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1 Filipenses: O coração de pastor de Paulo Autor José Alfredo Perdomo Molina Seminário Internacional de Miami 2014

Filipenses - cetep.files.wordpress.com · Lição 4: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo” (2:1-30) ... filipenses ou deles próprios no Senhor, apesar das dificuldades

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Filipenses: O coração de pastor de Paulo

Autor

José Alfredo Perdomo Molina

Seminário Internacional de Miami

2014

2

ÍNDICE

Prefácio

Introdução

Lição 1: Introdução a Filipenses

I. Introdução II. Informação geográfica e histórica III. Dados biográficos do autor IV. Data e local de redação V. Propósito da epístola VI. Conclusão Perguntas para a lição 1

Lição 2: “Os tenho no meu coração” (1:1-11)

I. Introdução II. Saudação III. Destinatários IV. Ação de graças e intercessão V. Conclusão Perguntas para a lição 2

Lição 3: `”O viver é Cristo” (1:12-30)

I. Introdução II. Acontecimentos imediatos (1:12-17) III. Expressão de alegria: “alegro-me, seguirei alegrando-me” (1:18-19) IV. Testemunho de vida (1:20-26) V. Exortações pastorais (1:27-30) VI. Conclusão Perguntas para a lição 3

Lição 4: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo” (2:1-30)

I. Introdução II. Exortações pastorais (2:1-5) III. Ensinamento teológico (2:6-11) IV. Exortações pastorais (Cont.) (2:12-15)

3

V. Testemunho de vida (2:16-17) VI. Expressão de alegria: “estou alegre e me regozijo com vocês” (2:17-18) VII. Acontecimentos imediatos (2:19-30) VIII. Conclusão Perguntas para a lição 4 Lição 5: “Por causa de Cristo” (3:1-11)

I. Introdução II. Expressão de alegria: “Alegrem-se no Senhor” III. Exortações pastorais (3:2-3) IV. Testemunho de vida (3:4-7) V. Ensinamento teológico (3:8-11) VI. Conclusão Perguntas para a lição 5 Lição 6: “Nossa cidadania está nos céus” (3: 12-21; 4:1)

I. Introdução II. Testemunho de vida (3:12-14) III. Exortações pastorais (3: 15-17) IV. Ensinamento teológico (3:18-21) V. Expressão de alegria: “vocês são a minha alegria” (4:1) VI. Conclusão Perguntas para a lição 6 Lição 7: “Pensem nessas coisas. Ponham em prática” (4:2-9)

I. Introdução II. Acontecimentos imediatos (4:2-3) III. Expressão de alegria: “alegrem-se sempre no Senhor” (4:4) IV. Exortações pastorais (4:5-7) V. Ensinamento teológico (4:8-9) VI. Conclusão Perguntas para a lição 7 Lição 8: “As suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (4:10-20)

I. Introdução II. Expressão de alegria: “alegro-me imensamente no Senhor” (4:10) III. Testemunho de vida (4:11-13 IV. Acontecimentos imediatos (4:14-18) V. Ensinamento teológico (4:19) VI. Saudação final (4:20-23) VII. Conclusão

Perguntas para a lição 8

4

Bibliografia

5

Prefácio

Desde pequeno, até onde me alcança a memória, recordo ter sentido um

grande interesse e fascínio pelo livro que, ao meu modo de ver, havia motivado

tantos cristãos sinceros – santos e mártires – a viver vidas fora do comum; a

realizar atos heroicos; a sacrificar o conforto; a deixar atrás seres queridos e

interesses pessoais para seguir o chamado de Deus. Aprendi de minha mãe a

desfrutar da leitura das biografias de tais homens e mulheres e, mais que

nada, a valorizar e respeitar as Escrituras Sagradas as que, juntamente com o

Espírito Santo, são os agentes responsáveis por tudo de bom, bonito e nobre

que já tenha sido realizado pelos seguidores de Cristo.

Ao longo dos anos, o interesse pelo estudo das Escrituras Sagradas e seu

efeito na história continuou crescendo em mim. Pude comprovar pessoalmente

seu poder transformador e vi, de primeira mão, o efeito que produz na vida dos

meus seres queridos e até daqueles que me eram desconhecidos até se

converterem em meus irmãos na fé.

É com esse respeito e fascínio que escrevo este breve estudo daquela que

poderíamos considerar a carta mais íntima e familiar de um dos grandes heróis

da fé de todos os tempos. Há muito para aprender do exemplo, da ternura e

dos valores que norteavam a vida deste grande apóstolo. Espero e desejo que a

proposta de estudo que apresento de tal epístola possa, antes de tudo,

glorificar a Deus e só então lançar um novo lampejo de compreensão neste

texto que tem sido tratado e examinado por tantos e tão capazes servos de

Deus. A eles sou devedor e me considero entre os agraciados por ter

participado de seus ensinamentos.

Desejo agradecer, antes de tudo, ao Senhor porque a Ele devemos tudo;

ao MINTS e, em particular, ao professor Jaime Andrés pela oportunidade de

aprender e compartilhar o aprendido; ao meu bom amigo Guillermo, por seu

encorajamento, apoio e exemplo no momento de escrever; à minha fiel esposa,

por estar ao meu lado durante todos estes anos; aos meus filhos e netos -todos

e cada um- por terem sido, e continuarem sendo, o maior desafio e a melhor

influência em minha vida.

6

Introdução

Filipenses é a epístola paulina predominantemente pastoral. Como em

nenhuma outra, o apóstolo abre seu coração e comenta seus sentimentos e

experiências pessoais, enquanto atravessa um momento crítico no desempenho

de seu ministério e se vê submetido a enormes pressões de diferentes índoles.

Em suas linhas, podemos perceber o calor e a sinceridade do pastor que ensina

e exorta através de seu próprio exemplo, de uma perspectiva de serviço,

dedicação e humildade.

Paulo, nesta epístola, se manifesta como um pastor, ancião,

compreensivo e sofrido, que reconta de maneira íntima suas próprias

experiências, suas vitórias e derrotas, seus temores e esperanças, suas

necessidades e desejos a respeito de seu antigo rebanho, pelo qual se sente

responsável e orgulhoso ao mesmo tempo. É o pastor terno que ensina , exorta,

mostra o caminho, mas que acima de tudo, manifesta grande fé, confiança e

carinho por seus ouvintes. Nesta epístola, como em nenhuma outra, declara

sinceramente sua satisfação e agradecimento pelo carinho e apoio

demonstrado com relação à sua pessoa e ministério no decorrer dos anos.

Nesta oportunidade, escolhemos realizar o estudo da epístola aos

filipenses seguindo a análise temática do seu conteúdo Pretendemos classificar

os diferentes recursos pastorais que, de maneira recorrente, encontramos em

cada uma das seis seções nas quais consideramos por bem dividi-la para nosso

estudo. À medida que formos repassando as seções mencionadas, veremos

como, em cada uma delas, Paulo, ao dirigir-se à sua audiência, utiliza o mesmo

padrão de pensamento, o mesmo esquema lógico que torna a repetir-se --ainda

que alterando a ordem dos elementos que o compõem– a cada nova seção.

Temos classificado por categorias os recursos pastorais que utiliza.

Assinalaremos ao decorrer do texto o uso de tais recursos, apesar de que em

algumas ocasiões apresentam-se de forma simultânea. Conheceremos seu

testemunho de vida, que inclui detalhes de sua biografia, experiência pessoal

e a exposição de seus valores e princípios. Examinaremos o tratamento

dispensado aos acontecimentos imediatos. Estudaremos seus ensinamentos

teológicos aplicados. Revisaremos as exortações pastorais que dirige aos

filipenses. Por último, examinaremos a motivação que impulsiona cada uma

das expressões de alegria que caracterizam esta epístola.

7

A alegria do cristão: quer de Paulo diante do comportamento dos

filipenses ou deles próprios no Senhor, apesar das dificuldades que

enfrentavam, é o fio condutor que transparece em cada seção. Este tema é tão

central à epístola que poderíamos perfeitamente ter realizado nosso estudo a

partir desta perspectiva, mas preferimos nesta ocasião enfocá-lo no coração de

pastor de Paulo e assim aproximarmos de maneira estruturada ao conteúdo

desta maravilhosa epístola.

Iniciaremos o estudo analisando os elementos característicos e comuns

às epístolas paulinas e em geral aos escritos epistolares da época: seções que

incluem a saudação, ação de graças e intercessão, agradecimentos, ordens

pessoais e saudações finais. Comentaremos brevemente estas seções que

aparecem no começo e no final da epistola para nos concentrar no estudo

detalhado do conteúdo das outras seis seções.

Iniciaremos a primeira lição do nosso estudo com a introdução geral, na

qual examinaremos o contexto histórico e geográfico entre outros detalhes. Na

segunda lição, nos concentraremos na análise da seção introdutória da

epístola: a saudação, a ação de graças e os destinatários. A partir da terceira

seção até a oitava, analisaremos de maneira temática o conteúdo do corpo

principal da epístola segundo o tema que traçamos uma seção por lição. Na

conclusão de cada lição, ofereceremos comentários que sintetizem os ensinos

de cada perícopa estudada. Por último, cabe apontar que escolhemos a Nova

Versão Internacional (NVI) como texto base do estudo.

A epístola aos filipenses contém valiosos ensinamentos de grande

utilidade prática para todos os que queiram desempenhar o ministério

pastoral. Consideremos, portanto, o conteúdo teológico da mesma e prestemos

cuidadosa atenção ao tom, ao comportamento e à atitude que o próprio

apóstolo manifesta no trato de seu antigo rebanho.

A epístola aos filipenses proporciona um maravilhoso exemplo de

aplicação prática dos ensinos pastorais do também apóstolo Pedro: “Portanto,

apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero

como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará

da glória a ser revelada: pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus

cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus

quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como

dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho.

Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da

glória“ (1 Pedro 5:1-4).

8

Lição 1: Introdução a Filipenses

I. Introdução

Antes de entrar propriamente na análise temática do conteúdo da

epístola aos filipenses que realizaremos nas lições posteriores, vamos tentar

estabelecer algumas questões periféricas à própria epistola, que nos vão servir

para fixar o contexto geral da mesma.

Dedicaremos a primeira seção desta lição a localizar o marco geográfico e

histórico da antiga cidade de Filipos. A região da República Helena (Grécia),

onde se encontra inserida a pequena cidade de Krinides, na atualidade se

denomina Macedônia Oriental e Tracia. O sítio arqueológico da Filipos original

se encontra na periferia do seu raio urbano.

A fim de nos familiarizar com as circunstâncias e os antecedentes dos

receptores da epístola, examinaremos alguns detalhes topográficos do lugar e

estudaremos os principais acontecimentos históricos que antecederam a visita

de Paulo e seus colaboradores. Aproveitaremos esta seção para caracterizar a

sociedade da época em sua vertente cultural, econômica, política e religiosa.

Dedicaremos a seção seguinte ao estudo dos dados biográficos do autor,

o próprio Paulo, e revisaremos algumas de suas experiências na cidade de

Filipos, segundo relata Lucas no livro de Atos. Vamos nos interessar em

conhecer os detalhes da fundação da primeira igreja em terras europeias pelo

apóstolo e os personagens que participaram da mesma.

Na próxima seção determinaremos a autoria e a provável data de redação

da epístola segundo testemunhos externos. Na segunda lição de nosso estudo,

quando volvamos a revisar o tema da autoria da epístola o faremos a partir do

testemunho interno da mesma.

Por último, comentaremos os propósitos gerais que podemos atribuir ao

apóstolo ao escrever a epistola. À medida que estudemos cuidadosamente seu

conteúdo em seções futuras, comprovaremos como tais propósitos irão se

materializando.

Na conclusão, mencionaremos algumas características particulares desta

epístola que a diferenciam do resto do corpo de epístolas paulinas.

II. Informação geográfica e histórica

9

Topografia

A cidade de Filipos1 estava situada ao pé de uma abrupta colina próxima

ao pequeno rio Gangites. Este regava uma ampla e fértil planície quase

totalmente rodeada por cadeias montanhosas, cuja única entrada se abria em

direção oeste (Anfipolis e Tessalonica). A cidade estava localizada ao norte de

tal planície; ao sudeste se encontravam os montes Pangeo, cuja vertente

oriental fecha a passagem em direção ao sul, ao mar. A população costeira

mais próxima era a cidade de Neapolis (hoje em dia, Kavala) a uns 16 km de

distância.

A região era rica em minas de ouro, prata e cobre e a extensa planície,

particularmente depois de terem sido drenadas as áreas pantanosas, era muito

fértil e intensamente cultivada.

A via Egnatia, que unia a capital do império romano com as regiões da

Ásia e do Mar Negro, atravessava-a e aliviava do relativo isolamento que a sua

localização geográfica lhe impunha.2

História

Por volta dos anos 680 A.C, chegaram ao norte da vizinha ilha de Tasos,

situada a oito km do continente em uma região habitada por tracios, alguns

colonos gregos assaltados pela fome e fundaram a cidade homônima que se

desenvolveu notavelmente. Os tasios exploraram as minas de ouro da ilha que

tinham sido exploradas anteriormente por fenícios e sitas. Descobriram

pedreiras de mármore, introduziram o cultivo da videira e cunharam moedas.

Por carecerem de suficiente terreno para cultivo na ilha, os colonos tasios

se transladaram ao continente, onde podiam dispor de extensões maiores para

essa necessidade. Seu interesse, sem dúvida, se centrava na exploração das

ricas minas de ouro da região, particularmente as do monte Pangeo muito mais

produtivas do que as da ilha e que tinham sido exploradas anteriormente pelos

tracios. Fundaram, pois, no lugar que acharam mais propício, a colônia tasia

de Crenides (lugar de fontes) por sua centralidade na região ocupada.

No ano 357-358 A.C, Filipo II de Macedônia, pai de Alexandre Magno,

capturou-a das mãos dos tasios durante suas campanhas de conquista,

1 Coordenadas: 41°00′47″N 24°17′11″E – Cortesia: Google Maps.

2 http://es.wikipedia.org/wiki/Filipos_(ciudad)

10

reedificou-a como sua residência real e colocou nela seu nome, Filipos. A

cidade cresceu rapidamente ao encontrar-se bem comunicada pela estrada real

macedônia que unia as cidades de Anfipolis a oeste e Neapolis ao sul.

O descobrimento de novas minas de ouro, desta vez na região

montanhosa de Asyla, a drenagem e saneamento dos pântanos, a construção

de fortificações, o estabelecimento de uma oficina de cunhagem de moedas,

assim como o desenvolvimento de suas próprias instituições políticas,

contribuíram para o auge e crescimento da nova cidade apesar de contar

apenas com uns 2000 habitantes.

Com a derrota do último rei macedônio no ano de 167 A.C, a cidade de

Filipos passou às mãos romanas. No ano de 43 A.C, Roma estava dividida pela

guerra civil como resultado do assassinato de Julio Cesar por parte dos

senadores que viam perigo para o futuro da república. Os arredores de Filipos

foram o palco da sangrenta batalha na que se enfrentaram as tropas de Casio e

Brutus as de Otavio e Antonio.

A vitória das legiões lideradas por Antonio sobre as de Casio e seu

posterior suicídio, compensaram a derrota de Otavio diante de Brutus. Vinte

dias depois, Otavio e Antonio finalmente derrotaram Brutus, assinalando o

final da guerra. A conclusão da campanha militar e o posterior licenciamento

de parte das tropas nas imediações da cidade facilitaram sua refundação como

colônia romana com o nome de Colonia Victrix Philippensium.3

A nova colônia romana, cujas autoridades dos magistrados castrenses

respondiam diretamente a Roma e não à administração regional, regia-se pelo

Ius italicum (direito de Itália) que entre outras regalias lhes garantia a isenção

de impostos. No ano de 27 A.C. seu nome oficial mudou para Colonia Augusta

Iulia Philippensis. 3

A cidade contava com grande quantidade de cidadãos romanos. Em

termos gerais, os habitantes utilizavam indumentárias romanas,

frequentemente se comunicavam em latim e, quanto à religião, veneravam as

mesmas divindades romanas e celebravam seus festivais. Muitos filipenses

eram militares aposentados que tinham recebido dotes de terra cultiváveis nos

arredores e que, por sua vez, serviam como presença militar na região. A

reforma e ampliação de vários recintos monumentais: foro, anfiteatro,

3 http://edc.evidenciasdelcristianismo.com/?page_id=809

11

biblioteca e muralhas servem para ressaltar sua abundância proveniente das

ricas minas e do comércio e a importância de suas instituições.

III. Dados biográficos do autor

A autoria paulina da epístola tem sido amplamente aceita desde os

primeiros séculos com muito pouco desacordo.

“Entre os primeiros apoios extra bíblicos da

paternidade paulina está Clemente de Roma em sua carta a

Corinto, Ignácio em sua carta a Esmirna, Policarpo em sua

carta a Filipos, Ireneu, Clemente de Alexandria e Tertuliano.4

O testemunho externo é, pois, contundente.

Lightfoot afirma: “A epístola aos filipenses aparece em

todos os cânones de Escritura durante o segundo século: nas

listas do herege Marción e o fragmento Muratori, assim como

nas versões Vetus Latina e a Siríaca Peshita.”5

Quanto ao testemunho interno, o autor identifica a si mesmo como

Paulo. O estilo, o vocabulário utilizado e os ensinamentos são tipicamente

paulinos.

Por outro lado, apesar de não haver dúvidas quanto à autenticidade da

epístola, alguns intérpretes questionam sua homogeneidade, assinalando a

possibilidade de a mesma ser, na realidade, uma recopilação de várias

comunicações que o apóstolo manteve com a igreja de Filipos. Oportunamente

comentaremos tal possibilidade, assinalando no texto as ocasiões nas quais

parece que o apóstolo se dispõe a concluir a epístola e esboça algum tipo de

despedida.

Quanto aos acontecimentos que relacionam originalmente o autor com a

fundação da igreja de Filipos, Lucas nos conta o seguinte:

“No sábado saímos da cidade e fomos para a beira do

rio, onde esperávamos encontrar um lugar de oração.

Sentamo-nos e começamos a conversar com as mulheres que

haviam se reunido ali. Uma das que ouviam era uma mulher

temente a Deus chamada Lídia, vendedora de tecido de

purpura da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu coração 4 Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.9).

5 Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.18).

12

para atender à mensagem de Paulo. Tendo sido batizada,

bem como os de sua casa, ela nos convidou, dizendo: ‘Se os

senhores me consideram uma crente no Senhor, venham ficar

na minha casa’. E nos convenceu” (Atos 16:13-15).

Portanto, Paulo e seus companheiros: Silas, Timóteo e provavelmente o

próprio Lucas, iniciaram seu trabalho missionário no lugar de oração habitual,

junto ao rio Gangites, visto que a cidade não dispunha de uma sinagoga

constituída.6 A conversão de Lidia e seu convite posterior a hospedar-se em sua

própria casa dão início à primeira igreja européia.

Durante “muitos dias” (Atos 16: 18), Paulo e seus companheiros

ministraram aos residentes nesse mesmo lugar de oração junto ao rio. O

acontecimento que Lucas relata a seguir: o exorcismo da jovem pitonisa (Atos

16: 16-18), terminaria com a prisão injusta, tortura e aprisionamento de Paulo

e Silas por parte dos magistrados da cidade. A conversão do carcereiro7 e sua

família acrescentam novos crentes à igreja primitiva. A primeira visita a Filipos

do apóstolo concluirá com a sua expulsão da cidade, a pedido dos próprios

magistrados, depois de terem apresentado suas desculpas por terem

determinado sua prisão e castigo corporal de maneira ilegal ao não terem

reconhecido sua condição de cidadãos romanos. Timóteo e Lucas

permaneceram em Filipos temporariamente para cuidar da nova igreja.

A cidade de Filipos experimentou grande auge nos primeiros séculos e da

importância de sua igreja atesta o próprio Policarpo de Esmirna ao dedicar-lhe

uma de suas epístolas no ano 160 D.C. Durante o século V e VI se

multiplicaram as construções religiosas, chegando a ter sete igrejas de maior

porte.8 A partir desse momento, o destino da cidade fica ligado ao instável

império bizantino, herdeiro do romano. As constantes invasões de búlgaros, de

francos por um breve período, de sérvios e otomanos, assim como o surgimento

da peste e o abandono das rotas comerciais , precipitaram sua inexorável

decadência.

A cidade foi abandonada no século XIV seguindo a invasão otomana, as

ruínas de seus monumentos foram utilizadas pelos habitantes da localidade

6 “Realmente havia tão poucos judeus em Filipos que não havia sinagoga (eram necessários dez

homens casados para estabelecer uma) por isso os judeus que viviam ali se reuniam na beira do rio Gangites para orar” Tenny, Merril C. Pictorial Encyclopedia of the Bible vol. 4 (p. 762). 7 Para um soldado romano, era vergonhoso deixar escapar um prisioneiro. Tal descuido se pagava com a vida. Não é estranho que o carcereiro reagiu daquela maneira. Carballosa. Evis L. “Filipenses: Um comentário exegético y práctico”. (p.13). 8 http://www.esacademic.com/dic.nsf/eswiki/486823.

13

como pedreira e suas ruínas só voltaram a ver a luz em meados do século XIX.

A exploração arqueológica se completaria em 1978 pelo serviço arqueológico

grego e a Universidade de Tessalonica.9

IV. Data e lugar da redação

A própria epístola revela que foi escrita na prisão. Tradicionalmente tem

sido aceito como o lugar provável de sua redação a cidade de Roma, durante a

temporada que antecedeu a primeira defesa diante de Cesar, coincidindo com a

narração dos últimos capítulos do livro de Atos.

