

JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

6 CURRÍCULOS6 JF |7

A FENPROF entregou (31/01/2012) no MEC a sua posição sobre a proposta mi-nisterial de revisão da estrutura curricular. Apesar da exiguidade do tempo que o MEC atribuiu para o debate de matéria de tão elevada importância, a FENPROF desenvolveu um amplo trabalho, que irá prosseguir, junto dos docentes, das escolas e de associações profissionais e científicas, que muito contribuem para as posições que, agora, assume. A própria abertura de um espaço, na sua página Web, para o envio de posições pelos professores, ampliou a possibilidade de participação destes – e não apenas – e o número de contributos recebidos.

A chamada Revisão da Estrutura Curricular, que o MEC colocou em discussão pública durante pouco mais de um mês, assenta num

documento que, para além de umas quantas frases feitas, contém quatro ou cinco con-

ceitos não explicitados, nem enquadrados, e uma descrição de dezasseis medidas (algumas são, na verdade, “não medidas”) que nada explicitam relativamente ao que vem inscrito nos três quadros das matrizes curriculares dos 2º e 3º Ciclos e do Secundário que lhe servem de anexos.

Fazendo tábua rasa do aumento da es-colaridade obrigatória para doze anos, o documento visa dar continuidade aos ajus-tamentos efectuados pelo Decreto-Lei nº 94/2011, de 3 de agosto, pretendendo ir mais além, através de medidas que ajustam o currículo às necessidades de um designado ensino moderno e exigente, tendo em vista uma melhoria dos resultados escolares dos alunos e uma gestão racional dos recursos. Não será por acaso que os cortes ditos cirúr-gicos na estrutura curricular se destinam a corresponder à meta orçamental de redução de 102 milhões de euros decorrente da con-cretização deste mesmo objetivo.

O texto do MEC nunca explicita o que quer

dizer com ensino moderno, numa época em que o pós-moderno já é, ele próprio, pouco moderno. No entanto, se tivermos em aten-ção as declarações e as reflexões escritas do ministro da Educação, não andaremos longe da verdade se procurarmos identificar este vago e muito pouco rigoroso conceito com o “No Child Left Behind Act”, aprovado pela administração americana em 2001, no início do primeiro mandato de George W. Bush, que postulava o “Test and Choice” como o alfa e o ómega da política federal americana de educação, traduzida pelo atual ministro da Educação como a liberdade de escolha e exames ao virar de cada esquina do percurso escolar dos alunos.

A este respeito, e colocando a ênfase no se-gundo binómio desta referida visão moderna da educação, “Choice and Accountability”, Diane Ravitch (conselheira, e secretária assistente, do secretário federal para a Educação do governo republicano de George Bush entre 1991 e 1993), no seu artigo “In Need of a Renaissance”,

escreve: “sempre quis acreditar que a ‘escolha e a prestação de contas/responsabilização’ iriam produzir grandes resultados. […Porém], acabei por chegar à conclusão que a ‘prestação de contas’, tal como a lei federal prevê, não está a fazer subir os padrões de ensino mas a desqualificar as escolas enquanto os estados e os distritos se empenham em alcançar me-tas irrealistas. […] As nossas escolas não irão melhorar se nos continuarmos a focar apenas na leitura e na matemática, ignorando os outros estudos que são elementos essenciais de uma boa educação. […] As nossas escolas não irão melhorar se passarmos a vida a reorganizar a sua estrutura e forma de gestão sem olhar para o seu objecto principal”. Aparentemente, a filia do MEC pelo testing não foi suficiente para levar a qualquer processo de avaliação de um conjunto de medidas antiquadas e com resultados catastróficos onde quer que foram aplicadas.

Para além da declaração de fé num ensino moderno mais ou menos antiquado, o docu-mento promete, para um futuro indefinido, reformas curriculares mais profundas (que nível de profundidade atribui o MEC a esta sua revisão?) que permitirão melhorar significativa-mente o ensino do que diz serem disciplinas fundamentais. Não se explicita quais são, mas fica a ideia de que, se a pressão orçamental futura o exigir, rapidamente perderão tal es-tatuto. Estamos, mais uma vez, em presença de conceitos sem rigor nem operacionalidade! Se a isto juntarmos a intenção de reduzir a dispersão curricular, centrando mais o currículo em alegados conhecimentos fundamentais, torna-se clara a total ausência de lógica interna do documento: a medida mais emblemática consiste precisamente na partição de uma disciplina em duas!

São ainda produzidas mais duas declara-ções “fundamentais”. Por um lado, anuncia--se que os pressupostos (completamente desconhecidos) que orientam as medidas propostas assentam na definição de objetivos claros, rigorosos, mensuráveis e avaliáveis (sem que, em algum momento se diga quais são), reorientando o ensino para os conteúdos disciplinares centrais (que, contrariamente ao que deveria ter acontecido, não foram previa-mente definidos). Por outro, proclama-se que esta revisão tem ainda, como um dos seus princípios, a redução do controlo central do sistema educativo, apostando na autonomia gradual das escolas, no profissionalismo e na liberdade dos professores relativamente aos métodos de ensino. Haverá certamente uma agenda escondida num qualquer canto do gigantesco MEC, uma vez que, no documento colocado em discussão pública, escrutinado ao milímetro, nada se consegue encontrar que dê verosimilhança a tal proclamação.

Em resumo, estamos perante um do-cumento proclamatório, sem qualquer rigor nas suas asserções e destinado a tapar, com peneira de rede larga, a imposição orçamental em matéria de cortes na educação.

Apreciação na especialidadeApesar da exiguidade do tempo que o MEC atribuiu para o debate de matéria de tão ele-vada importância, a FENPROF desenvolveu um amplo trabalho, que irá manter, junto dos docentes, das escolas e de associa-ções profissionais e científicas, que muito contribuem para as posições que, agora, assume. A própria abertura de um espaço, na sua página Web, para o envio de posições pelos professores, ampliou a possibilidade de participação destes – e não apenas – e o número de contributos recebidos.

Há uma ideia que atravessa boa parte desses contributos: as grelhas apresentadas pelo MEC, traduzindo-se num efetivo empo-brecimento do currículo, demonstram bem a visão do Governo sobre a matéria. Há uma intenção economicista que, de momento, sobreleva, mas está igualmente presente uma opção ideológica, a de que não se vê necessidade de, na definição de um currículo nuclear, contemplar diferentes dimensões desse mesmo currículo. A FENPROF, sem pôr em causa a importância das áreas que o MEC designa de essenciais, não aceita, contudo, a desvalorização de outras, o que, a acontecer, seria um fator relevante de pro-moção de iliteracia nos alunos, em relação às tecnologias e às artes.

A FENPROF considera, por fim, não serem desejáveis mudanças constantes que não re-sultam de qualquer processo avaliativo, como acontece neste caso. Não foi a constatação dos erros em processo de avaliação sobre o atual quadro de organização curricular que determinou esta revisão, mas o Orçamento do Estado para 2012 que impôs. Esta não é forma de atuação, mas tem sido assim que, ao longo dos anos, sucessivos governos têm agido, o que tem contribuído para o agra-vamento da crise que, reconhecidamente, teima em se arrastar na Educação.

Revisão da estrutura curricular:

Posição da FENPROF sobre o documento do MEC

Este processo de reorganização deverá desenvolver-se ao longo de um período de tempo suficientemente alargado, que a FENPROF propõe de um ano, evitando decisões precipitadas que poderão resultar em erros.

As medidas propostas pelo MEC: crítica e questionamentos.As dezasseis medidas propostas evidenciam, por si só, falta de rigor, tendência para a dispersão e ausência de fundamentação. Senão, vejamos:

Que condições serão dadas aos profes-sores para que a continuidade do apoio ao estudo no 1º ciclo, a par de outras atividades de enriquecimento curricular, não seja, de facto, uma não medida? Como é que, numa perspetiva de criar melhores condições para as aprendizagens, o MEC não dá qualquer sinal de poder vir a implementar a monodocência coadjuvada ou a constituição de equipas educativas, para além da possibilidade/ne-cessidade de inclusão do Inglês no currículo?

A obrigatoriedade do Inglês a partir do 5º ano contrasta com a sua ausência no currículo do 1º ciclo. Há coerência numa solução destas?

A substituição da EVT no 2º ciclo por duas disciplinas (Educação Visual e Educa-ção Tecnológica) de que se desconhecem os objetivos e os programas, contrariando a tese do MEC para a diminuição da dispersão, que outros objetivos tem, para além da pou-pança orçamental através do despedimento de professores? (Ainda por cima colocando a Educação Tecnológica numa parceria não explicitada com as TIC, de que se desconhe-cem também os objetivos e o programa).

O apoio ao estudo no 2º ciclo sem caráter obrigatório que objetivos tem? Cinco horas de “explicações” para alguns dos alunos será feita à custa de trabalho não letivo dos professores? E será que, sendo de frequência facultativa, esta atividade terá a adesão dos alunos que, provavelmente, dela mais necessitarão?

A antecipação das TIC, nas condições acima referidas, sem qualquer fundamen-tação credível e sem nenhuma indicação de fase transitória pode deixar uma geração de alunos sem acesso a estes conhecimentos, quando, ainda por cima, se sabe que as escolas do 2º ciclo dificilmente terão salas e outros meios adequados à sua lecionação, em número suficiente.

O reforço na Língua Portuguesa e Mate-mática perde-se, na maior parte das escolas, com o corte do Estudo Acompanhado. Que significa, pois, a aposta num alegado conhe-cimento estruturante?

Que estudos indicam que o desdobra-mento das Ciências da Natureza no 2º ciclo pode ser eliminado sem pôr em causa um ensino que deverá ser verdadeiramente experimental?

O reforço das ciências experimentais no 3º ciclo perde o seu significado com a me-dida nove, que prevê a alteração do modelo de desdobramento de aulas nas ciências experimentais do 3.º Ciclo, através de uma alternância entre as disciplinas de Ciências Naturais e de Físico-Química. Onde está a aposta no conhecimento científico?

Que significa, na prática, este tipo de

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8 CURRÍCULOS8

desdobramento alternado entre as Ciências Naturais e a Físico-Química? Não terá como efeito prático a anulação da medida anterior?

Para além de se admitir que o MEC con-sidera a História e a Geografia como fazendo parte de uma área essencial do 3º ciclo, o seu reforço, para além de insignificante, perde-se em muitas escolas com o desaparecimento das áreas curriculares não disciplinares. Para além disso, como fica o seu ensino valorizado, se se desconhece que alterações programá-ticas virão a ter lugar?

Como é possível eliminar uma disciplina, no caso, a Formação Cívica, que, por exemplo, no Ensino Secundário, ainda não existe sequer há um ano? O que aconselhou fazê-lo? Um simples golpe de vista?

A manutenção do reforço da carga horária da Física e Química e da Biologia e Geologia no Ensino Secundário é mais uma não medida. O que significa trazer o assunto à colação? Um elogio da comunidade escolar?

A atualização do leque de opções da Formação Específica no Ensino Secundário expressa-se como? Quais são as disciplinas? Quais os seus programas? Que oferta irão ter? O nome de uma eventual possibilidade, Programação Informática, destina-se a quê? A uma espécie de compensação para o tratamento dado às TIC?

A focalização da atenção do aluno no conhecimento fundamental através de uma melhor gestão do tempo de estudo no 3º ciclo, assim como a proposta de extinção da segunda disciplina de opção no final do secun-dário e a redução da carga horária semanal nas disciplinas de opção de cariz científico no 12º ano dos cursos científico-humanísticos, resulta num empobrecimento da formação e poderá também refletir-se no desempenho dos alunos no ensino superior. Esta alteração no secundário, já experimentada entre 2004 e 2007, obrigou à reintrodução da segunda opção como disciplina de frequência obri-gatória. Qual o significado destas medidas?

A eventual liberdade para a escola decidir da distribuição da carga horária ao longo dos ciclos e anos de escolaridade traduz-se em quê? Num ano, a História tem 3 segmentos e a Geografia 2 e no seguinte dá-se o inver-so? Será esta a liberdade de decisão? Se for assim, como será resolvida a situação de um aluno que, a meio de um determinado ciclo, ou mesmo de um ano letivo, tenha de mudar de escola, designadamente fora do agrupamento a que a sua pertence?

A introdução de provas de exame no 6º ano significa por si só maior rigor na avaliação? De que modo? O que muda na gestão do currículo e no acompanhamento dos alunos?

Para além destas, há medidas, como o corte de uma hora na Educação Artística no 9º ano, e a impossibilidade de a Educação Tecnológica e as disciplinas de oferta de escola poderem ser escolhidas pelos alunos que pre-tendam aprofundar os seus conhecimentos, que não merecem qualquer referência no

documento. Que, no entanto, não hesita em referir não medidas… Com que intuito? Por preconceito? Por o MEC não as considerar disciplinas dignas de serem referidas?

Os contributos da FENPROFPerante um documento desta natureza (pouco rigoroso, preconceituoso e desti-nado a justificar – a qualquer preço! – o corte orçamental de 102 milhões de euros) é difícil dar contributos parciais. Com este enquadramento dificilmente se cumpririam os objetivos que devem presidir a uma verdadeira reforma curricular. Esta terá de ser feita a partir da base (adaptar os ciclos e currículos à nova realidade dos 12 anos de escolaridade obrigatória e aos verdadeiros desafios que o país enfrenta que exigem a qualificação séria dos seus cidadãos) sem se sujeitar a constrangimentos que impõem uma revisão da estrutura curricular que não tem lógica nem fundamentação que não seja a financeira.

Teme a FENPROF que, deste processo, resultem quebras de qualidade pedagógica que se refletirão em quebras preocupantes da qualidade do próprio ensino, da educação e da formação, o que será muito negativo para a vida das futuras gerações e para o desenvolvimento e progresso do país.

Numa verdadeira reorganização curricular, havia que equacionar o papel da Educação Pré-Escolar, enquanto primeira etapa da Edu-cação Básica! Clarificar o papel que o governo pretende atribuir às áreas das expressões no 1.º Ciclo, o seu regime de docência e a pró-pria organização e carga letiva! Decidir onde encaixam as vias profissionais, tecnológicas e artísticas e a permeabilidade entre as várias vias! Também, como se devem organizar os ciclos neste novo quadro de uma escolaridade obrigatória de 12 anos, evitando a dispersão curricular que caracteriza hoje o 3º ciclo do ensino básico!

E quanto à avaliação dos alunos, seria indispensável discutir e estabelecer os modelos a adotar para o básico e secun-dário, para além do caminho mais simples, mas, igualmente, discutível, que são os exames de final de ciclo! Da mesma forma, também o papel ou mesmo a necessidade de provas de aferição! As medidas de acompanhamento e compensação dos alunos que correm o risco de ficar retidos são outro aspeto muito importante que fica esquecido nesta “revisão”! Assim como a relação entre a avaliação do final do secundário e o acesso ao ensino superior no novo enquadramento de escolaridade obrigatória de 12 anos!

Já em relação à educação para a cidadania não está garantida a sua transversalidade, tanto mais que se desconhecem os progra-mas, conteúdos e metas que se propõem como alternativa à Formação Cívica!

Neste novo quadro de escolaridade obri-gatória de 12 anos, fica sem se saber como

Professores entregaram Carta Aberta a Nuno Crato

Mais de duas centenas de ativistas e dirigentes sin-dicais concentraram-se junto à Escola Secundá-

ria da Quinta das Flores, em Coimbra, no passado dia 18 de janeiro, numa iniciativa organizada pelo Sindicato dos Professores da Região Centro, para protestar contra as medidas de-fendidas pelo Governo para a revisão da estrutura curricular dos ensinos básico e secundário. Medidas que afetarão significativamente o empre-go de milhares de professores. Criticando o facto de as alterações agora em projeto terem como direção a justificação dos cortes orçamentais, os impactos na redução da despesa à custa do emprego docente, do aumento do número de alunos por turma, da extinção de projetos, são consideradas como medidas erradas e comprometedoras do futuro do serviço público de educação. A res-ponsabilização constitucional do Estado pela promoção de uma Escola Pública de qualidade, é também invocada na carta aberta entregue a Nuno Crato, de-fendendo: mais democracia na cultura de Escola; financiamento adequado às respostas educativas e formativas necessárias; reconhecimento do interesse estratégico do ensino superior e da ciência, o que não é compaginável com os brutais cortes que estão, já, a atingir o setor; aposta nos recursos humanos como fator de desenvolvimento das condições de exercício profissional e de desenvolvimento positivo das respostas educativas; valorização das carreiras docentes e das remunerações como fator indissociável da motivação profissional; reforço da ação social escolar como única forma de responder positivamente às legítimas expectativas das famílias.

O ataque à escola pública continua!

Dirigentes do SPZS aborda-ram o Ministro da Educa-ção e diretores de escola do Alentejo e Algarve. O SPZS

reafirmou que as políticas economi-cistas do Governo (PSD/CDS) são a continuação das políticas do Governo anterior (PS), as quais irão levar à rápida destruição da Escola Pública, onde Nuno Crato será o protagonista. O SPZS/FENPROF reafirma que con-tinuará a lutar pela defesa da Escola Pública de qualidade, gratuita, democrática e para todos. O MEC continua apostado em atacar mais ainda a Escola Pública orquestrando a sua ação em várias frentes, fazendo da Revisão da Estrutura Curricular e da Gestão das Escolas mais dois instrumentos das imposições da “troika” para desta forma encaixar mais de 159 milhões de euros. É lamentável que sob o pretexto de uma suposta revisão da estrutura curricular se ponha em causa a qualidade do Ensino das crianças e jovens portugueses, hipotecando assim o seu futuro e o futuro do País. As alterações curriculares são apenas (mais) um instrumento, com medidas cirúrgicas, para subtrair mais 102 milhões de euros, previstos num orçamento de estado que configura um crime social. Esta proposta visa cortar essencialmente nos recursos humanos, deixando as escolas com con-dições de trabalho ainda piores do que as que existem atualmente. O fim de uma Gestão Democrática feita à medida de uma rede escolar que desumaniza a Escola Pública (mais encerramentos de escolas e mega-agrupamentos) permite uma redução de mais 54 milhões de euros, reforçando a figura do Diretor como um mandatário do Governo, com um modelo autoritário, fazendo com que se verticalize a cadeia hierárquica entre MEC e Escolas, servindo as Direções Regionais apenas como agência de empregos para os amigos do Governo PSD/CDS. O SPZS/FENPROF, certos que contamos com a força da razão de toda a comunidade educativa, resistiremos a estes ataques e lutaremos por uma escola pública de qualidade, gratuita, democrática e para todos.

serão dadas as respostas de Educação Es-pecial no ensino Secundário, uma vez que, para este grupo de recrutamento, não foi criado quadro. É ainda opinião da FENPROF que o número máximo de alunos por turma deverá baixar, por essa ser uma medida que potencia o sucesso dos alunos.

