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Folha do IAB I AB JORNAL DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS NA VANGUARDA DO DIREITO DESDE 1843 N º 131 - NOVEMBRO/DEZEMBRO - 2015 n ENTREVISTA Maíra Fernandes e os direitos das mulheres presas PÁGINA 8 n Avanços e obstáculos aos Direitos Humanos no Brasil e no mundo PÁGINA 6 n Ministro Edson Fachin: ‘O Judiciário não pode cruzar os braços’ PÁGINA 3 Encerramento das atividades de 2015 uniu consócios em defesa da advocacia e dos direitos fundamentais A exibição de um documentário sobre a história dos ad- vogados que defenderam presos políticos durante a di- tadura militar, entre 1964 e 1985, marcou o encerramento das atividades do IAB em 2015, no dia 16 de dezembro. Entre os retratados no filme Os advogados contra a dita- dura: por uma questão de justiça, de Silvio Tendler, está o presidente Técio Lins e Silva, que justificou assim a escolha do tema: “Embora o País esteja sob o império da Constituição democrática de 1988, vive-se um momen- to extremamente difícil do ponto de vista institucional, em que a conturbação política atinge as presidências da República, da Câmara e do Senado”. PÁGINAS 4 E 5 Documentário de Silvio Tendler, com depoimento do presidente do IAB, foi exibido no auditório da Confederação Nacional do Comércio Mala Direta Postal Básica 9912328952/2013-DR/RJ IAB

Folha do IAB 131

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Edição 131 - novembro/dezembro de 2015

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Page 1: Folha do IAB 131

NOVEMBRO/DEZEMBRO1

Folha do IABIABJORNAL DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS

NA VANGUARDA DO DIREITO DESDE 1843

Nº 131 - NOVEMBRO/DEZEMBRO - 2015

n ENTREVISTA Maíra Fernandes e os direitos das mulheres presas

PÁGINA 8

n Avanços e obstáculos aos Direitos Humanos no Brasil e no mundo

PÁGINA 6

n Ministro Edson Fachin: ‘O Judiciário não pode cruzar os braços’

PÁGINA 3

Encerramento das atividades de 2015 uniu consócios em defesa da advocacia e dos direitos fundamentaisA exibição de um documentário sobre a história dos ad-vogados que defenderam presos políticos durante a di-tadura militar, entre 1964 e 1985, marcou o encerramento das atividades do IAB em 2015, no dia 16 de dezembro. Entre os retratados no filme Os advogados contra a dita-dura: por uma questão de justiça, de Silvio Tendler, está

o presidente Técio Lins e Silva, que justificou assim a escolha do tema: “Embora o País esteja sob o império da Constituição democrática de 1988, vive-se um momen-to extremamente difícil do ponto de vista institucional, em que a conturbação política atinge as presidências da República, da Câmara e do Senado”. PÁGINAS 4 E 5

Documentário de Silvio Tendler, com depoimento do presidente do IAB, foi exibido no auditório da Confederação Nacional do Comércio

Mala Direta PostalBásica

9912328952/2013-DR/RJIAB

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NOVEMBRO/DEZEMBRO2

Mensagem do presidente

É motivo de orgulho e imensa satisfação o êxito alcançado pelos esforços empreen-didos pela atual Diretoria. Em 2015, du-

plicamos para 74 o número de novos consócios, em comparação com os 37 que ingressaram no nosso Instituto em 2012. Em todas as sessões ordinárias houve posses de novos associados, muitos dos quais jovens advogados com res-peitáveis formações acadêmicas e promissoras trajetórias profissionais que garantirão a per-manência do IAB, nas próximas décadas, na vanguarda do Direito, ocupada desde 1843 pela Casa de Montezuma.

Em 2015, realizamos 48 eventos culturais, praticamente um por semana. Conferencistas de altíssimo nível imprimiram uma qualidade ex-traordinária nos seminários, palestras e mesas--redondas. A presença maciça de jovens estu-dantes de Direito nos eventos – em alguns deles, muitos não tiveram onde se sentar e assistiram em pé às exposições – encheu o IAB de juventu-de e fortaleceu a convicção de que continuamos produzindo o grande saber jurídico.