Contudo, existem outros dois possíveis lugares que disputam esta versão

tradicional. Trata-se das cidades de Éfeso e Cesarea, onde o apóstolo também

sofreu encarceramento. Vamos considerar a seguir ambas alternativas:

A cidade de Éfeso seria uma alternativa plausível, já que sua

proximidade à cidade de Filipos facilitaria sucessivas visitas e o contínuo

intercâmbio que a carta atesta, além de coincidir com a prolongada

permanência do apóstolo nessa cidade (três anos, segundo Atos 19; 31). Por

outro lado, não existem registros específicos de um suposto período em prisão

nessa cidade embora, em termos gerais, Pablo mencione (II Coríntios 6:5;

11:23) ter padecido diversas detenções e prisões que antecedem os principais

que aparecem relatados no livro de Atos e são: Cesarea (Atos 23:33; 26:32) e

Roma (Atos 28:16-31). A data de redação da epístola, neste caso, não poderia

ser posterior ao ano de 54 D.C.

Outra alternativa situa a redação da epístola durante o prolongado

período de encarceramento, à espera do juízo, que o apóstolo padeceu na

cidade de Cesaréia. Ainda que a enorme distância entre Cesaréia e Filipos,

assim como as próprias circunstâncias do aprisionamento inviabilizariam a

interação entre as partes que a própria epístola sugere. A possibilidade de

apelar a Cesar era o recurso legítimo ao qual Paulo podia submeter-se a

qualquer momento neste seu primeiro cativeiro, pelo que durante esse

prolongado período de prisão, o apóstolo não apresentaria o mesmo nível de

angústia que lhe proporcionaria seu posterior encarceramento romano. A data

de redação da epístola seria posterior ao ano 58 D.C.

Apesar de existir certo apoio de alguns intérpretes, nenhuma dessas

alternativas poderia validar-se sem encontrar maiores dificuldades. No caso da

origem romana, a data que originalmente se atribui à redação da epístola seria

9 Ibíd.

14

o ano 61 D.C. Provavelmente, teriam transcorrido dez anos desde a primeira

visita, tempo suficiente para que a igreja alcançasse o grau de desenvolvimento

que fica patente na própria epístola.

V. Propósito da epístola

A diversidade de temas que o apóstolo deseja tratar com os irmãos de

Filipos caracteriza esta epístola. Classificamos esses temas em categorias e

dessa forma os estudaremos no decorrer deste curso.

O propósito primordial da epístola era atender acontecimentos

imediatos relevantes a essa ocasião. Entre estes se sobressai a sincera

manifestação de agradecimento do apóstolo pela oferta recebida por intermédio

de Epafrodito. Outros temas destacados seriam: o anúncio da próxima visita de

Timóteo e as notícias do estado de saúde e pronto regresso de Epafrodito, uma

vez cumprida sua missão junto ao apóstolo.

O apóstolo também deseja transmitir seus próprios sentimentos e

atitudes frente às circunstâncias adversas que atravessa; comparte por tanto

extensamente seu testemunho de vida: a maneira que suporta o

encarceramento que padece; a relação com os evangelistas rivais que desejam

provocar-lhe ciúmes; sua adaptabilidade diante das diversas condições de vida

– abundância e escassez – que ocasionalmente se vê obrigado a suportar; a

atitude com a qual encara acontecimentos de sua vida passada e suas raízes

judaicas; a disposição presente que o motiva a esforçar-se por alcançar o

conhecimento experimental de Cristo; seus anseios por terminar a jornada na

terra e estar com o Senhor.

Outro propósito importante seria a transmissão de exortações pastorais

oportunas. Este tema ocupa uma parte destacada da epístola e tem a

finalidade de: encorajar os filipenses a se manter firmes diante da perseguição;

animá-los a manifestar atitudes de humildade e união entre os irmãos;

mostrar-lhes o modelo de vida que considera digno dos “cidadãos do céu”,

incentivá-los a imitar seu exemplo de comportamento.

A transmissão de valiosos ensinamentos teológicos ocupa lugar

destacado na epístola, entre os quais sobressaem as relativas à humilhação e

exaltação de Cristo. Contém também advertências à igreja quanto à presença

em seu meio tanto de ensinamentos doutrinais de mestres judaizantes como os

de daqueles cujo comportamento lhes vale a qualificação de “inimigos da cruz

de Cristo” (3: 18), com a intenção de anular sua influência.

15

Por último, o apóstolo deseja compartir suas sentidas expressões de

alegria diante de tantas e tão diversas circunstâncias.

VI. Conclusão

Concluímos esta lição introdutória destacando algumas características

particulares da epístola que a distinguem do resto dos escritos paulinos:

A epístola não contém qualquer citação das Escrituras do Antigo

Testamento, foi redigida originalmente em grego Koiné, assume a forma e o

estilo da correspondência helênica habitual da época.

O estilo de vida cristão que propõe distingue-se pelo alto nível de

dedicação e compromisso que o apóstolo exibe pessoalmente e, em

consequência, exorta que seja imitado por todos.

Algumas características deste estilo de vida diferenciado são: a

humildade pessoal; a união com os irmãos; o esforço concentrado para chegar

à meta; a tranquilidade; a capacidade de enfrentar as situações difíceis e o

contentamento diante de qualquer circunstância da vida.

Podemos qualificá-la também como epístola da alegria pela importância

que o apóstolo concede à expressão da mesma em diversas ocasiões, para citar

algumas: a pregação do evangelho; sua futura libertação em resposta às

petições dos filipenses; a fé e o comportamento exemplar dos mesmos; o

carinho dos filipenses pelo próprio apóstolo; seu agradecimento pela

participação monetária em seu ministério.

Finalmente, assinalaremos que contém uma das passagens cristológicas

mais profundas do Novo Testamento (2:6-11)

Perguntas para a lição 1

1. Assinale alguns benefícios característicos das colônias romanas.

2. Quais foram algumas das principais razões da decadência da cidade

de Filipos?

3. Quais são os possíveis lugares e datas de redação da epístola aos

filipenses?

4. A que passagem cristológica faz referência o autor?

16

5. Quais são os motivos das principais expressões de gozo do apóstolo?

6. Qual era a condição do apóstolo Paulo no momento da redação da

epístola?

7. Qual seria o motivo principal para que o carcereiro de Filipos se

apressar em atentar contra sua própria vida?

8. Recorda-se da primeira pessoa a converter-se em Filipos?

9. Que personagens notáveis da história voltaram a fundar a cidade de

Filipos como colônia romana: Colonia Vitrix Philippensium?

10. Cite alguns dos recursos pastorais que o apóstolo utilizou nesta

epístola com os filipenses.

17

Lição 2: “Os tenho no meu coração” (1:1-11)

I. Introdução

Os versículos iniciais do primeiro capítulo da epístola aos filipenses

contêm – em quantidade e intensidade superiores às de qualquer outra

epístola paulina – expressões ternas de carinho, assim como cálidos e

sentidos elogios da parte do apóstolo dirigidos a uma congregação pela

qual sentia uma consideração especial.

Os filipenses não eram para Paulo simplesmente uma congregação

a mais, das várias que fundara durante suas longas viagens missionárias

nas regiões que hoje compõem os países da Turquia, Macedônia e Grécia.

Considerava-os seus colaboradores: “Todos vocês participam comigo da

graça que Deus” (1:7), “por causa da cooperação que vocês têm dado ao

evangelho, desde o primeiro dia até agora” (1:5). A igreja em Filipos,

portanto, destacava-se nesta característica singular, e esta

particularidade se refletia no tratamento recebido da parte do apóstolo.

Sobressai o ambiente de confiança íntima que se estabelece através

das sentidas declarações de amor sincero por parte do apóstolo nesta

parte introdutória da epístola: “Deus é minha testemunha de como tenho

saudade de todos vocês, com a profunda afeição Cristo Jesus” (1:8), as

condições são propícias para que o apóstolo desenvolva seu trabalho

pastoral apesar da distância que os separa.

O tom da epístola aos filipenses, tal qual se estabelece nesta

perícopa introdutória, se caracteriza pela franqueza, a candidez, a

intimidade e, sobretudo, a perspectiva alegre do serviço cristão que

manifesta o coração de pastor de Paulo.

18

II. Saudação

“Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus” (1:1a). A saudação ao

início da carta é um elemento característico da correspondência

helenística.10 Os autores se identificam como Paulo e Timóteo.

Hendriksen explica que Paulo era evidentemente o autor principal, visto

que ao largo da mesma utiliza a primeira pessoa do singular (“eu” e

“meu”) em lugar de (“nós” e ”nosso”) e quando se refere a Timóteo usa a

terceira pessoa (“seu” e “ele”).11

As razões pelas quais Timóteo aparece como coautor da epístola,

ainda que desde o início não se mantenha essa autoria plural, não estão

totalmente claras. Somente na epístola de Filemon (também escrita desde

o cativeiro) encontramos uma situação semelhante. Nesse caso, as razões

óbvias da natureza pessoal do pedido de Paulo a Filemon justificariam de

certo modo a mudança de pessoa verbal. Na primeira epístola aos

Coríntios (de coautoria de Sóstenes) sucede a mesma mudança de pessoa

verbal desde o início da mesma. Nas outras epístolas comuns a ambos os

autores (Colossenses e 2 Coríntios) ou as escritas conjuntamente com

Silvano (1 e 2 Tessalonicenses) o uso da primeira pessoa do plural se

matem ao início, ainda que durante o corpo da carta possa utilizar-se

simultaneamente a primeira pessoa do singular, neste caso Paulo. O Dr.

Carballosa afirma que a menção de Timóteo ao início da epístola não

sugere coautoria, mas sim que este estava presente e de acordo com o

que Paulo escrevia.12

Poderíamos contribuir com alguns outros fatores que explicariam a

inclusão de Timóteo como coautor da epístola: Timóteo formava parte da

”equipe missionária” original que iniciou a obra na cidade de Filipos (Atos

16:1). Passou mais tempo exercendo o ministério nessa cidade que o

próprio apóstolo (Atos 17:1). Formava parte da “equipe pastoral” que

acompanhou o apóstolo Paulo em sucessivas visitas (Atos 20:4). O

apóstolo planejava enviar o próprio Timóteo como seu representante em

uma curta visita posterior (Filipenses 2:19).

10 Em geral, as epístolas de Paulo parecem o modelo normal das cartas gregas. Cuja forma

básica consiste em cinco seções principais: 1. Prólogo (Remetente, destinatário, saudação) 2.

Ação de graças ou bendição. 3. Tema central da carta (fracionamentos e citações de fontes

clássicas) 4. Perénesis (instrução ética, exortação) 5. Conclusão (menção de planos pessoais,

amigos mútuos, bênção) Broadman&Holman. Anotações Pastorais: Filipenses, (p.5). 11

Hendriksen, William. “Exposición de Filipenses” (p.34). 12

Carballosa, Evis L. “Filipenses: Un comentario exegético y práctico” (p.17).

19

Além do exposto, consideramos que o provável motivo que teria

levado a Paulo a deixar de lado a autoria plural da epístola, bem poderia

estar relacionado à intimidade que o apóstolo imprime às suas palavras.

Esta é a característica mais notável que queremos ressaltar no nosso

estudo da epístola: o coração de pastor de Paulo. A epístola aos filipenses

não se destaca por conter extensos ensinamentos teológicos (ao exemplo

de Romanos) ou admoestações e correções diante dos desvios de

comportamento da igreja (como as duas epístolas aos Coríntios). Nesta

epístola, Paulo comparte seu coração; expressa seus sentimentos e

emoções; declara seus valores e experiências; manifesta seu sofrimento e

suas esperanças como em nenhuma outra.

Paulo e Timóteo se referem a si mesmos como “servos de Cristo

Jesus”. O termo grego utilizado douloß (doulos = servos) poderia ser

traduzido literalmente como “escravos”. As obras consultadas de vários

comentaristas bíblicos parecem favorecer esta tradução literal do termo

“escravos” porque enfatiza a humildade, pertinência integral e

dependência de espírito dos autores da epístola para com o Mestre. Pelo

contrario nesta ocasião o Dr. Hendriksen assinala acertadamente que:

“um douloß em sentido espiritual, é aquele que serve ao

seu Senhor com alegria de coração, em novidade de espírito e

no gozo da perfeita liberdade, recebendo dele uma gloriosa

recompensa. Em português associamos imediatamente ao

termo a conceito de serviço involuntário, sujeição forçada e

(muitas vezes) maus tratos.”13

Portanto, o uso que Paulo dá ao termo douloß poderia ser traduzido

mais precisamente para o português como “empregado subalterno,”

“funcionário responsável” ou “mordomo,” desta maneira se respeitaria o

sentido original do termo utilizado pelo próprio Mestre nas parábolas:

a) os “douloß” eram responsáveis por enormes quantidades de

dinheiro e operavam de maneira autônoma (Mateus 18:23-35; 25;

14,21 e 23).

b) o Mestre concedeu este privilégio singular aos seus

discípulos no aposento alto, “Já não os chamo “douloß” (doulos)

servos chamo-os... filouß (filous) amigos.” (João 15:14-15).

13

Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento. Filipenses” (p.35).

20

III. Destinatários

“A todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os

bispos e diáconos” (1:1b). Paulo se dirige a “todos os santos”, nesse

sentido o Dr. Zapata assinala que o termo é sinônimo de “todos os

crentes”14 não de uma classe particular dos mesmos. Por sua vez, o Dr.

Escobar ressalta a condição de separados (do mundo) que o título

“santos” representa, não que estes fizessem parte de uma categoria

particular de discípulos dentro do Corpo de Cristo.15

Notemos que esta é também a fórmula coletiva de saudação

utilizada por Paulo nas outras epístolas escritas desde a prisão (“aos

santos”). O resto das epistolas coletivas escritas com anterioridade (com

exceção de Romanos), utiliza a fórmula “a igreja que está em...”

Entendemos, portanto, que “santos” deve referir-se a todos os crentes

que compõem a igreja de Filipos.

O uso de termos “bispos” e “diáconos” dá a entender o avançado

grau de organização da igreja em Filipos em dia com outras igrejas

situadas em cidades maiores que, por sua importância e localização,

haviam recebido maior atenção apostólica. Posteriormente, ao redor do

ano 63 D.C, Paulo instará seus companheiros de serviço, Timóteo e Tito,

a regular as condições de acesso ao bispado e diaconato nas igrejas,

urgindo a Tito, em particular, a nomear em cada povoado de Creta os

anciãos responsáveis, dando a entender que era necessária uma

intervenção exterior para organizar estas igrejas que não tinham

alcançado um grau de desenvolvimento similar.

Além disso, bispos “episkopos” e anciãos (presbíteros) são

títulos que se podem aplicar de maneira intercambiável à mesma

pessoa.16 Enquanto que bispos e diáconos são funções diferentes a serem

exercidas dentro da igreja.17

14

Zapata, René C. “Comentario Bíblico del Continente Nuevo: Filipenses” (p.14). 15

Escobar, Samuel. “Comentario Bíblico Mundo Hispano: Filipenses” (p.155). 16 “O Novo Testamento aplica esses termos (presbítero) e (episkopos) com flexibilidade aos lideres da igreja que descreve como anciãos e bispos. Os dois títulos podem descrever a mesma pessoa de maneira intercambiável.” Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.39). 17 Escrituras similares se tornam fundamentais para o estudo da Eclesiologia, pois ajudam a determinar os diferentes estilos de organização da igreja: Episcopalismo, Presbiterianismo, Congregacionalismo de um ou vários lideres. Sendo o modelo de igreja Episcopal o predominante nas igrejas a partir da metade do segundo século até a Reforma.

21

IV. Ação de graças e intercessão

“Agradeço a meu Deus” (1:3). Como sinalamos ao começo, a partir

desta seção o apóstolo Paulo “toma a palavra” e acontece uma mudança

na pessoa verbal. Paulo começa a manifestar seu carinho, interesse e

agradecimento pessoal pelos destinatários da epístola.

A frase “agradeço... toda vez que me lembro de vocês” e “sempre oro

com alegria” denotam o tipo de oração de intercessão que Paulo

praticava.18 A ação de graças por seus seres queridos era, nas próprias

palavras de Paulo, parte importante de suas orações diárias de

intercessão. Mas, não eram estas as únicas preces que saíam de seus

lábios: “Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez

mais em conhecimento e em toda a percepção” (1.9).

“Por causa da cooperação que vocês tem dado no evangelho desde o

primeiro dia até agora” (1:5), “todos vocês participam comigo da graça de

Deus” (1:7). Sem querer ler mais do que o texto diz, encontramos nas

suas palavras o objeto direto a que o apóstolo alude quando declara suas

mais profundas convicções. “Estou convencido de que aquele que começou

boa obra em vocês vai completa-la até o dia de Cristo Jesus” (1:6). A obra

a que se refere é a participação dos filipenses na difusão do evangelho

que realizava o apóstolo. Carballos explica:

“O contexto assinala uma referência direta à constante

comunicação entre Paulo e os filipenses. Tal relação era, sem

dúvida, produto da obra de Deus neles.”19

Concluímos assinalando as tenras expressões de amor de Paulo

pelos “santos em Cristo Jesus que estão em Filipos” no versículo oito:

“Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês com a

profunda afeição de Cristo Jesus,” depois de ter declarado no versículo

sete: “os tenho no meu coração.” Imaginemos por um momento a

sensação de carinho e aceitação que os destinatários de tal cálida

declaração de amor devem ter experimentado. Podemos supor que o

coração dos mesmos estaria igualmente aberto e predisposto a aceitar

qualquer conselho e admoestação, qualquer pedido e apelo que surgisse

18

Exemplos de orações semelhantes em Colossenses 1:3; 1 Tessalonicenses 1:2; 2Tessalonicenses 1:3. 19

Carballosa, Evis L. “Filipenses: Un comentario Exegético y Práctico” (p.25).

22

da boca do apóstolo. Não é possível reagir de outra maneira diante de

tais expressões genuínas de amor e agradecimento.

V. Conclusão

Esta seção introdutória resume os sentimentos do apóstolo em

relação à congregação em Filipos que vai caracterizar o tom da totalidade

da epístola.

Encontramos na mesma os elementos característicos da literatura

epistolar da época: identificação do autor e dos destinatários ao início da

mesma, seguido de uma saudação pessoal e ação de graças a Deus.

Assinalamos como características principais da epístola: o carinho

pessoal que o apóstolo manifesta pelos filipenses e a atitude alegre diante

das circunstâncias adversas que atravessa.

A identificação do autor da epístola fica confirmada pelo

testemunho interno. Ele mesmo se identifica ao início da mesma e a

natureza do escrito exige um reconhecimento tácito da parte dos

receptores da epístola de que seu autor era genuinamente o apóstolo

Paulo.

A presença de Timóteo como coautor da epístola se produz em

função de seu ministério junto ao apóstolo como fundador de tal igreja,

sua relação pessoal com os membros da mesma e a possibilidade de uma

futura visita como representante do apóstolo.

A menção de bispos e diáconos entre os membros da igreja denota

o grau de organização que tinham alcançado algumas das comunidades

cristãs da época.

23

Perguntas para a Lição 2

1. Na saudação “aos santos” (v.1), refere-se o apóstolo a uma classe

particular de crentes (similar aos ofícios de bispos e diáconos) ou

considera assim todos os membros da igreja?

2. Quem o apóstolo cita como coautor da epístola?

3. Qual é a razão da alegria do apóstolo em sua ação de graças a Deus

(1:5)?

4. Quais são os pedidos de oração de Paulo com relação aos filipenses

(1:9-11)?

5. De que se declara Paulo convencido em relação aos filipenses (1:6)?

6. Mencione alguns elementos característicos à literatura epistolar da

época.

7. Considerava o apóstolo os filipenses como membros de uma

congregação que este fundara ou como colaboradores genuínos em seu

ministério?

8. Quê fatores poderiam explicar a inclusão de Timóteo como coautor da

epístola?

9. O termo grego douloß deve traduzir-se nesta perícopa como “escravos”

no sentido que o português transmite ao conceito de escravidão (serviço

involuntário, sujeição forçosa e muitas vezes maus tratos)?

10. Assinale como Verdadeira ou Falsa esta frase do autor: “A ação de

graças por seus seres queridos era, nas próprias palavras de Paulo,

parte importante de suas orações diárias de intercessão.”

24

Lição 3: “O viver é Cristo” (1:12-30)

I. Introdução

A perícopa que estudaremos nesta lição se estende do décimo-

segundo versículo até o final do capítulo. Passemos, pois, a examinar a

primeira seção em que dividimos a epístola aos filipenses, concentrando-

nos na análise temática.

A narração de acontecimentos imediatos na vida do apóstolo e a

explicação dos mesmos ocupam uma boa parte desta terceira lição. Neste

preciso momento, Paulo se encontrava na prisão, sua possível libertação

não havia sido confirmada, as duvidosas intenções de alguns irmãos na

sua pregação do evangelho causavam confusão nas igrejas. Paulo

proveria as explicações necessárias a cada um desses acontecimentos, a

fim de consolar os filipenses e informá-los de seu parecer.

Encontraremos nos versículos décimo oitavo e décimo nono a

primeira expressão de alegria do apóstolo e a explicação dos motivos de

tal alegria.

Na próxima seção, do versículo vigésimo ao vigésimo sexto, o

apóstolo compartilha seu testemunho de vida, os princípios e valores

que o norteavam, neste caso em relação à morte e vida por Cristo.

O apóstolo dirige sua atenção ao tipo comportamento que esperava

dos filipenses nos versículos que vão do vigésimo sétimo ao trigésimo.

Inicia esta nova seção com os termos “não importa o que aconteça” (1:27)

em referência às possibilidades mencionadas na seção anterior. Nela

encontramos uma valiosa série de exortações pastorais, com as quais

concluiremos a lição.

II. Acontecimentos imediatos (1:12-17)

As notícias de sua detenção e posterior prisão devem ter produzido

grande perturbação não só nos filipenses, mas em todas as igrejas da

vasta região que Paulo havia coberto em suas três viagens missionárias.

