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Mães e filhos Maio 2011 Ano 10 N o 88

Folha Carioca / Maio 2011 / Ano 10 / nº 88

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Edição maio 2011

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Mães e filhos

Maio 2011 Ano 10 No 88

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editorial

Em todo o mundo as mães são homenageadas com uma data es-pecialmente dedicada a elas. A Folha Carioca, nesta edição, também irá homenageá-Ias trazendo a voz de filhos e de mães sobre o sentimento materno. Dificilmente alguém pensa na mãe sem ter lembranças de amor, dedicação e respeito. A mãe, que representa o primeiro contato do filho com o mundo, é responsável não só pelo bem-estar físico da prole, mas também pela construção do caráter da família e, principalmente, da espiritualidade de cada filho gerado. Vimos, pelas várias entrevistas, que o amor materno é talvez a mais forte demonstração de carinho que alguém vai receber ao longo de toda a sua vida. Tal intensidade é explicada justa-mente pela missão que tem uma mãe: gerar e zelar por uma vida. Outro aspecto observado nos relatos é que a maternidade traz uma gama de sentimentos ao mesmo tempo, como responsabilidade, compromisso, superproteção, doação, capacidade de receber afeto, mágoa, alegria. Entretanto, existe outro lado que não se pode esconder: ouvimos relatos de mães que deixaram marcas profundas nos filhos por não cuidarem deles ou que usaram violência. Felizmente foram muito poucos.

Talvez você já tenha encontrado pela cidade um grupo de pessoas expondo fotografias em um varal. Não estranhe. Só no mês de abril foram 3 exposições simultâneas, do Pavão-Pavãozinho ao Aterro do Flamengo, passando pelo Largo do Machado e pela agitada Praça Ed-mundo Rego, no Grajaú. Com ingresso custando apenas um sorriso, os integrantes do coletivo “O Estendal” levantam a bandeira de que o acesso ao bem cultural é um direito de todos. Em um constante clima de convívio, amizade e encontros, esses novos talentos criam um “bur-burinho” em torno de suas ideias, inovando dos métodos de criação ao jeito de expor e distribuir sua arte, literalmente pendurada em um varal. A Folha Carioca convida você a conhecer os bastidores desse coletivo de fotógrafos, que a qualquer hora pode cruzar o seu caminho.

Um dos destaques de nossa edição apresenta uma matéria onde vítimas de queimaduras podem ter uma recuperação mais rápida e com cicatrizes de melhor aspecto estético com o uso de suas próprias células de gordura. O cirurgião plástico Marco Aurélio Pellon, da Clínica São Vicente, mostra que esse tratamento é eficaz em pessoas com queimadura grave, de segundo e terceiro grau. Ele explica que as células de gordura (ou adiposas), encontradas na maior parte do corpo, regeneram com maior eficiência o tecido destruído, além de diminuir a necessidade de enxertos.

Boa leitura!

Mães e filhos

FundadoraRegina Luz

EditoresPaulo Wagner / Lilibeth Cardozo

DistribuiçãoGratuita

JornalistaFred Alves (MTbE-26424/RJ)

ColaboradoresAlexandre Brandão, Ana Cristina de Car-

valho, Anna Braz, Arlanza Crespo, Gisela

Gold, Haron Gamal, Lilibeth Cardozo,

Oswaldo Miranda, Patrícia Lins e Silva,

Sandra Jabur Wegner, Suzan Lee Hanson

e Tamas

Captação de AnúnciosAngela: 2259-8110 / 9884-9389 Marlei: 2579-1266

O conteúdo das matérias assinadas, anúncios e informes publicitários é de responsabilidade dos autores.

Capa Foto de Michelle Negri

Projeto gráfico e arteVladimir Calado ([email protected]

Revisão Petippa Mojarta

Ilustração Júlio Santa Cecília

índice

colunas

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06 Gisela Gold06 Suzan Lee Hanson08 Arlanza Crespo09 Sandra Jabur Wegner10 Patricia Lins e Silva11 Ana Cristina de Carvalho

13 Lilibeth Cardozo15 Alexandre Brandão26 Oswaldo Miranda28 Tamas28 Haron Gamal

2295-56752259-81109409-2696

ENTRE EM CONTATO CONOSCOLeitor, escreva pra gente, faça sugestões e comentários. Sua opinião é importante.

[email protected]

Quem é quem

Sil Montechiari

Saúde e bem-estar

Atividades aquáticas no pré e pós operatório

Educação

A tecnologia na escola do século 21

Saúde e bem-estar

Osteoporose, é melhor prevenir (continuação)

Nossos animais

Ode aos gatos

Capa

Mães e filhos

Fotografia

O Estendal

Saúde

Tratamento de queimaduras com células de gordura

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Arlanza Crespo

Ficar parada não dá!(a segunda parte)

Conheci a Silvia através de meu amigo Cláudio na semana passada. Vinha d-e-s-f-i-l-a-n-d-o, de chapéu de abas largas e vestidinho branco de rendas, passeando com seu cão da raça shitsu rebolativo chamado Snoopy. Quando a vi, me pareceu uma cena de “A bela da tarde”. Não porque se pareça com Catherine Deneuve, mas sim, porque seu modo de andar, seu jeito de falar, todas as suas expressões nos remetem a uma cena hollywoodiana. Estávamos numa lanchonete na esquina de uma das ruas no Leblon e en-tão, ela se juntou a nós para o almoço. Como não me conhecia, educadamente, disse que iria ao banco e retornaria mais tarde, para nos deixar à vontade. Quando insistimos, rapida-mente se dirigiu ao balcão e fez seu pedido de um PF com peixe, prática como ela só.

Com desenvoltura, dominou o assunto com sua fala alegre e descontraída. Disse que era do interior e que morava aqui no Rio há pouco tempo. Aí, se queixou do custo de vida no bairro, aliás, no Rio, por fim, no Brasil. Contou rapidamente sobre sua última viagem há seis meses, onde foi parar na África (pra lá de

Marrakesch!), e explicou que foi para a Espanha passar 40 dias para comemorar seus 40 anos. O interessante, era que havia passado seu cumpleaño no deserto de Saara em uma haima (que logo explicou que é uma espécie de cabana dos tuaregs, um dos povos nômades da região). Toda essa ilustração cultural para justificar seu comentário e perspectiva de morar em Madri ou Nova York até o fim do ano. Como disse, retornando ao cerne da questão, estava apavo-rada com o valor de uma torta de maçã aqui, que lhe custou R$ 14,90 e que foi assunto para 70 comentários e reclamações no Facebook.

Fico curiosa sobre sua ocupação e ela sorri dizendo: “Bem, depende. Agora? Agora, estou atriz e ... feliz! Porque descobri o que quero ser agora que cresci! Acabo de iniciar uma promisso-ra carreira de assessora de estilo! E não sei como não havia pensado nisto antes, pois é a melhor de todas as cinco opções anteriores. Já fui designer de interior, de joias, fotógrafa, empresária, mas minha formação é em Marketing.” Ufa!!!

E pergunto se uma assessora não seria uma stylist e se ela presta consultoria de moda. “Não, não”, ela diz. “É mais amplo. Mas, mais simples. Considero muito preten-siosa essa palavra. Tenho a impressão que o consultor é aquela pessoa que acha que sabe tudo. E eu gosto bastante de Sócrates (todos rimos). E um consultor de moda normalmen-te foca nas tendências de cada temporada.

A Sil Montechiari se dispôs a me dar uma entrevista sem nenhuma resistência. Ela acredita que sua história possa colaborar, simplesmente, para confirmar para as pessoas a necessidade que a atualidade nos impõe: “A gente têm que se virar”, às vezes... até pelo avesso!

Tenho somente a intenção de utilizar meu senso estético para adequar e harmonizar a moda de acordo com o perfil de cada pessoa. Ajusto e assino para elas, uma marca própria, que as diferencie dos demais, mas que registre sua própria imagem associada ao seu lifestyle. É estilo que quero criar. E isso vai além da rou-pa que você usa, entende? ela me pergunta. É necessário saber o que combina com cada tipo físico, quais os truques para amenizar e valorizar o visual. Que tenha a ver com a profissão, o jeito de agir, o ambiente que frequenta e aonde quer chegar.”

Olhando para a Sil (nome artístico que vem de seu apelido carinhoso de infância), com sua maneira espontânea e dinâmica de se comunicar, com seu histórico versátil, com sua autenticidade e gentileza, entendo o que quer dizer. E compreendo quem diz: “A gente tem é que rebolar, pra se sustentar!”

E ela finaliza: “No Brasil? Só com muito trabalho, muita garra e muita criatividade!”

E haja talento!

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Gisela [email protected]

A chave da casaPedro tinha em mãos a chave da casa.

Não, a chave de casa. Uma casa nunca antes habitada. Casa adquirida na planta. Casa de pai que pensa no futuro de Pedro. Que pensa em tudo. Quase tudo.

E nesse quase, a chave de casa caiu no bueiro. Foi braço de alguém que encostou. Um alguém que logo chamou-se “Lobo”. Um Lobo que não era mau. Era chaveiro.

Sem pestanejar, Lobo carregou Pedro para seu ofício, onde lhe devolveria a chave de casa. Lobo contou que aprendera o ofício desde pitoco com o pai que lhe dera a chave de seu futuro. Fazia todo santo dia a mesma coisa: a chave da casa de alguém. Toda chave tinha sempre uma história. Perguntou a de Pedro que disse ainda não ter uma pra contar.

Pensei em escrever neste mês sobre comida saudável e ao mesmo tempo apetitosa, mas essas palavras não vieram. Vieram outras, misturando música com comida. Preferi, então, deixar o tema original para outra oportunidade.

Em geral, música brinca o dia todo em minha cabeça, e a que me vem agora é um soul da Etta James, chamado “Love’s been rough on me”. Música forte, que comove profundamente, en-chendo a alma e o coração. Instintivamente veio a associação deste tipo de música com uma comida feita com alma, como comida de avó. Enquanto outros souls varrem meus pensamentos, como os de Neville Brothers ou da Aretha Franklin, fiquei pensando em o que cozinharia ao som destes temas. Minha receita de alma está ligada a uma das minhas várias origens familiares, a do sul dos Estados Unidos: um fried chicken com biscuit, que minha avó fazia divinamente. Apesar de frituras serem politicamente incorretas hoje em dia, eu assino embaixo a receita de frango frito: pedaços de frango temperados com alho, limão, pimenta-do-reino e páprica, depois passados em farinha de trigo e fritos em imersão de óleo em fogo baixo, de 15 a 20 minutos, virando os lados nesse intervalo. Crocante e molhadinho, os vigilantes de calorias que me perdoem, é sensacional. Quanto ao acompanhamento, o biscuit, nunca achei tradução

Partitura

Suzan Lee [email protected]

A casa ainda era de ninguém. Pedro sentiu-se Pedrinho. Pedro sentiu-se pedrinha.

Lobo perguntou se Pedro não queria fazer a chave da própria casa. Que podia ensiná-lo.

Não sabia que pedra sorria. Há muito Pedro não esbanjava sorriso tão seu.

Quando acabaram Pedro perguntou quanto devia. Lobo deixou por conta da casa. “Que casa?”- perguntou Pedro. “Essa aqui”- devolveu Lobo.

Pedro não queria ir embora dali. Há muito não se sentia tão achado.

Lobo apertou a mão de Pedro, afinal a campainha tocava em sua casa. Mais um cliente, mais uma chave.

Pedro seguiu andando de costas, como quem não quer ir, mas foi e chegou na tal

casa com a chave. A chave feita por Pedro. Um Pedro cheio de lobo dentro.

Abriu a porta, correu para a janela e soltou seu lobo pra fora.

Ainda não se sabe o que restou.Só que a chave entrou.Uma chave de casa. Uma chave da casa. Uma

chave de Pedro. Uma chave da casa do Pedro.

Michael Gericke

nem consegui reproduzir a receita da minha avó. Também não achei lugar no Rio de Janeiro que o venda. É uma mistura de bolo com pão, salgado e macio, feito de manteiga, farinha de trigo, leite e fermento em pó, como um pão de minuto. É para comer quentinho, com manteiga. Se alguém conhecer uma receita que dê certo, por favor, me envie. Pesquisando o assunto na internet, descobri que de fato existe uma corrente culinária chamada de soul food, de origem afro-americana e nascida no sul dos Estados Unidos, que se utiliza de ingredientes africanos e outros emprestados da culinária indígena norte-americana. São utilizados ingredientes como feijão, partes menos nobres de carne de porco, pão de milho, batata doce, milho e verduras. Muitos dos preparos são frituras, como os tomates verdes fritos, mas temos que levar em conta que a comida era feita para saborear após um dia duro de trabalho no campo.

Outro tema musical interessante que me ocorre, é a música latina de Carlos Santana e de um grupo cubano de hip hop, chamado Orishas, ambos bem apimentadas e calientes. Acho que cairia bem com tortillas de milho com salsa pican-te de tomate, cebola e cheiro verde de entrada e como prato principal o Ajiaco, prato nacional cubano, que é um guisado de vegetais e raízes como mandioca, nabos, cenouras, milho, alho,

cebola e ervas, tudo muito bem condimentado, com alho, cebola e especiarias.

