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Flor do Deserto
Primeiro Ato – O Projeto
Ja eram duas da manha, o stress pesava em seus ombros feito uma
tonelada de concreto, o calor fazia suar e a umidade impedia-o de secar, a
última garrafa de Bourbon jazia seca num canto há horas, “preciso de ar... e
a droga da carta do projeto já era para ter sido entregue pra mim...” pensou
ele, carcomido pela ansiedade e irritado com tudo por aparentemente
motivo nenhum, e empurrando para trás a cadeira de rodinhas
nervosamente, e no processo espalhando mais latinhas de energético e
cerveja, ele se levantou da cadeira, e abaixou a tampa do laptop, chutou
mais latinhas e uma muda de roupa suja pra um canto e puxou uma garrafa
de bebida e entornou, “merda, vazia.”.
72 horas passaram desde que chegara de São Paulo, no Brasil e ele
estava tentando ficar mais calmo para a reunião com o cara da Agencia
Espacial, mas tudo deu perceptivelmente errado. Destilados de segunda
mão e energéticos não combinam, mas de onde veio essa ideia idiota
mesmo? Deixou-a de lado e foi se deitar na cama toda amarrotada, reparou
no ventilador girando todo torto, em cada gota de suor que escorria pela
testa e em todas as falhas de projeto até agora. Lembrou-se da namorada
que o deixou semana passada, e da ultima reunião com o pessoal da
EMBRAPA, onde ele pedira mudas para plantar em Marte, plantas da
caatinga eram,de certa forma, resistentes aos solos cheios de ferro.
Mudou-se de posição na cama uma, duas, três vezes e não conseguiu
dormir. Levantou da cama “maldito projeto... se bem que ela não vai
longe... o Projeto não é tão grande assim... Um Foguete, um foguete, ah
não!”, pensamentos aleatórios atacavam como feras famintas, o medo de
voar lhe dava tapas na cara de tempos em tempos. O Projeto de que Berto
Russel era engenheiro chefe e provavelmente a única pessoa envolvida
realmente com ele, era o primeiro passo do homem em direção à
colonizaçãode Marte, o planeta vermelho.
Russel ponde consigo mesmo, porque a raça humana não ficou
quieta? Era mais fácil manter esse planetinha que ir para um outro. "Mas o
que? Russel seu animal, para de pensar de forma derrotista, tudo tem que
dar certo!"
Russel tinha sido chamado, às pressas, para dar explicações mais
detalhadas do Projeto à uma banca avaliadora da Agencia Espacial, então
teve de encurtar inesperadamente suas férias no Brasil, e foi para Huston,
Texas. Voltou para o Brasil para negociar com uma equipe de pesquisa
botânica. Em seguida já num outro avião, o da Agencia, que foi busca-lo,
voou para Cabo Canaveral, aonde iria para uma reunião com o diretor de
projeto e seguinte treinamento.
O que não contara em nenhuma de suas reuniões era seu pavor
ilógico de voar. Todos seus outros voos anteriores foram feitos com ele
entupido de lexotan.
E agora, ele se encontrava num muquifo qualquer próximo da
estação espacial de cabo Canaveral, era o único dinheiro que havia tido
tempo de acumular na conta do cartão. E a Agencia não tinha se dignado
nem sequer a dar um alojamento de astronauta para ele, “bando de mãos-
de-vaca, tomara que todos ardam no inferno” pensava.
Baseado na criação e de uma estufa num vale de Marte, Oasis, como
era nome oficial do projeto, tinha o tamanho de dez campos de futebol e o
formato de uma letra “T”, numa primeira fase o vale seria apenas
‘tampado’ com material transparente, provavelmente de plexiglass, e
serviria para criar musgos que reciclariam material orgânico e gás
carbônico, ou seja, lixo trazido da Terra alimentaria os microrganismos já
presentes no lixo, essa decomposição da matéria orgânica alimentaria os
musgos que reciclariam o oxigênio e aumentariam a umidade relativa do ar
no Projeto em seguida, essa água seria condensada e reutilizada para
consumo humano. Não tinha como ter uma primeira fase mais simples. Na
continuação seriam criados organismos vegetais mais complexos que
alimentariam a tripulação do Oasis.
