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Rodrigo Augusto Lacerda de Oliveira Professor: César Barreira Fichamento – Metodologia de pesquisa Texto: A Imaginação Sociológica – Wright Mills A promessa - Hoje em dia, os homens sentem, frequentemente, suas vidas privadas como uma série de armadilhas. Percebem que dentro dos mundos cotidianos, não podem superar suas preocupações, e quase sempre tem razão nesse sentimento: tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Pág. 9 - As realidades da história contemporânea constituem também realidades para o êxito e o fracasso de homens e mulheres, individualmente. Pág. 9 - Raramente têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que essa ligação significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de evolução histórica de que podem participar. Pág. 10 - A história que atinge todo homem, hoje, é a história mundial. Pág. 10 - Depois de dois séculos de ascendência, o capitalismo é visto apenas como um processo de transformar a sociedade num aparato industrial. Depois de dois séculos de esperanças, até mesmo a democracia formal está limitada a uma pequena parcela da humanidade. Pág. 10 - A própria evolução da história ultrapassa, hoje, a capacidade que têm os homens de se orientarem de acordo com valores que amam. Pág. 11

Fichamento - a imaginação sociológica

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Page 1: Fichamento - a imaginação sociológica

Rodrigo Augusto Lacerda de Oliveira

Professor: César Barreira

Fichamento – Metodologia de pesquisa

Texto: A Imaginação Sociológica – Wright Mills

A promessa

- Hoje em dia, os homens sentem, frequentemente, suas vidas privadas como uma série de armadilhas. Percebem que dentro dos mundos cotidianos, não podem superar suas preocupações, e quase sempre tem razão nesse sentimento: tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Pág. 9

- As realidades da história contemporânea constituem também realidades para o êxito e o fracasso de homens e mulheres, individualmente. Pág. 9

- Raramente têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que essa ligação significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de evolução histórica de que podem participar. Pág. 10

- A história que atinge todo homem, hoje, é a história mundial. Pág. 10

- Depois de dois séculos de ascendência, o capitalismo é visto apenas como um processo de transformar a sociedade num aparato industrial. Depois de dois séculos de esperanças, até mesmo a democracia formal está limitada a uma pequena parcela da humanidade. Pág. 10

- A própria evolução da história ultrapassa, hoje, a capacidade que têm os homens de se orientarem de acordo com valores que amam. Pág. 11

- O que precisam, e o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhe ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade, afirmo, que jornalistas e professores, artistas e públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar de imaginação sociológica. Pág. 11

- A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Pág. 11

- O primeiro fruto dessa imaginação (...) é a ideai de que o indivíduo só pode compreender sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro

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de seu período; só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas mesmas circunstâncias que ele. Pág. 12

- A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da sociedade. Essa a sua tarefa e a sua promessa. Pág. 12

- É a capacidade de ir das mais impessoais e remotas transformações para as características mais íntimas do ser humano (...). Sua utilização se fundamenta sempre na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no período no qual sua qualidade e seu ser se manifestam. Pág. 13/14

- Talvez a distinção mais proveitosa usada pela imaginação sociológica seja a entre “as perturbações pessoais originadas no meio mais próximo” e “as questões públicas da estrutura social”. Essa distinção é um instrumento essencial da imaginação sociológica e uma característica de todo trabalho clássico na ciência social. Pág. 14

- Ter consciência da ideia da estrutura social e utilizá-la com sensibilidade é ser capaz de identificar as ligações entre uma variedade de ambientes de pequena escala. Ser capaz de usar isso é possuir a imaginação sociológica. Pág. 17

- Para os que aceitam valores herdados, como razão e liberdade, é a inquietação em si que constitui o problema; é a indiferença em si que constitui a questão. E essa condição de inquietação e indiferença é que constitui a característica marcante do nosso período. Pág. 18/20

- “o principal perigo do homem” está nas forças desregradas da própria sociedade contemporânea, com seus métodos de produção alienantes, suas técnicas envolventes de domínio público, sua anarquia internacional – numa palavra, suas transformações gerais da própria “natureza” do homem e das condições e objetivos de sua vida. Pág. 20

- Hoje, a principal tarefa intelectual e política do cientista social – pois as duas aqui coincidem – é deixar claros os elementos da inquietação e da indiferença contemporâneos. Pág. 20

- Embora a moda se revele por vezes através da tentativa de utilizá-la, a imaginação sociológica não é apenas uma moda. É uma qualidade que parece prometer mais dramaticamente um entendimento das realidades íntimas de nós mesmos, em ligação com realidades sociais amplas. Pág.22

- Muito do que se considerava “ciência” passou a ser visto hoje como uma filosofia dúbia; muito do que se considerava como “verdadeira ciência” frequentemente nos proporciona apenas fragmento confusos das realidades entre as quais vive o homem. Pág. 23

