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36 Foreign Policy / Edição FP Portugal M uito se tem falado na actual crise financeira — e antes de mais política — que tem atravessado a União Europeia (UE). Mui- tos autores têm vaticinado o fim do euro, havendo mesmo uma corrente mais radical que vislumbra o próprio fim da UE. A primeira nota a ter em conta, contrariando a actual onda de pessimismo, é que se hoje debatemos a crise mundial e o seu impacto no euro é porque a moeda única existe. Parecendo uma redundância, é preciso chamar a atenção para o longo caminho já per- corrido pelos Estados-membros da União. Hoje, melhor ou pior, os gover- nos europeus procuram soluções em conjunto para uma crise que a todos afecta. Hoje, apontamos as ineficácias e indecisões da UE, não pensando como estariam os Estados europeus, e quais as respostas que individual- mente cada um poderia dar, caso não estivessem integrados numa união económica, política e monetária. Sejamos claros: nem a moeda única nem a União Europeia deixarão de existir. Esta convicção em nada tem a ver com optimismo em relação às capacidades e benefícios da União Europeia; prende-se antes com uma crite- riosa e realista análise dos factos. Continuamos a concordar que os Estados não têm amigos nem inimigos permanentes, mas antes interesses permanen- tes. Ora, é do interesse dos Estados-membros manter e fortalecer a UE nos seus vários domínios: económico, político ou mesmo militar. No domínio económico, há muito que os Estados-membros perceberam que obtêm mais benefícios estando juntos do que isolados. Hoje, damos como provado que o desenvolvimento económico é claramente potenciado Pedro Ferreira da Silva, Major de Artilharia do Exército Português e doutor em Ciências Sociais, na especialidade de Relações Internacionais, pelo ISCSP/UTL, é também investigador no CINAMIL e no CAPP. É igualmente professor convidado do ISCSP e do ISLA, tendo lançado já este ano o livro Entre Ceres e Marte – A Segurança e Defesa na Europa do Séc. XXI. no âmbito de um processo de integra- ção. Sabemos também que, num processo de integração económica, os países mais ricos beneficiam sempre mais que os me- nos desenvolvidos. Por este motivo, os Es- tados-membros cedo se aperceberam que necessitavam de uma ferramenta de redis- tribuição da riqueza, mantendo a coesão no seio da União. Não será por acaso — nem sequer por boa-vontade dos países mais ricos — que a UE desenvolveu um Fundo de Coesão, onde — à semelhança do que se passa no interior de cada Estado — efectua uma redistribuição da riqueza, garantindo a sua necessária coesão. De igual modo, é falsa a afirmação veiculada em vários meios de comunicação social de que os Estados mais ricos — em particu- lar, a Alemanha — são os eternos paga- dores da União. Na realidade, por serem um dos Estados mais desenvolvidos, con- tribuem com uma parte dos ganhos obti- dos por fazerem parte de um processo de integração. Os Estados menos desenvolvi- dos — como é o caso de Portugal — tam- bém ganham pois têm acesso a fundos disponíveis para o seu desenvolvimento que, caso estivessem isolados, não teriam. A não ser, claro está, através de um ainda maior endividamento. XAVIER HAPE A REALPOLITIK EUROPEIA ESQUEÇA OS IDEAIS SUPERIORES DE UMA EUROPA UNIDA. O APROFUNDAMENTO DA INTEGRAÇÃO EUROPEIA NOS VÁRIOS DOMÍNIOS — ECONÓMICO, POLÍTICO, SEGURANÇA E DEFESA — DEPENDE APENAS DOS INTERESSES PERMANENTES DOS ESTADOS-MEMBROS. POR PEDRO FERREIRA DA SILVA 36 Foreign Policy / Edição FP Portugal

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  • 36 Foreign Policy / Edio FP Portugal

    Muito se tem falado na actual crise nanceira e antes de mais poltica que tem atravessado a Unio Europeia (UE). Mui-tos autores tm vaticinado o m do euro, havendo mesmo uma corrente mais radical que vislumbra o prprio m da UE. A primeira nota a ter em conta, contrariando a actual onda de pessimismo, que se hoje debatemos a crise mundial e o seu impacto no euro porque a moeda nica existe. Parecendo

    uma redundncia, preciso chamar a ateno para o longo caminho j per-corrido pelos Estados-membros da Unio. Hoje, melhor ou pior, os gover-nos europeus procuram solues em conjunto para uma crise que a todos afecta. Hoje, apontamos as ineccias e indecises da UE, no pensando como estariam os Estados europeus, e quais as respostas que individual-mente cada um poderia dar, caso no estivessem integrados numa unio econmica, poltica e monetria.

