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Metrô 2016: um projeto fora dos trilhos Entenda por que a Linha 4 deve ser construída em dinâmica de rede, ao invés do modelo ‘tripa’ proposto pelo governo Abril 2012 Ano 11 N o 98

Folha Carioca / Abril 2012 / Ano 11 / nº 98

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Edição abril 2012

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Metrô 2016: um projeto fora dos trilhos

Entenda por que a Linha 4 deve ser construída em dinâmica de

rede, ao invés do modelo ‘tripa’ proposto pelo governo

Abril 2012 Ano 11 No 98

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editorial

A Folha Carioca deste mês está nos preparativos para sua centésima edição. Serão cem edições em que planejamos, buscamos parceiros, estudamos a melhor forma de fazer mais bonito e melhor. Recebemos elogios, erramos e acertamos, mas sempre com entusiasmo e prazer em fazer a revista. Para celebrar este fato a Folha Carioca apresenta um concurso para você, leitor, escrever conosco uma página. E se você for o escolhido tem prêmio garantido, pois seu texto, foto, ilustração, poema ou seja lá o que você fizer muito bem, vai estar estampado no número 100. Participe!

Nossa matéria de capa trata de um assunto que afeta todos os cariocas: me-trô. Se você desconhece o que está acontecendo com a construção da Linha 4 e quer saber mais sobre “O metrô que o Rio precisa”, leia a matéria, discuta com seus amigos, família, colegas de trabalho. O carioca mete o bedelho em tudo e em torno deste assunto foi formado um movimento com apoio de vinte e sete associações de bairros, organizações civis, especialistas em transporte, profissionais de várias áreas, técnicos, uma frente parlamentar e o Ministério Público estadual. O grupo estudou e aprofundou discussões sobre as melhores soluções para a ligação da Barra com a Zona Sul. Nenhuma discussão foi leviana, houve muita seriedade. Porém o governo do Estado não considerou a opinião do movimento e afirma que não mudará o projeto. Quem pagará a conta, mais uma vez, será o contribuinte. Intere-se, leia, discuta e se manifeste.

Neste número apresentamos uma nova colunista que vai escrever sobre moda e estilo. Na página 6, Dayse Máximo fala do jeans, uma roupa democrática.

Nossos colunistas estão cada dia melhores. Não deixe de ler o Alexandre Brandão, Iaci Malta, Gisela Gold, Oswaldo Miranda, Lilibeth Cardozo e a sempre competente, profunda e correta crítica literária de nosso colaborador Haron Gamal. Neste número ele nos apresenta uma resenha do livro “Variações em vermelho”, de Rodolfo Walsh. Vale conferir.

Em entrevista, Nalbert, ex-atleta de vôlei de quadra e de praia aconselha o esporte como caminho para jovens de todas as classes sociais, afirmando: “A grande virtude dos atletas é ser determinado, disciplinado e buscar os seus sonhos”.

A coluna “Quem é quem” mostra todo mês um morador do Rio, carioca ou não, que não é estrela de TV ou das revistas, mas que brilha na constelação dos tipos que iluminam o Rio de Janeiro. Neste número, Arlanza Crespo nos presenteia com a apresentação de Erike de Freitas, um paulista que já cariocou e faz arte com costura e poesia.

Boa leitura!

A polêmica Linha 4 do metrô

FundadoraRegina Luz

EditoresPaulo Wagner / Lilibeth Cardozo

DistribuiçãoGratuita

JornalistaFred Alves (MTbE-26424/RJ)

ColaboradoresAlexandre Brandão, Arlanza Crespo, Dayse

Máximo, George Sauma Jr., Gisela Gold,

Haron Gamal, Iaci Malta, Lilibeth Cardozo,

Oswaldo Miranda, Sandra Jabur Wegner,

Tamas

Captação de AnúnciosAngela: 2259-8110 / 9884-9389 Marlei: 2579-1266

O conteúdo das matérias assinadas, anúncios e informes publicitários é de responsabilidade dos autores.

Capa iStock Photo

Diagramação Andressa Luz

Projeto gráfico e arteVladimir Calado ([email protected])

Revisão Petippa Mojarta, Marilza Bigio

2295-56752259-81109409-2696

ENTRE EM CONTATO CONOSCOLeitor, escreva pra gente, faça sugestões e comentários. Sua opinião é importante.

[email protected]

Leia a edição pela internet: www.folhacarioca.tk

índice

colunas

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5

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05 Iaci Malta06 Dayse Máximo08 Sandra Jabur Wegner09 Lilibeth Cardozo10 Ana Cristina de Carvalho

11 Alexandre Brandão18 Oswaldo Miranda22 Tamas22 Haron Gamal23 Gisela Gold

Quem é quem

Erick de Freitas

Iaci Malta

Existe vida após a morte?

Moda e Estilo

Jeans

Garimpo cultural

Vídeo-concerto no Planetário

Atividades aquáticas

Artroplastia de quadril

Capa

A polêmica Linha 4 do metrô

Espaço Oswaldo Miranda

Em favor da civilidade

Saúde

UTI – Unidade de Terapia Intensiva

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quem é quem

Um acaso, um encontro, um vestido

Quando eu conheci o Erike parecia que nós já éramos amigos há muitos anos. Foi no Rio Senac Fashion, evento que aconteceu em 2010 na Marina da Glória. Me apaixonei pelas roupas que ele fazia, misturando versos com fotos antigas, costurando e alinhavando, impossível descrever. Começamos a conversar e descobrimos que gostávamos das mesmas coisas. Ele falava da sua paixão pela Clarice Lispector e eu dizia “eu também”. Ele falava do seu amor por Pina Baush e eu dizia “eu também”. E assim foi por mais de uma hora.

Aí eu encomendei um vestido com versos de Fernando Pessoa, trocamos e-mails, mas nun-ca mais nos vimos. Um dia voltei a encontrá-lo na Feira do Lavradio. Ele disse que meu vestido estava pronto, mas não me deu. Esperei mais alguns meses até que ele me ligou, estava no Leblon, perguntou se podia passar lá em casa. Foi, levou umas blusas lindas, mas nada do ves-tido prometido. Eu disse que tinha urgência, pois ia viajar e que ele podia fazer o tipo de vestido que quisesse, eu confiava. Mas eu, na minha santa ignorância, achava que um vestido era algo muito simples de se fazer, só costurar, bordar e pronto. Me enganei totalmente e foi quando ele me contou sua história. Tudo começou quando ele estava andando pelas ruas da Lapa e encontrou uma caixa de fotografias em preto e branco, e junto com ela várias cartas e postais do mundo todo. Levou para casa, colocou sobre a mesa e começou a olhar com calma. Percebeu então que todas as pessoas que estavam nas fotos eram amigas e parentes. “Conforme lia

as cartas mais sonhador eu ficava”, me disse. Então, Erike pegou uma linha e uma agulha e costurou as fotos, cartas e criou um grande painel de reencontro. “Fui costu-rando e bordando uma por uma, e a sensação era a de que estava costurando a minha história. Sentia como se estivesse costurando meu corpo, minha alma. E no momento em que olhei para minha camisa e cortei um pedaço dela prá costurar junto com as fotos, algo mágico aconteceu: descobri que era preciso me costurar, pois só assim eu ia conseguir me encontrar nesse mundo novamente e acreditar na vida. Quando terminei de costurar aquele imenso painel de fotografias, parecia que retor-nava de um túnel do tempo, e deste retorno eu comecei a viver, costurando tecido e trabalhando com isso para viver”.

Hoje, dia 29 de março, Erike me entregou o vestido. Nossa! Exatamente como eu sonhei!

Versos de Fernando Pessoa bordados em ver-melho, fotos costuradas, marcas de pegadas sobrepostas, indescritível! Aí foi que eu descobri o porquê da demora. Um vestido feito por ele vem junto com todos os sentimentos, são obras únicas, costuradas com emoção!

Esse “Quem é quem” é diferente, não senti necessidade de dizer que ele se chama Erike de Freitas, que nasceu em Jacareí (interior de São Paulo) em outubro de 1973 e que mora em San-ta Teresa. Quem quiser realmente encontrá-lo vai conseguir, como eu, e com mais sorte ainda vai ter um vestido que é uma obra de arte!

Arlanza Crespo

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Não se assustem, eu não me proponho dar nenhuma resposta para essa pergunta. Na verdade resolvi escrever sobre essa pergunta simplesmente porque percebi que tem sido um assunto muito tratado nas séries da TV a cabo.

Tudo começou quando pensei que pelos temas das séries na TV a cabo, documentário ou ficção, se podia ter uma ideia daquilo que mais atrai as pessoas. Ou porque a TV ‘faz a nossa cabeça’, ou porque o que mais nos interessa é exatamente o que promove as escolhas dos produtores dessas séries. Provavelmente o que ocorre é uma atuação desses dois polos.

Assim, parecendo que nada tenho para fazer, comecei a contar os programas em exi-bição, classificando-os pelos temas. Há as séries investigativas que, cada vez mais se utilizam do conhecimento científico; há as “de médico”, que sempre mexem com nosso medo da doença e

Existe vida após a morte?

[email protected]

Iaci Malta

da morte; há também as científicas, que muitas vezes manipulam o público, levando-o a crer em ‘verdades da ciência’ que não passam de conjecturas ou modelos de um possível (nem sempre) funcionamento do universo – quase sempre envolvendo a chamada Física Quântica, que parece ser especialmente atraente (pois quase ninguém entende, e parece explicar tudo que não entendemos). Acreditam que há até uma teoria de que a alma humana resultaria de ‘fenômenos quânticos’?

