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Maria Manuela Gaspar Fantasia
UM
inho
|201
3
agosto de 2013
Anlise da Cadeia de Valor como Suporte da Gesto Estratgica de Custos: Uma Aplicao Indstria
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ria
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gesto
Tese de Doutoramento em Contabilidade
Maria Manuela Gaspar Fantasia
agosto de 2013
Anlise da Cadeia de Valor como Suporte da Gesto Estratgica de Custos: Uma Aplicao Indstria
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gesto
Trabalho realizado sob a orientao daProfessora Doutora Lcia Lima Rodrigues
iii
It always seems impossible
until its done
Nelson Mandela
Dedico este trabalho aos meus pais Antnio e Emlia (in memorian)
iv
v
AGRADECIMENTOS
minha orientadora, Professora Doutora Lcia Lima Rodrigues quero expressar o
meu profundo agradecimento pela orientao cuidada, pela disponibilidade manifestada, e em
especial pela fora e incentivo para concluir este trabalho.
Aos dirigentes que cooperaram no preenchimento do questionrio tornando possvel a
recolha de informao necessria realizao do trabalho, manifesto o meu agradecimento.
Devo agradecer aos responsveis do IPC Instituto Politcnico de Coimbra e do
ISCAC Instituto Superior de Contabilidade e Administrao de Coimbra, o apoio
institucional que possibilitou o desenvolvimento e concluso deste trabalho.
Um especial agradecimento aos colegas que me ajudaram a ultrapassar os problemas
com os programas informticos utilizados.
O percurso desta tese deve-se a muitos fatores mas a sua concluso deve-se ao
incentivo das minhas amigas, a quem pretendo aqui expressar o meu agradecimento.
Por ltimo, um agradecimento muito especial s minhas colegas e amigas Rosa e Ana
Isabel, pelo apoio, pela fora, pela amizade e por nunca me deixarem desistir, sem elas o meu
percurso nunca chegaria aqui.
vi
vii
Anlise da Cadeia de Valor como Suporte da Gesto Estratgica de Custos: Uma
Aplicao Indstria
Resumo
O objetivo desta tese de doutoramento avaliar o grau de adoo da anlise da cadeia
de valor, enquanto suporte da gesto estratgica de custos, nas maiores empresas industriais
portuguesas. Pretende-se ainda identificar os fatores subjacentes sua utilizao e
dificuldades de implementao. Formuladas as questes e respetivas hipteses de
investigao, selecionaram-se 393 empresas industriais, entre as maiores empresas de 8
agrupamentos sectoriais. Optou-se pela utilizao do questionrio como meio de recolha de
dados primrios, tendo-se obtido uma taxa de resposta de 39,9%. Os resultados obtidos
permitem concluir que a maior parte das empresas adota a anlise da cadeia de valor interna
num grau moderado a elevado, e a anlise da cadeia de valor externa num grau moderado.
Assim, as maiores empresas industriais portuguesas adotam procedimentos no mbito da
anlise da cadeia de valor, ainda que no em elevado grau. As empresas industriais
portuguesas utilizam a anlise da cadeia de valor como tcnica para reduzir custos
pontualmente e com objetivos estratgicos, para avaliar oportunidades de investimento e de
impacto do investimento na estrutura de custos, para melhorar a competitividade, para
implementar e melhorar estratgias de diferenciao, e para tomar decises de impacto
ambiental. Os fatores que dificultam a anlise da cadeia de valor esto mais relacionados com
a recolha de informao na esfera externa das empresas. O modelo de regresso linear
mltipla, enquadrado na teoria da contingncia e teoria institucional, utilizado para analisar a
influncia de determinados fatores na adoo da anlise da cadeia de valor, revela seis
variveis estatisticamente significativas: estrutura de custos, qualidade do sistema de
informao, participao de capital estrangeiro, estratgia, nmero de pases de destino das
exportaes, e formao dos dirigentes.
Palavras-chave: Anlise da cadeia de valor, sistema de criao de valor, gesto
estratgica de custos, contabilidade de gesto, teoria da contingncia.
viii
ix
Value Chain Analysis as Support of the Strategic Cost Management: An Application to
Manufacturing
Abstract
The objective of this PhD thesis is to evaluate the degree of adoption of the value
chain analysis, as support of the strategic cost management, in the largest industrial
portuguese companies. It also aims to identify the underlying factors for their use and
implementation difficulties. Having defined the questions and their respective research
hypotheses, 393 manufacturing enterprises have been selected, among the largest companies
of 8 sectoral groupings. We opted for the use of the questionnaire as a means of primary data
collection, having obtained a response rate of 39.9%. The results obtained allow us to
conclude that most of the manufacturing enterprises adopt the internal value chain analysis in
a moderate to high level, and the external value chain analysis in a moderate level. Thus the
largest industrial portuguese companies adopt procedures in the analysis of the value chain,
but not to a high level. Portuguese manufacturing companies use the analysis of the value
chain as a technique to accurately reduce costs and with strategic objectives, to assess
investment opportunities and investment impact on the costs structure, to improve
competitiveness, to implement and improve differentiation strategies, and to make decisions
of environmental impact. The factors that hinder the analysis of the value chain are more
related to the collection of external information to the companies. The multiple linear
regression model, framed in contingency and institutional theories, used to analyze the
influence of certain factors in the adoption of the value chain analysis, reveals six statistically
significant variables: costs structure, quality information system, foreign ownership, strategy,
number of countries of export activities, and managers training.
Keywords: Value chain analysis; value-creation system; strategic cost management;
management accounting; contingency theory.
x
xi
NDICE
1. INTRODUO ............... 1
1.1. Enquadramento do tema ....... 1
1.2. Justificao da escolha e contributos esperados do estudo .. 2
1.3. mbito da investigao 2
1.4. Objetivos da investigao .... 3
1.5. Questes de investigao ..... 4
1.6. Desenho da investigao .. 5
1.7. Organizao do estudo . 6
PARTE I REVISO DE LITERATURA: GESTO ESTRATGICA DE
CUSTOS E ANLISE DA CADEIA DE VALOR ...
9
2. Contabilidade de Gesto e Gesto Estratgica de Custos ... 9
2.1. Introduo . 9
2.2. Contabilidade de custos, contabilidade de gesto e contabilidade de gesto
estratgica ..
9
2.3. Gesto estratgica de custos ..... 16
2.3.1. mbito da gesto estratgica de custos ... 16
2.3.2. Estrutura da gesto estratgica de custos 18
2.3.3. Tcnicas de gesto estratgica de custos . 22
2.4. Sntese conclusiva 27
3. Anlise da Cadeia de Valor 29
3.1. Introduo . 29
3.2. A cadeia de valor e o sistema de valor . 30
3.3. A cadeia de valor e o valor acrescentado ..... 35
3.4. Anlise de vnculos internos e externos ... 36
3.5. Metodologia da cadeia de valor ... 40
3.6. Limitaes da anlise da cadeia de valor . 46
3.7. Sntese conclusiva 49
4. Investigao Aplicada sobre Anlise da Cadeia De Valor e Paradigmas
Tericos ....
50
4.1. Introduo . 50
4.2. Reviso da investigao aplicada . 52
4.3. Paradigmas tericos na investigao em contabilidade de gesto ... 74
4.4. Sntese conclusiva 83
xii
PARTE II METODOLOGIA ..
85
5. Metodologia da Investigao .. 85
5.1. Enquadramento e hipteses de investigao 85
5.1.1. Objetivos da investigao ....... 85
5.1.2. Questes e hipteses de investigao .. 85
5.2. Definio das variveis e do modelo 103
5.2.1. Definio das variveis ... 104
5.2.2. Definio do modelo ... 106
5.3. Definio da populao a utilizar . 107
5.4. Mtodos de pesquisa e recolha de dados .. 110
5.4.1. Recolha de dados . 110
5.4.2. Desenho e elaborao do questionrio 111
5.4.3. Metodologia utilizada no envio do questionrio . 114
5.4.4. Anlise quantitativa . 118
5.4.4.1. Anlise descritiva ... 118
5.4.4.2. As questes e as hipteses .. 118
PARTE III INVESTIGAO EMPRICA ...
125
6. Caracterizao da Amostra e dos Respondentes .. 125
6.1. Caracterizao da amostra 125
6.2. Caracterizao dos respondentes .. 132
6.3. Representatividade da amostra . 133
7. A Anlise da Cadeia de Valor no Setor Industrial Portugus ... 136
7.1. Anlise da cadeia de valor interna 136
7.2. Anlise da cadeia de valor externa ... 156
7.3. Grau de adoo da anlise da cadeia de valor .. 168
7.4. Finalidade da informao sobre o sistema de criao de valor 170
7.5. Anlise da cadeia de valor e complexidade dos sistemas de informao 181
7.6. Anlise da cadeia de valor e utilizao de outras tcnicas de gesto
estratgica de custos ..
182
7.7. Fatores limitativos na utilizao da anlise da cadeia de valor .... 187
7.8. Determinantes da anlise da cadeia de valor 190
7.9. Elaborao do modelo .. 198
xiii
8. CONCLUSES ... 205
8.1. Principais concluses ... 205
8.2. Contributos ... 210
8.3. Limitaes do estudo 211
8.4. Recomendaes para investigaes futuras . 212
BIBLIOGRAFIA .....
215
APNDICE ......
227
1. Questionrio .. 227
xiv
ndice de Quadros
Quadro 2.1 Paradigma da contabilidade de custos convencional versus o
paradigma da gesto estratgica de custos ....................................................
18
Quadro 2.2 Diferentes abordagens da gesto de custos para diferentes
orientaes estratgicas .....
19
Quadro 4.1 Estudos relacionados com a anlise da cadeia de valor .. 51
Quadro 4.2 Temas subjacentes s prticas de contabilidade de gesto .. 61
Quadro 4.3 Tcnicas de Gesto de Custos Inter Organizacionais e nveis de
poupana de custos
69
Quadro 5.1 Sntese das questes de investigao e hipteses 101
Quadro 5.2 Agrupamentos sectoriais . 110
Quadro 5.3 Questionrios enviados ... 115
Quadro 5.4 Respostas aos questionrios 117
Quadro 5.5 Respostas aos questionrios por agrupamentos .. 117
Quadro 6.1 Respostas classificadas por agrupamento sectorial . 125
Quadro 6.2 Representao da amostra por volume de vendas e nmero de
empregados ....
