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Leia o texto, para responder às questões de números 31 a 39. Cautela com a laborlatria O cartunista Bob Thaves desenhou uma de suas instigantes tirinhas, que tem como personagens Frank & Ernest, os desleixados e eventualmente oportunistas representantes do “homem comum” do mundo contemporâ- neo urbano. Nesse quadrinho, Ernest, preo- cupado, pergunta a Frank: “Nós somos vaga- bundos?”. Frank, resoluto, responde: “Não, nós não somos vagabundos. Vagabundo é quem não tem o que fazer; nós temos, só não o fazemos...”. Essa visão colide frontalmente com um dos esteios de uma sociedade que, na histó- ria, acabou por fortalecer uma obsessão la- boral que, às vezes, beira a histeria produti- vista e o trabalho insano e incessante. Desde as primevas fontes culturais da sociedade ocidental, a exemplo de vários dos escritos judaico-cristãos, há uma condenação cabal do ócio e do não-envolvimento com a labuta in- cessante; no Sirácida, um dos livros da Bíblia (também chamado Eclesiástico), há uma ad- vertência: “Lança-o no trabalho para que não fique ocioso, pois a ociosidade ensina muitas coisas perniciosas” (33, 28-29). Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do peca- do? Ou que o demônio sempre arruma ofício para quem está com as mãos desocupadas? Ou ainda que cabeça vazia é oficina do Dia- bo? Essa não é uma perspectiva exclusiva do mundo religioso. Voltaire, um dos grandes pensadores iluministas e hóspede eventual da Bastilha do começo do século 18 por seus artigos contra governantes e clérigos, escre- veu em “Cândido”: “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a neces- sidade”. Ou, como registrou Anatole France, con- terrâneo e herdeiro, no século seguinte, da mordacidade voltairiana: “O trabalho é bom para o homem. Distrai-o da própria vida, des- via-o da visão assustadora de si mesmo; im- pede-o de olhar esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível. É um santo remédio para a ética e para a estética. O trabalho tem mais isso de excelente: distrai nossa vaidade, engana nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom acontecimento”. Não é por acaso que Paul Lafargue, um franco-cubano casado com Laura, filha de Karl Marx, e fundador do Partido Operário Francês, foi pouco compreendido na ironia contida em alguns de seus escritos. Em 1883, quando todo o movimento social reivindicava tenazmente o direito ao trabalho, isto é, o tér- mino de qualquer forma de desocupação, o genro de Marx publicou “Direito à Preguiça”, uma desnorteante e – só na aparência – para- doxal análise da alienação e da exploração humana no sistema capitalista. (Mário Sérgio Cortella, Folha de S. Paulo, Equilíbrio, 1.º de maio de 2003. Adaptado) É correto afirmar que o texto a) ilustra o tema de que trata, empregando, como argumento, citação de idéias divulgadas em textos da cultura ocidental. b) rebate as idéias dos que idolatram o traba- lho, negando o raciocínio dialético próprio da ciência. c) valoriza a laborlatria, ironizando as ideolo- gias ocidentais, das mais antigas às mais re- centes. d) contradiz-se propositadamente em diver- sas passagens, defendendo o pensamento consagrado ao tema. e) vale-se da anedota de Frank & Ernest para ratificar o radicalismo ideológico, presente nas idéias de Voltaire e Anatole France. alternativa A O autor emprega, como argumentos dos que de- fendem e idolatram o trabalho, idéias de grandes autores da cultura ocidental (Voltaire e Anatole France) bem como da Bíblia. A citação dessas idéias corrobora um ponto de vista, que não é ne- cessariamente o do autor. Questão 31

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Leia o texto, para responder às questões denúmeros 31 a 39.

Cautela com a laborlatria

O cartunista Bob Thaves desenhou umade suas instigantes tirinhas, que tem comopersonagens Frank & Ernest, os desleixadose eventualmente oportunistas representantesdo “homem comum” do mundo contemporâ-neo urbano. Nesse quadrinho, Ernest, preo-cupado, pergunta a Frank: “Nós somos vaga-bundos?”. Frank, resoluto, responde: “Não,nós não somos vagabundos. Vagabundo équem não tem o que fazer; nós temos, só nãoo fazemos...”.