Muitos destes jovens advogados poderão in-gressar na Escola de Ensino e Pesquisa Jurídica do IAB, recém-criada, que irá oferecer cursos de pós-graduação, aperfeiçoamento e extensão. E terão a oportunidade de aprender, na Casa de Montezuma, que integram uma classe cuja im-portância para o País está historicamente reco-nhecida no documentário Os advogados contra a ditadura: por uma questão de justiça.

Iniciamos 2016 com a sensação de termos cumprido boa parte dos projetos que pretendí-amos realizar.

Técio Lins e Silva

A presença maciça de jovens

estudantes de Direito

nos eventos encheu o IAB de juventude

e fortaleceu a convicção de

que continuamos produzindo o grande saber

jurídico

Expediente

Folha do IABPublicação bimestral do Instituto dos Advogados Brasileiros

NOVEMBRO/DEZEMBRO1

Folha do IABIABJORNAL DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS

NA VANGUARDA DO DIREITO DESDE 1843

Nº 131 - NOVEMBRO/DEZEMBRO - 2015

Folha do JORNAL DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS

n ENTREVISTA Maíra Fernandes e os direitos das mulheres presas

PÁGINA 8

n Avanços e obstáculos aos Direitos Humanos no Brasil e no mundo

PÁGINA 6

n Ministro Edson Fachin: ‘O Judiciário não pode cruzar os braços’

PÁGINA 3

Encerramento das atividades de 2015 uniu consócios em defesa da advocacia e dos direitos fundamentaisA exibição de um documentário sobre a história dos ad-vogados que defenderam presos políticos durante a di-tadura militar, entre 1964 e 1985, marcou o encerramento das atividades do IAB em 2015, no dia 16 de dezembro. Entre os retratados no fi lme Os advogados contra a dita-dura: por uma questão de justiça, de Silvio Tendler, está

o presidente Técio Lins e Silva, que justifi cou assim a escolha do tema: “Embora o País esteja sob o império da Constituição democrática de 1988, vive-se um momen-to extremamente difícil do ponto de vista institucional, em que a conturbação política atinge as presidências da República, da Câmara e do Senado”. PÁGINAS 4 E 5

Documentário de Silvio Tendler, com depoimento do presidente do IAB, foi exibido no auditório da Confederação Nacional do Comércio

Mala Direta PostalBásica

9912328952/2013-DR/RJIAB

atividades de 2015 uniu consócios em defesa da advocacia e dos direitos

A exibição de um documentário sobre a história dos ad-vogados que defenderam presos políticos durante a di-

o presidente Técio Lins e Silva, que justifi cou assim a escolha do tema: “Embora o País esteja sob o império da Constituição democrática de 1988, vive-se um momen-

Documentário de Silvio Tendler, com depoimento do presidente do IAB, foi exibido no auditório da Confederação Nacional do Comércio

Fotografia: Arquivo IABImpressão: Gráfica Walprint Tiragem: 2.500 exemplares

Jornalista responsável: Fernanda Pedrosa (MT 13511)Redação: Ricardo GouveiaProjeto gráfico e diagramação: Daniel Tiriba

Diretoria EstatutáriaPresidente: Técio Lins e Silva1º Vice-Presidente: Cândido de Oliveira Bisneto2º Vice-Presidente: Rita Cortez3º Vice-Presidente: Duval Viannasecretário-Geral (licenciado): Ubyratan Guimarães Cavalcantisecretário-Geral em exercício: Jacksohn Grossmandiretor-secretário: Carlos Eduardo Machadodiretor-secretário: Leilah Borgesdiretor-secretário: Carlos Roberto Schlesingerdiretor Financeiro: Thales Rodrigues de Mirandadiretor cultural: João Carlos Castellardiretor de BiBlioteca: Fernando Drummond

diretor adjunto: Sydney Sanchesdiretor adjunto: Ester Kosovskidiretor adjunto: Eurico Telesorador oFicial: José Roberto Batochio