126
Quadro 6.3 Caracterizao da estrutura do capital das empresas da amostra 127
Quadro 6.4 Caracterizao do processo de produo dominante ...... 128
Quadro 6.5 Caracterizao da amostra em relao s exportaes .... 129
Quadro 6.6 Influncia da empresa me na adoo e implementao de
tcnicas de contabilidade e de controlo de gesto .....
129
Quadro 6.7 Influncia de indutores de custo estruturais e operacionais na
estrutura de custos das empresas da amostra ....
130
Quadro 6.8 Estrutura de custos em percentagem do total de custos 2006 e
2011 ...
131
Quadro 6.9 Nmero de empresas com colaboradores na posio de quadros
mdios e superiores com formao acadmica de grau superior ..
132
Quadro 6.10 Nmero de empresas com colaboradores na posio de quadros
mdios e superiores com formao na rea de contabilidade, gesto ou
economia ...
132
Quadro 6.11 Representatividade por agrupamentos sectoriais ...... 134
Quadro 6.12 Representatividade por grupos de empregados ..... 135
Quadro 6.13 Representatividade por grupo de vendas ....... 135
Quadro 7.1 Identificao das atividades .... 136
Quadro 7.2 Nmero de atividades identificadas .... 137
Quadro 7.3 Nmero de atividades identificadas por agrupamento sectorial .. 137
xv
Quadro 7.4 Atribuio de custos s atividades .. 139
Quadro 7.5 Nmero de atividades s quais se atribui custos ............................. 139
Quadro 7.6 Atribuio de proveitos s atividades . 141
Quadro 7.7 Empresas que atribuem proveitos por nmero de atividades .. 142
Quadro 7.8 Nmero de empresas que atribuem ativos s atividades . 143
Quadro 7.9 Empresas que atribuem ativos s atividades por nmero de
atividades ......
143
Quadro 7.10 Inter-relaes entre as atividades /Responsabilidade pela gesto
e controlo da empresa ....
146
Quadro 7.11 Inter-relaes entre as atividades por grau acadmico nos
quadros mdios ou superiores das empresas .....
147
Quadro 7.12 Acesso e partilha de informao sobre custos entre os diversos
responsveis da empresa ...
147
Quadro 7.13 Nmero de empresas que identificam, atribuem custos, proveitos
e ativos s atividades .....
148
Quadro 7.14 Nmero de empresas por nmero de atividades identificadas e
com atribuio de custos, proveitos e ativos ....
150
Quadro 7.15 Vnculos internos / Inter-relaes entre as atividades e acesso e
partilha de informao entre os diversos responsveis da empresa ......
151
Quadro 7.16 Estatstica Alpha de Cronbach para itens da anlise da cadeia de
valor interna ..
152
Quadro 7.17 Graus de adoo da anlise da cadeia de valor interna ..... 153
Quadro 7.18 Grau de adoo da anlise da cadeia de valor interna nas maiores
empresas industriais portuguesas .....
154
Quadro 7.19 Grau de adoo da anlise da cadeia de valor interna versus
estratgia predominante ....
155
Quadro 7.20 Empresas com quadros mdios ou superiores com formao nas
reas de contabilidade, gesto ou economia por grau de adoo da anlise da
cadeia de valor interna ...
156
Quadro 7.21 Teste Qui-quadrado e coeficiente de correlao R de Spearman
em relao localizao das empresas na cadeia de valor da indstria
157
Quadro 7.22 Nmero de empresas que gerem as relaes com clientes e
fornecedores ..
157
Quadro 7.23 Evoluo do acesso e partilha de informaes sobre custos com
clientes e fornecedores ..
159
Quadro 7.24 Nmero de empresas que identificam os concorrentes e recolhem
informao sobre estrutura de custos, proveitos, margens e ativos ..
161
Quadro 7.25 Nmero de empresas que recolhem informao sobre os estdios
mais afastados da cadeia de valor .
162
xvi
Quadro 7.26 A cadeia de valor externa nas maiores empresas industriais
portuguesas, recolha de informao e tipo de vnculos externos ..
163
Quadro 7.27 Graus de adoo da anlise da cadeia de valor externa .... 165
Quadro 7.28 Grau de adoo da anlise da cadeia de valor externa nas
maiores empresas industriais portuguesas ............
166
Quadro 7.29 Grau de adoo da anlise da cadeia de valor externa versus
estratgia predominante ....
167
Quadro 7.30 Empresas com quadros mdios ou superiores com formao nas
reas de contabilidade, gesto ou economia por grau de adoo da anlise da
cadeia de externa ...
167
Quadro 7.31 Estatstica Alpha de Cronbach para itens da anlise da cadeia de
valor ..
168
Quadro 7.32 Nmero de empresas por grau de adoo da anlise da cadeia de
valor ..
169
Quadro 7.33 Utilizao da anlise da cadeia de valor como tcnica para
reduzir custos nas maiores empresas industriais portuguesas ...
172
Quadro 7.34 Fatores que influenciam ou podem influenciar a adoo da
anlise da cadeia de valor como tcnica para reduzir custos com objetivos
estratgicos
173
Quadro 7.35 Utilizao da anlise da cadeia de valor como tcnica para
avaliar oportunidades e impacto de investimento nas maiores empresas
industriais portuguesas ..
175
Quadro 7.36 Utilizao da anlise da cadeia de valor como tcnica para
identificar reas estratgicas e para controlo da posio competitiva nas maiores
empresas industriais portuguesas ..
176
Quadro 7.37 Utilizao da anlise da cadeia de valor como tcnica para
implementar ou melhorar estratgias de diferenciao .....
178
Quadro 7.38 Utilizao da anlise da cadeia de valor como tcnica para
melhorar atividades de proteo ambiental e de reciclagem .
178
Quadro 7.39 Matriz do componente extrado ..... 180
Quadro 7.40 Grau de sofisticao dos sistemas de informao ..... 181
Quadro 7.41 Utilizao de outras tcnicas de gesto estratgica de custos nas
maiores empresas industriais portuguesas .....
182
Quadro 7.42 Teste de Wilcoxon ..... 183
Quadro 7.43 Testes de independncia do Qui-quadrado de Pearson e medida
de associao V de Cramer ...
185
Quadro 7.44 Correlaes entre o grau de adoo da anlise da cadeia de valor
e as tcnicas de gesto de gesto estratgica de custos ....
186
Quadro 7.45 Fatores que dificultam ou podem vir a dificultar a construo e
anlise da cadeia de valor nas maiores empresas industriais portuguesas ....
188
xvii
Quadro 7.46 Teste Binomial .. 189
Quadro 7.47 Coeficientes de correlao de Spearman entre as variveis que
refletem a internacionalizao e o grau de adoo da anlise da cadeia de valor
................................................................................................................................
195
Quadro 7.48 Coeficientes de correlao de Spearman entre as variveis que
refletem a formao e o grau de adoo da anlise da cadeia de valor .
197
Quadro 7.49 Resumo do Modelo ... 199
Quadro 7.50 ANOVA .... 199
Quadro 7.51 Resultados da regresso mltipla .. 200
Quadro 7.52 Teste da Normalidade .... 201
ndice de Grficos
Grfico 6.1 Representao da amostra por distritos ... 126
Grfico 6.2 Representao da amostra por forma jurdica . 127
Grfico 6.3 Caracterizao dos responsveis pela gesto e controlo das
empresas da amostra ......
128
Grfico 7.1 Nmero de empresas por inter-relaes entre as atividade.. 145
Grfico 7.2 Nmero de empresas por identificao de atividades e atribuio
de custos, proveitos e ativos s atividades ....
149
Grfico 7.3 Nmero de empresas com atividades identificadas, com atribuio
de custos, proveitos e ativos por nmero de atividades
150
Grfico 7.4 Posio das empresas por agrupamento sectorial na escala de
medida do grau de adoo da anlise da cadeia de valor interna .
154
Grfico 7.5 Grau de adoo da anlise da cadeia de valor externa por
agrupamento sectorial ...
166
ndice de Figuras
Figura 3.1 Comparao de conceitos de valor acrescentado, anlise da cadeia
de valor e custo total de propriedade .........
36
Figura 4.1 Cadeia de valor da indstria de mobilirio de resina .... 53
xviii
Lista de Siglas
AB Alimentares e Bebidas
ABC Activity Based Costing / Custeio Baseado nas Atividades
ABM Activity Based Management / Gesto Baseada nas Atividades
ACV Anlise da Cadeia de Valor
AEP Associao Empresarial de Portugal
BSC Balanced Scorecard /Quadro de Comando Integral
CAE Rev. 3 - Classificao Portuguesa de Atividades Econmicas, Reviso 3
CFO Chief financial officer / Diretor financeiro
CPC Celulose, Papel e Carto
GEC Gesto Estratgica de Custos
IFAC International Federation of Accountants / Federao Internacional de Contabilistas
JIT Just In Time
MBA Master of Business Administration
MCM Madeira, Cortia e Mveis
MME Metalurgia de base, Metalomecnica, Equipamentos Informticos, Eletrnicos,
ticos, e Eltricos
MVA Mquinas e equipamentos e Veculos Automveis
OPM Outros Produtos Minerais no Metlicos
PME Pequenas e Mdias Empresas
QBP Qumica, Borracha e Plsticos
ROI Retorno do Investimento
SPSS Statistics Packges for Social Sciences
TB Tableau de bord / Quadro de bordo
TOC Tcnico Oficial de Contas
TQM Total Quality Management / Gesto da Qualidade Total
TVC Txteis, Vesturio e Couro
UE Unio Europeia
1
1. INTRODUO
1.1. Enquadramento do Tema
A anlise da cadeia de valor uma ferramenta introduzida por Porter (1985) e
desenvolvida, no mbito da literatura de contabilidade de gesto, por Shank e Govindarajan
(1993). A ideia central da anlise partir a cadeia de atividades que vai das matrias-primas
aos consumidores finais em segmentos estrategicamente relevantes de forma a compreender o
comportamento de custos e as fontes de diferenciao. De acordo com estes autores a anlise
da cadeia de valor ainda utilizada para analisar, coordenar e otimizar as ligaes entre as
atividades da cadeia de valor, focalizando-se na interdependncia entre estas atividades. A
literatura revista sugere que a anlise da cadeia de valor cada vez mais importante para as
empresas medida que se intensifica a concorrncia internacional e continuam as alteraes
tecnolgicas. Existem poucos trabalhos empricos sobre a importncia da anlise da cadeia de
valor e os fatores que podem determinar a sua utilizao, no tendo esta matria tido especial
ateno na pesquisa de contabilidade de gesto.