Essa visão colide frontalmente com umdos esteios de uma sociedade que, na histó-ria, acabou por fortalecer uma obsessão la-boral que, às vezes, beira a histeria produti-vista e o trabalho insano e incessante. Desdeas primevas fontes culturais da sociedadeocidental, a exemplo de vários dos escritosjudaico-cristãos, há uma condenação cabal doócio e do não-envolvimento com a labuta in-cessante; no Sirácida, um dos livros da Bíblia(também chamado Eclesiástico), há uma ad-vertência: “Lança-o no trabalho para que nãofique ocioso, pois a ociosidade ensina muitascoisas perniciosas” (33, 28-29).

Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do peca-do? Ou que o demônio sempre arruma ofíciopara quem está com as mãos desocupadas?Ou ainda que cabeça vazia é oficina do Dia-bo?

Essa não é uma perspectiva exclusiva domundo religioso. Voltaire, um dos grandespensadores iluministas e hóspede eventualda Bastilha do começo do século 18 por seusartigos contra governantes e clérigos, escre-veu em “Cândido”: “O trabalho afasta de nóstrês grandes males: o tédio, o vício e a neces-sidade”.

Ou, como registrou Anatole France, con-terrâneo e herdeiro, no século seguinte, damordacidade voltairiana: “O trabalho é bompara o homem. Distrai-o da própria vida, des-via-o da visão assustadora de si mesmo; im-

pede-o de olhar esse outro que é ele e que lhetorna a solidão horrível. É um santo remédiopara a ética e para a estética. O trabalho temmais isso de excelente: distrai nossa vaidade,engana nossa falta de poder e faz-nos sentir aesperança de um bom acontecimento”.

Não é por acaso que Paul Lafargue, umfranco-cubano casado com Laura, filha deKarl Marx, e fundador do Partido OperárioFrancês, foi pouco compreendido na ironiacontida em alguns de seus escritos. Em 1883,quando todo o movimento social reivindicavatenazmente o direito ao trabalho, isto é, o tér-mino de qualquer forma de desocupação, ogenro de Marx publicou “Direito à Preguiça”,uma desnorteante e – só na aparência – para-doxal análise da alienação e da exploraçãohumana no sistema capitalista.

(Mário Sérgio Cortella, Folha de S. Paulo,Equilíbrio, 1.º de maio de 2003. Adaptado)

É correto afirmar que o textoa) ilustra o tema de que trata, empregando,como argumento, citação de idéias divulgadasem textos da cultura ocidental.b) rebate as idéias dos que idolatram o traba-lho, negando o raciocínio dialético próprio daciência.c) valoriza a laborlatria, ironizando as ideolo-gias ocidentais, das mais antigas às mais re-centes.d) contradiz-se propositadamente em diver-sas passagens, defendendo o pensamentoconsagrado ao tema.e) vale-se da anedota de Frank & Ernest pararatificar o radicalismo ideológico, presentenas idéias de Voltaire e Anatole France.

alternativa A

O autor emprega, como argumentos dos que de-fendem e idolatram o trabalho, idéias de grandesautores da cultura ocidental (Voltaire e AnatoleFrance) bem como da Bíblia. A citação dessasidéias corrobora um ponto de vista, que não é ne-cessariamente o do autor.

Questão 31

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Observe os destaques dos trechos seguintes:Essa visão colide frontalmente com umdos esteios de uma sociedade.Desde as primevas fontes culturais da socie-dade ocidental.Há uma condenação cabal do ócio.A substituição dessas palavras destacadasmostra-se adequada ao contexto, respectiva-mente, na seqüência:a) vai ao encontro de – principais – completa.b) choca-se contra – antigas – injusta.c) vai de encontro a – primitivas – categórica.d) choca-se com – primeiras – explícita.e) vai de encontro com – mais representati-vas – unânime.

alternativa C

• colide frontalmente com = vai de encontro a ouchoca-se com (não confundir a expressão "ir deencontro a" com "ir ao encontro de" que significa"dar solução ou satisfação a"; "atender");• primevas = primeiras ou primitivas;

cabal = que vai ou chega ao fim; completo, inte-iro, pleno, absoluto, categórico, etc.