Os filipenses e todas as igrejas da região estavam a par de sua projetada

viagem a Jerusalém e conheciam as advertências que o Espírito lhe havia

dado: (Atos 20: 22-23) “Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para

25

Jerusalém, sem saber o que me acontecerá alí.Só sei que, em todas as

cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões e sofrimentos me esperam.”

Paulo inicia este primeiro discurso relatando as razões e os

resultados dos acontecimentos recentes. Apesar de ser conhecida a

notícia de sua prisão, Paulo lhes recorda os motivos da mesma, “que

estou na prisão por causa de Cristo” (1:13) e confessa que está

experimentando uma forte dose de sofrimento a nível pessoal “podem

causar sofrimento enquanto estou preso” (1:17), mas não duvida em

compartilhar com os filipenses os benefícios que tais acontecimentos

produziram. “(A)quilo que me aconteceu tem, ao contrário, servido para o

progresso do evangelho” (1:12).

A seguir, Paulo explica o efeito que sua prisão teve no ânimo da

maioria dos cristãos “E os irmãos, em sua maioria, motivados no Senhor

pela minha prisão estão anunciando a palavra com maior determinação e

destemor” (1:14). Tal reação positiva por parte dos irmãos que

diretamente poderiam ver-se afetados pela prisão de Paulo, devido à sua

proximidade física, é uma notícia maravilhosa que os filipenses, devido à

distância, desconheciam. Ao ouvirem estes esclarecimentos da própria

pluma de Paulo, o coração dos ouvintes deve ter-se enchido de consolo e

compreensão do propósito divino na prisão do apóstolo.

Esta preocupação, acima de tudo pelo ânimo de seu rebanho

diante dos sofrimentos que o próprio Paulo estava experimentando, nos

mostra a condição do coração de pastor de Paulo. Não queria deixar seus

seres queridos sem consolo e explicações nem que nada a seu respeito

pudesse acarretar-lhes tropeço e desânimo.

A partir do décimo - quinto versículo, o apóstolo acrescenta um

novo acontecimento imediato que poderia produzir mal-estar no coração

dos crentes, caso o próprio apóstolo não revelasse sua atitude positiva.

“É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja e rivalidade, mas outros

o fazem de boa vontade” (1:15). Da forma que está expresso aqui, o

apóstolo não faz mais que confirmar uma verdade já conhecida pelos

ouvintes “É verdade que..” Em outras palavras, ainda entre os que

pregam verdadeiramente o evangelho existem diferentes motivações. Este

fato, aparentemente de comum conhecimento dos filipenses, seria

também conhecido das demais igrejas da época.

Notemos tal como disse Hendriksen:

26

“Até onde se pode entender do texto, nenhum desses

pregadores ensinava uma doutrina falsa. Nenhum deles, por

exemplo, concede importância indevida à observação da Lei

como meio de salvação. Nenhum deles é “cão” ou “mal-

obreiro”. Mas, apesar de que todos proclamam o verdadeiro

evangelho, nem todos o fazem por motivo digno.”20

Os filipenses poderiam supor que a diferença entre “os que pregam

a Cristo... por amor” (1:16), respeitando a autoridade do apóstolo

“sabendo que aqui me encontro para a defesa do evangelho” e os que o

faziam “por ambição egoísta, sem sinceridade, pensando que me podem

causar sofrimento enquanto estou preso” (1:17), talvez pensando em

despertar sentimentos de rivalidade no coração do próprio apóstolo, o

que de alguma maneira afetaria o ânimo de Paulo.21

Diante deste acontecimento imediato, o apóstolo declara

vigorosamente sua postura: “Mas, quê importa? O importante é que de

qualquer forma, seja por motivos falsos o verdadeiros, Cristo está sendo

pregado, e por isso me alegro” (1:18). Sem dúvida, tal posição generosa e

bem intencionada diante das atitudes negativas de seus supostos rivais,

deve ter impressionado aos irmãos de Filipos da importância de manter a

união em Cristo, acima das diferenças pessoais e inimizades entre

irmãos. Não podemos menos que agradecer a Deus por tão tremendo

bom exemplo de desprendimento em todos os sentidos, que o apóstolo

demonstrava quanto à missão encomendada pelo Senhor.

III. Expressão de alegria: “Me alegro e continuarei a alegrar-

me” (1:18-19)

Como mencionamos anteriormente, o tema recorrente da epístola

aos filipenses, que encontraremos em todas as lições, é a alegria. Cairw

(Jairo = alegría). Como disse Motyer: “Jesus Cristo, nossa alegria.”22 O

tipo de alegria centrado nas coisas do Senhor.

Duas são as razões pelas quais o apóstolo anuncia sua alegria

nesta perícopa. As duas estão diretamente relacionadas aos temas que

tratou nos versículos décimo segundo ao décimo oitavo. Ambos os

20Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.54). 21 Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.76). 22

Ibíd., (p.147).

27

acontecimentos poderiam ser catalogados pelos receptores da epístola

como motivos de tristeza: sua prisão e a má motivação de alguns

pregadores rivais. Para consolo dos ouvintes, assegura-os de que em

ambas as situações encontra motivo de alegria:

a) O primeiro motivo de sua alegria coincide com a meta de

sua vida: a pregação do Evangelho, apesar das rivalidades

e más intenções. “Cristo está sendo pregado, e por isso me

alegro” (1:18).

b) O segundo motivo de alegria é a confiança que manifesta

de que “o que me aconteceu resultará em minha libertação,

graças às orações de vocês e ao auxílio do Espírito de

Jesus Cristo” (1:19). Paulo se alegra antecipadamente, tal

é sua confiança em sua futura libertação.

Seu coração de pastor não somente se preocupa pelo bem-estar

espiritual de seu antigo rebanho, mas também aproveita cada

acontecimento para animá-los e incentivá-los em seu caminhar com o

Senhor.

O efeito provável de seus comentários acerca deste segundo motivo

de sua alegria, sua futura libertação, tal como a apresenta “graças às

orações de vocês,” deve ter renovado a intensidade das orações de

intercessão dos filipenses a seu favor.

Dessa maneira, os filipenses uma vez mais teriam

manifestado a “cooperação que têm dado ao evangelho, desde o primeiro

dia até agora” (1:5).

IV. Testemunho de vida (1:20-26)

Iniciaremos agora a seção em que o apóstolo compartilha alguns de

seus íntimos desejos e anseios e, valendo-se desta franqueza, consegue

transmitir também seus valores e princípios. Denominamos este tipo de

ensinamento de “Testemunho de vida,” pois configuram o método

pastoral que utiliza. Não pretende gabar-se, nem exibir sua

espiritualidade, senão exaltar a Cristo valendo-se de seu próprio exemplo

pessoal, digno de ser imitado.

“Aguardo ansiosamente e espero...” (1:20). Notemos o caráter

pessoal que imprime à declaração a seguir: “Que em nada serei

envergonhado. Ao contrario, com toda a determinação de sempre, também

28

agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela

morte” (1:20). Hendriksen23 explica que a frase “será engrandecido em

meu corpo” se refere integralmente à pessoa de Paulo.

A seguir, o apóstolo explica por que, ainda que lhe custar a vida,

exaltar a Cristo lhe é primordial: “Porque para mim, o viver é Cristo e o

morrer é lucro” (1:21). Esta frase contém dois valores importantíssimos

que desejava transmitir à sua audiência em forma de testemunho

pessoal com a frase “para mim...”

Esta maneira íntima e ao mesmo tempo humilde, com a qual

comparte seus valores pessoais, serve sem dúvida para animar aos

filipenses a se comportarem de maneira semelhante:

a) “Viver é Cristo.” A vida de Paulo carecia de interesses

egocêntricos. Seguir vivendo no corpo significava fazê-lo

pelo Senhor, defendendo os interesses de Sua obra,

mantendo a comunicação com os irmãos.

b) “Morrer é lucro.” A morte24 não representava para Paulo

um processo trágico que deve ser evitado ou posposto por

todos os meios, como se de algum inimigo ou tremendo

contratempo trata-se. A morte significava para Paulo o

final desta jornada vitoriosa, a linha da meta da corrida a

que o atleta se dirige com alegria, com ânsia de chegar e

pela que espera receber uma coroa de vencedor (2 Timoteo

4:6-8).

Por um lado, Paulo reconhece que: “Caso continue vivendo no corpo,

terei fruto do meu trabalho” (1:22). Sua vida por Cristo haveria de

traduzir-se em trabalho frutífero, não estava buscando comodidades e

benefícios pessoais. De acordo com as metas que havia traçado para si

mesmo e que definia por estas palavras: “para mim o viver é Cristo”

(1:21).

Por outro lado, admite que seu desejo pessoal fosse: “desejo partir e

estar com Cristo, o que é muito melhor” (1:23). Seu desejo e esperança,

como o de todo verdadeiro cristão, deveriam ser, e em seu caso eram,

23

“Cristo será glorificado na pessoa de Paulo; literalmente corpo, palavra que aqui indica toda a sua personalidade (cf. Também Ro. 12:1; Ef. 5:28). 24

”(No original diz: “ter morrido”). Desta maneira o autor tem em mente não o ato de morrer, mas sim as consequências de morrer ou o estado depois da morte.” Carballos, Evis L. “Filipenses” (p.44)

29

“partir” deste mundo para estar com o Mestre, desfrutando das

verdadeiras riquezas.

Diante desta alternativa, uma opção boa e a outra melhor, Paulo

mostra-se a si mesmo titubeante: “E já não sei o que escolher!” Como

bom pastor, antecipa as necessidades, o bem-estar e as preferências de

seu rebanho às suas próprias “contudo, é mais necessário, por causa de

vocês, que eu permaneça no corpo” (1:24). Esta afirmação pública é uma

manifestação a mais do amor que Paulo sentia pelos filipenses.25

Conclui seu testemunho pessoal com a declaração: “Convencido

disso, sei que vou permanecer e continuar com todos vocês para o seu

progresso e alegria na fé” (1:25). Suas palavras estão cheias de esperança

em relação à sua pronta libertação e deseja transmitir esta esperança aos

filipenses, convencido de que tal notícia produzirá neles que “a exultação

de vocês em Cristo Jesus transborde por minha causa” (1:26).

V. Exortações pastorais (1:27-30)

Como não poderia faltar nas epístolas paulinas, o estudo desta

perícopa conclui com uma seção de exortações pastorais. A partir deste

ponto o apóstolo, concentra-se nas atitudes e no comportamento dos

filipenses.

A seção anterior conclui com a expressão de seus desejos e

preferências, mas agora manifesta sua disposição ao submeter-se à

vontade eterna de Deus. “(N)ão importa o que aconteça” (1:27). O tom da

epístola se transforma e Paulo assume a autoridade apostólica e a

posição de pastor responsável pelo bem-estar espiritual do rebanho.

A primeira exortação trata da conduta que espera ver pessoalmente

(“quer eu vá e os veja”), ou através de informes (“quer apenas ouça a seu

respeito”), nos filipenses. A exortação não deixa lugar a dúvidas:

“exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo”

(1:27).

Vale ressaltar que o léxico grego concede à expressão que a NVI

traduz como “cidadania” politeuesqe (politeuesthe) no sentido de

25

“O apóstolo opõe ao seu próprio desejo esta necessidade objetiva. Está convencido de que deve considerar seriamente o fato de que sua vida possa ser prolongada aqui na terra, podendo consagrar de novo seus cuidados pastorais aos crentes de Filipos. A igreja não tinha mais que dez anos de vida.” Hendriksen, William. “Comentário al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.59)

30

“comportar-se como cidadão” ao que Hendriksen26 dá o significado de:

“exercer os direitos e deveres dos cidadãos de maneira digna do evangelho

de Cristo”. Se isto é assim, poderíamos nos perguntar a que cidadania se

refere o apóstolo: a romana? A celestial? Poderia tratar-se de ambas, na

realidade seria indiferente, a chave estaria em agir sempre e em toda

ocasião “de maneira digna do evangelho de Cristo” (1:27).

As exortações continuam: “(ficarei) eu sabendo que vocês

permanecem (a) firmes num só espírito, (b) lutando unânimes pela fé

evangélica, (c) sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles que se

opõem a vocês” (1:27-28).

Examinemo-las separadamente:

(a) A firmeza de propósito (sthjkete = estar firmes27) é uma

petição recorrente por parte do apóstolo à igreja (ver 1 Coríntios 16:13;

1Tessalonicenses 3:8; 2 Tessalonicenses 2:15).

Hendriksen assinala:

“Devem estar firmes no Senhor, arraigados nele,

amando-o, esperando nele, aferrados às tradições, às

doutrinas autorizadas que vocês receberam, à fé (o conjunto

da verdade redentora) relativa ao evangelho e que é revelada

nele.”28

(b) A união e a harmonia com os irmãos (“lutando unânimes

pela fé”) qualificam a maneira como se deve manifestar a firmeza de

propósito da exortação anterior.

(c) A terceira e última exortação se refere à superação de

qualquer temor diante dos adversários.

Termina essa seção com palavras de consolo destinadas a

fortalecer os filipenses: “pois a vocês foi dado o privilegio de não apenas

crer em Cristo, mas também de sofrer por ele” (1:29). Apesar da aparente

26

Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.93). 27 “O verbo “estai firmes” é o presente indicativo, voz ativa de stéko. Este verbo significa “estar de pé”, “estar firme”, “erguer-se”. Na linguagem militar se usava para descrever a ação de um soldado que se mantém firme em seu posto sem ceder nem um milímetro de território ao inimigo” Carballosa, Evis L. “Filipenses: Un comentario exegético y práctico” (p.51). 28

Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.64).

31

contradição, o apóstolo considera que o sofrimento por causa de Cristo é

concessão de um privilégio divino.

A declaração a seguir sem dúvida dever ter animado os filipenses e

preparado para encarar de maneira vitoriosa qualquer experiência, pois

sabiam que o apóstolo os considerava colaboradores na obra e nos

sofrimentos: “já que estão passando pelo mesmo combate que me viram

enfrentar e agora ouvem que ainda enfrento” (1:30).

VI. Conclusão

No estudo desta seção da epístola aos filipenses temos comentado

elementos distintos que, de acordo com nosso estudo, representam o

estilo pastoral do apóstolo Paulo.

Analisamos primeiramente a maneira que o apóstolo relata e

interpreta de maneira animadora os acontecimentos imediatos de

aspecto negativo que tiveram notícia:

(a) Sua prisão

(b) As rivalidades de certos irmãos quanto à pregação do

evangelho.

Paulo os conforta com a explicação do acontecido; revela as razões

e motivos; e expressa sua reação pessoal positiva diante dos mesmos.

Dar explicações dos acontecimentos imediatos e interpretar o sentido dos

mesmos, manifestando uma atitude positiva, é o método que Paulo

utilizava neste escrito pastoral.

A seguir examinaremos os motivos de suas expressões de alegria:

(a) A pregação do evangelho de Cristo

(b) A iminência de sua libertação.

Ambas são, no fundo, motivos de regozijo e de grande alegria no

Senhor. Esta é a atitude que tenta transmitir aos filipenses.

Analisamos a seguir a maneira como compartia com sua audiência

seus anseios e motivações mais profundas, assim como os valores e

princípios que o norteavam, seu testemunho de vida. Neste caso em

particular, vimos como manifestava suas preferências pessoais ante o

dilema de continuar sua vida de serviço por Cristo e a possibilidade de

morrer para encontrar-se na presença do Senhor.

32

Conclui o apóstolo com umas valiosíssimas exortações

pastorais. Pede que se comportem de maneira digna do evangelho de

Cristo, ao que acrescenta a tríplice admoestação de perseverar firmes na

fé; agir em união e harmonia com os irmãos; e desfazer-se de qualquer

temor que os adversários pudessem infundir-lhes. Finalmente, anuncia-

lhes os privilégios que Deus lhes tem concedido: Primeiro, crer em Cristo

e depois, e não menos importante, sofrer por Ele.

Perguntas para a Lição 3

1. Quais são os motivos principais de alegria do apóstolo (1: 18-19)?

2. A que se refere o apóstolo com a frase: “Para mim o viver é Cristo”?

3. Quais as duas interpretações possíveis que podemos extrair do uso do

vocábulo grego “exerçam a sua cidadania” politeuesqe (politeuesthe) que

Paulo faz (1:27)?

4. Quais as três admoestações importantes que dirige Paulo aos

Filipenses nos versículos 27 e 28?

5. Qual é a declaração do apóstolo que, segundo o autor, contradiz as

expectativas dos cristãos que consideram seu direito estar livres de

sofrimento?

6. A quais acontecimentos imediatos se refere o apóstolo que poderiam

ser mal interpretados pelos filipenses?

7. Quais eram os privilégios concedidos por Deus à igreja de Filipos?

8. Quais eram as opções alternativas que Paulo tinha no momento de

redigir a epístola?

9. Que duas atitudes principais o apóstolo Paulo assinala como as

principais motivações dos pregadores rivais na difusão do evangelho?

10. Que efeito pretendiam os pregadores rivais provocar no apóstolo

com sua pregação mal intencionada?

33

Lição 4: “Seja a atitude de vocês a mesma de

Cristo” (2:1-30)

I. Introdução

O segundo capítulo da epístola Paulina aos Filipenses, de extensão

similar ao primeiro, revela o padrão de pensamento e o modelo de

comunicação íntima e pessoal que o apóstolo manifesta em cada uma

das lições em que dividimos esta epístola.

Começa o segundo capítulo retomando as exortações pastorais

com as que concluíram o primeiro capítulo. Esta série de exortações

difere, em objetivo e conteúdo, das que a precedem e o apóstolo as

apresenta como consequência necessária das primeiras, utilizando a

frase adverbial (vers. 1) “se há, pois...” 29 (João Ferreira de Almeida, RA)

As admoestações desta seção se estendem desde o primeiro versículo até

a primeira metade do décimo-sexto, pelo que constituem o trecho mais

extenso da epístola dedicado a este propósito.

Encontramos também neste capítulo uma extraordinária e única

perícopa, que no desenvolvimento do texto se apresenta como explicação

parentética do quinto versículo: “Seja a atitude de vocês a mesma de

Cristo Jesus”. Este inciso, perfeitamente diferenciado em forma e

conteúdo do resto da epístola, que vários intérpretes do Novo Testamento

consideram um hino30 cristão primitivo, se estende deste o sexto até o

décimo–primeiro versículo. Analisaremos os ensinos teológicos contidos

nesta perícopa, em particular a questão da kenosis –do grego ejkevnwsen

(ekeinosen)– traduzido como rebaixar.

Depois de considerar o conteúdo teológico deste inciso e apreciar

suas qualidades líricas e doxológicas, acompanharemos o apóstolo na

nova série de exortações pastorais, nas quais insiste que os filipenses

29

“A interpelação do apóstolo começa com a expressão “Ei’ tiV oujvn” (“se há, pois”). Tal expressão indica que o escritor vai dizer algo baseado no que enunciou anteriormente.” Carballosa, Evis. L. “Filipenses: Un comentario exegético y práctico” (p. 56). 30

“Os especialistas continuam em descordo sobre a questão de se o hino foi composto por Paulo ou se o usou aqui como uma citação pertinente sobre a qual ele colocava sua “imprimátur” apostólica. Como na verdadeira poesia, cada palavra tem seu peso, ainda que o pensamento seja mais bem alusivo.” (Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p. 109).

34

praticassem a obediência cristã e se comportassem de maneira a se

destacar “como estrelas no universo” (2:15).

O Apóstolo nos versículos décimo-sexto e decimo-sétimo, conclui

as exortações que precedem e confere um toque pessoal e íntimo a seus

escritos. Nesta oportunidade, seu testemunho de vida da fé de seu

caráter e transmite seus princípios e valores expressados em sua

satisfação e disposição no tocante aos filipenses.

As expressões de alegria que encontramos em todas as seções

desta epístola aparecem nos versículos decimo-sétimo e décimo–oitavo:

“estou alegre e me regozijo com todos vocês...” (vers. 18). Examinaremos,

pois, os motivos que o apóstolo assinala como responsáveis de tais

sentimentos pessoais de alegria.

Conclui o apóstolo anunciando outros acontecimentos imediatos,

neste caso em relação à proposta visita de Timóteo e Epafrodito.

Aproveita a apresentação destas boas notícias para elogiá-los

individualmente e para descrever suas atitudes pessoais. Desta maneira

transmite uma serie de características positivas que considerava valiosas

e dignas de imitação.

Passemos então a examinar separadamente cada uma dessas

propostas.

II. Exortações pastorais (2:1-5)

As exortações pastorais com as quais o apóstolo conclui o primeiro

capítulo animam os receptores da epístola a “exerçam a cidadania de

maneira digna do evangelho de Cristo” (1:27). Este comportamento digno

devia manifestar-se diante das pessoas que não formam parte da igreja

ou que até lhe sejam opostas. As exortações desta segunda seção

definirão principalmente a relação dos crentes com outros membros da

igreja. Segundo exortação apostólica, este comportamento em relação a

outros crentes deve manifestar certos sentimentos, atitudes e

interesses que determinarão a relação entre os irmãos da fé. 31

31

“Não era seu costume (do apóstolo) tratar de noções abstratas como união e deixá-las sem definir. Seu procedimento no caso que tratamos é típico do que ele faz muitas vezes em suas cartas; primeiro apresenta os fatos e em seguida as exortações.” Mortyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.104).

35

“Se por estarmos em Cristo nós temos alguma

motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no

Espírito, alguma profunda afeção e compaixão, completem a

minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo

amor, um só espírito e uma só atitude Portanto, se sentem

algum estímulo em sua união com Cristo, algum consolo em

seu amor, algum companheirismo no Espírito, algum afeto

profundo, encham-se de alegria, tendo um mesmo parecer,

um mesmo amor; unidos em alma e pensamento” (2:1-2).