Russel o tinha desenhado como forma de competir por um
financiamento da Agência Espacial, como ele achava que tinha azar
sempre, resolveu participar, mas a ideia do oásis ganhou, provavelmente
por ser a mais barata, e ele ia para o espaço; mais especificamente ele iria
morrer de pânico. Ele teria a posição de mais responsabilidade, comandaria
toda a equipe do começo ao fim da colônia.
Desde que tinha se formado no MIT, ou no que restara dele desde a
Ultima Guerra, ele nunca fora tão brilhante, e nem sempre as coisas tinham
dado certo, mas dentro dos alunos de sua turma, ele seria o único que iria
para Marte, todos os outros tinham família filhos e empreguinhos idiotas.
E ir para Marte o aterrorizava de uma forma que não havia
precedentes nos manuais de psiquiatria. Toda a espécie dependia dele, a
radiação carcomia e enferrujava o planeta e não havia mais tempo.
Mas não daria pra trás agora, não agora que tinha sido selecionado.
Saiu do apartamento e foi andar por cabo Canaveral na madrugada. Tão
tarde que nem o sol tinha saído e ao mesmo tampo tão cedo que a lua já não
estava mais no céu.
Por volta das sete da manha volta ao apartamento e encontra a tão
esperada carta que o convoca para o treinamento e posterior reunião para
acertar os detalhes do lançamento, “pera aí tem alguma coisa errada”.O
pânico toma conta por alguns segundos, o selo da carta era desconhecido,
mas os caracteres cirílicos indicavam possivelmente Rússia.
Ele rasga aceleradamente o lacre da carta e puxa um cartão com um
código "QR", levanta a tampa do laptop, e mostra o cartão pra webcam
colocando sua senha habitual, um holograma se forma logo acima do cartão
como se fosse uma barrinha de completamento e em seguida um vídeo abre
direto do Youtube e o chefe da Agencia Espacial Russa, em russo e sem
legendas, dizia coisas aparentemente sem nexo, em seguida na telinha do
vídeo uma foto do já conhecido foguete em que ele embarcaria o
Conqueror – I, primeiro foguete desenhado para viagens longas, “hm...
acho que eles querem uma fatia para eles mesmos”, sente um repentino
mal-estar.
Ele ouve um ruído vindo da fresta da porta “aahhh! Agora sim a
carta certa, hoje ás ‘800’ horas no escritório deles”, olhou para o relógio
sete e meia “Não posso esquecer-me de perguntar pra ele sobre esse cartão
dos russos”, se apressou para ficar apresentável, mesmo com o estomago
embrulhado, pegou o laptop e saiu correndo pela porta.
Russel chegou ao escritório as oito e quinze bem no momento em
que Robert Aron Allen, chefe de treinamento, terminava de se despedir de
um engravatado com sotaque estranho, “Será russo?”, mas não dava pra
saber com certeza.
- Sr. Russel, bom dia, entre e sente-se – disse num tom quase
amigável e com um aperto de mãos.
- Bom dia, entes de mais nada eu tenho uma perg...
- Depois discutiremos todas elas – cortou Aron - Sente-se, aceita um
drinque sr. Russel? – apontando para um globo terrestre aberto próximo á
janela.
O escritório era no Térreo, iluminado por lâmpadas embutidas no
teto, fazendo parecer que o teto inteiro era uma lâmpada, tinha paredes
brancas com alguns diplomas e certificados, um uniforme antigo com o
logo de uma agencia que havia anteriormente, dois armários de madeira,
aparentando ser madeira maciça, o que era raro numa época em que tudo é
plástico, uma mesa bem grande no mesmo estilo dos outros moveis que
dominava a vista local, era imponente, e provavelmente pertenceu a quem
tinha vindo antes, dos idos de 1900, quando madeira ainda existia e
também o tal globo terrestre com bebidas dentro. Clássicos, em suma.
- Não, obrigado – o seu estomago parou de revirar. Ele devia ter
aceitado, fazia tempo que não tomava nada.
- Sente-se, por favor. – disse num tom profissionalmente seco,
Russel se senta e põe o laptop sobre a mesa.