Emprega-se linguagem figurada, com predo-minância de metáforas, no trecho transcritona alternativa:a) O cartunista Bob Thaves desenhou uma desuas instigantes tirinhas, que tem como per-sonagens Frank & Ernest, os desleixados eeventualmente oportunistas representantesdo “homem comum” do mundo contemporâ-neo urbano.b) Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do peca-do? Ou que o demônio sempre arruma ofíciopara quem está com as mãos desocupadas?Ou ainda que cabeça vazia é oficina do Dia-bo?c) Não é por acaso que Paul Lafargue, umfranco-cubano casado com Laura, filha deKarl Marx, e fundador do Partido OperárioFrancês, foi pouco compreendido na ironiacontida em alguns de seus escritos.

d) O genro de Marx publicou “Direito à Pre-guiça”, uma desnorteante e – só na aparência– paradoxal análise da alienação e da explo-ração humana no sistema capitalista.e) Ou, como registrou Anatole France, conter-râneo e herdeiro, no século seguinte, da mor-dacidade voltairiana: “O trabalho é bom parao homem”.

alternativa B

Nessa alternativa, são utilizados provérbios popu-lares para ilustrar o fato de que a desocupação éprejudicial ao ser humano, e esses provérbios,por sua vez, valem-se de metáforas religiosas.

O trabalho é bom para o homem _____ dis-trai-o da própria vida _____ desvia-o da visãoassustadora de si mesmo; _____, impede-o deolhar esse outro que é ele e que lhe torna asolidão horrível.Assinale a alternativa em que o emprego deelementos de ligação sintática e de sentidonas lacunas mostra-se, pela ordem, adequadoao contexto.a) porque ... portanto ... no entantob) pois ... e ... assimc) portanto ... desde que ... todaviad) por que ... também ... por issoe) visto que ... entretanto ... logo

alternativa B

As relações sintático-semânticas entre as oraçõessão respectivamente: explicação (pois), adição (e)e conclusão (assim).

Desde as primevas fontes culturais da socie-dade ocidental, a exemplo de vários dos escri-tos judaico-cristãos, há uma condenação ca-bal do ócio e do não-envolvimento com a labu-ta incessante; no Sirácida, um dos livros daBíblia (também chamado Eclesiástico), háuma advertência: “Lança-o no trabalho paraque não fique ocioso, pois a ociosidade ensinamuitas coisas perniciosas” (33, 28-29).

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Questão 32

Questão 33

Questão 34

Questão 35

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Assinale a alternativa contendo afirmaçãocorreta.a) Nas duas ocorrências do verbo “haver”, es-taria de acordo com a norma culta empregar“tem”, pois o sentido daquele verbo é “pos-suir”.b) O pronome “o”, em “lança-o”, refere-se aolivro da Bíblia denominado Sirácida.c) No trecho bíblico citado, as relações de sen-tido entre suas orações são, respectivamentede finalidade e de explicação.d) Está de acordo com a norma culta a se-guinte redação: “O Sirácida, um dos livros daBíblia (também chamado Eclesiástico), con-têm várias advertências”.e) Com sujeito na 3.ª pessoa do plural, a reda-ção do trecho citado deve ser: “Lancem-o notrabalho...”.

alternativa C

Corrigindo os problemas das alternativas:a) As duas ocorrências do verbo haver correspon-dem ao sentido de existir.b) O pronome oblíquo "o" refere-se a uma 3ª pes-soa e não ao livro, já que faz parte de uma adver-tência contida no mesmo.d) O sujeito O Sirácida leva o verbo para a 3ª pes-soa do singular ("contém") e não para a 3ª pessoado plural ("contêm").e) Na 3ª pessoa do plural, o pronome oblíquo "o"assume a forma no quando utilizado com verbosterminados em m ou n ("lancem-no").

Assinale a alternativa em que a pontuação ea citação do trecho em discurso indireto estãode acordo com a norma culta.a) Preocupado, Ernest perguntou a Frank, seeles eram vagabundos. Frank respondeu queeles, não eram vagabundos; que, vagabundo,era quem não tinha o que fazer.b) O Sirácida – um dos livros da Bíblia adver-tiu que: a ociosidade ensina muitas coisasperniciosas.c) Voltaire escreveu em Cândido, que o traba-lho afasta, de nós, três grandes males: o té-dio, o vício e a necessidade.d) Anatole France registrou, no século se-guinte, que o trabalho era bom para o ho-mem, distraía-o da própria vida.

e) Conterrâneo e herdeiro no século seguinte,da mordacidade voltairiana, Anatole Franceescreveu que: o trabalho fora um santo remé-dio para a ética e para a estética.

alternativa D

No discurso indireto, o narrador fala pela persona-gem, eliminando os sinais de dois pontos e tra-vessão.Os verbos no presente do indicativo vão para opretérito imperfeito, como ocorre na alternativa D.