As quatro frases condicionais que aparecem no texto original,

precedidas de “se... alguma,”32 do grego “ei jvtiV”, introduzem os leitores

da epístola, sendo sentimentos dignos de serem cultivados pelos

crentes, estes são: a) “motivação” b) “exortação de amor” c) “comunhão do

Espírito” d) “profunda afeção e compaixão” .O apóstolo não questiona a

existência de tais sentimentos entre os filipenses, mas sim expressa sua

satisfação completa “completem a minha alegria” quando estes se

manifestem exteriormente em união de: “modo de pensar,” “de

amor,”“num só espírito” e “uma só atitude” (2:2). A conclusão é que uma

vez cultivados os sentimentos e afetos acima mencionados, seu resultado

deve manifestar-se em benéfica união entre os irmãos.

No terceiro versículo, o apóstolo assinala bruscamente com a

locução adverbial (“nada façam”) duas atitudes a serem evitadas:

“ambição egoísta” e “vaidade” e as contrapõe às atitudes dignas de se

cultivar que geram união entre os irmãos “humildade” e “alta estima

pelos outros”. Conclui esta exortação especificando a atitude que o

apóstolo desejava que os crentes cultivassem em suas relações

interpessoais, “considerem os outros superiores a si mesmos.”

No quarto versículo, o apóstolo explica o tipo de interesses que

devem prevalecer no coração do crente “Cada um cuide, não somente dos

seus interesses, mas também dos interesses dos outros.” Poderíamos

pensar que a exortação paulina ao traduzir os termos (ajllav kaij) por “mas

também” anima os crentes a velarem pelos interesses dos demais, ao

mesmo tempo, da mesma maneira e com semelhante intensidade com

que se vela pelos próprios.

32

O quádruplo “se” condicional do versículo primeiro na tradução enfatiza inadequadamente as condições que governam a exortação, como se o resultado fosse incerto. Traduzido com mais exatidão, se poderia substituir pela palavra já que, ou já que há. Walvoorrd, John F. “Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p.47).

36

Se levarmos em consideração o contexto imediato anterior

“considerem os outros superiores a si mesmos” (2:3) e o posterior “Seja a

atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (2:5) devemos ineludivelmente

entender que a exortação não dá licença ao cristão para cuidar de seus

próprios interesses com a mesma atenção que cuida dos interesses dos

irmãos, mas sim a atuar contrariamente às inclinações naturais,

antepondo os interesses dos demais aos seus próprios.

Conclui o apóstolo esta seção no versículo quinto, colocando a

comparação que justificará o inciso esclarecedor dos versículos sexto ao

décimo–primeiro: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus.” Esta

comparação complementa a exortação anterior com relação a que

sentimentos, atitudes e interesses os crentes devem cultivar em suas

relações interpessoais.

O apóstolo estabelece essa comparação, salvo as diferenças,

porque representa o ideal de comportamento cristão.

III. Ensinamento Teológico (2:6-11)

Para facilitar a análise da interessante perícopa que encontramos a

seguir devemos considerar que os seis versículos que a compõem se

apresentam debaixo da estrutura literária do quiasma, comum ao

pensamento semítico e de grande utilidade nas composições líricas. O

versículo sexto, sétimo e oitavo compõem a primeira seção do quiasma e

tratam do tema da “humilhação de Cristo;” os quais se contrapõem

(entrecruzam) com o nono, décimo e décimo-primeiro que replicam os

primeiros, atendendo a “exaltação de Cristo.”

A primeira seção nos leva em três breves versículos “desde a glória

até a cruz”, desde a posição original que Cristo desfrutava de retentor da

completa plenitude da natureza divina, à sua encarnação em semelhança

aos seres humanos e, nessa condição, assumir a natureza de servo dos

homens, obediente até a cruz. Cristo é o agente que se despoja, se

rebaixa, se esvazia literalmente: ejkenwsen (ekenosen, daí o termo

kenosis), de maneira voluntária, a si mesmo.33

33

“Apesar de que se apresentava como uma exortação, a passagem tem uma importância teológica suprema para definir o que se chama kenosis. Esta palavra se deriva da palavra grega ekenosen, que significa esvaziar... Um exame cuidadoso da passagem revelará que Cristo reteve sua deidade completa, mas restringiu sua manifestação e não utilizou seus poderes divinos para seu próprio benefício.” Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” John F. Walvoord. (p.50).

37

Os termos utilizados nesta primeira seção deram origem a

interessantes debates teológicos. O mais importante surge do uso do

termo morfh (morfe) “forma” que aparece no versículo sexto34 e o termo

scema (schema) “condição” que aparece no versículo oitavo. “pois ele,

subsistindo em forma de Deus...”(2:6) “tornando-se em semelhança de

homens; e, reconhecido em figura humana” (2:7) (Almeida, RA).

O quê quer dizer que Cristo existia em forma de Deus? O que

significa assumir a semelhança de homens? Podemos afirmar que Cristo

é plenamente Deus e homem verdadeiro? A teologia liberal do século XIX

encontraria no mau uso desses dois termos alguns questionamentos que

utilizariam para tratar de negar a plena divindade de Cristo.

Estes textos têm sido cuidadosamente examinados pelos eruditos na literatura clássica e nos outros textos bíblicos que utilizam suas formas derivadas. Hendriksen35 realiza um interessante estudo comparativo que conclui:

“De várias passagens do Novo Testamento nos quais ocorre uma das duas palavras ou ambas, geralmente como elementos componentes de verbos, podemos deduzir evidentemente que esses contextos citados (morfe) forma faz referência a algo íntimo, essencial e permanente na natureza da pessoa; enquanto que (schema) condição aponta para um aspecto externo, acidental e transitório.”

Kenosis (ejkenosen) é outro termo desta perícopa ao que os eruditos

têm dedicado suas atenções, em particular às implicações que o próprio

termo trás em si. De quê atributos da divindade se despojou Cristo?

Deixou em algum momento de ser Deus? Carballosa36 concorre ao

debate com esta interessante contribuição:

“A kenosis bíblica não significa em modo algum que

Cristo se esvaziou de sua essência nem que renunciou aos

atributos inerentes à sua pessoa divina. A kenosis bíblica

significa que Cristo, sem diminuir de maneira alguma sua

divindade, deixou sua posição pré-encarnada e tomou as

34 O versículo seis não oferece grandes dificuldades para sua compreensão na versão NVI (“embora sendo Deus”) na versão Ferreira de Almeida RA diz: “subsistindo em forma de Deus” neste caso a tradução é literal da versão original em koine. 35

Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.75). 36

Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.67).

38

características de perfeita humanidade para poder morrer na

cruz em lugar dos pecadores.”

Devemos lembrar-nos que, apesar de interessantes e instrutivos,

tais debates teológicos escapam do propósito original de Paulo ao redigir

este hino. Sem querer entender mais do que o autor queria dizer,

devemos recordar ao examinar o contexto anterior (2:5) que a perícopa

em questão forma parte das exortações pastorais que Paulo dirige ao

filipenses ao definir a atitude de Cristo que eles mesmos deviam imitar.37

A segunda seção corresponde à segunda parte desta construção

gramatical (quiasma) e percorre em sua temática o caminho inverso “da

cruz à glória”. Nesta seção, o agente é o próprio Deus que exalta “à mais

alta posição” a Jesus Cristo, o qual não se exalta a si mesmo, senão que

recebe a adoração e o reconhecimento como Deus de todos os que

habitam “no céus e na terra e debaixo da terra” (2:10).

O versículo nono “Por isso Deus o exaltou á mais alta posição e lhe

deu o nome que está acima de todo nome” descreve a ação do Deus Pai

em relação a Cristo Jesus como consequência de sua disposição humilde

e obediente até a cruz. Por um lado, recebe a exaltação máxima38 (38) e

por outro recebe o nome que39 lhe concede a autoridade sobre todos os

nomes ou autoridades que existem.

O versículo seguinte, para não deixar lugar à dúvida, repete

novamente de quem se trata e quem recebe a suprema exaltação e

autoridade: a pessoa de Jesus, diante de quem “se dobre todo joelho,”

quer dizer receba a submissão e homenagem de todos os seres

inteligentes criados em todas as esferas da criação. Hendriksen explica:

Notem-se as três classes de seres inteligentes criados:

37

“Não é que Paulo tenha se sentado como teólogo acadêmico para escrever uma cristologia para a posteridade: O que está oferecendo é conselho pastoral a uma igreja local e, para dar base a esse conselho, recorre a um hino. No apóstolo Paulo, a teologia não é um exercício acadêmico, mas sim está a serviço da vida da igreja e da ação pastoral. Além disso, no caso de ter sido deveras um hino, anterior a Paulo ou composto por ele, esta passagem tem como finalidade a adoração mais do que a especulação e se cita num contexto missionário e pastoral”. Escobar, Samuel. “Comentário Bíblico Mundo Hispano: Filipenses” (p.167). 38

O Senhor retornou à glória que tinha antes de sua encarnação. (João 17:5) “E agora, Pai, glorifica-me em tua presença com a glória que tive contigo antes que o mundo existisse.” Zapata, René C. Comentário Bíblico do Continente Novo: Filipenses (p.40). 39

O conceito bíblico dos nomes tinha suas raízes na ideia do mundo antigo do qual o nome expressava a essência. Saber o nome de uma pessoa era sinônimo de conhecer completamente seu caráter e natureza. Calçada, S. Letícia. Dicionário Bíblico Ilustrado Holman (p.1160).

39

a) Os que estão nos céus: querubins, serafins e

todos os milhões e milhões de anjos bons, inclusive

arcanjos. Também, naturalmente, todos os homens e

mulheres redimidos que já partiram desta vida terrena.

b) os que estavam em terra: todos os homens e

mulheres que vivem neste mundo.

c) os que estão debaixo da terra: todos os

condenados ao inferno, tanto humanos como anjos maus

ou demônios.40

No versículo décimo-primeiro encontramos a menção do nome

completo em grego que retrata a essência da pessoa: KujrioV IhsouV CrstoV

(Senhor Jesus Cristo). Neste nome se combina sua natureza humana

“Jesus” (Salvador), seu título messiânico “Cristo” (Messias) e sua

natureza divina “Senhor” (Deus).41

Cabe por último mencionar que o reconhecimento de “toda língua”

com respeito à plena divindade e autoridade de Jesus Cristo não significa

uma aceitação salvadora por parte de toda a humanidade e todos os

anjos.42

IV. Exortações pastorais (cont.) (2:12-15)

Depois deste breve hino cristão de intenso conteúdo teológico, o

apóstolo retoma as exortações pastorais que ficaram pendentes a partir

do versículo quinto, onde menciona a atitude de Cristo que deviam

imitar: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus!” Esta nova série

de exortações pastorais, que se inicia com a exclamação “Assim, meus

amados,” faz referência ao descrito nos versículos sexto ao décimo-

primeiro com respeito à humilhação e a exaltação de Cristo como

premissas necessárias para as exortações a seguir.

40

Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.85). 41 “Na Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento, “YAHWEH” ou “JEHOVA” foi traduzida como “Kurios”, que é o equivalente a “Senhor”. De maneira que a palavra “Deus” e “Senhor” tinham ou têm o mesmo significado” Escobar, Samuel. “Comentário Bíblico Mundo Hispano: Filipenses” (p.169). 42

“Isto nos leva à conclusão de que todos os homens, quer justos ou injustos, e todos os anjos, quer santos ou caídos, serão um dia obrigados a confessar e inclinar-se diante do Senhor Jesus Cristo. O triste fato é, no entanto, que a confissão para os relutantes será demasiado tarde”. Walvoord, John F. Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses (p.57).

40

A atitude de confiança e alta estima que o apóstolo manifesta

diante dos filipenses desde o início desta segunda série de exortações:

“meus amados, como sempre vocês obedeceram...! (2:12) se destaca por

sua sinceridade e calor. Não se trata de uma atitude lisonjeira e

interessada por parte do apóstolo, com o propósito de obter algum

benefício pessoal, não se percebe a sensação de falsa ou gratuita

adulação, esse não é o caráter nem o estilo de pastorear de Paulo. O

objetivo deste terno apelo redundará em benefício espiritual dos próprios

filipenses. “(P)onham em ação a salvação de vocês com temor e tremor”

(2:12).

Para evitar qualquer equívoco neste ponto, devemos esclarecer que

o apóstolo não se refere a que os filipenses deveriam, de alguma maneira,

contribuir com boas obras para obter a própria salvação em meio a

dúvidas e ansiedades (“com temor e tremor”) relacionadas à incerteza da

mesma. Muito pelo contrário, o apóstolo lhes exorta a ter a vontade

disposta, com a devida devoção e reverência, para manifestar os

resultados da salvação em seus sentimentos, atitudes e interesses nas

relações com os outros membros da comunidade da fé, assim como da

“geração corrompida e depravada” (2:15) em que viviam.

Ao solicitar aos filipenses que “ponham em ação a salvação de

vocês” (2:12) lhes pede a sua colaboração na obra santificadora43 do

Espírito Santo.

As palavras do próximo versículo deixam sem lugar à dúvida a

procedência e o desempenho de tal pedido: “pois é Deus quem efetua em

vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele”

(2:13).

O décimo-quarto versículo: “Façam tudo sem queixas nem

discussões” contém um imperativo categórico que fora do contexto

poderia interpretar-se como admoestação diante de uma debilidade

pecaminosa dos filipenses. Mas, o décimo-quinto versículo esclarece qual

é o propósito desta exortação: “para que venham a tornar-se puros e

irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração

corrompida e depravada” (2:15). O pastor volta a insistir na importância

43

”A santificação é uma obra progressiva de Deus e o homem que nos faz mais e mais livres do pecado e mais semelhantes a Cristo em nossa vida atual. A justificação se refere à nossa posição legal diante de Deus, a santificação à nossa condição interna.” Grudem, Wayne “Doutrina Bíblica” (p.326).

41

do comportamento piedoso dos filipenses como testemunho diante de

sua geração. Para isso, devem evitar “queixas e discussões”, para chegar

a ser “puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis”. A exortação não

pressupõe necessariamente a existência de “queixas e contendas” entre

os filipenses, mas sim uma nova exortação ao “comportamento digno do

evangelho” (1:27). Posteriormente encontraremos (4:2) uma exortação

particular a dois membros da igreja (Evódia e Síntique) neste sentido.

A segunda parte do versículo décimo-quinto e a primeira do

décimo- sexto: “Na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo

firmemente a palavra de vida” conclui esta seção de exortações pastorais

afirmando que os filipenses já desfrutam de uma posição privilegiada

(brilham como estrelas no firmamento) diante de sua geração, uma vez

que põem em prática as exortações paulinas e se “apegam” (ejpecontevV) à

palavra de vida.

V. Testemunho de vida (2:16-17)

Em cada uma das seções em que temos classificado os

ensinamentos desta epístola, o apóstolo imprime seu “selo pessoal”, seu

testemunho de vida, as coisas que considera importantes em seu

ministério. Neste caso o faz em estes termos: “Assim, no dia de Cristo eu

me orgulharei de não ter corrido nem me esforçado inutilmente. Contudo,

mesmo que eu esteja sendo derramado como oferta de bebida sobre o

serviço que provém da fé que vocês têm, o sacrifício que oferecem a Deus,

estou alegre...” (2:16-17).

O apóstolo encontra satisfação nas realizações que procedem do

sacrifício e serviço da fé dos filipenses. E ainda que sua vida fosse

derramada como libação, valeria a pena e o apóstolo não sentiria que

teria corrido, nem trabalhado, em vão.

Esta atitude amorosa de Paulo em relação aos filipenses, que

antepõe seu bem-estar e o serviço que procede da fé de seu rebanho,

manifesta de maneira exemplar os ensinamentos do Mestre quando no

décimo capítulo do evangelho segundo João explicou que:

“O bom pastor dá sua vida por suas ovelhas” (João 10:11).

42

VI. Expressão de gozo: “estou alegre e me regozijo com vocês”

(2:17-18)

A expressão de alegria nesta seção corresponde à segunda parte do

versículo decimo-sétimo e ao décimo-oitavo: “estou alegre e me regozijo

com todos vocês. Estejam vocês também alegres, e regozijem-se comigo.”

O objeto direto da alegria de Paulo se encontra nos próprios

filipenses, em sua fé e seu comportamento que faz com que estes já

“brilham como estrelas no universo.”

È a alegria do pastor diante da maturidade e a plenitude de fé de

seu rebanho. O pedido do apóstolo é que eles mesmos possam também

desfrutar da alegria que produzem sua própria fé e sua vida piedosa e

que sejam partícipes de tal alegria.

VII. Acontecimentos imediatos (2:19-30)

Na seção de acontecimentos imediatos, o apóstolo relata os planos

que tem para as futuras visitas de dois enviados e colaboradores seus

conhecidos bem pelos filipenses. Nesta oportunidade o apóstolo aproveita

para recomendar e elogiar o comportamento dos dois irmãos em questão,

dando testemunho e propondo-os como modelos de fé a imitar. Os

versículos que vão do décimo-nono ao vigésimo-quarto descrevem

carinhosamente a Timóteo e do vigésimo-quinto ao final do capítulo

(versículo trigésimo) informam o pronto regresso de Epafrodito depois de

ter superado uma grave enfermidade.

Examinemos alguns detalhes destas visitas:

A visita de Timóteo seria rápida, com o propósito de retornar

a presença de Paulo com algumas notícias animadoras de sua

parte. Recomenda a integridade de caráter de Timóteo e sua

atitude altruísta, ressalta sua preocupação verdadeira pelo bem

estar dos filipenses, elogia os serviços que lhe havia proporcionado

“como um filho ao lado de seu pai” e afirma que “vocês sabem que

Timóteo foi aprovado”. Conclui expressando seu desejo de visitar

lhes pessoalmente, repetindo desta maneira sua preferência por tal

possibilidade que havia expressado anteriormente (1:26).

No caso de Epafrodito, o apóstolo menciona a necessidade de

“enviar-lhes de volta” esse “meu irmão, cooperador e companheiro de

43

lutas”. Entendemos que ele mesmo tinha sido encomendado pelos

filipenses para atender as necessidades de Paulo,

provavelmentelevando-lhe uma quantia monetária determinada.

Epafrodito, por sua vez, “tem saudades de todos vocês” e por

outro lado “está angustiado” pelas notícias negativas que possam

ter recebido os filipenses sobre sua saúde. Paulo menciona sua

determinação de enviá-lo “urgentemente” para atenuar a

preocupação dos filipenses e sua própria por esta situação.

Conclui ressaltando a boa disposição de Epafrodito de

arriscar sua própria vida pela obra de Cristo no serviço a Paulo e

insta que seja recebido “no Senhor com grande alegria e (que)

honrem homens como este.”

VIII. Conclusão

Em nossa análise do segundo capítulo de Filipenses examinamos

as exortações pastorais com as que se inicia a primeira seção do capítulo

e seguidamente passamos à análise em profundidade da seção que trata

da kenosis.

Encontramos nos seis versículos que compõem essa perícopa a

revelação de verdades teológicas profundas expressadas de maneira

admirável. Este bem poderia ser um dos primeiros hinos cristológicos de

conhecimento comum entre as igrejas da época. Esta apresentação

progressiva e ordenada das verdades fundamentais da fé antecede e, de

certa maneira abre passo, a aparição posterior dos primeiros credos

como forma de transmitir os ensinamentos cristãos de maneira uniforme

e de fácil retenção e assimilação.

Examinamos as carinhosas e muito pessoais exortações pastorais

com as quais o apóstolo se dirige à igreja dos filipenses. Desfrutamos das

expressões de alegria do apóstolo e de sua disposição de ser derramado

como libação pelo bem dos mesmos, considerando sua grande satisfação

o “não ter corrido nem me esforçado inutilmente” (2:16) a seu respeito.

Concluímos com a descrição que Paulo faz do caráter e da condição

de dois dos seus valiosos colaboradores. Revisamos os acontecimentos

imediatos e as viagens que em breve iriam realizar com a esperança de

compartilhar as alegrias do serviço do Senhor.

44

Podemos apreciar, portanto, nesta seção a variedade de recursos

que Paulo, como pastor amoroso, utiliza no cuidado espiritual de seu

rebanho, entendemos que tudo isso nasce de um coração íntegro, uma

motivação pura e de uma dedicação comprovada.

Perguntas para a Lição 4

1. Que quatro sentimentos dignos de serem cultivados pelos crentes

encontramos neste capítulo?

2. Que duas atitudes devem evitar os cristãos e que duas devem cultivar?

3. Que tipo de interesses devem prevalecer no coração do crente? (2:4)

4. Explique algumas implicações do termo kenosis. (2:6-11)

5. Quais são os acontecimentos imediatos desta seção? (2:19-30)

6. Quais são os três tipos de seres inteligentes criados Por Deus segundo as

explicações de Hendriksen?

7. Seria possível considerar esta perícopa que se estende do versículo sexto

ao decimo-primeiro algum tipo de hino cristão que o apóstolo compõe

para a ocasião ou recita por já ser conhecido pelos filipenses?

8. Quais são os motivos de satisfação que o apóstolo relata nos versículos

décimo-sexto e decimo-sétimo?

9. Ao pedir aos filipenses que “levem a cabo sua salvação” (2:12) o apóstolo

lhes está pedindo sua colaboração na obra ------------------- do Espírito

Santo.

10.Escreva o termo completo grego que retrata a essência da pessoa do

Filho?

45

Lição 5: “Por causa de Cristo” (3:1-11)

I. Introdução

Temos dividido o terceiro capítulo da epístola aos filipenses em

duas seções, a primeira se estende desde o primeiro até o décimo-

primeiro versículo e a segunda, que estudaremos na próxima seção,

desde o décimo-segundo até o vigésimo primeiro. Os objetivos principais

para esta divisão são: facilitar seu estudo com base na perspectiva que

nos orienta: “o coração de pastor de Paulo” e ressaltar as formas de

comunicação que utiliza com esta amada igreja.