Relativamente ao projeto que o MEC tornou público, a FENPROF:

• Manifesta a sua clara oposição à elimina-ção da disciplina de EVT e do funcionamento em par pedagógico;

• Discorda da eliminação dos desdobra-mentos atualmente em vigor, designadamente nas Ciências da Natureza no 2.º Ciclo e das Ciências Naturais e Físico-Química no 3.º Ciclo;

• Considera que deverá manter-se a For-mação Cívica, ainda que redefinido o seu conteúdo, bem como o Estudo Acompanhado;

• Defende que o Apoio ao Estudo deve ser assumido como um espaço de resposta aos alunos que, temporariamente, demons-trem dificuldades no seu percurso de apren-dizagem, pelo que as escolas terão de ser dotadas de um crédito global de horas criado, exclusivamente, para esse efeito;

• Entende que as TIC deveriam ter lugar em mais do que um ano de escolaridade, dirigindo-se aos alunos em momentos dife-rentes do seu desenvolvimento, não devendo associar-se a outras disciplinas.

A FENPROF considera fundamental uma verdadeira reforma curricular que dê resposta a todos os problemas já mencionados, reforma coerente com os objetivos que decorrem da nova escolaridade obrigatória de 12 anos e dos desafios de educação e qualificação que o país enfrenta, e por isso propõe:

• Suspensão do processo de Revisão da Estrutura Curricular lançado pelo MEC;

• Abertura de um período de debate nacional, envolvendo, não apenas a comuni-dade educativa, mas a sociedade em geral, com vista a definir objetivos e estratégias para uma efetiva reorganização curricular, consensualmente vista como indispensável;

• Apresentação pelo MEC de uma pro-posta de verdadeira Reforma Curricular que tenha em conta o novo enquadramento da escolaridade obrigatória e os desafios da educação e qualificação dos portugueses;

• Negociação final com os parceiros educativos.

Este processo de reorganização deverá desenvolver-se ao longo de um período de tempo suficientemente alargado, que a FEN-PROF propõe de um ano, evitando decisões precipitadas que poderão resultar em erros. E o problema é que, em Educação, os erros cometidos têm implicações e consequências que só muito mais tarde se detetam. Nesse momento não é possível corrigi-los, pois só se é criança e jovem uma vez… não há segunda oportunidade!

Lisboa, 31 de janeiro de 2012O Secretariado Nacional da FENPROF

Numa verdadeira reorganização curricular, havia que equacionar o papel da Educação Pré-Escolar, enquanto primeira etapa da Educação Básica! Clarificar o papel que o governo pretende atribuir às áreas das expressões no 1.º Ciclo, o seu regime de docência e a própria organização e carga letiva!

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10 CURRÍCULOS10

A revisão curricular é parte de uma estratégia que visa a substitui-ção de um estado social por um estado minimalista, que se

demite das suas funções basilares, neste caso concreto da educação, ao diminuir e empobrecer o currículo, abrindo caminho para que os mercados, essa entidade sem rosto e desprovida de uma dimen-são humana, a mercantilizem, de forma selvagem, a um preço (de mercado) para quem puder pagar. É este o projeto da direita neoliberal, pensado a partir de fora de Portugal, pelo eixo franco-alemão e pela troika e executado por um governo subserviente, que de forma humilhante coloca em causa a soberania do País e que relega para segundo plano o supremo interesse nacional.

Estamos perante um projeto que visa alterações profundas na escola, mas que se resume a um documento medíocre, do ponto de vista intelectual e científico--pedagógico, e desprovido de qualquer rigor, porque não sujeita à prova os argumentos vagos nele contido. Não é sério, porque esconde aquilo que está na sua verdadeira génese, um mero instrumento em função de um orçamento de estado que se con-figura como um crime social e que coloca em risco a formação integral e global dos/as alunos/as. Trata-se de uma ferramenta para reduzir em 102 M€ as despesas com a educação, nem mais nem menos, mais um corte para corresponder a mais uma

imposição do supremo interesse do capital financeiro.

Esta revisão assenta no mito de um ensino moderno e exigente, centrado nos resultados escolares, aferidos através de exames e suportada por uma visão redu-tora do saber estruturante e melhoria dos resultados. Inscreve-se nos desígnios de um neoconservadorismo que representa um retrocesso a uma triste narrativa de uma Escola Pública de outrora, que, em boa hora foi refundada pelos ventos revolucionários de Abril e que agora é, uma vez mais, ameaçada por uma ideologia fascizante.

Olhar para o futuro, com estes pressu-postos do presente, só nos pode preocupar. Se atentarmos aos exemplos recentes de Mega-agrupamentos, que, entre outros efeitos nefastos que criaram para as fa-mílias e alunos/as, reduziram os postos de trabalho docentes, citando, a titulo de exemplo, o concelho de Vila Real de Santo António, que perdeu cerca de 70 docentes com a criação de duas dessas unidades, tornando a contratação muito residual. Com mais esta medida da revisão curricular, que visa redução dos 102€ ME à custa da dis-pensa de pessoas, os chamados recursos humanos, aquilo que podemos esperar é mais desemprego, incluindo docentes dos quadros, e piores condições de trabalho nas escolas, que já de si não são boas.

Com esta revisão, a avançar, ficará a perder a escola de qualidade para todos... E, claro, a democracia!

MARCO ROSA (Membro do CN da FENPROF)

Mitos sobre revisão da estrutura curricular…

FENPROF exige respeito

“Saímos daqui mais apetrechados para elaborarmos a nossa posição, o nosso parecer. Estamos em crer que muitas das nossas preocupações são partilhadas por outros parceiros educativos, como os pais e encarregados de educação, o pessoal não docente, os estudantes...”

São palavras de Mário Nogueira já na ponta final do debate que a FEN-PROF realizou no dia 15 de fevereiro, em Lisboa, subordinado ao tema

“Que lugar para a democracia?”.O conferencista principal foi o Professor

Licínio Lima, docente e investigador da Uni-versidade do Minho. O objetivo principal da iniciativa, que decorreu no auditório da EB 2.3 Professor Lindley Cintra, no Lumiar, foi a apreciação e recolha de contributos para elaboração do parecer sindical, a entregar no MEC, ao projeto por este apresentado para revisão do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril (sobre autonomia, gestão e administração escolar).

Manuela Mendonça já tinha salientado que, “sendo a democracia a dimensão que deve dar consistência às estruturas organi-zacionais da escola, a FENPROF considera essencial aprofundar práticas participativas que reforcem a democraticidade na organi-zação escolar”.

“Não aceitamos a imposição a todas as escolas de um órgão de gestão unipessoal, não aceitamos a menorização do Conselho Pedagógico, não aceitamos a designação, pelo Diretor, dos coordenadores das estru-turas pedagógicas intermédias – é a eleição que confere legitimidade e confiança a quem exerce os cargos”, destacou a dirigente sindical.

Os participantes neste debate forma unânimes na critica à lista tríplice de can-didatos a coordenador de departamento proposta pelo diretor. Esta solução – uma combinação de um processo de nomeação e de eleição – manteria a lógica de depen-dência e subordinação dos coordenadores relativamente ao diretor, configurando uma limitação democraticamente inaceitável. Para além de não resolver o problema de fundo, esta solução introduz a perversidade de procurar legitimar, por via de uma “eleição”, as escolhas de diretor.

Ao contestar estas nomeações, que “praticamente acabam com os processos eleitorais nas escolas (exceção feita à elei-ção, de 4 em 4 anos, dos representantes dos vários corpos para o Conselho Geral)”, a FENPROF chama a atenção para o facto de a elegibilidade e a colegialidade dos cargos

“Que lugar para a democracia?”FENPROF promoveu debate

HOMENAGEMGESTÃO

FENPROF exige que Ministério adote atitude democrática e respeitadora na divulgação de projetos para negociação

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) está a usar a comunicação social para an-tecipar a sua mensagem relativamente ao conteúdo de projetos de diplomas legais que pretende alterar.

Assim:Apesar de apenas ter enviado às organiza-

ções sindicais de docentes e à generalidade da comunicação social, às 23.45 horas de 10 de fevereiro (prazo que o próprio MEC estabelecera), o seu projeto de decreto--lei para revisão do regime de autonomia e gestão das escolas, um jornal diário, no dia 11, descrevia as linhas principais do projeto e apenas a apreciação de quem lhe facultara, mais cedo, o acesso à informação, ou seja, do MEC.

Apesar de apenas ter enviado às organiza-ções sindicais de docentes e à generalidade da comunicação social, às 23.50 horas de 17 de fevereiro (sem que nada o fizesse prever), o seu projeto de decreto-lei para revisão do regime de concursos de docentes, um jornal semanário, no dia 18, descrevia as linhas principais do projeto e apenas a apreciação de quem lhe facultara, mais cedo, o acesso à informação, ou seja, do MEC.

Esta postura é, simultaneamente, um desrespeito pelos professores e as suas organizações sindicais representativas, pela generalidade da comunicação social (que, assim, se digladia para obter o próximo pro-jeto) e pelas regras da democracia.

Jornalistas condicionadosPor sua vez, o MEC, através da sua assessoria de imprensa, cria uma situação delicada aos próprios jornalistas que, naturalmente, se sentem condicionados na sua ação: por um lado, tendo em sua posse a notícia não vão deixar de a divulgar, tanto mais que sabem ter esse exclusivo; por outro lado, sabendo os jornalistas que essa informação ainda não foi enviada a outras pessoas ou entidades acabam por apenas divulgar uma perspetiva de apreciação o que, no mínimo, é discutível em diversos planos.

Deverá o MEC proceder de outra forma, enviando os documentos a horas próprias, quer para as organizações, quer para os jornalistas, não fazendo este jogo pouco de-mocrático que tem feito. Espera a FENPROF que a situação não se repita e, decerto, os próprios jornalistas que, de outra forma, teriam de lutar entre si para obterem a antecipação, em exclusivo, do próximo documento.

NEGOCIAÇÃO

Encoberto pelo discurso oficial do rigor e do mérito, o MEC esconde as verdadeiras intenções de uma

proposta, ocultas apenas para quem não quer ver.

de direção e gestão (de topo e intermédia) serem marcas distintivas da administração das escolas em Portugal, constituindo o prin-cípio da eleição dos órgãos das escolas um dos fundamentos da organização e gestão democrática, consagrada na Constituição da República.

PainelApós o debate e um breve intervalo, seguiu-se um painel com a participação de Francisco Melo Ferreira, Presidente do Conselho Geral da Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho; Eugénia Coelho, Diretora do Agrupa-mento de Escolas de Loures nº 1; e Anabela Simões, ex-Coordenadora do Departamento de Línguas do Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto. Estes convidados deixaram as suas experiências concretas vividas no dia a dia nos estabelecimentos de ensino em que trabalham. O painel foi moderado por

Francisco Almeida, dirigente do SPRC e da FENPROF. Vários elementos da assistência tomaram a palavra nos períodos abertos ao debate.

Representantes da CONFAP, CGTP-IN e Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSFP) acompanharam esta iniciativa da FENPROF.

A última etapa do debate foi preenchida com a intervenção do Secretário Geral, Má-rio Nogueira, que referiu a dado passo: “A FENPROF defende um regime de autonomia, gestão escolar e administração educativa com CLEs – Conselhos Locais de Educação, como órgãos descentralizados da adminis-tração educativa, previstos na Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE).” O dirigente sindical condenou a política da imposição dos mega-agrupamentos “à força” e recordou que os 83 já criados provocaram a extinção de 5 000 lugares docentes!...

O auditório da EB 2.3 Prof. Lindley Cintra, em

Lisboa, registou casa cheia no debate “Que lugar para

a democracia?”, recen-temente promovido pela

FENPROF

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

HOMENAGEM12 GESTÃO12

A FENPROF apresenta o seu parecer sobre o projeto em análise, no qual incorpora con-tributos vários, resultantes,

quer de uma auscultação online, quer dos debates que pôde dinamizar no curto espaço de tempo que o MEC unilateralmente definiu, e que envolve-ram: professores e educadores (nome-adamente os que exercem cargos de direção e gestão); representantes de outros parceiros educativos, entre os quais pais/encarregados de educação e pessoal não docente; especialistas/investigadores nesta área.

Apreciação na generalidadeNo entender da FENPROF, a proposta que o MEC apresenta, incidindo sobre questões pontuais, não altera em nada a filosofia e a estrutura de governação que o DL 75/2008, de 22 de abril, es-tabelece. Como afirmou logo no início deste processo de revisão, a FENPROF considera que, sendo este um ordena-mento jurídico que põe em causa princí-pios de democraticidade (colegialidade, elegibilidade e participação), consagra-dos, quer na Constituição da República

Portuguesa, quer na Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), a preceder uma efetiva negociação, impunha-se a realização de um amplo debate sobre esta matéria, tendo em vista consen-sualizar um regime alternativo ao atual. Um regime que, para além da criação de Conselhos Locais de Educação, como estruturas descentralizados da adminis-tração educativa, consagrasse o direito de as escolas optarem por um órgão de gestão colegial, substituísse o método de designação do órgão de gestão pelo Conselho Geral (tantas vezes dependente de lógicas partidárias e caciquismos lo-cais) por um processo de eleição direta por um colégio eleitoral alargado (todos os professores e educadores, todos os trabalhadores não docentes e represen-tantes de pais e de estudantes, estes no caso do ensino secundário), a redefinição das competências e composição do órgão de direção estratégica da escola/agrupamento, atualmente atribuídas ao Conselho Geral, e o reforço de competên-cias e da autonomia de funcionamento do Conselho Pedagógico.

O Conselho Pedagógico é hoje um órgão desvalorizado, praticamente sem

Parecer da FENPROF

Projeto de decreto-lei para alteração ao regime jurídico de autonomia,

administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré- -escolar e dos ensinos básico e secundário

Alertas de Licínio Lima

“A educação é o caminho”

Manuela Mendonça Membro do SN da FENPROF

A A FENPROF tem propostas próprias, propostas construídas ao longo de muitos anos com os professores e que, numa perspetiva de des-

centralização, preveem a transferência de competências para o nível local e para a escola, e nestes para órgãos próprios, demo-craticamente legitimados e com adequada representação escolar e comunitária (…) Em 11 de agosto de 2010, o PSD e o CDS/PP, então na oposição, votaram favoravel-mente a Resolução da AR nº 94/2010, que recomendava ao Governo a suspensão ime-diata do processo de constituição de mega agrupamentos e a reversão das implicações que tinha tido em todos os agrupamentos e escolas afetadas.

Hoje, no governo, estes partidos avançam para a criação de outras de igual (ou ainda maior) dimensão e complexidade, anun-ciando que, salvo algumas exceções, todas as escolas serão agrupadas até ao final de 2012/2013. Numa conferência de imprensa em 24.03.2011, onde apresentou os resulta-dos do tal estudo, a FENPROF alertava para a

Francisco Almeida Membro do SN da FENPROF

Papaguear a autonomia…

Não pretendo neste curto texto ana-lisar no detalhe a proposta do ME relativa à revisão do modelo de direção e gestão das escolas e

agrupamentos (DL 75/2008). Essa análise é feita noutro texto do Jornal da FENPROF. Pretendo apenas fazer aqui um registo em torno da persistência do discurso político em torno da autonomia e as práticas de (re)centralização da direção das escolas e agrupamentos.

Nas últimas décadas, sempre que o poder avançou e refinou o discurso político, em torno da autonomia das escolas, levou à prática medidas exatamente em sentido contrário a tal discurso – recentralizou na estrutura político administrativa do ME os poderes de decisão nas áreas essenciais da vida e organização das escolas. Esse processo está novamente em curso com o projeto agora apresentado pelo Governo, quando os poderes e funções das direções regionais de educação (que serão extintas no final de 2012) são totalmente aspiradas para uma super direção geral a criar – a direção geral da administração escolar. Bem sabemos que as DRE’s são estruturas desconcentradas (portanto, as piores inimi-gas da descentralização) mas, pelo menos, no plano da execução, detinham algumas funções. Mantendo o Governo o discurso político em torno da autonomia, seria razoá-vel que algumas das atribuições das DRE’s fossem conferidas às escolas/agrupamentos e a estruturas descentralizadas (Conselhos Locais de Educação).

Ora, o Governo quer fazer o que sempre foi feito neste domínio – centralizar tudo e dirigir todas as escolas/agrupamentos.

Mantém um órgão que chama de direção – o conselho geral – que nada dirige porque, nas questões centrais, a verdadeira direção está fora da escola na estrutura política e administrativa do MEC.

A situação hoje assume contornos de maior gravidade do que há alguns anos atrás com a burocracia cibernética ou taylorismo informá-tico (na assertiva expressão de Licínio Lima).

No passado, o poder central construiu o discurso sobre a autonomia, mas correu a criar as direções regionais e os centros de área educativa para tudo controlarem e decidirem na vida das escolas. Como se não bastasse, numa fase posterior, criou as chamadas equi-pas de apoio às escolas, em número muito superior aos CAE’s, apertando o garrote sobre qualquer possibilidade de construção de uma verdadeira autonomia e descentralização. As direções regionais, os centros de área educativa e as ditas equipas de apoio foram sempre (e apenas) formas engenhosas de colocar a estrutura central do ME dentro das escolas/agrupamentos. Agora, o poder deve ter entendido que, com o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, pode manter e apertar o garrote a partir de um único ponto – o MEC e a tal direção geral da administração escolar prevista na nova lei orgânica. O objetivo é o mesmo. O modo foi adaptado ao tempo presente.