- Atualmente, entre os cientistas sociais, há uma apreensão generalizada tanto intelectual como moral sobre a direção que seus estudos estão tomando. Essa apreensão, bem como as tendências infelizes que para ela contribuem, são, creio eu, parte de um mal-estar geral contemporâneo da vida intelectual. Pág. 26/27

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- As peculiaridades da Sociologia podem ser compreendidas como deformações de uma ou mais de suas tendências tradicionais. Mas suas promessas também podem ser compreendidas em termos dessas tendências. Pág. 31

Do artesanato Intelectual

- Para o cientista social individual, que se sente parte da tradição clássica, a ciência social é como um ofício. Pág. 211

- A erudição é como uma escolha de como viver e ao mesmo tempo uma escolha de carreira; quer o saiba ou não, o trabalhador intelectual forma seu próprio eu à medida que se aproxima da perfeição de seu ofício; para realizar sua potencialidade, e as oportunidades que surgem, ele constrói um caráter que tem como essência, as qualidades do bom trabalhador. Pág. 212

- (...) o homem moderno tem uma experiência pessoa tão reduzida, embora a experiência seja tão importante como fonte de trabalho intelectual original. Pág. 213

- Qualquer cientista social que esteja bem adiantado em seu caminho deve ter, a qualquer momento, tantos planos, ou seja, idéias, que sua indagação será sempre: “a qual deles devo me dedicar,, em seguida?” Pág. 214

- O bom trabalho na ciência social de hoje não é, e habitualmente não pode ser, feito de uma “pesquisa” empírica claramente delineada. Compõe-se, antes, de muitos estudos bons, que em pontos-chaves encerram observações gerais sobre a forma e a tendência do assunto. Pág. 218

- O objetivo da pesquisa empírica é solucionar desacordos e dúvidas sobre fatos, e assim tornar mais frutíferas as discussões, dando a todos os lados maior base substantiva. Os fatos disciplinam a razão; mas a razão é a guarda avançada de qualquer campo do conhecimento. Pág. 221

- A imaginação sociológica, permitam-me lembrar, consiste em grande parte na capacidade de passar de uma perspectiva a outra, e no processo estabelecer uma visão adequada de uma sociedade total de seus componentes. Pág. 227/228

- Somente conhecendo os vários sentidos dados a cada palavra, podemos escolher exatamente aquelas com as quais desejamos trabalhar. Pág. 229

- Para o sociólogo, a classificação cruzada é o que a diagramação de uma sentença é para o gramático. Sob muitos aspectos, a classificação cruzada é a gramática mesma da imaginação sociológica. Como toda gramática, deve ser controlada, não se lhe permitindo escapar aos seus objetivos. Pág. 230

- Todos concordarão em que os trabalhos devem ser apresentados em linguagem simples e clara, na medida em que o assunto e os pensamentos permitam. Mas como poderemos notar, uma prosa empolada e polissilábica não predomina nas Ciências Sociais. Pág. 233

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- A habilidade do autor está em fazer que o círculo de seu sentido do leito coincida exatamente com o seu, escrever de tal modo que ambos fiquem no mesmo círculo de sentido controlado. Pág. 237

- Sejamos um bom artesão: evitemos qualquer norma de procedimento rígida. Acima de tudo, busquemos desenvolver e usar a imaginação sociológica. Evitemos o fetichismo do método e da técnica. Pág. 240

- Evitemos a singularidade bizantina dos Conceitos associados e dissociados, o maneirismo da verborragia. Imponhamos a nós mesmo, e aos outros, a simplicidade das afirmações claras. Pág. 241

- Façamos as construções trans-históricas que julgamos necessárias, mas pratiquemos também as minúcias sub-históricas. Estabeleçamos uma teoria bastante formal e modelos do melhor modo possível. Pág. 241

- Não estudemos apenas um ambiente pequeno depois de outro; estudemos as estruturas sociais nas quais os ambientes estão organizados. Pág. 241

- Devemos compreender que nosso objetivo é o entendimento comparado e pleno das estruturas sociais que surgiram e hoje existem na história mundial. Para realizar esse objetivo, devemos evitar a especialização arbitrária dos departamentos acadêmicos existentes. Pág. 241/242

- Mantenhamos sempre os olhos abertos para a imagem do homem – a noção genérica de sua natureza humana – que pelo nosso trabalho, estamos supondo e considerando implícita. Pág. 242

- Devemos saber que herdamos e estamos levando à frente a tradição da análise social clássica; por isso, busquemos compreender o homem não como um fragmento isolado, não como um campo ou sistema inteligível em si mesmo. Procuremos compreendê-lo como agente histórico e social, e as formas pelas quais sua variedade é complexamente selecionada e intricadamente formada pelas variedades de sociedades humanas. Pág. 242

- Não devemos permitir que as questões públicas, tais como oficialmente formuladas, nem as preocupações, tais como experimentadas privadamente, determinem os problemas que estudamos. Acima de tudo, não devemos abrir mão de nossa autonomia moral e política, aceitando, pelas condições de alguma outra pessoa, o praticalismo liberal. Pág. 242/243