Por outro lado, jazz fusion, estilo que mis-tura elementos de jazz, rico em improvisações, com ritmos e grooves the funk, R & B e efeitos de rock, me remete a pratos da culinária con-temporânea. É uma corrente igualmente cheia de improvisos, que mistura tantas técnicas e ingredientes de diferentes procedências, que nos dificulta identificar uma região ou linha culinária de determinada receita. Às vezes reinventa o formato de um prato conhecido, como o famoso e incrível bolinho de feijoada recheado com couve do restaurante Acon-chego Carioca, outras vezes se inspira em alguma região, mas envolve um bocado de liberdade criativa, como o croquete de carne picante com molho de iogurte e hortelã que uma vez comi no restaurante Mentha, com inspiração árabe, ou o bolinho de frango ao curry, coberto com castanhas e acompanhado de curry e banana, com influências orientais que experimentei no restaurante Miam Miam. Enfim, um desfile de novidades, estimulando as papilas gustativas, que soam para mim como a música do Weather Report ou do Miles Davis.

A partitura na culinária é escrita com inten-ções, cheiros e sabores...

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Novidades Serviços e Entregas

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Arlanza [email protected]

“Me empresta a sua sombra?”

A praia é e será sempre a minha fonte de inspiração! Frequento a do Leblon, onde moro, há quarenta anos. Amo o mar, amo olhar os Dois Irmãos e saber que eles nunca vão me abandonar. Adoro ver o mesmo coroa todos os dias sentado no mesmo quiosque lendo o jornal. Não sei o nome dele, nem ele sabe o meu, mas nos vemos há tanto tempo que posso até dizer que somos desconhecidos íntimos. Enfim, descobri que quero isso para o resto da minha vida. Só que aos poucos tenho percebido mudanças de comportamento e atitude nas pessoas que frequentam a praia. Estão mais nervosas, mais agressivas. Até eu que sou tranquila estou perdendo a paciência com certas situações que se apresentam na areia. Aquela, por exemplo, da célebre frase “pode dar uma olhadinha?” já está me estressando. Antigamente eu dizia que sim, e me sentia na obrigação de ficar tomando conta daquelas coisas até o cidadão voltar da água, às vezes muito tempo depois. Agora eu digo não, invento uma desculpa e pronto. Outra situação desagradável é você estar na praia quase vazia, chegar alguém e sentar bem perto. Tenho vontade de levantar e mudar de lugar. E as conversas altíssimas no celular? Já fiquei sabendo de cada segredo cabeludo de gente que eu nem conheço! Fora atitudes mais perigosas, como os quadriciclos dirigidos pela Polícia Militar a toda velocidade na areia, ou ainda ambulantes ameaçando colegas de tra-balho por estarem vendendo fora do preço…

É, a praia mudou muito! Antigamente a gente levava a própria barraca e a cadeiri-nha de madeira e lona listrada. Lembro que o meu amigo se distinguia porque a barraca dele era a mais alta de todas, e lá da calçada a gente já sabia onde ele estava. Agora todas as barracas são iguais, são alugadas. Eu também aderi ao aluguel, é mais prá-tico, concordo, ficamos mais preguiçosos. Dá trabalho carregar barraca e cadeira de casa, mesmo que se more na quadra da praia. Mas como é que não dava trabalho antigamente? Num domingo desses, praia lotada, meio-dia, gente fazendo fila para pegar barraca, me deparei com uma situa-ção insólita: um rapaz veio e perguntou se eu podia emprestar a minha sombra, quer dizer, se ele podia sentar na sombra que a minha barraca estava fazendo, já que no momento eu estava no sol. Pensei rápido, nunca tinham me pedido isso antes, achei que não tinha problema e disse sim. Ele sentou, de repente veio mais um, depois mais outro e tranquilamente os três se instalaram na minha sombra com a maior cara de pau! Fiquei sem graça, não tive jeito de pedir a sombra de volta, levantei e fui embora. Eles disseram “valeu!” Fiquei muito irritada, mas foi bom, agora aprendi mais essa. Nunca mais empresto minha sombra! De qualquer maneira “valeu” meninos, a vida é um “valeu” constante, e esse “valeu” gerou pelo menos uma ótima crônica!

Júlio Santa Cecília

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Sandra Jabur Wegner

Atividades aquáticas no pré e pós-operatório

A recuperação é mais rápida e todo o pro-cesso menos doloroso. Exemplo típico é a artro-plastia de joelho ou de quadril, onde é substituída a articulação completa ou compartimental, no caso do joelho, e total, no caso do quadril. São cirurgias maiores, com recuperação mais lenta, muitas vezes podendo ficar de 15 a 30 dias sem pisar no chão. Nestes casos e em outras fraturas (fêmur, tíbia etc), após a cicatrização e autoriza-ção médica, a hidroterapia pode ser iniciada o mais precocemente possível. Podemos tratar o paciente sem colocar o pé no chão da piscina,

em deep water e depois com descarga de peso corporal progressivamente crescente, utilizando as diferentes profundidades da piscina. Por exem-plo, água no nível dos mamilos equivale a 40% do peso corporal, ao nível da cintura representa 50% do peso, e assim segue.

O fortalecimento, os exercícios funcionais e a transferência de peso na deambulação podem ser feitos precocemente. Mobilizações, ganhos de arco de movimento, flexibilidade articular e alongamento muscular são facilitados com auxílio das propriedades físicas da água como empuxo (flutuação) e temperatura. A diminuição do edema é facilitada devido à pressão hidrostática que age como uma meia-elástica. A temperatura da água e o empuxo facilitam o movimento, porque é mais indolor e agradável a sensação da água em torno das articulações e músculos de todo o corpo.

[email protected]

Os exercícios são coordenados com os movimentos respiratórios, o que facilita a exe-cução do movimento e a diminuição do quadro que provoca a dor.. A importância do trabalho na água reside na precocidade do tratamento, principalmente quando não pode ter descarga do peso, ou seja, colocar os pés no chão. O trabalho na água pode ser lento, médio e forte, intenso e relaxante. Podemos tratar da recuperação de um atleta de alto nível bem como de um idoso ou um bebê.

O trabalho na água ainda é bastante desco-nhecido por parte dos médicos, fisioterapeutas e das pessoas em geral. A associação do trabalho na água com fisioterapia no solo acelera o tratamento.

Dúvidas sobre o assunto podem ser escla-recidas através do e-mail

[email protected]

Embora seja grande a diversidade das cirurgias, neste artigo vamos nos ater a algumas ortopédicas. Artroscopia de joelho, minisectomia (retirada do menisco), toalete do joelho (limpeza da articulação), remoção da condomalácia etc. são cirurgias menos invasivas.

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educação

Para reservar a função que a sociedade atribui à escola de preparar as novas gera-ções, é preciso reconhecer a obsolescência do ensino ainda proposto hoje em dia e descobrir as competências relevantes ne-cessárias para o aprendiz que vai viver em um mundo que só tem certeza da incerteza. Diante das outras mídias que permitem aces-so rápido e imediato à informação e saberes, a escola não é mais a principal provedora de conhecimento. Para afirmar sua função de formadora de cidadãos, a escola precisa - além de permitir o acesso do aluno ao acervo cultural da humanidade - se adaptar a um mundo que cada vez mais vive nas telas, que é o mundo em que vive seu aprendiz, de criança a jovem.

Faz-se necessária a ousadia de um salto qualitativo para sair da escola arquetípica, com alunos sentados uns atrás dos outros com pro-fessores doando ensinamentos (e que é a forma

A tecnologia na escola do século 21Patrícia Lins e Silva

dominante no imaginário da grande maioria), para um lugar em que os alunos aprendam a realizar projetos e a resolver problemas significa-tivos para eles e seu grupo social. Um lugar em que os aprendizes buscam saber, se responsa-bilizam por sua aprendizagem, fazendo uso de funções superiores do pensamento - analisar, refletir, definir, concluir, generalizar, sistematizar - sobrepondo-se ao conhecido treinamento das funções básicas de memória, atenção, concentração. No seu desenvolvimento, o aprendiz está sempre assessorado por mestres e recorre às diversas tecnologias na construção de seu conhecimento.

Em vez de usar os computadores para a apresentação de trabalhos “limpos” e “bem digitados e ilustrados”, as novas tecnologias podem ajudar a romper paradigmas, trazendo os computadores para fora dos laboratórios, usando-os como ferramentas poderosas na ampliação da capacidade de pensar.

A instituição escolar, hoje, ainda pratica um ensino mais próximo da educação enciclopédica do passado do que da educação necessária para o enfrentamento de um mundo em célere transformação, consequência do desenfreado desenvolvimento das tecnologias.

A escola do século 21 usa a tecnologia dos computadores dentro e fora das salas de aula, pelos corredores e espaços externos, permi-tindo que se rompa com a forma e estrutura habituais das aulas. Aos alunos é permitido que interajam entre si e com as possibilidades da máquina, de maneira que possam exercer ao limite a capacidade de pensar do ser humano, buscando soluções para todos os tipos de problemas, desde os mais concretos do dia a dia às mais abstratas questões metafísicas que assombram o homem.

“... (O computador) não é uma fer-ramenta, embora possa ser usado como muitas ferramentas. É a primeira metamídia e, como tal, tem graus de liberdade para representação e expressão nunca antes encontrados e ainda escassamente inves-tigados. Mais importante ainda: é divertido e, portanto, vale a pena intrinsecamente”.

Alan Kay, 1984

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Na edição anterior da Folha Carioca vimos a origem do treinamento, o que é a doença, qual o método de prevenção e o que é o aparelho. Agora veremos como ele funciona e como a plataforma vibratória atua.

A trepidação da plataforma provoca insta-bilidade no corpo, pois, cada vibração provoca um reflexo muscular involuntário de até 300 contrações por minuto com recursos para esti-mular todo o corpo. Além disso, estas contrações involuntárias promovem reflexos naturais em todos os músculos e ossos envolvidos em cada articulação do corpo, desenvolvendo músculos e ossos mais fortes. O segredo dessa nova tecno-logia está na precisão das vibrações combinadas com os movimentos de estabilização do core (músculos do assoalho pélvico e abdome), na

é melhor prevenir do que tratarTreinamento em plataforma vibratória

Continuação da edição anteriorsaúde e bem-estar

minimização do alto impacto que poderia causar dor ou desconforto, na utilização de movimentos de simples execução que não exigem grande coordenação motora ou flexibilidade, em uma rotina de exercícios progressivos adaptados de forma individual, e que traz resultados surpre-endentes, uma melhora incrível da força, da resistência e da condição física.

Esta é uma verdadeira inovação em trei-no e em condicionamento físico garantindo hipertrofia das fibras musculares e aumento da densidade óssea. A plataforma vibratória estimula exatamente as fibras de ação rápida, além de incentivar a formação de massa óssea, o que faz com que a musculatura do idoso melhore, impedindo que ele sofra quedas. Com o estímulo da plataforma, as pessoas passam a

Osteoporose...

ter mais força para fazer suas atividades diárias. As plataformas vibratórias são indicadas como tratamento coadjuvante da osteoporose. Um estudo realizado nos Estados Unidos com 70 mulheres na fase pós-menopausa mostrou que vibrações de baixa intensidade aplicadas durante 20 minutos diários podem inibir efetivamente a perda óssea na região da coluna e do fêmur. É importante ressaltar que, apesar de sua eficácia, as plataformas vibratórias não dispensam o tratamento farmacológico da doença.

Prevenir a osteoporose é mais fácil que tratar.

Ana Cristina de [email protected]

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Exposição “Passos da Paixão” é inaugurada em Paróquia da Gávea

notas

A paróquia Nossa Senhora da Conceição,

na Gávea, inaugurou uma exposição permanen-

te retratando a Via Sacra baseada na obra do

Mestre Antonio Francisco Lisboa - o Aleijadinho.

As 14 telas da renomada artista plástica mineira

Simone Ribeiro vivenciam e refazem os “Passos

da Paixão”, maior obra do artista barroco, ex-

posta em Congonhas, Minas Gerais.

Simone Ribeiro é pesquisadora da cultura

e folclore popular brasileiro desde 1999, e a

partir de 2004 mergulhou na temática e lançou

o livro “Barrocão”, fruto da materialização

plástica de 50 obras suas inspiradas nas viagens

e registros fotográficos dos circuitos turísticos.

Suas obras foram expostas em diversas galerias,

centros culturais e museus.

Após um “apagão artístico” em busca de

inspiração, como a própria autora relata, ela

se debruçou sobre a Bíblia e livros da obra

do mestre Aleijadinho e, na véspera da Qua-

resma de 2008 fez uma promessa particular a

Deus de que faria uma Via Sacra nos quarenta

dias seguintes. Todas as composições e de-

senhos foram executados no prazo faltando

apenas o acabamento em massa acrílica sob

pintura, que realizou em seguida. Após várias

exposições de sua obra e lançamento do

livro “O Aleijadinho Pop” que versa sobre a

temática, execução e técnica dos quadros, ela

satisfez seu desejo maior que era a doação de

todo este acervo para uma igreja.

Essa belíssima obra chegou, então, à

paróquia Nossa Senhora da Conceição da

Gávea através de seu amigo e também artista

especialista em restaurações Stelio Teixeira

e do empresário Celso Aguiar Jr, que foram

os intervenientes da doação junto ao pároco

Pe. João Geraldo Machado Bellochio.

A abertura da exposição aconteceu no

dia 12 de abril, com a presença do Arcebispo

do Rio, Dom Orani Tempesta, da artista e

autora, de seus familiares e amigos, com

o coral da paróquia, empresários, artistas

e da maciça comunidade da Gávea, que

prestigiaram o evento. A exposição dos qua-

dros ficará, doravante, exposta em caráter

permanente na paróquia, à Rua Marquês de

São Vicente, 19 – Gávea.