O router e as placas de rede ajudam a reforçar com sucesso o modelo de taylorista, continuando a fixar no MEC a direção das escolas e deixando a estas exclusivamente o papel de executar … mesmo que alguns prefiram iludir-se imaginando que decidem o que quer que seja de importante.

necessidade de discutir seriamente que sis-tema educativo queremos para o nosso país. Se queremos escolas com projetos e iden-tidades próprias ou “unidades orgânicas” descaracterizadas e pedagogicamente inge-ríveis. Hoje, por maioria de razão, temos que discutir, também com a troika, se a prioridade do nosso país deve ser apostar na educação e na qualificação dos portugueses ou se o mais importante é reduzir custos para tornar o sistema público mais barato.

Nesse caso, talvez pudéssemos dis-pensar e “exportar” os milhares de pro-fessores que, apesar de fazerem falta às escolas, se encontram no desemprego. Mas estaríamos a comprometer gerações e a desistir do futuro. Porque não há saí-da da crise sem mais e melhor educação. Temo-lo dito, e com isso termino, a educação não é um caminho, é o caminho. Com menos educação teremos pior economia, pior cida-dania e pior democracia. E é para reafirmar isso que também estamos hoje aqui. Da intervenção de Manuela Mendonça no debate “Que lugar para a democracia?”

A sessão de abertura, presidida por António Nabarrete, dirigente do SPGL e da FENPROF, registou as intervenções de Manuela Mendonça, Coordenadora do Sindicato dos Professores do Norte (SPN) e membro do SN da FENPROF; e do Professor Licínio Lima, que deixou vários alertas ao longo da sua expressiva comunicação:

• “Agora fala-se de uma rede nacional, já não é rede pública” de estabelecimentos de ensino;

• “Avizinha-se um período de grande instabilidade nas escolas”;

• “Os diretores não serão o rosto de cada escola, mas sim o rosto do MEC junto do agrupamento”;

• “Os mega-agrupamentos são os braços do poder centralizado”;

• “As escolas não vão beneficiar, em termos de autonomia, com a anunciada extinção das DRE´s”;

• “A recentralização do poder está na ordem do dia”;

• “Há uma diminuição da oferta educativa precisamente no momento em que se regista a expansão da escolaridade (12 anos). As escolas vão desaparecendo...”

• “O MEC trata os diretores como subordinados”;

• “Há aqui uma certa confusão entre os conceitos de agrupamento e de agregação…”;

• “A última e grande tarefa das Direções Regionais de Educação é criar as estruturas (mega-agrupamentos) que as vão tornar dispensáveis…”

JPO

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

GESTÃO14

artigos), ressalta a importância dada à questão da reorganização da rede das escolas públi-cas, o que leva a inferir que a urgência desta iniciativa legislativa está sobre determinada por razões orçamentais e se prende, em pri-meiro lugar, com a necessidade de enquadrar juridicamente o processo de criação de mega--agrupamentos em larga escala – processo em curso que o MEC pretende ter concluído em final de 2013 e que o Orçamento do Estado para 2012 calcula como tendo um impacto financeiro relevante.

A este respeito, a FENPROF não pode deixar de alertar, mais uma vez, para a ins-tabilidade que uma reestruturação da rede desta natureza criará nas escolas. O estudo de avaliação que em 2011 promoveu sobre o processo de constituição e funcionamento dos 83 mega-agrupamentos criados em 2010 evidenciou dificuldades várias, decorrentes da junção artificial de escolas com histórias e culturas distintas (nalguns casos, fisicamente distantes) e da substituição de uma gestão de proximidade por uma gestão à distância, com consequências negativas ao nível da desumanização da gestão e dos espaços, da impessoalidade das relações, da desco-ordenação pedagógica, da morosidade dos processos, da sobrecarga de trabalho, do aumento da burocracia, da conflitualidade e do centralismo.

Em 11 de agosto de 2010, o PSD e o CDS/PP, então na oposição, votaram favo-ravelmente a Resolução da AR nº 94/2010, que recomendava ao Governo a suspensão imediata do processo de constituição de mega-agrupamentos e a reversão das im-plicações que tinha tido em todos os agru-pamentos e escolas afetadas. A FENPROF considera inaceitável que hoje, no governo, estes partidos avancem para a criação de outros, de igual (ou ainda maior) dimensão e complexidade, anunciando que, salvo algumas exceções, todas as escolas serão agrupadas até ao final de 2012/2013.

A FENPROF não ignora as imposições da troika e o alcance financeiro de uma medida que leva à supressão de cargos e serviços e a uma redução muito significativa do número de professores, mas reafirma a sua profunda discordância com essa imposição e esse objetivo, recusando que o reordenamento da rede escolar obedeça, quase só, a esse tipo de imperativos! Reafirma ainda a necessidade de discutir seriamente o sistema educativo que o nosso país deverá ter. É indispensável decidir se queremos escolas com projetos e identidades próprias ou “unidades orgâni-cas” descaracterizadas e pedagogicamente ingeríveis; se a prioridade do nosso país deve ser a aposta na educação e na qualificação dos portugueses ou o embaratecimento do sistema público, ainda que comprometendo o futuro de várias gerações. A FENPROF não tem dúvidas sobre de que lado está e o que defende!

Sobre o projeto em análise, a FENPROF

entende ainda apresentar os seguintes co-mentários e questionamentos:

• Relativamente à constituição de parce-rias (Capítulo I, art. 6º, nº 7) ou associações com outras escolas, designadamente pri-vadas, entende a FENPROF ser necessário clarificar o seu âmbito e alcance. As escolas, tendo natureza diferente, não poderão ter tratamento semelhante, pois não tem aco-lhimento constitucional qualquer situação que abra caminho a igual tratamento entre ofertas públicas e privadas, no quadro de uma alegada “liberdade de escolha”;

• A FENPROF pretende que se esclareça o sentido de vínculo contratual quando o mesmo é referido no n.º 3 do artigo 12.º do projeto;

• Nas eleições para o Conselho Geral (art. 15º, nº 3), perde sentido “assegurar (…) a representação adequada [?] dos diferentes níveis e ciclos de ensino” e não prever essa mesma representação na composição do órgão em causa, como acontecia no DL 115-A/98.

• A FENPROF pretende saber por que razão competências como a avaliação do pessoal não docente ou a sua contratação, entre outras, saem da esfera dos órgãos da escola.

• Relativamente aos contratos de autono-mia (artº 57º), a FENPROF considera negativa a manutenção da ideia da contratualização como forma privilegiada de construção da autonomia das escolas. A experiência de assinatura de vinte e dois contratos, em que as escolas viram as propostas que implica-vam aumento de custos, ‘recusadas’ pela administração, veio confirmar as reservas da FENPROF na virtualidade de contratos celebrados entre partes com poder negocial tão desigual. Por isso, a FENPROF tem de-fendido, em alternativa, a aprovação de uma Lei de Autonomia e Financiamento para estes sectores de educação e ensino.

Sobre o tão propalado reforço da auto-nomia das escolas, a FENPROF reafirma o que já disse no documento que apresentou ao MEC em 25 de janeiro.

É necessário clarificar que domínios de autonomia as escolas devem ter (nos pla-nos pedagógico, administrativo, financeiro, de gestão de pessoal…), assim como que órgãos devem ser detentores desses po-deres de decisão. Uma coisa é a autonomia das escolas, outra coisa é a autonomia do chefe. Neste âmbito, a FENPROF opor-se-á a qualquer reforço do poder dos diretores, nomeadamente ao nível da gestão do pessoal e das suas carreiras, nomeadamente no que à contratação dos docentes diz respeito - ca-minho que limitaria ainda mais a autonomia profissional dos professores, subordinando o seu trabalho a orientações externas visando a obtenção de resultados e metas centralmente definidos, sem olhar ao contexto concreto de cada escola.

A terminar, a FENPROF sublinha que, como muitos autores têm referido, a au-

competências deliberativas e remetido para um papel essencialmente consultivo do diretor. A acumulação de presidências e a designação dos membros docentes deste Conselho têm consequências na configura-ção monolítica do órgão, onde deixam de se confrontar de forma positiva e saudavelmente democrática opiniões, sensibilidades e pontos de vista diversos sobre a vida da escola e os seus projetos pedagógicos. A menorização do Conselho Pedagógico e a sua sujeição ao Diretor põem ainda em causa o princípio do primado do pedagógico e científico sobre o administrativo, consagrado na LBSE. Por isso, a FENPROF tem defendido que é ao Conse-lho Pedagógico, enquanto órgão de direção pedagógica da escola, que deve competir definir o tipo, as competências e a composi-ção das estruturas pedagógicas intermédias, assim como flexibilizar a organização dos espaços, tempos, agrupamentos de alunos e apoios educativos. Defendemos ainda que o diretor não tem que ser obrigatoriamente o presidente do Conselho Pedagógico e que este órgão deve ser constituído pelos coordenadores das estruturas de gestão intermédia, democraticamente eleitos pelos docentes que as constituem.

A proposta do MEC não contempla qual-quer reforço de competências do Conselho Pedagógico, continuando a apostar numa matriz tecnocrática, importada das teorias da gestão empresarial – um líder, uma equipa, um projeto. Acontece que a escola não é uma empresa e a organização escolar não pode assentar numa cadeia de comando fortemente hierarquizada, com um líder uni-pessoal a concentrar poderes de decisão que anteriormente pertenciam, e devem continuar a pertencer, a outros órgãos e atores escola-res, agora seus subordinados. No tradicional contexto de centralização da administração educativa portuguesa, o diretor, sendo um superior para os que estão abaixo, é ele pró-prio um elo da cadeia hierárquica do MEC, a quem está também subordinado, já que é o poder central que continua a determinar, por via legislativa e, cada vez mais, também por via informática, a vida das escolas. Aliás, perspetiva de controlo que a reconcentração de poderes, prevista na nova Lei Orgânica do MEC (Decreto lei 125/2011, de 29 de dezem-bro) e a criação de mega-agrupamentos vêm reforçar. Em síntese, a FENPROF reafirma a sua oposição a uma visão da escola em que a tecnocracia se sobrepõe à democracia e em que o administrativo sobreleva ao pedagógico.

Apreciação na especialidadeA proposta em análise altera aspetos pontuais do diploma, alguns visando apenas melhorar a redação e/ou clarificar procedimentos que, com a aplicação do DL 75/2008, se revelaram problemáticos. No entanto, há alterações que têm um maior alcance e nos merecem a seguinte apreciação:

É indispensável decidir se queremos escolas com projetos e identidades próprias ou “unidades orgânicas” descaracterizadas e pedagogicamente ingeríveis; se a prioridade do nosso país deve ser a aposta na educação e na qualificação dos portugueses ou o embaratecimento do sistema público, ainda que comprometendo o futuro de várias gerações. A FENPROF não tem dúvidas sobre de que lado está e o que defende!

Artº 21º – Recrutamento do diretorA FENPROF não concorda com a alteração proposta, que dá primazia ao requisito de habilitação específica sobre o da experiên-cia no exercício de cargos, eliminando esta componente quando a primeira é satisfeita. Consideramos que a experiência também qualifica e que na definição do perfil dos candidatos, para além das competências técnicas, são essenciais outras competências, nomeadamente no domínio das relações interpessoais, da educação e da pedagogia. Para além disso, não resulta claro o conceito de “insuficiência” constante no n.º 5 do artigo 21.º da proposta do MEC.

Artº 43º - Estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica

3 – A FENPROF está de acordo – aliás reclamou-o – com o princípio de que o número de departamentos curriculares seja definido pelas escolas. No entanto, esta possibilidade só faz sentido se for igualmente flexibilizado o número de elementos do Conselho Peda-gógico. Se assim não for, esta possibilidade fica seriamente comprometida, correndo o risco de se tornar irrelevante.

5 – A FENPROF discorda da lista tríplice de candidatos a coordenador de departamento proposta pelo diretor. Esta solução – uma combinação de um processo de nomeação e de eleição – manteria a lógica de depen-dência e subordinação dos coordenadores relativamente ao diretor, configurando uma limitação democraticamente inaceitável. Para além de não resolver o problema de fundo, esta solução introduz a perversidade de procurar legitimar, por via de uma “eleição”, as escolhas de diretor.

Capítulo V – Reorganização da rede das escolas públicasDa análise das alterações propostas (em 17

tonomia das escolas não é uma questão técnica, é uma questão essencialmente política. Mesmo em países com tradição de descentralização, as experiências autonó-micas apresentam aspetos críticos e estão longe de reunir consenso, tendo levado ao reforço da seletividade social, ao controle das escolas por grupos de interesses, à criação de escolas separadas para minorias étnicas e religiosas, a processos pouco democráti-cos na seleção do pessoal, etc. Ora, se as medidas de reforço da autonomia podem assumir diferentes objetivos e modalidades de concretização, em função das perspetivas políticas que as sustentam, então são estas perspetivas que têm que ser discutidas, no quadro de um projeto político nacional e dos princípios fundadores da Escola Pública como um bem comum.

Nota finalA FENPROF mantém todas as críticas que fez ao Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril. Considera que a proposta apresentada pelo MEC, no essencial, poderá ter vantagens administrativas e financeiras para a tutela, mas continua a configurar um modelo de cariz empresarial, que nada tem a ver com a realidade da nossa escola. As alterações que é preciso operar não passam por solu-ções tecnocráticas, mas pela revitalização do potencial que a gestão democrática das escolas representou e representa no cami-nho para o aprofundamento da democracia e para a melhoria da Escola Pública e da qualidade da educação e do ensino que ela deve assegurar.

Lisboa, 17 de fevereiro de 2012 O Secretariado Nacional da FENPROF

A FENPROF não ignora as imposições da troika e o alcance financeiro de uma medida que leva à supressão de cargos e serviços e a uma redução muito significativa do número de professores, mas reafirma a sua profunda discordância com essa imposição e esse objetivo, recusando que o reordenamento da rede escolar obedeça, quase só, a esse tipo de imperativos!

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

Ademocracia é o poder do povo para o povo. Esta forma de governação nasceu na Grécia e tornou-se a forma mais correcta de gerir o bem comum das sociedades. Bens comuns porque pertencem a

todos os cidadãos. Os cidadãos, os que partilham o mesmo espaço e os mesmos bens, são chamados a mandatarem, através de eleições livres e directas, os seus representantes para a gestão da “coisa pública”, legitimando assim os governantes. Ainda que pensemos que a democracia está “apodrecida” (uma vez que os governantes, após serem eleitos, não governam para o povo), este sistema ainda é o melhor sob o ponto de vista social e político.

Ora, isto vem a propósito do que está a acontecer na Europa, espaço geográfico que partilhamos. Assistimos hoje a alguns governos europeus que exercem o poder sem estarem legitimados pelo voto popular. Aconteceu na Grécia e na Itália, onde os primeiros-ministros não foram eleitos com a vontade dos povos, foram indicados pelas corporações financeiras que, vorazes do capitalismo financeiro, levam ao empobrecimento dos povos, aniqui-lando os verdadeiros valores democráticos, anulando as soberanias nacionais e instaurando uma verdadeira ditadura dos mercados.

Como afirmou recentemente o famoso compositor e pen-sador Mikis Theodorakis “se os povos não se levantarem, os bancos trarão o fascismo de volta”. Vamos esperar sentados?

CIP, UGT& Cª = “Troikafulhice”O recente acordo de concertação social assinado em Janeiro entre o GOVERNO, o Patronato (CIP) e a Central Sindical (UGT) é revelador desse conluio que existe entre os governantes, o patronato e o poder financeiro. Esta “TROIKAFULHICE” nada mais é do que uma retirada de direitos aos que de-pendem da força do trabalho e um aumento dos lucros dos que, quais aves de rapina, se debruçam gananciosamente sobre os mais fracos. Esta ânsia de ganhos desmesurados à conta somente de alguns foi pactuada com a anuência de uma Central Sindical. O que leva alguns representantes dos trabalhadores (?) a assumirem a um acordo que só beneficia a parte mais forte e torna mais fragilizada a parte que já de si é mais fraca? Como podem aqueles que se dizem repre-sentantes dos trabalhadores, aceitarem a desregulação do mundo laboral, o aumento do horário de trabalho e a facilidade dos despedimentos?

Este acordo não é um acordo. É uma visão egoísta e egocêntrica. Só se direcciona para um lado. Por isso, os trabalhadores terão que mostrar o seu lado. E o seu lado é a indignação e a coragem de lutar que já foi mostrada na Manifestação do dia 11 de Fevereiro, e será novamente mostrada no dia 22 com a Greve Geral.

Para que não esperemos sentados.

FERNANDO VICENTE | [email protected]

Que Democracia?

No actual contexto económico e com as crescentes dificuldades criadas aos trabalhadores da administra-ção pública, os professores não

passam sem sofrer, também, os efeitos de políticas de austeridade que vêm trazendo até à míngua os recursos financeiros de cada um de nós. Uma política de austeridade que põe em causa compromissos das famílias, tais como os que decorrem, por exemplo, do crédito à habitação, da prestação do automó-vel, das propinas dos filhos ou do consumo de bens essenciais relacionados com o vestir, alimentar-se…

Há poucos anos, ainda durante o primeiro mandato do governo Sócrates, o JF publicou um estudo sobre as despesas de docentes em início de actividade, jovens professores, concluindo facilmente que o recurso ao apoio das famílias ou dos amigos era inevitável. Uma profissão exigente, física e intelectual-mente. Obriga a longas deslocações de casa para o local de trabalho, o horário “oculto” ultrapassa muito o horário de trabalho lecti-vo. É uma profissão desgastante pelo seu exercício continuado, ao mesmo tempo que está sujeita a sucessivas adaptações, quer em relação ao grupo de alunos e famílias, quer em relação às regras, exigências e sucessivas alterações da lei, quer sobre os programas, quer quanto aos regimes de avaliação, quer quanto à aplicação de normativos bizarros relacionados com o enquadramento sócio--profissional.

Apoios aos Sócios dos Sindicatos da FENPROF

LUÍS LOBO (Membro do SN da FENPROF)

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Ajudar a suportar dificuldades criadas por uma austeridade injusta

AOS SÓCIOS DOS SINDICATOS16

Todo este acumular de pressões, associado à perda de capacidade económica dos docentes portugueses tem levado muitos a, muitas vezes, não sem sofrimento, manifestar em cartas enviadas às direcções sindicais, as suas preocupações com o futuro e com a sua capacidade de fazer face a despesas cada vez mais difíceis de suportar.