Atualmente há várias séries que tratam das profecias, tema candente de 2011, que anun-ciam o fim do mundo. Aliás, numa dessas, ouvi a seguinte pérola do tesouro dos roteiristas: “os maias não só faziam as profecias, mas também as faziam acontecer!!!”.

Mas quero mesmo falar sobre as questões básicas de que tratam as séries sobre a vida após

a morte: existe vida após a morte? Existe uma alma que sobrevive à morte do corpo físico? E o que quero falar é muito simples, muito óbvio, mas até agora eu não havia pensado nisso e como achei engraçada - e um pouco irônica - minha conclusão óbvia, resolvi escrever sobre ela.

Aqueles que acreditam em vida após a morte não só nunca serão surpreendidos por descobrir que estavam equivocados, como também talvez possam se rejubilar por terem acertado as respostas dessas perguntas que acompanham o ser humano há tanto tempo.

Por outro lado, aqueles que acreditam que tudo termina com a morte do corpo físico, não só poderão ser surpreendidos ao descobrirem seu equívoco, mas, caso tenham acertado as respostas, nunca poderão ter a gostosa experi-ência de pensar, “eu estava certo”.

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Jeans: a única roupa democrática

Olá, eu sou Dayse Máximo. Estudei moda no Rio de Janeiro e sempre trabalhei com essa coisa cheia de bossa e criação que é a moda. A partir de agora, todos os meses, vou escrever alguma coisa sobre o assunto. Eu adoraria que vocês me enviassem perguntas, sugestões de temas ou pedidos de dicas. Lógico que não vou agradar a todos, pois, como a moda, cada um tem seu estilo, seus gostos, suas pre-ferências. Mas eu queria tentar fazer uma “passarela” de comunicação entre a Folha Carioca, leitores e as coisas que aprendi. Vamos tentar? Neste mês, para começar, escolhi falar sobre o jeans, já que quase todo mundo tem um.

Vestir-se é muito mais que cobrir o corpo. Diferentes povos revelam em suas roupas um estilo próprio e a roupa, ao longo da história da civilização humana, passou a ser um diferencial de classe e um traço marcante de identidade cultural. Atualmente a calça jeans é vista em todo o mundo nas ruas, avenidas, vilas ou lugares distantes dos gran-des centros. Nas regiões urbanas, na casa de todos, cada membro da família tem ao menos uma calça je-ans. Com diferentes estilos, marcas e preços, ela é o item mais comum na indumentária de todo carioca. Uma calça jeans e uma camiseta vestem a maioria da população. Para o trabalho ou lazer ela é a mais democrática vestimenta do brasileiro, bem como de quase todos os povos do mundo, com exceção dos chineses e indianos.

O jeans surgiu da necessidade de uma roupa resistente para os trabalhadores dos garimpos ameri-canos. O tecido de lona aprovado recebeu arremates de metal, passando a ser usado como uniforme fabril ou em qualquer atividade que exigisse roupas resis-tentes. Com o passar dos anos, sofreu grandes trans-formações e serviu para representar os movimentos de diferentes épocas. Nos anos 50 a juventude, embalada pelo rock and roll, adotou o jeans quase como uniforme. Nas décadas de 60 e 70 ele passou a ser usado como símbolo de rebeldia contra as roupas convencionais. O jovem daquela época não queria

que o seu jeans fosse igual ao dos seus pais. A partir daí começou a sofrer muitas transformações, tanto nas lavagens como nas modelagens. A clássica “five pockets” começou a mudar. Nos anos 80 começou a ser usado por grandes estilistas como Calvin Klein em suas coleções e também por marcas famosas como a Fiorucci. A partir daí o jeans virou tanto roupa de uso social quanto de luxo e seus preços começaram a subir. Na década de 90, torna-se muito mais sensual com o uso do elastano no tecido, o que

possibilitou também vários novos modelos e muito mais aderência à silhueta. A modelagem das calças baixou radicalmente a cintura e os umbigos ficaram à mostra, aumentando a sensualidade entre os jovens.

Nos tempos de hoje o jeans apresenta uma di-versificação enorme nas formas, lavagens e adornos. No passado só se tinha uma ou duas calças jeans no armário e elas eram basicamente roupa de trabalho e de jovens. Atualmente a variedade enorme de modelos deu opções para diferentes silhuetas, idades e ocasiões para usar, aumentando cada vez mais a sua participação no guarda-roupa.

O jeans é feito pra todo o mundo; não elege sexo, cor, idade ou condição social para ser usado, daí a consideração de chamá-lo de democrático.

Aí vão alguns dos seus modelos:Tradicional - cintura no lugar e pernas de corte

afunilado. Já foi chamada de “five pockets” (cinco bolsos), três na frente e dois atrás, uma referência à pioneira 501 americana da Levi’s. Por seu corte acompanhar as linhas do corpo, costuma vestir bem a maioria das pessoas.

Antifit - modelagem da 501, o primeiro modelo da Levi’s. Tem botões ou zíper, adaptada à silhueta do consumidor, com cintura baixa, quadril deses-

truturado e corte reto nas pernas. Como o nome diz, não é um jeans de caimento perfeito; fica com pequenas sobras no quadril e cavalo. Tem pontos a favor: o con-forto e o estilo.

Bootcut (corte para botas) - uma variação do antifit, tem a perna um pou-co mais larga do joelho para baixo, para facilitar o uso de botas para dentro da calça.

Semibaggy - tem cin-tura no lugar, quadril largo e corte da perna ligeiramente afunilada, de cintura fina e quadril largo.

Tight fit ou slim fit: (caimento justo, aper-tado) - com cintura baixa, tipo Saint-Tropez, marca

bem os quadris e tem as pernas justas, com corte afunilado ou reto.

Cigarrete - modelagem ajustada ao contorno do corpo, pernas justas e cintura baixa. Algumas versões usam a mistura de jeans com lycra. O resultado é uma calça ainda mais agarrada ao corpo.

Oversized (tamanho exagerado) - também conhecida como “boyfriend”, é o jeans bem folgado. Suas formas amplas não favorecem as mais baixas (achatam a silhueta) nem as gordinhas (parecem ainda mais gordas). Base extra dimensionada de cintura larga, quadril desestruturado e pernas amplas.

Skinny - modelagem bem justa, principalmente abaixo do joelho. Parecida com a legging, porém de tecido jeans

Na próxima edição darei dicas de uso.

Dayse Má[email protected]

moda e estilo

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novidades serviços e entregas

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Artroplastia de quadril x hidroterapia

[email protected]

Às vezes, a pessoa claudica (manca, no linguajar po-pular), mesmo após a cirurgia, pois ficou muito tempo neste padrão anteriormente. É necessário que se faça a reeducação da marcha na piscina, que será transferida para o solo. A natação, após a alta médica, é excelente como exercício aeróbico pois não causa impacto algum e movimenta todos os músculos do corpo.

Uma vez procedida a intervenção cirúrgica adequa-da, implantada a prótese correta e de boa qualidade, e realizados os adequados procedimentos de reabilitação, retoma-se à vida normal - caminhar, dançar, fazer trilhas, ginástica etc. É só evitar atividades de impacto para não diminuir a vida útil da prótese.

Dúvidas sobre o assunto podem ser esclarecidas através do e-mail

[email protected]

Artroplastia total do quadril é a substituição da articulação coxofemural entre o fêmur e a bacia. Esta pode ser constituída de diversos materiais, tais como titânio ou cerâmica especial endurecida, selecionadas a cada caso pelo médico.

Atualmente, é cirurgia corriqueira não só em pessoas idosas como também entre aquelas de meia-idade ou até em jovens, com ótimo prognóstico de recuperação. A dor e a incapacitação crescentes são os fatores indicativos da cirurgia. As pessoas estão muito mais longevas, mais ativas, ultrapassando o período de plena capacidade das articulações, requerendo sua substituição por uma prótese. As causas das lesões da articulação coxofemural podem ser artrose hereditária, por excesso de uso, por sedentarismo, por traumas, acidentes, infecções, má circulação ou ainda por doenças como artrite rematoide, lúpus etc. Podem também ser congênitas, por exemplo, por malformação óssea ou causa idiopática.

A técnica cirúrgica está cada vez mais aprimorada, a recuperação mais rápida, as próteses de melhor qualidade e a durabilidade pode chegar até 25 anos, função da fisioterapia pós-operatória, da utilização a que for submetida quanto a impactos, peso corporal, musculatura forte, flexível e alongada. Após o primeiro mês, normalmente é indicada hidroterapia durante mais alguns meses, seguindo-se natação, musculação, Pilates etc...

A hidroterapia é muito importante para diminuir o quadro álgico (sintoma doloroso), aumentar a mobilidade articular, alongar a musculação e, poste-riormente, fortalecer a mesma e proceder a treino de marcha. Na piscina, é escolhida a profundidade ideal, diminuindo a incidência da força da gravidade e atenuando o peso corporal, o que facilita a execução da marcha e dos exercícios, favorecida pela tempe-ratura da água.

Sandra Jabur Wegner

garimpo cultural

As melhores orquestras sinfônicas, os grandes cantores de ópera, os virtuoses do piano e do violino, os mestres do balé em pleno Planetário? Será possível?

Nenhum teatro poderia reunir essa constelação dos maiores astros da cena artística mundial em seu palco em um único espetáculo. Mas a sala do Cinema Contínuo do Planetário com sua série Música Clássica nas Estrelas pode! Como?

Através de equipamentos de projeção áudio-visual de ótima qualidade instalados em uma confortável e aconchegante sala. A Associação dos Moradores e Amigos da Gávea – AmaGávea conseguiu o entu-siasmado apoio da direção do Planetário para operar esse milagre. Você será entretido por duas horas de seleções cuidadosas de gravações de música de con-certo e balé, registradas em DVDs de alta resolução, e com direito a informações sucintas sobre as obras, seus compositores e intérpretes. O Planetário da Gávea está situado na Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100, servido por transporte farto. Mas se preferir ir de automóvel, o Planetário oferece amplo estacionamento grátis.