Diretoria executivadiretor de relações institucionais: Aristóteles Atheniensediretor de relações internacionais: Paulo Lins e Silvadiretor de relações com o interior: Armando de Souzadiretor acadêmico: Pedro Marcos Nunes Barbosadiretor de direitos Humanos: João Luiz Duboc Pinauddiretor de leGislação e Pesquisa: Aurélio Wander Bastosdiretor de Patrimônio Histórico e cultural: Luiz Felipe Condediretor de tV, comunicação e imPrensa: Sara Costa

diretor de inFormática e modernização: Antônio Laért Vieira Juniordiretor de mediação, conciliação e arBitraGem: Ana Tereza Basíliodiretor de acomPanHamento leGislatiVo: Renato de Moraesdiretor de sede: Ludmila Schargeldiretoria de eVentos: Adriana Brasil GuimarãesProcurador-Geral: Paulo Penalva SantosouVidor Geral: Arnon Velmovitsky

Av. Marechal Câmara n° 210, 5º andar - CentroRio de Janeiro - RJ - CEP 20.020-080Telefax: (21) [email protected]

Acompanhe o IAB nas redes sociais /IABnacional /iabnacional

Técio Lins e Silva empossou Sergio Tostes na presidência da Comissão de Mediação, Conciliação e Arbitragem

PossesNos meses de novembro e dezembro, o presidente do

IAB, Técio Lins e Silva, deu posse aos presidentes das co-missões de Mediação, Conciliação e Arbitragem, Sergio Tostes, e de Direito Administrativo, Manoel Messias Pei-xinho, e das recém-criadas comissões Especial de Direito e Liberdade Religiosa, Gilberto Garcia, e de Direito de Se-guridade Social, Suzani Andrade Ferraro.

Foram empossados como membros efetivos os advo-gados Leila Pose Sanches, Daniel Baldini Blanck Castro, Pedro Teixeira Pinos Greco, Rodrigo de Oliveira Botelho Corrêa, José Roberto de Castro Neves, Andreya Mendes de Almeida Scherer Navarro, Ronaldo Ferreira Tolentino, Carlos Antônio Goulart Leite Junior, Bernardo Ribeiro Câmara e Taísa Regina Rodrigues.

Como membros honorários tomaram posse os desem-bargadores Roberto Norris, do TRT da 1ª Região (RJ), e Guilherme Calmon Nogueira da Gama, do TRF da 2ª Região (RJ/ES); o procurador de Justiça do RJ Fernando Galvão de Andréa Ferreira, a juíza Helena Elias Pinto, do TRF da 2ª Região, e o promotor do MPRJ Emerson Garcia.

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Palestra

“Vivemos um momento de alta voltagem jurídica e perda do tônus legislativo em que o Poder Judiciário brasileiro tem sido chamado para, em respeito aos marcos civilizatórios, garantir a legitimação da Constituição, encontrar saídas democráticas e evitar a barbárie política.” A afirmação foi feita pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante sua palestra sobre ‘Direitos Fundamentais e Garantias Constitucionais na recente jurisprudência do STF’, no dia 6 de novembro, no plenário lotado do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). A sessão extraordinária foi conduzida pelo presidente do IAB, Técio Lins e Silva, para quem “o País vive dias perigosíssimos em que não se respeita o amplo direito de defesa”. Segundo ele, “os advogados brasileiros têm a esperança de que o Supremo Tribunal Federal resistirá às pressões, honrará a tradição das suas jurisprudências democráticas e impedirá o avanço dos abusos jurisdicionais que atingem as liberdades individuais e ameaçam o estado democrático de direito”.

Fachin: ‘O Judiciário tem sido chamado para evitar a barbárie política’

Os advogados brasileiros têm a esperança de que o STF resistirá às pressões, honrará a tradição das suas jurisprudências democráticas e impedirá o avanço dos abusos jurisdicionais que atingem as liberdades individuais e ameaçam o estado democrático de direito

“Técio Lins e Silva

O ministro do STF Edson Fachin palestrou para o plenário lotado

Da esq. para a dir., Jacksohn Grossman, Técio Lins e Silva, Carlos Eduardo Machado, Edson Fachin e Bernardo Cabral

Sabedoria e fidalguia

Técio Lins e Silva se dirigiu ao ministro tendo nas mãos um exemplar da FOLHA DO IAB com uma fotografia de Edson Fachin na capa, em-punhando a carteira da OAB, na sabatina de mais de 12 horas a que se submeteu no Senado, antes do seu ingresso no STF, em junho de 2015. “Temos a confiança de que Vossa Excelência, membro honorário do IAB e representante da advocacia na Corte Suprema, que recebeu desta Casa de Montezuma o apoio público à sua candidatura ao STF e hoje nos brinda com a sua sabedoria e fidalguia, contribuirá para que o Supremo dê todas as garantias necessárias à liberdade e à democracia”.

