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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO AULA 01 Introdução Olá! Bem-vindo(a) à disciplina Filosofia da Educação. O estudo dessa disciplina pretende abordar os principais aspectos do desenvolvimento do pensamento filosófico, no Ocidente, com a preocupação de contextualizar, na história, o pensamento dos filósofos e das escolas ou tradições filosóficas. É impossível entender as contribuições das idéias filosóficas para a educação sem levar em consideração a historicidade e o contexto de sua produção. Vamos, portanto, estudar um largo período de aproximadamente sete séculos, iniciando a nossa trajetória na Grécia Antiga, em IV a.C., até a contemporaneidade. Durante boa parte deste período histórico, a Filosofia era a “ciência” que pretendia teorizar as grandes questões do homem e do mundo, tendo em vista explicar a realidade, sem mais apelar para causas sobrenaturais ou mítico-religiosas. Mesmo após o aparecimento da ciência nova, a partir do século XVI, a Filosofia continua dando relevantes contribuições para a compreensão das grandes questões que, nós, humanos somos desafiados a responder. O estudo e a compreensão das doutrinas dos filósofos e de seus sistemas filosóficos pretendem, em primeiro lugar, ajudar-nos a também pensar criticamente e a organizar as nossas ideias; em segundo lugar, os temas serão apresentados com o objetivo de percebermos as suas interfaces com o campo da educação e das teorias pedagógicas. Querido aluno, quem estuda filosofia nunca mais é o mesmo. Ao ingressar no mundo da Filosofia, desejamos desafiá-lo a caminhar conosco, a fim de encetarmos um lindo percurso ao longo do qual nos tornaremos mais ricos pessoal e intelectualmente. DO MITO À RAZÃO 1. Identificar os fatores de ordem cultural, política, econômica e social que contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga;

Filosofia Da Educação Ead Estácio

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Trata-se de anotações pessoais de estudos realizados na minha Licenciatura em História pela Universidade Estácio de Sá. Espero que seja útil aos estudantes desta ciência magnífica que é a História.

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FILOSOFIA DA EDUCAOAULA 01IntroduoOl! Bem-vindo(a) disciplina Filosofia da Educao.O estudo dessa disciplina pretende abordar os principais aspectos do desenvolvimento do pensamento filosfico, no Ocidente, com a preocupao de contextualizar, na histria, o pensamento dos filsofos e das escolas ou tradies filosficas. impossvel entender as contribuies das idias filosficas para a educao sem levar em considerao a historicidade e o contexto de sua produo. Vamos, portanto, estudar um largo perodo de aproximadamente sete sculos, iniciando a nossa trajetria na Grcia Antiga, em IV a.C., at a contemporaneidade.Durante boa parte deste perodo histrico, a Filosofia era a cincia que pretendia teorizar as grandes questes do homem e do mundo, tendo em vista explicar a realidade, sem mais apelar para causas sobrenaturais ou mtico-religiosas.Mesmo aps o aparecimento da cincia nova, a partir do sculo XVI, a Filosofia continua dando relevantes contribuies para a compreenso das grandes questes que, ns, humanos somos desafiados a responder. O estudo e a compreenso das doutrinas dos filsofos e de seus sistemas filosficos pretendem, em primeiro lugar, ajudar-nos a tambm pensar criticamente e a organizar as nossas ideias; em segundo lugar, os temas sero apresentados com o objetivo de percebermos as suas interfaces com o campo da educao e das teorias pedaggicas.Querido aluno, quem estuda filosofia nunca mais o mesmo. Ao ingressar no mundo da Filosofia, desejamos desafi-lo a caminhar conosco, a fim de encetarmos um lindo percurso ao longo do qual nos tornaremos mais ricos pessoal e intelectualmente.DO MITO RAZO1. Identificar os fatores de ordem cultural, poltica, econmica e social que contriburam para o surgimento da Filosofia na Grcia Antiga;