Não perca as próximas edições desses vídeo-concertos nos sábados 28 de abril (Villa-Lobos,

Beethoven, Vivaldi, balé de Béjart com o Bolero de Ravel) e 19 de maio (Villa-Lobos, curta sobre luthiers brasileiros com debate com a diretora Sabrina Lima e personagens do filme, e mini-concerto com o Duo Santoro de violoncelos), sempre às 4 da tarde, na sala do Cinema Contínuo do Planetário. Com uma contribuição de R$15,00 você ajudará a pagar os cus-tos de produção e ainda participará de um simpático sorteio de um DVD. Se preferir, faça sua reserva com o produtor Nelson de Franco pelo e-mail [email protected] (assunto: você no Planetário do dia...) ou pelos telefones 2274-9972 e 9676-3040.

Venha curtir música clássica no Planetário da Gávea

Villa-Lobos Beethoven

Vivaldi

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Lilibeth Cardozo

Pedrinho e as estátuas

No mês passado publiquei minha conversa com Ary Barroso. Um menino de oito anos, ouvindo sua mãe comentar meu texto, me perguntou se eu estava maluca por conversar com uma estátua. Aí é que ficou boa a nossa conversa, a minha e dele, pois de conversa ele entende e muito. Falante, inteligente e gracioso, Pedrinho - como se chama - tem muitas conversas solitárias com seus brinquedos e parece que se sentiu acompanhado em seu mundo de fantasias e brincadei-ras. Expliquei para ele que eu usei a minha imaginação e com ela posso conversar com quem quiser e escrever o que vem na minha cabeça. Pedrinho, superinteressado em discutir o assunto me disse:

- As pessoas estranham porque não sabem viver sozinhas e dizem que sou maluco. Eu não fico sozinho nunca; quando não tem ninguém comigo, pego meus bonecos e invento histórias e conversas e pra mim eles sempre respondem. Você acha que sou maluco?

- Lógico que não, Pedrinho. Eu sempre falo com quem invento ou de quem sinto saudades. É muito bom, não é?

- É mesmo muito bom. Meus brinquedos dizem coisas muito interessantes. Têm uns muito chatos, outros mais legais. Você conversou com uma estátua, esse tal de Ary que minha mãe leu. Ele é legal?

- Muito, Pedro, muito legal. Ele foi um grande homem. Escreveu coisas lindas. Eu até contei segredos a ele.

Pedro, curioso e astuto me interpelou: - Eu vi você chorando muito porque seus irmãos morreram, um atrás do outro. Será que se fizerem estátuas deles vocês não podiam conversar?

Emocionada com a observação do menino res-pondi: - Legal sua ideia, Pedro, mas só fazem estátuas de pessoas famosas e meus irmãos não eram famosos.

Pedro, mais que de-pressa disse: - Famosos não são as pessoas que nós gostamos? Você amava seus irmãos, então manda fazer estátuas deles pra vocês ficarem conversando. Dá uma de maluca e manda botar lá na praia, senta perto e faz sua conversa.

Rindo, ele concluiu: - Aí você é que vai ficar famosa como a mulher que conver-sa com os irmãos-estátua. Você pode contar tudo pra eles e saber tudo que eles estão vivendo lá no céu. Irmão quando morre vai sempre pro céu, não vai?

- Você acha que vai?- Claro que vai. Existe

gente que a gente gosta mais do que um irmão? No céu só tem gente muuuito amada e pelo tanto que você tá chorando, esse amor de vocês podia con-tinuar, nem que fosse em estátuas. Escreve nas estátuas assim...’Ricardo e Renato, meus irmãos queridos, tô com saudades de vocês. Voltem aí do céu pra ficar comigo’. Agora vou brincar. Depois a gente conversa mais e vê se para de chorar. Vai lá na praia visitar o Ary outra vez. Quem sabe vocês falam uns segredos? O Ary já não morreu? E você conversou com ele! Tchau!

Foto: Lilibeth Cardozo

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O treinamento através do método Pilates é para homens que desejam mais do que um corpo forte, pois através do método vão desenvolver um corpo ágil, flexível, coordenado e equilibrado.

É um treinamento para quem procura trabalhar corpo e mente. A rotina de exercícios de Pilates integra todas as técnicas de treinamento físico como: treinamento funcional, força, flexibilidade, equilí-brio, velocidade e coordenação motora, que são importantes para uma vida mais saudável e longeva. É importante, também, no treinamento de atletas, melhorando sua técnica específica, seu equilíbrio e a estabilização das articulações, promovendo assim mais eficiência nos esportes e mais velocidade com menos esforço.

Os homens que têm a ilusão que o treinamento Pilates é de baixa intensidade, comparado com o treinamento de força nos aparelhos de musculação, vão se surpreender com os resultados obtidos com o treinamento através das molas como resistência. Com a rotina de treinamento do método Pilates, os homens desenvolverão resistência e força com a vantagem de preservarem suas articulações e de-senvolverem seus músculos de forma harmoniosa e equilibrada, prevenindo lesões, eliminando as dores, auxiliando na recuperação de problemas musculares causados por sobrecargas, tanto pela prática de es-portes como pelas exigências das atividades diárias.

Os que ainda duvidam da eficiência do treina-mento Pilates para homens devem saber que quem

inventou o método foi Joseph Pilates, e que seus primeiros alunos foram soldados, seus companheiros num campo de prisioneiros na Inglaterra, durante a Primeira Guerra Mundial. Esses soldados tive-ram uma melhora na sua saúde e na resistência física devido ao treinamento que Joseph Pilates desenvolveu para eles, fazendo com que não fossem afetados pela epidemia de influenza que na ocasião matou milhares de pessoas na Inglaterra.

De volta à Alemanha, Pi-lates aplicou seu método no treinamento de soldados do exército alemão. Ao mudar-se para a América, desenvolveu o equipa-mento para sua técnica aplicando o método em boxeadores, artistas de circo, bailarinos, atletas e artistas. Portanto, a técnica foi desenvolvida ini-cialmente para homens e perpetuada por muitos outros instrutores e alunos que difundiram-na ao redor do mundo.

Os homens que se exercitam através do mé-todo Pilates ampliam sua capacidade respiratória, aumentam a força de contração do músculo cardíaco prevenindo o infarto, beneficiando a cicatrização dos portadores de diabetes, evitando o surgimento de

Pilates para homens... na vida e nos esportes

saúde e bem-estar

varizes e trazendo uma melhora nas disfunções e na performance sexual.

Sozinho ou aliado a outras práticas esportivas, o método Pilates já comprovou sua eficiência e vem ganhando mais adeptos em todo o mundo. O méto-do Pilates é indicado tanto para desenvolver o corpo quanto a mente. Um pouco mais de concentração mental pode modificar a sua vida. E então, o que está esperando? Pratique Pilates... foco na mente e equilíbrio no corpo.

Ana Cristina de Carvalhowww.pilatesvilla90.blogspot.com

[email protected]

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Alexandre Brandão

Em clima ditatorial

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Eu ditadorGosto muito daquela música do Almir Sater e do

Renato Teixeira que diz assim: “Ando devagar porque já tive pressa...”. É linda, mas o que é que eles dizem antes desse trecho ou depois dele? Sei lá, parece que falam em “massas e maçãs”. Este é um problema meu: não presto atenção nas letras de músicas. Tanto esforço dos letristas, e eu guardo apenas pedacinhos aqui e ali de seus trabalhos.

Sou tão abestalhado que certa vez um amigo me disse: “E esta música da bicha feita pelo Chico Buarque, hein?” Pensei: Bicha ? Era “Geni e o Zepellin”. (Ufa!, faz tempo essa história.) Eu sabia apenas o refrão: “Joga bosta na Geni”, mas nem dava pela trágica e cômica história contada na canção.

Se vamos para o inglês, idioma que sei menos que o básico, a coisa piora. Meus amigos dizem maravilha das letras de Bob Dylan e Leonard Cohen, verdadeiras poesias. Eu, deles, canto alguns refrãos fazendo uso do falso inglês — língua dos cantores de conjunto de bailes, imortalizada por Toninho Horta numa música antiga. De Bob Dylan, gosto dos arranjos e de sua voz fanhosa. Em Leonard Cohen, além da voz e do clima que envolvem suas canções, me encanta seu poder de reduzir a alegria de qualquer cidadão. O canadense é mestre em nos fazer esquecer os iê-iê-iês do axé e assemelhados. Quando estou alegre demais, tomo duas gotas de Cohen e fico na medida. Não chego à tristeza, outra ponta dessa reta longa que liga o ponto lágrima ao ponto riso solto. Aleluia! Aleluia!

Para complicar, adoro cantarolar. Dirigindo, sempre ronrono alguma coisa. Disparo um “ando devagar porque já tive pressa” e fico em silêncio; passam alguns minutos, lanço no ar um “joga bosta na Geni” e caio em novo si-lêncio. Posso ainda soltar o gogó com “tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim”. No caso desse samba do Paulinho da Viola, não bastasse não sair desse trecho, canto-o de forma errada, sempre com essas palavras: “mas não despreze o samba tanto assim”.

Não me peça carona, caro colega, pois, além dos apertos de entregar sua sorte a um navalha, a trilha so-nora, na voz desafinada deste que voz fala, é esse milho que pula na panela e nunca chega a pipoca.