Então, Aron tira uma barrinha metálica branca da gaveta ao seu lado,
põe em cima da mesa impecavelmente arrumada e retira um chip de
memoria do bolso do paletó e encaixa na entrada apropriada do
aparelho.Imediatamente surgem os dados armazenados no chip numa tela
holográfica levemente azul que se projetou para cima. Russel leu, apenas
por cima, que eram dados sobre a viagem.
- Sr. Russel, o sr. já esta sabendo que terá de enfrentar o rigoroso
treinamento para astronauta?
- Treinamento? Eu achei que...
-Achou errado sr. Russel – cortou rispidamente – você será
transferido para o campo de treinamento da Agencia aqui mesmo em cabo
Canaveral, onde poderá se apresentar aos outros homens e mulheres dessa
missão. E com sorte,você nao morre no primeiro dia. - "esse vai dar
trabalho".
- Mas a nave... – nesse ponto ele percebe que não vai conseguir dizer
nada do que queria dizer. Aron brilha de tanta energia com que ele fala,
Russel apenas relaxa na poltrona e ouve. Ele queria o drinque.
- A nave não esta pronta, eu sei. Você se lembra do homem que saiu
a pouco da minha sala?
- Sim...
- Então ele era da agencia russa, responsável parcialmente pelo
projeto do foguete que te leva pra Marte. Ele disse que não vai dar os três
astronautas que prometeu. Vai dar só um – seus olhos demonstraram tanta
tensão que pareciam em chamas – Você será indispensável, infelizmente.
Nesse ponto da conversa, Russel já sabia que iria a Marte antes
mesmo de sentar ali. Mas pelo modo frustrado que Aron falava imaginou se
ele mesmo não teria se candidatado de alguma forma para o projeto. E sido
rejeitado.
- Dessa forma temos apenas mais um ano para te treinar – nessa hora
ele tomou conta de si próprio e relaxou na cadeira – Haverá mais uma
pessoa além de você no foguete, Karina B. E sim, o Russo me disse que
você foi avisado sobre ela – “então era isso que eles queriam com o vídeo
em russo?” - E estamos atrasados com seu treinamento, hoje mesmo você
já será transferido para os campus da academia. E quero te ver correr
amanha às 600 horas. Eu mesmo me encarregarei do seu treinamento.
Russel sabia que astronautas de verdade passavam anos por um
treinamento intenso que filtrava e passavam somente os melhores, mas
achava que seria reprovado nos testes físicos, afinal nunca fora um atleta na
vida. E então passou uma imagem de algum acidente aéreo em sua mente e
o medo correu pela espinha levantando pelos por onde passava.
- Sr. Allen, não sei se consigo passar pelos testes f...
- Não há testes finais sr. Russel, apenas vamos te avisar do que
poderá ser feito em caso de emergência, e deixamos que a Russa faça o
difícil, achou que depois de se candidatar e ganhar você não iria para o
espaço? Não podemos ter mais astronautas e nem gastar mais do que já
gastamos com o seu projeto – ‘seu’ foi dito com certo peso - Achou que
jogaria simulador em escala real? Quando o Sr. assinou o contrato de
participação no projeto, o artigo 18 paragrafo 10 subparágrafo 7, afirma, e
o sr. Assina em baixo que, “O candidato entende que poderá ser obrigado a
ir para o espaço na falta de tripulação”, o Sr. mesmo que assinou o
contrato, está bem aqui – tocando o canto da tela que abriu um resumo do
contrato e uma imagem da sua assinatura eletrônica.
Os órgão internos de Russel lutavam entre si, e o coração queria sair
correndo pela orelha. "Cade o drinque quando a gente precisa dele?"
-Mais alguma pergunta?
- Não... Não... – olhou para baixo e tentou não desmaiar.
- Então te vejo amanha.
Tocando um ponto de uma tela touchscreen disfarçada na sua mesa, a
secretaria abriu a porta um instante depois, sorriu e fez um sinal para segui-
la pelo corredor. Russel pegou seu computador foi com ela pelo corredor
iluminado por lâmpadas alógenas embutidas.
- Então, teve um bom momento com Allen de ferro? – a primeira
coisa que Russel notou foram os seios da secretaria apertados dentro do
sutiã, dessa forma pareciam grandes. E em seguida seu crachá “Magda R.