2. Explicar a diferena entre o discurso mtico-religioso e o discurso filosfico;

3. Explicar em que sentido o pensamento filosfico rompe com a tradio mtico-religiosa.

Na Grcia Antiga, a religio e o mito eram as fontes originrias de conhecimento. Atravs deles, os gregos tinham as respostas fundamentais para as grandes questes da existncia.A partir do sculo VI a.C., no entanto, surgiram alguns sbios que propuseram uma outra forma de pensar e de explicar o mundo. Eles passaram a utilizar os argumentos racionais (no mais os religiosos ou mticos) para teorizar a realidade a partir de elementos presentes no prprio mundo natural, sem que precisassem apelar a um mundo sobrenatural.Nesse contexto, nasce a Filosofia. A seguir, voc entender melhor esses acontecimentos.O nascimento da polis (cidade), nosculo VIII a.C., provocou grandes transformaes na Grcia Antiga.O saber deixou de ser sagrado e tornou-se objeto de discusso. Os cidados da polis, passaram a ir gora (praa pblica) para debaterem os problemas de interesse comum e para decidirem os rumos da cidade.Tal mentalidade libertou os homens das ideias de pr-determinao e dos desgnios divinos que lhes impunham o destino do qual no poderiam escapar.A poltica, por sua vez, permitiu aos cidados debaterem e traarem o seu prprio destino em praa pblica.Como voc viu na pgina anterior, a passagem de uma viso mgica, mtica e religiosa do mundo para uma interpretao racional, humana, marca o nascimento da Filosofia no Ocidente e o incio do perodo chamado Filosofia Antiga.O nascimento da Filosofia ocorreu no sculo VI a.C., nas colnias gregas daMagna Grcia (sul da Itlia) e Jnia (atual Turquia).A Filosofia, tendo como fundamento a razo (logus), estabeleceu uma nova forma de interpretao da realidade.Se antes os fenmenos eram governados por leis divinas, quase inacessveis aos humanos, com o pensamento racional, foi possvel conhecer as causas ou princpios que explicavam o mundo e, com isso, conferir previsibilidade e controle sobre os fenmenos da natureza e da sociedade humana. J no eram mais os deuses que governam o mundo e os humanos, mas sim leis intrnsecas s coisas. Tais leis davam-se a conhecer ao esprito humano que se utilizava da razo para traz-las luz. A Filosofia nasceu fincada no cho da sociedade grega, sob condies polticas, econmicas e culturais que determinaram todo o edifcio racional que fora construdo pelos inmeros pensadores.Fatores polticos, religiosos e econmicos contriburam para o surgimento da Filosofia na Grcia Antiga. Inicialmente, conhea os fatores polticos.1. As origens da Filosofia vinculam-se ao processo de consolidao da democracia grega em torno da polis.2. A cidade-estado grega era o espao legtimo e legitimador de sua liberdade, a ponto de o Estado tornar-se horizonte tico do homem grego.3. Esta era a base da cidadania grega: os cidados so a finalidade ltima do Estado, o bem do Estado seu prprio bem, sua liberdade, sua grandeza.4. A democracia grega se apoiava em uma concepo de cidadania excludente. Eram considerados cidados, apenas os homens (vares) que possuam bens ou riquezas. Portanto, estavam excludos da cidadania as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os homens pobres.Conhea, agora, os fatores religiosos que contriburam para o surgimento da Filosofia na Grcia Antiga.1. Os gregos conseguiram alcanar um patamar de liberdade religiosa muito elevado em relao a outros povos da sia Menor e do Oriente Prximo.2. Enquanto em outras naes o poder religioso, aliado s monarquias de cunho tributrio, servia para legitimar o Estado absoluto e o poder do rei, algumas cidades-estado da Grcia construram uma relativa liberdade, baseada na autoridade do Pater Familias (Pai de Famlia).3. A religio grega no se baseava em um livro Sagrado. Portanto, os gregos no tinham dogmas a serem defendidos, ortodoxia, nem heresias, ou uma casta sacerdotal. Estava aberto o caminho para o livre pensar.Veja abaixo os fatores econmicos que contriburam para o surgimento da Filosofia na Grcia Antiga.O florescimento das cidades-estado gregas deveu-se principalmente ao desenvolvimento da indstria artesanal e do comrcio. Antes disso, a Grcia era predominantemente agrria, sendo dominada politicamente por grandes proprietrios de terras. Neste contexto, mais compreensvel que cultivasse uma viso mtica do mundo, mais ligada aos ciclos do clima.O crescimento industrial e comercial fez florescerem as cidades-estado, fazendo surgir novos atores sociais, que comeavam a dominar o cenrio poltico e ameaar o poder da nobreza fundiria. nessas circunstncias que a Filosofia nasce, fazendo justificar o poder emergente de comerciantes e artesos.Vale notar que essas mudanas ocorreram primeiro nas colnias gregas da sia Menor (em Mileto, principalmente), expandindo-se, depois, para a regio da Itlia Meridional, chegando, ento, ao centro da Grcia, em Atenas. Isto, porque, estando longe do controle central, puderam desenvolver instituies polticas autnomas e desenvolver um comrcio prprio.Entenda melhor o