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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO VINÍCIUS SOARES CARVALHO FICHAMENTO Nº 08 Salvador 2015

Fichamento Cap. IV de A Falsa Medida Do Homem Stephen Jay Gould

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Vinícius Soares Carvalho - mestrando da Faculdade de Direito da UFBa

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Page 1: Fichamento Cap. IV de A Falsa Medida Do Homem Stephen Jay Gould

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

VINÍCIUS SOARES CARVALHO

FICHAMENTO Nº 08

Salvador

2015

Page 2: Fichamento Cap. IV de A Falsa Medida Do Homem Stephen Jay Gould

VINÍCIUS SOARES CARVALHO

Fichamento textual a partir de leitura virtual do Capítulo IV, “Medindo Corpos”, do livro de Stephen Jay Gould, intitulado A FALSA MEDIDA DO HOMEM

Atividade proposta pelos docentes como requisito avaliativo para a disciplina Metodologia da Pesquisa em Direito, PPGD/UFBa, no semestre letivo de 2015.2

Salvador

2015

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GOULD, Stephen Jay. A falsa medida do homem. Tradução de Válter Lellis Siqueira. Revisão de tradução de Luís Carlos Borges. Revisão técnica de Carlos Camargo Alberto. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Capítulo IV (Medindo Corpos): pp. 110-146

Págs.

112 4. Medindo corpos

- O macaco em todos nós: a recapitulação

“A recapitulação está entre as ideias mais influentes da ciência do final do século XIX. Dominou diferentes campos científicos, tais como a embriologia, a morfologia comparada e a paleontologia. Todas essas disciplinas estavam obcecadas pela ideia de reconstruir as linhagens evolutivas, e todos consideravam o conceito de recapitulação como sendo a chave da questão.”

113 “A recapitulação serviu como teoria geral do determinismo biológico. Todos os grupos ‘inferiores’ - raças, sexos e classes - foram comparados às crianças brancas de sexo masculino. (...)”

“A recapitulação forneceu uma base para argumentos antropométricos - particularmente craniométricos - destinados a justificar a classificação hierárquica das raças. (...)”

114 “Se a anatomia elaborou o vigoroso argumento da recapitulação, o desenvolvimento psíquico, por seu lado, ofereceu um rico campo para sua corroboração. (...)”

116 “A tese que podemos considerar como a mais absurda dos anais do determinismo biológico foi formulada por G. Stanley Hall - que, repito, não era nenhum louco, mas o mais importante psicólogo dos Estados Unidos - quando afirmou que a maior frequência de suicídios entre as mulheres demonstrava que estas se situavam em um estágio evolutivo inferior ao dos homens. [...]” Justificação do sexo frágil?

118 “Vejamos agora as consequências da neotenia para a classificação hierárquica dos grupos humanos. Do ponto de vista da recapitulação, os adultos das raças inferiores são como as crianças das raças superiores. Mas a neotenia inverte o argumento - ‘bom’ - ou seja, desenvolvido ou superior - é conservar os traços da infância, desenvolver-se mais lentamente. Assim, os grupos superiores conservam até o estágio adulto suas características infantis, enquanto os inferiores chegam a fase superior da infância e logo degeneram e adquirem características simiescas. Lembremos que os

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cientistas brancos convencionaram que os brancos são superiores e os negros inferiores. Assim, enquanto do ponto de vista da recapitulação, os negros adultos seriam como as crianças brancas, segundo a neotenia os brancos adultos seriam como crianças negras.” tese da neotonia X tese da recapitulação

121 “(...) A correlação entre a pobreza do meio ambiente e o QI inferior pode ser causal, mas a correlação entre o rápido desenvolvimento sensório-motor e o QI inferior provavelmente não é causal - nesse contexto, o rápido desenvolvimento sensório-motor serve simplesmente para identificar as pessoas negras. (...)” argumento de Eysenck

123 - O macaco em alguns de nós: a antropologia criminal

1. Atavismo e criminalidade

“A teoria de Lombroso não foi apenas uma vaga afirmação do caráter hereditário do crime - tese bastante comum em sua época - mas também uma teoria evolucionista específica, baseada em dados antropométricos. (...)”

125 2. Os animais e os selvagens: criminosos natos

“Quando não dispunha de traços condenáveis para mesclar com seus elogios, limitava-se a indicar que os ‘primitivos’ não conseguiam ter razões justificadas para um comportamento positivo. Um santo branco que enfrenta com coragem a tortura e a morte é um herói entre heróis; ‘um selvagem’ que expira com igual dignidade é alguém insensível à dor: (...)” vazio argumentativo de Lombroso

127 3. Os estigmas anatômicos, fisiológicos e sociais

“(...) Entre seus estigmas simiescos, Lombroso incluiu os seguintes (1887, pp. 660-661): maior espessura do crânio, simplicidade das estruturas cranianas, mandíbulas grandes, proeminência da face sobre o crânio, braços relativamente longos, rugas precoces, testa baixa e estreita, orelhas grandes, ausência de calvície, pele mais escura, grande acuidade visual, baixa sensibilidade à dor, e ausência de reação vascular (incapacidade de enrubescer). (...)”