Como o mundo, obviamente, gira em torno do meu umbigo, segue como corolário o seguinte: é preciso decretar que, a partir de hoje, as músicas não terão mais letras. Nem tudo será jazz, mas serão trocadas as zilhões

No Osso

de palavras das canções por simples lá-lá-lás. Isso facilita tudo. E, ainda, aumenta a segurança no trânsito, pois, para lembrar os pequenos trechos das músicas, faço um esforço tremendo, com isso me distraio e viro um risco sério a todos.

Cumpra-se.

Os outros ditadoresSabem quem é Luiz Eduardo Rocha Paiva? Um ge-

neral. Infelizmente, ao ler sua entrevista a Miriam Leitão, não me ocorreu uma cena distante — acho que da novela “Nino, o italianinho” (da finada TV Tupi), na qual Juca de Oliveira, Marcos Plonka e outros cantavam: “Chegou o general da banda, êh, êh, chegou o general da banda, êh, ah”. Não, não fiquei empacado nos refrãos que não decoro corretamente, mas sim com uma pulga atrás da orelha. O general da reserva, senhor Luiz Eduardo, duvi-da que nossa presidente tenha sido torturada nos porões da ditadura, pois não conhece as provas. Diz mais: ele está na reserva e pode falar, ao contrário dos que estão na ativa, mas sua opinião é a que prevalece no seio das forças armadas. Ai, ai, ai... Cucurrucucu Paloma.

Estamos num momento crítico. Este ano deverão ser nomeados os membros da Comissão da Verdade, cujo objetivo é apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988. Essa data foi definida como forma de não deixar que a apuração fique restrita ao período da ditadura militar recente, fugindo assim da resistência dos militares. Na prática, eu acho, o período sob análise será aquele que se iniciou com o golpe de 1964.

Precisamos fechar algumas feridas que aquele perí-odo deixou. Nossa anistia, sabemos todos, recaiu tanto sobre os que contestaram o regime ditatorial quanto sobre os que serviram a ele, porém, muitas famílias, até hoje, não sabem o paradeiro de seus filhos. Mais ainda: se politicamente é possível justificar essa anistia em cima do muro, sob o prisma de qualquer outro aspecto, não dá para conviver com a ideia de que assassinos, a mando do Estado, estejam soltos por aí. Inadmissível.

Se a Comissão da Verdade funcionar bem, diminuirá o constrangimento que o Brasil tem passado, desde 2010, quando a Lei da Anistia foi condenada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Essa condenação não teve efeito prático e direto nenhum sobre nós. É uma mácula na imagem da sexta economia mundial e, com isso, uma marca indelével em cada um dos brasileiros. Pesa.

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A elevação do padrão de vida da população cario-ca e o consequente aumento do poder de compra é um dos fatores intervenientes para o crescimento da taxa de motorização na cidade, gerando uma série de problemas que se agravam à medida que se expande a frota automobilística. Atualmente a cidade do Rio tem uma frota de mais de 2,2 milhões de veículos. Somam-se a eles, por ano, cerca de outros 58.000, contribuindo para transformar o trânsito carioca em uma aventura imprevisível e objeto de grande insatisfação da população. E os congestionamentos provavelmente devem piorar muito nos próximos anos, por conta das obras que serão executadas para os eventos previstos a acontecer na cidade.

O número de automóveis em si não é um fator de transtorno, pois os benefícios proporcionados por ele são incontestáveis. O problema surge quando a con-centração de veículos atinge números elevados. Ela é responsável pelo aumento da poluição atmosférica, dos ruídos, da tensão, do tempo gasto com o desloca-mento para o trabalho etc. Além disso, existem outros problemas graves como os inúmeros acidentes com vítimas. O caos no trânsito do Rio castiga motoristas e

passageiros de todas as classes sociais. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, aponta que quase metade dos motoristas diz que enfrenta diariamente congestionamentos na cidade. Por isso uma expressão está no topo da pauta, tanto do governo quanto da sociedade: mobilidade urbana.

A mobilidade urbana é a integração inteligente de vários modos de transporte, com maior eficiência e conforto possível para os passageiros, com menor impacto ambiental para os espaços urbanos, trazen-do também mais segurança, rapidez e conforto aos usuários.

Dentre os meios de transporte público, de massa, o metroviário é o mais eficiente. O metrô do Rio de Janeiro começou a operar em 1979 e avançou a pas-sos lentos. Após 33 anos de funcionamento o sistema tem apenas 35 estações, com 2 linhas, totalizando 48 km. Está ainda muito longe de proporcionar transporte de qualidade aos 6,5 milhões de habitantes da cida-de. Mas agora o governo estadual tem uma grande oportunidade de mudar essa situação: expandir o sistema metroviário. O metrô carioca foi concebido para operar em uma dinâmica de rede, com linhas

O metrô que o Rio

precisa

interligadas, como acontece no mundo todo. No Rio, a rede está conformada por linhas independen-tes, identificadas por números. Atualmente o metrô opera as Linhas 1 e 2. A Linha 3 foi planejada para ligar Niterói a Itaboraí, passando por São Gonçalo. A Linha 4, atualmente em construção, fará a ligação da Zona Sul com a Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

PolêmicaEm tese, os projetos de transportes deveriam ser

concebidos com o objetivo de atender as necessida-des de mobilidade•urbana e melhorar a qualidade de vida dos moradores. A escolha da alternativa mais viável se desenvolve através de estudos, de processos de avaliação, simulações, viabilidade econômica, onde alternativas são discutidas, eventualmente sugeridos novos projetos, ou correções e modificações dos antigos para serem reavaliados. No caso da Linha 4, originalmente os estudos previam a ligação das esta-ções Jóquei, na Gávea, à estação de Morro São João (localizada nas proximidades do Shopping Rio Sul), em Botafogo, passando pelo Jardim Botânico e Humaitá. A estação São João, inclusive, teve sua construção

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a criticar energicamente o projeto escolhido pelo governo estadual, principalmente quando se sabe que a alternativa escolhida foi baseada em critérios técnicos questionáveis.

Movimento “O Metrô que o Rio precisa”

Preocupados com a descaracterização do plano metroviário e com o óbvio fato de que a Linha 1 neste novo formato não terá capacidade para absorver o volume adicional de usuários que passarão a vir da Barra, Jacarepaguá e Recreio em direção ao Centro, formou-se, em meados de 2010, um movimento constituído de vinte e sete Associações de Moradores das áreas a serem servidas por esse traçado. Junta-mente com especialistas em transporte, engenheiros e profissionais de várias especialidades, o grupo têm se dedicado a estudar a melhor solução para o complexo problema metroviário do Rio de Janeiro. Em dezembro de 2010, esse Movimento protocolou um ofício manifestando posição claramente favorável à manutenção do traçado original para a Linha 4, independente da Linha 1.

A população dos bairros representados pelo mo-vimento pode ser estimada em cerca de 1,5 milhão de habitantes – crescentemente preocupados com o legado danoso de um traçado metroviário que sirva predominantemente a duas ou três semanas de Jogos Olímpicos, mas que não atenda às necessidades de transporte rápido, confortável e seguro nos anos subsequentes a 2016.

Proposta

Depois de inúmeros estudos, reuniões, avalia-ções das necessidades da população carioca quanto à adequação do traçado do metrô à vida cotidiana dos nativos e visitantes, o movimento destaca os seguintes pontos:

1. A Linha 4 independente da Linha 1 – todos os metrôs do mundo funcionam em rede, com várias linhas independentes e interligadas. Se as Linhas 4 e 1 forem contínuas, tipo “tripa”, “linhão, “minhoca”, basta um pequeno incidente para interromper o sistema.

iniciada na década de 90, mas por motivos políticos foi deixada para um segundo momento, para que a estação Cardeal Arcoverde pudesse ser priorizada. Porém, agora, o governo escolheu um novo traçado para a Linha 4. Pretende-se esticar a Linha 1 a partir da estação General Osório até o Jardim Oceânico, na Barra, passando por Ipanema e Leblon. O traça-do definido pelo governo tem 16 quilômetros e um custo estimado em R$ 7 bilhões, equivalente a sete vezes o gasto da reforma do Maracanã. Ao todo, são seis novas estações: Nossa Senhora da Paz, Antero de Quental, Jardim de Alah, Gávea, São Conrado e Jardim Oceânico. A principal justificativa para a mu-dança do trajeto é que este supostamente atenderia um maior número de passageiros possíveis. Porém, tal trajeto vem sendo discutido em diferentes fóruns da sociedade carioca. As discussões salientam que a proposta do governo contraria o Plano Diretor da cidade porque aumentará o fluxo de pessoas para os bairros de Ipanema e Leblon, áreas que já estão satu-radas e bastante equipadas com infraestrutura urbana e, portanto, que não deveriam receber investimentos públicos que as façam crescer além dos seus limites. Além disso, com a atual configuração do sistema e a extensão planejada, nos horários de pico, em direção ao Centro, teremos uma superlotação já que carros chegarão cheios a determinadas paradas.

Para realizar as obras na Zona Sul serão necessá-rias intervenções em várias vias públicas com interrup-ções temporárias do trânsito; assim como reduções provisórias de áreas de lazer e praças e suspensão de operação, por pelo menos oito meses, de duas estações (General Osório e Cantagalo), que passarão por obras para a conexão com a Linha 4, já que origi-nalmente não foram projetadas para o novo trajeto.

Participação da sociedadeA preocupação dos administradores públicos em

integrar a comunidade no processo de decisões de planejamento deveria ser um processo normal, mas não é o que acontece. O filósofo grego Aristóteles já afirmava: “Se você deseja saber como um sapato se ajusta ao pé, você precisa perguntar a quem o usa e não a quem o fabrica”. Hoje existem, inclusive, legisla-ções que reconhecem o direito de participação pública no processo de planejamento. No Rio, a expansão do sistema metroviário adquiriu maior expressividade na mídia à medida que a população se organizou em um movimento, manifestou suas reivindicações e insatis-fação com a escolha do novo trajeto para a Linha 4 e a implantação de medidas consideradas impróprias. O movimento se chama “O metrô que o Rio precisa” e ganha cada vez mais força, apoio de políticos, de engenheiros e especialistas.