discurso mtico-religioso na Grcia Antiga1. Os gregos cultuavam muitos deuses. Estes mltiplos deuses estavam no mundo e faziam parte dele. 2. Diferente dos judeus ou dos cristos, os gregos no desenvolveram a ideia de um Deus criador, transcendente, absolutamente separado do mundo criado, cuja existncia deriva e depende inteiramente dele.3. Os deuses gregos nasceram no mundo. A gerao dos deuses deu-se ao mesmo tempo da gerao do universo. Os deuses e o mundo, a partir de uma espcie de caos primordial, foram diferenciando-se, ordenando-se, at tomarem a sua forma definitiva de cosmo organizado.4. A gnese dos deuses e do mundo operou-se a partir de potncias primordiais, como o Caos e a Gaia (terra), donde saram, ao mesmo tempo e no mesmo movimento, o mundo, tal como pode ser contemplado pelos humanos, e os deuses que presidem a ele invisveis na sua morada celeste.5. H, portanto, o divino no mundo, assim como o mundano nas divindades. O homem grego vive num mundo cheio de deuses e, por isso, no separa natureza e sobrenatureza, como dois domnios opostos.Como voc viu anteriormente, a religio dos gregos no se apoiava em um Livro sagrado, fonte da revelao divina para os humanos, e no havia uma verdade que se encontrasse, de uma vez por todas, vertida em texto. Como consequncia, tambm no havia dogma ou ortodoxia, nem profetas ou messias, tampouco uma casta sacerdotal. Talvez, por causa destas caractersticas da religio dos gregos, vigorava grande liberdade para pensar e para divergir, o que fundamental para a Filosofia.Ora, ento, qual era a fonte de conhecimento sobre os deuses: seus nomes, suas genealogias, seus atributos, suas aventuras, seus respectivos poderes, seu modo de agir, as honras que lhes eram devidas etc.?Tais saberes sobre os deuses eram veiculados por narrativas eminentemente orais. Ou seja, por histrias que eram transmitidas de boca a ouvido, e que passavam adiante, de boca em boca, atravs das fbulas contadas pelas mulheres s crianas nos lares e das vozes e dos cantos dos poetas ao pblico em geral. Mais tarde, no sculo VII a.C., esta tradio oral foi escrita por Hesodo em textos que ficaram conhecidos como Teogonia e Cosmogonia (respectivamente, a origem dos deuses e a origem do mundo). Esta tradio de base oral constitui o que chamamos de mito.Compreenda, agora, o discurso filosfico na Grcia Antiga.A princpio, os filsofos pr-socrticos, tambm chamados de "naturalistas" ou filsofos da physis, tinham como escopo especulativo o problema cosmolgico, ou cosmo-ontolgico, e buscavam o princpio (ou arch) das coisas.Os filsofos pr-socrticos. Como sugere o nome, os filsofos pr-socrticos so aqueles que antecedem a Scrates. Contudo, essa diviso se d mais propriamente devido ao objeto de sua filosofia (o interesse pelo estudo da natureza) em relao novidade introduzida por Scrates, do que em relao cronologia. J que, temporalmente, alguns dos ditos pr-socrticos so contemporneos a Scrates, ou mesmo posteriores a ele (como no caso de alguns sofistas).Physis. Palavra grega que significa natureza - entendendo-se este termo no em seu sentido corriqueiro, mas como realidade primeira, originria e fundamental, ou como o que primrio, elementar e persistente, em oposio ao que secundrio, derivado e transitrio.Arch. Para os filsofos pr-socrticos, a arch (origem) seria um princpio que deveria estar presente em todos os momentos da existncia de todas as coisas; no incio, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princpio pelo qual tudo vem a ser.Cada um dos filsofos pr-socrticos sugeriu um elemento primordial (princpio) ou causa de todas as coisas que compem a realidade fsica.Tales de Mileto - a gua Anaximandro de Mileto - o aperon Anaxmenes de Mileto - o ar Xenfanes de Clofon - a terra Heraclito de feso - o fogo Pitgoras de Samos - o nmero Demcrito de Abdera - o tomo Empdocles de Agrigento - os quatro elementos (terra, gua, fogo e ar).Em um segundo momento, surge a sofstica e o foco da filosofia muda do cosmo para o homem e o problema moral.Como voc deve ter percebido, o pensamento filosfico rompeu com a tradio mtico-religiosa na Grcia Antiga.Compreenda um pouco mais sobre a Mitologia Grega pesquisando sobre esse tema (na internet, em livros etc.) e aproveite para ampliar seus conhecimentos.Sntese da Aula 01 -Do Mito Razo1. Nessa aula, voc conheceu o contexto histrico, poltico, social e cultural da Grcia, no sculo VI a.C., perodo em que surge uma nova forma de pensar e de conhecer o mundo: a Filosofia.

2. Identificou as narrativas mticas e religiosas como forma fundamental de conhecimento do mundo, antes do surgimento da Filosofia.

3. Percebeu que o discurso filosfico prope uma ruptura com o mito, na busca de compreender e explicar a realidade atravs da linguagem racional.

AULA 2 Scrates, Plato e Aristteles1. Compreender o novo marco da Filosofia Antiga iniciada por Scrates;2. Identificar as ideias fundamentais dos filsofos Scrates, Plato e Aristteles;3. Conhecer os conceitos fundamentais da metafsica platnica e aristotlica.