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Agricultura e floresta parecem coisas incompatíveis: para entrar uma, tem que sair a outra. Mas não precisa ser assim, desde que agricultores e agricultoras este- jam dispostos a observar a nature- za e aprender com ela. Os siste- mas agroflorestais (SAF's), ou simplesmente agroflorestas, podem garantir benefícios que vão desde a mesa das famílias do campo até a qualidade da água nos rios. Observar a floresta, as rela- ções entre plantas e animais que vivem no mesmo ambiente, entender a dinâmica das chuvas e como todos esses fatores externos contribuem para a fertilidade do solo. Baseado nos princípios da floresta, os SAF's são formas de uso e manejo da terra que reúnem em uma mesma área o plantio de culturas agrícolas, árvores frutífe- ras madeireiras e ainda a criação de animais. As agroflorestas Agrofloresta é fonte de alimento e renda para a agricultura familiar Portal da Amazônia Antônio Francimar de Souza Conheça um pouco sobre o jovem que faz a diferença na comunidade Nazaré, em Carlinda. Página 4 JATOBÁ Da casca aos frutos, árvore oferece remédio para quem precisa e alimento para quem deseja. Página 4 Folha 04 n Da -C Ba co de dos I V buscam também melhorar a produção das propriedades, com o uso mais eficientes dos recursos naturais como solo, água e luz solar. Maurício Hoffman, engenheiro agrônomo e especialista em agroflorestas, afirma que implan- tar o sistema é fácil, ajuda a recuperar propriedades com áreas degradadas e ainda tem retorno garantido: “Se você pegar um área que está empobrecida e começar a enriquece-la com fruteiras e outras árvores, você aumenta a produtividade, recupera a área, e tem outros produtos que você pode vender e ganhar até mais dinheiro do que com o gado por hectare”. Numa área aberta na qual é retirada a vegetação, naturalmen- Receita Amazônica Biodiversidade em Cena Portal da Amazônia Ano III - n° XIII - Agosto/2007 - Portal da Amazônia Mato Grosso - Projeto Gestar - www.estacaovida.org.br Folha Um Jornal a serviço do Desenvolvimento sustentável do território Jatobá Hymenaea courbaril L. Agricultor de Nova Guarita inicia manejo em pequena área de agrofloresta te surgem plantas que servem de cicatrizantes para o solo degrada- do. As plantas daninhas, ou inde- sejadas que formam as capoeiras por exemplo, nada mais são que parte da estratégia da natureza para a proteger o solo. Para Maurício, agricultor e agricultora precisam criar novos padrões de olhar para a natureza. “Aceitar, por exemplo, as folhas caídas no chão, a diversidade de plantas. Isso é natural, qualquer lugar que tenha floresta tem essas características. E é isso que faz a harmonia do ambiente. É preciso ter essa experiência de rever seu olhar para a natureza. Olhar a natureza como algo perfeito, sábio, que é fonte de inspiração para sua ação”, acrescenta. Modelos de Agroflorestas Sistema silviagrícola Caracterizado pela combinação de árvores ou arbustos com espécies agrícolas, exemplos: sistemas simples do tipo café/feijão, ou mais complexos como pupunha/cupuaçu/casta- nheira/mogno. Sistema silvipastoril Caracterizado pela combinação de árvores e arbustos com plantas forrageiras para a criação de animais. Exemplo: combinação de pasto com Teca, sendo uma pastagem arborizada. Mas, para Maurício Holfman, agrônomo especialista em Agrofloresta, este modelo de produção não deve ser considerado proveitoso do ponto de vista ambiental. “ Hoje em dia chamam de agrofloresta até pasto com teca e isso do ponto de vista ambiental não tem significado nenhum. Se a gente quer falar em termos de mudança climática, em termos de manter o equilíbrio ambiental, em termos de sustentabilidade, são sistemas biodiversos que resolvem, não é qualquer plantio agroflorestal”, justifica Maurício. Sistema agrosilvipastoril É a utilização do mesmo espaço para a plantação de uma agrofloresta em conjunto com a criação de animais. Maurício explica porque este modelo gera efeitos positivos na produção: “A galinha e o gado são animais da Índia, que vivem em florestas, e eles estão acostumados a comer manga, jaca e folhas de árvores. A alimentação de um boi é 70% folhas de árvores e frutos, e 30% capim, isso quando ele pode escolher. Agora quando ele é cercado por arames com uma dieta de braquiária, para não morrer de fome ele come braquiária. Mas ele gosta muito mais de folhas de árvores e frutos, que engorda mais e dá mais leite”. Árvore encontrada na Amazônia e Mata Atlântica, onde ocorre naturalmente desde o Piauí até o Norte do Paraná. Ocorre com frequência em solos argilosos e pobres. O jatobá é uma árvore grande, com 30 a 40 metros de altura, e possui tronco reto, com cerca de 2 metros de diâmetro e casca espessa de até 3 centímetros. O jatobazeiro floresce durante a estação seca e frutifica depois de 3 a 4 meses. A produção de jatobá varia muito. Uma árvore normalmente não produz frutos todos os anos. Muitas “descansam” em um ano e produzem no outro. Enquanto algumas árvores produzem pouco, outras chegam a produzir até 2 mil frutos. Do jatobá se aproveitam muitos produtos. Sua casca é usada para fazer chá contra gripe, bronquite, cistite, catarro no peito, diarréia, vermes, fraqueza, cólicas, infecções na bexiga e para ajudar na digestão. Além disso, a casca da árvore ou mesmo a casca do fruto pode combater a tosse: é só mastigá-la e chupá-la como se fosse uma bala. Chá contra gripe ou como fortificante: Ferver 3 dedos de casca (20 g) em 1 litro de água por 15 minutos. Tomar 1 copo de chá 3 vezes ao dia. Farinha de Jatobá As propriedades nutricionais da farinha de jatobá são semelhantes às do fubá de milho e maiores do que as da farinha de mandioca. Modo de fazer: Raspe as sementes com uma faca para obter a polpa. Em seguida, soque a polpa no pilão ou bata no liquidificador e peneire. A farinha resultante serve para fazer bolos, biscoitos, pães e licores. Mingau Ingredientes: Leite, polpa, açúcar. Modo de fazer: Retire a polpa amarela do caroço. Em uma panela, misture a polpa e o leite. Adicione açúcar e