Qualquer empresa para manter uma vantagem duradoura relativamente aos seus
concorrentes deve apoiar-se numa estrutura de custos adequada estratgia definida. A
complexidade dos produtos e instabilidade dos mercados obriga tomada de decises
sucessivas que direta ou indiretamente alteram a estrutura e custos, podendo estas alteraes
da estrutura de custos originar outro tipo de decises. H duas ou trs dcadas referamo-nos a
corte e reduo de custos hoje temos de pensar mais longe na cadeia de valor dos nossos
produtos e mercados em que nos inserimos, temos de pensar, recolher informao, decidir e
agir em termos de gesto de custos. Cada vez mais um produto com um menor contedo
energtico, ou maior possibilidade de reciclagem, ou uma produo mais sustentvel, gera
alteraes na estrutura de custos das empresas que se podem repercutir, no curto ou no mdio
e longo prazo, no preo que os clientes esto dispostos a pagar pelos produtos e/ou no
deslocamento dos mercados para clientes mais exigentes e mais fiis. Assim, a gesto de
custos tem de ser efetuada numa perspetiva estratgica, de mdio e longo prazo, e sempre
numa abordagem de cadeia de valor, de recolha de informao e de gesto dos vnculos
internos, que se estabelecem entre as diferentes atividades, e externos, que se estabelecem
com clientes, fornecedores, concorrentes e outros agentes intervenientes mais distantes na
2
cadeia de valor global. Um dos principais aspetos que distinguem a gesto estratgica de
custos das tcnicas tradicionais de contabilidade de gesto precisamente o enfoque externo.
1.2. Justificao da Escolha e Contributos Esperados
A pesquisa sobre as prticas de contabilidade de gesto considerada por Ahrens e
Chapmam (2006) um desafio interessante, porque a contabilidade de gesto um conjunto de
prticas acopladas umas s outras e variam no tempo e no espao.
Conhecem-se j vrios estudos sobre prticas de contabilidade de gesto em empresas
portuguesas (Rodrigues et al., 2001; Alves, 2002; Gomes, 2007; Quesado e Rodrigues, 2007),
mas no foi at agora efetuado nenhum estudo sobre a gesto de custos numa perspetiva
estratgica e de anlise da cadeia de valor. A importncia do estudo deste tema torna-se maior
pela rpida evoluo da economia portuguesa no sentido da globalizao, e da necessria
adequao das empresas portuguesas a elevados nveis concorrenciais e de exigncia dos
mercados. Todos os fatores de competitividade de uma empresa passam por uma adequao
da estrutura de custos aos mercados em que se inserem e obrigatoriamente por estratgias de
gesto de custos que, para abranger os mltiplos fatores de competitividade, s pode ser numa
perspetiva de cadeia de valor, que, obrigatoriamente, incorpora uma orientao com foco no
cliente e de melhoramento contnuo. O estudo torna-se relevante no s porque se desconhece
o grau de adoo e dificuldades de implementao desta tcnica de contabilidade e gesto,
dado no existir nenhum estudo sobre este tema relativo s empresas portuguesas, mas
tambm porque no existe nenhuma exposio terica em lngua portuguesa que permita a
dinamizao do tema, nomeadamente atravs da incluso nos curricula de cursos de
contabilidade e gesto e da sua propagao nas empresas atravs do ensino de futuros
contabilistas de gesto. Assim, este estudo pretende contribuir tanto a nvel terico como a
nvel prtico para o desenvolvimento do tema em Portugal.
1.3. mbito da Investigao
A investigao que inicimos, e aqui se apresenta, a primeira a efetuar-se para
empresas portuguesas. Tambm no se conhece outras iniciativas em outros pases a explorar
o tema com a abrangncia e amplitude que nos propomos efetuar.
3
Os conceitos, ferramentas e tcnicas aqui apresentados aplicam-se a qualquer
organizao, industrial, comercial ou de servios. A relevncia que se deu ao setor industrial
tanto na parte de reviso de literatura como no estudo emprico prende-se com a importncia
deste setor de atividade para a economia nacional, em 2009 o setor industrial representava
11,3 % do nmero de empresas, detendo 28 % das empresas de grande dimenso, 20,9 % do
volume de negcios e 23,5 % do volume de trabalho, segundo dados fornecidos por estudo do
Banco de Portugal (2010, 13). A importncia do setor industrial tambm relevada pela
Comunidade Europeia, que, conforme comunicao da Comisso, considera que A indstria
desempenha um papel central na Europa, quer em termos de emprego, quer de criao de
riqueza, sendo grande o seu potencial para atingir os objetivos da poltica europeia para 2020
(Relatrio de execuo, 2010, 17). Para alm destes motivos, e considerando o tema que nos
propomos estudar, da anlise da cadeia de valor, o setor industrial sem dvida aquele em
que, tanto a cadeia de valor interna como externa, so mais amplas e incluem maior nmero
de atividades, tornando-se assim um campo de anlise mais vasto e, consequentemente,
permitindo um estudo mais aprofundado sobre o tema.
A opo pelas maiores empresas portuguesas baseou-se fundamentalmente em dois
motivos: primeiro, a maior parte dos estudos empricos nesta rea efetuaram-se com grandes
empresas; e segundo, no expectvel que as empresas de menor dimenso utilizem, com
regularidade e formalmente, a tcnica de gesto de custos que nos propomos estudar.
1.4. Objetivos da Investigao
O objetivo principal deste estudo avaliar a extenso em que a anlise da cadeia de
valor utilizada nas empresas industriais portuguesas. Outro objetivo alargar a perspetiva de
estudo do tema em termos empricos, isto , investigar o grau de adoo da anlise da cadeia
de valor ao longo de uma escala ordinal com um nmero de categorias que permita uma
aproximao a uma escala de intervalo, permitindo assim a utilizao de um modelo e
respetiva anlise de regresso. Desta forma pretende-se captar a diversidade de prticas ao
nvel da anlise da cadeia de valor, ao contrrio da maioria dos estudos da rea de
contabilidade de gesto que optam por classificar as tcnicas em estudo em duas alternativas,
ter ou no ter. Como objetivos especficos identificam-se os seguintes:
1) Verificar se as maiores empresas industriais portuguesas adotam os principais aspetos
caracterizadores da anlise da cadeia de valor interna e externa;
4
2) Analisar os fatores subjacentes utilizao da informao sobre o sistema de criao
de valor;
3) Investigar a relao entre a adoo da anlise da cadeia de valor e a complexidade do
sistema de informao prevalecente nas empresas, e a utilizao de outras tcnicas de
gesto estratgica de custos;
4) Reconhecer os fatores que podem dificultar a construo e anlise da cadeia de valor;
5) Identificar as caractersticas das maiores empresas industriais que utilizam a anlise da
cadeia de valor.
Pretende-se ainda com este trabalho chamar a ateno dos gestores para a anlise da
cadeia de valor, para a sua importncia na avaliao da vantagem competitiva e para os novos
desafios da contabilidade de gesto.
1.5. Questes de Investigao
Sendo um dos objetivos do estudo avaliar do grau de adoo da anlise da cadeia de
valor pelas empresas impunha-se a incluso no estudo das seguintes questes:
Q1 Em que extenso as maiores empresas industriais portuguesas recolhem
informao sobre a cadeia de valor interna?
Q2 Em que extenso as maiores empresas industriais portuguesas recolhem
informao sobre a cadeia de valor externa?
Para alm de avaliar o grau de adoo pretende-se identificar os motivos que levam as
empresas a adotar a anlise da cadeia de valor, pelo que dever ser colocada a seguinte
questo:
Q3 Qual a utilidade da informao sobre o sistema de criao de valor, e quais os
fatores subjacentes utilizao da informao?
As prticas de gesto estratgica de custos, em especial a anlise da cadeia de valor,
so suportadas por mecanismos de informao contabilstica financeira e no financeira. A
complexidade dos sistemas de informao afeta a utilizao de tcnicas recentes de
contabilidade de gesto. Como este estudo se insere tambm no mbito das designadas novas
tcnicas de contabilidade de gesto, deve questionar-se a influncia do mesmo tipo de fatores
5
na adoo da anlise da cadeia de valor. Para o efeito deve incluir-se no estudo a seguinte
questo:
Q4 O potencial de utilizao da anlise da cadeia de valor est relacionado com o
grau de complexidade do sistema de informao?
O estudo da interligao entre a utilizao de vrias prticas de contabilidade de
gesto tem sido efetuado por vrios autores inclusive para Portugal (Alves, 2002; Gomes,
2007; Quesado e Rodrigues, 2007). Assim, tambm nosso objetivo questionar a inter relao
entre a utilizao de vrias prticas de gesto de custos para a indstria portuguesa:
Q5 A utilizao da anlise da cadeia de valor est relacionada com a utilizao de
outras tcnicas de gesto estratgica de custos?
Conforme reviso bibliogrfica, so vrios os autores que referem as limitaes e
dificuldades de construo e anlise da cadeia de valor pelo que se impe incluirmos no nosso
estudo a seguinte questo:
Q6 Quais os fatores que dificultam ou podem vir a dificultar a construo e anlise
da cadeia de valor nas maiores empresas industriais portuguesas?
Segundo Groves (1991), a principal premissa da abordagem da contingncia que no
existe um tipo timo de sistema de gesto. Para uma determinada organizao, um sistema de
gesto relevante depende de um determinado nmero de fatores que a organizao enfrenta.
Assim, surge a ltima questo de investigao, relacionada com a identificao de
caractersticas das empresas que utilizam a anlise da cadeia de valor em maior extenso:
Q7 Quais so as caractersticas das maiores empresas industriais portuguesas que
utilizam em maior extenso a anlise da cadeia de valor?