A inauguração da mostra contou com a presença da artista

Simone Ribeiro, do Padre Geraldo Bellochio e do Arcebispo do

Rio, Dom Orani Tempesta, entre outros

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[email protected]

Lilibeth Cardozo

Ela viveu 92 anos e morreu da doença de Al-zheimer. Ou melhor, não morreu da doença e sim de “falência múltipla dos órgãos”. Acho que ninguém morre de Alzheimer, o mundo é que vai morrendo para o doente. Ela apagou como se apagam as cha-mas que por muitos anos iluminaram muitas vidas. Impossível não lhe dedicar minha crônica deste mês de maio, o mês das mães. E resolvi escrever para ela (vocês me dão licença, né?) porque minha orfandade adulta me deixará de mãos vazias no segundo do-mingo de maio, como me deixou no Natal. Somos órfãos em qualquer idade.

Meus olhos encontrarão muitas delicadezas nas vitrines que poderiam enfeitar minha alegria e sua linda maternidade: uma almofadinha para acomodar seu rosto, um pijama floridinho, um novo lençol para sua cama, um sapatinho macio todo feito de pano, uma colônia de perfume leve, um ramalhete de flores para enfeitar a cômoda de seu quarto ou um travesseirinho, como aquele, bordado “mamãezinha querida” em ponto-haste, como o que uma das minhas irmãs fez para ela. Desde que nós, seus oito filhos nascemos, será o quarto Dia das Mães sem o almoço domin-gueiro e aquela grande família reunida, comemorando nossa mãe, nossos filhos nos comemorando, os filhos de nossos filhos brindando a vida de suas mães, de suas tias, de sua avó, de sua bisavó.

Onde está você, mamãe? Em sua casa a encon-trávamos muitas vezes de cócoras, com as mãos imundas de terra preta, fazendo mudinhas das viole-tas roxinhas, brancas, rosas... Na cozinha descascan-do laranja-da-terra para fazer um doce; escrevendo na mesa da sala a ata das reuniões do Apostolado da Oração. Mãe, cadê você? Onde está sua voz nos dizendo que o almoço estava na mesa, rezando a Ave Maria, chamando Jesus de “Nosso Senhor”? Ah, mãe, lembro tanto das suas roupas elegantes, a saia plissada, sempre do comprimento correto, suas blusinha de malha com casaquinho comportado, seu colarzinho de pérolas que nem eram verdadeiras (eu até queria lhe dar um, mas não deu tempo). Suas flores na jarra da sala, a colcha de crochê do quarto, o mingauzinho de aveia à noite que você fazia pra mim, o chá de folhas de laranja da terra queimadas com cachaça e açúcar quando eu tossia aquela tosse de cachorro magro. Você na sua cama, mãe, com seus filhos feito ninhada, todo mundo brigando por um espacinho mais perto do seu cheiro. Você mãe, sempre com a fita do Sagrado Coração de Jesus,

Quero minha mãe

acompanhando as procissões e eu com medo da tal procissão. Lembra mãe, a gente indo lá na costureira para encomendar o vestido de festa?

Mãe, quase ninguém nesse mundão de Deus teve mãe sendo sua professora no Jardim de Infân-cia. Ah, mãe, a gente era tão pequenininha! Tem até aluno e aluna seu que já morreu. Pode, mãe? Ninguém poderia morrer. Fala aí, mãe, para Deus que essa história de morrer é muito ruim. Será, mãe, que eu aguento viver sem vocês todos? Será que aí onde vocês estão fica todo mundo junto? Se for assim, mãe, eu nem ligo muito de morrer porque vamos poder juntar uma familhona outra vez, né? Mas tenho um medo horrível, mamãe, e você nem tá aqui pra me acalmar. Sabe mãe, agora estou mais calma e até tenho me conformado com essas ideias de finitude. Para me consolar fico fantasiando que vocês todos já se encontraram, e estão aí olhando a gente nessa bobagem de querer tantas coisas, sofrer por qualquer tolice e se agarrando nesse “mundo cão” como disse tia Madalena. Mãe, no domingo das Mães, vou comprar uma violetinha roxa ou será que você prefere rosa? E vou mandar pra você. Pode deixar mãe, vou colocar aqui no meu quarto pra ninguém derrubar. Mais tarde, mãe, vou rezar pra lhe mandar meu beijo e combinar com Deus umas coisas. É que a gente dá muito trabalho e você, mãe, depois de viver 92 anos, deve estar muito cansada. Mas, você é guerreira, sofreu muito com essa tal de Alzheimer e nem pôde contar para gente como é mesmo que isso acontece. Agora, mãe, fica quietinha, descanse e espera, porque se for verdade essas coisas que você nos ensinou, vai ter um dia que vamos fazer uma festança de Dia das Mães aí no céu! Por enquanto, continuamos a festejar você aqui, todo mundo junto, seus sete filhos, seus 29 netos e bisnetos. Sua lembrança, mãe, é sempre festa!

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Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso. Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.

O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não sa-tisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.

Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a obser-vação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obe-decendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

“Falso”, porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela indivi-dualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de

Ode aos gatos

entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe “ler” pensa que “ele não está ali”. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.

Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pes-quisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.

O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!

Lição de sono e de musculação, o gato nos en-sina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de en-volvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.

Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem co-branças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.

Artur da Távola, o pseudônimo de Paulo Alberto

Moretzsonh Monteiro de Barros, (1936-2008) foi advo-

gado, jornalista, radialista, escritor, professor e político.

Como jornalista, atuou como redator e editor em diversas

revistas, notavelmente na Bloch Editores e foi colunista

de televisão nos jornais Última Hora, O Globo e O Dia,

sendo também diretor da Rádio Roquette Pinto. Publicou

23 livros de contos e crônicas.

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Alexandre Brandão

O erro que nunca cometi

[email protected]

Brinco dizendo que meu único erro na vida foi ter nascido - alguns acreditam que digo a verdade, e muitos concordam com a tese da minha brincadeira. Francamente, não passa de um exagero.

Exageros de certo modo garantiram nossa vida tal e qual a temos hoje. Não fossem eles, não passaríamos de uns dez ou doze Adões e Evas, filhos pingados à terra em momentos de tédio de Deus.

Exagero foi ter dado ouvido (asas ainda não demos) à cobra e comido a maçã que o diabo lustrou com o bafo. E ainda: guerrear por Helena, erguer a Muralha da China, pintar a Monalisa, revelar os sentidos dos sonhos. Não à toa cantamos: “Exagerado, eu sou mesmo exagerado, adoro um amor inventado” (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni).

Na verdade, e sem exagero, cometo erros de toda espécie. Chego mesmo à borda do pecado, mas parece que não passo daí. Veja se concorda.

Os dois primeiros mandamentos pregam que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e não usar Seu nome em vão. Talvez eu queira discutir um

No Osso

pouco o que seja Deus, mas, pondo-nos de acordo sobre isso, respeito o divino sem outras considerações.

Sempre honrei pai, mãe e os outros legítimos superiores. Nunca matei. Nem roubei. Jamais levantei falso testemunho (tudo bem, uma ou outra vez, para ver um dos meus irmãos em apuros com mamãe, mas já fui perdoado, era uma criança!).

Quanto a guardar domingos e festas de guarda, con-venhamos, o mundo mudou, e eu mudei com o mundo.

Não entendo bem o que seria guardar castidade nos pensamentos e nos desejos. Temo ter ferido e ainda ferir tal preceito, não apenas no nível do pensamento e do desejo. Não sou mesmo um santo.

Mal redigido (ou mal traduzido), o último manda-mento - não cobiçar as coisas do outro - se fia numa palavra ambígua: coisa. Se por ela devo entender os bens materiais das outras pessoas, não os cobiço, mas, aqui e ali, invejo-os. Nada muito grave, de fato são lampejos de inveja, que vêm e vão. Porém, se, como afirmam alguns, a mulher do outro está entre essas coisas, ô, dó de mim.

Leitor, acabo de me expor ao ferro e fogo de seu julgamento. Espero que olhe para si antes de dizer que, de fato, era melhor eu não ter nascido, que meu erro foi esse.

Nas vezes em que me vejo nervoso, quando não coço os olhos, assobio. Um gesto ou outro me confor-tam, com eles ganho tempo. E o tempo - recorro ao banal - opera milagre; com seu beneplácito, pode-se reverter a mais desfavorável das situações.

Durante a sua leitura, por exemplo, assobio à espera de seu veredicto.

Fiat lux: assobiando encontro o erro que jamais cometi: nunca votei no Bolsonaro.

Isso compensa meus quase pecados?

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Mês das Mães

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menino de seis anos que mora no exterior. O menino vive com a mãe, vê frequentemente sua avó, tanto no Brasil quanto no país em que reside. Sua atitude, relata-da à Folha Carioca por sua avó, referenda a autoridade expressa que a mãe manda mais que qualquer pessoa. Margarete nos relata: “A proposta de falar sobre ‘Eu sou a mãe’ me fez lembrar uma historia do meu neto Luca. Eu estava na casa deles e a Joana, minha filha, não o deixou fazer determinada coisa ou mandou fazer algo que ele não queria. Ele me pediu para interferir a seu favor para mudar a ordem. Ela ficou ainda mais brava e disse que não queria que eu interferisse. Conversei com ele que não podia fazer nada porque ela era a mãe dele e ele devia obedecê-la. O argumento dele, seguindo a mesma lógica usada por nós, de que filhos devem obedecer às mães foi direto: “Mas vovó, você é mãe dela!”

Mãe que fazia dançar a insegurança

Elizabeth Roballo nos conta, aos 50 anos, que quando menina, sua mãe zelosa e preocupada em dar às filhas uma educação primorosa, matriculou-a no balé clássico que, naquela época era “tudo”. Ela nos diz: “Eu, uma magrinha tímida, fui obrigada, pela minha mãe a começar bem cedo no balé, por volta dos quatro anos de idade”. A melhor memória que Beth guarda são os cuidados da dona Glorinha, mãe dedicadíssima: “Minha mãe sempre aguardando que a aula de balé acabasse, sentada na sala de espera, era a parte que eu mais gostava! Nas aulas mensais de auditório, para exibir os progressos, eu me sentia a pessoa mais insegura e vulnerável, com o medo jamais superado de esquecer os passos da coreo-

grafia. Sonhava com aquilo, sempre. Hoje, guardo somente boas lembranças e muitos legados: o tra-balho com o corpo, o senso de direção, a cultura, a música. Está tudo dentro de mim e foi por causa da força e persistência da minha mãe Glorinha, que não ligava para o meu ‘corpinho mole’. Sou grata pelas melhores sapatilhas, pelas fitinhas de amarrar sempre passadas, as malhas limpas e cheirosas. Minha mãe sabia tudo, talvez tenha feito aquilo por ela própria, que não teve igual oportunidade, que abandonou uma vocação de pianista. Se fez por ela, foi aí mesmo que fez por mim!”

Mães que amaram ensinando com seus sentimentos, a força e a diversidade humana

Muitos entrevistados relataram a importância da mãe, socializadora verdadeira, líder, moderna, sem obscuridades ou dissimulações. Mães que criaram seus filhos em cidadezinhas do interior, reforçam a personalidade das mães que, sem muitas falas ou discursos, permitiram que seus filhos crescessem ganhando o mundo com os exemplos de conduta. Alexandre nos fala de sua mãe, uma mulher do inte-rior mineiro: “Minha mãe era Haydée. Ela tinha pavor de chuva. Tinha outros. Também não era lá muito forte, a ponto de colocar as visitas para cuidarem da minha cabeça atingida por uma pedrada recebida em briga de rua. Mas era durona, sua palavra era lei. Não era obscura, muito pelo contrário. Ao redor dela juntava-se todo tipo de pessoas: as simples, como as que vinham prestar serviço em casa, as poderosas, as artistas. Haydée foi alçada, de forma velada e por suas qualidades, a uma espécie de lide-

“Ser mãe é começar o mundo”, foi assim que Laura Laviola, uma menina de 7 anos de idade escreveu a frase vencedora do concurso sobre ser mãe numa escola doze anos passados.

Lilibeth Cardozo

Mães

A Folha Carioca, buscando fugir do lugar comum de ovação à maternidade, ao sagrado útero materno, à perpetuação da espécie, à condenação muitas vezes impiedosa da livre escolha por não ter filhos e aos apelos comerciais do Dia das Mães, foi buscar as vo-zes de filhos e mães sobre o fazer outras pessoas, os sentimentos dos filhos por suas mães e das mães pelos filhos. Em relação aos homens pudemos observar certa cumplicidade biológica das mulheres com as gerações futuras. O homem perde poder diante do amor de um filho por aquela que o gerou e, em muitos casos, como se liberta um homem da paixão aterrorizada pelas entranhas onde viveu?

Recebemos inúmeras contribuições e a certe-za de que aquela que gera, acalenta, aconchega, amamenta , cuida e ensina, de fato começa uma vida, preparando outra pessoa. Ouvimos carinhos, admiração, respeito, críticas e até reclamações das mães obsessivas, exageradas, carentes e represso-ras. Na maioria dos depoimentos as mães foram descritas pelos filhos como disse a menina Laura, “o início” de tudo. Mesmo os constrangimentos passados por alguns filhos, foram relatados como excesso de cuidados. Ouvimos poucos relatos de mães que deixaram marcas profundas nos filhos por não cuidarem deles, como o Ed, adulto de 34 anos, que disse que fugiu de casa aos 14 porque sua mãe, professora, cuidava de todos os seus alunos, mas nunca dos filhos.