O trabalho tem mais isso de excelente: distrainossa vaidade, engana nossa falta de poder.Também há ocorrência de pronome emprega-do com sentido de posse em:a) O trabalho afasta de nós três grandes ma-les: o tédio, o vício e a necessidade.b) [O trabalho] impede-o de olhar um outroque é ele e que lhe torna a solidão horrível.c) [O trabalho] desvia-o da visão assustadorade si mesmo.d) Vagabundo é quem não tem o que fazer,nós temos, só não o fazemos.e) [O trabalho] faz-nos sentir a esperança deum bom acontecimento.

alternativa B

Em "que é ele e que lhe torna a solidão horrível" olhe equivale ao possessivo sua, "que é ele quetorna sua solidão horrível".

Assinale a alternativa em que os trechos dotexto, reescritos, apresentam emprego de pro-nomes bem como concordância (nominal everbal) de acordo com a norma culta.a) Atividade é bom para os homens, que comela se distrai da própria vida e desvia-se davisão assustadora de si mesmo.b) Lancem-se os homens no trabalho, paraque não fiquem ociosos, pois bastam-lhes aociosidade que lhes ensinam muitas coisasperniciosas.

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Questão 36

Questão 37

Questão 38

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c) Certamente deve existir visões que coli-dem frontalmente com um dos esteios da so-ciedade; assim se fortaleceu obsessões labo-rais.d) Voltaire foi um dos grandes pensadoresiluministas, que escreveu contra o governo eo clero franceses, o que acabaram por levá-loà Bastilha.e) Houve muitos que defenderam o trabalho;não os acompanhou Paul Lafargue, em cujaobra encontram-se críticas à exploração hu-mana.

alternativa E

Corrigindo as demais:• com ela se distraem; desviam-se; e si mesmos,por concordarem com "os homens".• basta-lhes; e que lhes ensina, por concordaremcom "a ociosidade".• Devem existir, devido à concordância verbalcom "visões"; e assim se fortaleceram, em virtudede "obsessões laborais".• o que acabou, por concordar com o pronome"o".

Não, nós não somos vagabundos.Assinale a alternativa em que a função sintá-tica de “vagabundo” coincide com a do(s) ter-mo(s) em destaque.a) A ociosidade ensina muitas coisas perni-ciosas.b) Cabeça vazia é oficina do Diabo.c) Tem como personagens Frank e Ernest, osdesleixados e oportunistas representan-tes do homem comum.d) Paul Lafargue, um franco-cubanocasado com Laura, foi pouco compreendi-do.e) Escreveu “Direito à Preguiça”, uma des-norteante e – só na aparência – paradoxalanálise da alienação.

alternativa B

vagabundos é predicativo do sujeito, mesma fun-ção exercida por oficina do Diabo.Lembrar que ser é verbo de ligação nas oraçõesreferidas.

Considere as seguintes interpretações da tirade Jim Davis.I. Os traços que desenham a fisionomia dasduas personagens permitem concluir quechamar a refeição de “saudável” escamoteia averdadeira opinião de Jon sobre o que comeu.II. A fala do gato Garfield deixa implícito queseu gosto leva em conta se as refeições sãosaudáveis ou não.III. O emprego de “é” só aparentemente écontraditório, no contexto: “é” reafirma o juí-zo sobre o caráter salutar da refeição.IV. A palavra “também” explicita que Garfieldcaptou a intenção de seu dono de omitir o juí-zo sobre a refeição não ter sido prazerosa.São corretas apenas as interpretações conti-das ema) I e II.d) I, III e IV.

b) I e III.e) II, III e IV.

c) I, II e III.

ver comentário

Trata-se de uma questão altamente interpretativa.Conforme a leitura que se faça da tira, todas asafirmações podem ser verdadeiras ou falsas, bemcomo se pode tomar esta ou aquela, individual-mente, como verdadeira ou falsa. Portanto, nãohá como decidir por uma única resposta.Assim, vejamos:I. Fica difícil concluir, pelos traços da fisionomia deJon, que ele escamoteia sua verdadeira opinião. Afisionomia de descontentamento de Garfield ficamarcada, mas e a de Jon? Sua expressão de sa-tisfação é real ou simulada? Se real, isso invalida-ria as afirmações I e IV, o que levaria a questão a

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Questão 39

Questão 40

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não ter alternativa correta. Se simulada, I e IV fi-cam corretas. Como chegar, contudo, à conclusãode que Jon é simulado? Apenas se considerar-mos que o primeiro quadrinho exprime insatisfa-ção real e o segundo e o terceiro uma satisfaçãosimulada, o que é por demais interpretativo.II. Além do conhecido gosto de Garfield por "junkfood", poderíamos interpretar o último quadrinhocomo deixando implícito o seguinte raciocínio: "Seé comida saudável, então não é gostosa", o quetornaria a afirmação verdadeira. Por outro lado,poderíamos interpretar que "refeição saudável" éapenas uma dissimulação de Jon para o fato de acomida não ser prazerosa, ficando implícito queele também não gostou. Nesse caso, Garfield ex-pressa o que ficou subentendido em Jon, o quenão permitiria a conclusão dada na afirmativa (Eunão gostei, mas é refeição saudável).III. Como o verbo "é" pode ser interpretado comocontraditório? Por reafirmar o caráter saudável dacomida e ao mesmo tempo algo de que não segostou? Ora, só seria contraditório se afirmasse enegasse ao mesmo tempo o caráter salutar da co-mida, o que não acontece na tira. A aparente con-tradição estaria em ser saudável e não gostar?Porém, até onde isso estaria expresso no uso do"é"? Poderíamos, também, contestar a afirmaçãopelo fato de que se pode interpretar o "é" nãocomo reafirmação do ponto de vista de Jon, mascomo ironia de Garfield sobre a afirmação de Jon,o que invalidaria totalmente a afirmativa.IV. A afirmativa só é verdadeira se interpretarmosa atitude de Jon como dissimulada. Porém, é dis-cutível se o ponto de vista de Garfield é o mesmodo de Jon.

Leia o texto, para responder às questões denúmeros 41 a 45.

Ética e estratégia

A partir de meados do século XX a com-plexidade das relações econômicas e a conse-qüente evolução dos sistemas administrati-vos determinaram a consolidação de uma sé-rie de práticas gerenciais dirigidas às gran-des linhas de atuação das organizações. Des-de então, o pensamento estratégico é conside-rado o cerne da condução de empreendimen-tos públicos e privados. Mais recentemente,variáveis referidas à eticidade – ao moral-mente aceitável – ganharam importância nadeterminação das decisões estratégicas.

Estratégias e juízos morais pertencem aduas esferas independentes. A determinaçãodas estratégias está baseada em conhecimen-tos, em considerações sobre valores e em fa-

tos. As estratégias podem ser verificadas ecomprovadas por terceiros, por conhecimen-tos teóricos e práticos e pelo êxito de sua im-plantação. Já os juízos morais podem sercompartilhados, mas não provados. Não háuma medida de êxito para aplicação de prin-cípios éticos que seja exterior a esses princí-pios. Quando se argumenta sobre juízos mo-rais, espera-se apenas que os argumentos es-tejam assentados sobre princípios necessáriose asserções factuais.

A situação atual, que se convencionou de-nominar de globalização, que talvez seja umapseudoglobalização, mas que certamente épseudo-atual, tem requerido e proporcionadouma discussão mais aprofundada das ques-tões éticas. De forma que parece estar dimi-nuindo a distância que tradicionalmente se-parava o processo de reflexão sobre o mundoe a sociedade daquele que se faz sobre a atua-ção econômica. Nesse contexto, ganha relevo,no cenário empresarial, o pensamento éticocontemporâneo, tanto o referido à fundamen-tação moral lastreada na lógica e na lingua-gem, como, principalmente, o relacionado àação, como é o caso da ética da interação e dacomunicação.

(Hermano Roberto Thiry-Cherques,Conjuntura Econômica, agosto de 2005.

Adaptado)

Considere o que se afirma sobre a organiza-ção das idéias no texto.I. O 1º e o 3º parágrafos apontam a aproxima-ção dos terrenos ético e da economia mundial,com foco no aspecto temporal.II. O 2º parágrafo dedica-se a expor as ca-racterísticas que diferenciam estratégias ejuízos morais, identificando o núcleo da dife-rença no aspecto probatório.III. O 3º parágrafo identifica o fenômeno eco-nômico responsável pelo relevo que o planoético assume no contexto das organizações.

Deve-se concluir que está correto o contidoema) I, apenas.c) I e II, apenas.e) I, II e III.

b) II, apenas.d) II e III, apenas.

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Questão 41

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alternativa E

I. No 1º e 3º parágrafos há uma preocupação doautor em marcar temporal e evolutivamente asmudanças discutidas.II. O 2º parágrafo dedica-se a expor as diferençasentre estratégias e juízos morais.III. O 3º parágrafo trata da globalização e sua re-lação com o plano ético.

Ao fazer referência ao fenômeno da globaliza-ção, no início do 3.° parágrafo, o autora) afirma categoricamente a identidade do fe-nômeno, sem pôr em dúvida sua atualidade.b) evita afirmar categoricamente a identida-de do fenômeno, pondo em dúvida sua atuali-dade.c) põe em dúvida a identidade do fenômeno eafirma categoricamente sua atualidade.d) põe em dúvida a identidade do fenômeno enega categoricamente sua atualidade.e) nem afirma categoricamente a identidadedo fenômeno nem nega sua atualidade.

alternativa D

• "talvez seja uma pseudoglobalização"; o autorpõe em dúvida a identidade do fenômeno pelouso de um advérbio de dúvida ( talvez).• "mas que certamente é pseudo-atual": o uso daconjunção adversativa mas opõe à dúvida da ora-ção anterior a certeza do que ele afirma agora. Oadvérbio certamente nem sempre expressa certe-za absoluta, mas, nesse caso, associado à con-junção adversativa, fica como termo antitético atalvez.

Assinale a alternativa contendo informaçãoque o texto deixa pressuposta.a) Mesmo antes de meados do século XX, opensamento estratégico ocupava posiçãocentral nos sistemas administrativos de em-preendimentos.b) Houve um tempo em que a preocupaçãocom a ética não se destacava no quadro dasestratégias empresariais.c) No passado, não eram identificáveis siste-mas administrativos gerenciais nas empre-sas.

d) Empresas públicas e privadas não levamem conta o planejamento estratégico de suasações.e) O pensamento ético contemporâneo já sedestacava no âmbito da empresa, em meadosdo século XX.

alternativa B

A idéia central do primeiro parágrafo é a de queconceitos sobre a ética no âmbito das empresas,embora não sejam rigorosamente atuais, somen-te "A partir de meados do século XX" fizerampensar sobre "a complexidade das relações eco-nômicas".

Desde então, o pensamento estratégico éconsiderado... (1.º parágrafo).

Não há uma medida de êxito para aplicaçãode princípios éticos que seja exterior a essesprincípios. (2.º parágrafo)

... daquele que se faz sobre a atuação econô-mica. (3.º parágrafo)

Nos contextos em que se encontram, as pala-vras em destaque referem-se, correta e res-pectivamente, aa) meados do século XX; medida de êxito; pro-cesso de reflexão.b) uma série de práticas gerenciais; princí-pios éticos; mundo.c) a conseqüente evolução dos sistemas admi-nistrativos; medida; processo de reflexão so-bre o mundo.d) a complexidade das relações econômicas;aplicação de princípios éticos; processo de re-flexão sobre o mundo e a sociedade.e) a complexidade das relações econômicas ea conseqüente evolução dos sistemas admi-nistrativos; princípios éticos; processo.

alternativa A

• então: advérbio de tempo, refere-se a "meadosdo século XX";• que: pronome relativo, refere-se a "medida deêxito";• daquele: pronome demonstrativo, refere-se a"processo de reflexão".

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Questão 42

Questão 43

Questão 44

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Assinale a alternativa em que, mesmo com amudança de posição do termo em destaque, épreservado o sentido do trecho original, conti-do no parágrafo indicado entre parênteses.a) Variáveis referidas à eticidade – ao moral-mente aceitável – ganharam, mais recente-mente, importância na determinação das de-cisões estratégicas. (1.°)b) Os juízos morais já podem ser comparti-lhados, mas não provados. (2.°)c) Espera-se que os argumentos estejam ape-nas assentados sobre princípios necessários easserções factuais. (2.°)

d) Parece estar diminuindo, tradicional-mente, a distância que separava o processode reflexão sobre o mundo e a sociedade da-quele que se faz sobre a atuação econômica.(3.°)e) ...ganha relevo o pensamento ético contem-porâneo, tanto o referido à fundamentaçãomoral, como o relacionado principalmente àação, como é o caso da ética da interação e dacomunicação. (3.°)

alternativa A

A expressão mais recentemente é adjunto adver-bial de tempo e pode ser deslocada na frase des-de que seja isolada por vírgulas.

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Questão 45