Em sua exposição, o ministro Edson Fachin também afirmou que “o Judiciário não pode substituir o legislador e o gestor de políticas públi-cas, mas também não pode cruzar os braços”. Segundo o magistrado, “o Supremo decidiu ser possível agir, sem ser cegamente omisso e ir-responsavelmente ativista, para garantir a segurança jurídica do devido processo legal”. De acordo com Fachin, “o Judiciário tem o protagonis-mo não apenas de julgar controvérsias e impedir ameaças aos direitos, mas de realizar o controle da constitucionalidade das leis”.

A mesa de honra foi integrada também pelo ex-senador Bernardo Cabral; o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Fur-tado Coêlho; o subprocurador-geral de Justiça e Direitos Humanos e Terceiro Setor do Ministério Público do RJ, Ertulei Laureano Matos, e o presidente da Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do RJ, Pedro Paulo Lourival Carrielo, que representaram, respectivamente, o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, e o defensor público-geral, André de Castro; o diretor-secretário do IAB, Carlos Eduardo Machado; o secretário-geral em exercício do IAB, Jacksohn Grossman, e o secretá-rio-geral da Presidência do STF, Manoel Carlos de Almeida Neto.

Entre as autoridades presentes estavam o ex-presidente do IAB João Luiz Duboc Pinaud, a ministra do TSE Luciana Lóssio, o procurador--chefe do Ministério Público do Trabalho do RJ, Fabio Villela, e a desem-bargadora do TJPR Rosana Girardi Fachin, esposa do ministro.

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“Técio Lins e Silva

Está havendo um enorme desrespeito aos direitos

fundamentais, como a ampla

defesa e o contraditório, em grave ameaça ao

processo penal democrático,

inexistente durante a ditadura militar e garantido pela Constituição

cidadã de 1988

Institucional

C om a exibição do filme Os advogados contra a di-tadura: por uma questão de justiça, do diretor Silvio Tendler, no auditório da Confederação Nacional do Comércio (CNC), no Centro do Rio, o Instituto

dos Advogados Brasileiros (IAB) encerrou no dia 16 de de-zembro as suas atividades de 2015. O documentário conta a história dos que defenderam presos políticos durante a dita-dura militar, entre 1964 e 1985, dentre os quais o presidente do IAB, Técio Lins e Silva, Sobral Pinto, Antônio Modesto da Silveira, Eny Moreira, George Tavares e Alcyone Barreto, cujos depoimentos estão registrados no filme.

“Os advogados foram decisivos para derrubar aque-le período de trevas que marcou tristemente o País por 21 anos”, afirmou Técio Lins e Silva, antes do início da sessão cinematográfica, que contou com a presença de dezenas de consócios, entre eles Humberto Jansen, também entrevis-tado para o documentário, o ex-presidente Celso Soares e membros da Diretoria.

De acordo com o presidente do IAB, a decisão de encer-rar o ano com a exibição do documentário se deveu ao fato de que “embora o País esteja sob o império da Constitui-ção democrática de 1988, vive-se um momento extre-mamente difícil do ponto de vista institucional, em que a conturbação política atinge as presidências da Repúbli-ca, da Câmara e do Senado”.

Técio Lins e Silva ressal-tou, também, que “no âm-bito do direito penal, está havendo um enorme desres-peito aos direitos fundamen-tais, como a ampla defesa e o contraditório, em grave ameaça ao processo penal democrático, inexistente durante a ditadura militar e garantido pela Consti-tuição cidadã de 1988”.

IAB encerra 2015 com exaltação à advocacia e às conquistas da atual Diretoria

Após a sessão, Humberto Jansen exaltou a iniciativa de Silvio Tendler de realizar o documentário: “O filme é um registro histórico para as gerações futuras da im-portância que tiveram os advogados, pois, ao defen-derem cada preso perseguido pelo sistema autoritário, sobretudo a partir das ações de Sobral Pinto, lutaram pela defesa da democracia brasileira”.