Depois de sofrer décadas sem investimentos em trans-porte, a população carioca se tornou mais consciente e preocupada com projetos de custos elevados e com o desperdício de dinheiro público. Em consequência disso as reivindicações po-pulares se tornaram mais exigentes e diversificadas. As decisões e soluções de pro-blemas urbanos apresentadas pelo governo não são mais aceitas pacificamente peIos cidadãos, pois existe maior consciência de que a própria população paga os projetos através de seus impostos e estes devem ter por objetivo principal o interesse público. Esta consciência popular faz o cidadão carioca reivindicar o direito à participação no processo de planejamento. E isso tem se transformado, cada vez mais, em uma ne-cessidade.

A população diretamente afetada pela Linha 4 passou

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São eles: vereadores Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), Carlo Caiado (DEM), Carlos Bolsonaro (PP), Edison (da Creatinina) Souza (PV), Eliomar Coelho (PSOL), Marcia Teixeira (PR), Paulo Messina (PV), Paulo Pinhei-ro (PSOL), Reimont (PT), Roberto Monteiro (PCdoB), Rubens Andrade (PSB), Sônia Rabello (PV), Teresa Bergher (PSDB); deputados estaduais: Luiz Paulo Coelho da Rocha (PSDB), Marcelo Freixo (PSOL) e os deputados federais: Alessandro Molon (PT), Otávio Leite (PSDB), Stepan Nercessian (PPS), Chico Alencar (PSOL), Gerson Bergher (PSDB), Flavio Bolsonaro (PP), Alfredo Sirks (PV) e Dr. Gilberto (PTdoB).

Audiência públicaPromovidas pela Comissão Estadual de Controle

Ambiental (CECA), foram realizadas duas Audiências Públicas, com o objetivo de apresentação e discussão com a sociedade o Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) necessários à concessão de licenciamento para a realização das obras do metrô no trecho da Zona Sul.

O promotor Carlos Frederico Saturnino, da 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente, disse que o relatório apresentado pelo governo estadual não atende às exigências míni-mas ambientais e contém “erros e omissões graves” que, em ação civil pública, já pediu até a suspensão das obras, até que as etapas de estudo requeridas pelas normas vigentes sejam totalmente cumpridas.

Especialistas afirmam que a opção por apenas um grande eixo, além de ter impacto direto na qualidade dos serviços hoje prestados, pode comprometer toda a operação no futuro próximo.

2. Percurso da Gávea para o Centro via Jardim Botânico e Humaitá – respeitar o traçado original da Linha 4.

3. Estação Gávea em dois níveis – a estação deve ser construída em dois níveis para o cruzamento da Linha 1 com a Linha 4: a) um nível para receber os trens vindos de São Conrado e já apontando na direção do Jardim Botânico e b) outro nível para re-ceber no futuro a extensão da Linha 1, cuja estação final será Gávea.

4. “By-pass” desnecessário, caro e inconve-niente - a estação Antero de Quental, no Leblon, deve ser ligada à Gávea como originalmente previsto. Não faz sentido a construção de um “by-pass” (ligação alternativa) entre Antero de Quental e São Conrado.

5. Estação General Osório deve ser somente uma estação de passagem da Linha 1 em direção à estação Gávea - o projeto de construir uma nova plataforma na mesma estação para servir de ponto final dos trens da Linha 2 é contrário ao interesse público. Além de cara, a obra vai fazer com que as estações General Osório e Cantagalo fiquem fechadas por um prazo de oito meses. Além disso, trata-se de um investimento desnecessário, já que a sobrecarga de usuários vindos da Barra será absorvida tão logo

seja implantado o trecho Gávea – Morro de São João.6. Estação final da Linha 4 em Alvorada, na

Barra - em função do elevado volume de usuários de Barra, Recreio e Jacarepaguá, e para eliminar baldeações intermodais, o trecho de 6 quilômetros entre Jardim Oceânico e Alvorada deve ser feito por metrô e não pelo sistema BRT (ônibus articulado).

O que o Movimento não quer1. Fechar as estações General Osório e Canta-

galo durante pelo menos um ano, nem gastar R$ 500 milhões para tentar viabilizar a extensão não prevista da Linha 1.

2. Lotação de seis passageiros por metro quadrado,

3. Ligação direta do Leblon a São Conrado sem passar pela Gávea.

4. Ligação por ônibus BRT entre Jardim Oce-ânico e Alvorada.

5. Terminal de BRT na estação Jardim Oceâ-nico, que obrigará a baldeação.

6. Aceitar que 20 dias de Olimpíadas de 2016 sejam mais importantes do que o futuro do metrô do Rio.

Apoio de parlamentares ao movimento

Desde o início o movimento “O metrô que o Rio precisa” ganhou o apoio de diversos parlamentares.

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O promotor declarou que, segundo levantamento feito pela equipe de peritos do Ministério Público, o processo em licenciamento não configura um projeto de transporte público mais seguro, mais eficiente, mais barato, e que respeite as leis e a Constituição. Ele apontou erros nas avaliações do estudo em curso, e ainda que são contestáveis todos os dados apresenta-dos, como por exemplo o crescimento populacional dos bairros contemplados, de atendimento à rede hoteleira e pontos turísticos, e mencionou ainda a ausência de estudo comparativo com as outras al-ternativas de traçado, como por exemplo o impacto do fechamento de vias. “O traçado proposto prevê perigosos cruzamentos em Y entre Leblon, Gávea e São Conrado. Além disso, o governo elaborou o EIA/RIMA de interligação das Linhas 1 e 4 inconsistente, sem seguir a instrução técnica do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A instrução pedia que o traçado fosse comparado com outras duas alternativas. Só houve uma comparação, ainda assim, muito simplória”, criticou Saturnino.

A intervenção do promotor na Audiência Pública realizada no Leblon foi contundente, desqualificando os pontos principais das premissas e dos dados dos estudos apresentados pelo governo. “Da ótica do Mi-nistério Público”, afirmou o promotor, “esse EIA-RIMA é imprestável”. E após reiterar que não se está diante de uma obra qualquer, mas de uma intervenção de grande vulto, que poderá custar cerca de R$7 bilhões,

Saturnino lembrou que não se devia tomar a decisão do governo como um fato consumado, pois a lei estabelece que a audiência pública não é apenas um instrumento de escuta da população, mas de consulta, e que por isso a opinião da sociedade terá de ser considerada pelo poder público. “O parecer terá de responder a todos os questionamentos, e justificar sua posição, seja ela qual for”. Ao final de sua fala, já sob intenso aplauso da audiência, o promotor advertiu: “Não esqueceremos o que está acontecendo aqui hoje, e se no futuro nós tivermos problemas graves, problemas operacionais e de riscos à segurança dos usuários, por conta de um licenciamento equivocado, no mínimo nós hoje estamos aqui hoje delimitando responsabilidades.”

Outras opiniõesMarcelo Burgos, sociólogo da PUC-Rio e mem-

bro da coordenação do Centro de Estudos Direito e Sociedade - CEDES, que participou como observador na Audiência Pública, declara: “Coube ao deputado Marcelo Freixo (PSOL) denunciar as reais motivações escondidas sob o véu da racionalidade supostamente técnica defendida pelo governo. Segundo ele, ao pro-por ‘esticar’ a Linha 1 ao invés de criar uma nova linha (a verdadeira Linha 4) em sistema de rede, a razão maior ‘é a dispensa da licitação, para agradar a quem já tem acordos’, submetendo o interesse público a um casuísmo que produzirá resultados nefastos para

o futuro da metrópole. Freixo também criticou duramente o estudo de demanda apresen-tado pela FGV.

O deputado Alessando Molon (PT) lembrou na re-ferida audiência pública que a atual concessionária do metrô teve seu prazo de concessão estendido por mais 20 anos em troca do financiamento da obra da chamada Linha 1A (que permitiu a comunicação com a Linha 2 sem baldeação), e que justamente por não se tratar de uma nova linha, mas da continuação da Linha 1, a mesma concessionária irá operar o novo trecho da Barra da Tijuca. Ao final de sua in-tervenção, Molon defendeu o projeto original da Linha 4, que levará os usuários do metrô da Barra diretamente ao Centro, em vez das 13 estações que seriam necessárias com o tra-çado proposto pelo governo.

O Deputado Luiz Paulo Coelho da Rocha (PSDB), na mesma audiência, chamou a atenção para a incon-sistência dos estudos apresentados pelo governo, e a exemplo de Freixo, criticou duramente o estudo apresentado pela FGV, estranhando o fato daquela instituição ter sido mobilizada para realizar um estudo de demanda, já que ela ‘não tem tradição na área de engenharia de transporte’. Rocha criticou ainda a ex-posição sobre o impacto ambiental, que não abordou os aspectos mais graves das obras da Linha 4, como a questão do lençol freático, preferindo falar sobre ‘os morcegos e os passarinhos, com a nítida intenção de cansar a plateia’. Com isso, concluiu o deputado, ‘a população sai daqui hoje com um forte sentimento de insegurança’.

A vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB) tam-bém participou da audiência, e fazendo uso da palavra declarou: “Há dois anos essas pessoas que estão aqui hoje estão tentando falar com o governo, e a Consti-tuição Federal e o Estatuto da Cidade garantem esse direito da população de ser escutada. Isso que a gente está tendo aqui hoje deveríamos ter no parlamento, mas lá isso não ocorre, pois os governos se tornaram rolos compressores”, prosseguiu a. vereadora Andrea Gouvêa. Disse também disse ter estranhado que os estudos apresentados tenham desconsiderado o Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro, recentemente aprovado, insistindo na ideia de que o metrô vai trazer desenvolvimento econômico para a Zona Sul que seria, segundo o Plano Diretor, “muito mais uma macrozona de controle do que de desenvolvimento”. Advertiu também que o mais importante para os moradores da Barra da Tijuca e do Recreio é chegar diretamente ao Centro. Finalmente, manifestou sua preocupação quanto à ausência de representantes da prefeitura na Audiência, já que caberia a ela zelar pelo cumprimento do Plano Diretor.

A vereadora Sonia Rabello (PV) advertiu que ape-sar do grande impacto que a Linha 4 do metrô deverá ter para o plano viário e para a questão habitacional do Rio de Janeiro, a baixa qualidade dos estudos e do planejamento denota que o governo está tratando o EIA-RIMA como mero cumprimento de um ritual burocrático. Na sua opinião, isso denota que, na ver-dade, tudo indica que a questão já está definida pelo governo, e possivelmente por uma decisão pessoal do governador.”

Falta diálogoA incapacidade do governador Sérgio Cabral

Filho em satisfazer os anseios da população retrata uma grande inércia na estrutura da representação política. Falta diálogo entre o governo e a sociedade civil organizada. O governo do Estado conta com o apoio de cerca de 200 técnicos que trabalham no projeto da Linha 4 e, segundo consta de relatório,

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estudaram mais de 30 traçados. Entretanto, a solução para a Linha 4, que nada mais é do que a extensão da Linha 1, foi decidida de forma fechada e os estu-dos apresentados parecem que foram dirigidos para justificar a opção previamente escolhida. Uma típica inversão de resultado. Não foram levadas em conta a opinião da população e sua capacidade em fornecer preciosos subsídios para a solução de seus próprios problemas, além de desprezar o conjunto de especia-listas em transporte e do grupo técnico que compõe o Movimento, e de instituições renomadas como o Clube de Engenharia.

Para quem participou das audiências públicas ficou claro que é cada vez mais difícil impor solu-ções de transporte sem que haja uma reação da comunidade no sentido de avaliar melhor os even-

tuais benefícios e prejuízos. Não só políticos, mas também técnicos, têm por hábito definir soluções para os problemas de interesse comunitário com base em critérios próprios, sem ouvir previamente a população afetada. Neste caso, corre-se o risco de se implantar a Linha 4 para atender demandas inexistentes e o “linhão” proposto pelo governo não oferecer transporte decente e seguro para os usuários, além de ser a opção mais cara.

No caso da integração da Linha 1 com a Linha 2, chamada de Linha 1A, foi escolhida uma solução que se revela inoperante e ineficaz. É fato conhecido que a qualidade do serviço metroviário caiu muito desde a integração dessas linhas, com superlotação nas plataformas e nos trens, atrasos, aumento dos intervalos entre as composições, refrigeração defi-

ciente nos carros e problemas técnicos que acabam interrompendo constantemente o serviço.

Decisão políticaÉ muito comum, nos vários níveis de administra-

ções públicas, a adoção de decisões políticas, através do poder da caneta. Teoricamente elas são justificadas como necessárias para a obtenção de um “bem públi-co maior”, mas uma análise um pouco mais detalhada constata que, na maioria dos casos, nada mais são do que retórica para acobertar a falta de conhecimento técnico dos que as adotam ou de seus assessores. O nosso sistema político é responsável, em grande parte, por esses atos, pois exige pouca responsabilidade legal dos representantes. Cada novo governante chega cheio de ideias e reformula - entenda-se destrói - quase tudo o que o antecedeu sem necessariamente aperfeiçoar nada. Alguns políticos usam e abusam de “decisões políticas”. Escolhem um leigo, desprepara-do, para ocupar um cargo técnico, uma Secretaria, sob o pretexto de ser um bom administrador ou atender a cota dos partidos que o ajudaram a se eleger. Deixam de investir em projetos sérios e objetivos, e desrespeitam Planos Diretores para dedicar recursos em obras de importância relativa, mas com visibilidade maior. Os argumentos, via de regra, são esdrúxulos, risíveis ou revoltantes, mas isso pouco lhes importa e qualquer crítica é desqualificada como “intriga de oposição”. Sua esperança é que os projetos passem despercebidos ou de que criem constrangimentos para os que possam vir a questioná-los. “Esse pessoal não quer que seja construído o metrô, que tanto vai ajudar os trabalhadores carentes”, já foi dito. Isso não seria um problema maior se não resultassem, comumente, em desperdício de dinheiro público, re-trabalho e inocuidade. Mas isso não lhes preocupa, pois dificilmente pagarão a conta de seus atos... Eles usam e abusam do poder da caneta. A caneta é o instrumento que com uma simples assinatura fere e mata a ética. Mas a caneta não é culpada, nem pode ser condenada, ela só transcreve a realidade de uma escolha errada que acontece eletronicamente de quatro em quatro anos.

No caso da Linha 4 parece que os interesses pelo aumento dos lucros das corporações privadas, construtoras, empreiteiras e dos fundos de pensão, ligados direta e indiretamente ao setor metroviário do Rio, se sobrepõem às necessidades da maioria da população carioca, às questões sociais e ambientais. É lamentável.

Faça a sua parte! Entre no movimento por um metrô decente. Acesse o site, siga o twitter, curta a página no Facebook e participe do abaixo-assinado.

Para maiores informações: www.metroqueorioprecisa.com.br

A estação General Osório, inaugurada em 2009, ficará fechada por oito meses para ser duplicada, obra exigida pelo novo traçado. O custo será de R$377 milhões. A estação da Gávea tem que ser construída em dois níveis, para evitar esses mesmos erros quando houver a expansão do metrô

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Espaço Oswaldo [email protected]

Em favor da civilidadem

ídia

Deu na

MÍDIA GERAL: “Clube Militar comemora até com avião puxando faixinha, o 31 de março.” Perdão o pequeno engano, caros generais, mas a data inicial dos 21 anos de chumbo é 1º de abril. // JORNAL NACIONAL: “O Senado vai estudar alterações no Código Penal.” Não é sem tempo; ele vem de 1940 e está totalmente superado. // MIDIA GERAL: “Senador Demóstenes Torres no tranco.” Uma cachoeira de maracutáias. // MÍDIA GERAL: “Wando, Peri Ribeiro, Chico Anysio, Millôr, Ademilde Fonseca.” É o show do céu. // RECORD NEWS:’ “Oito mortes na Rocinha em 50 dias!” Pacificada? // EXAME: “Em jogo o futuro do maior grupo de varejo do país.” Completa: é o destino de Abílio Diniz - entenda-se... // VEJA: “O mistério do Santo Sudário. A mais minuciosa análise até hoje feita reafirma os enigmas do manto que teria envolvido Jesus crucificado.” É o mistério renovado, como me ocorre dizer também. // EXTRA: “Dr. Roncuo para Adriano: Mostra teu fígado.” Com jogador-problema um raio-X de alto a baixo... // TRIBUNA DE PETRÓPOLIS: “Rejeitado o aumento de vereadores.” São 15, queriam 21. Valeu // JORNAL DO RIO - BAND – “Ano e meio depois ainda há 3 mil desabrigados.” É a tragédia do morro do Bumba, em Niterói. // RÁDIO JB-FM: “Ideli Salvati convocada pela Câmara para explicar a compra de 28 lanchas quando era ministra da Pesca. “Vai cair na isca? ÉPOCA: “Nana Caymmi Anunciando sua aposentadoria ’Quero que o mundo se exploda’:” Mas antes, querida, indique um lugarzinho pra gente se esconder... // MÍDIA GERAL: “James Cameron (Titanic) desceu a 10.911 metros, o ponto mais profundo dos oceanos.” Daqui a pouco ele mergulha no Pacífico e sai no Atlântico... // BAND - JORNAL DO RIO: “O lixão de Gramacho acaba, mas 1.800 pessoas não terão onde buscar o sustento.” Problemão à vista! Tem mais: o solo levará 15 anos para ficar livre da decomposição pelo chorume, o líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição do lixo. // INTERNET: “Silvio Santos está feliz com os cabelos brancos.” Não vai pintar mais.” É a velhice chegando, meu caro... // JORNAL NACIONAL .- WILLIAM BONNER: Governo sofre derrota no Senado.” Falava da indicação de Dilma na recondução de Bernardo Figueiredo ao cargo de diretor geral da Agencia Nacional de Transportes Terrestres, que interessava ao Planalto. A mídia convencionou chamar de Governo, o executivo, isto é, a Presidência da República, quando é sabido que Governo são os três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário. Então... //ÉPOCA - capa: “Foi um renascimento, diz Reynaldo Gianecchini, livre do câncer depois de um autotransplante de medula.” Benza Deus. Volta o Alfredo insinuante do comercial de papel higiênico. // MÍDIA GERAL: Guga no Hall da Fama.” Justíssimo! // E Ademar Ferreira da Silva, salto tripo, também. Idem. // MÍDIA GERAL: “Morreu Ernani Pires Ferreira, o locutor do Jóquei por 40 anos”. Cruzou a faixa final. // RÁDIO JB: “o Brasil é o maior consumidor de remédios para emagrecimento. “ Salve as gordinhas.