Uma profissão desvalorizada socialmente pelos sucessivos governos, cujos efeitos das dificuldades impostas, à margem de negociações efectivas e claras, não deixam, já, incólumes quaisquer professores, educa-dores e investigadores.

Todo este acumular de pressões, asso-ciado à perda de capacidade económica dos docentes portugueses tem levado muitos a, muitas vezes, não sem sofrimento, manifestar as suas preocupações com o futuro e com a sua capacidade de fazer face a despesas cada vez mais difíceis de suportar.

Foi a pensar nisso que o Secretariado Nacional da FENPROF decidiu tomar em mãos uma tarefa exigente e gigantesca, mas que, dando os seus frutos, constituirá um apoio muito importante para os sócios de cada um dos seus Sindicatos e refor-çará o número dos que, não tendo ainda optado por fazê-lo, virão a sindicalizar-se, reforçando este movimento fundamental para os trabalhadores e base importante da Democracia.

Está, pois, a decorrer o trabalho de re-negociação, conjugação e de novas celebra-ções de protocolos, dos vários sindicatos com diversas entidades, com o objectivo de disponibilizar o acesso a bens e serviços a baixos valores. Um recurso para os sócios dos sindicatos que fará com que a quota mensal de cada um de nós passe a ser insignificante ou muito ultrapassada pelos benefícios sociais obtidos, só pelo simples facto de se ser sócio/a de um dos Sindicatos da FENPROF.

Assim, os descontos em bens e serviços existentes em cada área sindical deixarão de ser exclusivos do sindicato A ou B para passarem a poder ser desfrutados em todo o território nacional.

Grande impulso nas regalias aos sóciosE o leque de regalias sociais e de

descontos é enorme: crédito à habitação e ao consumo, segu-ros de saúde, de vida, acidentes pessoais, automóvel, telecomu-nicações, turismo, informática, apoio à terceira idade, fruição de bens culturais, mecânica auto e moto, médicos e clínicas, serviços de diagnóstico, etc.

Um sem fim de apoios que tornarão a nos-sa vida muito mais fácil, minorando os efeitos económicos das más políticas e mantendo a fidelização dos sócios, conquistando outros, para os sindicatos que fazem, todos os dias, história neste país, ajudando e cimentando a democracia e os seus efeitos mais positivos. O que seriam as nossas escolas, hoje, sem os Sindicatos da FENPROF? Como seriam as nossas profissão, carreira e vida sem a resistência e a determinação dos Sindicatos da FENPROF?

Associando a sua importância política com a procura de melhores condições para os seus associados, a frente de trabalho dos Apoios a Sócios está em condições de afirmar que, em breve, trará à luz do dia um extraordinário e extenso cardápio de apoios para todos quantos escolheram este projecto solidário, rigoroso e exigente – a FENPROF com os seus Sindicatos, a Força de Estarmos Unidos!

(o autor deste texto é objector de consciência quanto à utilização do designado novo acordo ortográfico, de 1990)

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HOMENAGEMLEGISLAÇÃO LABORAL18

Apreciação pública

A FENPROF e a alteração ao regime de horário

de trabalho

acordo”, por inadaptação, os contratados a termo e os trabalhadores temporários, mantendo, na aparência, o propagandeado nível líquido de emprego.

A medida significaria a sujeição dos tra-balhadores portugueses a um regime de trabalho forçado e, a concretizar-se, Portugal passaria a ser o segundo país da U.E. com a jornada de trabalho mais longa, só atrás da Grécia”. A proposta foi aprovada depois de as alterações daí decorrentes terem tido o apoio da UGT em sede de concertação. A luta dos trabalhadores viria a evitar o aumento do horário de trabalho em 30 minutos diários, mas aspetos muito graves e com uma ex-tensão ainda não suficientemente medida viriam a ser introduzidas na lei, com o apoio daquela confederação sindical.

Baixar os custos com o trabalho“Tendo aparecido, na propaganda, como uma medida de equidade (regressiva), face ao roubo dos subsídios de férias e Natal aos trabalha-dores da Administração Pública, a presente proposta serviria, sim, para baixar os custos com o trabalho, o que não é fator relevante para superar os problemas de competitividade que as empresas apresentam, serviria para pôr à disposição do patronato muitos milhões de euros em trabalho não pago,” instituindo como trabalho forçado, “mais um significa-tivo fator de depreciação dos salários e teria gravíssimos reflexos na organização da vida das famílias dos trabalhadores.

A proposta, em causa”, feita lei, “ repre-senta a intenção de um regresso a tempos anteriores àqueles em que os trabalhadores, pela sua luta, afirmaram a jornada de traba-lho de oito horas. Importa afirmar que esta proposta de Lei atenta contra a autonomia e a liberdade negocial e faz tábua rasa dos contratos de trabalho livremente negociados e acordados, o que representa uma inad-missível ingerência na contratação coletiva, sendo consequentemente inconstitucional.”

Recuo errado e intolerável“No quadro de regressão que resulta das políticas que estão a ser seguidas, esta pro-posta, por enquanto dirigida ao setor privado, em pouco tempo passaria a visar todos os trabalhadores, isto é, também os da Admi-nistração Pública. Para todos, seria um recuo errado e intolerável.”

Foram estas as razões que levaram a FENPROF a repudiar e rejeitar a Proposta de Lei n.º 36/XII (1.ª) “por se considerar um instrumento jurídico aberrante, que coloca o país numa posição de retrocesso social e civilizacional inaceitável, negando o direito à fruição de tempos livres com a família e com os outros, para benefício pessoal do trabalhador e para benefício coletivo, agra-vando a destruição das bases das relações interpessoais fora dos locais de trabalho e promovendo formas de trabalho que só pode-mos descrever como de trabalho forçado.”

Os horários de trabalho dos profissionais são estruturantes de cada profissão. A par dos salários e da qualificação dos trabalhadores, os horários de trabalho são, numa profissão, um dos seus traços fundamentais.

No caso da profissão docente, depois de estabelecida a sua especifici-dade para que se estruturasse a organização dos horários de tra-

balho, estabeleceram-se as suas diversas componentes: letiva, não letiva de estabe-lecimento e não letiva individual.

Esta organização dos horários de trabalho dos docentes na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário reflete a evolu-ção do pensamento sobre esta matéria, ao reconhecer-se a profissão docente como de elevado desgaste físico e psíquico, acompa-nhada que é pela necessária adaptação a um elevado número de alunos, a uma constante mudança deste universo, anualmente ou mesmo várias vezes por ano.

A intensificação de ritmos de trabalho e a sobrecarga de tarefas e funções são transformações que têm vindo a ser operadas sobre os horários das diversas profissões.

No caso particular da profissão docente, tem tido alguns episódios que, visando o objetivo primordial de reduzir as despesas com pessoal, incidiu nos horários de trabalho, tendo motivado diversas ações de protesto, processos jurídicos e contestação no plano institucional, no sentido de, ora repor a lega-lidade, ora impedir mudanças negativas nos planos profissional e político.

Transferências para a componente não letivaExemplo dessa motivação é a expansão da componente letiva através da transferência, para a componente não letiva de estabele-cimento, de atividades declaradamente de trabalho direto com alunos, curriculares, de complemento curricular ou de apoio educativo, mas todas implicando preparação e estudo prévio, definição de estratégias, avaliação e co-ligação com as áreas curriculares disciplinares.

Esta expansão da componente letiva, invadindo domínios que são da gestão in-dividual dos docentes, atinge de forma im-placável – comprometendo as desejadas condições para a qualidade do exercício profissional – a generalidade dos docentes, atingindo mesmo os docentes do ensino superior, que, em alguns casos, têm visto ampliado, de uma forma violenta, todo o trabalho destinado ao ensino, sobrecarre-gando o horário sobrante que, para além de ser ocupado com a preparação e avaliação da atividade letiva, implica ainda todo o trabalho de investigação, de escrita e de publicação especializada dos resultados da sua atividade como investigadores, bem como tudo o que a elevação da sua qualificação académica significa profissionalmente.

A FENPROF emitiu parecer dirigido à As-sembleia da República sobre a proposta de lei de alteração do regime de horário de trabalho.

Como referiu, também, no seu texto, “esta proposta conduziria ao aumento da exploração e à promoção do desemprego. As empresas poderiam despedir por “mútuo

O governo pretende aplicar, à Fun-ção Pública, o acordo da UGT com o governo e os patrões. Isto, em nome do setor público

não poder dissociar-se das medidas que se aplicam ao setor privado… conclui--se, assim, que a Função Pública só pode dissociar-se quando é para aplicar reduções nos salários, para congelar ou fazer eliminar tempo de serviço cumprido ou para roubar subsídios de férias e de Natal! O alerta foi dado pela direção da FENPROF, que, nesse contexto, chama a atenção para um conjunto de medidas muito negativas:

• Rever as carreiras, reconhecendo que, entre outras, a carreira docente é das que será revista. Como ameaça o programa do atual governo do PSD/CDS, o Estatuto da Carreira Docente (ECD), poderá estar em risco!

• Rever as tabelas salariais: Confirmou--se ser intenção do governo a revisão das tabelas salariais. Ou seja, para além de uma revisão em baixa, veremos se o governo pretende ou não retirar a matéria pecuniária dos estatutos de carreira específicos.

• Impor a adaptabilidade individual e grupal dos horários e o banco de horas individual e grupal: esta é das matérias tidas como prioritárias. Pretendem criar um banco de horas que, depois, possam ser adaptadas às necessidades dos servi-ços, incluindo a possibilidade de abrirem ao sábado. Nos professores, uma medida destas teria impacto muito negativo (que aconteceria com interrupções letivas?).

• Reduzir a retribuição do trabalho ex-traordinário: dizem pretender uniformizar público com privado o que significa que, nos professores, o valor poderá baixar ainda mais. A hora letiva extraordinária que já foi paga tendo em conta as reduções do artigo 79.º do ECD, depois as 22 horas, agora as 35… pode baixar ainda mais. E veremos se, com banco de horas, ainda haverá alguma hora que seja extraordinária…

• Mobilidade geográfica: Entende o

governo que, em alguns serviços, há gente a mais e, noutros, gente a menos. Hoje, segundo os governantes que eliminam postos de trabalho aos milhares na Função Pública, provocando os desequilíbrios antes referidos, é difícil resolver o problema, pois, por um lado, a mobilidade forçada (que não carece do acordo do trabalhador) está muito condicionada (o concelho ou, nos casos de Lisboa e Porto, os limítrofes) e a voluntária não se dá por falta de estímulos. Assim, pretendem alargar a área geográfica da mobilidade forçada e encontrar alguns estímulos para a voluntária. Entretanto, já foi sendo informado que os estímulos na Administração Pública estão “dificultados ou absolutamente impedidos”. Recorda-se que o governo tem em curso um conjun-to de medidas destinado a, no próximo ano, provocar a eliminação de milhares de lugares docentes (revisão da estrutura curricular, encerramento de escolas, cria-ção de mega-agrupamentos, aumento do número de alunos por turma, entre outras) que provocarão inúmeros horários-zero, podendo, estes docentes, ser abrangidos pelo regime de mobilidade.

Lutar!Os Professores e Educadores, como os restantes trabalhadores da Administração Pública não podem deixar de protestar e lutar contra estas medidas de impacto violento na sua profissão. Os Professores e Educadores não podem pensar que es-tas medidas não se aplicarão a si. Não é admissível que, na Função Pública, se apli-quem violentíssimas medidas aplicáveis a todos os trabalhadores portugueses e ainda violentíssimas medidas dirigidas só a si.

Há que exigir o respeito e a consideração que o governo não tem pelos trabalhadores em geral, pelos funcionários públicos e portanto, pelos professores e educado-res! Há que lutar contra estas políticas que destroem o futuro de Portugal e dos Portugueses, conclui a FENPROF.

As intenções do Governo…“CONCERTAÇÃO”

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

HOMENAGEMEMPREGO/DESEMPREGO20

Números e factos• Em seis anos aposentaram-se mais de 23.000 docentes, mas só entraram nos qua-dros 396!• As escolas têm um corpo docente muito instável, havendo algumas em que mais de metade dos professores ainda não obtiveram um vínculo estável, apesar de trabalharem há 10, 20 ou mais anos!• As designadas atividades de enriquecimento curricular (AEC) (sobre)vivem da precariedade de todos os docentes que nelas prestam serviço!• O governo tem vindo a tomar medidas que visam eliminar milhares de postos de trabalho, preparando, para Setembro, um conjunto de novas medidas que terão um violento impacto sobre o emprego docente e as condições de trabalho nas escolas. Tais medidas, atingirão docentes contratados, mas, igualmente, docentes dos quadros cuja estabilidade fica posta em causa!

Os professores têm sido particu-larmente atingidos pelas chagas sociais da precariedade e do de-semprego. Até 2011, a taxa de

precariedade nas escolas atingia os 30%, ou seja, estava acima da já de si elevada média nacional. Já no que respeita aos docentes contratados como técnicos, pelas autarquias, para desenvolverem atividade nas AEC, a precariedade era (e continua a ser) total, ou seja, é de 100%, sendo que muitos destes “técnicos” têm sido forçados a um “regime” ilegal de “recibos verdes”.

Em 2011, muitos docentes contratados do pré-escolar e dos ensinos básico e secundário ficaram desempregados por força de medidas deliberadamente tomadas para reduzir o nú-mero de professores nas escolas. A FENPROF calcula que, no início de outubro, já seriam mais de 12.000 os novos desempregados, alguns com 10 e mais anos de serviço. Mes-mo assim, a agravar o problema o facto de o MEC lhes ter recusado pagar a compensação por caducidade legalmente estabelecida. É, inclusive, nos tribunais que a FENPROF tem vindo a garantir a efetivação desse direito.

Também devido às medidas antes refe-ridas, os docentes dos quadros das escolas e agrupamentos começaram a sentir a insta-bilidade a ameaçar cada vez mais a sua vida profissional, com o número de “horários-zero” a disparar, no início do presente ano lectivo, para cerca de 2.000.

Entretanto, o OE para 2012 veio impor novos cortes orçamentais na Educação, mui-tos dos quais em resultado de mais medidas que, a concretizarem-se, desencadearão uma nova e violenta onda de desemprego. Medidas como a revisão da estrutura cur-ricular nos ensinos básico e secundário, o encerramento de escolas e a criação de novos mega-agrupamentos, o aumento do número de alunos por turma, a extinção de projetos educativos das escolas, e extinção de cursos e a designada reorganização da rede no ensino superior ou os fortíssimos cortes na ciência, obedecem a imposições orçamentais que, na esmagadora maioria dos casos, resul-tarão em reduções fortíssimas de pessoal. Ou seja, embora já estejam a ser tomadas medidas a meio do ano letivo – tais como o encerramento de CNO ou a fusão de turmas

CEF – será em setembro próximo – início de mais um ano letivo – que se farão sentir, com maior intensidade, os efeitos devastadores das medidas referidas, sendo eliminados milhares de postos de trabalho. O impacto far-se-á sentir, de imediato, junto dos que têm vínculos laborais precários, mas, logo de seguida, nos docentes dos quadros, com os “horários-zero” a dispararem, desconhecendo--se como irá (e se irá) o governo dar resposta a esta situação de tão grande instabilidade e vulnerabilidade.

Professores, precisam-se!Estamos perante um problema dos profes-sores, mas também das escolas que, efecti-vamente, necessitam destes docentes, e da sociedade que continua a ver aumentada a taxa de desemprego e desperdiçado o inves-timento feito em profissionais devidamente habilitados e qualificados, ainda por cima numa área decisiva para as aspirações de verdadeiro desenvolvimento que deveriam nortear as políticas no país. Tudo isto ainda se torna mais intolerável num momento em que a escolaridade obrigatória se alarga,

Uma realidade que atinge fortemente os professores

“Se ainda restasse alguma dúvida quanto ao que pretende o Governo, no futuro, do emprego dos docentes, bastaria olhar para o projeto de diploma do novo regime de concursos para ficarmos esclarecidos: contratados? Só se não se resolverem as coisas de outra forma.

Se descartáveis fossem, para o Gover-no, estava chegada a hora de deitar para o lixo. Estamos perante um projeto que aponta para que:

• O concurso de ingresso se mantenha quadrienal, aderindo Nuno Crato à opção de Lurdes Rodrigues

• As necessidades temporárias sejam colmatadas com docentes dos quadros

• Os candidatos sejam opositores a um horário que pode ter 21, como apenas 6 horas

• Se exijam 4 anos completos nos últi-mos 6, em horário completo e anual, para integrar 1ª prioridade

• Mas, por outro lado, integra na 1ª prio-ridade quem não se sujeitou ao concurso público e não trabalhou em escola pública. Se o MEC quer levar até às últimas con-sequências a sua lógica – que os colégios com contrato de associação prestam serviço público, logo o emprego é equiparado a emprego público – então que preencha os lugares nesses estabelecimentos também através do concurso. Que não se limite a olhar para um dos lados do problema, o da proteção dos interesses privados. Que não transforme estes colégios em antro de negócio!

Estamos perante um projeto que aponta também para que:

• A bolsa, agora reserva de recrutamen-to, acabe em outubro passando logo para a contratação de escola

• Nesta contratação seja atribuído um peso de 50% a uma entrevista

• Continue excluída da contratação geral os TEIP e as escolas com contrato de autonomia, sabendo-se que pretende generalizar esta contratualização

• Os docentes contratados, profissiona-lizados continuem sem direito a vencer pelo índice do 1º escalão da carreira, mantendo--os no 151

• Continua a excluir os professores com habilitação própria

• Omite qualquer referência à vinculação de docentes, o que é inaceitável!

“Mas se as regras do concurso são importantes, tão ou mais importante é a sua realização este ano, em 2012”, destacou

ainda o dirigente sindical, que apontou a importância de um concurso “com regras, melhores ou piores”; é que “se não houver concurso para nada servem!... E se houver concurso mas, como em 2009, sem vagas, também de nada servem.

Da intervenção de Mário Nogueira, Secretário Geral da FENPROF, na vigília à porta do MEC, realizada em 24 e 25 de fevereiro

NOVO REGIME

Projeto de diploma de concursos

continuando Portugal a apresentar índices de abandono e insucesso escolares muito acima da média comunitária. No fecho desta edição

confirmava-se uma reunião entre a FENPROF e o MEC (27/02) para iniciar o processo de revisão do atual regime de concursos para colocação de professores.Para a FENPROF, no documento apresentado pelo MEC há omissões graves – por exemplo, não prevê qualquer regime de vinculação – e conteúdos muito negativos, sobretudo no que se refere ao regime de contratação de professores.