A presidente da Comissão de Direito Penal do IAB, Victoria de Sulocki, manifestou a sua contrarie-dade com o quadro atual: “A grande dificuldade hoje enfrentada pelos advogados é a violação dos direitos e garantias fundamentais consagradas na Constitui-

ção de 1988, como, por exemplo, a aplicação da pri-são provisória somente exceção, e não como regra”. Segundo a advogada, “a tortura é um crime hedion-do, foi largamente praticada durante a ditadura mili-tar e continua acontecendo nas delegacias policiais e presídios, nos quais o Estado deveria cuidar para que ela não ocorresse”.

Para o advogado Sérgio Tostes, presidente da Comis-são de Mediação, Conciliação e Arbitragem, “o cenário atual não chega a ser tão preocupante quanto era na dita-dura militar, mas, de todo modo, a advocacia, que lutou pela liberdade nos anos de chumbo, tem que continuar

DEFESA DA DEMOCRACIA

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Estava na aula de Introdução à Ciência do Direito, quando li uma pequena notícia no jornal que dizia: ‘Presos os advogados de presos políticos’. Saí de sala, abandonei o Direito e decidi ser cineasta

“Silvio Tendler

Os consócios do IAB compareceram em grande número

IAB em númerosAntes da projeção do filme, o presidente do IAB fez um balanço da sua gestão,

iniciada em 2014. “Fico muito feliz com o grande esforço da atual Diretoria, que pro-moveu a remodelação da sede do IAB; modernizou a estrutura do plenário, respei-tando as tradições daquele espaço histórico, e aumentou significativamente o nosso quadro de consócios, superando a média registrada nos anos anteriores”, afirmou.

Técio Lins e Silva ressaltou, ainda, que “foram intensificadas a produção de pare-ceres e a realização das atividades culturais, como seminários, inclusive internacio-nais, palestras, mesas-redondas, lançamentos de livros e ciclos de conferências que totalizaram 48 eventos em 2015, praticamente um por semana”.

Os números explicam a felicidade do presidente do IAB. Em 2015, tomaram pos-se 74 consócios, sendo 65 efetivos e nove honorários, superando os 55 empossados em 2014 (49 efetivos e seis honorários), os 49 que ingressaram em 2013 (44 efetivos e cinco honorários) e os 37 que se associaram em 2012 (36 efetivos e um honorário). Na atual gestão, foram aprovados 81 pareceres (47 em 2015 e 34 em 2014) e expedi-dos 1.002 ofícios.

Somente em 2015, foram realizadas 35 sessões ordinárias e seis reuniões da Dire-toria, além de sessões solenes em homenagens póstumas a George Tavares, Carlos Henrique de Carvalho Fróes e Eugênio Roberto Haddock Lobo, e ao Centenário de Evaristo de Moraes Filho. Durante a cerimônia de comemoração pelos 172 anos do IAB, foram empossados os membros do Conselho Superior para o biênio 2015/2017 e os coordenadores Regionais Institucionais, inaugurada a nova galeria de fotogra-fias dos ex-presidentes, concedidas as Medalhas Teixeira de Freitas e Levi Carneiro e prestada uma homenagem ao Jornal do Commercio, no qual o IAB publica uma coluna semanal.

Na atual gestão, o IAB realizou o Concurso Cultural de Monografias Jurídicas para Juristas –Centenário de Nascimento do Desembargador Aloysio Maria Teixei-ra e assinou convênios de cooperação técnica, acadêmica e técnico-científica com o Superior Tribunal Militar (STM), o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ), a Faculdade de Direito da Uerj, o Ministério Público do RJ, a PUC-Rio, o Ibmec, a Defensoria Pública do RJ e a Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região.

‘Abandonei o Direito e decidi ser cineasta’

Na abertura do documentário Os advogados contra a ditadura: por uma questão de justiça, o narrador reproduz a seguinte manifestação do diretor Silvio Tendler: “Em 1960, estudava Direito na PUC/Rio. Estava na aula de Introdução à Ciência do Direito, quando li uma pequena notícia no jornal que dizia: ‘Presos os advogados de presos políticos’. Saí de sala, abandonei o Direito e decidi ser cineasta”.

O filme foi lançado, em abril de 2014, em SP, nas instalações do futuro Memorial da Luta pela Justiça, cujo projeto tem o apoio da OAB/SP e do Núcleo de Preservação da Memorial Política. No prédio funcionou a 2ª Auditoria Militar da União, onde presos políticos foram interrogados e julgados, na maioria das vezes, sem ter o direito de defesa respeitado.