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“Lombroso reforçou seu estudo dos defeitos específicos do criminoso com um estudo antropométrico geral da cabeça e do corpo do mesmo. Sua amostragem era constituída por 383 crânios de criminosos mortos e pelas medidas gerais obtidas de 3.839 criminosos vivos. (...)”

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4. A retirada de Lombroso

“(...) Mas a denominação cunhada por Down perdurou até nossos dias e só agora começa a cair em desuso. Sir Peter Medawar há pouco me dizia que, junto com alguns colegas orientais, acabara de convencer o Times de Londres a substituir a denominação ‘mongolismo’ por ‘síndrome de Down’. Com isso, o bom doutor continuara a ser honrado.”

135 “Além de sua repercussão especifica, a antropologia criminal de Lombroso veio principalmente reforçar o argumento do determinismo biológico quanto aos papéis desempenhados pelos atores e seu ambiente: os atores obedecem a sua natureza inata. Para compreender o crime, e preciso estudar o criminoso, não a forma como este foi criado, sua educação ou as dificuldades que podem tê-lo incitado a roubar ou pilhar. (...)”

139 “Ironicamente, a influência de Lombroso não se viu limitada pelo caráter liberal da jurisprudência, mas pelo seu espírito conservador. A maioria dos juízes e advogados simplesmente não podiam suportar a ideia de que a ciência quantitativa se intrometesse em um domínio que havia muito lhes pertencia. Eles não rechaçavam a antropologia criminal de Lombroso por saberem que se tratava de uma pseudociência, mas por considerá-la uma transgressão injustificada em uma matéria que de pleno direito competia exclusivamente a eles. Os críticos franceses de Lombroso, que insistiam nas causas sociais do crime, também contribuíram para deter a maré lombrosiana, pois, principalmente Manouvrier e Topinard, podiam opor a ela os seus próprios dados numéricos.”

140 “Os antropólogos criminais lombrosianos não eram sádicos abjetos, protofascistas, ou mesmo ideólogos políticos conservadores. Eram antes partidários de uma política liberal e até mesmo socialista, e consideravam-se pessoas modernas iluminadas pela ciência. Tinham a esperança de usar a ciência moderna para varrer da jurisprudência a antiquada bagagem filosófica do livre arbítrio e da responsabilidade moral ilimitada. Eles se autodenominavam a escola ‘positiva’ de criminologia, não porque estivessem muito seguros (embora, na verdade, o estivessem), mas como referência ao sentido filosófico do empírico e do objetivo em lugar do especulativo.”

“A escola ‘clássica’, a principal adversária de Lombroso, havia atacado a arbitrariedade da prática penal existente, afirmando que a pena devia-se ajustar estritamente à natureza do crime, e que todos os indivíduos deviam ser plenamente responsáveis por seus atos

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(exclusão das circunstâncias atenuantes). (...)”

142 “Segundo os lombrosianos, o conceito de indeterminação da sentença refletia a realidade biológica, ao mesmo tempo em que assegurava um máximo de proteção ao Estado: ‘A pena não deveria ser um castigo compensatório do crime, mas uma defesa da sociedade, ajustada ao perigo que representa o criminoso’ (Ferri, 1897, p. 208). (...)” INDETERMINAÇÃO DA PENA

143 5. Coda¹

codasubstantivo feminino

1. mús seção conclusiva de uma composição (sinfonia, sonata etc.) que serve de arremate à peça. eis o significado?

2. ant. cauda, parte traseira, coice.

“A frustração de Tolstói com relação aos lombrosianos estava no fato de estes invocarem a ciência para evitar a questão básica da transformação social como possível solução. A ciência, notou ele, muitas vezes age como firme aliada das instituições existentes. O príncipe Nekhlyudov, protagonista de um de seus romances, tentando compreender o sistema que fora capaz de condenar sem razão uma mulher que ele certa vez prejudicara, estuda em vão os eruditos tratados de antropologia criminal: (...)”

146 - Epílogo

“Todos tendemos a generalizar a partir de nossas respectivas áreas de especialização. Os médicos que escreveram essa carta são psicocirurgiões. Se a conduta violenta de algumas pessoas desesperadas e desalentadas teria de indicar a existencia de alguma desordem específica em seus cérebros, então por que, no caso da corrupção e da violência de certos membros do Congresso e de certos presidentes, não se engendra uma teoria similar? (...)”