1.6. Desenho da Investigao
A ideia para este trabalho de investigao surgiu do questionamento de tcnicas de
reduo de custos no mbito da contabilidade de gesto. A subsequente procura de
informao neste contexto, que se enquadra na primeira fase de reviso bibliogrfica, levou-
nos gesto estratgica de custos e dentro desta anlise da cadeia de valor. A segunda fase
da reviso bibliogrfica sobre conceitos e estudos empricos desenvolvidos no mbito da
anlise da cadeia de valor, bem como o respetivo enquadramento em termos de paradigmas
6
tericos, permitiu consolidar a ideia inicial de necessidade de desenvolver um trabalho de
investigao nesta rea para o setor empresarial portugus. Do que at ao momento temos
conhecimento, a investigao que aqui se apresenta a primeira a efetuar-se para empresas
portuguesas, no se conhecendo outras iniciativas em outros pases a explorar o tema com a
mesma abrangncia e amplitude.
Aps a reviso da literatura procedeu-se definio da metodologia, com a definio
das questes e respetivas hipteses, seleo da amostra e envio do questionrio. Tratando-se
de um estudo exploratrio e de uma anlise cross section, optou-se pela utilizao do
questionrio como mtodo de recolha de dados. Por outro lado, o enquadramento do nosso
estudo, de natureza cognitiva e de investigao de crescimento em superfcie aponta tambm
para a escolha do questionrio como meio de recolha de dados primrios sobre a realidade
portuguesa. Como suporte informtico para elaborar e enviar o questionrio utiliza-se o
LimeSurvey, verso1.91. Este um software livre para aplicao de questionrios online, cuja
utilizao apresenta como grande vantagem a possibilidade de exportar os dados
automaticamente para o SPSS (Statistics Packages for Social Sciences). A base de dados
usada foi disponibilizada pela Associao Empresarial de Portugal (AEP). A partir desta base
de dados selecionmos as maiores 60 empresas de 8 agrupamentos includos nas 17 Divises
da Seco C, da Classificao Portuguesa de Atividades Econmicas, Reviso 3 (CAE Rev.
3), o que significa que a populao inicial foi de 480 empresas industriais.
Por ltimo procedeu-se fase do estudo emprico, de tratamento dos dados, de teste
das hipteses formuladas, de resposta s questes de investigao, de elaborao do modelo, e
por fim foram discutidos os resultados.
1.7. Organizao do Estudo
A parte restante do trabalho est estruturada em oito captulos, integrados em trs
partes. A parte I, de reviso da literatura, inclui o captulo 2 onde efetuada a reviso da
literatura referente ao enquadramento do tema, que a contabilidade de gesto e a gesto
estratgica de custos, o captulo 3 onde se efetua a reviso de literatura sobre o tema principal
do trabalho, a anlise da cadeia de valor, e o captulo 4 que, para alm da reviso de literatura
sobre estudos empricos que incluam a anlise da cadeia de valor, aborda tambm os
paradigmas tericos em contabilidade de gesto, sendo estes dois ltimos captulos
determinantes no desenvolvimento das hipteses de investigao.
7
A parte II, da metodologia, inclui o captulo 5 com a descrio detalhada das questes
e hipteses de investigao, definio das variveis e do modelo, bem como da populao e
recolha de dados.
A parte III inclui 3 captulos relativos investigao emprica. No captulo 6 procede-
se caracterizao da amostra e dos respondentes, bem como ao estudo da sua
representatividade, no captulo 7, aps a anlise descritiva de todas as variveis, relacionadas
com a anlise da cadeia de valor interna e externa, e a agregao das dimenses para
determinao do grau de adoo da anlise da cadeia de valor, apresentam-se os resultados
dos testes das hipteses e elabora-se o modelo. Neste captulo discutem-se ainda os resultados
obtidos face a situaes paralelas encontradas em outros estudos.
No ltimo captulo apresentam-se as principais concluses, contribuies e limitaes
do estudo, e algumas recomendaes para investigaes futuras.
8
9
PARTE I REVISO DE LITERATURA: GESTO ESTRATGICA DE CUSTOS E
ANLISE DA CADEIA DE VALOR
2. CONTABILIDADE DE GESTO E GESTO ESTRATGICA DE CUSTOS
2.1. Introduo
Neste captulo pretende-se rever a literatura sobre os conceitos de contabilidade de
gesto e de gesto estratgica de custos. Como a estrutura conceptual da gesto estratgica de
custos assenta na da contabilidade de gesto e esta, por sua vez, se desenvolveu a partir da
tradicional contabilidade de custos, importa rever a literatura sobre a evoluo histrica destas
estruturas conceptuais.
O conceito de contabilidade de gesto estratgica subjetivo e difuso em algumas das
suas definies, bem como o conceito de gesto estratgica de custos, razo pela qual um dos
objetivos da tese explorar estes conceitos numa perspetiva de evoluo histrica e de
enquadramento terico. Assim, aps uma abordagem aos tradicionais conceitos de
contabilidade de custos e de gesto, revemos a literatura relativa contabilidade de gesto
estratgica e, no ponto 3 deste captulo, com o detalhe necessrio, iremos rever a literatura
sobre gesto estratgica de custos, no sentido de sustentar toda a exposio que de seguida se
apresenta sobre a matria em estudo, da anlise da cadeia de valor.
2.2. Contabilidade de Custos, Contabilidade de Gesto e Contabilidade de Gesto
Estratgica
habitual definir-se contabilidade como o processo de identificao, medio e
comunicao de informao econmica, isto , a contabilidade preocupa-se com o
fornecimento de informao financeira e no financeira que ajude os decisores a tomar boas
decises, sendo um instrumento proporcionador de informao para gerir as organizaes,
sendo um meio de informao e instrumento de gesto (AECA e AIC, 2000).
O objetivo da contabilidade fornecer informao suficiente para satisfazer as
necessidades de vrios utilizadores ao menor custo possvel. A informao contabilstica
10
destina-se a duas categorias de utilizadores, internos e externos organizao. Esta
necessidade de produzir informao diferente para diferentes utilizadores resulta na distino
entre dois ramos da contabilidade, a contabilidade de gesto e a contabilidade financeira. A
contabilidade de gesto preocupa-se com o fornecimento de informao aos utilizadores
internos, que trabalham dentro da organizao, para os ajudar a tomar melhores decises e
aumentar a eficincia e eficcia das atividades existentes. A contabilidade financeira
preocupa-se com o fornecimento de informao aos utilizadores externos organizao
(Drury, 2000).
A contabilidade de gesto tem por objeto a captao, medio e valorizao dos fluxos
internos de uma unidade econmica, assim como a sua racionalizao e controlo, com a
finalidade de fornecer organizao informao relevante para a tomada de decises,
devendo proporcionar informao para apoiar os decisores nas tarefas relacionadas com a
racionalizao de custos e procedimentos, o controle sobre as operaes internas, e a
preparao de informao especial para tomar decises estratgicas. Existe um intercmbio de
informao entre a contabilidade de gesto e a contabilidade financeira: esta faculta
contabilidade de gesto diversos dados (custos e proveitos externos), e por sua vez a
contabilidade de gesto oferece contabilidade financeira a informao relativa avaliao
de existncias e custo dos produtos vendidos, para esta incorporar tais valorizaes nos
relatrios econmico-financeiros. Este intercmbio informativo entre a contabilidade de
gesto e a contabilidade financeira efetuado por meio da contabilidade de custos (AECA e
AIC, 2000).
A contabilidade de custos fornece informao detalhada relativa aos custos dos
produtos ou servios oferecidos pela empresa, com um nvel de desagregao varivel
consoante as necessidades de informao, a atividade, a dimenso e a organizao da
empresa. A contabilidade de custos est na base da contabilidade de gesto e pode considerar-
se como um subconjunto desta. Para Horngren et al. (2000), a contabilidade de custos fornece
informao tanto para a contabilidade de gesto como para a contabilidade financeira. Ela
mede e relata informao financeira e no financeira relativa ao custo de aquisio ou
consumo de recursos de uma organizao. A contabilidade de custos inclui aquelas partes da
contabilidade de gesto e da contabilidade financeira onde a informao de custos reunida
ou analisada.
A International Federation of Accountants (IFAC) (citado por Bromwich, 1988, 27)
define contabilidade de gesto como: o processo de identificao, medio, acumulao,
11
anlise, preparao, interpretao, e comunicao de informao (tanto financeira como
operacional) utilizada pela gesto para planear, avaliar, e controlar dentro de uma organizao
e para assegurar a utilizao da accountability para os seus recursos. A contabilidade de
gesto tambm compreende a preparao de relatrios financeiros para grupos de no gestores
tais como acionistas, credores, agncias reguladoras, e autoridades fiscais. Para esta
associao de profissionais de contabilidade A contabilidade de gesto utilizada pela
gesto para:
Planear para compreender as transaes negociais esperadas e outros eventos
econmicos e o seu impacto na organizao, e utilizar este conhecimento como uma base para
um curso de ao a ser seguido pela organizao no futuro;
Avaliar para julgar as implicaes de vrios eventos passados e futuros;
Controlar para assegurar a integridade da informao financeira relativa s
atividades de uma organizao ou aos seus recursos;
Assegurar a accountability para implementar um sistema de relatrios que esteja
de acordo com as responsabilidades da organizao e que contribua para uma medio efetiva
do desempenho da gesto (Bromwich, 1988, 27).
Para Bromwich (1988 e 1990) esta definio, tambm suportada pelo Chartered
Institute of Management Accountants (CIMA), demasiado conservadora e preocupada com a
rotina e custos passados, custos histricos, no explicitando a importncia dos custos para a
tomada de decises. Para este autor a contabilidade de gesto deve ser dinmica e pr-ativa e
incluir na sua definio a relevncia dos custos para a tomada de deciso. O papel essencial da
contabilidade de gesto no recolher informao mas antes analis-la e utiliza-la na tomada
de decises, o contabilista de gesto no fornece apenas informao gesto, ele tambm
um membro da prpria equipa de gesto que tambm participa nas decises de gesto.