No lançamento do documentário, Silvio Tendler, conhecido como “o cineasta dos sonhos interrompidos”, devido aos filmes que rodou contando as trajetórias de João Goulart e Juscelino Kubitschek, disse que “o documentário pretende levar a uma profunda reflexão sobre a época em questão, a partir do universo jurídico e do papel estratégico da Justiça Militar”.

Ainda segundo o cineasta, “também é uma justa homenagem aos advogados que, pela justiça e liberdade, se posicionaram corajosamente na linha de frente da defesa de presos políticos e se dedicaram a construir uma nova sociedade”.

Técio destacou a luta da advocacia e os avanços empreendidos pela atual Diretoria

atuando com o mesmo vigor daquela época para combater o descumprimento de preceitos constitucionais que se tem visto”.

Conforme o advogado, “embora, hoje, os réus presos não fiquem incomunicáveis, como acontecia na ditadura, os advogados têm enfrentado grandes dificuldades para estar com os seus clientes”. De acordo com Sérgio Tostes, “os advogados não podem ter limitações ao lidar com o Poder Judiciário e precisam manter contato direto com juízes, desembargadores e ministros”.

Humberto Jansen em seu depoimento para o documentário

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Seminário

Direitos Humanos no Brasil e no Mundo: avanços e obstáculos

“Com o uso em larga escala da internet, não há mais somente as figuras do alienado e do ativista político, pois passaram a existir outros níveis de participação política que incluem, por exemplo, aqueles que não vão às ruas, mas se manifestam nas redes sociais.” A afirmação foi feita pelo advogado Michael Mohallen, no plenário do IAB, na abertura do seminário Di-reitos Humanos no Brasil e no Mundo: avan-ços e obstáculos, no dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. “Hoje, movimentos de protesto contra violações dos direitos humanos mobilizam milhares de pes-

soas em poucos dias ou em algumas horas”, disse Michael Mohallen.

O presidente do IAB, Técio Lins e Silva, con-duziu a abertura evento, que inicialmente conta-ria com palestra da vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, que não pôde comparecer por conta de assuntos urgentes que entraram na pauta da Corte naquela data. O seminário foi organizado pela Comissão de Direitos Humanos do IAB, presidida por Már-cia Dinis. No encerramento, houve homenagens ao jurista Evandro Lins e Silva (1912-2002) e ao Grupo Tortura Nunca Mais.

Da esq. para a dir., Simone Schreiber, Luciano Mattos, Roberto Guimarães, Márcia Dinis, Técio Lins e Silva, Jayme Boente, Siro Darlan, Celso Soares e Michael Mohallen

“Eu e mais dois mil advogados cegos de todo o País fomos banidos da profissão, em 2013, pelo então presidente do Conselho Nacional de Jus-tiça e do STF, ministro Joaquim Barbosa, que instituiu o processo judicial eletrônico inacessí-vel aos deficientes visuais.” A denúncia foi feita pela advogada Débora Prates, na palestra ‘Aces-sibilidade e inclusão de pessoas com deficiên-cia como efetividade dos Direitos Humanos’. Segundo a advogada, a Resolução 185, emitida há dois anos pelo CNJ, criou o Sistema Processo Judicial Eletrônico (PJe), que não estabeleceu a inclusão de textos codificados e traduzíveis em áudios por softwares, conhecidos como leitores de tela, usados pelos deficientes visuais.

A advogada Sandra Kiefer, da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/RJ, fez a palestra ‘Inclusão de pessoas com deficiência nas escolas privadas’. Ela citou a ADI 5.357 impetrada no STF pela Confedera-ção Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) contra o Estatuto do Deficiente (Lei 13.146/2015). A entidade defende que as escolas

devem ter o direito de poder vetar a matrícula de alunos deficientes e não podem ser obriga-das a prover as medidas de adaptação necessá-rias, sem que o ônus financeiro seja repassado às mensalidades, anuidades e matrículas.