canela a gosto e leve a mistura ao fogo até engrossar. Sirva quente. Antônio Francimar nasceu e Açaré, no Ceará. Veio com sua família para Carlinda com apenas um ano e meio de idade. Hoje com seus 25 anos, viu a região deixar de ser garimpo para se transformar em um conjunto de comunidades agrícolas. Morador da comunidade Nazaré, Francimar lembra que sua família veio para o norte de Mato Grosso em busca de um sonho: um futuro melhor, com qualidade de vida. “A gente veio na época que era o auge do garimpo do ouro, sem saber nada sobre isso porque éramos agricultores lá no nordeste. Eu me lembro que existia uma motivação muito forte, mas não existia um perfil de sustentabilidade do que seria aquilo, que era simplesmente uma coisa passageira”. Aos poucos a atividade garimpei- ra foi acabando e veio a agricultura. Francimar se recorda das famílias plantando seus alimentos e para ele a região apresentava um perfil de desenvolvimento (o que vc quis dizer com perfil de desenvolvimento?). “Na época em que não tinha energia as pessoas tinham bastante vontade de se visitarem, a gente como criança tinha bastante brincadeiras que hoje se perderam. A gente percebia uma felicidade muito grande em torno de tudo aquilo que existia”, e complementa: “Chegou a energia e com ela os mecanismos de comunicação, a televisão por exem- plo. E tudo isso foi se perdendo. De repente parece que alguma coisa mostrou que existia outro lugar melhor, as pessoas começaram a enxergar outro lugar melhor e começaram também a sair do próprio sítio para a cidade”. A atuação como liderança comu- nitária aflorou no jovem quando ele participou do Projeto Buriti, um curso de formação de jovens mobili- zadores sociais realizado em 2005, mas ele acredita que aprendeu com seus pais a trabalhar pelo bem coletivo. Hoje Francimar faz parte da equipe de monitores do Centro Comunitário de Gestão Ambiental Integrada, financiado pelo PDA/ PAdeq do Ministério do Meio Ambi- ente (MMA) e que abrange seis comunidades de Carlinda. “A gente leva nosso trabalho também para as questões socioam- biental e cultural. A gente se mete em tudo porque queremos que a comunidade esteja inserida num processo participativo, que ela saiba o que quer e o que tem. Que ela saiba de suas fraquezas e suas fortalezas, suas oportunidades e também suas ameaças e é preciso estar organizada de uma forma que possa lidar com essas situações”, acrescenta o agricultor familiar. Francimar é também um agente de leitura em sua comunidade, e cuida de uma Arca das Letras. A Arca é uma biblioteca comunitária pensada e estruturada pela própria comunidade, que decide onde os livros vão ficar e quais livros ela quer ter. Sua casa está sempre aberta para quem está em busca de mais conhecimento através dos livros. “Um Agente de Leitura é um voluntário, um membro que tem o papel de fomentar a leitura dentro da comunidade, e deve estar em contato direto com ela. É um exer- cício de conhecimento e nós somos carentes de leitura nesse país, a gente sabe disso” acrescenta. “É necessário que a gente faça algo mais pela nossa comunidade, pelo nosso planeta, pelo nosso mundo” “O desafio da gente é grande. A gente sonha com um país melhor onde as pessoas tenham direito de ir e vir, que exista uma partilha melhor. Que exista também um comprometimento maior de toda a sociedade.” “A gente é feliz morando aqui no Território Portal da Amazônia, e a gente precisa criar um mecanismo de alternativas sustentáveis aqui.” Ao ser cortada, a árvore derrama uma seiva vermelha que possui alto valor. A seiva pode ser usada como combustível, remédio, verniz vegetal, polimento e impermea- bilizador de canoa. Também tem poder medicinal: serve como tônico, remédio para problemas respiratórios. urinários e como fortificante. Tome cuidado ao extrair a seiva com facão, você pode ferir a árvore. Essa seiva transforma-se em resina (chamada jutaicica) quando entra em contato com o ar. A jutaicica normal- mente é encontrada no pé da árvore, escorrida das “feridas” que os insetos abrem na casca do tronco, ou em forma de bolas que caem de árvores arrebentadas. Essa resina pode ser mastigada para aliviar dores no estômago, pode ser queimada para fazer inalação no caso de resfriados e dores de cabeça, além de ser um ótimo verniz vegetal usado nas louças de barro. A madeira do Jatobá é dura, pesada e com excelente aceitação no mercado. É utilizada na construção civil nas cidades e para fazer canoas. É valorizada por causa da durabilidade - é excelente porque não racha. O fruto pode ser comido naturalmente ou, de sua polpa, faz-se farinha e gemada, usado para aliviar problemas pulmonares. Suas folhas possuem uma substância química chamada terpenoide, que mata fungos e repele as saúvas. Essa substância tem efeitos tóxicos e repelentes nas lagartas. Retirando a casca: Tome cuidado na hora de retirar a casca de jatobá, que se regenera lentamente porque é atacada por insetos (abelhas) que se alimentam de sua resina. Retire a casca com cuidado e em pequenas porções de cada árvore. Você pode conseguir uma quantidade maior de casca se aproveitar aquelas que sobram nas serrarias. Assim, você não precisa estragar uma árvore viva. Antônio Francimar de Souza Perfil Perfil Coordenador: José Alesando Rodrigues [email protected] Redação e Reportagem: Maria Elisa Corrêa Silva (DRT/MS 379) Projeto Gráfico: Robson Quintino de Oliveira Elenor Cecon Júnior Editoração Eletrônica: Elenor Cecon Jr - Editora EGM Jornalista Responsável: Gisele Neuls - (DRT/RS 12874) Tiragem: 4.000 exemplares Endereço: Avenida Ariosto da Riva, nº 3473 - Cento Alta Floresta/MT - (66) 3521 8555 [email protected] Apoio: Projeto Gestar Este jornal é distribuído no território Portal da Amazônia: Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Colíder, Guarantã do Norte, Marcelândia, Matupá, Nova Bandeirantes, Nova Canaã do Norte, Nova Guarita, Nova Monte Verde, Nova Santa Helena, Novo Mundo, Paranaíta, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do Norte. ENTENDA COMO FUNCIONA A DINÂMICA DA FLORESTA Página 3