Mãe, autoridade incontestávelOuvimos relatos muito interessantes da força im-

placável da autoridade materna na formação de cada filho, tão bem expressa no relato da avó do Luca, um

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Pais e filhos reverenciando as mães (Alexandria, Egito)

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rança, que exercia inconscientemente. Numa cidade pequena de Minas Gerais, entre os anos de 1960 e 1970 (período que posso testemunhar), imperava um conservadorismo quase feroz. Minha mãe dava bananas para isso tornando-se amiga e confidente de gays, convivendo intensamente com os jovens, mesmo os mais contestadores. Prezava as pessoas e não os rótulos. Com essa mãe aprendi a lição da to-lerância, do respeito ao diferente. Ao mesmo tempo, lição que imagino é a de todo menino/rapaz/homem, logo, logo percebi que uma única mulher sempre é muitas. Sendo assim e sendo assado, Haydée não escondeu de mim o mistério feminino. O resto fui e sou eu, levando a vida inebriado por ele.”

Germana ressalta a conduta materna da mãe interiorana que no silêncio, sem grandes discursos ou revoluções, transgride o conservadorismo e em vez de julgar e excluir, agrega e aceita, passando aos filhos o respeito aos diferentes. Ela nos conta: “Minha mãe, professora do interior do estado, vivia numa cidade absurdamente preconceituosa. Ela era muito religiosa, mas não impunha sua fé aos filhos, não criticava as pessoas, liderava sua família, seus amigos e era o porto seguro de seus 6 filhos biológicos e dois do coração. Ela sempre abrigava em casa sobri-nhos, tios e parentes vindos das fazendas próximas. Minha mãe foi um exemplo de ensinar liberdade de expressão e vida a ser vivida sem medos. Até hoje lembro de atitudes dela que reconheço como estruturantes para ter tido filhos guerreiros. Minha mãe, de fato, fez pessoas muito fortes para tirarem da vida sempre o melhor e jamais negar as dificuldades. Minha mãe, continuou em seus 8 filhos, 19 netos e 10 bisnetos que não esquecem a mamãe, a avó e a bisa que se foi as 92 anos de idade. Ela foi uma mulher que construiu seres humanos ensinando-os a ler não só as letras, mas as diferentes escritas que revelam a beleza de viver.”

Aquela que protegeu de assédios paternos

Maria é uma mulher simples, trabalha muito e adora animais. Mãe dedicada ainda é mãe ao trabalhar ajudando outras mães. Ela nos diz: “Minha mãe sempre foi muito carinhosa, principalmente nos momentos mais difíceis. Meu pai não; foi horrível, sobrevivi até aos assédios dele! Eu quis muito ter filhos, para tentar dar a eles o que me faltou por parte do meu pai. Para mim foi sempre uma alegria ter a Bruna e o Brenno. Eles têm um pai carinhoso e muito cuidadoso com minha menina. Ser mãe é minha maior riqueza.”

Reconhecimento tardioAlguns filhos que conversaram conosco já perderam

suas mães. Paulo é um deles e lamenta não ter dado tudo que acha que ela merecia. Admitindo os valores de sua mãe em sua formação nos relata com emoção: ”O nome da minha mãe era Maria Coeli. Sua dedicação era integral para mim e meus quatro irmãos. Seus braços sempre

me acolhiam quando eu queria colo, e como é bom um colo de mãe! Seu coração compreendia quando eu necessitava de cari-nho. Seus olhos se endureciam quando eu precisava de limites. Seu amor era incondicional, me aceitando quando eu errava, me perdoando quando eu a magoava. Sua reza era forte o suficiente para me proteger dos perigos da vida. Sua sabedoria me orientou e me deu rumo para seguir meu caminho. Seus erros me fizeram aprender. Sua força era a base de uma família composta por muitos homens. Sua doença foi implacá-vel, mas o tempo suficiente para me aproximar mais dela. Só que, infelizmente, reconheci tudo isso tarde. Admito que minha retri-buição foi pequena perto do que eu poderia fazer por ela. São as oportunidades que passam e não aproveitamos quanto deveríamos.” Ter filho é quase uma poesia

Pilar é artista plástica e faz parte de uma família com várias gerações de artistas. Sua filha Matina também é artista plástica e educadora pela arte. Pilar nos relata com poesia e muita emoção como foi a chegada da sua filha, nascida numa ilha. “Grávida, eu caminhava todos os dias na praia e mergulhava na água mansa e fresca. Tive a grande revelação dentro do mar, olhando para o céu: “Eu estou dentro do mundo, assim como o mundo está em mim!” Numa noite de lua cheia, poderosa e plena, como esta que está hoje, era uma quarta-feira, meia-noite, os má-gicos sinais estavam sendo enviados, e eu os estava sentindo. Olhava para a lua plena e soberana, e ela, ela vibrava, emanando frequências. Ela conversava comigo! Fiquei tão impressionada que olhei para o outro lado. O silêncio... olhei para a bela deidade lunar e ela vibrou! Desvirei o olhar... Silêncio. A lua cheia me contou que o meu sol ia nascer e nasceu. Nasceu secular, tão antiga, tão sábia, saiu de mim e a fitei, ela me olhou com a mãozinha no queixo, emanou sons e eu, eu chorei.”

Mãe que fica viva nos filhosCarlota, filha caçula de quatro irmãos é mãe de

três filhos, todos já adultos e dois deles vivendo no exterior. Quando perguntamos a ela o que é ser mãe ela nos fala da influência estruturante que guarda de sua mãe: “Mãe, como tão bem sabemos, é uma ‘relação complexa’, tanto como sendo mãe, como tendo mãe! A minha, que não está mais aqui, carrego sempre comigo. Seja por um traço genético ou gosto semelhante, por uma viagem ou um concerto musical, por sua eterna discrição, enfim, vários detalhes. Ela já foi, mas continua viva em mim!”

Mãe mulher, companheira, amiga, imperfeita

O relato do Renato, um jovem de 31 anos é emocionante, verdadeiro e expressa a amizade e cumplicidade com sua mãe. Renato deixa claro o quanto sua mãe é responsável por sua formação sóli-da da natureza humana e dos diferentes papéis entre as mães e seus filhos. Foi um prazer ouvir Renato falando de sua mãe e a importância em sua vida. Ele nos diz, com sua placidez natural e muita simpatia. “Até uma certa altura da vida, minha mãe era perfeita, todos os meus valores maiores eu imputava a ela e vivi muito tempo aquela fase do “olha mãããããe o que eu tô fazendo”. Depois ela virou quase perfeita, tínhamos brigas enoooormes e a fase era do “não olha, mãe!” Estava na idade de saber tudo, e achava que suas ideias, já cristalizadas em adulto, mereciam alguma forma. Atualmente minha mãe tem 50 e tantos anos e é imperfeita como eu, com 31. Meus valores maiores não são dela, percebi: são meus, criados na convivência com os que me cercam e me inspiram. Hoje vejo-a brigando com seus problemas e questões e acho “bonitinho”. Olha como minha mãe aprende, olha como ela ainda tem que se virar pra dar conta de ser um ser eternamente em cons-trução. Hoje minha mãe é uma amiga (ela odeia que eu diga isso), uma amizade que tem que ser cultivada como qualquer outra, respeitada e compartilhada. Mas é minha amizade mais antiga. Daquelas pessoas que te dizem coisas com a sobrancelha. Por falar nisso, estou precisando chamar minha mãe pra tomar um chope e trocar umas ideias...”

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Martina (esquerda) e sua mãe Pilar

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Filhos, porque não muitos?Simone é pediatra e mãe de um filho, mas parece

ser mãe de todos. Suas feições são de acolhimento, sempre com um sorriso simpático e colo para acon-chegar. Ela afirma: “Ser mãe é sentimento forte”. E nos conta uma situação complexa que teve que enfrentar no dia do nascimento do terceiro filho de seu meio filho Pedro. Explicando: “Eu estava no hospital por que sou meio mãe do Pedro, ele foi adotado pela minha cunha-da e foi criado como membro da família. Morreram a mãe biológica, a tia, segunda mãe, e a minha sogra que também ajudou a criá-lo. Sobrei eu, de mãe estepe, e lá estava cumprindo o meu papel. Chegou a avó materna tão nervosa que logo foi esbravejando com a filha e o genro. Na sua opinião é muita irresponsabilidade uma menina de 21 anos largar os estudos, casar e optar por ter filhos. Na sua época ela sempre trabalhou duro para dar a sua única filha outra vida. O seu discurso era: ‘Ela teve tudo que queria e me apronta essa? Por que?’ Eu que também de certa forma concordo com ela, e também fiquei preocupada com a evolução da vida deles, ao ouvir tanta raiva fiquei em dúvida e me ouvi defendendo o direito do casal de planejar a sua vida. Ele tem um emprego, consegue manter a família e é claro que vão precisar de ajuda, mas isto faz parte da vida. No mundo de hoje com tanto egoísmo, com todo mundo pensando só em si, a atitude daquele jovem casal me tocou e eu questionei, por que não? Será que ter três filhos hoje em dia é tão problemático? Será que esta vocação para ser mãe está acabando? O que vai ser das próximas gerações de filhos únicos? Realmente fiquei meio perdida, me questionando como teria sido a minha vida hoje se só tivesse um filho, como foi o meu caso. Só que eu aceitei mais três que apareceram na minha vida, o Pedro e suas duas irmãs e somos uma família feliz tentando entender a vida. O bebê, Gustavo, nasceu bem, com quase 4 kg e eu ganhei um meio neto!”

Precioso papelUm renomado fotógrafo, Renato Moreth, ao ser

entrevistado pela Folha Carioca disse: “Difícil falar da minha mãe em poucas palavras. Captar as emoções com minha câmera é meu ofício e uma foto diz tudo que com letras não consigo expressar. Usem minhas imagens! A imagem é meu ofício e nada como imortalizar o olhar de minha mãe numa boa foto, foto esta que está na minha memória para toda minha vida, é papel precioso! Como fotógrafo, às vezes imagino se fotografarei uma pessoa outra vez. Quantos verão este rosto depois que ele se for? Esta é a última foto que tirei da minha mãe. Feliz. Ao seu lado, Jeanne, que me recebe com carinho, não importa onde, como o “quarto” filho. De milhares de fotos que já fiz, porque será que esta me diz tanto? Talvez por retratar um momento de felicidade, trazendo boas lembranças, como cheiros e sabores que não voltarão mais, apenas na memória que um dia também se per-derá. Então me dou conta que amo o que faço... Poder congelar o tempo e por um instante revivê-lo, apenas olhando um pedaço de papel, precioso papel.

Mãe é alegriaMaria da Guia foi a mãe mais risonha e faladeira que

entrevistamos. Fala dos filhos sempre com muita alegria e ri de tudo. Mas quem nos falou de mãe, foram seus filhos Felipe, de 17 anos, e Fernando de 14. Felipe de-clarou: “Minha mãe é uma pessoa alegre, extrovertida, divertida, carinhosa, charmosa. O maior defeito dela é fumar e falar muito. Quando erro, ela fala na mesma coisa vários dias. A minha mãe não invade minha inti-midade. Eu não conto tudo. Tenho que deixá-la com um pouquinho de curiosidade. Ela é muito amiga, boa companheira.” E Fernando arremata: ”Para mim ela é praticamente tudo. Fico com raiva quando ela me controla, indo atrás de mim. É um ser muito especial, eu não saberia viver sem ela”.

A mãe que faz renascer diariamente

Selma e Fabíola fazem uma dupla mãe e filha imba-tíveis. Fabíola, hoje com 39 anos, aos 10 anos de idade teve uma doença que a deixou com muitas sequelas físicas, mas não afetou em nada sua capacidade intelectual. Selma, mulher forte e destemida, assumiu inteiramente os cuidados com a filha e a inclui na vida social da família, dando a Fabíola a oportunidade de participar do mundo. Fabíola, muito inteligente, escreve bem, se comunica com o mundo participando das atividades sociais e religiosas da família, viaja com eles e pela internet “passeia” pelo mundo conhecendo pessoas e fazendo amigos. Ela está sempre de bom humor o que ajuda em muito a fortalecer seus pais. Fabíola, sobre sua mãe, diz com emoção: “Ela é a minha mãe! Eu sou uma mulher de 39 anos e há 29 eu venho lutando para me recuperar, me restabelecer das sequelas da rara doença no mundo de doenças. E a minha mãe foi e ainda é tudo para mim. Ela sempre cuidou de mim sem medir esforços, com um amor incondicional. E mesmo as pessoas que não me conhecem, quando

olham nos olhos dela e veem o amor, o carinho, a dedi-cação que ela tem por mim, chegam a se emocionar. E eu a amo infinitamente, e a valorizo demais, porque se não fosse por ela eu não seria quem eu sou hoje. E ela é assim com todos os filhos, uma mãe cuidadosa, terna, carinhosa, amorosa, atenciosa, preocupada de um modo geral com o que se passa conosco, os filhos, enfim é uma mãe ma-ra-vi-lho-sa! Ela é a minha mãe.”