A palestra seguinte foi feita pelos advoga-dos Alexandre Tolipan e Leila Maria Bitten-court da Silva, que discorreram sobre ‘Imigra-ção seletiva: a violação aos direitos humanos como política migratória’. O debate sobre o tema ocorreu após o depoimento prestado pelo refugiado sírio Hanna Albertus. ‘O com-promisso do Brasil com o Tratado Opcional de Combate à Tortura (Opcat - Optional Protocol to the Convention Against Torture)’ encerrou o seminário com as exposições dos advogados Margarida Pressburger, membro do Subcomi-tê da ONU para Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradante, e Bruno Toledo, diretor do Cen-tro de Apoio aos Direitos Humanos do Espíri-to Santo e presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória.

Processos judiciais inacessíveis

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NOVEMBRO/DEZEMBRO7

Pareceres

ImpeachmentA indicação para que a entidade ingressasse como

amicus curiae na denúncia protocolada na Câmara Fede-ral para abertura de processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff, foi rejeitada pelo IAB na sessão ordinária de 4 de novembro. A deci-são decorreu da aprovação, por unanimidade, do pare-cer da relatora Ana Tereza Basílio, diretora de Mediação, Conciliação e Arbitragem. Ela o fundamentou no Estatuto Social do IAB que, em seu art. 4º, veda manifestações da entidade “acerca de assuntos de política partidária”.

Novo CPCO IAB se posicionou de forma contrária, na sessão de

2 de dezembro, ao PL 2.913/2015, do deputado federal Victor Mendes (PMB/MA), que amplia de um para três anos o prazo previsto para a entrada em vigor do novo CPC sancionado em março deste ano. E rejeitou também o PL 2.384/2015, do deputado Carlos Manato (SD/ES), que propõe a manutenção do estabelecido pelo atual CPC, para que o juízo de admissibilidade dos recursos extraordinário e especial não passe a ser feito pelos tribunais superiores. Os dois PLs receberam pareceres contrários do relator Du-val Vianna, da Comissão de Direito Processual Civil.

Terras indígenasA proposta que retira do Poder Executivo Federal e

transfere para o Congresso Nacional a competência exclu-siva para aprovar a demarcação das terras indígenas foi rejeitada pelo IAB. A decisão ocorreu com a aprovação, na sessão de 9 de dezembro, dos pareceres dos relatores Nilton Cezar Flores, da Comissão de Direito Ambiental, e José Afonso da Silva, da Comissão de Direito Constitucio-nal. Eles definiram como inconstitucional a PEC 215/2000 de autoria do ex-deputado federal Almir Sá (PPB-RR).

Espaço de divulgação de livros doados à Biblioteca Daniel Aarão Reis

Estante

PEDRINHA, Roberta Duboc e GUIMARÃES, Sérgio Chastinet Duarte. Críticas à Reforma ao Código Penal brasi-leiro – PLS 236/2012. Rio de Janeiro: Gramma, 2015.

Professores de Direito Penal da Universidade Candido Mendes, os autores organizaram a publicação das críticas à Reforma do CP feitas por grandes juristas em resistência política ao projeto de lei do Senado 236/2912 e defesa de um sistema penal democrático.

CARNEVALE, Marcos. Crise Social e Poder Judiciário: uma análise sociológica dos quantitativos do CNJ. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015.

O livro é uma valiosa contribuição para o reconhecimento do Poder Judiciário Brasileiro, descortinado pelo autor para que a sociedade conheça as dificuldades conjunturais e estruturais presentes no processo judicial.

A Escola de Ensino e Pesquisa Jurí-dica do IAB foi criada, na sessão ordi-nária de 9 de dezembro, por meio da resolução 9/2015 assinada pelo presi-dente Técio Lins e Silva. A criação da unidade de ensino foi sugerida pelo presidente da Comissão de Relações Universitárias, Aurélio Wander Bas-tos, que responderá por eventuais ati-vidades até a designação da Comis-são Diretora da Escola. A escola vai oferecer cursos de pós-graduação, em todos os níveis, de aperfeiçoamento e extensão, e desenvolver pesquisas ju-rídicas sobre as carreiras jurídicas, as instituições públicas e a sociedade.