    Sejamos claros: nem a moeda nica nem a Unio Europeia deixaro de existir. Esta convico em nada tem a ver com optimismo em relao s capacidades e benefcios da Unio Europeia; prende-se antes com uma crite-riosa e realista anlise dos factos. Continuamos a concordar que os Estados no tm amigos nem inimigos permanentes, mas antes interesses permanen-tes. Ora, do interesse dos Estados-membros manter e fortalecer a UE nos seus vrios domnios: econmico, poltico ou mesmo militar.

    No domnio econmico, h muito que os Estados-membros perceberam que obtm mais benefcios estando juntos do que isolados. Hoje, damos como provado que o desenvolvimento econmico claramente potenciado

    Pedro Ferreira da Silva, Major de Artilharia do Exrcito Portugus e doutor em Cincias Sociais, na especialidade de Relaes Internacionais, pelo ISCSP/UTL, tambm investigador no CINAMIL e no CAPP. igualmente professor convidado do ISCSP e do ISLA, tendo lanado j este ano o livro Entre Ceres e Marte A Segurana e Defesa na Europa do Sc. XXI.

    no mbito de um processo de integra-o. Sabemos tambm que, num processo de integrao econmica, os pases mais ricos beneciam sempre mais que os me-nos desenvolvidos. Por este motivo, os Es-tados-membros cedo se aperceberam que necessitavam de uma ferramenta de redis-tribuio da riqueza, mantendo a coeso no seio da Unio. No ser por acaso nem sequer por boa-vontade dos pases mais ricos que a UE desenvolveu um Fundo de Coeso, onde semelhana do que se passa no interior de cada Estado efectua uma redistribuio da riqueza, garantindo a sua necessria coeso. De igual modo, falsa a armao veiculada em vrios meios de comunicao social de que os Estados mais ricos em particu-lar, a Alemanha so os eternos paga-dores da Unio. Na realidade, por serem um dos Estados mais desenvolvidos, con-tribuem com uma parte dos ganhos obti-dos por fazerem parte de um processo de integrao. Os Estados menos desenvolvi-dos como o caso de Portugal tam-bm ganham pois tm acesso a fundos disponveis para o seu desenvolvimento que, caso estivessem isolados, no teriam. A no ser, claro est, atravs de um ainda maior endividamento. XAV

    IER

    HAPE

    A REALPOLITIK EUROPEIAESQUEA OS IDEAIS SUPERIORES DE UMA EUROPA UNIDA. O APROFUNDAMENTO DA INTEGRAO EUROPEIA NOS VRIOS DOMNIOS ECONMICO, POLTICO, SEGURANA E DEFESA DEPENDE APENAS DOS INTERESSES PERMANENTES DOS ESTADOS-MEMBROS.POR PEDRO FERREIRA DA SILVA

    36 Foreign Policy / Edio FP Portugal

  • Se o que vimos anteriormente vlido para um processo de integrao que se encontre na fase de unio aduaneira, como o caso da totalidade da Unio Europeia, por maio-ria de razo, tambm vlido para os Estados-membros que aderiram unio monetria ou seja, os pases da Zona Euro. A existncia de uma moeda nica constitui-se claramente como uma vantagem, em particular na dimen-so externa. Para o desenvolvimento das trocas intracomu-nitrias seria suciente o desenvolvimento de uma moeda escritural como era o ECU facilitando as transaces entre os Estados-membros. J a criao de uma moeda -duciria, mais que potenciar o desenvolvimento econmico interno, constitui-se como uma verdadeira armao polti-ca, com impacto que ultrapassa as fronteiras da prpria Unio. Aplicando o mesmo princpio que observmos an-teriormente, a participao no projecto da moeda nica tambm mais vantajosa para os Estados mais desenvolvi-dos que para os menos desenvolvidos.