De filha sofrida a mãe dedicadaPatrícia é uma mulher inteligente, culta, vivida, afável

e mãe zelosa de três filhos, uma moça de 22 anos, um rapaz de 20 e uma menina-moça com 12 anos. Os três, ao falarem à Folha Carioca revelam indiscutivelmente o amor e carinho que recebem de seus pais e a excelente orientação humanista e cultural da mãe dedicada que têm. Patrícia ao falar de sua mãe nos diz: “Mãe é uma palavra grávida de significados. Tão diversos quanto são os sentimentos que podemos sentir. Como relatar experiências difíceis com mães sem provocar a angústia coletiva?” Insistimos em seu depoimento e ela disse que tentaria relatar o que viveu com sua mãe: “Sou a terceira filha de uma família de cinco irmãos. Mamãe relatou que três foram natimortos e um quarto, de nome Péricles, nasceu e viveu alguns meses apenas. Não tenho memória alguma dele. O fato é que minha mãe é dessas mães vingativas e violentas que todos sabemos que existem. Quando em crises de fúria tor-turava os filhos. Não eram reprimendas ou palmadas. Eram espancamentos e humilhações. Então o que isso provoca em alguém? Algumas certezas que não servirão. Melhor dizendo, atrapalharão o caminho e a maternidade da gente. Em mim, deixou incertezas ou não ensinamentos que fui desaprendendo em minha própria maternidade. Ao ter minha primeira filha uma dúvida me assolou. Olhava para ela e pensava: Será que vai gostar de mim? Ainda na maternidade externei a dúvida a uma amiga que me respondeu de forma peremptória: ‘É claro! A quem mais amaria?’ Foi assim que aprendi, com minha primeira filha, que os filhos

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Último registro fotográfico da mãe de Renato Moreth (sentada)

Fabíola (esquerda) e sua mãe Selma

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amam incondicionalmente suas mães ao nascerem e provavelmente amarão por toda a vida. Acho que lá no fundo, perdoadas todas as maldades de mamãe, está o amor que senti por ela ao nascer e provavelmente por toda minha vida.”

Crianças falam de suas mãesAlgumas crianças ao falarem de suas mães nos fize-

ram sorrir e referendar a tese de que elas são tudo pra os pequenos seres em formação. Pedro Monteiro, de 5 anos, nos diz: “Minha mãe é bonita e legal. Ela é divertida, mas quando ela fala assim: ‘Pedro, porque você fez isso?’ Aí eu acho ela chata. Eu gosto muito dela, tanto que eu adoro. Adoro minha mãe e sempre vou adorar.” Sua mãe, Rita Monteiro, emociona-se ao falar em sua mãe, e nos diz: “Minha mãe, a dona Edi, tão pequenininha, mas com um coração tão grande, nunca diz não. Em sua mesa há sempre lugar para mais um prato, em seu coração sempre haverá lugar para mais alguém. É bom saber que ali em sua casa, algumas vezes tão longe e muitas outras bem perto, ela está sempre que eu precisar com todo amor que só uma mãe sabe dar.

Ameli, filha da Jaqueline, pede para dar seu depoi-mento sozinha, longe da mãe e com uma desenvoltura verbal atípica para sua idade, marca sua meninice de 8 anos de idade encantando quando fala de sua mãe Ela diz: “Minha mãe é muito legal, mas também é muito estabanada. Sabe, ela deixa coisas no chão e ela mesma tropeça. Quando ela fica zangada comigo antes de dormir, briga muito e no dia seguinte fica pedindo desculpas o tempo todo. Nem precisa, porque eu já esqueci”. Perguntada se algum dia ela quer ser mãe ela diz bem assertiva: “É o meu maior sonho e eu já estou me preparando. Cuido dos meus hamsters como filhos. Às vezes até dou umas palmadinhas neles, se mordem o dedinho das minhas amigas. Eles são o Cacau e a Pretinha e são meus filhinhos enquanto sou criança.”

Superproteção, forma de amor materno

Mães cuidam e sempre querem acertar, ainda que errem por superproteger os filhos e que fazem os filhos viverem momentos constrangedores, como o vexame, relatado por Maria Luiza que nos contou: “Tornei-me bandeirante aos 15 anos. Minha mãe temia pela minha segurança “nos tais acampamentos”; tornei-me cadete e desfilava orgulhosa no meu uniforme bandeirante. Primeiro acampamento. O local não podia ser mais per-feito: o Parque São Clemente, em Friburgo. Montar o acampamento é uma aventura inesquecível e a refeição da noite é um ritual sagrado. Terminado o jantar chega o momento mais emocionante do dia: acender a fogueira. O canto em volta do fogo é a imagem arquetípica que melhor descreve um acampamento. Imantada pelo crepitar das labaredas eu mal podia desviar meu olhar do fogo. De repente, no entanto, o violão silenciou e percebi que todos olhavam na mesma direção. Dois faróis intensos se aproximavam de nossas barracas. Um táxi parou diante da fogueira. Quando os ocupantes

saltaram eu tive vontade de entrar pela terra e sumir. Mamãe e Papai! Fui salva de um vexame maior porque o chefe Zequinha logo os reconheceu e se apressou em recepcioná-los. ‘Que prazer recebê-los. Vieram assistir ao Fogo de Conselho?’ Eu, indaguei em voz baixa quando minha mãe se aproximou: ‘O que você veio fazer aqui?’ E ela respondeu: ‘Vim ver se você está bem. Não quer voltar para casa ou ir dormir no hotel conosco?’ Diante da barraca em que eu ia dormir, mamãe disse em pânico: ‘Minha filha, você prefere dormir dentro de um saco, no chão, em vez de no seu colchão macio?’ Eu argumentei: ‘No meu quarto não tem sapo coaxando, pirilampo piscando, cheiro de mato, estrelas no teto.’ E ela, dramatizando: ‘Se uma onça der uma patada nesta lona, rasga a barraca de cima a baixo’. Os cantos em volta da fogueira recomeçaram. Papai e mamãe foram convidados a participar. Quando se despediram estavam alegres e tranquilos. Mais tarde mamãe tornou-se conselheira da Federação das Ban-deirantes. Esqueceu as onças e me deixou em paz.”

Uma filha que nascerá com duas mamães

Catarina nascerá com duas mães. Os tempos de grandes avanços da Medicina, da mudança de valores e aceitação das relações não tradicionais, substituídas pelas verdades e amores verdadeiros, trazem outros filhos ao mundo, geralmente muito desejados. Hoje é possível um útero materno abrigar uma criança desejada através da inseminação artificial. Ana Paula e Renata, juntas há muitos anos resolveram que queriam um filho e terão através do implante dos óvulos das duas e de um doador anônimo. Catarina (o nome já escolhido pelas futuras mamães) foi resultado positivo da fecundação de um dos óvulos e elas não sabem de qual das duas e isto não importa a nenhuma delas. A criança nascerá coberta de mimos e muito amor em junho deste ano. Ana Paula curte a gravidez da Renata e afaga a barriga linda onde está sendo gerada a menina com duas mães. Ela nos fala: “Sempre ouvi dizer que mãe só tem uma. Definitivamente, os tempos são outros! Minha filha Catarina, que estará pronta para vir ao mundo em dois meses, conhecerá as dores e as delícias de poder dizer ‘eu tenho duas mamães’!

Quando minha companheira e eu, após quase doze anos de união, decidimos aumentar a família - até então composta apenas por nós duas, sabíamos que seria uma jornada com alta probabilidade de espinhos e frustrações. Mas nada que nos impedisse de tentar até conseguir... Desconheço histórias de êxito sem lutas e, olhando para o meu próprio caminho, sou grata aos espinhos porque graças a eles pude reconhecer o valor das minhas conquistas. Curiosamente, fomos agraciadas em nossa escolha feliz e consciente pela maternidade: não houve dramas, frustrações ou pedras... Claro, to-mamos muita agulhada na barriga durante a estimulação da ovulação e sofremos as expectativas de cada fase: produziremos a quantidade necessária de óvulos? Serão de boa qualidade? Fertilizarão? Será que vão se subdividir

adequadamente? Quantos embriões conseguiremos? Quantos serão implantados? E, depois: quanto deu o BHCG? Engravidou de um ou dois? Chegaremos ao temido terceiro mês? E, futuramente: será que está com febre? Vai ter que dar ponto? Vai sair com quem? Por que não avisou que ia chegar mais tarde? Enfim, sempre soubemos que o famoso “padecimento no paraíso” começava logo ali, naquelas agulhadas!

Mas o que leva alguém a desejar a experiência da maternidade? Dizem que é instintivo. Não duvido, mas acredito que seja sobretudo um ato de amor. E de generosidade também, principalmente com o mundo, porque a única maneira dele se tornar melhor é sendo habitado por pessoas melhores, e pessoas melhores serão possíveis enquanto existirem mães amorosas e comprometidas.

Como vocês vão registrar a filha com duas mães? Eu sei, ainda dependemos do Poder Judiciário. Como vão explicar a ela o fato de ter duas mães e nenhum pai? Eu sei, a vida é dura, e ela também vai saber isso. Nem sempre a gente vai conseguir explicar a uma criança porque ela foi encontrada num saco plástico, jogada no lixo, ou porque o pai dela abandonou sua mãe ainda grávida, ou porque ela é criada pela avó, ou porque ela apanha de mães e/ou pais bêbados. Ou mesmo porque um louco entra numa escola e mata um monte de gente. Tem explicação?

A única explicação que a Catarina vai ouvir, é

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Ana Paula acaricia seu bebê na barriga de Renata

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que ela existe por amor. Vai saber que não é fruto de acidente, insensatez nem violência. Vai saber que tem sorte porque no meio de tanta gravidez indesejada, as mamães dela desejaram, sonharam e suaram muito pra ela poder existir, e tiveram êxito com o auxílio da ciência e com a permissão e a bênção de Deus. Existe felicidade maior que amar e ser amado?

No momento, nossa felicidade chuta adoidado, reage aos sons de nossas vozes, das músicas e da água do chuveiro. Ela costuma ficar mais quieta durante o dia e fazer a maior bagunça à noite! (Estou com medo do que isso pode significar...)

Por enquanto, nossa experiência da maternidade consiste em morrer de ansiedade! De conhecer logo a carinha da Catarina e poder finalmente ter aquela troca de olhares digna dos grandes encontros.

E, quando a gente pensa que é só isso, descobre o quanto pode amar ainda mais a própria mãe...”

Mãe dos filhos e de seus pacientesGabriel Bicharra é um jovem que tem motivos

de sobra para se orgulhar de sua mãe, uma bem su-cedida médica e batalhadora por melhorias cada vez mais expressivas no serviço público de saúde. “Mãe de quatro filhos, minha mãe, Roberli, nos ensinou que a única forma para se viver a vida tranquilamente é fazendo o bem. Exemplo de honestidade e de paixão pelo trabalho, ela mostrou a mim e a meus irmãos como deve ser prazeroso servir ao público num momento em que todos buscam apenas a se-gurança da estabilidade do emprego governamental. Amorosamente, zela por nossa família ainda que o cotidiano insista em nos afastar. Suas ligações diárias me lembram do nosso cordão umbilical que, mesmo depois de oito anos de análise, insisto em manter pois me alimenta. Sinto pelos meus outros amores, porque amor de mãe, não tem maior.”

Mãe, avó, netos, filhos com açucarMárcia tem três filhos, Edu, Rafael e Sílvia, e deu um

depoimento emocionado e doloroso pela recente per-da de sua mãe. A morte trouxe carinho, agradecimento e muita emoção na importância da maternidade para os filhos e netos que saudaram sua avó com palavras muito carinhosas. Márcia nos conta: “Minha mãe morreu subitamente, de um enfarte, no dia 14 de dezembro de 2010. Até aquele momento, minha vida, nossa vida, em dezembro tinha sido normal. A minha, tinha sido marcada por uma única preocupação: ter a casa linda e arrumada, a árvore de Natal decorada, as luzes na frente da casa postas e acesas e todas as providências tomadas para um Natal impecável. Eu sou carioca e moro nos Estados Unidos. Nossos filhos e suas esposas, nossa filha, além de amigos próximos e queridos, estariam conosco. Mamãe tinha 84 anos e morreu com as malas arrumadas sobre a cama. Morreu do jeito que gostaria. Tinha almoçado com minha prima e passado a tarde telefonando para amigos, para dizer que passaria o Natal conosco, e feliz com a viagem se despedia dos amigos

e familiares. Foi o Natal mais triste que tivemos, mas minha nora, Sasha, coordenou uma bela homenagem, um livro de memórias com fotos e depoimentos sobre a mamãe. Foram duas cópias, uma de presente para mim, outra para minha irmã. Por enquanto, os livros têm mui-tas fotos, mas só os depoimentos de nossos filhos. Foi tudo muito rápido, nem meus sobrinhos conseguiram escrever e mandar. Cada vez que pego esse livro, eu choro. Nele está escrito, pelo meu filho mais velho, Eduardo: Sonho meu...vai buscar quem mora longe... Sei lá se essa música realmente tinha algum significado especial, mas sei que um ano, depois de eu começar a faculdade, a vovó cismou que essa música tinha a ver comigo. Ela jurou que quando nos mudamos para a Califórnia, ela e o vovô ficavam ouvindo essa música, cantando e pensando em mim. No último Natal que ela passou, lembro que eu cheguei cedo lá em casa. Ela já estava toda arrumada. Como estavam todos os de casa tomando banho e ainda se arrumando, ela me olhou, me deu aquele sorriso e perguntou: ‘Edu, meu netinho, não quer tomar um uisquezinho com a vovó, não?’ E depois, no final da noite, lembro que achei ela na sala, com a mamãe dormindo no colo dela. Ela continuava vestida de maneira completamente formal, e a mamãe já estava de pijama, completamente apagada. As duas com uma expressão de pura felicidade.”

Rafael diz: “Eu nunca vou me esquecer de muitas coisas, mas uma história que sempre me faz rir, e que me veio na cabeça no dia que a vovó morreu, foi de gravar, e escutar depois, um cartão com a Silvia. O cuidado que tivemos para tentar formar uma frase em português que a Silvia conseguisse pronunciar, e depois ainda assim tendo que ajudar a Silvia a cada duas palavras. A felicidade na cara da vovó de escutar a voz da Silvia no cartão, e depois o riso dela em re-escutar o cartão, vez após vez, mesmo anos depois do fato. ‘Vovó, estou com saudades’. Difícil esquecer...”