Bromwich (1988) no distingue explicitamente a contabilidade de custos da contabilidade de
gesto, considerando apenas que a esfera da contabilidade se pode dividir em duas partes
interligadas a contabilidade financeira ou externa, no dinmica, retroativa, conservadora,
objetiva na medida do possvel, e sujeita a regulamentao externa, e a contabilidade de
gesto, orientada para o futuro, dinmica, com informao relevante para a tomada de deciso
e controlo, no preocupada com objetividade e no sujeita a regulamentao externa.
12
Snchez (1995) tambm considera o conceito de relevncia fundamental na estrutura
conceptual da contabilidade de gesto, no entanto, este autor define explicitamente o conceito
e utiliza-o para distinguir a contabilidade de custos da contabilidade de gesto.
A relevncia uma caracterstica qualitativa da informao contabilstica, no sentido de que
uma informao pode ser relevante para um utilizador e no para outro, para um tipo de deciso e no
para outro. A informao relevante aquela que reduz a incerteza do decisor e lhe permite tomar
decises econmicas. [] Esta a diferena chave entre a contabilidade de gesto e a contabilidade de
custos. Enquanto que aquela valoriza os sacrifcios tendo em conta os custos de oportunidade, esta
valoriza-os tendo em conta o custo histrico. [] Se o decisor fundamenta a sua estratgia com base
nos custos histricos nunca chegar a alcanar a eficincia na organizao. [] A contabilidade de
gesto no se baseia nos princpios de contabilidade geralmente aceites, dado que a sua finalidade a de
fornecer informao para a tomada de decises econmicas, e por conseguinte os custos ho de medir-
se tendo em conta sacrifcios econmicos e no sacrifcios histricos. Somente os custos relevantes
medem adequadamente os sacrifcios (Snchez, 1995, 2, 4 e 5).
Anthony (1989) partilha tambm da distino entre contabilidade de custos e
contabilidade de gesto mas com uma justificao diferente. Para Anthony (1989) a distino
pode fazer-se a dois nveis. Primeiro, os textos de contabilidade de custos enfatizam a
determinao do valor do custo de produo dos produtos, enquanto que os textos de
contabilidade de gesto enfatizam a utilizao da informao de contabilidade pelos gestores,
sendo o objetivo ajudar os gestores e influenciar o seu comportamento. Segundo, a
contabilidade de custos evidencia a medio dos custos completos enquanto que a
contabilidade de gesto tem como tema a construo de diferentes custos para diferentes
objetivos (Anthony, 1989, 13-14), e trabalha com informao monetria e no monetria
bem como com dados histricos e estimativas futuras.
Em 1987, Johnson e Kaplan publicaram um artigo, de extrema relevncia para a
histria e o desenvolvimento da contabilidade de gesto, com o ttulo The Rise and Fall of
Management Accounting, em que apresentam um resumo do percurso histrico da
contabilidade de gesto, associando a procura de informao contabilstica a eventos
econmicos ocorridos ao longo dos sculos, e justificam a perda de relevncia da
contabilidade de gesto a partir dos anos 20 do sculo passado e apelam para os gestores
criativos e investigadores acadmicos para a necessidade de desenvolverem novos conceitos,
para desenharem sistemas relevantes de contabilidade de gesto. Apesar de os autores no
definirem explicitamente o termo contabilidade de gesto identificam muito bem as funes a
desempenhar numa organizao por um sistema de contabilidade de gesto. Para Johnson e
Kaplan (1987), um sistema de contabilidade de gesto deve fornecer informao oportuna e
exata para facilitar o controle de custos, medir e melhorar a produtividade e os processos de
produo. Os relatrios de contabilidade de gesto devem fornecer informao adequada aos
gestores de produo para tomarem medidas que levem a uma correta reduo de custos e a
13
um aumento da produtividade. O sistema de contabilidade de gesto deve fornecer informao
atempada sobre as eficincias do processo e custos dos produtos, no s para efeitos de
valorizao de inventrios e de determinao do custo dos produtos vendidos mas em especial
para a determinao do custo dos produtos ao nvel individual, de forma a tomar corretas
decises relativas a preos, introduo de novos produtos ou abandono de produtos obsoletos.
Considerando que o desempenho dos gestores deve ser avaliado num espao temporal de
mdio e longo prazo, Johnson e Kaplan (1987) atribuem tambm aos sistemas de
contabilidade de gesto a determinao de medidas de curto prazo apropriadas para motivar e
avaliar o desempenho dos gestores, bem como de medidas adequadas para refletir o ambiente
em que a organizao est inserida em termos de tecnologia, produtos, processos e
concorrncia. Os referidos autores apontam para a necessidade de estabelecer medidas para a
real criao de valor das operaes de uma organizao, afirmando que o principal fator
responsvel pela estagnao dos sistemas de contabilidade de gesto at dcada de 80 do
sculo passado foi o facto de estes estarem demasiado subjugados s necessidades da
contabilidade financeira, no se preocupando com a medio do aumento ou reduo do valor
econmico da organizao para um determinado perodo de tempo.
Johnson e Kaplan (1987) no distinguem explicitamente a contabilidade de custos da
contabilidade de gesto, utilizando apenas este termo para se referir ao sistema de
contabilidade cuja preocupao era fornecer informao sobre o interior da organizao, com
vista a satisfazer as necessidades da contabilidade financeira e dos gestores, no que respeita
tomada de decises de curto e de mdio e longo prazo em termos do planeamento e controle.
No entanto, os autores, j na dcada de 80, atribuam duas tarefas essenciais contabilidade
de gesto: a motivao e avaliao do desempenho dos gestores e a medio da criao de
valor das organizaes. A incluso destas duas dimenses na definio do conceito de
contabilidade de gesto tem vindo desde ento a acentuar-se.
Em 2004, White define explicitamente a contabilidade de gesto como a parte da
contabilidade que evidencia o processo de criao de valor dentro de uma organizao, sendo
uma das trs reas das finanas estratgicas, para alm da gesto financeira e gesto da
informao. Tambm para este autor, a contabilidade de gesto no sinnimo de
contabilidade de custos, muito mais que esta porque incorpora um conjunto de tcnicas para
analisar as operaes de uma organizao e quantificar o seu desempenho. Chapman et al.
(2007) partilham da mesma opinio. Com o termo de contabilidade de gesto pretende-se
agrupar um conjunto de prticas facilitadoras da tomada de deciso e do planeamento e
14
controlo das organizaes, relacionadas com o custeio, oramentao, medidas de
desempenho financeiras e no financeiras e preos de transferncia entre unidades de uma
organizao.1
Nas ltimas dcadas, a preocupao das empresas tem sido como criar valor, como
conseguir que o todo seja maior que as partes. Esta preocupao refletiu-se tambm na
contabilidade de gesto, sendo um objetivo fundamental desta disciplina o aumento do valor
da empresa assegurando uma utilizao eficaz e eficiente dos recursos escassos (Sprinkle,
2003). A informao fornecida pelos sistemas de contabilidade de gesto deve melhorar as
capacidades e desempenho de todos os trabalhadores, motivando-os para o desempenho de
atividades que beneficiem a organizao. Nesta perspetiva, a informao produzida pelos
sistemas de contabilidade de gesto desempenha dois papis fundamentais em qualquer
organizao: 1) facilita a deciso, isto , fornece informao necessria ao planeamento e
tomada de deciso, reduzindo a incerteza e 2) influencia a deciso no sentido em que motiva
os indivduos que compem uma organizao (Sprinkle, 2003). Normalmente estes dois
papis da contabilidade de gesto no so independentes tendendo a complementar-se.
A introduo de novas dimenses na tradicional contabilidade de gesto efetuadas nas
quatro ltimas dcadas, relacionadas com o aumento da concorrncia, com o alargamento dos
mercados, com a rapidez da introduo nos processos produtivos das inovaes tecnolgicas,
est na origem do conceito de contabilidade de gesto estratgica inicialmente estabelecido
por Simmonds. Em 1981 este autor apresentou o que pensamos ser a primeira definio do
termo de contabilidade de gesto estratgica: A contabilidade de gesto estratgica pode ser
definida como o fornecimento e anlise dos dados de contabilidade de gesto acerca de um
negcio e dos seus concorrentes para utilizar no desenvolvimento e monitorizao da
estratgia do negcio (Simmonds, 1981, 26). Desta definio ressalta a perspetiva externa da
contabilidade de gesto, as tradicionais variveis do negcio, custos, preos, volumes, cash
flow, consumo de recursos, quota de mercado, devem ser conhecidas interna e externamente,
isto , da prpria empresa e dos seus concorrentes. Simmonds defende que, sendo a recolha de
dados sobre estas variveis da responsabilidade do contabilista de gesto ento, como as
variveis vo ter de se comparar, a estrutura de recolha e apresentao de dados deve ser
1 No pretendendo explorar intensamente a histria da contabilidade de gesto, deve no entanto referir-se que Chapman et al. (2007) realam
as diferentes trajetrias de desenvolvimento, e modos de organizao e funcionamento, de vrias prticas consideradas ao longo dos anos
como sendo de contabilidade de gesto. Na Sucia, por exemplo, a prtica de oramentao considerada como uma componente da gesto
geral em vez da contabilidade, e no Japo a contabilidade de custos considerada como tendo mais a ver com a engenharia do que com a
contabilidade, sendo o termo de engenharia de custos reconhecido neste pas.
15
semelhante, e da esta competncia ser atribuda tambm aos contabilistas de gesto. Para
alm do foco externo, este autor refere tambm o aspeto dinmico da recolha e da informao
da contabilidade de gesto, sugerindo a necessidade de uma auditoria contabilidade de
gesto estratgica para assegurar uma qualidade consistente.
Bromwich (1988), na definio de contabilidade de gesto estratgica, refora a ideia
da necessidade de recolha de dados para alm da empresa e dos seus concorrentes. O autor
identifica trs pontos de ancoragem para a contabilidade de gesto estratgica: avaliao dos
benefcios dos produtos da empresa no s na perspetiva da prpria empresa mas tambm do
ponto de vista dos clientes; avaliao dos custos da empresa relativamente aos seus
concorrentes; e aplicao do Custeio do Ciclo de Vida aos produtos e recursos da empresa.