Estes rapazes de branco andaram há pouco pelas ruas cumprindo uma missão absolutamente original, qual seja a de chamar a atenção dos pas-santes para uma coisa chamada civilidade. Bonitos, educados, sorriso permanente nos rostos, branco na indumentária, de alto a baixo, eram felizes na tarefa que executavam com a mais santa das disposições. Encontrei-os, papeei com eles, sentindo o fair play com que cumpriam seu plano de trabalho. Quem patrocina vocês? Perguntei. O Prezunik, a MPB Fm, Sun Fresh e o sabonete Dove. Não era a faxina da Dona Dilma que faziam e sim uma, digamos, assepsia, orientando, ensinando as pessoas, um jeito desejado de ser no dia a dia. Nas filas, nos ônibus, nas calça-das, no trânsito... como respeitar idosos em seus direitos, aos deficientes, as prioridades anunciadas, enfim, civilidade.

De passagem, Sem censura, Padre Fabio Melo: as pessoas estão indispostas às regras. Marcelo Yuki: - Já se sabe de casos de gozação. O cara deixa o carro que estacionou no espaço exclusivo do deficiente e sai andando, enquanto este grita: Milagre! Milagre!

Bacana! Tem aí a ONG Rio Como Vamos. Com a campanha ‘Deixa de ser Mané’, combate os maus hábitos de toda essa massa de gente que circula sem se dar conta dos mínimos preceitos de educação. Dona Rosika à frente. Beleza! A circulada urbana dos rapazes acabou, mas a Rio Como Vamos está aí mes-mo neste louvável alerta pelo bem geral. E saibam: só para tirar a sujeira das ruas, o lixinho nosso de cada dia, a Comlurb gasta R$ 400 milhões por ano!

Uma ação social e comunitária, no sentido de que todos respeitam a ética, item soberano da sociedade, não ultrapassando os limites de suas liberdades. Já consagra a teoria – o direito de cada um termina aonde começa o do outro

As pessoas estão indispostas às regras...

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Vapt-vupt

Tudo já foi dito sobre ele. Não. Tudo sobre ele jamais terá sido dito, falado, lembrado pelas gerações porvindouras, por uma razão muito simples - ele é imortal na história do humorismo universal, uma honra para nós brasileiros.

Ele é um SEMPRE. Dou uma recuada no tempo, indo parar lá nos idos de 47, 48... Rádio Guanabara. Já falei aqui da mocinha talentosa que estava por lá chamada Fernanda Montenegro. Tinha também, come-çando promissora carreiras, Nadia Maria, Alfre Souto de Almeida, Elizeth, que acabara de deixar o cabaré lá em baixo do Edifício Darke. A Orquestra de Napoleão Tavares e seus soldados musicais, egressa da Mayrink, Orlando Silva em seu triste declínio e um rapazola então chegado do Ceará de nome Francisco Anyzio.

Era voz comum no comentário geral da turma sobre a presença diária do jovem que fora fazer teste de locutor e que acabou logo contratado pelo dono, o milionário Jorge de Matos. Ele é muito engraçado. A gente ri com suas piadas. Parece que vai ter um programa. E teve.

Havia na Rio Branco um cinema só de variedades, sessões contínuas (a sessão começa quando você chega) - jornais, desenhos, documentários, comédias... Era o Cineac. O prédio foi abaixo. Fizeram outro. O rapaz nele se inspirou para fazer o Radiac, creio que sua primeira produção profissional de verdade. Logo ganhou o elogio do elenco. E pelo que li, o Maurício Sherman (não me lembro) também estava lá, quem sabe, colaborando com o jovem promissor radialista.

Então, do Radiac em diante, é o que se sabe.

Uma intensa e colossal realização humorística onde se destacam fantásticos personagens, falam de 200, por ele criados e que vão viver pela eternidade, enquanto o criador se eterniza na infindável e doce lembrança de todos nós.

No duro, no duro, Chico apenas passou a bola para seu filho, esse bamba Bruno Mazzeo, e sua sobrinha, a atuante Cininha de Paula, ambos trilhando com sucesso a mesma senda do pai e do tio.

Fazer graça está no sangue da família.É vapt-vupt!

Grécia no sufoco

Não tem problema, Angela Merkel. Se houver calote o Partenon está aí mesmo para ser penhorado...

Licitações...

“É a ética do mercado...”

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Nem todo mudo sabe que o ipê é a árvore que representa o Brasil. A união. Mas ele representa também outra união: a dos moradores da Gávea, que há cerca de um mês protestaram contra o “as-sassinato” da lindíssima espécie da foto e a possível perda do espaço público onde ela se encontrava.

Através da Associa-ção de Moradores da Gávea, a Amagávea, eles se fizeram ouvir pelas autoridades. A prefeitura voltou atrás na venda que havia feito daquela pequena área com mais de 15 árvores em frente ao Planetário, para que uma construtora au-

O ipê amarelo da uniãomentasse o terreno ao lado e erguesse mais um edifício.

Do ponto de vista ambiental, a derrubada das árvores foi um absurdo! Do ponto de vista urbanístico a venda do terreno foi outro, de igual proporção. Os órgãos da prefeitura que autorizaram a venda não atentaram para dois fatos: a área em questão já era utilizada pela população há mais de 20 anos, e qualquer construção ali aumentaria o bloqueio visual que a nova construção, que surgirá no terreno onde há um pequeno prédio com loja de videolocadora, já vai criar. Os espaços urbanos necessitam “respirar”. Espaços livres, mesmo que pequenos, muitas vezes permitem que o passante descortine vistas que na maior parte da cidade estão bloqueadas. No nosso caso, por que bloquear mais ainda a vista do Planetário e seu jardim e do Maciço Dois Irmãos? Parabéns aos moradores que se uniram, defenderam, e saíram vitoriosos nesta causa justíssima!

nos bairros

espaço do leitor

“Como será verde o meu vale nos próximos 20 anos?” é o tema de discussão que mo-tiva a parceria entre quatorze escolas públicas e privadas da Gávea, para discutir ações conjuntas relacionadas a me-lhorias do bairro, no embalo da Rio+20.

Os organizadores do mo-vimento querem promover um fórum com plenárias reali-zadas por alunos e professores das escolas da Gávea, incluin-do temas como hidrografia, vegetação, transporte e ocu-pação de encostas. A primeira plenária está marcada para abril. A ideia é se inspirar nas discussões da conferência Rio+20 para avançar no debate sobre desenvolvimento sustentável.

“O objetivo é a integração entre alunos de dife-rentes escolas e classes sociais para discutir assuntos de interesse comuns ao futuro do bairro e, poste-

Parceria entre escolas da Gávea debate melhorias no bairro

riormente, elaborar um documento para ser enviado à prefeitura”, explica Marília Dias, coordenadora pedagógica do Colégio Teresiano.

As escolas pretendem prosseguir a discussão, mesmo depois da Rio+20, mobilizando as opiniões em torno de temas que envolvam toda a comuni-dade, como a revitalização do Parque da Cidade.

A função do artista

Sei que ando assaz realistaE que devia andar mais otimistaÉ que a função do artistaNão é intimista, eu seiÉ irradiar alegriaQue de tristeza já basta a vidaPor outro lado, não devo mentirCamuflar a verdade, seria me omitirPois, a função do artistaDoa a quem doer, é tentar esclarecerSe vier com alegria, ótimoSe trouxer reflexão, melhorO artista é um ser único, mediúnicoVeio ao mundo com essa missãoRevelar contradiçõesDenunciar injustiçasEm forma de lazer para entreterMais ética, para mais estéticaRespeitemos, então, nobilíssima funçãoQue em primeiríssima análiseÉ nossa purificação.

George Sauma Jr.

E voltando ao assunto de “união”, ficou provado que o apoio à Associação de Moradores pode resultar em ações que beneficiem a todos. A Gávea tem cerca de 15.000 moradores. Apenas uma pequena parcela destes é associada à Amagávea. Após o exemplo do movimento em torno do caso do nosso belo ipê, vários moradores se associaram. Se você é morador da Gávea e quer se associar, basta mandar um e-mail para [email protected] e estará ajudando a você mesmo e a todos que moram neste bairro tão agradável!

Moradores se reúnem com o secretário municipal do Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, para decidir o que fazer no espaço

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EMERGÊNCIA

Tel.:2529-4505

GERAL

Tel.:2529-4422

UTI - Unidade de Terapia Intensiva

A partir da década de 50 houve um grande crescimento da abordagem de pacientes graves, que recebeu várias denominações, como “Tratamento Inten-sivo” ou “Cuidado a pacientes críticos”. Atualmente, todos os grandes hospitais possuem pelo menos uma unidade para os pacientes graves. O objetivo da UTI não é executar procedimentos com a finalidade de salvar vidas. Sua atuação fundamental consiste na reversão de uma doença não terminal, tendo como objetivo a prevenção da morte, quando esta não é inevitável. Deve-se visar à restauração do estado de saúde anterior à internação na UTI, considerando os aspectos biofísicos e psicológicos, priorizando a qualidade de vida.

Muitas UTIs possuem, em área anexa e contínua à UTI, a Unidade Semi-Intensiva (USI) ou Intermediária, constituída por quartos especiais, dotados de recursos humanos (médicos, enfermeiras, fisioterapeutas e nutricionistas) semelhantes à UTI, mas que propiciam melhor privacidade e apoio psicológico ao paciente e seus familiares. A UTI associada à USI constitui o complexo Centro de Terapia Intensiva. Esse centro respeita normas de localização e qualificações denominadas pelas Normas e Padrões de Construção e Instalação de Serviços de Saúde.