Silvia, fala da mãe de sua mãe: “Quando eu co-mecei a viajar para o Brasil sozinha, a vovó sempre conseguia entrar na alfândega. Eu acho que foi a pri-meira vez que eu viajei sozinha, mais depois de fazer imigração eu e a moça que estava me acompanhado descemos a escada rolante quando vimos a vovó me esperando lá embaixo. Ela estava com um sorriso enorme e me chamando. A moça perguntou se eu a conheci e quando eu falei que sim, que ela era a mi-nha avó, a moça respondeu que ela parecia me amar muito. Eu sei que ela me amava muito.”

Mãe é a pessoa mais carinhosa e amorosa do mundo. Todas. Mas quando você faz algo errado... Está bem, vamos ao ponto, eu estou aqui para falar de mães, já que temos um dia especial só delas, o Dia das Mães.

Ela é muito especial, é por causa dela que você existe, ela que te cria, junto com o pai, paga escola, hospital, luta pra te sustentar. Pelo menos a minha mãe e muitas outras são assim. Claro que, como eu dizia, têm vezes que ela fica bem estressada, é como uma bomba, que lindo, que legal, uma bomba, 5,4,3,2,1 Puf! A paciência estoura.

Mesmo assim eu acho feio reclamar da mãe; ela te fez! Por acaso você não queria existir? Eu gosto de existir, de viver, com minha mãe tenho uma grande vida, muito legal... Espera aí...

- ‘Filhooooo, eu não disse pra você fazer o dever, você só fica aí no computador.’

Quando ela ler a revista Folha Carioca vai se arrepender.

Pedro Werneck Brandão tem 11 anos

Surpresa!

Os depoimentos de mães e filhos colhidos pela Folha Carioca foram emocionados, poéticos, verdadeiros, tímidos, tristes, simples, saudosos ou simplesmente fotográficos. Todos serão poucos diante das milhares de histórias desta relação tão delicada entre mães e seus filhos. Estão aqui algumas letras e frases que procuram transmitir as emoções de alguns. Os relatos são a homenagem da Folha Carioca às mães do Rio de Janeiro.

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Pedro e sua mãe, Bia Werneck

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fotografia

Só no mês de abril foram 3 exposições simultâneas, do Pavão-Pavãozinho ao Aterro do Flamengo, passando pelo Largo do Machado e pela agitada Praça Edmundo Rego, no Grajaú. Há tempos a arte foi retirada do seu pedestal e o fenômeno de grupos de artistas que atuam de forma conjunta também não é novo. A notícia é que de lá para cá, a formação de coletivos se torna cada vez mais comum, extrapolando o circuito das artes e se espalhando por diferentes áreas da cultura. “Circunscritos no campo das artes visuais, mas cientes de que as fronteiras entre esse campo e outros que tecem a trama social se tornam cada vez mais tênues”, explica o livro Coletivos, da editora Circuitos. Escrito por Felipe Scovino e Renato Rezende a obra é um termômetro desse fenônemo contemporâneo.

O ESTENDAL - que significa varal em Português de Portugal - brinca com a ligação entre palavra e imagem traduzindo jargões da língua portuguesa. As ideias são impressas em tecidos que permitem o toque e literalmente penduradas em um varal, através de instalações urbanas, para degustação dos olhares curiosos em praça pública. Sem perder a individualidade dos autores, a proposta compõe um mosaico de diferentes interpretações sobre o mesmo tema. O coletivo é formado pelos fotógrafos Ana Rodrigues, Daniel Chiacos, Fred Pacífico, Henrique Andrade, Karin Lerner, Kelly Lima, Sílvio Moréia e Stella Mello, que geralmente agregam convidados para ampliar ainda mais as diferentes leituras visuais. Além disso, a cada ação um nome de peso da fotografia e artes visuais é convidado para fazer a curadoria da proposta, dando unidade e leitura ao tema.

A ideia embrionária partiu da exposição “Por um Fio”, exibida em julho de 2010 na Praça das Amoreiras, em Lisboa, e desde então o grupo se dedica à apresentação tendo expressões populares como tema. Por um Fio, Salve-se Quem Puder, Diabo a Quatro e Pinto no Lixo já passaram pela Praça Tiradentes, Espaço Figura, festival Paraty em Foco, Praça São Salvador, Quinta da Boa Vista, Praia Vermelha, Afonso Pena, Largo do Machado e Edmundo Rego, no Grajaú. O centro de visitantes do “Monumento Estácio de Sá”, no Parque do Flamengo - marco da fundação da cidade do Rio de Janeiro, com projeto de Lúcio Costa – também abrigou instalação do O Estendal e grupo OPA! Ocupações Poéticas.

“Em plena praça envolvido por fotografias que balançam ao ven-to, como flâmulas interagindo com o espaço e com os transeuntes. O diálogo plástico com o mundo extrapola as paredes do museu e vem se misturar com a vida cotidiana. A cada varal o diálogo com a população vai ganhado outros contornos e o processo vai se enriquecendo. O autor e curador se veem confrontados com o insólito e isso enriquece o fazer fotográfico”, conta o antropó-logo e jornalista Milton Guran - coordenador-geral do Foto Rio e

O Estendal

Anna Braz

Lugar de arte

Com ingresso custando apenas um sorriso, os integrantes do coletivo O Estendal levantam a bandeira de que o acesso ao bem cultural é um direito de todos. Em um constante clima de convívio, amizade e encontros, esses novos talentos criam um “burburinho” em torno de suas ideias, inovando dos métodos de criação ao jeito de expor e distribuir sua arte, literalmente pendurada em um varal. A Folha Carioca convida a conhecer os bastidores desse coletivo de fotógrafos, que a qualquer hora pode cruzar o seu caminho.

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realizador dos Encontros sobre Inclusão Visual do Rio de Janeiro – que assinou a curadoria de “Pinto no Lixo”.

“Foi muito interessante ver como as várias leituras do tema podiam se encaixar em algum resultado orgânico e interessante”, conta Cláu-dia Buzzetti, que fez a curadoria de “Diabo a 4”. Outros grandes nomes já trabalharam com o grupo, como o americano William Fenton-Hathaway e Claudia Tavares. A próxima ação - a exposição “Pé na Jaca” - já está sendo captada sob a curadoria de Walter Firmo.

Por um fio por Solar Meninos de Luz

O tradicional Parque Shanghai, localizado na Penha, cruzou a cidade para a inauguração do espaço cultural da biblioteca do SOLAR MENI-NOS DE LUZ. A parceria durante a exposição DOMINGO NO PARQUE deu tão certo, que O ESTENDAL inspirou os alunos a produzirem o seu próprio varal sob o tema “Por um Fio”. A mostra foi parte da comemoração dos 20 anos do Solar Meninos de Luz, organização filantrópica que promove educação formal e complementar em regime integral, cultura, es-portes e cuidados básicos de saúde. A instituição, que atua nas comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, atinge diretamente 5.143 pessoas nesse movimento e, por extensão, toda a comu-nidade, em busca do viver em harmonia e paz.

Os desenhos, colagens e esculturas foram feitos por mais de 120 jovens de 6 a 12 anos e os resultados apresentam as mais diversas interpretações para esse jargão da língua portuguesa, estimulando o imaginário sobre o tema. Da clássica meia pendurada no varal a malabaristas de circo, passando por grandes preocupações com a natureza e o mundo em colapso e, nas palavras deles, por um fio da extinção. “Expostas em um varal, essas palavras levam conhecimento de forma divertida e eluci-dativa. O Solar vê nestas ações a oportunidade de ampliar o conhecimento dos alunos sobre o mundo das artes, gerando em cada pequena mente a reflexão individual motivada pelo con-tato e reação com a extensão do pensamento e imaginação que o mundo das artes possibi-lita”, comenta Ludmila Meuriene, do setor de desenvolvimento institucional.

“A reação das crianças é incrível, com grande curiosidade e empolgação. A maioria é facilmente estimulada por imagens, princi-palmente quando o tema é apresentado de maneira diferente, como o varal que permite o toque. Estamos conversando com outras escolas e gostaríamos muito de ampliar esse trabalho social”, conta Ana Rodrigues.

Daniel Chiacos

Kelli Lima

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OS ESTENDIDOS

Ana RodriguesApós anos de trabalhos publicitários na Páprica

Fotografia, a ideia de levar arte para todos seduziu e conduziu os caminhos de Ana Rodrigues (40) ao Estendal. A escolha da praça como local de mostra foi a solução encontrada, mas a interação é grande mesmo quando o grupo é convidado a ocupar paredes de galerias, uma vez que existe identificação com o que já foi visto na rua. “Acredito na arte como ferramenta de educação e o que espero com o Estendal é a troca que tenho com o público. Escutar as ideias e opiniões sobre as ima-gens ou sobre o tema escolhido é extremamente enriquecedor”, conta a fotógrafa.

“Pinto no lixo”e “Salve-se quem puder”

são exposições do coletivo de fotógrafos

O Estendal, que levadas para a rua e

praças da cidade geram curiosidade e

admiração

De cima para baixo da esquerda para direita:

Fred PacíficoSílvio Moreira

Kelly LimaHenrique Andrade

Estella MelloKaren Lander

Ana RodriguesDaniel Chiacos

A exposição “Por um fio” em

Paraty. A arte literalmente

estendida em um varal

Fred PacíficoO fotojornalista Fred Pacífico (31) trabalhava

com iluminação cênica na adolescência, quando descobriu que a caixa preta do teatro italiano traba-lhava com os mesmos conceitos da câmara escura da fotografia. Com o fotojornalismo se aprofundou em narrar experiências através de imagens, mas com o Estendal exercita o prazer de trabalhar com o lúdico, tendo uma única imagem como conceito dentro de uma narrativa múltipla. “As reações das pessoas à proposta são muito inusitadas. Acho curioso o fascínio e o estranhamento gerados com as fotografias no caminho das pessoas. Uma vez uma senhora perguntou se poderia comprar algu-mas das fotos para fazer capa para as almofadas de sua casa, pois, segundo ela, ficariam lindas em sua sala. O Estendal é isso. Toca as pessoas de formas diferentes, proporcionando e estimulando novas formas de olhar o corriqueiro, o habitual”, explica.

Sílvio Moreira

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Sílvio MoréiaUma das fotos mais comentadas de Pinto

no Lixo surgiu num delírio visual de Sílvio Mo-réia (47), que arrumou uma quizomba com os donos de uma loja do Saara para convencê-los a vender um anão e sete Brancas de Neve e num click ‘desencaretou’ o conto. Sua história com a fotografia surgiu com os jogos de futebol de salão de um clube tradicional da Zona Nor-te, sem qualquer conhecimento fotográfico. O diretor administrativo e financeiro do Theatro Municipal começou como boy aos 17 anos e hoje completa 30 anos de casa. Durante esse trajeto teve um surto de estress e precisou ficar de licença do Theatro, e os médicos recomen-daram que praticasse um hobby. Como gostava de fotografar, estudou no Ateliê da Imagem com nomes como Guito Moretto e Claudia Tavares e não parou mais de clicar. “Trabalho basicamente em tarefas financeiras em um templo das artes e de repente me vejo com um pé no outro lado. Bom mesmo é a transformação e isso agradeço à fotografia”, conta Sílvio.

Daniel ChiacosCaçula do grupo, o americano Daniel Chia-

cos (29) despertou a paixão pela fotografia ainda criança, brincando de pinhole com as máquinas de sua tia. Depois de viajar fazendo clicks em todos os cantos do mundo, há cinco anos escolheu o Brasil como sua casa e abriu a Páprica Fotografia com a Ana Rodrigues. A liberdade artística no Estendal é o que mais encanta Daniel, que brinca de encontrar olhares virgens nas praças por onde passa. “Sempre coloridos, exuberantes e cheios de vida”, define. O resultado pode ser visto nos vídeos das exposições ou na propaganda que realizou para a exposição Pinto no Lixo, onde colocou uma ninhada de pintos para dançar e posar correndo atrás de uma máquina. O vídeo pode ser conferido no YouTube.

Henrique Andrade“Sempre tive uma máquina na mão, mas não

sabia muito bem o que fazer com ela”, conta o estendido Henrique Andrade (46). Há cinco anos se dedicou a aprender todas as possibilida-des de explorar sua câmera e trocou o mundo coorporativo de multinacionais pela carreira de fotógrafo. Após o convite do amigo Sílvio Moréia, ele aceitou documentar um domingo no parque Shanguai e não saiu mais do recém-criado coleti-vo O Estendal, que define como uma verdadeira família fotográfica. “Não quero expor para qual-quer um, mas para todo mundo”, explica. Dentre as histórias mais inusitadas, lembra da moradora de rua que brigou por achar que uma das fotos da exposição ‘Por um Fio’ retratava uma lombriga, um absurdo nas palavras dela.

Kelly LimaA jornalista Kelly Lima admite poucas vezes

ter tido tanta interação com o público. “O im-portante é ver motorista de ônibus deixando o carro ligado no ponto final para apreciar fotografias. Ver o Guarda Municipal abandonar um pouco a ronda para ler o texto e tentar traduzir do que se tratavam aquelas fotos. E, principalmente, ver crianças passando com o olhar atento para estas imagens. Crianças sempre correram em vernissages de galerias, mas as que passam pela praça têm no olhar a curiosidade de quem vê pela primeira vez uma mostra deste tipo no meio da rua”, conta Kelly.