Vegas” Ela estava abraçando uma pasta cheia de coisas e parecia
ironicamente feliz. Seu cabelo mal pintado de preto estava preso num
coque bem apertado com dois hashis segurando tudo. "Não se fazem mais
cabeleireiros como antigamente".
- Allen de ferro, hehehe, sim, eu tive um bom momento, ele me
chamou para uma conversa, mas só ele falou, parecia muito estressado
internamente – toda a reviravolta estomacal passou e ele se sentia bem,
desacelerou infinitesimalmente para olhar atrás. Resultado: nada mal.
Continuou andando normalmente. E o drinque não parecia nada mal
ainda. Ele precisava parar de tentar fugir dos problemas, agora que eles
iriam aparecer de baldes.
- Ah, isso só aconteceu porque ele esta defendendo esse projeto com
unhas e dentes diante dos investidores que queriam cancelar o projeto,
mesmo com a Terra radioativa, estão com medo de dar errado. Todos os
astronautas desistiram, ou quase sofreram de depressão quando souberam
que é uma viagem sem volta. Ainda se tudo que eles quiserem for mesmo
dado, mais da metade de Marte tem dono, seis empresas ao todo querem
um pedaço de Marte.
- Hum... Interessante, como você sabe de tudo isso? – “desistiram?
Mas eles não são subordinados á força aérea? Não deviam obedecer a
ordens de ir independente do que quisessem? E o que as empresas querem?
Já não é o suficiente terem alimentado toda essa última guerra?” espantou o
pensamento.
O corredor acabou e se abriu para os campus de treinamento, que
estava vazio,ao longe se podia ver o enorme monólito que era a
espaçonave, Conqueror - 1, mas que ainda estava em construção, várias
partes do esqueleto estavam expostas.
- Eu controlo o PDA do Aron. – disse com um sorrisinho e
mostrando um PDA que tinha tirado da pasta – aqui estamos – disse ela
destrancando uma porta, com uma chave tirada de um dos bolsos do tailleur
que estava usando – Seu quarto pelos próximos três anos.
- Três? Aron disse apenas um.
- Então será apenas um – disse com um meneio de ombros - Queria
saber o que ele vai fazer com você em apenas um ano. A Conqueror nem
está pronta ainda.
Suor frio surgiu na testa e um calafrio correu pela espinha mais uma
vez “a nave vai explodir, eu vou morrer aqui! Quero meu drinque!”
enquanto o pensamento assaltava seu cérebro.
-você esta bem sr. Russel?
Tontura e de repente tudo foi ás escuras. Acordou numa cama de
solteiro num quarto simples, com apenas uma janela, uma mesa de
cabeceira sem gavetas e com abajur aceso sobre ela, com Magda, a
secretaria de Aron, e um homem de branco, estranhamente parecido com
seu pai, tirando sua pressão.
- Ele não deverá ir ao espaço Magda. Ele... Oh! Veja ele acordou.
- Eu morri? – disse com voz meio grogue.
- Não, você apenas sofreu um leve acidente, filho – o largo sorriso de
seu pai estava presente então ele se sentiu bem.
Olhou para baixo e não viu suas pernas, e desespero bateu de novo,
pela portinhola da porta entrou Brick, seu Jack Russel Terrier de quando
tinha nove anos veio latindo e abanando o rabo.
Olhou para os tocos de suas pernas, em seguida tentou alcançar os
próprios dedos, quando nem sequer conseguiu senti-lo, veio a tontura, o
quarto girou varias vezes e ele estava no chão na frente da porta do quarto
com Magda, dando tapinhas em seu rosto suado.
-Sr. Russel! Sr. Russel! Você esta bem? – ouviu passos apressados
quando dois homens de branco entraram no corredor.
-Eu achei melhor em todo caso chamar os médicos da base, você
desmaiou.
- Assumimos daqui Magda, obrigado – disse um deles batendo
continência.
Russel olhou para baixo e viu que tinha se molhado “merda...”. Os
médicos o ajudaram a se levantar e a se deslocar ao alojamento.
- Obrigado, eu assumo daqui. – disse ele secando o suor da testa e
ficando de pé novamente, eles se despediram com aceno e dizendo que
qualquer problema era apenas pedir.