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Resumo Da proposta metodológica de uma tese de doutoramento em curso sobre o território da urbanização de baixa densidade entre Braga e Barcelos, estruturamos uma reflexão sobre as potencialidades de uma leitura vinculada à matriz histórica do território. O argumento de tese, que sugere a existência de formas ordenadas capazes de estruturar um suporte de identidade baseado nos valores do sítio, relaciona-se com uma proposta de síntese, centrada no corpus da arquitectura, que in- terpreta o processo de vertebração do ter- ritório a partir da morfologia espacial dos as- sentamentos, para compreender os sistemas de permanências e persistências relacionados com a estrutura dos lugares e seus significados. Informar o projecto a partir da compreensão destes elementos permite-nos debater sobre a possibilidade de continuar a operar com base nos valores formais do suporte geográfico, se- gundo um processo capaz de acolher os ref- erenciais de identidade e de abrir caminho a uma nova legibilidade do espaço urbano. Palavras-chave Território, Permanência, Projecto, Forma. Sessão Temática Paisagem e Território. Referências 1. Imagem satélite www.bing.com/maps/#Y3A9MzkuMzIwOTE1fi04 Ljk0NTE1MyZsdmw9MTEmc3R5PXImcT1icmFnYSUyQyUyMHBhbG1la. 2.| 3. Extrato Carta Militar 1948 | Extrato Carta Militar 1997 Oficina do Mapa, Faculdade de Letras da UP. 4. Textura-série-hierarquia-contraste-complexidade, desenho de Larry Mitnick in VON MEISSE, Pierre (1986), De la forme au lieu: une introduction à l’étude de l’architecture. Lausanne: Ed. Presses Poly- techniques Romandes, 1993, p. 50. TELLES, Gonçalo Ribeiro, Um novo conceito de cidade: a paisagem global. Matosinhos: Contemporânea Editora,1996, p.7. CORBOZ, André, “Il território come palimpsesto” in revista Casabella nº 516, 1985, p.25. LÉVEILLÉ, Alain, La connaissance du territoire pour l’intervention: la lecture des permanences urbaines: le paysage n’est pas une nature morte, 1988. p.6. II JORNADAS INTERNACIONAIS EVOLUÇÃO DOS ESPAÇOS URBANOS E SEUS TERRITÓRIOS NO NOROESTE DA PENÍNSULA IBÉRICA FORMAS DA URBANIZAÇÃO DE BAIXA DENSIDADE ENTRE BRAGA E BARCELOS: A MATRIZ HISTÓRICA DO TERRITÓRIO. INFORMAR A INTERVENÇÃO. Sandra Brito, Marta Labastida, Marta Oliveira PDA . FAUP Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto [email protected] 2 3 4 DO ENQUADRAMENTO DA PROBLEMÁTICA “A cidade medieval vivia nas suas muralhas e comunicava com o exterior através das portas. Dum e doutro lado dessas muralhas existiam elementos fundamentais da vida: a troca com o mundo circundante fazia-se nos terreiros das feiras. Mas também tinha, no seu âmbito, no seu interior, a ruralidade. (...) Neste momento, não é possível estabelecer uma fronteira nítida entre os espa- ços rural e urbano: não sabemos onde começa a cidade nem onde acaba o campo. (...) Um novo conceito de cidade dever ser pensado.“ (TELLES, 1996) A condição urbana da contemporaneidade conduziu a uma reconfiguração do sistema morfológico apoiado no binómio cidade/campo que exige novos esforços metodológicos. No confronto com a dissolução da forma urbana, o território torna-se o dispositivo de reflexão pertinente da nova dimensão espa- cial. TERRITÓRIO: ARTEFACTO, PROJECTO, FORMA O território não é apenas o “resultado de um conjunto de processos mais ou menos coordenados”; quando uma população o ocupa “estabelece com ele uma relação de tipo organizativo, planificador e podem-se observar os efei- tos recíprocos desta coexistência. Por outras palavras, o território é objecto de construção. É uma espécie de artefacto. E a partir desse momento consti- tui também um produto. (...) O dinamismo dos fenómenos de formação e de produção prossegue na ideia de um aperfeiçoamento contínuo dos resulta- dos, no qual tudo está correlacionado: identificação mais eficiente das po- tencialidades, distribuição mais coerente dos bens e dos serviços, gestão mais adequada, inovação das instituições. Por consequência, o território é um pro- jecto.” O vínculo entre topografia e sociedade concretiza várias “traduções do território em figuras” que reportam a uma “realidade incontestável: que o território tem uma forma. Ou melhor, que é uma forma.” (CORBOZ, 1985) O território entendido como “palimpsesto” remete-nos para a estratificação no tempo longo. A condição histórica do território permite-nos fundamentar um discurso projectual atento à estrutura complexa, aos significados e à espe- cificidade dos materiais. INFORMAR A INTERVENÇÃO Alain Léveillé associou à ‘intervenção inteligente’ as noções de ‘permanência’ e ‘persistência’. “A permanência é o princípio que expõe o carácter invariável de um elemento, como a história de um lugar. (...) A persistência pelo contrário introduz a ideia de alteração/conservação, como os elementos do tecido que são substituídos por outros, mas que mantém a mesma posição no terreno. São testemunhos de um facto, ainda que já desaparecido.” (LÉVEILLE´, 1988) A importância do reconhecimento dos sistemas de ‘permanências’ e ‘per- sistências’ que modelaram a paisagem relaciona-se com a possibilidade de propor um esquema representativo das ordens compositivas do território, vin- culado à estrutura formal dos lugares e aos seus significados. A determinação dos referenciais do contexto informa-nos sobre a “competência” de determi- nados dispositivos e sobre a disponibilidade do território para a intervenção. 1km