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

HOMENAGEMEMPREGO/DESEMPREGO22

“24 horas contra o desemprego e preca-riedade é o mesmo que 24 horas contra as políticas do governo, as imposições da troika e as opções de Coelho e Portas”, sublinhou Mário Nogueira no primeiro dia da vigília (sexta-feira), junto ao MEC, na Av. 5 de Outubro, em Lisboa, destacan-do que “a precariedade nos professores tem uma taxa acima da média nacional (30%), sendo que para os que trabalham nas AEC atinge os 100%”.

“O desemprego no setor é já de si elevado. Este ano atinge mais de 12.000 docentes que no ano passado, mas vai disparar violentamente em setembro, de-vido a medidas deliberadamente tomadas

nesse sentido”, realçou o Secretário Geral da FENPROF, que apontou a precariedade e o desemprego como “dois problemas nacionais, gerais, mas contra os quais os professores têm responsabilidades acrescidas de lutar”, tendo em conta a situação concreta no setor e o impacto social que isto tem. Não esquecendo ainda as consequências desta situação num país em que “o abandono e o insucesso conti-nuam a marcar forte presença na escola e que tem uma escolaridade a alargar-se para 12 anos!”.

Estratégia orçamentalComo lembrou Mário Nogueira, as me-didas que se preparam são conhecidas, foram decididas pela e com a troika, constam da estratégia orçamental do governo e com elas conta o OE 2012:

• Encerramento de escolas • Mega agrupamentos • Uma disparatada e perigosa revisão

da estrutura curricular• Mais alunos por turma• Encerramento de cursos no ensino

superior

• Fortíssimos cortes na Ciência e In-vestigação.

E as consequências são óbvias: “De-semprego, ainda mais desemprego; pre-cariedades várias que serão instabilidade para todos: um desemprego e uma preca-riedade que podem agravar-se, ainda, se for aplicado o acordo vergonhoso que o governo, o patronato e a UGT pretendem impor aos trabalhadores portugueses, a todos, sejam do privado ou do público.”

“Contra essas medidas, os professores juntarão as suas forças, sejam muitas ou poucas, às dos demais trabalhadores. Todos juntos, faremos da luta geral uma grande luta!”, garantiu.

Uniformizem!Mais adiante, Mário Nogueira referiu:“Em reunião, no passado dia 17, com o SEAP, este insistiu na necessidade de uniformizar o RCTFP, segundo ele, o Código de Trabalho para a FP, com o CT geral. Mas uniformizar em quê, no que é negativo? Se for esse o princípio, então:

• Que uniformizem no pagamento dos salários e os paguem na integra!

• Que uniformizem no pagamento dos subsídios e não os roubem à FP!

• Que uniformizem nas regras de in-tegração nos quadros e não mantenham trabalhadores durante 5, 10, 15, 20, 25 anos contratados a prazo.”

“Dos governantes exige-se que sejam sérios, rigorosos, respeitadores. Aquilo que temos não é isso! Roubar a quem trabalha parece ser a palavra de ordem do Governo e do Presidente da República que dá cobertura a todas as malfeitorias cometidas”, frisou Mário Nogueira.

Voltaremos!“Estamos hoje aqui”, acrescentou, “em protesto, em denúncia, em exigência, em defesa da dignidade de ser professor, de ser trabalhador; em defesa do emprego; em defesa do emprego com direitos; em defesa da Escola Pública; em defesa do Futuro! Estamos aqui hoje, permanece-mos até às 15 de sábado, nestas 24 horas de Vigília, mas voltaremos. Voltaremos porque não nos resignamos, não calamos a indignação e a revolta, não nos cansa-mos de lutar e de puxar outros para que

lutem! Hoje, mais do que nunca, é isso que esperam os trabalhadores dos seus Sindicatos, daqueles que não se movem nos corredores do poder aliando-se a esse poder!”

Mais adiante, o dirigente sindical afirmou: “O ataque pode ser e é violento, mas por isso mesmo, em vez de desis-tirmos, de esperarmos sempre o melhor momento, sendo que esse pode sempre tardar, façamos das tripas coração e va-mos à luta. Vamos ganhar os que ainda não estão ganhos e respondamos à vio-lência do ataque com a mesma convicção com que Brecht escreveu: “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”.

“Ajudemos, amigos e camaradas, a engrossar o caudal de um rio de espe-rança que desagúe num mar chamado Futuro. Lutemos por esse Futuro, se-jamos os seus construtores. Pela parte da FENPROF outra coisa não devem esperar as margens que comprimem os professores e, em geral, os trabalhado-res!”, concluiu.

“Ajudemos a engrossar o caudal de um rio de esperança que desagúe num mar chamado Futuro”

Vigília à porta do MEC“24 horas contra a precariedade e o desemprego”

Ana Drago, BE

Heloísa Apolónia, PEV

Miguel Tiago, PCP

Arménio Carlos, SG da CGTP-IN

José Calçada, Sindicato dos Inspectores

Marco Marques, Precários Inflexíveis

Artur Sequeira, FNSFP

Com expressiva participação de pro-fessores desempregados e con-tratados, e apoiada por uma onda solidária manifestada por represen-

tantes de variadas organizações, decorreu, entre 24 e 25 de fevereiro, a vigília organizada pela FENPROF na Av. 5 de Outubro, frente ao Ministério da Educação e Ciência (MEC).

No primeiro dia (sexta-feira), durante a tarde, registaram-se diversas comunicações. Estiveram representadas, entre outras, or-ganizações como a CGTP-IN, os Precários Inflexíveis, a Associação de Professores de EVT, a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSFP), a Associação Nacional de Profissionais de Educação e Formação de Adultos, a InterJovem, o Sin-dicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) e o Sindicato dos Inspetores de Educação e Ensino, além de deputados do PEV, BE e PCP.

O Secretário Geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, deixou uma mensagem de solidarie-dade da Central unitária com os professores

e educadores, destacando a importância da ação, da luta e do protesto contra a preca-riedade laboral no momento que vivemos. A primeira intervenção coube a João Lou-ceiro, coordenador desta área de trabalho (precariedade/desemprego) no Secretariado Nacional da FENPROF.

“Exportar” professores?“Não nos venham com a cassete habitual de que há professores a mais”, desafiou João Louceiro, que apontou logo de seguida algu-mas estratégias fundamentais: combatam com seriedade o insucesso e o abandono escolares; reduzam o número de alunos por turma; incrementem projetos ambiciosos de apoio e promoção da qualidade nas escolas; qualifiquem com rigor a população ativa; assegurem a escolaridade obrigatória de 12 anos; aumentem as taxas nacionais de diplomados pelo ensino superior; apostem em modelos de desenvolvimento sérios – … e então veremos se Portugal se pode dar ao luxo de ter um governo que quer exportar profissionais desta área!”

Destacando a importância desta vigília, contra a precariedade e o desemprego, João Louceiro sublinhou que é uma luta que, “com as dificuldades que a FENPROF tão bem conhece, vem de longe e que, mais do que nunca, tem de se alargar, tem de movimentar mais pessoas, mais professo-

res e outros trabalhadores, lembrando hoje que, com tudo o que de tão negativo está a acontecer, todos lutamos pelo emprego.”

“Esta é uma luta”, acrescentou, “para a qual têm de ser chamados todos e não só os chamados “precários”; temos de inter-vir, de pressionar para que as alternativas se concretizem, para que os problemas que nos trazem hoje aqui sejam, finalmente, resolvidos”.

“É uma luta que importa prosseguir em todas as oportunidades, colocando a precariedade e o desemprego no centro da condenação das políticas atuais e ba-talhando para contrariar os que querem aprofundar, sempre mais e mais, os seus efeitos…” – concluiu.

Mário Nogueira (ver síntese nestas pá-ginas) tornou pública uma primeira posição da FENPROF em relação ao projeto de diploma legal, apresentado pelo governo, que altera alguns aspetos do atual regime de concursos de docentes (recorde-se que a FENPROF reuniu com o MEC, sobre esta matéria, no passado dia 27).

A vigília prosseguiu até ao princípio da tarde de sábado, dia 25, com intervenções de professores contratados e desempre-gados. O Secretário Geral da FENPROF encerrou a iniciativa, sem dúvida uma das mais expressivas ações contra a precarie-dade laboral no ensino. | JPO

Carlos Gomes, ANPEVT

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

JF |25HOMENAGEMEMPREGO/DESEMPREGO24

Os participantes nesta vigília apelam a um urgente sobressalto na sociedade portuguesa que contribua para suster e corrigir as erradas opções políticas

pela precariedade laboral que, entre outras violentas consequências sociais e económicas, estão a alimentar

fartamente o desemprego.

MOÇÃO35,4%

ABUSOS

• Exigem do Governo e da Assembleia da República a correção das opções que estão a ser seguidas no que respeita à criação de condições que garantam estabilidade de emprego, com destaque para as áreas da Educação e Investigação, de forma a corrigir o crescimento dramático do desemprego e da incerteza na vida dos profissionais, das escolas e das instituições;

• Consideram que, no âmbito da alteração das normas de concurso e colocação de docentes, se exige a aprovação de regras de vinculação dos docentes contratados, bem como de critérios para a identificação e abertura de vagas de quadro coincidentes com as necessidades permanentes das escolas e do sistema;

• Condenam o MEC por continuar a negar o pagamento das compensações por caducidade dos contratos a termo e exigem o imediato cumprimento da lei e o respeito que não tem sido revelado pelos docentes;

• Renovam o apelo à intervenção da sociedade no sentido das alternativas às op-ções políticas pela precariedade, já que o caminho que está a ser seguido acarreta um escandaloso desperdício de recursos humanos tão necessários à superação de graves problemas estruturais do país; é responsável pela deliberada fragilização da Escola Pú-blica e, em consequência, por incapacidades e diminuição da sua qualidade; determina perdas económicas intoleráveis, quer pelo desperdício de importantíssimas qualifi-cações profissionais, quer pela impossibilidade de organização de percursos de vida profissional e pessoal de largos milhares de docentes e outros trabalhadores, muitos deles jovens a quem o poder político nega presente e futuro; conduz à deterioração do tecido social, pelas incertezas que inculca e individualismos que estimula, e contribui para a perigosa descredibilização da própria vida democrática.

Fazendo um apelo à intervenção da sociedade, os participantes nesta vigília declaram a disponibilidade para prosseguir a justa luta pelo emprego com direitos e com perspe-tivas de futuro e dirigem um apelo especial a todos os docentes, investigadores e outros trabalhadores das áreas da Educação e Ciência para uma ruptura definitiva com a propa-ganda da inevitabilidade das políticas que estão a ser seguidas. É preciso lutar, é urgente agir; em todas as oportunidades deve figurar bem alto a luta contra a precariedade e o desemprego. Estas políticas não são inevitáveis: inevitável é lutar por outras políticas! Lisboa, 24 de fevereiro de 2012

São as opções (do Governo) que provocam esta asfixia

direitos aos trabalhadores, neste caso do-centes, tem incidências imorais como acon-tece com o facto de a atual, como a anterior equipa do MEC, recusar o pagamento da compensação por caducidade dos contratos a termo, contrariando sobranceiramente a lei, as recomendações da Provedoria de Justiça e o número crescente de sentenças nos tribunais a que os docentes contratados se viram obrigados a recorrer.

A opção pela precariedade, para além da indelével marca ideológica que exibe, é bem o espelho da secundarização real da Educa-ção e da Ciência que contraria enganadoras declarações de circunstância. Na Assembleia da República, os partidos que têm integrado governos continuam a recusar a resolução da continuada, injusta e errada precariedade imposta a muitos milhares de profissionais qualificados, quantos deles com anos e anos de serviço, respondendo a necessidades de trabalho que são, sem margem para dúvidas, permanentes.

Diferentes iniciativas parlamentares têm sido inviabilizadas por deputados do PS, do PSD e do CDS, como são exemplo as que se prendem com a vinculação de docentes contratados. Os participantes na vigília criticam abertamente os/as deputados/as que, podendo contribuir para resolver os graves e persisten-tes problemas da precariedade, optam por

Os participantes nesta vigília contra a precariedade e o desemprego:

Afirmam que o desenvolvimento do país não é compatível com a insistência e o agravamento destas opções que vêm alargando o núme-

ro de trabalhadores sujeitos à precariedade, sob ameaça permanente do desemprego, que têm agravado os próprios regimes e formas de precariedade e que constituem um insu-portável garrote sobre o futuro de Portugal e, muito em particular, dos seus jovens.

Os participantes na vigília denunciam pu-blicamente que as áreas da Educação e da

Ciência têm sido fortemente fustigadas pela insistência em tão erradas opções, o que merece uma viva condenação. Sucessivos governos apostaram em conseguir, por esta via, trabalho mais barato e sem acesso a muitos direitos como compromissos básicos de esta-bilidade e garantiram, por esta via, calculadas facilidades para, na primeira oportunidade, descartarem-se de milhares de profissionais, como pretende o atual governo fazer.

O quadro de desrespeito que enforma estas opções políticas que negam justiça e

mantê-los, num evidente desrespeito pelos profissionais em causa, pelas instituições de investigação e ensino e pelo país que precisa de romper urgentemente com tais práticas e tais políticas.

Na mesma linha, o MEC, na proposta apresentada há dias para alteração de regras de concurso e colocação de professores, continua a omitir qualquer referência a regras de vinculação de professores, em nada se comprometendo quanto a critérios para a abertura de vagas de quadro e introduzindo novas distorções e atropelos nos mecanismos de concurso.

Na área da Educação e nos dias difíceis que correm, agiganta-se o propósito do Governo

de retirar às escolas mais uns largos milhares de docentes. Havendo, como se sabe, tanto por fazer e para fazer melhor nestas áreas, é condenável que o Governo, em lugar de apostar no trabalho qualificado daqueles profissionais, docentes, investigadores ou outros, opte por os subtrair às escolas e por os aconselhar à emigração como resposta à sua necessidade de emprego.

São as opções e não a inevitabilidade que tornam a instabilidade, a precariedade e o desemprego condição asfixiante para traba-lhadores não docentes, para os docentes de todos os níveis de educação e áreas e para investigadores, fazendo perigar o futuro da Educação, da Ciência e de Portugal.

João Louceiro, FENPROF Mário Nogueira e Arménio Carlos

Desemprego jovem em Portugal:

números e realidades preocupantes

O inquérito ao emprego recentemente divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística mostra que o desemprego entre os que têm 15 a 24 anos está a adquirir contornos preocupantes. A taxa de 35,4% apurada para o quarto trimestre de 2011 é mais do dobro da média nacional de 14%.Além disso, revela um aumento consistente desde o segundo trimestre do ano, quando a taxa de desemprego jovem atingiu os 27%, passando no trimestre seguinte para os 30%. Ao todo, são mais de 156 mil os jovens que não conseguem entrar no mercado de trabalho. O problema torna-se mais expressivo se a estes somarmos os desempregados que têm entre 25 e 34 anos e que totalizavam, no final do ano, 217,4 mil. Nesta faixa etária, a taxa de desemprego também está acima da média e atinge 15,8% da população activa nesta faixa etária.

Educação e Ciência:

Precariedade elevada ao extremo

“A diversidade das organizações que responderam ao convite da FENPROF para estarem nesta vigília permite ilustrar o que denunciamos: se para o país há um projeto descarado, oportunista, neoliberal de alastramento e agravamento do número e das formas de precariedade a que os trabalhadores são sujeitos para serem mais explorados, as áreas da Educação e da Ciência têm sido terreno de abusos ilimitados no recurso a formas precárias de relação laboral!” | JL

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

26 EMPREGO/DESEMPREGO26

Perguntamo-nos, muitas vezes, porque se verifica um afastamento da grande parte dos colegas contratados, da luta sindical que, só com ela, os trabalhadores podem alcançar a mudança para obter melhores condições de vida e de trabalho.

Não sabendo que os direitos que agora estão a ver ameaçados, foram conquistados com grandes lutas sindicais, promovidas pelos

sindicatos da FENPROF com colegas contra-tados, julgam que a instabilidade que vivem, sempre existiu sendo, por isso, inevitável a sua manutenção.

Porque o conhecimento do passado sus-tenta o presente e constrói o futuro – e visto que contar na primeira pessoa é sempre um relato mais vívido e crível – aqui fica um retalho da história da Educação deste país, à guisa de reflexão.

Corria o ano de 1988, era primeiro ministro o atual Presidente da República, Cavaco Silva e, Roberto Carneiro, ministro da educação. No intuito de preencher lugares decorrentes de necessidades transitórias, através do artº 67º do Decreto Lei nº 35/ 88 de 4 de fevereiro, conjugado com o Despacho Normativo nº 91/ 88 de 22 de outubro, criam, então, a figura de professor/ educador contratado, imposta, na altura, a cerca de dois milhares de docentes profissionalizados – mão de obra especializada mas completamente descartável, a bel prazer de um qualquer Ministério das Finanças sem escrúpulos e sem respeito pelos profissionais e pela qualidade da Escola Pública – e que perdura até aos dias de hoje.

AtaquesMuitos foram os ataques aos nossos direi-tos, inalienáveis e vertidos na Constituição da República Portuguesa, como o direito à greve, à licença de maternidade e à proteção da saúde, docentes de quem a Administração Pública precisava, utilizava mas tratava como se não existissem. Assim:

Expoente da luta que, desde o início, a FEN-PROF encetou em defesa dos direitos destes também docentes – e que jamais abandonará até ver satisfeitas as suas justas exigências – foi o Dia Nacional de Luta, a 17 de março de 1989, que levou a Lisboa, numerosas centenas de docentes contratados, não só para lutarem contra uma legislação iníqua mas – e sobretudo – com esperança na mudança que se exigia.

ConquistasMuitas – e algumas imediatas – foram as conquistas que os professores e educadores contratados obtiveram com a luta que ence-taram, em torno dos sindicatos da FENPROF: na altura, a tão ansiada abertura de vagas de quadro que permitiu a tantos docentes, com muito tempo de serviço, ganhar o seu vínculo ao ME; o direito à assistência médica e a um Regime de Férias, Faltas e Licenças igual aos demais docentes; o depósito do salário em segurança e atempadamente e, fundamental, embora mais recente, a con-quista do subsídio de desemprego, obtido após tantas e tão intensas lutas.