A centralização dos pacientes em certas categoriais, tendo em vista as possibi-lidades terapêuticas, já existe há muitos anos. Durante a Primeira Guerra Mundial, surgiram as unidades de envenenamento por gases e com as unidades de choque nas guerras recentes. Da mesma forma, quando ocorreram calamidades públicas, certas unidades foram abertas para que os pacientes e os recursos pudessem ser centralizados e otimizados. As grandes epidemias de poliomielite geraram grandes unidades de tratamento na Califórnia e em Copenhague em 1952. (Fig 1)

A sala de recuperação pós-cirúrgica pode ser considerada como precursora da UTI. Essas unidades, que servem para cuidar de pacientes durante a recupera-ção cirúrgica imediata, surgiram após a Segunda Guerra Mundial. Houve aumento da complexidade e do número de pacientes idosos, assim como do uso de

Dr. Arthur Vianna

Coordenador do Centro de Terapia

Intensiva da Clínica São Vicente

drogas como relaxantes mus-culares e de narcóticos; com isso, tornou-se necessária a vigilância respiratória após o procedimento. Surgiram os ventiladores com pressão positiva na década de 50 e 60. Depois, os ventiladores ciclados à pressão, como os populares Bennet e Bird.

Na década de 50, Zoll e colaboradores demostraram que um choque elétrico sobre o tórax poderia interromper uma fibrilação ventricular. Em 1960, Safar e colaboradores desenvolveram no John Hopkins Hospital a técnica da massagem cardíaca externa e técnicas de ressuscitação cardiopulmonar. A introdução de monitores cardíacos na década de 60 proporcionou a detecção precoce de arritmias na fase inicial do infarto agudo do miocárdio (IAM). Só esta monitorização reduziu a mortalidade em 30% dos portadores dessa infermidade. A introdução de trombolíticos na década de 80 consegue reduzir a mortalidade do infarto, nas melhores UTIs, a 7%. Na década de 70, surge o cateter de Swan-Ganz, visando à aferição do débito cardíaco através da termodiluição. As unidades coronarianas surgem no início dos 80, centralizando cuidados aos pacientes coronarianos. Atualmente, existem somente no município do Rio de Janeiro, 99 UTIs cadastradas no anuário da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira). Apesar disso, existe uma ne-cessidade crescente de leitos para pacientes críticos em nossa cidade e em nosso país, bem como há necessidade cada vez maior de profissionais qualificados.

Ventilação mecânica com “pulmões de aço” em pacientes vítimas de poliomielite

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“Sei que é um erro – talvez uma injustiça – arrancar Daniel Hernandez do sólido mundo da realidade para reduzi-lo à personagem de ficção”. Assim começa Variações em vermelho – livro constituído de cinco narrativas policiais publicado pela primeira vez em 1953 e que daria notoriedade a Rodolfo Walsh na literatura argentina. Ainda nesse prólogo, denominado “Advertência ao leitor”, o autor revela a profis-são de Daniel: revisor de provas numa editora de nome curioso: Corsário. Walsh aproveita para afirmar a proximidade do trabalho do revisor com o do detetive, pois ambos preci-sam da observação minuciosa, da imaginação e, muitas vezes, da compreensão de sintaxes que aparentemente não se articulam. A seu ver, literatura é investigação, e esta, para ser bem sucedida, teria de seguir os trâmites da leitura literária. Os amantes do gênero pode-riam tranquilamente afirmar: literatura policial é literatura maior. Portanto, já não seria um erro nem uma injustiça transformar Daniel Hernandes em personagem de ficção.

A primeira história, “A aventura das provas de prelo”, tem como personagem Raimundo Morel, escritor cuja carreira está em plena ascensão. Misteriosamente, no entanto, ele aparece morto no apartamento onde mora, poucas horas após ter deixado a sede da editora. A polícia, capitaneada pelo delegado Jiménez, apressadamente declara ter solucio-nado o caso. O escritor teria sido vítima de um acidente quando limpava a própria arma, presente de um oficial americano da época em que ambos estudaram em Harvard. Mas, quase ao acaso, Hernandes, o revisor, que conversara com Morel na editora havia poucas horas, percebe algo errado nas provas que este levara para revisar em casa. Daí em diante, o caso caminha para um desfecho totalmente inesperado.

“Variações em vermelho”, segunda narra-tiva, é uma espécie de homenagem a Conan Doyle, autor de “Um estudo em vermelho”. O mundo das artes plásticas e seus persona-gens ora temperamentais ora partidários da mercantilização da arte desfilam num ambien-te em que jaz morta uma bela e misteriosa

mulher, a amante e modelo do artista plástico Duilio Peruzzi. Já que um dos suspeitos do crime é o próprio pintor, o conto insiste na plasticidade do ambiente. Mais uma vez Daniel Hernandes solucionará o caso; ele, agora, já uma espécie de companheiro do delegado Jiménez, é sempre convocado quando os casos mostram-se dúbios. Na verdade, o revisor de provas é um detetive cerebral que, com uma visão não contaminada, diversa da visão dos policiais, consegue enxergar o detalhe que somente um especialíssimo leitor não deixaria passar.

Em “Assassinato à distância”, narrativa se-guinte, Hernandes está numa espécie de casa de praia como convidado especial. Mas, na verdade, o convite tem segundas intenções. O dono da casa deseja que ele desvende um caso já dado como encerrado pela polícia. No episódio, é digna de nota a participação do delegado Jiménez, possível de ser identificado apenas no final do episódio, e com atuação também decisiva.

“A sombra de um pássaro” retrata um crime ocorrido no universo da alta sociedade, onde algumas pessoas pensam ter o poder sobre tudo e sobre todos. Um pequeno de-talhe, porém, a tal sombra do suposto pássaro, levará Daniel a descortinar o crime de modo diferente da pretendida solução policial.

O hilariante último conto “Três portugue-ses embaixo de um guarda-chuva (sem contar o morto)”, mostra que, não apenas no Brasil, mas também em terras portenhas, os habi-tantes do extremo oeste da península ibérica sempre convidam a uma boa piada.

Rodolfo Jorge Walsh nasceu em 25 de janeiro de 1927 na província patagônica do Rio Negro, numa família de origem irlandesa. Em 1941, após instalar-se em Buenos Aires e trabalhar em várias profissões, como lavador de pratos e limpador de janelas, é contratado ainda com dezessete anos de idade pela edi-tora Hachette. Nessa casa, exerce primeiro a função de revisor para, logo depois, tornar-se tradutor do inglês. No período verte, sobretudo, vários livros de literatura policial. Em 1950, Walsh estreia na literatura com o

Haron Gamal [email protected]

O destino do revisorIn

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“Não há como negar:valente é o barcono revolto mar.”

“Todos os pedaços de mimme fazem falta.Inclusive os que já me arrancaram.”

“Um minuto:se falta ou se sobra,pode ser muito ou pouco.”

“Todo o universovive e pulsa,sem problemas.”

“O passado existe na memória.O futuro existe na imaginação.O presente não existe, transita.”

“Se não sabes o que queres,por que me queres?”

“A fagulha é pequenamas a explosão é enorme.”

Sábado nightluzes high tech, corpos suadose muita fumaça na boite.Tomei um drink forte,não me sinto bemmas digo all right.

Essa situaçãose repete toda vez,exagero no álcoole penso que sei inglês.

Tudo me parece estranhoestou aqui by accidentenvolto e inebriado combad boys,beautiful girls,gente linda e sorridente.

Se no lugar de sábado,hoje fosse quinta,teria a minha vida a cor de outra tinta?

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Gisela Goldhttp://giselagold.tumblr.com/

TravessurasUm dia como outro qualquer, nos tem-

pos da tia de redação, o menino escreveu sobre bolinha de gude, fruta roubada no quintal do vizinho, olhar roubado da cor da calcinha da professora, cinema de adulto visto antes da hora.

A alma de moleque não entendia de paixão.

Ainda conseguia falar de si.

Desde que o mundo é mundo

Sempre desconfiei do bom humor de gente muito limpa.

Todo mundo que vai em frente marca o chão que pisa.

Viver requer sujeira.

conto “Las três noches de Isaías Bloom”, que receberá menção honrosa no concurso da revista argentina Vea y Lea, tendo nos jurados escritores como Jorge Luís Borges e Adolfo Bioy Casares. Walsh aventura-se em diversos gêneros literários até que, a partir de 1956, começa a escrever jornalismo investigativo. Publica, então, um livro-reportagem chamado Operação massacre, que desvendará um obscu-ro episódio da ditadura do general Aramburu. O escritor aproxima-se da esquerda e torna-se um intelectual inconformista, sempre pronto a usar a escrita em favor da justiça e da liberdade.

Ao contrário do que dissera sobre seu personagem no preâmbulo de Variações em vermelho, arrancado do universo da ficção para a realidade, Walsh não tem a mesma sorte do revisor de provas. Após escrever um artigo denunciando os crimes da ditadura militar que se estabeleceu na Argentina com o golpe de 1976, o autor cai numa armadilha preparada por um comando da Escuela de Mecánica de la Armada e morre metralhado. Seu corpo jamais apareceu, engrossando o rol dos desaparecidos do período. O criador de Daniel Hernandes – decifrador de enigmas e dublê de detetive – não teve o poder de sobreviver à violência militar que se seguiu em seu país na segunda metade dos anos de 1970, mas sua obra goza, nos dias de hoje, cada vez mais prestígio não apenas na Argentina, mas a nível mundial.

Variações em vermelhoRodolfo WalshTradução de Sérgio Molina e Rubia Prates GoldoniEd. 34 – 239 páginas

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Morte e vida, Severina

Aterro meus dedos e desenho natureza morta cheia de viço.

Vasculho tamanho que vira pó. Do qual viestes ao qual retornarás.

Aliás, evapore nesse inverno sem deixar caroços no meu mapa-múndi.

Que ainda carrego sementes e primaveras.

Público e privada

No lavatório de um posto de gasolina abandonado, catou texto de banheiro público. Invadiu sua vida privada com conselhos anô-nimos: “Amar o outro é somar a diferença”.

Talvez assim e só assim o amor sentasse pra jantar com leveza.

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