Karin Lerner A paixão da cirurgiã plástica Karin Lerner

(36) pela fotografia é mais antiga do que a vo-cação pela Medicina, mas teve que ser adiada até que ela se estabilizasse na profissão. Há cinco anos o amor à arte finalmente ganhou seu espaço e ela se especializou em cursos no Ateliê da Imagem, onde conheceu o ban-do de amigos que viriam a fundar O Estendal. Uma das coisas mais prazerosas no hobby é o trabalho social no Solar Meninos de Luz. “Além de adorar trabalhar com crianças, acho que por menor que seja a contribuição, ela pode fazer a diferença na comunidade”, conta Karin, que também é voluntária na organização médica humanitária Operação Sorriso do Brasil.

Stella MelloAté o caminho que levou a consultora de

tecnologia da informação Stella Mello (44) ao mundo da fotografia foi o da lógica: precisava tirar boas fotos da filha recém-nascida. Ela só não esperava que além da técnica, o processo de aprendizado mudasse o seu olhar para a vida e fizesse aflorar o lado criativo, que Stella sentia falta em seu trabalho. “Sou tímida e a cada varal eu vou aos poucos falando com mais pessoas e me libertando. No projeto social com as crianças também uso muito meu lado de professora e mãe; espero que esse trabalho continue ren-dendo muitos frutos”, conta. Outra coisa que a emociona é o retorno do público, que conta que eles levam alegria sem esperar nada em troca.

Para nos achar na internet:www.oestendal.wordpress.com

Laura em seu banho é

“Pinto no lixo”

Fred Pacífico

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EMERGÊNCIA Tel.:2529-4505

GERALTel.:2529-4422

Marco Aurelio Pellon

Cirurgião plástico, titular da Sociedade

Brasileira de Cirurgia Plástica, ex-

presidente da Sociedade Brasileira de

Queimaduras e responsável pelo Serviço

de Queimados da Clínica São Vicente.

Cicatriz de melhor qualidadeA qualidade de uma cicatriz depende da atividade

celular e da reação inflamatória que ocorre durante o período de regeneração tecidual, ou seja, quanto mais atividade celular e mais reação inflamatória, pior será a cicatriz. A cicatriz hipertrófica ou o quelóide são lesões que comprometem não somente a estética, mas também a função (movimento) do local atingido. Com o uso do tecido adiposo (gordura) sobre a queimadura observei uma cicatrização mais rápida e com menos reação inflamatória, gerando uma cicatriz de melhor qualidade, inclusive diminuindo a necessidade do uso de enxertos de pele.

Células de gordura, uma nova visãoAs células de gordura (os adipócitos) eram conside-

radas até bem pouco tempo como células de armazena-mento de energia e de produção de calor. Hoje sabemos que o tecido adiposo produz mais de cem substâncias químicas e tem participação ativa em vários sistemas, sendo, na verdade, a maior glândula do nosso corpo. Além disso, as células de gordura têm grande plasticidade, ou seja, são capazes de se diferenciar em outras células como músculo, osso, vasos sanguíneos e até células de defesa.

Tratamento de queimaduras com células de gordura – um novo horizonte

O uso do tecido adiposo do próprio paciente vítima de queimaduras mostrou ser eficaz na me-lhoria do processo de cicatrização de suas feridas.

Em estudo inédito realizado no Serviço de Queimados da Clínica São Vicente (Rio de Janeiro) em pacientes que apresentavam quei-maduras graves exposto em outubro de 2010 no encontro da International Federation of Adipose Therapeutics & Science (IFATS) em Dallas, nos EUA, demonstramos a melhoria na qualidade da cicatrização das queimaduras com o uso de gordura do próprio paciente.

Nesse trabalho foi demonstrada a partici-pação da gordura subcutânea no mecanismo de cicatrização das feridas da pele, através de substâncias químicas e fatores de crescimento produzidos por essas células, denominados citocinas ou adipocinas. Baseados nesse novo conceito, retiramos (por lipoaspiração) a gordura de um local não queimado e a aplicamos sobre a queimadura, criando um “sanduíche químico”, aumentando a oferta de estímulos químicos e hormônios de crescimento, e com isso acele-rando a multiplicação das células da pele.

Cirurgiã-Dentista

OrtodontistaCRO-RJ 25.887

Novos estudosNeste ano realizaremos outro estudo, em que

vamos cultivar em laboratório as células aspiradas de dez pacientes, em ambiente de stress metabólico, para esti-mular a produção de suas citocinas, que serão colhidas e aplicadas nas queimaduras. A principal vantagem desse processo seria a possibilidade de reaplicação desses fatores quantas vezes fosse necessário, potencializando ainda mais o efeito cicatrizante produzido por elas.

Devido ao alto potencial de regeneração tecidual que essas células possuem, acredito que essa tecnologia possa ser utilizada em outros órgãos, como o coração, no qual após uma lesão a c ica t r ização é ineficaz na res tauração completa da sua função, resultando em insuf ic iência cardíaca após um infarto, por exemplo.

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Deu na

MÍDIA GERAL: “Morreu Elizabeth Taylor.” Luto no Egito, sim, pois a Cleópatra virtual era·mais rainha do que a Cleópatra original. // MÍDIA GERAL: “Barcas Rio-Niterói não circulam mais de madrugada.” Inevitável: passageiros ficam a ver navios... // METRO: “Vazou um obituário feito pela Rádio Senado para a morte eventual do Sarney, que reagiu assim: ‘Hoje um jornal noticiou meu obituário, mas, graças a Deus, aqui estou, vivo, cheguei do céu’.” Além de tudo, Sua Excelência ainda é pretensioso. Esse ‘do céu’ pegou mal... // O GLOBO: “O poder dos sentimentos. Coluna

de Nelson Motta, num imaginário romance entre Dilma e Fernando Henrique, tais os salamaleques entre os dois na recepção para o Obama. Está lá: o velho professor continua em forma, a nova presidente parecia encantada... e Lula morreria de ciúmes.” Baixou o espírito de cupido no nosso atuante escritor, compositor, empresário, numa boa... // O GLOBO: “Avaliações de desempenho dos músicos pode levar à demissão da metade da Orquestra Sinfônica Brasileira.” Últimos acordes, anotam as repórteres Catharina Wrede e Cristina Tardáglia, num trocadilho afinado. // AGAMENON: “Pelo menos, é um cara autêntico. Autêntico idiota.” Falava de Sua Excia., o deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, Jair BoIsonaro.// RÁDIO TUPI - Clovis Monteiro: “Caiu muito o número de balas perdidas.” E das achadas? Ironizou o grande animador da emissora líder absoluta de audiência. // HOJE: “Menino Patrick vivia com um coração artificial cujo prazo de validade estava acabando. Conseguiu um coração de verdade, mas a vida ainda está por um fio. Marcio Gomes diz que São Paulo fez no ano passado 155 transplantes e o Rio só 6!” Eu: coração para transplantes só aguenta 4 horas. O Rio está atrasado. Urgência na melhora do sistema, apelo aos responsáveis.

Espaço Oswaldo [email protected]

Futebol às 10h da noite: não é uma senhora aberração?

Muita discussão, muito papo, chega-pra-lá-chega-pra-cá, Rede Globo, Clube dos 13, 14, o diabo, direitos para transmissões exclusivas, contratos-daqui-contratos-dali, jogos na TV aberta e nas a cabo, pay-per-view, horários determinados pelo canal e não pela CBF, clubes no sufoco precisando de dinheiro e se submetendo ao poder da dita Rede, que não abre mão de sua grade in-tocável – Jornal Nacional, novela, Big sei lá o quê – e tome as partidas de futebol começando às 10h da noite e acabando lá para zero hora ou mais, bastando que aconteça algum problema – noite dessas, o juiz só deu o apito inicial às 10h 10 min!

Acabei de ler no Expresso o Gilson Ricardo dizendo que há um buchicho aí no sentido de que seja criada a Liga dos Clubes Brasileiros, que regeria os campeonatos locais, ficando a CBF do Ricardo Texeira só cuidando da seleção. Não sei se buchicho, como o boato, tem um

A gente (não) se vê por aqui...

fundo de verdade. Ligo aquele botão que congela a imagem dos DVDs...

Ficou grande, sim. Mas o que quero dizer, e está engasgado aqui no fundo da garganta, é a ver-dadeira afronta, este desrespei to ao pobre do tor-cedor, que vai perder o ú l t imo ô n i b u s , o ú l t imo trem, que não poderá voltar para casa, tendo de dormir na rua, para no dia seguinte pegar cedo no batente... e quem vê de casa, obrigado a deitar mais tarde etc., porque a poderosa é que manda e não abre mão da coisa, já que futebol das quartas é tão somente parte de seu show e não, no que diz respeito ao horário,

da tabela da CBF. Futebol às 10h da noite é um atentado, uma ofensa, um achincalhe, um acinte, uma afronta, uma ação de desprezo para com o

torcedor! Pular um capítulo da novela - e daí? Ah;

o faturamento... os compromissos

comerciais... tudo é con-t o r n á v e l , claro.

E v a i aqu i uma s u g e s t ã o :

f u t e b o l à s quartas, à noi-

te, na Globo, fica assim: Jornal Nacional

das 7h15 às 8h, as partidas começando aí. E acaba de vez esse sacrifício imposto ao torcedor pelo grupo ditatorial que, do ponto de vista de produção, nos enche de orgulho. Sim, com seu fantástico elenco de talentos (a quarta TV do mundo),

mas no caso exposto é incapaz de um ato de bom senso, coerência, de justiça, desde que não sacrifique a gorda dinheirama que entra em suas burras com os patrocinadores dos jogos noturnos da quarta.

Claro que estou dando uma de mané, imagina! Pois não é que o jornal Destak acaba de informar que a Glo-bo terá liberdade total para elaborar a tabela do Campeonato Brasileiro de 2012 a 2015 e que os contratos firmados excluem o direito dos clu-bes de opinar sobre a tabela, apenas Globo e CBF tendo voz ativa. Sigo, reproduzindo: “Até agora 13 equipes já fecharam contratos com a Globo, e o Clube dos 13 com a Rede TV!” Quando esta Folha sair não sei se o que escrevo aqui ainda estará valendo. Seguinte: Globo pagando 480 milhões ao Flamengo por 4 anos, com Love chegando. Quanto vai faturar em cima - bota cifrão nisso! Chiii: o que que me deu de meter a mão em casa de marimbondo? Lascou.

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Tem talento novo na praça musicalRecebi, finalmente, o CD que há muito

estava desejando receber, aquele que me apresenta a voz, o canto, as composições, a poesia, a sensibilidade de uma moça ali da Tijuca, de nome artístico Vivianne Tosto. É filha de um velho e sempre querido amigo, o homem de bem chamado Claudiomir Broxado, companheiro de jornadas jorna-lísticas e televisivas, destaque na equipe de reportagem do saudoso Flávio Cavalcanti. Doze composições cheias de inspiração, gosto requintado, cuidadas, boas de ouvir em momentos exclusivos, para assimilar a suave mensagem produzida pela voz agra-dável, afinada, timbre sonoro de um valor novo que se lança para botar seu talento ao arbítrio de seus ouvintes potenciais.

Melodias muito bonitas - direi, música po-pular brasileira moderna, mas de qualidade, ao contrário da enxurrada de mediocridades que

enxovalham o mercado atual - que me per-doem os atingidos, faturando, honestamente, acrescente-se em seus shows, projetados por certos programas de rádio e televisão...

A música de Viviane tem a forma do seu estilo pessoal. Baladas, cantigas, ensaios no ritmo sempre romântico dos boleros, a canção, enfim, como a gente, de modo ge-neralizado, entende o que seja canção, o que se ouve com prazer, assim como que quase nos entendendo como “parceiros” do autor.

Voz, canto, acompanhamento com digni-dade, bem equalizado, o ouvinte seguindo as letras de cada composição “A vida inteira eu desejei um beijo seu! Olhos em você, minha solidão! Deixei, por isso, minha boca viajar, te procurando pela contramão. O que eu sabia é que te queria e eu conseguia imaginando. / Vamos mudar os planos. Cansei de esperar mudanças que não vêm. Vamos saber quem

somos, ou esperar que o des-tino mostre quem é quem. / Derramei as cinzas. Derramei as velas. Tropecei nos prantos, Esmaguei as pedras. Quem nunca chorou no escuro? Quem nunca sentiu sauda-de? Quem nunca ajoelhou à espera de um milagre?” É assim que desliza a poesia do que canta Vivianne Tosto, com seu primoroso CD feito com Mônica Luz. No encarte, um punhado de agradecimentos a quantos a ajudaram a chegar ao seu projeto, Deus à frente, óbvio. Agora é com nossos estimados coleguinhas radialistas. Que ponham a rodar Siga-me, o CD de Vivianne Tosto, alto nível em suas programações musicais diárias. Ok, estou dando tiro n’água?