Tal como viemos estudando, os dois primeiros capítulos da epístola

aos filipenses estão repletos de ternura, de valiosos ensinamentos e de

suaves admoestações, concluindo com a boa notícia da iminente visita de

Timóteo e Epafrodito. O terceiro capítulo, que se inicia com a expressão

“To loipon” (“finalmente”) assinala a transição a uma nova seção

determinada por uma mudança no tom e conteúdo das palavras do

apóstolo.44 O tratamento continua sendo o mesmo “ajdelfoi mou” (“meus

irmãos”) (1:12 e 2:25), denotando seu carinho e respeito pelos

filipenses.45 (45) A referência à expressão de alegria tampouco poderia

faltar nesta seção.

A partir do segundo versículo, as admoestações pastorais tomam

um aspecto mais sombrio e urgente. As desta lição vão dirigidas a

advertir os membros da igreja sobre os falsos ensinamentos e práticas

que provavelmente tinham se originado com os cristãos judaizantes,46

problema que afetava outras igrejas do século primeiro e que o apóstolo

expõe e refuta detalhadamente em algumas epístolas de composição

anterior a esta, em particular as dirigidas aos gálatas e romanos.

44

“O termo adverbial “finalmente”, é empregado por Paulo em outras cartas ao aproximar-se da conclusão. Não é certo, no entanto, que esta expressão demonstre que Paulo estava por

terminar a carta nesse ponto, porque “To loipon” também pode introduzir simplesmente um novo parágrafo, no qual o apóstolo procede a discutir um tema diferente do anterior, um tema que lhe parece tão importante que agora deseja enfatizar.” Hendriksen, William “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.105). 45

“Ao chamar-lhes de “meus irmãos”, Paulo indica que ele não assume nenhum plano de superioridade apostólica, mas sim que sua exortação está baseada na relação próxima que existe entre crentes” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.85). 46

Nome para distinguir os cristãos judeus que tentavam impor aos seus semelhantes gentios à observação da lei como meio de salvação (Atos 15:15). Calçada, S. Leticia. Diccionario Bíblico Ilustrado Holman.

46

O testemunho de vida que o apóstolo apresenta é mais extenso

que em ocasiões anteriores e se compõem de duas seções diferenciadas:

na primeira enumera, com certa dose de ironia, suas credenciais

judaicas; na segunda procede a desacreditar a importância das mesmas,

enfatizando a importância do conhecimento experimental de Cristo ao

qual qualifica de “incomparável valor.”

Os valiosos ensinamentos teológicos, com os quais conclui esta

seção relativa à justificação pela fé em Cristo, são comuns às outras

epístolas do apóstolo, ainda que nesta ocasião as expressa em termos

muito mais pessoais (“Ser encontrado nele, não tendo a minha própria

justiça... mais a que vem mediante a fé em Cristo”). Em contraste, as

expressões negativas utilizadas pelo apóstolo (“passei a considerar como

perda... as considero como esterco”) (3:8) nos ajudam a entender o

intensamente pessoal que o apóstolo sentia as verdades enunciadas.

II. Expressão de gozo: “Alegrem-se no Senhor” (3:1)

Apesar de que a expressão de alegria do primeiro versículo

“Alegrem-se no Senhor” se encontra no modo imperativo, não reflete no

contexto a imposição de um mandamento, mas sim atua como resumo

de tudo que foi dito anteriormente nos capítulos que a precedem:

“Finalmente, meus irmãos, alegrem-se no Senhor!” Desta maneira não só a

procedência da alegria do cristão se encontra “no Senhor,” como também

Ele é o objeto primário da mesma.

A frase seguinte “Escrever-lhes de novo as mesmas coisas não é

cansativo para mim, e é uma segurança para vocês” apresenta algumas

incógnitas, visto que não sabemos por certo a que exatamente se refere o

apóstolo. João Calvino sustentava que se tratava de algum ensinamento

oral prévio; H. Alford considerava que fazia referência à exortação

precedente de alegrar-se no senhor; J. B. Lightfoot faz alusão às

admoestações anteriores contra a dissensão entre os irmãos; R. C. H.

Lenski menciona que as mesmas se dirigem principalmente às

advertências contra os judaizantes que virão a seguir.47

Para nossos propósitos, independentemente da natureza do

assunto que requereria sua repetição, tal frase reflete claramente a

disposição amorosa do apóstolo com respeito ao seu rebanho e seu

interesse pelo bem-estar e progresso espiritual do mesmo. Esta é uma

47

Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.106),

47

das características do pastoreio efetivo que Paulo desenvolvia: a

disposição em repetir pacientemente os ensinamentos se tal repetição

comprovadamente resultasse benéfica aos ouvintes.

III. Exortações pastorais (3:2-3)

O segundo versículo contém uma advertência tríplice: “Cuidado

com os “cães”, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa

circuncisão!”48 Tal advertência, dirigida a recordar os seus ouvintes da

influência perniciosa que tinha se originado com os judaizantes, utilizava

uma terminologia que surpreende por sua severidade e conotação

pejorativa: “cães,” “praticam o mal,” “falsa circuncisão.”

Na terceira lição de estudo desta epístola examinamos a atitude

paciente e perseverante que o apóstolo recomenda exercitar em relação

aos não crentes, sejam ou não adversários da fé em Cristo (1:28; 2:15).

Na quarta lição, fizemos o mesmo em relação aos irmãos na fé em Cristo,

a quem devemos amar e ter em alta estima (2:1-3). Então, a quem se

refere o apóstolo nesta parte da epístola? Quem são esses “cães... que

praticam o mal... falsa circuncisão?” Qual é a gravidade do caso que

requer advertências tão exaltadas por parte do apóstolo? De quem o

apóstolo insiste repetidamente que os filipenses devem “ter cuidado?”

Existia um importante conflito doutrinário, difundido e debatido no

seio da igreja de Filipos. Este conflito, promovido por certas pessoas de

influência agrupadas num bando, se opunha aos ensinamentos

apostólicos com respeito à salvação por fé em Cristo. Aparentemente

seguiam desfrutando de certa influência e uma aceitação relativa no meio

de algumas igrejas do século primeiro e haviam se estendido pelas

regiões da Macedônia

Este grupo de cristãos, indeterminado quanto a número, mas

composto principalmente por mestres de origem judaica,

desconsideraram as determinações apostólicas do Concílio de Jerusalém

(ano 50 D.C; Atos 15) e continuaram ensinando que a circuncisão e a

observação da Lei eram requisitos indispensáveis para a salvação dos

48

“Agora, quando Paulo descreve os inimigos como cães, maus obreiros, a mutilação, ele tem em mente só um tipo de adversários e não três tipos diferentes deles. Isto se vê claramente no contexto, o qual no parágrafo presente trata somente de um inimigo: a mutilação em contraste com a circuncisão. Assim mesmo, se dá uma descrição tríplice de um tipo de pessoa, a saber, os verdadeiros adoradores de Deus”. Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.107).

48

cristãos de origem gentia. Com o passar dos anos, tais ensinamentos

encontraram certo enraizamento e se tornaram atraentes, ainda que o

efeito fosse pernicioso, entre as igrejas do primeiro século.

Ao revisar outros escritos apostólicos do NT, entendemos que não

se tratava de uma simples diferença de opiniões doutrinais entre cristãos

em relação às questões soteriológicas. O apóstolo Paulo se refere a essas

pessoas como “falsos irmãos” em Gálatas 2:4; como “falsos apóstolos,

obreiros enganosos” em 2 Coríntios 11:13; o apóstolo Pedro os qualifica

de” falsos mestres... que introduzirão heresias destrutivas” (2 Pedro 1:1-

21) e o apóstolo João como “enganadores... os quais não confessam que

Jesus Cristo veio em corpo” (1 João 2:19, 26; 2 João 7). O próprio

apóstolo Paulo numa ocasião anterior, já havia advertido os efésios

energicamente contra essas pessoas: “Cuidem de vocês mesmos e de todo

o rebanho... Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no

meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se

levantarão homens que torcerão a verdade a fim de atrair os discípulos”

(Atos 20:28-31).

A severidade do tom e a gravidade com a qual os apóstolos

trataram do tema dos falsos irmãos concordam com os ensinamentos do

próprio Mestre com relação aos falsos profetas.”Cuidado com os falsos

profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles, mas por dentro são lobos

devoradores” (Mateus 7: 15-16). Podemos extrair dos ensinamentos

destes personagens, segundo as palavras do próprio apóstolo, que

negavam a cruz de Cristo e desvirtuavam a Boa Notícia ao ensinar que se

podia obter a justificação diante de Deus através de “esforços

humanos.”49

Para qualificar a gravidade do conflito existente e as razões para

esta potente advertência apostólica, devemos compará-la à tríplice

definição do que “nós é que somos” que aparece no versículo seguinte:

“Pois nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de

Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na

carrne” (3:3). A diferença não poderia ser mais extrema. O conflito estava

servido e as posições de ambos os lados eram irredutíveis.

49

“Os judeus, no tempo de Paulo, ensinavam que a menos que um homem fosse circuncidado não era salvo. O apóstolo ataca essa posição errônea chamando-a não de circuncisão, mas sim mutilação. Os judaizantes não tinham direito algum de apoderar-se da circuncisão e, portanto, Paulo os compara com sacerdotes pagãos, que não circuncidavam, mas sim mutilavam.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.88).

49

IV. Testemunho de vida (3:4-7)

A partir do quarto versículo, o apóstolo utiliza seu testemunho de

vida para transmitir novos ensinamentos valiosos. O tom da

apresentação que segue é claramente irônico, dando a entender que,

segundo as abordagens desses judaizantes, o próprio apóstolo tinha

“razões para ter tal confiança” e inicia uma exposição de suas credenciais

que devia exceder a da maioria de seus contemporâneos. Em suas

próprias palavras, e sem falsa modéstia: “eu ainda mais” (3:4).

Começa sua apresentação desta maneira: “circuncidado no oitavo

dia de vida, pertencente ao povo de Israel, á tribo de Benjamim, verdadeiro

hebreu; quanto a Lei, fariseu; quando ao zelo, perseguidor da igreja;

quanto à justiça que há n Lei, irrepreensível” (3:5-6).

Ao concluir a exposição de seus supostos “lucros”, encontramo-nos

com a surpreendente e contraditória conclusão que o apóstolo apresenta

como experiência pessoal: “Mas o que para mim era lucro, passei a

considerar como perda por causa de Cristo” (3:7). Quer dizer, que

considerava um inconveniente e um obstáculo o que os seus adversários

consideravam vantajoso.

O efeito desta afirmação é duplo: por um lado despoja os

judaizantes de supostas vantagens e privilégios, igualando a condição de

cristãos de procedência gentia e judia; por outro exalta a Cristo como

único e suficiente autor da salvação.

V. Ensinamento teológico (3:8-11)

A partir do oitavo versículo até o décimo-primeiro, Paulo apresenta

ensinamentos de alto conteúdo teológico na primeira pessoa. Quer dizer,

refere-se a questões muito objetivas sobre a justiça que procede de Deus

e a salvação por fé, apresentando-as de maneira pessoal e subjetiva. Este

método de apresentação pessoal de verdades teológicas é tremendamente

efetivo e convincente.

Vamos examiná-las cuidadosamente: “Mais do que isso, considero

tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento

de Cristo Jesus, meu Senhor” (3:8). Neste caso, “tudo” panta (panta) não

somente inclui o tipo de “credenciais” que os judaizantes tinham em alta

estima, mencionadas no versículo anterior, mas também inclui tudo o

mais na vida do apóstolo. Nada se compara em valor com o

50

conhecimento pessoal de Cristo. “(P)or quem perdi todas as coisas. Eu as

considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele”

(3:8-9). O apóstolo não só afirma considerar todas as coisas como

perdas, mas também admite tê-las efetivamente perdido e até mais, tê-

las desprezado, para que nada pudesse servir de obstáculo ao seu

conhecimento experimental de Cristo e sua união com ele. Que

maravilhoso exemplo de dedicação exclusiva a Cristo!

Continua o apóstolo: “não tendo a minha própria justiça que

procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que

procede de Deus, e se baseia na fé” (3:9). Paulo publicamente renuncia a

sua busca de justiça através da observância da Lei como sugerem os

judaizantes. Paulo busca a justiça que procede de Deus e se baseia na fé

em Cristo. Desta maneira o profundo e verdadeiro ensinamento teológico

da justificação pela fé em Cristo fica vividamente personalizado na

renúncia pública de Paulo à busca de sua própria justiça. Que maneira

mais efetiva de ensinar teologia!

Os versículos décimo e décimo-primeiro contêm uma breve lista

dos benefícios pelos quais Paulo esteve disposto a “considerar tudo como

perda”. Esta recopilação breve denota sua busca fervente pela

identificação com o Mestre em todos os sentidos. “Quero (a) conhecer

Cristo, (b) o poder da sua ressurreição, (c) e a participação em seus

sofrimentos (d) tornando-me como ele em sua morte. Para, de alguma

forma alcançar a ressurreição dentre os mortos.”

Os dois primeiros benefícios poderiam parecer atrativos aos leitores

contemporâneos desta epístola. São, na verdade, metas dignas de

qualquer renúncia por parte dos cristãos de todas as eras. “Quero

conhecer Cristo, (e) o poder da sua ressurreição” são, sem dúvida, duas

experiências extraordinárias.

Mas, a identificação com a obra e o exemplo do Mestre ficaria

incompleta se Paulo não acrescentasse as duas restantes: “e a

participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte”.

Paulo está decidido a seguir o exemplo de Cristo com todas as suas

consequências, está consciente do custo do verdadeiro discipulado e

manifesta sua disposição de aceitá-lo.

Seu compromisso com Cristo é integral e quer vê-lo cumprido até

as últimas consequências, até o final de sua vida, como também afirma:

“para de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.” Ao

51

comunicar desta maneira sua teologia, seus valores pessoais e seus

próprios anseios espirituais, os filipenses tinham a oportunidade de

comparar a profundidade das realidades espirituais que o apóstolo

ensinava com os limitados e rudimentares ensinamentos dos

judaizantes.

VI. Conclusão

A perícopa estudada, apesar de sua brevidade, contém os

elementos característicos do estilo pastoral de Paulo que transparece no

decorrer desta epístola.

A relação do autor com os receptores se mantém terna e próxima.

As advertências mordazes dirigidas aos judaizantes têm o propósito de

expor a insensatez de seus postulados com respeito à circuncisão. A

ironia que o apóstolo exibe ao ostentar pomposamente suas credenciais

judaicas se contrapõe ao desprezo que posteriormente manifesta pelas

mesmas, e ressalta a inutilidade dos esforços humanos para alcançar o

conhecimento vivenciado de Cristo. Seus ensinamentos ressoam os do

Mestre que, em uma ocasião, dirigindo-se aos fariseus de sua época, os

admoestou pela superficialidade de sua religião: “Ele lhes disse: Vocês

são os que se justificam a si mesmos diante dos homens, mas Deus

conhece o coração de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é

detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15).

As declarações do apóstolo quanto à sua relação com Cristo, e o

alto custo pessoal que implica obter conhecimento experimental,

manifestam uma disposição que, sem dúvida, serviria de estímulo aos

receptores da epístola a esforçar-se por imitar seu exemplo.

A sinceridade e profundidade com a qual o apóstolo expressa suas

experiências pessoais com Cristo servem para reafirmar de maneira

tangível a realidade das verdades teológicas a respeito da justificação e a

circuncisão que defende.

É difícil ler esta breve perícopa sem nos comover profundamente ao

conhecer os sentimentos íntimos do autor, sua humildade e dependência

de Cristo e o custo que alegremente se dispôs a pagar para obtê-lo. O

apóstolo, como bom pastor, ensina teologia com sua própria vida.

52

Perguntas para a lição 5

1. A que grupo o apóstolo qualifica de: “cães,” “que praticam o mal,” “falsa

circuncisão” (3:2)?

2. Que 3 distintivos caracterizam aos filipenses que Paulo define como:

“nós é que somos a circuncisão” (3:3)?

3. Paulo se considera à altura dos mestres judaizantes? (3:4)

4. Que tipo de justiça Paulo confessa não desejar que se manifeste em sua

vida? (3:9)

5. Como podemos entender a frase: “Por quem perdi todas as coisas... para

poder ganhar Cristo” (3:10)?

6. Que aspectos positivos resultariam da atitude de desprendimento de

Paulo? (3:10)

7. Que sacrifícios implicariam a identificação de Paulo com o Mestre?

8. Qual seria o motivo do apóstolo exibir suas “credenciais” judaicas?

9. Ao considerar um obstáculo o que os seus adversários consideravam

vantajoso, qual seria o efeito duplo desta afirmação?

10. A disposição do apóstolo de repetir pacientemente seus

ensinamentos manifestava seu coração de pastor?

53

Lição 6: “Nossa cidadania está nos céus” (3:12-21; 4:1)

I. Introdução

Estudaremos a seguir a segunda seção do terceiro capítulo que se

estende desde o versículo décimo-segundo até o vigésimo primeiro.

Incluiremos no nosso estudo a tenra expressão de alegria que inicia o

quarto capítulo: “vocês que são a minha alegria” (4:1) que serve de

conclusão ao conteúdo desta perícopa. Os ensinamentos do capítulo

terceiro e em particular as que compõem esta seção se encontram entre

as mais pessoais e íntimas de toda a epístola.

Os lampejos de intimidade que encontramos nos dois primeiros

capítulos ganham intensidade e profundidade nesta seção, a gravidade

dos temas tratados e seu efeito sobre as emoções do apóstolo (“e agora

repito com lágrimas”) (3:18) servem para contrapor a chamada ao alegria

que é o fio condutor de toda a epístola.

O estilo de pastoreio de Paulo também se destaca nitidamente

nesta perícopa. Quanto mais graves os assuntos a tratar, quanto mais

severas suas exortações e advertências, mais pessoais se tornam suas

manifestações de ânimo e tanto mais íntimas suas expressões de

carinho.

Do versículo décimo-primeiro ao décimo-quarto encontramos outro

testemunho de vida por parte do apóstolo. Neste caso, e ao contrário do

que estudamos na lição anterior (3:4-6), Paulo não faz uso da ironia, mas

utiliza uma dose de realismo e humildade para descrever o conceito que

tem de si mesmo. Como em outras ocasiões aproveita a oportunidade

para transmitir-lhes seus valores, os princípios que o orientam e seus

objetivos vitais.

Os versículos da próxima seção (3: 15-17) contêm várias exortações

pastorais. A exortação a imitar o exemplo e modelo que ele mesmo traçou

vem precedida do humilde reconhecimento de suas limitações e do

esforço progressivo que se dispõe a realizar no prosseguimento de seus

objetivos. Suas palavras exortação se tornam por tanto reconfortantes e

encorajadoras.

Na próxima seção que se estende desde o versículo décimo-oitavo

ao vigésimo encontraremos dois tipos de ensinamentos teológicos

valiosos:

54

O primeiro caracteriza os que a seguir define como “inimigos

da cruz de Cristo.”

O segundo descreve alguns dos benefícios que estão à espera

daqueles que tem a “cidadania... nos céus.”

Esta é a seção mais extensa e significativa de toda a perícopa.

Concluiremos a seção considerando outra série de carinhosas e

sentidas declarações de afeto pelos filipenses: “a quem amo e de quem

tenho saudade” (4:1).

II. Testemunho de vida (3:12-14)

A exposição do testemunho de vida do apóstolo é o elemento

predominante de toda a seção. Os ensinamentos teológicos e as

exortações pastorais que vêm a seguir partem das experiências, dos

conceitos e dos valores que expõe nestes três versículos.

Nos versículos imediatamente anteriores (3:10-11), tal como

estudamos na seção passada, o apóstolo alegremente admite ter-se

desfeito de “tudo” a fim de poder: “(a) conhecer Cristo, (b) o poder da sua

ressurreição, (c) e a participação em seus sofrimentos (d) tornando-me

como ele em sua morte.”

Esta seção se inicia com a humilde admissão que estas metas

pessoais tão elevadas não foram completamente alcançadas: “Não que eu

já tenha obtido tudo isso ou que” (3:12). A frase “tenha sido aperfeiçoado”

hdhteteleiwmai (literalmente: “alcançado a perfeição”) apresenta algumas

dificuldades interessantes.50

Para o Dr. John Walvoord tal perfeição se manifesta em três etapas

as quais qualifica de: posicional, progressiva e definitiva.51 Entendemos

que a primeira equivaleria ao processo de justificação, obra já finalizada

no crente; a segunda ao processo de santificação, ainda em

50

“A frase ‘Ser perfeito’ significa chegar a ser cada vez mais como nosso Senhor Jesus Cristo, com sua justiça, não só como um dom espiritual interior, mas também como um estilo de vida exterior”. Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.178). 51

“Nas escrituras se revela que a perfeição tem três etapas: 1) Perfeição posicional quanto a que está relacionada a nossa salvação e que já se deu a todo cristão verdadeiro, como afirma Hebreus 10:14. 2) Perfeição progressiva ou relativa, que se relaciona com a maturidade em espiritualidade, da qual se fala em 2 Corintios 7:1. 3) Perfeição definitiva que se possuirá no céu.” Walvoord, John F. “Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p.85).

55

desenvolvimento; e a terceira a glorificação, que tão ansiosamente

esperava alcançar o apóstolo.

Na segunda parte do décimo-segundo versículo: “mas prossigo para

alcança-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo” encontramos

outro notável exemplo do uso do testemunho de vida do apóstolo para

alentar os crentes de Filipos.

A humildade com que reconhece sua falta de “perfeição” na

primeira parte do versículo não é uma exposição lamentosa de sua

incapacidade, pelo contrário, serve de fundo para ressaltar sua

determinação férrea de “prosseguir” até alcançar a perfeição final.

Nos versículos décimo-terceiro e décimo-quarto: “Irmãos, não penso

que eu mesmo já o tenha alcançado. Mas, uma coisa faço: esquecendo-me

das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante,

prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de

Deus em Cristo Jesus.” O apóstolo volta a repetir, e neste caso aproveita

para acrescentar comentários esclarecedores aos conceitos apresentados

no versículo décimo-segundo.