Outras, porque ainda não concretizadas, continuarão a exigir de todos nós, em parti-cular dos colegas contratados, a continuação da luta, como é o caso da exigência de regras de vinculação que, de modo próximo com o que está regulamentado na legislação geral do trabalho estabeleça que ao fim de três anos de serviço o MEC assuma um com-promisso de estabilidade com o docente a quem recorreu, contratando-o; só desta forma, pode haver uma real estabilidade no sistema educativo, indispensável a uma Escola Pública de qualidade.

Resultado de políticas de educação erradas e sempre de cariz economicista, desvalorizadoras dessa Escola Pública que todos queremos, tem-se agravado a situação precária dos docentes contratados, tendo, os sucessivos governos, ido mais longe, retirando direitos conquistados. Destaco o contrato administrativo de provimento que permitia a contagem do tempo “como serviço docente, para todos os efeitos legais, o tempo que mediar entre a cessação do respectivo provimento, se a mesma não tiver lugar antes do termo do correspondente ano lectivo, e o início da eficácia do próximo provimento, se este último se verificar até ao final do primeiro período do ano escolar seguinte.” (artº 17º, do DL nº 270/95 de 14 de junho) Para “além disso, nos casos em que o docente titular do lugar se apresenta[asse] ao serviço após 31 de Maio, o contrato considera[va]-se em vigor até ao final do ano escolar.” (Portaria nº 367/98 de 29 de junho) Embora continuando precários, uma e outra situação, apesar de tudo, davam alguma estabilidade ao sistema mas, principalmente, ao docente contratado permitindo-lhe aumentar o tempo de serviço, aspeto que lhe é vital para os concursos, e que ambos desapareceram com a introdução dos contratos a termo.

Concurso nacionalUm outro direito, não menos importante, é o concurso nacional, com vagas, há muito adul-terado pelo ME, ao ter criado a tristemente célebre contratação de escola, com legislação própria, que promove critérios a la carte dos agrupamentos, como por exemplo, “Ter trabalhado no agrupamento no ano anterior” ou “Conhecer o diretor” (como se qualquer um deles fosse garantia de qualidade no desempenho docente...). Sabendo que aos agrupamentos em contrato de autonomia lhes é permitida, por lei, a contratação direta dos seus docentes e tendo em conta um dos princípios gerais do MEC para alterar o regime de autonomia, administração e gestão das escolas – “consolidação e alargamento da rede de escolas com contratos de auto-nomia” – preparemo-nos todos os docentes – contratados e os, ainda, pertencente a um quadro – para encetar uma luta dura e firme, a fim de defender o concurso nacional, como ele deve ser: anual, com regras universais e transparentes.

A ação da FENPROFTentativas para retirar, ainda mais, os parcos direitos de quem se vê, anos a fio, numa situação de instabilidade e de regressar a um passado que ninguém quer, sequer, lembrar, são muitas e só a intervenção oportuna e insistente da FENPROF tem impedido o agravamento da situação dos contratados. É disto exemplo, no início do ano letivo, o automatismo no formulário eletrónico da DGRHE, para os contratos, que os limitou

A nossa força em unidade é fundamentalANA RAJÃO (CN da FENPROF, ex-membro das comissões de luta dos professores contratados, 1988-89)

TESTEMUNHO a 31 de julho, quando a lei refere que “a duração do contrato de trabalho tem por limite o termo do ano escolar a que respei-ta.” (ponto 3, do artº 3º, do Decreto Lei nº 35/2007 de 15 de fevereiro) Deste modo, a tentativa de sonegar um mês de serviço aos docentes contratados até final do ano, o de férias, – facto que aparenta “moderno” mas que não é mais que o decalque barato do que se passava no fascismo, em que os professores não auferiam nas férias, tendo sido essa uma das razões da criação dos “Grupos de Estudo”, precursores dos sin-dicatos de Professores – mereceu, por parte da FENPROF, a imediata denúncia e conse-quente pedido de intervenção do Provedor de Justiça, no sentido de ser respeitada a legislação em vigor.

Luta jurídicaNo mesmo sentido, temos a luta, esta pela via jurídica, pelo cumprimento do Regime de Contrato em Funções Públicas, Lei nº 59/ 2008 de 11 de setembro, quando afirma que, pela caducidade do contrato, o trabalhador tem direito a auferir uma compensação pe-cuniária. Ora, os docentes contratados são, efetivamente, trabalhadores, nos deveres mas também nos direitos. Tal parece não ter considerado o MEC, que não só incorreu em ilegalidade como “fez ouvidos de mercador” à Recomendação do Provedor de Justiça, quanto a esta matéria, que concordava com a FENPROF quando defendia a concretiza-ção deste direito. Assim, até ao momento, vamos já na oitava decisão favorável, de diversos Tribunais Administrativos e Fiscais do país – contra escassas duas decisões, inacreditavelmente negativas, pasme-se!, do mesmo Tribunal, o Administrativo e Fiscal de Leiria – ultrapassando assim, em muito, as cinco necessárias para fazer a extensão dos efeitos da sentença que, brevemente, os colegas contratados po-derão pedir, através de minuta que está divulgada no sítio da FENPROF e nos dos seus sindicatos.

Como podemos constatar, a História diz--nos que a mudança faz-se com quem age e sem irmos à luta, perdemos, decerto. Temos de acreditar que a alteração do rumo das políticas deste país é possível e não esquecer que todos somos chamados a combatê-las, bem como à solução da precariedade que teimam em fazer-nos acreditar ser caminho para o progresso e modernidade.

Torna-se urgente que todos docentes percebam que a nossa força em unidade é fundamental e, mais do que nunca, esta é a hora dos docentes contratados se agiganta-rem na defesa dos seus direitos, em nome do direito ao trabalho e de um trabalho com direitos, em nome de uma Escola Pública, Democrática, de Qualidade que queremos para todos, porque, tal como escreveu, um dia, Ary dos Santos, “quando o povo se levanta nunca é tarde.”

A História diz-nos que a mudança faz-se com quem age e sem irmos à luta, perdemos, decerto. Temos de acreditar que a alteração do rumo das políticas deste país é possível e não esquecer que todos somos chamados a combatê-las, bem como à solução da precariedade que teimam em fazer-nos acreditar ser caminho para o progresso e modernidade.

• Embora trabalhando em escolas pú-blicas, era-nos vedado o direito à proteção na saúde em que não só a falta por doença entrava no cômputo geral das faltas, como nos era negada a inscrição na ADSE e Caixa Geral de Aposentações tendo, posteriormen-te, o ME decidido exigir-nos a inscrição na Segurança Social, como se pertencêssemos ao ensino privado;

• Embora trabalhando em escolas públi-cas, não partilhávamos o Regime de Férias, Faltas e Licenças dos restantes colegas. Deste modo, corríamos o risco de vermos denunciado o nosso contrato, pelo ME, se déssemos qualquer tipo de falta: 5 nos pri-meiros 30 dias de contrato, 8 nos primeiros 60 dias de contrato, 12 no decurso dos 90 dias de contrato ou 15 dias se ultrapassada esta última vigência (ponto 16, do já referido Despacho Normativo nº 91/ 88). Daqui – situ-ação singular – muitas colegas contratadas não terem podido usufruir da licença de maternidade a que elas e, sobretudo, os seus filhos tinham direito, constitucionalmente falando, desde o 25 de abril de 1974;

• Embora trabalhando nas escolas públi-cas, não tínhamos o direito a ver depositados os nossos salários. Era necessário faltar à escola para cumprir um penoso itinerário, obrigatório: primeiro, a Repartição de Fi-

nanças onde, por próprio punho, tínhamos de preencher o «canhoto» de uma Folha de Despesa do Ministério da Educação. Depois de preenchido e de colocado o selo branco, levávamos o impresso ao Banco de Portugal que nos pagava, nota por nota. Por fim, era necessário correr, literalmente, para o Banco mais próximo, esperando não sermos assal-tados e, sobretudo, ainda chegarmos antes do encerramento.

• E por falar em salários – e, mais uma vez, embora trabalhando nas escolas públi-cas – não podemos esquecer os constantes atrasos no seu pagamento, a recusa do aumento de 1,5% que o governo, no final do ano atribuiu, com retroatividade a janeiro de 1988, aos funcionários públicos (pois os contratados, em definitivo, não eram considerados Administração Pública…), os problemas com os subsídios de natal e férias e o não pagamento do mês de setembro aos docentes que tinham exercido as suas funções, no ano letivo 1987/ 88.

Vigília de fevereiro dinamizou luta contra a precariedade e o desemprego docente

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

HOMENAGEM28 EMPREGO/DESEMPREGO JF |2928

“As medidas contidas na Portaria n.º 45/2012, denominada “Estímulo 2012” aprofundam a precariedade, os baixos salários e o desemprego, nomeadamente entre os mais jovens”, alerta a CGTP-IN.

A Central mostra que tais medidas perpetuam a precariedade, porque incentivam a contratação de traba-lhadores a termo e aprofundam

o modelo de baixos salários uma vez que será mais fácil e mais barato aos patrões contratar um jovem com menos de 25 anos, com parte do seu ordenado a ser pago com financiamentos públicos (50% do salário, tendo como limite o valor do IAS, majorado em 10%) e o seu salário líquido a não ultra-passar os 620 euros.

O “Estímulo 2012”, esclarece a Inter, “não combate o desemprego, num quadro de recessão da Economia em mais de 2,7% no último trimestre, em que todos os dias encerram empresas e cada vez mais jovens engrossam as fileiras do desemprego e, ao promover a precariedade, empurra mais jovens trabalhadores para a antecâmara do desemprego”.

Baseada no argumento da criação de emprego a qualquer custo, entregando às empresas financiamento público para pagar salários aos seus trabalhadores, esta medida, salienta a CGTP, “não resolve aquilo que são os problemas estruturais do desemprego, principalmente entre os jovens trabalhado-

res – os baixos salários, a precariedade, a destruição da Produção nacional e o

encerramento dos Serviços Públicos.”

Os verdadeiros interessados… A Interjovem/CGTP-IN não pode deixar de denunciar claramente a entrada em vigor desta portaria,

contra a qual a Central unitária se posicionou desde o início. Trata-se de

“uma situação que interessa apenas aos que contratam trabalhadores a ter-mo e que veem os seus lucros crescer com o aumento da exploração que a precariedade proporciona.”

Essa medida dá-se num quadro onde mais de 140 mil jovens com

menos de 25 anos, se encontram em situação de desemprego e 78% dos jovens dos 25 aos 34 anos entram nas empresas com vínculos precários, ganhando, em média, menos 25% do que os que se encontram com vínculos efetivos, regista a CGTP-IN, que observa ainda: “Num país onde mais de 40% dos trabalhadores que se inscrevem nos centros de

emprego depois da não renovação dos seus contratos precários dão-se mais passos para a generalização da precariedade com uma medida segundo a qual não é obrigatório o estabelecimento de um vínculo efetivo pois este apoio direto é concedido por seis meses à empresa e esta pode contratar o trabalhador no prazo mínimo desses seis meses.”

A Intersindical Nacional lembra que os jovens trabalhadores deram um claro sinal de descontentamento com a precariedade, o desemprego e os baixos salários na grande manifestação do passado dia 11 de feve-reiro, exigindo que a um posto de trabalho permanente corresponda um vínculo efetivo, denunciando o aumento do custo de vida e mostrando uma grande disponibilidade para a continuação da Luta pelo trabalho com direitos.

A continuação desta luta, nos locais de trabalho e na rua, por exemplo já no próximo dia 31 de março, na manifestação nacional da juventude trabalhadora, “será decisiva para a derrota desta e de outras medidas de aumento da exploração, da precariedade e do desemprego”, flagelos bem conhecidos de milhares de jovens professores portu-gueses. | JPO

Aprofundar a precariedade, os baixos salários e o desemprego

“ESTÍMULO 2012”

Mais de 140 mil jovens com menos de 25 anos, se encontram em situação de desemprego e 78% dos jovens dos 25 aos 34 anos entram nas empresas com vínculos precários, ganhando, em média, menos 25% do que os que se encontram com vínculos efetivos.

JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

Isto corresponde a mais 81 mil desempre-gados relativamente ao trimestre anterior (mais 12%), alerta uma nota de imprensa divulgada recentemente pela CGTP-IN.

“Na realidade o número de desempregados é mais elevado”, regista Central, que acrescenta “Juntando os inativos disponíveis (203,1 mil) e o subemprego visível (186,6 mil), são mais de 1.160 mil os desempregados e subempregados no nosso país, ou seja, 20,3% da população ativa. No início de 2011 esta taxa era de 17,7%. Estes dados não podem ser dissociados da política recessiva desenvolvida pelo Governo

Senhores do governo, acordem!

no nosso país. A quebra do PIB foi de 1,5% em 2011 e de 2,7% no 4º trimestre do ano. Lembrando que “a situação é agravada pelo fato de a maioria dos desempregados não ter acesso a qualquer prestação de desemprego, uma vez que apenas 306 mil desempregados estavam cobertos pelo subsídio de desem-prego ou subsídio social de desemprego, o que corresponde a menos de 1/3 do total”, a Inter salienta que esta grave situação se vive numa altura em que “o desemprego de longa duração continua a aumentar, atingindo já 52,6 por cento”.

Desemprego e subemprego atingem mais de 1.160.000 pessoas em Portugal

O desemprego em Portugal atingiu níveis insustentáveis. Segundo o INE, no 4º trimestre de 2011 a taxa de desempre-go foi de 14%, correspondendo a 771 mil desempregados.

Acrescenta a nota sindical que se per-deram “mais de 118 mil postos de trabalho, 2/3 dos quais ocupados por jovens até aos 35 anos. A perda de emprego foi transver-sal aos três grandes setores de actividade, com destaque para a indústria (menos 58 mil postos de trabalho), e a quase todas as atividades.”

O número de trabalhadores por con-ta de outrem diminuiu em 93,4 mil, no-meadamente entre os que têm vínculos não permanentes (menos 78 mil), o que demonstra bem que a precariedade é a antecâmara do desemprego.

Mesmo com esta diminuição o número de trabalhadores com contratos não perma-nentes é de 794 mil, sendo mais de metade jovens com menos de 35 anos.

Os jovens foram os mais afetados pelo aumento do desemprego. A taxa de desem-prego dos menores de 25 anos passou de 27,8% no 1º trimestre de 2011 para 35,4% no último trimestre do ano, tendo-se também verificado um aumento no grupo dos 25 aos 34 anos.

E estamos em crer que os números só não são mais elevados porque muitos jovens, alguns dos quais com altas qualificações, já deixaram o país em busca de emprego e melhores condições de vida noutras para-gens. Além do drama pessoal que significa a falta de perspetivas de vida e de trabalho no seu próprio país, Portugal fica privado de um potencial de conhecimentos e energia necessários ao seu desenvolvimento eco-nómico e social, e relativamente aos quais investiu.

As previsões do Governo para 2011 foram ultrapassadas quando previa 12,5% de taxa de desemprego e ela veio a situar-se em 12,7%. A continuar-se com esta tendência de aumento do desemprego, também a previsão de 2012 (13,4%) será ultrapassada.

Como destaca a nota da Intersindical, “este é o resultado das políticas recessivas que o Governo PSD/CDS escolheu imple-mentar, utilizando a crise económica como pretexto para a adoção de políticas de aus-teridade de cariz marcadamente neoliberal que, a não serem travadas, conduzirão ao empobrecimento dos trabalhadores e da maioria da população.”

A CGTP-IN não se conforma com esta política “e tudo fará para lhe pôr termo atra-vés da luta organizada dos trabalhadores”.

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JF |31HOMENAGEM

JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

HOMENAGEMPAÍS REAL30 SETORES

MADEIRA

Na mesma medida em que o País perde soberania decorrente do acordo com a troika, a Madeira perde autonomia com o seu

programa de ajustamento financeiro. Na primeira reunião negocial com os sindi-catos da Região, em 23 de Fevereiro, a nova tutela educativa informou que serão aplicadas as regras definidas para toda a função pública, em que se inclui a avaliação do desempenho, aprovadas ao nível nacional.

Significa que esta e futuras nego-ciações estarão condicionadas pelo que está escrito no programa de ajustamento financeiro acordado entre o Governo Regional e o Governo da República. Esta

reunião negocial centrou-se na proposta de modelo de avaliação do desempenho docente e o SPM deixou claro à secre-tária regional da Educação e Recursos Humanos que não aceitará a introdução de quotas e vagas.

O sindicato, em parecer, comunicou ainda à tutela que o “mínimo aceitável é que a negociação do modelo de avaliação de desempenho docente ocorra em pro-cesso negocial simultâneo à revisão do ECD regional”, para evitar construir um edifício pelo telhado e inverter a lógica e ordem jurídicas (o ECD enquadra a própria regulamentação do regime de avaliação). Por isso, nada foi negociado na especia-lidade. Foi uma reunião inconclusiva.

Avaliação e ECDResgate financeiro

condiciona negociaçãoNÉLIO DE SOUSA (Direção do SPM)

MANUEL NOBRE (Conselho Nacional da FENPROF)ANA SIMÕES (Membro do SN da FENPROF))

Milhares e milhares de profes-sores, conscientes e determi-nados na sua acção, insistiram em dizer ao país, ao Governo

(PS-Sócrates) e à Ministra da Educação que a razão estava do seu lado. As medidas que estavam a ser adoptadas não estavam a melhorar a educação e iriam devastar a Escola Pública a curto prazo, por seu lado, sustentado na sua maioria parlamentar e no retirar espaço à Direita, o Governo assumindo uma postura autoritária e pouco democrática, insistiu no desastre e na demagogia.

Depois de inúmeros episódios, alguns mais mediáticos que outros (Magalhães, Concursos, Professores Titulares, Gestão das Escolas, SIADAP, …), a força da luta e da denúncia levou a que algumas das decisões acabassem por ser discutidas e revistas, quer por via da pressão dos do-centes nas escolas e nas ruas quer pelas vias judiciais.