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t

[email protected]

culpado sou matei roubei amei pecados cometi todos erros cometi toloscorrendo nas veiaso víciopermite viver puro crente certo olhando revésme vejo reto num caminho tortoque não sabereiseguir

Tamas

Pens

amen

tos

Pró-

fund

os

Pont

o po

étic

o

“As palavras nos atam ao já vivido. Só quan-do amadurecem em silêncio restituem-nos a plenitude prometida”, diz o narrador ainda nas primeiras páginas de Hotéis à beira da noite, o mais recente livro de Per Johns. A afirmação, grosso modo, não deixa de reiterar a literatura do autor brasileiro, que se desenrola também quase em silêncio, distante do burburinho, ou mesmo do ruído, espetáculo a que foi transformado todo tipo de arte. A obra de Johns, certeira, sem outros objetivos que não o próprio fazer artístico e a discussão da condi-ção humana, temáticas sempre presentes nos grandes escritores, marcha sólida, sem precisar dos amparos da cultura de massa, incluído aí o cinema, modelo intelectual que alguns “pen-sadores” introduziram como imprescindível para discutir o mundo a partir do século 20. Grande parte deles chegou a se interrogar se a literatura ainda valia a pena, se, solitária, ainda teria capacidade de estabelecer e discutir questões. Vão espalhafato. A arte das palavras só perdeu terreno na mente incauta daqueles que se afiguravam positivistas e tecnocêntricos. Hoje, submersos na assepsia dos chips e na velocidade dos circuitos, eles se perguntam: a serviço de que está a razão? Da reflexão ou do incremento cada vez mais inclemente de uma sociedade de massa voraz e lucrativa, em que o humano tornou-se apenas um detalhe? Ri-se, enquanto isso, a literatura, na sua sólida e ao mesmo tempo movediça morada, no seu silên-cio reverberador. Mesmo que não passem os ruídos, mesmo que perdure o festeiro e sedutor carnaval das imagens, cada vez mais presente e possível de ser manipulado pelo simples deslizar de dedos sobre o teclado, sempre pesará mais o lado daqueles que resistiram contra o irrefletido abandono da primazia das palavras.

Lembrando seus livros anteriores, sobretudo Aves de Cassandra e Cemitérios marinhos às vezes são festivos, não nos surpreende o personagem principal de Hotéis à beira da noite, alguém que se move continuamente, alguém sempre a mudar de hotel, hospedando-se primeiro no antigo Glória para, logo a seguir, embarcar para Zurique, e remar na canoa de Joyce – que ali viveu e deixou marcas –, chegando até mesmo a estabelecer diálogo com o autor de Ulisses. O

mais famoso de todos os irlandeses lhe segreda: “Não diga nada. Fale comigo sem falar, essa gente gosta de mim, mas não gosta de minha verdade. Gosta de quem não sou.” E toda a narrativa de Hotéis vai jogar com esse duplo em relação ao personagem principal, alguém que é e não é, alguém que tem uma verdade que não é a verdade dos outros. Um homem que foge da pele de quem foi, tendo decretado a própria morte, e que tem no seu encalço personagens verdadeiros, digamos assim, gente de carne e osso, mas, ao mesmo tempo, seus fantasmas também estão a persegui-lo.

A viagem pode ser vista como uma expe-riência metafórica. O trajeto a ser percorrido apresenta, ao mesmo tempo, a inviabilidade. Tudo acontece como se o personagem consta-tasse ser impossível a existência. Então, é preciso fazer o caminho inverso: procurar referências no mundo afetivo e, sobretudo, no universo da literatura, estabelecendo diálogos com as grandes obras e autores. A arte se apresenta como único lugar em que a viagem é possível, “navegar é preciso, viver não é preciso” e navega-se nessas águas, às vezes turvas, como um meio de tentar encontrar o seu próprio eu. A literatura torna-se a trilha não só da busca a si mesmo, mas também sua razão de vida.

Coriolano Warming, o narrador protago-nista, vai de hotel em hotel, até chegar à terra de seus antepassados, na antiga Dinamarca. Viaja já no limiar da existência, e está o tempo todo em busca de um sentido, embora tenha consciência de que, para a vida, não há sentido algum. A moradia sempre provisória revela a precariedade da condição humana, a solidão, enfim. Vez ou outra, procurado até mesmo por policiais, vive uma espécie de paranóia. O passaporte falso jamais é descoberto, mas as autoridades insistem em estar nos seus calcanha-res constantemente à procura de uma pessoa que, na verdade, não é ele. Na lista de nomes, é confundido até mesmo com um suicida, e, numa tirada kafkiana, retruca: “O senhor diz que tenho que provar que estou vivo.”

O não lugar, problemática de seus outros livros, surge de novo de forma ainda mais contundente. Onde quer que Coriolano esteja, é estrangeiro. Os funcionários dos hotéis onde

Haron Gamal [email protected]

Silêncio e plenitude

“O vento afaga a vela do barco.

O vento apaga a vela do bar.

O vento vela o ar.”

“Fui ao fim do mundo e voltei.

Mas onde era mesmo o início?”

“Enquanto penso

as desavenças do amor

o telefone toca.

Uma voz sussurra

no meu ouvido.

- Te amo!

Era trote.”

“Estendido no chão

um verso de pé quebrado

braço quebrado

cabeça quebrada.

Sangrava palavras

letras coaguladas

pedaços de sentimentos.

Sobrou apenas

admiração ao redor.”

“Enquanto existirem cães

existirão latidos”

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Assim caminha a humanidade. Em um mundo contur-bado onde somos obrigados a nos deslocar de um lado para outro, seja a pé, de carro, bicicleta, patins ou qualquer outro meio de transporte, temos visto, como bons ob-servadores, o medo estampado em cada rosto que passa. Olhos arregalados, assustados, atentos. Neuroticamente atentos. Como se estivessem sempre esperando que algo terrível, sem aviso, a qualquer momento, viesse acontecer. Afinal há um medo no ar e cabe a pergunta: como evitar ser dominado por ele? Bala perdida, sequestro-relâmpago, pedintes, flanelinhas, moradores de rua, tudo isso nos assusta e resta uma dura realidade: precisamos encarar nossos medos... e seguir em frente. Não resta outra saída a não ser carregar nossos temores e por mais que sintamos cansaço - temos que avançar. Mostrar que podemos ir além, crescer como pessoa.

Mas também temos outros medos. O medo da doença e da falta de assistência que vem junto com ela. O medo da mentira. A mentira que repetida mil vezes transforma-se em verdade. Como as promessas ocas que vêm das autoridades ditas competentes, que sempre prometem: “A vida melhorará. A violência diminuirá, as crianças serão retiradas das ruas, pro-tegidas, colocadas em escolas, afinal de contas o país está crescendo. Estamos bem na fita”. E o discurso dos políticos perto das eleições se repete ano após ano, não importa o currículo do candidato, se tem formação escolar ou não: “Meu povo, espero contar com vocês nas próximas eleições”. Para eles o que importa mesmo são os eleitores escolherem o número de candidato deles e apertar a tecla “confirma”. Confirmar mais quatro anos para aqueles que estão sempre na política, se aproveitando dela e nada fazem para a população.

ProtestoCarlos A. de Souza

Em que mundo os políticos vivem? “Estamos crescen-do, o desemprego está em baixa, a saúde em alta, nunca antes na história desse país...” e por aí vai. Que maravilha! Nós deveríamos estar felizes, mas ao sairmos nas ruas, nos decepcionamos. Constatamos que a realidade é bem diferente. Nos sinais de trânsito há vendedores que correm entre os carros apresentando os seus produtos. Parecem atletas, sambistas, com seus dribles e gingados, são bons de cintura, bons de perna. Vejo entre eles um vestido de palhaço, que ao fechar o sinal logo monta o seu palco e com perícia exibe sua performance; afinal de contas é dali que ele tira seu sustento para sobreviver. Em meio a tudo isso a pIateia·vai crescendo, pois o sinal está fechado e não há como escapar dessa apresentação, onde não é preciso comprar ingresso. Já perto do sinal ficar verde começa o corre-corre. O palco é arrastado para o canto da rua e o cidadão se move com rapidez entre a plateia, que em silencio ora a Deus para que a proteja do mal. Com o carro trancado e o dedo pressionando a buzina, socando o volante do carro como se este o tivesse deixado à deriva, alguns motoristas se manifestam apavorados e com pressa. Em meio a tudo isso tem aquela que, sem se preocupar com o perigo, movida por um nobre sentimento, abre a janela do carro e com a bolsa sobre o colo oferece, seja lá para quem for, uma ajuda. Com um belo sorriso, abre a carteira e deixa à mostra uma variedade de notas. Puxa dentre elas a menor e ao apresentar ao cidadão percebe a insatisfação dele. Com um ligeiro movimento de mão, ele pega todo o conteúdo da carteira e corre. Ouve-se alguém gritar: “Pega, pega”. Mas como alcançá-lo se ele é um atleta das ruas? Não há como detê-lo. Ouve-se o choro e um sussurro: “Eu só quis ajudar”. Que pena. Em quem podemos confiar? Esse é o Brasil, Brasil com “s”, que está a mudar. Dá pra acreditar?

se hospeda olham-no com suspeição a ponto de confessar-lhe: “seu olhar é o de quem procura um pouso e não o encontra neste mundo de Deus, que nunca olha de frente, só de esguelha, um tanto temeroso, assustadiço.”

Se em Aves de Cassandra o autor nos ofere-ce um romance de formação, e em Cemitérios uma narrativa da maturidade, neste Hotéis ele nos apresenta a inviabilidade, o beco sem saí-da. Não só em relação a Coriolano Warming, mas a todo ser humano que se põe a pensar com seriedade a questão existencial. O autor encontra apenas na arte o único lugar possível para questionar e esquadrinhar essa condição, em toda plenitude. Talvez Per Johns, na literatura brasileira, seja o único autor que levou mais a fundo a discussão de O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer.

De intensa densidade poética é a última parte do livro, denominada: “Pequenas prosas de um breviário”. A pretexto de procurar a paz, longe da civilização, o personagem se atira à sua ultima aventura: compra uma palhoça num recanto rús-tico do litoral paulista e vai viver entre os caiçaras locais. Na pequena casa, recebe de um morador, “uma espécie de pai de santo”, um breviário de um artista que morou na mesma casa e que desapa-receu, deixando como vestígio apenas o caderno de notas. Já que a literatura permite vários artifícios, neste, Johns vai discorrer, com liberdade maior, sua veia poética e filosófica: “Desmobilize-se a casa herdada [...]. Mas deixem de fora as ruínas para que possam rebrotar como ervas de ninguém, levadas pelo oceano largo da vida...

E, para terminar, fazendo um contraponto com o que afirmei no começo deste texto, quando situei a literatura de Per Johns como irmã do silêncio, demarcadora do duplo e, por paradoxal que possa parecer, mapeadora do não lugar, poderíamos ainda perguntar: mas, onde a literatura, em meio ao ruidoso mundo de hoje? Responderíamos com as palavras do próprio autor, no pequeno capítulo denomina-do “Terra Prometida”: “Ela está onde sempre es-teve. Em todos os lugares e em lugar nenhum.”

Hotéis à beira da noitePer JohnsTessitura Editora – Belo Horizonte

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espaço do leitor

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GÁVEABanca do CarlosRua Arthur Araripe, 1Tel.: 9463-0889

Banca Feliz do RioRua Arthur Araripe, 110Tel.: 9481-3147

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Banca MSVRua Mq. de São Vicente, 30Tel.: 2179-7896

Banca New LifeR. Mq. de São Vicente,140Tel.: 2239-8998

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Banca SperanzaRua dos Oitis esq. Rua JoséMacedo Soares

Banca SperanzaPraça Santos Dumont, 140Tel.: 2530-5856

Banca da GáveaR. Prof. Manuel Ferreira,89Tel.: 2294-2525

Banca Dindim da Gá-veaAv. Rodrigo Otávio, 269Tel.: 2512-8007

Banca da BibiShopping da Gávea 1º pisoTel.: 2540-5500

Banca PlanetárioAv. Vice Gov. Rubens Be-rardoTel.: 9601-3565

Banca PinnolaRua Padre Leonel Franca, S/NTel.: 2274-4492

Galpão das Artes Urba-nas Hélio G.PellegrinoAv. Padre Leonel Franca, s/nº - em frente ao PlanetárioTel: 3874-5148

Restaurante Villa 90Rua Mq. de São Vicente, 90Tel.: 2259-8695

MenininhaRua José Roberto Macedo

Soares, 5 loja CTel.:3287-7500

Da Casa da TataR. Prof. Manuel Ferreira,89Tel.: 2511-0947

Delírio TropicalRua Mq. São Vicente, 68

Chez AnneShopping da Gávea 1º pisoTel: 2294-0298

Super BurguerR. Mq.de São Vicente, 23

Igreja N. S. da Con-ceiçãoR. Mq.de São Vicente, 19Tel.: 2274-5448

Chaveiro Pedro e CátiaR. Mq. de São Vicente, 429Tels.: 2259-8266 15ª DP - GáveaR. Major Rubens Vaz, 170Tel.: 2332-2912

J. BOTÂNICOBibi SucosRua Jardim Botânico, 632 Tel.: 3874-0051

Le pain du lapinRua Maria Angélica, 197 tel: 2527-1503

Armazém AgriãoRua Jardim Botânico, 67 loja H tel: 2286-5383

Carlota PortellaRua Jardim Botânico, 119 tel: 2539-0694

Supermercado CrismarRua Jardim Botânico, 178 tel: 2527-2727

Posto YpirangaRua Jardim Botânico, 140 tel:2540-1470

HUMAITÁBanca do AlexandreR.Humaitá esq. R.Cesário

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Banca NovelloRua Ataulfo de Paiva, 528Tel.: 2294-4273

BancaRua Ataulfo de Paiva, 645Tel.: 2259-0818

Banca RealRua Ataulfo de Paiva, 802Tel.: 2259-4326

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Banca do LuigiRua Ataulfo de Paiva, 1160 Tel.: 2239-1530

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Colher de PauRua Rita Ludolf, 90Tel.: 2274-8295

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Loteria EsportivaAv. Ataulfo de Paiva

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Café Hum LeblonRua Gen. Venâncio Flores, 300

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Julíus BrasserieAv. Portugal, 986Tel.: 3518-7117

Banca do Ernesto

Banca da Teca

Banca da Deusa

Banca do EPV

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