    Actualmente, assistimos a uma falta de regulao das res-ponsabilidades de cada Estado-membro, e do respectivo meio de scalizao. Deste modo, a chanceler alem Ange-la Merkel ao argumentar que os trabalhadores germnicos no se vo reformar aos 67 anos para que os trabalhadores gregos se aposentem aos 55, sendo dogmtica, ilustra o que verdadeiramente est em causa na actual crise nanceira europeia. O euro no est em perigo, seja por abandono dos Estados mais ricos, como a Alemanha, seja por aban-dono dos Estados menos ricos, como a Grcia ou Portugal. O que est claramente em causa , sim, a existncia de um mecanismo de coeso com a denio das responsabili-dades e da forma de monitorizar o seu cumprimento. Esta crise veio demonstrar que o actual mecanismo regulatrio do euro no ecaz, cabendo aos Estados-membros par-ticipantes encontrar uma nova forma de regular as suas relaes. o que j hoje estamos a assistir em Bruxelas.

    O mesmo princpio pragmtico de vantagens versus des-vantagens pode tambm ser aplicado dimenso poltica da Unio, em particular no que concerne poltica exter-na. Desde Maastricht que a Unio reconheceu que as suas relaes externas tm impacto no seu desenvolvimento econmico. No entanto, no possvel falar de poltica externa sem falar de poltica de segurana, motivo pelo qual criou uma Poltica Externa e de Segurana Comum.

    O crescimento econmico para alm das suas fronteiras trouxe a necessidade de coordenar as polticas externas dos seus Estados-membros, seja no mbito da celebra-o de tratados, seja no mbito de negociaes nos fora internacionais, seja mesmo na necessria capacidade de proteco dos seus interesses. Assim, os Estados-membros vericaram que agindo enquanto bloco conseguem ter um maior peso no palco internacional do que agindo separada e individualmente.

    No pretendemos mascarar a realidade e dizer que o actual modelo perfeito e sem falhas. No verdade! Tambm no pretendemos defender que a poltica externa da Unio coerente. Pois, tambm no verdade! Mas vejamos, estar a coerncia presente em toda a poltica externa dos Estados, mesmo dos mais importantes? Ser a poltica externa dos Estados Unidos coerente e ausente de falhas? No queremos advogar que a Unio Europeia um Estado. No entanto, no podemos concordar com uma corrente mais eurocptica, que critica a inecincia e incoerncia da UE com base em modelos concebidos para avaliar um Estado. Esta perspectiva no tem em conta que os Estados-membros optam por coordenar as suas polti-cas externas, no por uma questo de cortesia, mas porque vericam que dessa coordenao advm mais vantagens do que se actuassem isoladamente.

    No nos esqueamos tambm do recente marco histri-co, muito pouco divulgado, que foi a efectivao, em Dezembro ltimo, do Servio de Aco Externa da Unio Europeia. Apenas um ano aps a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a UE conseguiu fundir organismos, encontrar plataformas de entendimento, e efectivar a cria-o de um Servio de Aco Externa. Uma vez mais, no advogamos que o processo foi pacco, nem foi efectuado sem um amplo debate. Podemos ainda apontar uma srie de falhas ao actual servio. Mas est a ser pacca a refor-ma no sistema de sade norte-americano, a qual era uma das maiores bandeiras eleitorais do Presidente Obama? O modelo e a plataforma de entendimento encontrados no tm tambm falhas? Ento, por que somos to duros a avaliar a Unio Europeia?

    Chegamos, por m, questo do aprofundamento em matrias de segurana e defesa. Recordemos que o aprofundamento da poltica externa, e em par-ticular o aprofundamento do instrumento militar, so fruto da necessidade de crescimento econmico proporcionado pela integrao econmica. Mante-

    mos aqui a mesma coerncia na anlise. Ou seja, defende- mos uma maior integrao no mbito da segurana e de-fesa, no por idealismo europeu, mas antes por puro inte-resse permanente dos Estados. Estes, ao aprofundar a sua integrao poltica, e em particular na dimenso externa, sentem necessidade de ter ao seu dispor o instrumento mili-tar. Algumas questes so, no entanto, fceis de observar

    ?????A REALPOLITIK EUROPEIA

    38 Foreign Policy / Edio FP Portugal

    A PARTILHA DE MEIOS (POOLING) CONSTITUI-SE NA FORMA MAIS EFICAZ DE MANTER E AUMENTAR AS CAPACIDADES MILITARES EUROPEIAS

    DREA

    MST

    IME

  • Fevereiro | Maro 2011 39

    e comprovar. Sabemos que actualmente nenhum Estado--membro da UE dispe das necessrias capacidades para de forma autnoma efectuar uma operao militar de grande envergadura, e em todo o espectro das operaes.