O apóstolo insiste em declarar-se consciente de suas limitações

quanto a realização de suas metas, mas se manifesta também

determinado a realizar duas coisas:

a) Esquecer-se do que fica trás.52

b) Seguir esforçando-se para alcançar a meta e ganhar o

prêmio.

Desta maneira o conceito de “prosseguir” fica precisamente

determinado quanto à sua realização. A maneira em que o apóstolo põe

em prática e propõe aos filipenses “prosseguir,” consiste em se esquecer

do passado, esforçar-se no presente, tendo sempre em vista a meta que

se pretende alcançar no futuro.

52

“Esquecendo-me das coisas que ficaram para trás” (3:13). Tal como propõe o profeta Isaías: “Esqueçam as coisas do passado; já não vivam no passado” (Isaías 43:14). Sem dúvida resta um elemento da memória do passado que não convém esquecer nunca, se trata, segundo as palavras do próprio Isaías, de tudo o relativo à glória de Deus: “Lembrem-se das coisas passadas, aquelas do passado; Eu sou Deus, e não há nenhum outro, Eu sou Deus, e não há ninguém igual a mim” (Isaías 46:9).

56

III. Exortações pastorais (3:15-17)

Após concluir a apresentação do seu testemunho de vida, Paulo

dirige aos filipenses uma série de exortações que inicia com o apelativo

ounv tleloi (oun tleloi) (“nós que alcançamos maturidade” - literalmente “os

aperfeiçoados”), neste caso os maduros espiritualmente entre os quais se

encontra o próprio Paulo.53

“Todos nós... devemos ver as coisas dessa forma”. Desta maneira

estende aos irmãos que se considerem a si mesmos espiritualmente

maduros o mesmo código de conduta que ele pessoalmente observa. Por

“ver as coisas dessa forma” entendemos que faz alusão aos princípios

que regem sua vida e que expôs na seção anterior (3:12-14): a) seu

conceito de si mesmo; b) sua disposição em deixar o passado atrás; c)

sua determinação de avançar em direção à meta e ganhar o prêmio de

Deus. Verdadeiros sinais da verdadeira maturidade espiritual que Paulo

ensina.

“E, se em algum aspecto vocês pensam de modo diferente, isso

também Deus lhes esclarecerá” (3:15). O apóstolo concede aos irmãos

maduros a possibilidade de discordar das atitudes que ele mesmo

exercitava e ensinava como conducentes para alcançar a maturidade

espiritual. Acima de tudo está a confiança em que Deus os ajudaria

eventualmente a pensar de maneira semelhante. Em todo caso, esta

abertura à discordância quanto ao pensamento não pode dar lugar à

discordância quanto ao comportamento de tais pessoas. “Tão somente

vivamos de acordo com o que já alcançamos” (3:16).

A seguinte exortação utiliza o termo familiar (adelfoi) “Irmãos,” e não

se dirige exclusivamente aos irmãos maduros, tal como na exortação

anterior, mas sim a todos os membros da igreja em Filipos: “sigam

unidos ao meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão

que lhes apresentamos” (3:17). A possível divergência quanto aos modos

de pensar em relação à maturidade cristã em nenhum momento poderia

traduzir-se em diferenças de comportamento e conduta. Os filipenses

deviam observar o comportamento segundo o modelo ensinado por Paulo.

53

“A palavra “aperfeiçoados” aqui não tem o mesmo sentido que em 3:12. No versículo 12, Paulo usa o tempo perfeito, que significa ação completada ou perfeição absoluta. No versículo 15, a palavra “perfeitos” é uma perfeição relativa que poderia se traduzir melhor como “maturidade espiritual”. Paulo se inclui a si próprio no grupo dos que são adultos espiritualmente.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.101).

57

IV. Ensino Teológico (3:18-21)

A seção de ensinamentos teológicos, que aparecem no versículo

décimo-oitavo e se estendem até o final do capítulo, se desenvolve a

partir de um contexto extremamente pessoal. Não se trata de ensinos

doutrinais teóricos, mas sim de profundas e muito sentidas inquietações

que o coração de pastor de Paulo sente por seu rebanho amado e os

perigos que o ameaçam.

O comportamento de certos falsos irmãos (nas palavras de Paulo

“muitos”) o têm preocupado até as lágrimas, pois está consciente do

enorme dano que pode causar. “Como já lhes disse repetidas vezes, e

agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de

Cristo” (3:18).

Determinar a identidade deste grupo de falsos irmãos, cujo

comportamento era digno de repreensão e contra os quais Paulo havia

proferido repetidas advertências, não é tarefa fácil. Existe, como em

tantos outros temas, diversidade de opiniões entre os comentaristas:

Hewlett54 assegura que se trata de cristãos carnais e libertinos;

Hendriksen55 sustém algo parecido; Walvoord56 os qualifica de “gnósticos

incipientes”, Motyer57 aporta umas observações interessantes a respeito

de tentar precisar exatamente sua identidade.

Para nossos propósitos, de acordo com a linha de pensamento que o

apóstolo vem desenvolvendo, entendemos por contraposição que se refere

54

“Não se trata aqui de ensinamentos falsos como o segundo versículo, mas de comportamento malvado; os libertinos, não os judaizantes, estão na mira. Estes inimigos reclamam os benefícios da cruz, mas negam o poder em suas vidas” Hewlett, H.C. “New International Bible Commentary: Philippians” Zondervan (p.1448) 55

“De acordo com grande número de intérpretes, eu estou convencido de que se trata de sensualistas, pessoas que compraziam os apetites da carne, glutões, grosseiramente imorais, os quais apesar disso, fingiam ser cristãos.” Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.128). 56

“Paulo não está falando de cristãos extraviados, mas sim daqueles que não são cristãos em absoluto... esta mordaz denúncia seria mais apropriada para o incipiente grupo gnóstico de Filipos, opostos aos legalistas, e que tendiam a eliminar as restrições morais” Walvoord, John F. “Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p.89) 57

“Alguns dizem que estes “inimigos da cruz”, são os judaizantes que descreve no versículo 2. Alguns dizem que está advertindo contra o antinomianismo, o pecado daqueles que abusam da sua liberdade em Cristo, convertendo-a em licença aberta para todo tipo de indulgências. O que poderia estar apelando contra a influência do mundo. Na perspectiva final, não interessa demasiado saber a quem está desacreditando, motivo pelo qual não convém atribuir com demasiada firmeza os versículos a alguma situação do passado. A ameaça está sempre presente e a descrição é bem clara ainda que os nomes não apareçam”. Motyer, J. Alec “El mensaje de Filipenses” (p.189).

58

a certos irmãos que não se comportam segundo “o padrão” ensinado pelo

apóstolo. Nada se menciona a respeito de seus possíveis ensinamentos

doutrinais, mas claramente se identifica seu comportamento: “O destino

deles é a perdição, o seu deus é o estômago e eles têm orgulho do que é

vergonhoso; só pensam nas coisas terrenais” (3:19).

A descrição que o apóstolo faz deste grupo de falsos irmãos começa

com o iniludível destino que os aguarda: “a perdição” Descreve três

características notáveis de seu comportamento: a) “seu deus é o

estômago”; b) “eles têm orgulho do que é vergonhoso” e por fim c) “Só

pensam nas coisas terrenais.” Com estas informações podemos formular

o tipo de problemas que as igrejas do primeiro século, durante a era

apostólica, tinham que enfrentar no seu meio.

Os versículos da perícopa que se estendem desde o vigésimo até o

vigésimo-primeiro, descrevem o contraste de comportamento, as atitudes

e o destino que aguarda os verdadeiros irmãos. O tom do apóstolo muda,

suas expressões estão cheias de notícias esperançosas, a seção está a

ponto de concluir e novamente o apóstolo deseja fazê-lo com uma nota

positiva.

“A nossa cidadania, porem, está nos céus”. As diferenças estão

marcadas, Paulo e os filipenses não são como aqueles falsos irmãos que

“só pensam no terrenal”, nem tampouco são simples cidadãos romanos

por mais cobiçado que fosse tal privilégio. “Nossa cidadania está no céus”

afirma categoricamente, não como promessa de futuro, mas sim como

ato consumado, sem condições pendentes de cumprimento, senão

possuindo o direito à cidadania eterna.

Paulo dá por certo que tanto ele como os filipenses, em razão da

cidadania que acaba de descrever, manifestavam a seguinte

característica “esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus

Cristo” (3:20).

Esta deveria ser a esperança, ou melhor, o anseio do coração de

cada crente. Paulo esperava que o comportamento e as atitudes que

resultassem de viver com tal anseio se manifestassem nos crentes de

Filipos como sinal de sua verdadeira cidadania.

59

Esta expectativa anelante pelo retorno do Senhor é sinal

característico dos verdadeiros cristãos e deveria manifestar-se em seu

comportamento neste mundo.

Por último, a promessa que tem servido de consolo aos crentes de

todas as gerações ”Pelo poder que o capacita de colocar todas as coisas

debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados,

tornando-os semelhantes a seu corpo glorioso.” (3:21). Por “Ele”

entendemos que se refere ao Senhor Jesus Cristo; a garantia de que

dispõe o cristão da tão esperada ressurreição da carne descansa no

próprio poder de Deus. O poder com que sujeita todas as coisas do

universo a si mesmo é o mesmo que garante a transformação do nosso

corpo.

V. Expressão alegre: “Vocês são a minha alegria” (4:1)

O motivo da expressão de alegria desta seção são os próprios

irmãos filipenses e a relação de carinho com o apóstolo. “Portanto, meus

irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha

alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados.”

O apóstolo aproveita esta oportunidade para declarar seu profundo

amor e o orgulho que sente por esses amados irmãos e para exortá-los a

permanecer firmes no Senhor. O pastor que ensina profundas verdades

teológicas; que se preocupa pelo bem-estar do rebanho; que não duvida

em abrir seu coração e compartir suas experiências vitais; que os exorta

pacientemente segundo crescem até a perfeição; também os ama

profunda e ternamente.

A profundidade e sinceridade desse amor determinam a influência

dos ensinamentos do pastor e sua relação com a igreja em Filipos.

VI. Conclusão

A seção estudada nos permite examinar algumas das crenças,

atitudes e princípios que governavam a vida do apóstolo, permite-nos

familiarizar-nos com a relação amorosa que havia estabelecido com a

igreja. O humilde reconhecimento de suas próprias limitações (“Não que

eu já tenha conseguido tudo isso ou já tenha sido aperfeiçoado”) lhe dá a

oportunidade de compartilhar com os filipenses quais são as metas que

pretende alcançar. Em suas próprias palavras: “mas uma coisa faço.”

60

Sua exortação aos que se consideravam maduros espiritualmente a

imitar seu modo de pensar não é autoritária e manipuladora. Permite

discrepâncias na forma de pensar a respeito das atitudes que promovem

a maturidade espiritual, mas não abre mão às discrepâncias que se

referem à forma de viver, o comportamento dos cristãos tem que ser

semelhante em todas as partes, em todas as ocasiões “sigam unidos o

meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes

apresentamos.”

A seguir os recorda das severas advertências que lhes havia

transmitido anteriormente a respeito daqueles irmãos que devido ao seu

comportamento manifestassem ser “inimigos da cruz de Cristo.” O

comportamento destes irmãos libertinos e hedonistas terá o final que

merece, adverte Paulo.

O lembrete que Paulo dirige aos filipenses de valorizar que “a nossa

cidadania esta nos céus” nos remete a outros trechos desta epístola onde

os adverte: “Não importa o que aconteça. Exerçam a sua cidadania de

maneira digna do evangelho de Cristo” (1:27). Os filipenses entendiam

que apesar de viverem à considerável distância de Roma, desfrutavam

legalmente dos plenos privilégios que dita cidadania concedia.

Por sua vez, os cristãos, como cidadãos do céu, desfrutam à

distância dos privilégios que serão plenamente realizados pelo poder de

Deus quando Cristo regresse. Neste caso, a transformação de “os nossos

corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (4:21).

61

Perguntas para a lição 6

1. O apóstolo Paulo reconhece que tenha chegado ao nível de perfeição e

que tenha conseguido alcançar as metas que se havia proposto.

(Verdadeiro ou Falso)

2. Qual é o conselho prático que transmite através de seu testemunho

pessoal aos crentes para perseverarem na santificação?

3. O que motiva o apóstolo Paulo a avançar em direção à meta? O que

espera obter?

4. A quem qualifica Paulo, segundo o autor, de “perfeitos” no décimo-

quinto versículo?

5. O apóstolo permite discrepâncias quanto às maneiras de sentir em

relação à santificação, mas não em relação ao comportamento do

cristão. (Verdadeiro ou Falso)

6. A quem qualifica de “inimigos da cruz de Cristo”? (3:18)

7. Cite três características do comportamento desses “inimigos da cruz de

Cristo”

8. Qual é o anseio do coração que esperam receber os cidadãos do céu?

9. Quê promessa de Deus esperava Paulo receber em seu próprio corpo?

(3:21)

10. Qual é o objeto da alegria do apóstolo no primeiro versículo do

quarto capítulo?

62

Lição 7: “Pensem nessas coisas... ponham em prática” (3:2-9)

I. Introdução

A quinta seção da epístola aos filipenses que estudaremos a seguir

contém, apesar de sua brevidade, vários elementos característicos que

configuram o estilo pastoral paulino. A seção anterior conclui com a

expressão alegre do primeiro versículo do capítulo quarto58 e a exortação

“permaneçam assim firmes no senhor” (4:1).

Alguns acontecimentos imediatos reclamam a atenção do

apóstolo, a situação particular da igreja em Filipos necessita ser tratada

e novos personagens vão aparecer em cena. Descobriremos o tipo de

relações que estabelece com tais personagens e a maneira prudente com

a qual aborda esses acontecimentos.

Como não poderia faltar nesta epístola, uma nova expressão

alegre, desta vez repetida com ênfase, “Alegrem-se sempre no Senhor.

Novamente direi: Alegrem-se!” (4:4), serve de ponte entre os

acontecimentos imediatos e uma nova série de exortações de caráter

geral.

Estas valiosas admoestações e exortações pastorais contidas nos

versículos quinto e sexto concluem no versículo sétimo com uma

promessa surpreendente “a paz de Deus... guardará o coração e a mente

de vocês em Cristo Jesus” (4:7), que examinaremos detidamente, pois

contêm ensinamentos que parecem proceder de sua própria experiência

pessoal e testemunho de vida.

Os versículos oitavo e nono estabelecem uma relação direta entre a

maneira de pensar a que todos os cristãos devem aspirar e a maneira de

atuar em relação ao modelo apostólico. Incluem duas listas de

ensinamentos éticos explicados com maior clareza. A primeira lista

conclui com as palavras: “pensem nessas coisas...” (4:8) e a segunda se

inicia com estas: “ponham em prática” (4:9). Temos classificado como

ensinamentos teológicos pelo valor didático que contêm apesar de

estarem configurados à maneira de exortações pastorais.

58

“Alguns têm sugerido que o primeiro versículo do capítulo quarto deveria ser o último versículo do terceiro capítulo, pois parece apresentar uma conclusão do exposto em 3:17-21.” Zapata, René C. Comentario Bíblico do Continente Novo: Filipenses (p.144).

63

II. Acontecimentos Imediatos (4:2-3)

A amorosa declaração do apóstolo no primeiro versículo dirigida a

todos os membros da igreja de Filipos em geral: ”vocês que são a minha

alegria e a minha coroa” serve de telão de fundo para as gentis

admoestações com as que, publicamente e por nome, expõe a má relação

existente entre dois valiosos membros da congregação.

Não existe hipocrisia ou encobrimento nas palavras do apóstolo na

maneira de encarar tal lamentável situação, tampouco existe tom

condenatório ou autoritário. Roga a ambas igualmente: “Rogo a Evodia59

e também (rogo) a Síntique,”60 o termo parakalw (parakalo) significa

literalmente “suplico,” “que vivam em harmonia no Senhor.” A este

respeito o Dr. Motyer assinala:

“A exortação tem mais força pelo fato de não se

mencionar a causa do desacordo. Era doutrinal, ética,

eclesiástica ou pessoal? Que era? Não sabemos. O que aflige

Paulo e o que o leva a fazer uma exortação não é que essas

pessoas tenham caído em algum ponto em particular, mas

simplesmente que caíram e que tinham trazido divisão dentro

da comunidade.”61

Não se trata de praticar o tipo de conciliação que consiste em

esclarecer mal-entendidos, fazer as pazes, pedirem desculpas e

perdoarem-se mutuamente, ainda que isto seja provavelmente também

parte necessária. O apóstolo, com muito tato, as convida a: “to auto fronein

en Kurw” (“que vivam em harmonia no Senhor”). Quer dizer, transcender

suas diferenças e praticar o tipo de união cristã que havia descrito nesta

mesma epístola:

“Completem a minha alegria tendo o mesmo modo de

pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude” (2:2).

Não devemos supor que a petição devia ser fácil de realizar para

esta duas irmãs e ainda que Paulo manifestasse enorme confiança no

resultado positivo, também está consciente que seria conveniente contar

59

O nome Evodia” significa “viagem próspera” ou também “fragrância agradável.” Calçada, S. Leticia. Dicionário Bíblico Ilustrado Holman (p.594). 60

“Nome de pessoa que significa “amizade agradável” ou também “boa sorte”. Calçada, S. Leticia. Didionário Bíblico Ilustrado Holman (p.1501). 61

Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses,” (p.204).

64

com a ajuda de uma terceira pessoa para mediar suas diferenças. No

próximo versículo invoca a mediação de uma pessoa de sua confiança, a

quem solicita que lhes dê sua ajuda para tal tarefa. Trata-se de um

personagem de difícil identificação: “”Sícigo” (leal companheiro de jugo”).

O Dr. Walvoord sintetiza as possibilidades desta maneira:

“Esta exortação, dirigida a um indivíduo, parece

complicada pela falta de um nome específico. Muller crê que

a palavra “Syzyqus” que se traduz “companheiro fiel”, é o

próprio nome de alguém da igreja de Filipos... Outras

sugestões que se têm dado é que o descritivo título possa se

referir a Timóteo, Silas, a esposa de Paulo ou aos esposos de

Evodia e de Síntique... Lightfoot sugere que se dirige a

Epafrodito, o qual iria levar esta carta à igreja em Filipos,

ainda que continue considerando os outros significados

alternativos, inclusive a possibilidade de que se trate de um

nome próprio.”62

O apóstolo conclui com as palavras de reconhecimento a essas

duas mulheres, depois da admoestação pública, recordando a história

que lhes era comum e quão úteis ambas haviam sido à obra do

evangelho.

Finalmente menciona um novo personagem “Clemente”63 e outros

colaboradores seus a quem reconhece, sem mencionar por nome, que

figuram no quadro de honra dos registros do Senhor “Os seus nomes

estão no livro da vida” (4:3).

III. Expressão alegre: “alegrem-se sempre no Senhor” (4:4)

A expressão alegre que vem a seguir: “Alegrem-se sempre no

Senhor. Novamente direi: Alegrem-se!” (4:4) irrompe com força no texto

com a utilidade dupla de servir de conclusão ao relato dos

acontecimentos imediatos que acaba de descrever e ao mesmo tempo

servir de prólogo a uma nova série de admoestações e exortações

pastorais de caráter geral.

A insistência paulina na sua chamada alegria (gozo) no senhor

enfatiza a importância que o apóstolo concede à prática desta disciplina

62

Walvoord, John F. “Comentario Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p. 98). 63

“Não se menciona em nenhum outro lugar do NT..” Bíblia de Estudo NVI, Editorial Vida.

65

cristã. Não se trata de manter uma atitude mental positiva e uma

perspectiva otimista diante das circunstâncias da vida. Em que consiste

a alegria que o apóstolo propunha? Segundo a definição do Dicionário

Bíblico Holman, o termo “gozo” no N.T. implica:

“Estado de deleite e bem-estar que resulta de conhecer

e servir a Deus... O gozo é o fruto de uma relação correta com

Deus. Não é algo que as pessoas possam criar por esforço

próprio. A Bíblia distingue “gozo” de “prazer”. O gozo na vida

cristã está em proporção direta ao caminhar dos crentes com

o Senhor.” 64

A alegria do cristão se encontra, segundo Paulo, olhando

continuamente para o que está por vir “esperamos ansiosamente o

salvador, o Senhor Jesus Cristo” (3:20) e prosseguindo “para o alvo, a fim

de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (3:14).

Esta alegria é também uma experiência corporativa da qual participam

outros crentes, seja comoo motivo de alegria “vocês que são a minha

alegria” (4:1) seja como experiência compartilhada “Estejam vocês

também alegres, e regozijem-se comigo” (2:18).

IV. Exortações pastorais (4:5-7)

Uma nova série de admoestações e exortações pastorais de caráter

geral e de aplicação prática tem início a partir do quinto versículo e se

estende até o sétimo. Estas exortações têm o propósito de definir o

padrão de conduta que Paulo espera de todas as igrejas, por não

conterem menção a acontecimentos imediatos sua aplicação é, portanto,

universal.

Não deve nos surpreender a mudança abrupta de estilo dessas

exortações que se tornam um tanto impessoais. O gênero epistolar da

época continha a figura da parêneses65 que consistia numa seção da

correspondência culta dedicada a conselhos morais e práticos, o tom e

estilo desta perícopa podia ser classificada desta maneira.

64

Calçada,S. Leticia. Dicionário Bíblico Ilustrado Holman (pp.701-702). 65

“(Do grego parainesis, exortação). Sermão que tem por objetivo levar os ouvintes à prática das virtudes cristãs.” Correa de Andrade, Claudionor “Dicionário Teológico.” Editorial Patmos, 2002.