Em 1996, Lord publicou um artigo sobre o tema em anlise referindo que o termo de
contabilidade de gesto estratgica era utilizado h mais de uma dcada na literatura de
contabilidade de gesto, mas continuava-se a assistir a uma enorme escassez de exemplos
relativos sua utilizao, concluindo que os resultados atribudos contabilidade de gesto
estratgica no eram mais que a consequncia lgica de processos de gesto operacionais.
Relativamente aos vnculos externos que se estabelecem com os fornecedores, esta autora
critica a necessidade formal de uma anlise da cadeia de valor porque a explorao dos
respetivos vnculos automaticamente gera os benefcios. Atravs de um estudo de caso,
Dekker (2003)2 provou o contrrio, justificando a crtica que Lord faz anlise da cadeia de
valor, enquanto tcnica da contabilidade de gesto estratgica, precisamente pela fraca
evidncia emprica relativa sua utilizao em termos prticos.
Depois de Simmonds, Bromwich e Lord muitos autores se tm referido ao conceito de
contabilidade de gesto estratgica, mas, at data, e aps reviso de bibliografia efetuada
nesse sentido, conclumos que no existe consenso quanto definio do termo, apenas
aspetos comuns de abordagem como sejam: o mbito, mais alargado no sentido dos
concorrentes e clientes, e o tempo, abordagens dinmicas e no estticas como na tradicional
contabilidade de gesto (Shank, 2001).
2 Ver ampla referncia ao estudo no ponto 3.2 deste trabalho.
16
2.3. Gesto Estratgica de Custos
2.3.1. mbito da gesto estratgica de custos
O termo que aqui utilizamos, de gesto estratgica de custos, designado por muitos
autores apenas como gesto de custos, ou anlise estratgica de custos, sendo ainda as
tcnicas e ferramentas referidas como fazendo parte do que outros autores designam de
contabilidade de gesto estratgica (Guilding et al., 2000; Dekker, 2003). Desde a dcada de
80 que se multiplicaram as tentativas de definio destes conceitos no havendo ainda uma
distino clara quanto aos seus contedos.
A gesto estratgica de custos combina problemas de contabilidade e estratgia e
difere da tradicional anlise de custos basicamente pela perspetiva. Enquanto a anlise de
custos tradicional se desenvolve numa perspetiva interna, a gesto estratgica de custos inclui
uma forte perspetiva externa (Coulmas e Matz, 1996). Para Shank e Govindarajan (1993), a
anlise de custos tradicionalmente vista como o processo de avaliao do impacto financeiro
das decises de gesto alternativas, definindo a gesto estratgica de custos como uma anlise
de custos vista sob um contexto mais amplo, em que os elementos estratgicos se tornam mais
conscientes, explcitos e formais. J em 1990, Wilson apresentava uma definio de anlise
estratgica de custos exatamente no mesmo sentido de Shank e Govindarajan, isto , uma
abordagem contabilidade de gesto que explicitamente destaca questes e preocupaes
estratgicas. Para aquele autor, o contedo desta estratgia, ao nvel empresarial, inclui um
conjunto integrado de aes destinadas a assegurar uma vantagem competitiva sustentvel.
Wilson (1990) contrasta a anlise de custos convencional da anlise estratgica de custos
atravs dos seguintes aspetos: a anlise convencional de custos concentra-se nas atividades
fabris; ignora o impacto de outras atividades; negligncia as ligaes entre atividades
analisando cada atividade de uma forma discreta.
Para Grundy (1996 e 1998), a gesto estratgica de custos a gesto de custos com o
objetivo de obter no s uma vantagem competitiva como tambm uma vantagem financeira,
tanto no curto como no mdio e longo prazo. Para atingir estes objetivos a gesto de custos
deve estar relacionada com a estratgia do negcio. Para este autor existem trs perspetivas de
custos, todas includas no processo de gesto estratgica de custos: perspetiva da gesto
estratgica, da gesto financeira e da gesto operacional. No que respeita gesto estratgica,
os custos so um fator importante tanto na anlise interna como na relativa vantagem
competitiva externa. Nesta perspetiva, as anlises de custos so fundamentais para identificar
17
a atratividade da indstria e do mercado em que se insere uma determinada empresa. A gesto
financeira pode contribuir favoravelmente para a gesto estratgica de custos atravs do ABC,
da avaliao de programas de custos a longo prazo, como as decises de investimento, e das
anlises das estruturas de custos. No que respeita gesto operacional, e ainda segundo
Grundy (1996), existem trs temas relevantes para a gesto estratgica de custos: a gesto da
qualidade, a simplificao de processos e atividades, nomeadamente atravs de processos de
reengenharia e a anlise de clientes, no sentido de determinar como e a que custo esto a ser
servidos os clientes.
A definio de gesto estratgica de custos de Anderson (2006) e Anderson e Dekker
(2009a) incorpora os principais elementos referidos pelos autores anteriormente mencionados,
que so, a estratgia da empresa, a tomada de decises e a estrutura de custos. Assim, estes
autores definem gesto estratgica de custos como o alinhamento deliberado dos recursos da
empresa (e associada estrutura de custos) com uma estratgia de longo prazo e tticas de curto
prazo.3 Os autores contrapem gesto de custos tradicional, focalizada na reengenharia dos
processos internos com vista melhoria da eficincia e da eficcia, o desafio lanado por
Shank e Govindarajan da gesto de custos atravs da cadeia de valor. Para Anderson e Dekker
(2009a e 2009b), o foco externo, em especial as relaes entre compradores e fornecedores,
tambm so uma fonte de vantagem competitiva que pode levar a custos mais baixos, elevada
produtividade, qualidade e inovao.
Horngren et al. (2000) tambm relevam o aspeto externo da contabilidade de gesto,
mas no vai to longe como os autores anteriores, utilizando apenas o termo gesto de custos
para descrever as aes tomadas pelos gestores para satisfazer os clientes e simultaneamente
reduzir e controlar custos. Tradicionalmente, a nfase dos sistemas de controlo da
contabilidade de gesto posta na conteno de custos, partindo do oramento e, comparando
os resultados obtidos com os previstos, determinam-se os desvios e tenta-se tomar medidas
corretivas para assegurar que no futuro as previses sejam atingidas. Contrariamente, a gesto
de custos preocupa-se com a reduo de custos em vez da mera conteno de custos e aplica-
se sempre que se identifica uma oportunidade para reduzir custos sem pr em causa a
satisfao dos clientes, de preferncia melhorando esta satisfao.
3 Partilhamos a nota de Anderson e Dekker (2009a, 2) de que a gesto de custos apenas uma parte da maximizao do resultado a longo
prazo. Neste trabalho tambm no iremos discutir a gesto estratgica dos proveitos, apesar de reconhecermos a interdependncia entre as
duas variveis, custos e proveitos.
18
O quadro seguinte adaptado de AECA (2001, 17) resume a diferena na abordagem,
objetivos e anlise de custos da contabilidade de custos convencional e da gesto estratgica
de custos.
Quadro 2.1 Paradigma da contabilidade de custos convencional versus o paradigma da gesto
estratgica de custos.
Na perspetiva da contabilidade de custos Na perspetiva da gesto estratgica de custos
Abordagem da
anlise de custos
Custos por funes, produtos e clientes.
Custos gerados no interior da empresa.
Custos em funo das diferentes fases da cadeia
de valor em que se insere a empresa.
Com uma tica orientada para o exterior.
Objetivos da
anlise de custos
Controlo de resultados
Controlo das aes
Tomada de decises.
Para alm dos 3 objetivos da contabilidade de
custos a conceo dos sistemas de gesto de
custos alterada em funo do posicionamento
estratgico da empresa.
Anlise do
comportamento
dos custos
Em funo do volume de produo
(variveis, fixos, semifixos e
semivariveis)
Em funo da estratgia escolhida.
Fonte: Adaptado de AECA, 2001, 17.
2.3.2. Estrutura da gesto estratgica de custos
Shank e Govindarajan (1993) consideram que a gesto estratgica de custos incorpora
trs anlises fundamentais: anlise do posicionamento estratgico, anlise dos indutores de
custo e anlise da cadeia de valor. Cada um destes temas representa um ramo de pesquisa e
anlise em que a informao relativa a custos tratada numa perspetiva diferente da que
usualmente utilizada na designada contabilidade de gesto tradicional. As necessidades de
informao sobre custos so diferentes consoante a orientao estratgica da empresa, porque
estas orientaes estratgicas exigem formas de gesto tambm diferentes. Tendo a gesto
estratgica de custos como objetivo reduzir os custos em simultneo com o aumento da
competitividade, compreende-se que uma orientao estratgica em que predomina a
liderana pelo custo tenha necessidade de informaes sobre custos diferentes das requeridas
por uma estratgia que pretenda superar a concorrncia pela diferenciao dos produtos. No
tendo como objetivo neste trabalho aprofundar os aspetos relacionados com a estratgia,
resumimos atravs do quadro 2.2, adaptado de AECA, (2001, 19), as diferenas na gesto de
custos originadas pelas duas principais orientaes estratgicas: estratgia de diferenciao de
produtos e estratgia de liderana pelo custo.
19
Quadro 2.2 Diferentes abordagens da gesto de custos para diferentes orientaes estratgicas
Estratgia de diferenciao de
produtos
Estratgia de liderana pelo
custo
Papel dos custos de produo na
avaliao dos resultados
No importante Muito importante
Importncia do controlo de custos de
produo
Moderada Muito Elevada
Importncia dos custos comerciais Muito importante Pouco importante
Importncia dos custos de produo
nas decises de fixao de preos
Pouco importante Muito importante
Importncia da anlise dos custos dos
concorrentes
Pouco importante Muito importante
Fonte: Adaptado de AECA, 2001, 19.