“Estamos preparando o IAB para

o futuro e mantendo a tradição de estar na vanguarda do Direito des-de 1843”, afirmou Técio Lins e Silva. Segundo ele, “a atual Diretoria está empenhada em divulgar a cultura jurídica e a inteligência dos membros do IAB, compartilhando-as com to-dos os operadores de direito do País e fazendo do Instituto um difusor de ideias”. De acordo com Aurélio Wan-der Bastos, “a Escola do IAB ocupará um espaço no ensino regular avan-çado de pós-graduação, preparando profissionais não apenas para aplica-ção do Direito, mas com vistas à sin-tonização entre a ordem jurídica e a dinâmica da sociedade”.

IAB cria a sua Escola de Ensino e Pesquisa Jurídica

Page 8: Folha do IAB 131

NOVEMBRO/DEZEMBRO8

Entrevista|Maíra Fernandes

‘Quando a mulher é presa, a família se desfaz’

Lamentavelmente, a revista íntima

ainda é uma realidade em

diversos estados, apesar de já ter

sido considerada como tortura pela

ONU e condenada pelo Conselho

Nacional de Política Criminal e

Penitenciária

Chefe de Gabinete da Presidência do IAB, Maíra Fernandes fala dos pareceres fa-voráveis que deu aos projetos de lei que

propõem o fim da revista pessoal em unidades prisionais e socioeducativas, além da sua parti-cipação na audiência pública na Câmara Fede-ral, em novembro, sobre o assunto. Ela relata também os resultados da pesquisa “Mulheres e crianças encarceradas: um estudo jurídico-so-cial sobre a experiência da maternidade no sis-tema prisional do RJ”, da qual foi coordenado-ra com a professora Luciana Boiteux, da UFRJ, e ressalta a importância da “Moção do IAB em apoio ao indulto de Natal para mulheres con-denadas por tráfico de drogas” encaminhada à Presidência da República.

No Rio, a revista pessoal foi substituída por aparelhos eletrônicos graças à sanção do pro-jeto que recebeu um parecer favorável de sua autoria. A mudança está sendo cumprida?

As revistas não estão mais sendo feitas nos visitantes, somente nos presos. Os scanners cor-porais estão em processo de instalação. O que preocupa é que o deputado Flávio Bolsonaro e o Ministério Público do Rio ajuizaram ações de inconstitucionalidade contra as leis que aboli-ram a revista vexatória nas unidades prisionais e de internação de adolescentes. Na próxima sessão do IAB, apresentarei indicação para in-gressarmos como amicus curiae nessas ações, pois as leis são constitucionais e merecem per-manecer em vigor.

A revista íntima vexatória continua ocorrendo no País?

Sim. Lamentavelmente, ainda é uma re-alidade em diversos estados, apesar de já ter sido considerada como tortura pela ONU e condenada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Daí a importância de uma lei nacional para acabar definitivamente com essa prática.

Como foi a audiência pública na Câmara, onde um dos projetos também é apoiado por um pa-recer seu?

Foi um sucesso a audiência realizada para, especialmente, debater os projetos de lei 7.764/2014 e 404/2015 que preveem o fim da

revista vexatória. O relator, deputado João Cam-pos, ficou sensibilizado, se manifestou publica-mente a favor dos projetos e prometeu entregar seu relatório ainda neste ano.

O que revelou a pesquisa sobre a realidade das mulheres grávidas e parturientes encarceradas no Rio de Janeiro?

A pesquisa identificou que toda gravidez no sistema sempre será de risco e traçou o perfil dessas mulheres invisíveis. Elas, em sua maio-ria, são pobres, 37% negras, 41% pardas e 73,2% presas sem condenação. Dentre as grávidas, 70% respondem por crimes ligados ao tráfico de dro-gas. A maioria, 78%, tem até 27 anos, 75,6% não completaram o ensino fundamental e metade trabalhava quando foi presa. O perfil compro-va o quão é seletivo e danoso o encarceramento, porque, quando o homem é preso, as mulheres mantêm a família. Quando a mulher é presa, a família se desfaz.

Por que o IAB decidiu emitir a Moção de apoio ao indulto de Natal?

Porque é uma medida urgente e necessária. A população carcerária feminina aumentou 567,4%, de 2000 a 2014, enquanto a masculina, no mesmo período, cresceu 220,20%. Manter presas mulheres que cometeram crimes sem violência, portando pequenas quantidades de drogas, é uma medida inteiramente despropor-cional e danosa, pois a grande maioria delas sus-tenta as suas famílias.