66

A primeira exortação diz: “Seja a amabilidade de vocês conhecida

por todos” (4:5).66 Entendida como parêneses, esta exortação não implica

uma crítica velada por parte do apóstolo a uma igreja carente de tal

virtude. Não é esse o estilo pastoral de Paulo, nem é um método de

aproximação efetivo na hora de assinalar os problemas de qualquer

congregação. O apóstolo ao largo desta epístola não titubeou na hora de

assinalar com nitidez as atitudes particulares que considerava dignas de

censura.

A próxima exortação “Perto esta o Senhor” (4:5) poderia ser

entendida tanto no sentido do iminente retorno do Senhor”67, como no

sentido de sua proximidade pessoal com o cristão.68 As duas opiniões

parecem aceitáveis e cumprem o propósito de confortar e animar o

crente.

A exortação dupla do sexto versículo contém valiosos

ensinamentos. Começa com uma proibição taxativa redigida no modo

imperativo: “Não andem ansiosos por coisa alguma”. Para evitar o

desânimo diante da dificuldade de tal proposta, o apóstolo vai ao resgate

explicando a maneira de empreender uma proeza de tamanha

magnitude: “Mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças,

apresentem seus pedidos a Deus” (4:6). A fórmula apostólica para evitar

inquietude a respeito das eventualidades consiste em apresentar

qualquer petição a Deus em oração e dar-lhe graças.

Esta fórmula, apesar de simples, poderia ser de difícil execução se

dependesse primordialmente do esforço humano. Manter-se

constantemente livre de inquietações seria uma tarefa hercúlea, para não

dizer impossível, por requerer um nível de perfeição cristã e disciplina

difíceis de alcançar. Mas, o apóstolo, consciente da dificuldade,

acrescenta à sua exortação a seguinte promessa, que parece surgir de

sua própria experiência pessoal, seu testemunho de vida:

“A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o

coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (4:7).

66

“Um cristão deveria estar caracterizado por usa gentileza e paciência em atitude diante dos demais, sendo razoável em suas demandas. O apóstolo quer que esta seja uma atitude bem conhecida, não somente entre os cristãos, mas “de todos os homens” Walvoord, John F. Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses (p.100). 67

Hendriksen, William. “Exposición de Filipenses” (p.217). 68

Carballosa, Elvis L. “Filipenses um comentário exegético e prático” (p.114).

67

Observamos que o apóstolo não assegura a resolução por parte de

Deus da situação que origina a inquietação, algo que poderia em

algumas ocasiões não acontecer em absoluto. Mas, tendo-o comprovado

inúmeras vezes, pode assegurar aos crentes que Deus lhes garante paz

sobrenatural que sobre passa a compreensão humana. Que formidável

conforto para os crentes de todas as épocas!

V. Ensinamento teológico (4:8-9)

Passamos a seguir à continuação do último ensinamento desta

seção. O apóstolo parece querer concluir a epístola nesse ponto

(“Finalmente”), tal como em ocasiões anteriores (3:1 e 4:1) continua a

epístola nos versículos que vão do décimo ao vigésimo, que estudaremos

na próxima lição. Vamos nos familiarizar com o texto:

“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o

que for nobre, tudo que for correto, tudo que for puro, tudo

que for amável, tudo que for de boa fama, se houver algo de

excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (4:8).

“Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam,

receberam, ouviram, e viram em mim, e o Deus da paz

estará com vocês” (4:9).

Não podemos qualificar de parêneses os versículos oitavo e nono

tal como fizemos com os versículos anteriores, já que não são

exortações gerais para incentivar a prática das virtudes cristãs.

Encontramos duas razões principais para isso:

a) a amplitude de temas que o apóstolo recomenda

considerar é simplesmente avassaladora. Por um lado, o

cristão goza de uma variedade inesgotável de coisas nas

quais pensar “tudo o for excelente”, por outro, ficam

implicitamente excluídas todas as contrárias.

b) a recomendação de colocar em prática os

ensinamentos recebidos pessoalmente do próprio Paulo (“o

que aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim”)

resultam extremamente específicas quanto ao modelo de

atuação e não permitem a transposição em pé de igualdade

aos cristãos de outra eras, os quais não tivemos a

oportunidade pessoal tão gloriosa de aprender diretamente

68

de Paulo e vê-lo em ação. Para os filipenses estes

ensinamentos estavam clara e especificamente definidos.

Na primeira, o apóstolo se dirige carinhosamente aos filipenses

como “irmãos” e lhes recomenda “pensem nessas coisas” no sentido de

“examinar com atenção e trazer na lembrança”. Surpreende o leque de

opções que oferece: “tudo o que for verdadeiro... nobre... correto... puro...

amável... de boa fama... se houver algo de excelente ou digno de

louvor”. Certamente entendemos que exclui tudo o que não se sujeita,

ou seja contrário, a estas condições descritas, que definem os objetos

dignos de consideração por parte dos filipenses.

Temos examinado anteriormente que essa amplitude que o

apóstolo permite com relação à maneira de pensar se restringe

notavelmente quando se trata da maneira de agir. Examinamos essa

proposta na lição passada: “E, se em algum aspecto vocês pensam de

forma diferente... Tão somente vivamos de acordo com o que já

alcançamos” (3:15-16).

Neste caso, a recomendação de colocar em prática se

restringe exclusivamente ao modelo que pessoalmente conheceram em

Paulo. “Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam,

ouviram e viram em mim.”

Isto não deveria desanimarmos na hora de por em prática o modelo

de vida cristã, pois ainda que precisemos levar em consideração as

diferentes condições históricas e culturais, o conjunto das epístolas

paulinas, e certamente o resto das Escrituras como um todo,

proporcionam ao leitor cuidadoso todas as chaves necessárias para

identificar os princípios que devem reger o comportamento dos cristãos

do século XXI.

Conclui esta série de ensinamentos teológicos e práticos com

a animadora promessa, similar em forma à que apresenta na conclusão

do parêntesis “E a paz de Deus...” (4:7) neste caso: “e o Deus de paz...”

(4:9) e agora a maravilhosa promessa da presença de Deus no meio de

seu povo: “estará com vocês” (4:9).

69

VI. Conclusão

A breve perícopa que se estende desde o segundo ao nono versículo

do quarto capítulo tem sido o objeto da nossa lição. Esta perícopa bem

poderia considerar-se como uma brevíssima epístola completa, da qual

se extraíram, tão só, as seções introdutórias, visto que contém a maioria

dos elementos característicos das mesmas.

Analisamos a maneira do apóstolo de enfrentar uma questão

imediata de extrema urgência devido às suas possíveis repercussões e ao

potencial de causar divisões no seio da igreja em Filipos. Tivemos

oportunidade de descobrir também a enorme consideração e o tato que o

apóstolo empregou na resolução do conflito entre as irmãs Evodia e

Síntique. Aprendemos, pois, a maneira paulina de lidar com estas

situações conflitantes entre pessoas notáveis na igreja.

Notamos a maneira carinhosa e digna com a que o apóstolo se

dirige a seus colaboradores na obra do senhor. Esta lealdade e trato

respeitosos dizem muito no tocante à sua própria humildade e o valor

que concedia ao trabalho em equipe.

Novamente encontramos uma expressão de alegria em seus

escritos, desta vez em forma de exortação insistente: “Alegrem-se sempre

no Senhor. Novamente direi: “Alegrem-se!” (4:4). Para o apóstolo, a alegria

do Senhor não é a sensação positiva que se pode desfrutar como fruto de

uma vida de serviço em condições favoráveis. Neste caso, o apóstolo a

considera como um ato de vontade independente de qualquer

circunstância com o que permanentemente se deve glorificar a Deus.

As recomendações e exortações gerais de ordem moral (parêneses),

não são simples exortações relativamente impessoais, mas sim servem de

lembrança do estilo de vida que devem praticar os crentes.

Finalmente, os ensinamentos teológicos contidos no versículo

oitavo e as recomendações específicas do nono concluem com broche de

ouro nosso estudo desta interessante perícopa.

70

Perguntas para a lição 7

1. A quem solicita o apóstolo sua mediação no conflito entre Evodia e

Síntique?

2. Considerava o apóstolo Evodia e Síntique, juntamente com Clemente,

como colaboradores seus na obra do evangelho?

3. O apóstolo insiste repetidamente que os filipenses devem alegrar-se no

Senhor. (Verdadeiro ou Falso)

4. Que virtude solicita o apóstolo Paulo aos filipenses cuja prática devia ser

evidente a todos?

5. Em lugar de inquietar-se por questões circunstanciais, o apóstolo

recomenda aos filipenses apresentarem suas petições e súplicas a Deus,

com ações de graça. (Verdadeiro ou Falso)

6. Como descreve Paulo a paz que Deus proporciona aos crentes no sétimo

versículo?

7. Que atitude contrapõe nesta perícopa o apóstolo ao seu pedido insistente

de alegrar-se no Senhor?

8. Que tipo de coisas deseja Paulo que sejam objeto das considerações dos

filipenses no versículo oitavo?

9. Que tipo de ensinamento deseja o apóstolo que os filipenses ponham em

prática no versículo nono?

10. Segundo Paulo, qual é o resultado de considerar e praticar o

recomendado nos versículos oitavo e nono?

71

Lição 8: “As gloriosas riquezas em Cristo” (4:10-23)

I. Introdução

Esta última seção da epístola aos filipenses, apesar de sua

brevidade, contém alguns temas interessantes que retratam o coração de

pastor de Paulo e terminarão por definir o conjunto de valores e

comportamento que esperava que os crentes imitassem: “Irmãos, sigam

unidos o meu exemplo” (3:17).

Tal como assinalamos na lição anterior, os versículos oitavo e nono

do quarto capítulo parecem indicar que o apóstolo concluiu seus

ensinamentos e pretende despedir-se69 nestes termos: “Finalmente,

irmãos” (4:8) e “O Deus da paz estará com vocês” (4:9). Mas, não é assim,

ficaram ainda pendentes alguns assuntos importantes e, como é

característica sua, aproveitará cada oportunidade para transmitir novos

ensinamentos.

A expressão de alegria desta seção está relacionada à alegria que

sente diante do manifesto interesse que os filipenses tinham

demonstrado por sua pessoa e suas circunstâncias.

Valendo-se desta oportunidade, o apóstolo expõe as diretrizes pelas

quais rege a sua vida em relação à possessão e desfrute dos bens

materiais. Este poderoso testemunho de vida reflete não só seu

desapego pelas riquezas materiais, mas particularmente sua vontade

disposta a padecer escassez, até a falta das necessidades básicas, tendo

aprendido a depender da graça de “Cristo que me fortalece” (4:13).

Os acontecimentos imediatos que relata a continuação, seguem

a mesma linha de pensamento que a seção anterior e proporcionam

novas perspectivas da vida do apóstolo, sua relação com a igreja em

Filipos e seu interesse pelo bem-estar da mesma.

Encontramos finalmente um ensinamento teológico valioso que

descreve a promessa de provisão de Deus com respeito ao “sacrifício

aceitável e agradável a Deus” (4:18). Uma breve doxologia antecede a

saudação final no comum estilo epistolar da época.

69

Alguns eruditos têm sugerido a possibilidade da epístola aos filipenses, como a conhecemos na atualidade, ser uma compilação de várias comunicações de Paulo com a tal igreja.

72

II. Expressão de alegria: “Alegro-me grandemente no Senhor”

(4:10)

“Alegro-me grandemente no Senhor” é a expressão alegre que com

que inicia esta nova seção da epístola. O motivo da alegria do apóstolo

era a satisfação de sentir o interesse que os filipenses tinham por sua

pessoa. Tal interesse se manifestou de maneira tangível através do envio

de uma contribuição econômica e substancial (“Recebi tudo, e o que tenho

é mais que suficiente.”) (4:18) para seu mantimento pessoal.

O apóstolo esclarece que a materialização do interesse dos

filipenses por sua pessoa nesta ocasião, não significa que por algum

tempo este houvesse deixado de existir, mas sim que não tinha tido

oportunidade de se manifestar, e o faz desta maneira tão considerada;

“De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para

demonstra-lo” (4:10). Desta maneira a expressão de alegria do apóstolo

não pode ser interpretada como uma irônica reclamação diante da

negligência dos filipenses ou como uma manifestação de alegria

desproporcional diante da provisão de suas necessidades materiais.70

Vale a pena ressaltar a cuidadosa apresentação do apóstolo e sua

amorosa preocupação em não ferir a sensibilidade e evitar qualquer mal-

entendido por parte dos receptores desta epístola. Poderia nos parecer

excessiva ou desnecessária a abundância de explicações, mas todo

cuidado é pouco em qualquer comunicação, e particularmente na escrita,

para deixar constância das verdadeiras intenções e atitudes que neste

caso moviam o apóstolo.

III. Testemunho de vida (4:11-13)

A seção que agora se inicia no décimo-primeiro versículo e se

estende até o décimo–terceiro contém alguns dos mais valiosos

ensinamentos de toda a epístola em relação aos valores pessoais que

norteavam o apóstolo, neste caso em relação aos bens materiais,

transmitidos por meio do relato de seu testemunho de vida.

No versículo décimo-primeiro o apóstolo completa as explicações

com as quais conclui o versículo anterior: “Não estou dizendo isso porque

70

“Paulo não nega o fato de encontrar-se necessitado, mas nega que o motivo principal de sua alegria seja que suas necessidades tenham sido supridas.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.118).

73

esteja necessitado”. Quer deixar claro que as experiências que vai relatar

a partir deste ponto não estão condicionadas às suas necessidades

econômicas atuais.

A valiosa lição de vida que o apóstolo compartilha nesta ocasião

consiste da atitude de contentamento e satisfação que adquiriu e

desenvolveu através das sofridas experiências pessoais. “Pois aprendi a

adaptar-me a toda e qualquer circunstância.” Conhecendo, tal como o

faziam os filipenses, algumas das experiências que o apóstolo havia

enfrentado,71 entendemos quão alto preço deve ter pagado para poder

dizer com confiança e total veracidade estas palavras: “aprendi o segredo

de viver contente em toda e qualquer situação.”

No versículo décimo-segundo volta a repetir, para não deixar

sombra de dúvida, a que experiências se refere: “Sei o que é passar

necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente

em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo

muito, ou passando necessidade.” Vivenciar ambas experiências, ainda

que não necessariamente a nível tão extremo, são necessárias para

desenvolver no cristão maduro a atitude de contentamento.

O apóstolo havia experimentado as duas situações e dava a

entender que sua condição econômica, fosse qual fosse nunca deveria ser

impedimento para manifestar sua atitude de contentamento em Cristo.

Qual era a chave que Paulo havia encontrado? Não se tratava de

alguma virtude inerente ao seu caráter ou de posterior desenvolvimento.

A resposta, ele a resume nestas contundes palavras: “Tudo posso em

aquele que me fortalece” (4:13). Somente a graça que Cristo proporciona

poderia ser a fonte de fortaleza suficiente para manter essa atitude de

contentamento diante de todas e cada uma das situações da vida.

Paulo não se orgulha das dificuldades que havia sido capaz de

suportar, tampouco se manifesta indiferente ou impassível diante das

71

“Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto á fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.” II Coríntios 11: 24-27.

74

mesmas— sentimentos apregoados pelos filósofos estoicos72 de sua

época. Pelo contrário, a atitude do apóstolo manifesta dependência em

Cristo como o meio de obter a fortaleza necessária para superar

dificuldades e privações, assim como enfrentar os perigos espirituais que

a abundância e a comodidade trazem.

Aqueles cristãos que tendo experimentado “passar necessidade” e

agora sentem pavor da mesma e desejariam nunca mais ter que passar

por semelhante experiência; ou os que tendo desfrutado de “ter fartura”

se aferram desesperadamente à essa condição; ou também os que

orgulhosamente se jactam de sua capacidade para suportar estoicamente

todo tipo de privações, deveriam considerar atentamente o testemunho

de vida de Paulo para encontrar o equilíbrio apropriado nessa importante

faceta da vida cristã.

IV. Acontecimentos imediatos (4:14-18)

A seção que começa agora contém as explicações de vários

acontecimentos imediatos, ainda que em certa forma volte a tratar de

temas abordados nos dois apartados anteriores. São temas relacionados

com a generosa doação que Paulo tinha recebido das mãos de Epafrodito

da parte da igreja em Filipos.

Na seção anterior, Paulo tinha manifestado sua disposição em

manifestar contentamento diante de qualquer situação, por mais difícil

que fosse. Mas agora, para que suas palavras não pudessem ser mal

interpretadas como ato de ingratidão, felicita os crentes com estas

palavras: “Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas

tribulações” (4:14). Não quer mostrar-se ingrato diante da ajuda recebida

da parte dos filipenses e reconhece que se encontrava em dificuldades

que o angustiavam, não deve referir-se às dificuldades econômicas neste

caso, mas sim à sua condição de preso, esperando sentença.

Com gratidão se lembra da disposição que tinham manifestado em

ocasiões anteriores em contribuir economicamente com seu ministério:

72 “Os estoicos eram os seguidores de Zenon de Chipre, possivelmente de origem semita quem

viveu entre 340-265 A.C. Zenón não cria em um Deus pessoal e ensinava que o universo estava controlado por uma Razão Absoluta. Os estoicos criam que a conformidade com a razão era o bem supremo. A meta do estoico era o perfeito controle de si mesmo, completamente inamovível por considerações emocionais.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.119).

75

“Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros

dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma

igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber,

exceto vocês; pois estando eu em Tessalônica, vocês me

mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando

tive necessidade” (4:15-16).

Com muito tato, o apóstolo volta a explicar o motivo pelo qual trás

à memória às ações dos filipenses. Quer deixar claro que não está

buscando arrecadar novas oferendas, mas sim que se importa pelo bem-

estar eterno de suas almas: “Não que eu esteja procurando ofertas, mas o

que pode ser creditado na conta de vocês” (4:17).

Novamente reafirma sua gratidão pelas ofertas recebidas que

plenamente supriram todas as suas necessidades e lhes confirma

resoluto: “Recebi tudo, e o que tenho é mais que suficiente. Estou

amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que

vocês enviaram” (4:18).

A doação recebida pelo apóstolo para suprir suas necessidades é

qualificada aqui como “uma oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável

e agradável a Deus” (4:18). Tal como as oferendas de incenso no Templo

eram agradáveis a Deus, assim a oferenda monetária recebida por ele era

na realidade uma oferta que entregavam a Deus.

V. Ensinamento teológico (4:19)

Em resposta à desinteressada manifestação de amor por parte dos

filipenses, que se materializou na doação remetida por mãos de

Epafrodito, Paulo lhes assegura de que: “O meu Deus suprirá todas as

necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em

Cristo Jesus.” A oferenda de aroma suave, os sacrifícios aceitável e

agradável a Deus, trazem como consequência a garantia de provisão de

parte de Deus de todas suas necessidades materiais.

Mas, o apóstolo não está prometendo abundantes riquezas

materiais da parte de Deus para seus seguidores fieis. A frase seguinte:

“conforme as gloriosas riquezas que tem em Cristo” (4:19) esclarece que

tipo de riquezas lhes garante da parte de Deus: “a incomparável riqueza

de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo

Jesus” (Efésios 2:7), riquezas que também define como: “riquezas da sua

76

bondade, tolerância e paciência ... que a bondade de Deus o leva ao

arrependimento” (Romanos 2:4).73

VI. Saudação final (4:20-23)

A saudação final inclui uma breve doxologia: “Ao nosso Deus e Pai

seja a glória para todo o sempre. Amém” (4:20). Sua despedida: “Saúdem

a todos os santos em Cristo Jesus” (4:21). Em referência à igreja de

Filipos.

A continuação, Paulo transmite as saudações de seus

colaboradores próximos sem mencioná-los por nome: “Os irmãos que

estão comigo enviam saudações” (4:21).

Finalmente a despedida de todos os irmãos em geral da cidade de

onde escreveu esta epístola e, em particular, os que serviam na casa do

imperador, aos que provavelmente, por causa do seu próprio

encarceramento, Paulo tinha acesso: “Todos os santos lhes enviam

saudações, especialmente os que estão no palácio de César” (4:22).

A benção final de Paulo conclui a epístola: “A graça do Senhor

Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém” (4:23).

VII. Conclusão

Nesta breve seção final, na qual dividimos a epístola aos filipenses,

encontramos que o apóstolo utiliza recursos didáticos semelhantes aos

de seções precedentes. Novamente o estilo de seus ensinamentos

descobre o coração de pastor de Paulo.

Inicia a despedida da epístola com a expressão de gratidão aos

filipenses pelo donativo recebido das mãos de Epafrodito e aproveita a

oportunidade para, com tato e delicadeza, transmitir alguns valores

pessoais que esperava que os filipenses soubessem imitar.

Paulo se encontrava diante de uma delicada situação: não queria

manifestar ingratidão, nem menosprezar a importância da doação

recebida e sua necessidade da mesma; muito menos queria dar a

entender que estava procurando novos donativos. Queria, não obstante,

transmitir algumas valiosas experiências pessoais com respeito ao

contentamento cristão e ao poder que se encontra em Cristo. 73

Ver também Romanos 2:4; 9:23; 11:33. Efésios 1:18; 3:8,16, Colossenses 1:27; 2:2 y Hebreus 11:26.

77

A maneira como encara esta tão árdua tarefa e as cuidadosas

matizações com as que evita mal-entendidos refletem seu grande apreço

e agradecimento pelos irmãos da igreja de Filipos e seu terno cuidado e

dedicação pastoral aos mesmos.

Concluímos nesta lição a análise temática da epístola aos filipenses

tendo classificado os recursos didáticos que o apóstolo utiliza em seu

trato com os membros de tal igreja. Temos tentado enfatizar ao decorrer

do curso o coração de pastor de Paulo, pois consideramos seu

comportamento e o trato terno que manifesta à igreja como o modelo

prático a ser seguido por todos os que, de alguma maneira, se encontram

em posições de responsabilidade dentro do Corpo de Cristo.

Sirva esta exortação paulina como resumo e despedida de nosso

estudo desta bonita e sentida epístola:

“No importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania (a celestial) de

maneira digna do evangelho de Cristo” (Filipenses 1:27).