Com a anlise dos indutores ou geradores de custo pretende-se perceber o
comportamento dos custos e identificar a origem das variaes na estrutura de custos da
empresa. Como qualquer ser vivo, as empresas no esto isoladas, inserem-se num sistema
mais ou menos complexo de criao de valor, e desenvolvem vrias atividades. So as
atividades que consomem recursos, isto , que originam custos. Existem mltiplos fatores que
influenciam o comportamento dos custos das atividades, podendo definir-se indutor de custo
como o fator que cria ou influencia o comportamento do custo, seja como consequncia de
uma estratgia de diferenciao ou de liderana pelo custo. Os indutores de custos originam
alteraes no rendimento das atividades e, consequentemente, afetam os recursos necessrios
para as realizar (AECA, 2001). Assim, eles so a causa e origem dos custos dentro do sistema
de valor em que se insere a empresa. Tradicionalmente o indutor de custos mais utilizado pela
contabilidade de gesto era o volume de produo. Utilizando exclusivamente medidas de
output da produo, pretendia-se explicar o comportamento dos custos. Com o aumento da
complexidade dos produtos, dos processos, dos mercados, da concorrncia e do meio
envolvente, tornou-se necessrio procurar outros indutores de custos que explicassem melhor
o comportamento dos custos e permitissem a sua efetiva gesto.
De acordo com AECA (2001), independentemente da estratgia seguida pela empresa,
os indutores de custos podem classificar-se nas seguintes categorias:
- Indutores de custos relacionados com o mercado;
- Indutores de custos estrategicamente relevantes;
- Indutores de custos relacionados com o produto;
- Indutores de custos relacionados com o processo.
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A homogeneizao dos estilos de vida, o estabelecimento de marcas mundiais, a
globalizao dos mercados financeiros e o crescimento de redes globais, so alguns dos
exemplos de indutores de custos relacionados com o mercado. Este tipo de indutores
condiciona o comportamento dos mercados onde as empresas se inserem e assim origina
alteraes nos produtos e servios de forma a adequa-los aos respetivos mercados.
A opo por determinado tipo de polticas como seja a configurao dos produtos, o
mix de produtos oferecidos aos clientes, o prazo de entrega ou a escolha de determinado
processo tecnolgico ou qualidade de matrias-primas, influencia a estrutura de custos da
empresa. Assim, a escolha de polticas pode considerar-se um indutor de custos
estrategicamente relevante. Os vnculos internos e externos, isto , os vnculos dentro da
cadeia de valor da empresa ou dentro do sistema de criao de valor, tambm se podem
considerar indutores de custos porque a sua gesto cria oportunidades de reduo de custos
nas atividades afetadas por estes vnculos.4 A dimenso da integrao vertical de uma
empresa, no sentido dos fornecedores ou dos clientes pode considerar-se tambm um indutor
de custos estrategicamente relevante, bem como o momento temporal relativo tomada de
decises que afetam o custo das atividades. Os fatores institucionais como regulamentaes
governamentais ou incentivos fiscais, estando fora do controlo das empresas, ao serem
reconhecidos como indutores de custos relevantes podem aproveitar-se ou minimizar-se os
seus impactos na estrutura de custos da empresa.
Na perspetiva dos produtos ou outputs destacam-se trs indutores de custos: a
qualidade total, o fator humano e a tecnologia. Para a AECA (2001), grande parte da estrutura
de custos das empresas est condicionada pela quantidade e diversidade de produtos
fabricados, bem como pela forma como os produtos foram desenhados ou concebidos. A fase
de desenho de um produto abarca o aspeto da funcionalidade e da arquitetura do produto. Esta
fase de desenho e conceo representa um papel chave da competitividade de qualquer
empresa, condicionando os produtos e os processos produtivos, responsvel por grande
parte dos custos dos respetivos produtos (Cooper e Slagmulder, 1997).
O prprio processo produtivo deve ser considerado um indutor de custos destacando-
se como indutores dos respetivos processos de fabrico: a capacidade, a curva de
aprendizagem, a localizao da unidade produtiva, a distribuio e fluxo dos recursos
(pessoas, materiais e informao) e a logstica.
4 A anlise detalhada dos vnculos internos e externos ser efetuada no ponto 3.4 deste captulo.
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Do exposto podemos concluir que todos os custos includos na estrutura de custos de
qualquer empresa dependem de numerosos indutores interligados de forma mais ou menos
complexa e que, independentemente da estratgia escolhida pela empresa, quando o seu
objetivo a melhoria da produtividade e da competitividade atravs de uma adequada
estrutura de custos, a anlise da cadeia de valor deve incorporar a gesto dos indutores de
custo de forma a reduzir os custos no curto e no longo prazo.
Por ltimo, na perspetiva de Shank e Govindarajan (1993), a gesto estratgica de
custos incorpora a anlise da cadeia de valor em que se insere a empresa, o que significa que a
gesto de custos deve incorporar uma perspetiva externa e avaliar a contribuio dos custos
internos para o sistema de criao de valor da indstria ou setor de atividade em que se integra
a empresa. O objetivo final da anlise identificar as fases de transformao que conseguem
atingir os melhores resultados dentro do sistema de valor, dirigindo os recursos financeiros
para estas fases. Sendo a anlise da cadeia de valor o principal objeto de estudo deste trabalho
de investigao, o necessrio detalhe ser apresentado em ponto autnomo do trabalho, ponto
3 da parte I.
Na ltima dcada surgiram desenvolvimentos no mbito da gesto estratgica de
custos que levaram incluso nesta matria do que se designa de anlise da criao de valor.
Para Silvi e Cuganesan (2006), os temas centrais da gesto estratgica de custos so as
tcnicas de anlise da cadeia de valor, de anlise dos indutores de custos e de anlise da
criao de valor. Genericamente, o objetivo das anlises de criao de valor relacionar os
custos de uma empresa com o valor que ela fornece aos seus clientes. Foi na base desta
relao entre o valor que os clientes esto dispostos a pagar por um determinado produto ou
servio, valor de mercado, e os custos que as empresas suportam para fornecer esses bens, que
McNair et al. (2001a, 2001b) apresentaram um modelo conhecido por modelo de criao de
valor (VCM), que, segundo os prprios autores, se inclui no mbito da gesto de custos
avanada. Os autores defendem que os ensinamentos resultantes deste modelo levam a novas
relaes na gesto de custos e que o modelo ajuda os gestores a compreender onde e como a
empresa cria valor. Neste modelo, a estrutura de custos de uma empresa definida em termos
de atividades com valor acrescentado (VA), relacionadas com a razo pela qual os clientes
compram o produto, atividades de suporte, que no acrescentam valor na perspetiva do cliente
mas so necessrias (NVA), e atividades de desperdcio (W), que no acrescentam qualquer
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tipo de valor nem so necessrias para suportar o desenvolvimento de outras atividades.5
Como bvio, em qualquer organizao, uma gesto eficiente deve maximizar o desempenho
das atividades de valor acrescentado, tornar mais eficientes as atividades de suporte e eliminar
as atividades de desperdcio.
2.3.3. Tcnicas de gesto estratgica de custos
No atual ambiente de elevada concorrncia as empresas, se quiserem sobreviver,
devem gerir os custos de uma forma agressiva. A gesto de custos deve ser aplicada por todos
os colaboradores da empresa, ao longo de toda a vida do produto e da cadeia de valor. O
desafio encontrar novos mtodos, novos caminhos, para reduzir custos enquanto
simultaneamente se aumenta a funcionalidade e qualidade dos produtos e servios. Para
McNair et al. (2001b), o desafio para relacionar as variveis, valor para o cliente, preo e
custo tem gerado muitos estudos e tentativas de aplicao prtica de novas tcnicas de gesto
de custos.
As empresas tm tendncia a concentrar os seus esforos para reduzir e controlar
custos ao longo da etapa de produo do ciclo de vida dos produtos, no se apercebendo que a
gesto de custos deve iniciar-se logo na fase de conceo dos produtos ou servios. Quanto
mais avanado se encontra um produto no seu ciclo de vida menores so as oportunidades de
reduo de custos. Os aspetos relacionados com a planificao e o desenho dos produtos tm
sido abordados quase de forma exclusiva numa tica tcnica em detrimento de uma tica de
custo. Logo que um produto desenhado, a maior parte dos seus custos fica comprometida.
Segundo Cooper e Slagmulder (1997), alguns autores estimam que 90% a 95 % dos custos de
um produto no podem ser evitados sem alterar o desenho do produto. Consequentemente, a
gesto de custos deve incidir tanto na fase de desenho como na fase de fabrico, isto , deve
cobrir todo o ciclo de vida do produto e fazer-se atravs de toda a cadeia de valor em que se
insere a empresa. McNair et al. (2001b) apontam como limitaes das principais tcnicas de
gesto de custos a perspetiva interna de valor, no conseguindo fornecer informao sobre as
relaes entre a estrutura de custos interna e o valor, definido numa perspetiva externa. Ainda
segundo os mesmos autores, a perspetiva interna das abordagens dos conhecidos custeio e
gesto baseados nas atividades limita a utilidade da informao para a tomada de decises
5 Dada a dificuldade que se antev para definir as atividades de acordo com o valor acrescentado na perspetiva do cliente, convm referir que
no estudo de caso, que serviu para exemplificar o modelo VCM, os autores identificaram a estrutura de custos por departamento e dentro de
cada departamento identificaram as atividades VA, NVA e W, atravs de entrevistas a 20% do pessoal da empresa.
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estratgicas e operacionais, tendo a gesto estratgica de custos surgido precisamente para
colmatar estas limitaes, revelando a natureza dinmica das relaes de valor ao longo da
cadeia de valor.
Segundo a AECA (2001), as tcnicas de gesto de custos podem agrupar-se em funo
do momento da sua aplicao, isto , conforme a etapa do ciclo de vida do produto em que se
vo aplicar, em dois tipos: tcnicas feedforward, aplicveis reduo de custos em novos
produtos, e tcnicas feedback, que conduzem reduo de custos em produtos j existentes.
Como exemplo das primeiras vamos de seguida apresentar o Custo-Objetivo (Target costing),
a Reengenharia de Processos e a Gesto da Qualidade Total. Como exemplo das tcnicas
feedback escolhemos o Custeio e Gesto Baseados nas Atividades, o Custeio Kaisen e de
melhoria contnua dos processos e o Just-in-Time, por se tratar de tcnicas de gesto de custos
com uma forte componente de informao contabilstica. Estes e outros sistemas de gesto de
custos podem tambm ser classificados em funo do objetivo de melhoria perseguido. Nesta
classificao podemos distinguir mtodos baseados na qualidade, nas atividades, nos tempos,
no fator humano e nos processos (AECA, 2001). Para McNair et al. (2001b), os estudos e
prticas avanadas de gesto de custos sugerem uma variedade de diferentes ferramentas,
sendo a maior parte delas de natureza qualitativa, a exceo vai para o Custeio Alvo e as
anlises de valor, consideradas como ferramentas de gesto de custos de natureza quantitativa.