O que diz a comunicação socialEntretanto, é publico e há muito que corre nos jornais, mais um folhetim deste enredo da imposição e do autoritarismo. O DIAP de Lisboa diz que Maria Lurdes Rodrigues, a sua chefe de gabinete (Maria José Morgado) e o secretário-geral do Ministério da Educação (João Baptista) beneficiaram patrimonialmen-te João Pedroso por ser “uma pessoa do seu círculo de relações pessoais, profissionais e político-partidárias”, subvertendo para o efeito a legislação da contratação pública. Em causa está a adjudicação de dois contratos, cujo valor ultrapassou os 300 mil euros, para a elaboração de uma compilação da legislação no domínio da educação – sector no qual João Pedro não tinha experiência. A imputação de favorecimento deriva do facto de o ajuste directo ser ilegal, pois ul-trapassava o montante definido pela lei para essa forma de contratação pública, e pelo incumprimento dos objectivos do primeiro

contrato de 2005 – facto que não impediu a adjudicação de um

segundo contrato de 260 mil euros em 2007.

Lurdes Rodrigues nas teias da LeiOs professores quando lutam, é porque têm razão

Que sirva de exemplo à Ex Ministra, ao Ex Primeiro-Ministro, aos governantes e às troikas, a todos os Professores, ao Povo Português, aos Jovens e aos Trabalhadores que estão a pagar os desgovernos que não foram (e não são) da sua responsabilidade e

que, episódio atrás de episódio, têm levado o país para a pobreza e para a destruição. Só denunciado, agindo e exigindo é que se ganha algo. “O importante não é justificar o erro, mas impedir que ele se repita”.

Foi divulgado um estudo da IGE sobre a Educação Especial nas escolas públicas.

Poderia a IGE assumir um papel autóno-mo, evitando elogios despropositados às políticas, como os que faz na nota introdutória, mas, subordinação à

parte, alguns dos problemas referidos são os que, em tempo oportuno, foram denunciados pela FENPROF.

Na Educação Especial, os problemas têm vindo a acumular-se, sobretudo depois da publicação do diploma legal que introduziu a CIF como método único de referenciação dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE), situação que tem vindo a agravar-se à medida que, sobre a Educação, se adensa a pressão economicista imposta por sucessivos governos que agem às ordens da troika.

Neste contexto, tem-se agravado o proble-ma da não consideração da verdadeira inclusão de alunos com NEE como aspeto essencial do sistema educativo e da qualidade da sua resposta. Cada aluno tem competências que devem ser valorizadas no coletivo (a escola e a sociedade) e devidamente partilhadas com os seus colegas e docentes.

A atual equipa ministerial continua a não valorizar estes alunos mantendo a exclusão dentro da escola, com as unidades especializa-das e as escolas de referência, restringindo os apoios educativos inclusivos e promovendo, assim, a exclusão em ambientes segregados.

Este ano letivo, continuamos confrontados com a ausência de investimento na Educação, situação que atinge, de forma particularmente grave, a Educação Especial com impacto no número de docentes (o rácio aluno/docente é cada vez mais elevado) e não docentes (assistentes operacionais, psicólogos, tera-peutas…) afastando o apoio especializado a estes alunos e dificultando a criação de condições de igualdade de oportunidades entre todas as crianças e jovens, em que cada um contribui como o seu “saber ser” e “saber fazer”.

Este ministério também continua a ex-cluir alunos que não têm NEE de carácter permanente, deixando-os sem os apoios especializados consoante de que carecem. Esta é uma opção política que persiste, pas-sando por muitas equipas ministeriais que

não tiveram capacidade nem vontade para avançarem para outro tipo de solução…

O MEC, até agora, nunca se referiu a uma eventual revisão da legislação em vigor, no entanto, o DL 3/2008 poderá vir a ser alterado… provavelmente, à semelhança do que tem acontecido com outros quadros legais, não será para ir ao encontro das reais necessidades das escolas, dos alunos e do sistema nem para promover a qualidade do ensino que é proporcionado aos alunos com NEE. No atual quadro economicista, poderá agravar-se, ainda mais, a situação de exclusão escolar e educativa destes alunos.

A FENPROF tem propostas concretas para uma alteração a sério (e séria) da Educação Especial e já as apresentou às equipas mi-nisteriais anteriores e à atual. Estas vão no sentido de garantir uma verdadeira inclusão dos alunos com NEE, não esquecendo que esta inclusão deverá refletir-se na escola, mas igualmente na sociedade.

Se o MEC apresentar um projeto de alteração do DL 3/2008 todos os docentes, com a responsabilidade acrescida para os de Educação Especial, devem participar na sua discussão apresentando propostas que alterem a atual situação de inclusão simulada, que se vive, não por culpa dos docentes, mas pela legislação que vigora e as orientações que são dadas. Mas se o MEC não o fizer, a FENPROF, como organização mais importante e representativa dos docentes portugueses, tomará a iniciativa.

A última proposta de revisão de legislação apresentada pelo MEC foi sobre os concursos e, sobre isso, a FENPROF (que, também sobre esta matéria, já promoveu amplos debates com os professores) tem propos-tas concretas, nomeadamente em relação à classificação e graduação profissional e à criação de um novo grupo de recrutamento para a Intervenção Precoce.

Outra preocupação da FENPROF pren-de-se com o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos. Tal alargamento está em curso e nada se prevê para que os alunos com NEE possam, em condições de sucesso, enfrentar essa nova etapa da sua escolaridade, agora obrigatória. Nesta nego-ciação sobre o novo regime dos concursos é importantíssimo que fique prevista a criação de lugares de Educação Especial nas escolas secundárias e o seu alargamento nos agru-pamentos onde, atualmente, não existe um corpo docente estável para os alunos com NEE que já as frequentam.

Tudo igual na educação especial… o que é mau!

Cada docente tem as suas razões para protestar e lutar e, para além de todas as ou-tras (defesa do emprego, defesa de melhores condições de trabalho, defesa de um salário digno…), esta é mais uma (a defesa dos direitos dos docentes de Educação Especial e dos alunos com NEE, sempre pugnando pela igualdade de oportunidades no acesso e no sucesso de todos) que justifica a forte adesão dos docentes de Educação Especial à Greve Geral, que está convocada para 22 de março. Será uma importante oportunidade de manifestarmos o nosso descontentamento face à posição do MEC que não promove a diferença pedagógica e educacional que, aos alunos com NEE, é devida na escola, e, enquanto direito, na escola pública em primeiro lugar.

A FENPROF tem propostas concretas para uma alteração a sério (e séria) da Educação Especial e já as apresentou às equipas ministeriais anteriores e à atual.

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

32 SETORES32

Os Centros Novas Oportunidades (CNO) estão a ser simplesmente abatidos pelo governo PSD/CDS sem qualquer avaliação prévia, sem alternativa, sem fundamento!

Na origem parece estar, apenas e só, o interesse economicista que, como habitualmente, é inimigo dos direitos dos portugueses e

do interesse nacional, destacava uma nota de imprensa recentemente divulgada pela CGTP-IN.

Não está em causa a necessidade de avaliar o processo de reconhecimento e validação de conhecimentos e competên-cias, bem como, de uma forma geral, a organização e funcionamento dos CNO, independentemente de dependerem do IEFP ou do MEC, particularmente os instalados em escolas públicas, realça a tomada de posição da Central unitária, que acrescenta logo de seguida:

“O problema é que nada disso foi feito e, simplesmente, soube-se que o governo decidiu encerrar os CNO do IEFP – cessando contrato com centenas de formadores a quem

recusa pagar a indemnização a que, legalmente, têm direito – e, agora, o MEC ordenou a um grande número de escolas que, até meados de fevereiro, encer-rem os seus centros, sem que, contudo, esta decisão decorra de qualquer fundamento legal ou mesmo político.”

Noutra passagem, a Inter su-blinha: “Não se vislumbra outra justificação que não seja a ques-tão financeira, sendo que, uma vez mais, os únicos penalizados serão os trabalhadores. Por um lado, os que, através dos CNO, procuravam ver reconhecidos e validados conhecimento e competências para, dessa forma, consegui-rem uma nova certificação escolar; por outro, os docentes e formadores que exerciam funções nesses centros que, no caso dos IEFP, tinham contratos mais prolongados e, no caso das escolas, são, em grande número docentes dos quadros que ficarão com horários incompletos ou “zero”.

Para a CGTP-IN, o problema do Programa Novas Oportunidades não era a sua existência, mas o aproveitamento político que dele foi feito pelos governantes e uma eventual menor exigência que cavou uma visível distância entre a certificação e a qualificação. Assim, a CGTP-IN manifesta um profundo desacor-do com esta decisão unilateral do governo,

A FENPROF fez chegar a todos os jardins de infância uma tomada de posição sobre a opção do governo relativamente ao calendário escolar da educação pré-escolar.

Porém, por se considerar que este é um problema que diz respeito a todos os docents, decidiu o JF deixar explícita e pública essa po-

sição, apelando a que todos saibamos nas diversas estruturas intermédias de gestão das escolas e em todos os espaços de in-tervenção defender o direito da educação pré-escolar ao tratamento adequado, num quadro de valorização da primeira etapa de educação básica.

Desde sempre, a FENPROF se insurgiu contra a discriminação de que são alvo os docentes da Educação Pré-Escolar no que respeita ao calendário escolar. Tal diferença resulta do facto de os governantes, ao longo dos últimos 10 anos, olharem para a Educação Pré-Escolar numa perspetiva essencialmente social e assistencial e menos educativa.

Tentámos, uma vez mais, que aos educa-dores fosse reconhecida a possibilidade de cumprirem o mesmo calendário escolar que é aplicado ao Ensino Básico (nomeadamente do 1º CEB por razões de trabalho conjunto de articulação), mas o MEC impediu que isso acontecesse. É de notar que, algumas direções regionais de educação, antecipando--se ao próprio ministério, demonstraram que, embora em fase de extinção, cumprirão, exemplarmente, até ao último dia, um papel negativo no que a esta matéria respeita.

Mesmo a justificação que chegou do ministério de que apenas para os ensinos básico e secundário a lei estabelece que o 2.º período se inicia ao terceiro dia de janeiro, não impediria, se fosse essa a vontade política do Governo, que o mesmo acontecesse com a Educação Pré-Escolar. Porém, não foi essa a intenção da atual equipa ministerial que preferiu imitar o que anteriores já tinham feito.

Alertamos ainda para o facto de, em alguns agrupamentos, terem sido colocadas dúvidas pelas direções quanto à atribuição dos dias destinados à avaliação na Educação Pré-Escolar, pretendendo que os mesmos coincidissem com os 5 de interrupção leti-va, e obrigando os docentes deste setor a

MEC insiste na discriminação da Educação Pré-Escolar

Alguns compromissos

Em reunião realizada no dia 24 de fevereiro, entre a FENPROF/SPE e o Camões Instituto de Cooperação e Língua (CICL), ficou esclarecido:

• O concurso a realizar este ano, para o EPE, não levará ao encerramento de mais postos, mantendo-se os cerca de 400 que hoje já existem na Europa;

• A esse concurso não terão de se candidatar os docentes cujas comissões de serviço ou contratos estão em con-dições de ser renovados. Apenas irão a concurso os lugares que ficarem vagos;

• Da mesma for-

ma, são mantidos os 30 postos existentes na África do Sul;

• O CICL comprometeu-se a, já neste ano, encontrar solução para os 2.700 alu-nos que ficaram sem acesso aos cursos de LCP na sequência das comissões que, por razões estritamente financeiras, cessaram

inesperadamente em dezembro.Estas foram preocupações e exigên-

cias da FENPROF, expostas no âmbito desta reunião e que foram correspondi-

das. Falta apenas a reunião de caráter político, já solicitada ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, e que se es-pera seja agendada para data próxima,

podendo nela esclarecer-se as contradições que o SECP tem

CALENDÁRIO ESCOLAR NOVAS OPORTUNIDADES

ENSINO PORTUGUÊS NO ESTRANGEIROfazerem a avaliação nos 5 dias destinados para interrupção letiva, o que constitui uma ilegalidade.

A FENPROF reafirma junto dos educado-res de infância que tudo continuará a fazer no sentido de garantir a aplicação à Educação Pré-Escolar do calendário escolar que é aplica-do ao Ensino Básico – por razões educativas e por razões de equidade. Continuaremos a combater a ideia de que o jardim de infância é apenas um local de guarda de crianças. O jardim de infância é um espaço educativo e pedagógico e, como tal, terá que ser assim considerado. É esta a posição da FENPROF!

Mas, não podemos também deixar de alertar os docentes da Educação Pré-Escolar para a necessidade imperiosa de não se demitirem de tomar posição e de exigir em conselho pedagógico e junto das direções, que este setor de educação seja respeitado e tenha valorizada a sua vertente pedagógi-ca. A dignificação da educação pré-escolar também passa por ti!

CGTP-IN contra encerramento dos CNO

A FENPROF não só subscreve as preocupações manifestadas pela CGTP-IN, como já pediu reunião ao MEC e à direção do IEFP para discutir esta matéria

defende uma avaliação séria e rigorosa do programa já desenvolvido e, em sequência, uma reorganização, com efeitos a partir do próximo ano letivo. Para o ano em curso, deverão os CNO existentes dar a resposta adequada a todas as solicitações existentes, conclui a nota da Central.

vindo a revelar em sucessivas declarações que fez.

Há contudo, aspetos que, na sequência desta reunião continuam a ser muito preo-cupantes, designadamente a possibilidade de os pais terem de pagar a certificação dos seus filhos, num mau exemplo que o governo português quer copiar de outros países.

Por fim, foi afirmado que se encontra em estudo a integração, na rede oficial do EPE, de professores a trabalhar em países que estão fora da rede, solução que a FENPROF/SPE defende, mas que não está garantida.

A FENPROF/SPE reafirma a necessidade de, rapidamente realizar a reunião com o MNE e, de uma vez por todas, clarificar o futuro que o governo reserva para o EPE.

O jardim de infância é um espaço educativo e pedagógico e, como tal, terá que ser assim considerado. É esta a posição da FENPROF!

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

AÇÃO34

Oriundos de todas as regiões do país e de todos os setores de atividade, largos milhares de trabalhadores transformaram no passado dia 11

de fevereiro (um sábado) o Terreiro do Paço no Terreiro do Povo. Os professores marcaram presença saliente neste protesto nacional convocado pela Central unitária. Foi “a maior manifestação dos últimos 30 anos”, realçou o Secretário Geral da CGTP-IN

A movimentação em Lisboa ao início da tarde, o “comboio” impressionante de autocarros nas principais vias de acesso à capital (auto estradas do norte e do sul) e a expressiva participação nas quatro pré--concentrações realizadas (Martim Moniz, Cais do Sodré, Restauradores e Santa Apolónia), deixavam antever uma grande jornada, das maiores até hoje registadas no país. E foi o que aconteceu.

Lisboa viveu em 11 de fevereiro uma jornada preparada com viva determinação pelo movimento sindical, a partir dos locais de trabalho e junto dos desempregados, dos pensionistas, dos jovens e de todos os

cidadãos que não aceitam de braços cruzados a onda de ataque – bem visível no recente “acordo” da “concertação social” – aos direi-tos sociais e à dignidade dos trabalhadores.

A força mobilizadora da CGTP-IN no quadro da luta que é preciso manter e ampliar, para impor alternativas, foi realçada por Arménio Carlos, Secretário Geral da Inter, no gigantesco plenário do Terreiro do Paço.

“Se as medidas do Memorando [assinado com a “troika”] são boas para o capital, são más, mesmo muito más para os trabalhado-res”, afirmou o dirigente sindical perante os milhares de trabalhadores e outros cidadãos que desfilaram até ao “Terreiro do Povo”.

“É preciso desenvolver o país e melhorar as condições de vida das populações”, des-tacou Arménio Carlos.

Como sublinha a resolução aprovada no “Terreiro do Povo”, “vamos alargar a luta que é de todos e para todos, pela resolução dos problemas do presente e a construção de um Portugal com futuro, assumindo a nossa disponibilidade e compromisso para apoiar todas as formas de luta que sejam necessá-

rias desenvolver para combater a exploração, as desigualdades e o empobrecimento e assegurar o emprego com direitos, aumento dos salários e das pensões e a melhores dos serviços públicos.”

No que se refere às funções sociais do Estado, os direitos e garantias consagrados na Constituição da República Portuguesa de acesso de todos os cidadãos a poderem sa-tisfazer as suas necessidades sociais básicas, como a habitação, a saúde, a educação e a proteção social adequada na velhice, invali-dez, doença e desemprego, estão hoje a ser postos em causa de forma violentíssima pelas políticas e medidas neoliberais do Governo PSD-CDS, destaca a resolução, que garante:

“Só a rutura com esse modelo pode permi-tir um novo caminho para o desenvolvimento e o crescimento económico, pelo emprego com direitos e o combate às desigualdades existentes e afirmar uma sociedade de pro-gresso com mais justiça social. Por isso, a luta pela afirmação de uma política alternativa constitui uma necessidade e uma prioridade dos trabalhadores e do povo.”

Terreiro do Povo contra a precariedade e o desemprego

Professores de viva voz no XII Congresso

11 DE FEVEREIRO CGTP-IN

JOSÉ PAULO OLIVEIRA (Jornalista)

A CGTP-IN defende um Estado Social enquanto instrumento fun-damental para promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre todos os portugueses, como estabelece o art. 9.º da Constituição. Um Estado Social assente na universali-dade, na solidariedade e na justiça social; uma segurança social pública, solidária e universal; uma escola pública democrática, com qualidade e inclusiva; um Serviço Nacional de Saúde geral e gratuito; serviços públicos de qualidade; um sistema fiscal baseado em impostos progressivos. Só assim é possível combater as desi-gualdades. Um estudo recente da OCDE mostrava que Portugal

era o país da Europa com maiores desigualdades, no âmbito desta organização, e mostrava, também, que as reformas do mercado de trabalho estão a contribuir para o seu agravamento. Esta é uma política que não aceitamos e por isso vamos combatê-la com todas as nossas forças, exigindo outra política e tudo aquilo que seja necessário assegurar: direitos económicos, sociais e laborais e não o assistencialismo. Prosseguir esta política é condenar ao empobrecimento e à exclusão social vastas camadas da população. Arménio Carlos, Secretário Geral da CGTP-IN, no encerramento dos trabalhos do XII Congresso da Central

Só assim é possível combater as desigualdades…

JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

Ao longo das sete sessões de tra-balho (uma delas, a 4ª, noturna), vários professores de sindicatos membros da FENPROF tiveram

uma participação ativa nos debates, tanto no plano das questões de funcionamento interno e organização da grande Central unitária, como no balanço da ação de-senvolvida e na definição das linhas de trabalho e de intervenção para o presente e o futuro.