    Podemos argumentar que esta falta de capacidades se prende com uma ausncia de ameaas convencionais, e que caso estas se venham a colocar os Estados-membros tero a capacidade de as desenvolver. Para esta anlise, vamos debater trs tendncias geopolticas que marcam a actualidade: (i) a ascenso das potncias asiticas, em par-ticular a China e a ndia; (ii) o incio de um declnio na capacidade norte-americana de interveno a nvel global; e (iii) o envelhecimento demogrco europeu, conjugado com a actual crise nanceira.

    Abordar a ascenso das potncias asiticas, em particu-lar da China e da ndia, hoje incontornvel. Essa sua importncia advm do seu impressionante crescimento econmico, mesmo numa altura de crise internacional. Ao crescimento econmico alia-se uma crescente necessidade energtica, que ser o catalisador para que a ndia e a Chi-na procurem armar-se como potncias globais. A China, em particular, ir continuar a armar o seu poderio militar

    continuando, assim, a sua poltica externa atravs da aquisio de modernos equipamentos e tecnologias milita-res, encontrando-se entre os pases que mais gastos efec-tuaram com a defesa, nas passadas duas dcadas. Este in-vestimento ir transformar a China numa potncia militar de primeira categoria. Na prtica, esta alterao no conti-nente asitico levar a que haja uma mudana da posio geopoltica central do continente europeu para a sia, em especial para o eixo composto pela regio este asitica e o Pacco ocidental. Esta nova realidade geopoltica obri-gar a Europa a ter uma maior capacidade de resolver os seus problemas de uma forma autnoma, obrigando-a a ter a capacidade de interveno global, com os necessrios meios de projeco.

    Outro factor geopoltico incontornvel o incio do de-clnio econmico e militar norte-americano. A este ciclo no ser alheia a sua situao nanceira, nomeadamente o seu dce externo, estimado em 2009 em 1,84 trilies de dlares, ou seja, mais 900 bilies que em 2008, perfazendo 11,2% do PIB. Esta percentagem a mais alta desde 1945. Estima-se que na prxima dcada os Estados Unidos pos-sam acumular 9 trilies de dlares. Este dce tem implica-es claras na desvalorizao da moeda, na capacidade de a prazo sustentar o investimento nas foras armadas e em manter as operaes militares a nvel global. Com estes factores, ser difcil a qualquer Presidente explicar in-ternamente as razes por que se encontra a retirar foras americanas no Iraque e, ao mesmo tempo, a enviar quan-

    A ACTUAL CRISE FINANCEIRA PODER SERVIR COMO UM MOTOR PARA UMA MAIOR INTEGRAO E UM MAIOR DESENVOLVIMENTO DA UNIO EUROPEIA

    DREA

    MST

    IME

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    titativos substanciais para outro qualquer teatro de opera-es. Veja-se a diculdade que o presidente americano tem actualmente em reforar a presena no Afeganisto.

    Este posicionamento americano poder levar a Europa a confrontar-se com a possibilidade de ter de vir a lidar soz-inha com conitos de alta intensidade no Mediterrneo, no Iro, no Cucaso ou na sia Central.

    O terceiro factor geopoltico que apresentamos centra-se no envelhecimento da populao europeia. Esta evoluo demogrca afecta de forma signicativa os encargos com a sade e com as penses, reduzindo deste modo as ver-bas disponveis para outro tipo de investimentos, em par-ticular na rea da segurana e defesa. Esta questo ter tambm um impacto ao nvel da diminuio populacional na Europa, quando comparado com o resto do mundo, reduzindo o universo de recrutamento militar. Tambm a performance econmica, nos prximos anos, ser menor, devido ao aumento dos encargos com a sade e com as reformas, o que ir aumentar ainda mais os dces do sec-tor pblico. Assim, no sendo previsvel um crescimento econmico signicativo no continente europeu, os Esta-dos-membros tero de lidar com estas novas realidades, com menos verbas disponveis.