O Custo-Objetivo pode ser encarado numa dupla perspetiva, como mecanismo para
determinar preos de venda e como ferramenta para a gesto de custos (Shank, 1999; Shank e
Fisher, 1999; Welfle e Keltyka, 2000). Pelo tema do trabalho apenas esta ltima perspetiva
merece a nossa ateno. O Custo-Objetivo a diferena entre o preo de venda para
conquistar uma predeterminada quota de mercado e o desejado lucro por unidade. O preo de
venda reflete as especificaes ou funes do produto valorizadas pelo cliente. A organizao
deve trabalhar a partir do preo de venda potencial para determinar se os custos so
suficientemente baixos, ou podem ser reduzidos, para atingir um lucro aceitvel. Para muitos
negcios, particularmente aqueles que operam a nvel internacional, o cliente dita os preos
que est disposto a pagar por um produto ou servio. Esta prtica comum nas indstrias
altamente competitivas. Um dos atributos da tcnica do Custo-Objetivo forar uma
organizao a procurar formas inovadoras de produzir ou fornecer um servio a custos que
permitam um determinado lucro, forar a procura de solues para reduzir os custos
(Lockamy e Smith, 2000). Ocasionalmente, pode aceitar-se um menor lucro para obter uma
maior encomenda, deciso que deve ser baseada no estudo do comportamento dos custos face
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aos nveis de atividade. Atravs da reengenharia dos produtos pode ser possvel reduzir os
custos. Para facilitar o desenvolvimento de inovaes normalmente utilizam-se equipas de
empregados das reas de contabilidade de custos, marketing, engenharia e produo. O Custo-
Objetivo permite considerar as necessidades especficas dos clientes e simultaneamente
satisfazer as necessidades de lucro das empresas. Esta orientao externa da tcnica do Custo-
Objetivo, baseada em anlises de mercado e de concorrentes, utilizada por Hansen e Mowen
(2000) para o distinguir dos tradicionais custos standard, cuja motivao se situa
exclusivamente no interior da empresa e cujo objetivo atingir um valor acrescentado
standard. Ainda numa perspetiva de orientao externa, McNair et al. (2001a) considera o
modelo de criao de valor (VCM) como uma extenso da tcnica do Custo-Objetivo,
definindo este como uma formalizao das relaes entre preo e custo, que procura
identificar o preo timo para um produto especfico com um determinado conjunto de
atributos, ao qual se deve adequar o custo. Assim, o preo induzido pelo valor e no pelo
custo, sendo os requisitos exigidos pelos clientes a impor uma disciplina nos custos de forma
a assegurar produtos rentveis.
A Reengenharia de Processos uma tcnica que tem como objetivo global tornar os
processos eficazes, eficientes e flexveis, atravs da simplificao dos processos, da reduo
das frequncias de execuo das mesmas operaes, da eliminao de atividades sem valor
acrescentado, da reduo do tempo dos ciclos, da eliminao das perdas e desperdcios, e da
eliminao das restries (Sakurai, 1996; Maher, 1997; Drury, 2000).
A Gesto para a Qualidade Total pretende a melhoria da qualidade em toda a
organizao, incluindo todos os processos e produtos ou servios. Atravs da introduo nos
processos e produtos das melhores tcnicas, esta filosofia de gesto tem como objetivo
produzir o melhor produto ou servio possvel (Drury, 2000; Hansen e Mowen, 2000).
O mtodo ABC um mtodo de custeio baseado nas atividades, cujo objetivo
analisar as causas dos custos ou consumo de recursos, isto , as atividades. o volume destas
atividades, e no o volume da produo, que consome recursos e origina custos. O mtodo
ABC utiliza as atividades para o custeio dos produtos/servios e para o processo de controlo
relacionando os custos diretamente com as atividades que os causam. Para este mtodo as
atividades constituem o primeiro objeto de custo. O mtodo ABC determina os custos e o
desempenho das atividades e imputa o custo destas atividades a outros objetos de custo, tais
como produtos ou servios, com base na utilizao que estes fazem das atividades. Para
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muitos autores, o ABC uma das ferramentas mais importantes da gesto estratgica de
custos (Partridge e Perren, 1994b; McNair et al., 2001b; Dekker, 2003; El-Dyasty, 2007).
A Gesto Baseada nas Atividades (ABM) apoia-se na filosofia do sistema ABC,
enquanto que neste predominam os aspetos relacionados com a determinao de custos, no
ABM o principal objetivo a gesto das atividades e dos processos. Neste mbito o sistema
ABM pretende identificar as atividades que no geram valor para introduzir medidas que
permitam a sua eliminao, e determinar medidas de eficcia e de eficincia das atividades
que permitam a tomada de aes de melhoria contnua dos processos (Drury, 2000).
Um dos sistemas de gesto estratgica de custos, baseado nos processos,
predominantemente utilizado h vrias dcadas nas empresas japonesas, o Mtodo Kaisen
ou melhoria contnua. Com este mtodo, o objetivo alcanar um Custo-Objetivo que
continuamente reduzido ou revisto, podendo considerar-se um processo de melhoria contnua
sem fim (Drury, 2000; Horngren et al, 2000).
O JIT uma tcnica dentro dos sistemas de gesto que adota como princpio bsico:
comprar e produzir s o que se necessita e quando se necessita, a fim de que a gesto da
produo obedea denominada espiral dos 5 zeros, isto , zero defeitos, zero avarias, zero
armazns, zero prazos e zero burocracias, e como consequncia, se alcance uma melhoria da
competitividade e uma reduo efetiva dos custos (Drury, 2000). A gesto dos materiais,
concretamente, obedece neste contexto a trs regras prticas: no produzir
desnecessariamente, ter as mximas garantias sobre a qualidade, e respeitar estritamente as
quantidades e prazos necessrios sem incorrer em demoras. Em todas as empresas e
organizaes, de um modo geral, tem-se vindo a acentuar a preocupao com a reduo para o
mnimo dos nveis de stock, estabelecendo relaes de cooperao com os fornecedores e
encomendando menores quantidades com maior frequncia de encomendas. O objetivo da
compra em JIT adquirir os bens para serem imediatamente utilizados, assegurando que os
stocks sejam o mais baixo possvel, possibilitando assim poupanas em manuseamento de
materiais, investimento em stocks e registos de armazm (Horngren et al, 2000). Por exemplo,
no h necessidade de registar os materiais recebidos no armazm porque so entregues
diretamente na fbrica. Compras frequentes com utilizao imediata resulta em valores de
matrias para consumo prximos do preo de substituio. Assim, os critrios de valorizao
dos stocks so menos importantes em empresas que adotem a compra em JIT (Drury, 2000;
Mallo et al, 2000).
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Nem sempre as aes que visam uma reduo de custos se baseiam em informaes da
contabilidade. No entanto, os gestores e contabilistas devem estar conscientes de todos os
mtodos passveis de utilizao na reduo de custos, mesmo que estes no recorram
exclusivamente informao contabilstica. Para Chen e Chung (2002), os conceitos
relacionados com operaes ou prticas de fabrico tais como o JIT, a TQM, e o melhoramento
contnuo (Custeio Kaisen), juntamente com mtodos de contabilidade, tais como o ABC, e o
custeio-objetivo, transformaram o papel clssico da contabilidade de que informa para que
influencia. Para os referidos autores, a essncia da contabilidade de gesto est na integrao
das funes da contabilidade com as prticas de fabrico. Nesta perspetiva podemos incluir o
que designmos de gesto de custos na disciplina mais ampla de contabilidade de gesto.
Os autores no so unnimes quanto s tcnicas a utilizar para concretizar a gesto
estratgica de custos, existindo outras classificaes que incluem mais ou menos tcnicas que
as que aqui identificamos. O trabalho apresentado por El-Dyasty (2007), com o objetivo de
analisar as vrias tcnicas de gesto estratgica de custos, merece a nossa ateno,
principalmente pela tentativa de apresentar uma viso integrada de um conjunto alargado de
tcnicas de gesto de custos numa sequncia lgica que no seu conjunto, e segundo o autor,
estruturam a gesto estratgica de custos. El-Dyasty (2007) apresenta a gesto estratgica de
custos como um sistema de informao integrado que tem como objetivo fornecer informao
para atingir os objetivos estratgicos atravs de 4 fases onde se incluem as vrias ferramentas
de gesto de custos. Na fase 1, de anlise estratgica, o referido autor inclui a anlise SWOT e
o processo de benchmarking. Na fase 2, de formulao das estratgias e determinao de
bases para medidas de desempenho, inclui-se a escolha da estratgia mais adequada para obter
uma vantagem competitiva e para medir e avaliar o desempenho nas dimenses financeira e
no financeira, prope-se a utilizao do BSC. A terceira fase, envolve a implementao das
estratgias atravs da anlise da cadeia de valor durante o ciclo de vida do produto, devendo
nesta fase construir-se a cadeia de valor nas suas dimenses interna e externa e medir-se os
custos atravs do ciclo de vida dos produtos, isto , nas fases de introduo, crescimento,
maturao e declnio dos produtos. nesta terceira fase que se impe tambm a utilizao do
custeio-alvo, do ABC, do JIT, da teoria das restries e da TQM. A fase 4, que El-Dyasty
designa de melhoramento contnuo, significa inovao, respeita ao melhoramento contnuo ao
nvel da cadeia de valor interna, no sentido de melhorar a qualidade, reduzir custos e elevar os
fatores crticos de sucesso, bem como melhorar a participao na cadeia de valor externa.
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Ainda no mbito da gesto estratgica de custos, mas numa abordagem de
identificao de oportunidades de reduo de custos fora das fronteiras da empresa, no mbito
das relaes cliente-fornecedor alargadas ao que se designa de rede, identificamos o que
vrios autores designam de contabilidade de livro-aberto (Kajter e Kulmala, 2005).6 Esta
ferramenta de gesto de custos interorganizacional, promove a identificao e implementao
de oportunidades de reduo de cus