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ResumoDa proposta metodológica de uma tese de doutoramento em curso sobre o território da urbanização de baixa densidade entre Braga e Barcelos, estruturamos uma reflexão sobre as potencialidades de uma leitura vinculada à matriz histórica do território. O argumento de tese, que sugere a existência de formas ordenadas capazes de estruturar um suporte de identidade baseado nos valores do sítio, relaciona-se com uma proposta de síntese, centrada no corpus da arquitectura, que in-terpreta o processo de vertebração do ter-ritório a partir da morfologia espacial dos as-sentamentos, para compreender os sistemas de permanências e persistências relacionados com a estrutura dos lugares e seus significados. Informar o projecto a partir da compreensão destes elementos permite-nos debater sobre a possibilidade de continuar a operar com base nos valores formais do suporte geográfico, se-gundo um processo capaz de acolher os ref-erenciais de identidade e de abrir caminho a uma nova legibilidade do espaço urbano.

Palavras-chaveTerritório, Permanência, Projecto, Forma.

Sessão TemáticaPaisagem e Território.

Referências1. Imagem satélite www.bing.com/maps/#Y3A9MzkuMzIwOTE1fi04

Ljk0NTE1MyZsdmw9MTEmc3R5PXImcT1icmFnYSUyQyUyMHBhbG1la.

2.| 3. Extrato Carta Militar 1948 | Extrato Carta Militar 1997

Oficina do Mapa, Faculdade de Letras da UP.

4. Textura-série-hierarquia-contraste-complexidade, desenho de

Larry Mitnick in VON MEISSE, Pierre (1986), De la forme au lieu: une

introduction à l’étude de l’architecture. Lausanne: Ed. Presses Poly-

techniques Romandes, 1993, p. 50.

TELLES, Gonçalo Ribeiro, Um novo conceito de cidade: a paisagem

global. Matosinhos: Contemporânea Editora,1996, p.7.

CORBOZ, André, “Il território come palimpsesto” in revista Casabella

nº 516, 1985, p.25.

LÉVEILLÉ, Alain, La connaissance du territoire pour l’intervention: la

lecture des permanences urbaines: le paysage n’est pas une nature

morte, 1988. p.6.

II JORNADAS INTERNACIONAISEVOLUÇÃO DOS ESPAÇOS URBANOS E SEUS TERRITÓRIOS NO NOROESTE DA PENÍNSULA IBÉRICA

FORMAS DA URBANIZAÇÃO DE BAIXA DENSIDADE ENTRE BRAGA E BARCELOS: A MATRIZ HISTÓRICA DO TERRITÓRIO.INFORMAR A INTERVENÇÃO.

Sandra Brito, Marta Labastida, Marta OliveiraPDA . FAUP

Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

[email protected]

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DO ENQUADRAMENTO DA PROBLEMÁTICA“A cidade medieval vivia nas suas muralhas e comunicava com o exterior através das portas. Dum e doutro lado dessas muralhas existiam elementos fundamentais da vida: a troca com o mundo circundante fazia-se nos terreiros das feiras. Mas também tinha, no seu âmbito, no seu interior, a ruralidade. (...) Neste momento, não é possível estabelecer uma fronteira nítida entre os espa-ços rural e urbano: não sabemos onde começa a cidade nem onde acaba o campo. (...) Um novo conceito de cidade dever ser pensado.“ (TELLES, 1996)

A condição urbana da contemporaneidade conduziu a uma reconfiguração do sistema morfológico apoiado no binómio cidade/campo que exige novos esforços metodológicos. No confronto com a dissolução da forma urbana, o território torna-se o dispositivo de reflexão pertinente da nova dimensão espa-cial.

TERRITÓRIO: ARTEFACTO, PROJECTO, FORMAO território não é apenas o “resultado de um conjunto de processos mais ou menos coordenados”; quando uma população o ocupa “estabelece com ele uma relação de tipo organizativo, planificador e podem-se observar os efei-tos recíprocos desta coexistência. Por outras palavras, o território é objecto de construção. É uma espécie de artefacto. E a partir desse momento consti-tui também um produto. (...) O dinamismo dos fenómenos de formação e de produção prossegue na ideia de um aperfeiçoamento contínuo dos resulta-dos, no qual tudo está correlacionado: identificação mais eficiente das po-tencialidades, distribuição mais coerente dos bens e dos serviços, gestão mais adequada, inovação das instituições. Por consequência, o território é um pro-jecto.” O vínculo entre topografia e sociedade concretiza várias “traduções do território em figuras” que reportam a uma “realidade incontestável: que o território tem uma forma. Ou melhor, que é uma forma.” (CORBOZ, 1985)

O território entendido como “palimpsesto” remete-nos para a estratificação no tempo longo. A condição histórica do território permite-nos fundamentar um discurso projectual atento à estrutura complexa, aos significados e à espe-cificidade dos materiais.

INFORMAR A INTERVENÇÃOAlain Léveillé associou à ‘intervenção inteligente’ as noções de ‘permanência’ e ‘persistência’. “A permanência é o princípio que expõe o carácter invariável de um elemento, como a história de um lugar. (...) A persistência pelo contrário introduz a ideia de alteração/conservação, como os elementos do tecido que são substituídos por outros, mas que mantém a mesma posição no terreno. São testemunhos de um facto, ainda que já desaparecido.” (LÉVEILLE´, 1988)

A importância do reconhecimento dos sistemas de ‘permanências’ e ‘per-sistências’ que modelaram a paisagem relaciona-se com a possibilidade de propor um esquema representativo das ordens compositivas do território, vin-culado à estrutura formal dos lugares e aos seus significados. A determinação dos referenciais do contexto informa-nos sobre a “competência” de determi-nados dispositivos e sobre a disponibilidade do território para a intervenção.

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