    O cenrio apresentado no totalmente sombrio. Em conjunto, os Estados-membros encontram-se em segundo lugar no que concerne despesa com as foras armadas, sendo o valor total ainda muito signicativo. Tambm em conjunto, os Estados-membros tm mais militares que os Estados Unidos. O grande problema europeu as vrias duplicaes existentes ao nvel da defesa, as quais criam srias inecincias a todo o sistema. Muitos dos recursos disponveis so assim consumidos por redundncias, sendo necessrio haver a bigger bang for the euro.

    A esta realidade geopoltica junta-se a actual crise nan-ceira, a qual veio pr ainda mais presso sobre os ora-mentos disponveis, em particular ao nvel da defesa. Deste modo, e perante um efectivo corte no oramento, no de estranhar que a Frana e o Reino Unido tenham rmado um acordo no sentido de aproveitar recursos comuns, re-duzindo a despesa e mantendo as capacidades. Reforamos aqui a ideia de que este acordo no foi efectuado devido aliana e amizade existente entre estes dois pases, mas antes assenta na lgica por ns defendida, ou seja, dos in-teresses dos Estados.

    por isso que defendemos a necessidade de a Unio Europeia aprofundar a sua integrao em matrias de se-gurana e defesa. Os Estados-membros devem ter ao seu dispor um conjunto de instrumentos, econmicos, nan-ceiros, polticos e militares, que lhes permitam expandir e exponenciar o seu crescimento econmico.

    Na vertente militar, o que est verdadeiramente em causa no a perda de soberania dos Estados euro-peus. A efectiva falta de capacidades actuais torna j essa soberania formal, algo ilusria, uma vez que os Estados Europeus j no conseguem de forma autnoma projectar o seu poder. O que est em

    causa um dilema que deve ser abordado com a maior urgncia pelos lderes europeus: devemos manter o actual status quo, que nos levar a uma ineccia cada vez maior e a mais perdas de capacidades, fruto da conteno ora-mental, ou devem os Estados-membros aprofundar a sua integrao na rea da segurana e defesa, garantindo uma muito maior eccia a cada euro investido neste mbito?

    Esta realidade h muito que se tornou clara aos olhos dos decisores em Bruxelas. No ser por acaso que o Tratado de Lisboa nos traz a possibilidade de aprofundamento da cooperao em matrias de segurana e defesa, no mbito das Cooperaes Estruturadas Permanentes. A presidncia polaca, no segundo semestre de 2011, anunciou que as suas prioridades focar-se-o na defesa e na segurana energtica, para alm da concorrncia e da reforma das ajudas estru-turais. Como sempre, as matrias no mbito da segurana e defesa devem ser tratadas com cuidado, propondo peque-nos avanos, em vez de transformaes repentinas. Esta a forma de construo e de solidicao da Unio. Neste con-texto, mais que um entrave, a actual crise nanceira poder servir como um motor para uma maior integrao e um maior desenvolvimento da Unio Europeia.

    Conclumos reforando a ideia de que os Estados europe-us no iro aprofundar a sua integrao em matrias de se-gurana e defesa, devido a um ideal superior de uma Europa unida. Nada estaria mais longe da verdade. Inclusivamente, se pudessem, os Estados nunca optariam por uma integrao nesta rea, nem tampouco nas reas diplomticas, polticas, monetrias e econmicas, uma vez que em cada um destes pequenos passos, os Estados cedem e partilham pequenas parcelas de soberania, perdendo objectivamente poder e liberdade de aco ao nvel individual. O motivo pelo qual o zeram at aqui, e o vo continuar a fazer, prende-se com um modelo realista do interesse do Estado, que observa que em conjunto tem muito mais vantagens que se estivesse s. Em particular, na rea da segurana e defesa, a partilha ou pooling de meios constitui-se na forma mais ecaz de manter e aumentar as capacidades militares europeias, es-senciais defesa dos seus interesses derivados do seu cresci-mento econmico. A crise, ao limitar os recursos disponveis para a defesa, apenas ir acelerar o processo.

    ?????A REALPOLITIK EUROPEIA

    A EXISTNCIA DE UMA MOEDA NICA CONSTITUI-SE CLARAMENTE COMO UMA VANTAGEM, EM PARTICULAR NA DIMENSO EXTERNA DREAM

    STIM

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