78

Perguntas para a lição 8

1. Qual era o motivo principal de alegria do apóstolo nesta seção da

epístola?

2. Qual era a lição que Paulo havia aprendido através de suas experiências

de abundância e escassez?

3. Que tipo de circunstâncias rodeiam e qualificam a declaração paulina de

que “Tudo posso em Cristo que me fortalece?

4. Qual era a missão de Epafrodito?

5. Descreva os cuidados de Paulo na hora de agradecer aos filipenses pela

doação recebida.

6. A que se refere Paulo com “oferta de aroma suave”

7. O apóstolo Paulo utilizava a adulação para conseguir mais oferta?

8. Quantas igrejas participaram do sustento do apóstolo no princípio da

obra do evangelho?

9. Ao mencionar “os santos da... casa do imperador”, segundo o autor a que

tipo de pessoa se refere provavelmente. (Escolha uma resposta)

a) A família pessoal do imperador

b) Os servos e a guarda do palácio do imperador

c) O próprio imperador e sua esposa

10. A garantia paulina de que Deus supriria tudo o que os filipenses

necessitassem (4:19) estava relacionada diretamente com a disposição

dos mesmos de contribuir para a obra que este realizava. (Verdadeiro ou

Falso)

79

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http://www.lugaresbiblicos.com/filipos.htm

81

Anexo I

Respostas aos questionários:

Lição 1

1. Assinale alguns benefícios característicos das colônias romanas. (Respostas

possíveis:)

a) Suas autoridades, normalmente dos magistrados castrenses,

respondiam diretamente a Roma e não às autoridades regionais.

b) Se regia pelo Ius Italicum, não pela legislação local.

c) Estava isenta de pagar impostos.

2. Quais foram algumas das principais razões para a decadência da cidade de

Filipos? (Respostas possíveis:)

a) Instabilidade do império bizantino.

b) Sucessivas invasões de: búlgaros, francos, sérvios e otomanos.

c) Incidência da peste.

d) Abandono progressivo das rotas comerciais (Via Egnatia).

3. Quais são os possíveis lugares e datas de redação da epístola aos Filipenses?

a) Éfeso (ano 54 d.C.)

b) Cesarea (ano 58 d.C.)

c) Roma (ano 61 d.C.)

4. A que passagem cristológica faz referência o autor?

Filipenses 2:6 -11.

5. Quais são os motivos das principais expressões de alegria do apóstolo?

(Respostas possíveis:)

a) a pregação do evangelho.

b) sua futura libertação em resposta às petições dos filipenses.

c) a fé e o comportamento exemplar dos filipenses.

d) ser receptor do amor e consideração dos filipenses.

e) a participação pecuniária em seu ministério.

6. Qual era a condição do apóstolo Paulo no momento de redação da epístola?

Encontrava-se em prisão esperando ser julgado.

7. Qual seria o motivo principal para que o carcereiro de Filipos se apressasse a

atentar contra sua própria vida?

Deixar escapar aos prisioneiros se pagava com a própria vida.

8. Lembra-se do nome da primeira pessoa a converter-se em Filipos?

Lidia, a comerciante de telas de púrpura natural da cidade de Tiatira.

9. Que personagens notáveis da história voltaram a fundaram a cidade de Filipos

como colônia romana: Colônia Victrix Philippensium?

Octavio Augusto e Marco Antonio.

10. Cite alguns dos recursos pastorais que, segundo o autor, o próprio apóstolo

utilizou em seu trato com os filipenses. (Respostas possíveis:)

a) seu próprio testemunho de vida.

82

b) os acontecimentos imediatos.

c) ensinamentos teológicos.

d) exortações pastorais.

e) expressões de gozo.

Lição 2 1. Na saudação “aos santos” (v.1), refere-se o apóstolo a um tipo particular

de crentes (similar aos ofícios de bispos e diáconos) ou assim considera todos os

membros da Igreja?

Todos os membros da igreja.

2. Quem o apóstolo cita como coautor da epístola?

Timóteo.

3. Qual é a razão da alegria do apóstolo em sua ação de graças a Deus (1:5)?

A participação dos filipenses no ministério de Paulo.

4. Quais são os pedidos de oração de Paulo em relação aos filipenses (1:9-

11)? (Respostas possíveis:)

a) que seu amor abunde no conhecimento e toda percepção.

b) que saibam discernir o melhor.

c) que sejam puros e irrepreensíveis.

d) que estejam cheios de frutos de justiça.

5. De que se declara Paulo convencido em relação aos filipenses (1:6)?

A perfeição continuada por parte de Deus da boa obra de participação

dos filipenses no ministério do apóstolo.

6. Mencione alguns elementos característicos da literatura epistolar da época.

Menção ao início da mesma do autor, destinatários, seguidos da

saudação e ação de graças.

7. O apóstolo considerava os filipenses como membros de uma congregação

que este fundara o como colaboradores genuínos em seu ministério?

Considerava-os colaboradores seus no ministério.

8. Quê fatores poderia explicar a inclusão de Timóteo como coautor da

epístola? (Respostas possíveis:)

a) formava parte da “equipe missionária” original.

b) era bem conhecido dos filipenses.

c) voltaria a visitá-los em breve a pedido de Paulo.

9. O termo grego doulos deve ser traduzido nesta perícopa como “escravos”

no sentido que o português transmite o conceito de escravidão (“serviço

involuntário, sujeição forçosa e muitas vezes maus tratos”)?

Não. Acepções mais exatas seriam:

a) “empregado subalterno”.

b) “funcionário responsável”.

c) “mordomo”.

83

10. Assinale como Verdadeira ou Falsa esta frase do autor: “A ação de graças

por seus seres queridos era, nas próprias palavras de Paulo, parte importante

de suas orações diárias de intercessão”

Verdadeira.

Lição 3

1. Quais são os dois motivos principais de alegria do apóstolo? (1:18,19)

a) se prega a Cristo.

b) sua futura libertação.

2. A que se refere o apóstolo com a frase: “Para mim o viver é Cristo”?

a) a vida de Paulo carecia de interesses egocêntricos.

b) a morte não representava um processo trágico.

3. Quais as duas interpretações possíveis que podemos extrair do uso do

vocábulo grego politeuesqe (politeuesthe) “comportem-se como cidadãos” que

Paulo faz em (1:27)?

a) Seu comportamento como cidadãos romanos.

b) Seu comportamento como cidadãos do céu.

4. Quais as três admoestações importantes que dirige Paulo aos Filipenses

nos versículos 27 y 28?

a) Manterem-se firmes no propósito.

b) Unânimes entre os irmãos.

c) Superar o temor dos adversários.

5. Qual é a declaração do apóstolo, que segundo o autor, contradiz as

expectativas dos cristãos que consideram seu direito estar livres de sofrimento?

O sofrimento é para o cristão uma concessão especial de Deus.

6. A quais acontecimentos imediatos se refere o apóstolo que poderiam ser

mal interpretados pelos filipenses?

a) A prisão de Paulo.

b) A rivalidade entre os pregadores do evangelho.

7. Quais eram os dois privilégios concedidos por Deus à igreja de Filipos?

a) Crer em Cristo.

b) Padecer por Cristo.

8. Quais eram as opções alternativas que Paulo tinha no momento de redigir

a epístola?

a) Partir e estar com Cristo.

b) Seguir seu trabalho frutífero neste mundo.

9. Que duas atitudes principais o apóstolo Paulo assinala como as principais

motivadoras dos pregadores rivais na difusão do evangelho?

a) A inveja.

b) A rivalidade.

10. Que efeito, no apóstolo, pretendiam alcançar os pregadores rivais com sua

pregação mal- intencionada?

84

Aumentar as angústias que o apóstolo sofria na prisão.

Lição 4

1. Que quatro sentimentos dignos de serem cultivados pelos crentes

encontramos neste capítulo? (2:1-2)

a) “estímulo em sua união com Cristo”.

b) “consolo em seu amor”.

c) “companheirismo do espírito”.

d) “afeto profundo”.

2. Que duas atitudes devem evitar os cristãos e que duas devem cultivar? (2:3)

Evitar:

a) “o egoísmo”.

b) “a vaidade”.

Cultivar:

a) “humildade”.

b) “alta estima dos demais”.

3. Que tipo de interesses devem prevalecer no coração do crente? (2:4)

“Não só seus próprios interesses, mas também pelos interesses

dos demais”.

4. Explique algumas implicações do termo Kenosis. (2: 6-11)

a) não significa que Cristo se esvaziou de sua essência divina nem

que renunciou aos atributos divinos.

b) significa que Cristo deixou sua posição pré-encarnada e tomou

as características de perfeita humanidade.

5. Quais são os acontecimentos imediatos desta seção? 2:19-30)

A futura visita de dois dos seus enviados:

a) Timóteo.

b) Epafrodito.

6. Quais são os três tipos de seres inteligentes criados por Deus, segundo as

explicações de Hendriksen?

a) os que estão no céu: seres angelicais, homens e mulheres

redimidos.

b) os que estão na terra: homens e mulheres vivos na atualidade.

c) os condenados ao inferno: anjos caídos e homens e mulheres

não redimidos.

7. Poderia considerar-se a perícopa que se estende do versículo sexto ao décimo-

primeiro, um tipo incipiente de hino cristão que o apóstolo compõe para a

ocasião ou recita por ser conhecido pelos filipenses?

Sim.

8. Quais são os motivos de satisfação que o apóstolo relata nos versículos

décimo sexto e décimo sétimo?

85

a) a fé e o comportamento dos próprios filipenses.

b) a oportunidade de derramar sua vida por eles.

9. Ao pedir aos filipenses que “levem a cabo sua salvação” (2:12) o apóstolo

lhes está pedindo sua colaboração na obra _______________ do Espírito Santo.

“Santificadora”.

10. Poderia escrever o nome completo grego que retrata a essência da pessoa do

Filho?

KujrioV IhsouV CrstoV (Senhor Jesus Cristo):

a) sua natureza divina “Senhor.” (Deus).

b) sua natureza humana “Jesus” (Salvador).

c) seu título messiânico “Cristo” (Messias, Ungido).

Lição 5

1. A que grupo o apóstolo qualifica de: “cães”, “praticam o mal”, “falsa

circuncisão”? (3:2)

Os mestres cristãos judaizantes.

2. Que três distintivos caracterizam os que Paulo qualifica de “a circuncisão somos

nós”? (3:3)

a) os que por meio do Espírito de Deus adoramos.

b) nos orgulhamos em Cristo Jesus.

c) não colocamos nossa confiança em esforços humanos.

3. Considera Paulo a si mesmo à altura dos mestres judaizantes? (3:4)

Suas próprias “credenciais judaicas” excediam às da maioria de seus

contemporâneos.

4. Que tipo de justiça confessa Paulo desejar mais em sua vida? (3:9)

A que se obtém mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus,

baseada na fé.

5. Como podemos entender a frase: “Perdi tudo a fim de conhecer a Cristo? (3:10)

Para o apóstolo nada se comparava ao valor do conhecimento pessoal de

Cristo.

6. Que aspectos positivos resultariam da atitude de desprendimento de Pablo?

(3:11)

a) conhecer a Cristo.

b) experimentar o poder que se manifestou em sua ressurreição.

7. Que sacrifícios implicariam a identificação de Paulo com o Mestre?

a) participar em seus sofrimentos.

b) chegar a ser semelhante a ele em sua morte.

8. Qual seria o motivo do apóstolo exibir suas “credenciais” judaicas?

Dar testemunho que aquilo que seus adversários poderiam considerar

vantajoso era na realidade um inconveniente e um obstáculo na causa de

Cristo.

86

9. Ao considerar um obstáculo o que seus adversários consideravam vantajoso, qual

seria o efeito duplo desta afirmação?

a) Despojar os judaizantes de supostas vantagens e privilégios,

igualando a condição dos cristãos de procedência gentia e judia.

b) Exaltar a Cristo como único, y suficiente, autor da salvação.

10. Manifestava a disposição do apóstolo de repetir pacientemente seus

ensinamentos seu coração de Pastor? (Verdadeiro ou Falso)

Verdadeiro.

Lição 6

1.- O apóstolo Paulo reconhece que tenha chegado ao nível de perfeição e que havia

conseguido alcançar as metas que se havia proposto. (Verdadeiro ou Falso)

Falso.

2.- Qual é o conselho prático que transmite, através de seu testemunho pessoal, aos

crentes para perseverar na santificação? (3:13)

a) esquecer-se do que fica atrás.

b) esforçar-se por alcançar o que está adiante.

3.- Que é o que motiva o apóstolo Paulo a avançar em direção à meta? Quê espera

obter? (3:14)

O prêmio que Deus oferece mediante seu chamamento celestial em Cristo

Jesus.

4.- A quem qualifica Paulo, segundo o autor, de “perfeitos” no versículo décimo -

quinto?

Neste caso, os maduros espiritualmente entre os quais se encontra o

próprio Paulo.

5.- O apóstolo permite discrepâncias quanto às maneiras de sentir relativas à

santificação, mas não quanto ao comportamento do cristão. (Verdadeiro ou Falso)

Verdadeiro.

6.- A quem qualifica de “inimigos da cruz de Cristo”? (3:18)

Certos irmãos cujo comportamento não se ajustava “ao exemplo e

modelo” ensinados pelo apóstolo.

7.- Cite três características do comportamento destes “inimigos da cruz de Cristo”.

a) “adoram seus próprios desejos”.

b) “se orgulham de suas vergonhas”.

c) “Só pensam no terrenal”.

8.- Qual é o anseio do coração que esperam receber os cidadãos do céu?

O regresso do Salvador: O Senhor Jesus Cristo.

9.- Que promessa de Deus espera Paulo receber no seu próprio corpo? (3:21)

A transformação de seu corpo miserável em um corpo glorioso.

10.- Qual é o objeto de alegria do apóstolo no versículo primeiro do capítulo quarto?

Os próprios filipenses.

87

Lição 7

1.- A quem solicita o apóstolo sua mediação no conflito entre Evodia e Síntique?

Ao fiel Sícigo (Companheiro).

2.- Considerava o apóstolo Evodia e Síntique, juntamente com Clemente, como

colaboradores seus na obra do evangelho?

Sim.

3.- O apóstolo insiste repetidamente que os filipenses devem alegrar-se no Senhor.

(Verdadeiro ou Falso)

Verdadeiro.

4.- Que virtude solicita o apóstolo Paulo aos filipenses, cuja prática devia ser

evidente a todos? (4:5)

A amabilidade.

5.- Em lugar de inquietar-se por questões circunstanciais, o apóstolo recomenda aos

filipenses apresentarem suas peticiones e súplicas a Deus, com ações de graça.

(Verdadeiro ou Falso)

Verdadeiro.

6.- Como descreve Paulo a paz que Deus proporciona aos crentes no versículo

sétimo?

Paz que excede todo entendimento.

7.- Que atitude contrapõe, nesta perícopa, o apóstolo Paulo ao seu pedido insistente

de alegrar-se no Senhor?

Sentir inquietude por alguma cosa.

8.- Que tipo de coisas deseja Paulo que sejam objeto das considerações dos

filipenses no versículo oitavo?

Tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto,

tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se

houver algo de excelente ou digno de louvor.

9.- Que tipo de ensinamentos deseja o apóstolo que os filipenses ponham em prática

no versículo nono?

Tudo o que aprenderam, receberam, ouviram e viram no apóstolo.

10.- Segundo Paulo qual é o resultado de considerar e praticar o recomendado nos

versículos oitavo e nono?

“O Deus da paz estará com vocês”.

Lição 8

1.- Qual era o motivo principal de alegria do apóstolo nesta seção da epístola?

O renovado interesse dos filipenses por sua pessoa.

2.- Qual era a lição que Paulo havia aprendido através de suas experiências de

abundância e escassez?

Havia aprendido a estar satisfeito em qualquer situação em que se

encontrasse.

88

3.- Que tipo de circunstâncias rodeiam e qualificam a declaração paulina de que

“Tudo posso em Cristo que me fortalece”?

O apóstolo havia experimentado ambos os extremos e dependia de Cristo

para obter a fortaleza necessária para superar dificuldades e privações, assim

como os perigos espirituais que a abundância e a comodidade representam.

4.- Qual era a missão de Epafrodito?

Transportar até o apóstolo a doação dos filipenses.

5.- Descreva os cuidados de Paulo no momento de agradecer aos filipenses pela

doação recebida.

Quer deixar claro que não está buscando arrecadar novas ofertas, mas

que se importa pelo bem-estar eterno de suas almas.

6.- A que se refere Paulo com “oferta de aroma suave”?

A doação recebida pelo apóstolo para suprir suas necessidades. Tal como

as oferendas de incenso no Templo eram agradáveis a Deus.

7.- O apóstolo Paulo utilizava da adulação para conseguir mais ofertas?

Não.

8.- Quantas igrejas participaram do sustento do apóstolo no princípio da obra do

evangelho?

Só a dos filipenses.

9.- Ao mencionar “os santos da… casa do imperador”, segundo o autor, a que tipo

de pessoas se refere provavelmente. (Escolha uma resposta)

a) A família pessoal do imperador.

b) Os servos e a guarda do palácio do imperador.

c) O próprio imperador e sua esposa.

Resposta b).

11. A garantia paulina de que Deus supriria tudo o que os filipenses

necessitassem (4:19) estava relacionada diretamente com a disposição dos

mesmo de contribuir para a obra que este realizava. (Verdadeiro ou Falso)

Verdadeiro.

89

Anexo II

Guia de Estudo

Filipenses: O coração de pastor de Paulo

Propósito

A epístola paulina aos Filipenses cumpre, a nosso modo de ver, com três

propósitos principais: Por um lado, a nível pessoal, nos põe em contato com os

pensamentos íntimos, os propósitos vitais e os acontecimentos imediatos que

condicionaram a vida desse grande apóstolo. Por outro lado, como crentes, nos

enriquece com os profundos ensinamentos doutrinais e as abundantes

exortações e conselhos que contém. Finalmente, a nível pastoral, provê, através

do exemplo e das atitudes do apóstolo, a oportunidade de apreciar como se

relacionava com seus colaboradores diretos; com os responsáveis pela igreja

em Filipos (bispos e diáconos); e finalmente com os crentes em geral.

No estudo tópico da epístola aos filipenses que apresentamos neste curso

pretendemos ressaltar de maneira sucinta estas três características.

Materiais

O presente curso utiliza a Nova Versão Internacional (NVI) que por sua

fluência e atualidade se acomoda aos propósitos do curso como base de

estudo. Convida-se, sem dúvida, os estudantes a ler a epístola em sua

integridade nas versões Joao Ferreira de Almeida RA e NTLH (“Nova Tradução

na Linguagem de Hoje”).

Objetivos

1. Conhecer dados gerais sobre a epístola aos filipenses: (autor,

propósito, destinatários, data de redação), assim como o marco geográfico e os

acontecimentos históricos que condicionaram sua redação.

2. Familiarizar-se com a pessoa do apóstolo Paulo para compreender

seus pensamentos e atitudes pessoais, assim como os princípios e valores que

regiam sua vida de serviço ao Senhor.

3. Examinar os profundos ensinamentos teológicos e doutrinais que o

apóstolo comparte nesta epístola com a congregação cristã em Filipos.

4. Aplicar à atualidade os valiosos ensinamentos éticos e exortações

pastorais que o apóstolo dirige aos filipenses.

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Metodologia

Em sua modalidade presencial, o curso tem um enfoque eclético

combinando a exposição magistral à participativa. Na modalidade on line, se

fará uso de foros de diálogo para promover a participação do estudante.

Requisitos

1. O aluno assistirá a 15 horas de aulas (presencial) ou participará de 8

foros de diálogo (on line).

2. O aluno cumprirá com os questionários ao final de cada lição.

3. O aluno se familiarizará com as leituras relacionadas com o tema.

4. O aluno participará de um projeto especial.

5. O aluno fará o exame final.

Avaliação

1. Assistência dos foros de diálogo. Para cada hora que o aluno assistiu

se lhe dará um ponto (15%). Se participar on line, para cada foro de diálogo em

que participe receberá 2 pontos.

2. Para cada questionário ao final das 8 lições, se lhe podem dar dois

pontos (15%).

3. Leituras adicionais. Os alunos do programa de licenciatura lerão 300

páginas e devem entregar um informe de leitura de 3 páginas. Os alunos do

programa de mestrado lerão 500 páginas e devem entregar um informe de

leitura de 5 páginas (20%). Recomenda-se a leitura do comentário ao Novo

Testamento de William Hendriksen.

4. Projeto especial: O estudante pode fazer um ensaio que contenha uma

análise exegética de alguma perícopa desta epístola. (30%).

5. Exame final. O aluno demonstrará seu conhecimento dos conceitos e

conteúdos dos materiais do curso (20%).

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Biografia

Natural de Las Palmas nas Ilhas Canárias (Espanha). Reside há mais de

20 anos no Brasil, onde se estabeleceu depois de realizar um périplo de vários

anos por outros países latino-americanos. Licenciado em teologia (Hokenah) e

filosofia (FATEBB) e Mestrado em Estudos Teológicos do Miami International

Seminary.

Com experiência direta na educação de crianças e adolescentes na

Espanha, Peru e Argentina, realizou obras de evangelização em vários Estados

da região nordeste do Brasil. Foi fundador do colégio cristão “Nuevo Mundo” em

Córdoba, Argentina e diretor de vários outros centros cristãos no Rio de

Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Presentemente dirige a “Associação

Cristã, Beneficente, Educativa e Cultural – CIMA” uma ONG fundada junto com

sua esposa e outros líderes cristãos em 1998 para atender as necessidades

educativas e sociais de centenas de crianças e jovens de bairro na periferia da

cidade de Fortaleza, Brasil.

Pai de dez filhos e avô de treze netos, reside com sua esposa Celia

Alonso, que é conselheira pastoral, missionária e fundadora da Associação

CIMA em Cabo Verde, África.