Há que sublinhar desde já um conjunto de orientações que os 900 delegados, oriun-dos de todas as regiões do país e de todos os setores de atividade, aprovaram neste Congresso, dando origem a documentos fundamentais (presentes na íntegra na página

Web da Inter), que, apresentando reivindi-cações e propostas, revelam um profundo conhecimento das realidades do país no plano político, social, económico e cultural, e também da situação internacional.

Confirmando que a acção e a luta sin-dical são determinantes para pôr fim aos planos de austeridade que só conduzem ao empobrecimento das famílias portuguesas e se traduzem num confronto permanente com os direitos mais elementares dos tra-balhadores, no aumento do desemprego e da precariedade, no boicote sistemático à negociação colectiva, o XII Congresso apro-vou, entre outros documentos e moções, um Programa de Ação, uma Carta Reivindicativa e as resoluções “Outra política é possível e

necessária!”, “Mais e melhor ação sindical” e “Defender o Estado Social”.

Os problemas da Educação e a situação dos professores e educadores estiveram presentes na assembleia magna da Central que, na sua Carta Reivindicativa, aponta como prioridade a defesa da escola pública democrática, o investimento na educação e a promoção da qualidade do ensino, com-batendo o abandono.

RejuvenescimentoO Congresso elegeu o Conselho Nacional da Central para o mandato 2012/2016, que por sua vez elegeu o novo Secretário Geral, Arménio Carlos, que, na intervenção final, deixou uma expressiva nota sobre “o rejuvenescimento que este Congresso trouxe ao movimento sindical”. “Esta”, recordou, “foi uma decisão assumida na preparação do anterior congresso; foi muito discutida, foi muito aprofundada, mas que teve um denominador comum: o contributo dos camaradas com uma idade mais elevada. Foram eles os primeiros a disponibilizarem-se para encontrar soluções para que este movimento sindical, em tem-po oportuno e de forma faseada, pudesse ir fazendo o seu rejuvenescimento”.

Manuel Carvalho da Silva foi um dos ele-mentos que deixou o trabalho de direcção da Central. Intervindo na abertura dos trabalhos, o antigo SG da CGTP-IN destacou que, no atual (e preocupante) cenário de dificuldades – de-semprego, precariedade e ofensiva galopante contra os direitos dos trabalhadores e das po-pulações – é possível vencer, “com projetos de futuro e propostas de ação consequentes e solidárias”, lutando, em unidade, por uma “alternativa de progresso”.

Como sublinhou Mário Nogueira na tri-buna do XII Congresso, “esta CGTP nunca perdeu o rumo ou subverteu a sua matriz: a do sindicalismo de classe; soube sempre qual o seu espaço privilegiado de interven-ção: os locais de trabalho; qual o pilar mais forte da ação reivindicativa: a participação das pessoas, a luta de massas; qual o objetivo principal do movimento: a transformação da sociedade num espaço de justiça, de equi-dade, de inclusão, de partilha e de respeito, sem margem para a exploração do homem pelo homem”. | JPO

Com o lema “Portugal desenvolvido e soberano. Trabalho com direitos”, decorreu nos dias 27 e 28 de Janeiro,

na antiga Feira Internacional de Lisboa, à Junqueira, o XII Congresso da CGTP-IN.

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

INTERNACIONALda MULHER

8 de março|1221h30

Teatro Municipal de Faro

Dia

Preço Solidário - 1€

Mov. Democrático de Mulheres

36 NACIONAL

Manifestações em Espanha

Mensagem solidária da CGTP -IN

O Dia Internacional da Mulher celebra “a nossa luta contra todas as formas de discriminação e desigualdades, pela con-sagração dos nossos direitos. Neste dia homenageamos todas as mulheres que, em Portugal e no mundo, exigiram com coragem a igualdade salarial e, ao longo da sua vida profissional, a redução do horário de trabalho, melhores salários e direito ao trabalho” (MDM).

Um diversificado conjunto de ini-ciativas, organizadas e apoiadas pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), sindicatos,

coletividades, autarquias, associações e outras estruturas, assinalam em todo o país

o Dia Internacional da Mulher. Exposições, colóquios, debates, conferências, convívios, tertúlias, espetáculos e outras sessões pú-blicas marcam este 8 de março de 2012.

Valorizando, naturalmente, todas as ac-ções que decorrem nas diferentes regiões do país, de norte a sul, dos Açores à Madeira, não esquecendo as comunidades lusas no estrangeiro, tomamos a liberdade de destacar nesta página a “sessão cultural comemora-tiva” agendada para o Teatro Municipal de Faro, por iniciativa do MDM/Núcleo de Faro.

O programa é vasto e inclui a partir das 21h30 de dia 8 momentos de dança, teatro, música popular portuguesa, fados, folclore e a participação da Tuna Académica da Uni-versidade do Algarve. A não perder!

Iniciativa na Madeira“Apesar dos detratores, nós como de cos-tume, teimosamente, vamos celebrar o Dia da Mulher”, lê-se no boletim informativo do Setor dos Professores Aposentados do SPM, a quem coube organizar esta atividade. O dia é assinalado com a conferência “A Educação da Mulher na Imprensa Madeirense do Séc. XIX”, pelo historiador Nelson Veríssimo, no auditório do Sindicato dos Professores da Madeira, às 15h30. A conferência é prece-dida de um almoço-convívio, na zona do bar da nova morada do sindicato, no centro da cidade do Funchal. | JPO

34º aniversário do SPM

O aniversário do Sindicato dos Professores da Madeira, fundado em 12 de março de 1978, é assinalado com a apresentação do livro “30 Anos em Defesa da Classe Docente”, às 18h00. É o primeiro aniversário no novo edifício do Centro de Formação e Sede, na Calçada da Cabouqueira, 22, no Funchal. Aquela obra, da autoria dos historiadores António Castro e Elisa Brazão e coordenação geral de Adília Andrade, ex-dirigente do sindicato, é uma edição que visou fixar a história do SPM. O trabalho encontrou o seu alicerce nos registos da institui-ção, em especial na imprensa sindical e na memória viva de

docentes que acompanharam o percurso do sindicato. “A valiosa documentação reunida e analisada poderá, no futuro, construir um importante ponto de partida para o estudo da História do Sindicato dos Professores da Madeira”, lê-se na nota de apresentação. Comemoram-se, pois, 34 anos do SPM ao serviço dos Professores e da Educação.

“Em nome dos trabalhado-res que representamos”, a direção da CGTP-IN en-viou às CC.OO. e UGT e ao conjunto dos trabalhadores de Espanha” a solidarie-dade da Central unitária portuguesa, por ocasião da jornada de luta que pro-moveram no passado dia 19 de fevereiro, contra a reforma laboral aprovada pelo governo espanhol.

“Sabemos que essa reforma facilita e embara-tece de uma forma genera-lizada os despedimentos e terá como consequências a aceleração da destruição do emprego”, destaca a mensagem da Inter, que acres-centa noutra passagem:

“Como as centrais sindicais de Espanha têm declarado, trata-se de uma reforma radical, imposta pelo FMI, pelo BCE, pela Alemanha e França e que vai ao encontro das pretensões e interesses da CEOE, a Confederação Patronal de Espanha”.

“Também em Portugal”, realça a mensa-gem, “a CGTP-IN tem vindo a desenvolver uma intensa luta contra as propostas contidas no programa de ingerência e agressão da Troika FMI/BCE/UE, com o apoio do grande patronato e em conjugação com as medidas ultraliberais do governo português”.

A Central sindical portuguesa recorda “a gigantesca manifestação nacional com a participação de mais de 300 mil trabalhado-

res”, realizada a 11 de fevereiro em Lisboa e regista ainda: “Para além da jornada de ação europeia de 29 de fevereiro, a CGTP--IN convocou uma greve geral para o dia 22 de março de 2012 “contra o pacote de exploração e empobrecimento – por uma mudança de política, pelo emprego, salários, direitos e serviços públicos”.

A CGTP-IN reafirma “a nossa solida-riedade para com as manifestações do dia 19 de fevereiro em Espanha certos de que estes são tempos de intensificação da luta dos trabalhadores e do movimento sindical contra a brutal ofensiva do gran-de capital e dos governos e instituições internacionais que o servem, pela defesa das conquistas, dos direitos e interesses dos trabalhadores e dos povos dos nossos países.”

O Sindicato dos Professores das Região Centro, em continuidade com o que vem fazendo em anos anteriores, assinala o Dia Internacional da Mulher com uma iniciativa que terá lugar no dia 8 de Março, pelas 21h, na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra. No contexto sócio-económico que o país atravessa, considerámos pertinente abordar “O papel da mulher nas crises económicas e sociais ao longo dos tempos”. Esta iniciativa terá como intervenientes Mª Lurdes Silva, Dirigente Nacional do MDM, que fará uma abordagem histórica de diferentes épocas onde as dificuldades económicas, sociais, laborais contaram com o papel e a intervenção das mulheres, e Fátima Messias, da Comissão de Igualdade entre Homens e Mulheres da CGTP, que fará uma abordagem mais contextualizada da realidade actual, das consequências directas da actual situação, da luta das mulheres nos seus locais de trabalho, o desemprego, as perspectivas de futuro… Será decerto um debate actual, que permi-tirá ter uma visão do papel da mulher no passado e no presente enquanto agentes activos e intervenientes na sociedade. | Margarida Fonseca, Centro de Formação do SPRC

O JF errou, na edição n.º 256 (Janeiro)

Na página 18, a referência à EVT no 3.º CEB é da responsabilidade da nota da LUSA que transcrevemos, o que, obviamente, não corresponde ao que se encontra estabelecido nos planos curriculares do ensino básico. Na página 29, no texto assinado por Paulo Sucena, onde se lê Rodrigues Lopes, deve ler-se Rodrigues Lapa, feroz opositor ao Estado Novo e sub-diretor de “O Diabo”. Uma gralha imperdoável, efetivamente.

DIA DA MULHER: Pelo direito a ter direitos

www.mdm.org.pt

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JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012JORNAL DA FENPROF | FEVEREIRO 2012

DIVULGAÇÃO38

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culturais JF |39

Uma Antologia (Im)possível

O Coral de Letras da Universidade do Porto editou em finais de 2011 uma antologia de 26 Canções Regionais Portuguesas de Fernando Lopes-

-Graça. Lopes-Graça realizou por todo o país, também em parceria com Giacometti, uma enorme recolha de canções tradicionais que harmonizou, dando origem a um conjunto de 267 canções distribuídas por 24 cadernos. Desses 24 cadernos, o Coral de Letras sob

direcção do seu Maestro, José Luís Borges Coelho, escolheu uma canção de cada, incluindo uma Encomendação das Almas (que o mesmo coro tinha já gravado –

edição em CD, de 1991) e mais duas, das Cantatas de Natal, atribuindo ao CD o título de Antologia (Im)possível. Percebe-

-se o título, dado que tentar gravar as 267 Canções afigurar-se-ia uma autêntica emprei-

tada, submetendo a qualidade à quantidade. Decisão compreensível e avisada. Teria sido bom que outros tivessem seguido o mes-mo critério. O CD do Coral de Letras traz a marca interpretativa do Maestro Borges Coelho. Apetece mesmo falar, não de uma interpretação, mas de uma restituição do pensamento musical de Lopes-Graça, no que à música coral diz respeito. Por isso, esta Antologia que o Coral de Letras (sem dúvida, o seu Maestro) denominou de Impossível e Possível é, na realidade, uma obra Antológica de interpretação da melhor música coral que existe em Portugal. A Reitoria da Universi-

dade do Porto, que patroci-nou a edição, fez o que devia em prol da cultura musical (e não só). Uma pergunta à guisa de fim de texto: como pode um diamante destes ter passado despercebido da crítica musical? Responda quem souber. | Guilhermino Monteiro

PINTURA

No ambiente de Paula Rego...

Partindo de “Possession”, uma obra composta por sete pinturas de Paula Rego, aí está uma exposição a não perder, patente em Cascais, até 24 de junho. Em foco os “estados emocionais

e os afetos” na obra da prestigiada pintora portuguesa. “Possession” (2004) inclui pinturas pertencentes à Coleção do Museu de Serralves. A comissária Ana Ruivo escolheu ainda peças da Coleção da Fundação Paula Rego/Casa das Histórias, entre as quais obras da série “Ópera” e “O Vinho”. A pintura “Jenufa”, pertencente a um colecionador privado, integra também a exposição. O certame pode ser visitado todos os dias, entre as 10h00 e as 18h00, na Casa das Histórias, na Av. da República, 300. A entrada é livre.

“A Moagem” – Cidade do Engenho e das Artes do Fundão continua o seu (valioso) trabalho em prol da dinamização cultural desta zona das Beiras, mantendo uma profunda ligação às escolas e a outras entidades, apostando em parcerias e em projetos que têm no horizonte o envolvi-mento direto das populações escolares.

É o único equipamento com relevo histórico da indústria fundanense do século XX. Surgiu em 1922 e encerrou no final dos anos 80. A

autarquia apostou na recuperação e valori-zação deste espaço. O projeto teve como uma das principais estratégias a recuperação do complexo edificado da antiga empresa “Moagem do Fundão”, que contempla valências diversificadas e que interagem na criação de uma oferta cultural integrada, que em muito contribui para o desenvolvimento cultural e turístico do concelho do Fundão.

A página Web da Moagem destaca a realização de várias residências artísticas e realça a participação do grupo de teatro “ESTE” no projeto para a infância “Uma história para continuar...”, dinamizado em duas fases, e que pretende, ao longo de um ano letivo, envolver numa atividade comum alunos, professores e família, levando-os a interagir com um espetáculo de teatro.

Depois da primeira representação da peça as crianças, em casa, com a colaboração da família, e na escola, sob a orientação dos professores, irão expressar as suas reações ao espetáculo, através de desenhos, com-posições, trabalhos plásticos (nos mais di-

versos materiais), gravações áudio ou vídeo, representações teatrais... transformando a história e lançando novas pontes para um segundo espetáculo.

Seguindo o curso das artes, práticas ou disciplinas de colaboração com o Teatro (Máscara, 2005; Cenografia 2006; Teatro de Sombras, 2007; Teatro de Objetos, 2008; Literatura, 2009; Dança, 2010; e Música, 2011), a ESTE debruça-se agora sobre o Cinema. Com este novo projeto pretende-se utilizar a linguagem do cinema integrando-a na prática teatral. O desafio é enorme, tanto mais que tudo isto será feito sobre o olhar atento e a participação ativa das crianças que participam. “A Moagem”, com os seus 14 colaboradores, desempenha a função de núcleo distribuidor e estruturante da oferta cultural e turística do Município do Fundão,

afirmando a sua vasta atividade em contexto regional e nacional, cruzando eixos de in-tervenção cultural, atividades temáticas e linguagens artísticas e dinamizando redes externas de programação (itinerâncias).

O envolvimento das comunidades locais está sempre presente no trabalho desenvol-vido pela Moagem. No caso das escolas, por exemplo, opta-se pelo contacto direto com os educadores nas escolas, para, a partir daí, se avançar para a participação das crianças e dos jovens, seja na visita a exposições seja na presença em espetáculos e outras iniciativas”. | JPO

“A Moagem”Um exemplo de dinamização cultural

Fernando Lopes-Graça

CONCELHO DE MIRA

5.º Concurso Literário Jovem Mar de Palavras

Decorre até 19 de março o prazo para entrega dos trabalhos candidatos ao 5.º Concurso Literário Jovem Mar de Palavras, dirigido aos alunos do ensino básico e do ensino secundário

de todos os estabelecimentos de ensino do concelho de Mira. O concurso é promovido pela rede concelhia de Bibliotecas Escolares, em parceria com a Câmara Municipal e o Agrupamento de Escolas de Mira, entre outras entidades. Pretende-se, com a iniciativa, fomentar hábitos de leitura e escrita nas camadas jovens e envolver a comunidade escolar numa atividade cultural.

CINEMA

Museu Soares dos Reis mostra“Como se faz Cinema de Animação”

Território Animação é o tema de uma exposição que pode ser visitada no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, até 15 de abril. Trata-se de uma iniciativa organizada pela Casa da Animação. São apresentados materiais de produção de filmes de animação portugueses organizados segundo uma lógica pedagógica de apresentação de alguns princípios e técnicas da animação. Estão instalados equipamentos que permitem aos visitantes experimentar a produção dos seus próprios exercícios de animação. Também está patente a exposição “Anatomia de um Filme”, que revela o processo de produção do filme de Pedro Serrazina “Os Olhos do Farol”. O interessante projeto em marcha no Soares dos Reis responde, com criatividade, ao desafio “Como se faz Cinema de Animação”. As portas estão abertas! | JPO

Rubem Fonseca vence Prémio Correntes D’Escritas

O escritor brasileiro Rubem Fonseca foi o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito da recente 13ª edição do encontro literário Correntes D’Escritas, com o livro “Bufo & Spallan-zani” (Editora Sextante). No seu discurso de agrade-cimento e também representando os escritores que durante três dias estiveram envolvidos na 13ª edição do encontro literário realizado na Póvoa de Varzim, afirmaria a dado passo: “Amo a língua portuguesa é uma língua lindíssima”. “Adoro poesia. Lembrei--me de Camões. Vocês me permitem que eu leia Camões?”, perguntou e encantou a sala ao recitar o soneto “Busque Amor novas artes, novo engenho” e terminou com um “Viva a língua portuguesa!”

“A Chave” marca a estreia discográfica de Rogério Charraz, que canta, toca, escreve e compõe as suas próprias canções. Depois de doze anos de vivências multifacetadas, nomeadamente enquanto membro e fundador dos “Boémia”, e de quatro intensos anos de palcos e estúdio, surge um CD cheio de personalidade e determinação. E num trabalho tão especial, não podiam faltar convidados à altura: Ana Laíns, José Mário Branco e Rui Veloso. Onze

canções originais que remetem para uma visão muito própria da realidade, assumindo influências sem nunca deixar de vincar o seu próprio cunho.

Rogério Charraz