FPA - AGOSTO - icv.org.br · precisa e alimento para quem deseja. Página 4 Folha 04 Banco de Dados - ICV ... galinha e o gado são animais da Índia, que vivem em florestas, e eles

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Page 1: FPA - AGOSTO - icv.org.br · precisa e alimento para quem deseja. Página 4 Folha 04 Banco de Dados - ICV ... galinha e o gado são animais da Índia, que vivem em florestas, e eles

Agricultura e floresta parecem

coisas incompatíveis: para entrar

uma, tem que sair a outra. Mas

não precisa ser assim, desde que

agricultores e agricultoras este-

jam dispostos a observar a nature-

za e aprender com ela. Os siste-

mas agroflorestais (SAF's), ou

simplesmente agroflorestas,

podem garantir benefícios que vão

desde a mesa das famílias do

campo até a qualidade da água

nos rios.

Observar a floresta, as rela-

ções entre plantas e animais que

vivem no mesmo ambiente,

entender a dinâmica das chuvas e

como todos esses fatores externos

contribuem para a fertilidade do

solo. Baseado nos princípios da

floresta, os SAF's são formas de

uso e manejo da terra que reúnem

em uma mesma área o plantio de

culturas agrícolas, árvores frutífe-

ras madeireiras e ainda a criação

de animais. As agroflorestas

Agrofloresta é fonte de alimento e renda para a agricultura familiar

Portal da Amazônia

Antônio Francimar de Souza

Conheça um pouco sobre o jovem que faz a diferença na comunidade Nazaré, em Carlinda. Página 4

JATOBