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1 Fichamento Por Andreia dos Santos Barreto Monsores de Assumpção GUIMARÃES, Nadya A. & GEORGES, Isabel. A construção social de trajetórias de mando: determinantes de gênero nos percursos ocupacionais. Cadernos Pagu, Campinas, vol. 32, pp. 83-134, jan-jun. 2009. O artigo apresenta o recorte de uma ampla pesquisa comparativa (Brasil-França) sobre carreiras nos serviços. Tal segmento foi escolhido pelo entendimento de que esta área ocupacional é mais permeável às mulheres, por permitir uma adequação entre a vida familiar e a vida profissional. Este recorte, localizado na região metropolitana do estado de São Paulo, diz respeito aos percursos sócio-ocupacionais a partir do ponto de vista e das representações de indivíduos que, ao longo de seus trajetos profissionais, obtiveram e perderam posições de mando em um mercado de trabalho em crise naquele momento, com um alto índice de desemprego. Outra observação sobre o contexto da pesquisa é a atuação do Estado brasileiro, que disponibiliza um suporte financeiro para o desempregado com um valor reduzido e por um período insuficiente, se comparado à média de tempo entre a saída e a reentrada no mercado de trabalho formal. Foram utilizadas duas bases de discursos independentes e articuladas, colhidas no mesmo período de tempo (entre 2002 e 2003). O objetivo foi fazer uma comparação entre os discursos biográficos, visando expor as estratégias individuais que culminaram na permanência ou na ausência no mercado de trabalho. O primeiro grupo surgiu de um estudo sobre trajetórias sócio ocupacionais de operadores de telemarketing, um segmento em franca expansão no mercado brasileiro naquele período. A análise deste grupo foca a atuação específica de homens e mulheres que estavam, no momento da pesquisa, ocupando posições de chefia e, por isso também, experimentando a mobilidade social ascendente, em comparação com a posição de seus pais. O segundo grupo é composto por indivíduos que já tinham ocupado posições de gerência, mas que tinham perdido seus empregos e estavam enfrentando o desafio de sobreviver concomitantemente com a busca de outra posição no mercado de trabalho. O objetivo principal destas entrevistas foi “entender como se produz a ação desses indivíduos a partir das inúmeras e sucessivas microdecisões que eles cotidianamente tomam” (p.98), além de verificar como a interpretação da sua situação vis-à-vis o mercado de trabalho é um elemento decisivo para a conduta que produz ao final um dado trajeto sócio-profissional. Tendo em vista a mobilidade dos indivíduos no mercado de trabalho, a partir desses dois grupos de empregados e desempregados, foram diferenciados dois tipos de carreiras: femininas e masculinas. A feminina tem como característica o fato de ser entrecortada e truncada, com formas atípicas de emprego e orientadas por eventos familiares. E a masculina mais focada na vida profissional. Principais pontos do texto:

Fichamento - A Construção Social Das Trajetórias de Mando

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Fichamento do texto "A construção social das trajetórias de mando".

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  • 1

    Fichamento

    Por Andreia dos Santos Barreto Monsores de Assumpo

    GUIMARES, Nadya A. & GEORGES, Isabel. A construo social de trajetrias de mando:

    determinantes de gnero nos percursos ocupacionais. Cadernos Pagu, Campinas, vol. 32, pp.

    83-134, jan-jun. 2009.

    O artigo apresenta o recorte de uma ampla pesquisa comparativa (Brasil-Frana) sobre carreiras

    nos servios. Tal segmento foi escolhido pelo entendimento de que esta rea ocupacional mais

    permevel s mulheres, por permitir uma adequao entre a vida familiar e a vida profissional.

    Este recorte, localizado na regio metropolitana do estado de So Paulo, diz respeito aos

    percursos scio-ocupacionais a partir do ponto de vista e das representaes de indivduos que,

    ao longo de seus trajetos profissionais, obtiveram e perderam posies de mando em um

    mercado de trabalho em crise naquele momento, com um alto ndice de desemprego. Outra

    observao sobre o contexto da pesquisa a atuao do Estado brasileiro, que disponibiliza um

    suporte financeiro para o desempregado com um valor reduzido e por um perodo insuficiente,

    se comparado mdia de tempo entre a sada e a reentrada no mercado de trabalho formal.

    Foram utilizadas duas bases de discursos independentes e articuladas, colhidas no mesmo

    perodo de tempo (entre 2002 e 2003). O objetivo foi fazer uma comparao entre os discursos

    biogrficos, visando expor as estratgias individuais que culminaram na permanncia ou na

    ausncia no mercado de trabalho. O primeiro grupo surgiu de um estudo sobre trajetrias scio

    ocupacionais de operadores de telemarketing, um segmento em franca expanso no mercado

    brasileiro naquele perodo. A anlise deste grupo foca a atuao especfica de homens e

    mulheres que estavam, no momento da pesquisa, ocupando posies de chefia e, por isso

    tambm, experimentando a mobilidade social ascendente, em comparao com a posio de

    seus pais. O segundo grupo composto por indivduos que j tinham ocupado posies de

    gerncia, mas que tinham perdido seus empregos e estavam enfrentando o desafio de

    sobreviver concomitantemente com a busca de outra posio no mercado de trabalho.

    O objetivo principal destas entrevistas foi entender como se produz a ao desses indivduos a

    partir das inmeras e sucessivas microdecises que eles cotidianamente tomam (p.98), alm

    de verificar como a interpretao da sua situao vis--vis o mercado de trabalho um elemento

    decisivo para a conduta que produz ao final um dado trajeto scio-profissional.

    Tendo em vista a mobilidade dos indivduos no mercado de trabalho, a partir desses dois grupos

    de empregados e desempregados, foram diferenciados dois tipos de carreiras: femininas e

    masculinas. A feminina tem como caracterstica o fato de ser entrecortada e truncada, com

    formas atpicas de emprego e orientadas por eventos familiares. E a masculina mais focada na

    vida profissional.

    Principais pontos do texto:

  • 2

    Sobre a dinmica do desemprego

    Contexto brasileiro:

    - Desemprego recorrente trajetria fragmentada. Muitos acessos ao seguro-desemprego;

    Pases com quadro de capitalismo avanado:

    - Desemprego de longa durao - proteo ampla ao desempregado. Apoio na procura de uma

    nova posio.

    Quem tem mais dificuldade de se empregar contexto mundial

    - Jovens que buscam o primeiro emprego;

    - Mulheres, aps uma carreira de reprodutiva;

    - Mulheres, tentando conciliar papis (ocupacionais e familiares);

    - Trabalhadores/as manuais industriais;

    - Chefias mdias atingidas pela reestruturao nos nveis de comando (objetivo deste artigo).

    Mobilidade no mercado de trabalho

    Protegida pela posio social dos indivduos: quem se mantm empregado - homens brancos,

    chefes de famlia, provenientes de meios sociais privilegiados e com escolarizao elevada.

    Concluso: A manuteno no mercado de trabalho, com remunerao digna um resultado

    que traz marcas permanentes, associadas condio de gnero, racial, geracional e ao meio

    de origem.

    Construo social das trajetrias scio-profissionais

    - Estrutural: o que condiciona as escolhas individuais (condio social, gnero, raa);

    - Cotidiano: mecanismos que operam na produo das trajetrias.

    Anlise das entrevistas

    Empregados no setor de servios telemarketing (favorece as mulheres)

    - O tipo de recrutamento e a natureza do trabalho privilegiam a educao formal;

    - Trabalho em meio perodo;

    - Alta rotatividade;

    - Maior concentrao de carreiras femininas:

    - abarca homens e mulheres;

    - mobilidade social ascendente social e profissional;

    - origens diversas prioritariamente populares e classe mdia baixa;

    - trajetria educacional entrecortada;

    - trajetria profissional com perodos de inatividade (reproduo; prpria obra; pedido

    do marido; cuidado com a famlia)

    - Carreiras masculinas:

    - mulheres brancas;

    - trajetria educacional mais linear, com universidade pblica em perspectiva;

    - as representaes sobre a famlia no precisam (ou no podem) aparecer no discurso

    com uma opo.

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    Carreiras no desemprego

    Em comum:

    - exerceram por um longo perodo funes de chefia;

    - so mais velhos;

    - chefes de famlia, por vezes com vrios filhos;

    Diferena do outro grupo:

    - Origem: oriundos de meios sociais distintos da maior parte dos desempregados de

    SP.

    Diferena no interior do grupo:

    - Sexo:

    - Mulheres superviso de servios ligados ao cuidado similares ao trabalho

    domstico;

    - Homens gerentes de servios variados, geralmente ligados s mquinas e

    ao raciocnio lgico.

    Carreiras masculinas:

    - apenas homens;

    - profissionais especializados;

    - resistncia para se reconhecer desempregado;

    - o discurso : a procura de trabalho em uma rea especfica

    - alguns pediram demisso.

    Carreiras femininas:

    - apenas mulheres;

    - presso familiar para se desligar do emprego, geralmente um pedido

    do marido;

    - o fato de ser gerente no aparece no discurso como um mrito

    prprio, mas como uma ddiva;

    - constante no discurso: imagem de me batalhadora;

    - resistncia em se reconhecer chefe;

    - busca qualquer colocao no mercado;

    Concluses determinante de gnero faz sentido.

    - distingue universos discursivos;

    - diferentes experincias laborais;

    - forma diversa de entendimento do desemprego.

    Mulheres:

    - episdios como chefes sem recorrncia, no h itinerrio, carreira, mas eventos

    isolados.

    - geralmente supervisoras e gerentes em trabalhos similares ao trabalho domstico:

    limpeza, conservao;

    - uma vez perdida a condio de chefe voltam ao trabalho domstico, sem

    problemas;

    - buscam emprego atravs de indicaes e conhecimento;

  • 4

    - por vezes o desemprego sinnimo de inatividade.

    Homens:

    - possuem um discurso e uma forte identidade profissional;

    - podem ter uma sucesso de empregos, trajetria entrecortada, mas empregam-se na

    mesma rea ocupacional;

    - em estado de desemprego, procura fazer trabalhos avulsos em sua rea

    profissional;

    - mais permeveis tecnologia. Procuram trabalho pela internet.

    - mais empreendedores, se vendem quanto produto no mercado de trabalho;

    - se recusam a assumir maiores responsabilidades no trabalho domstico.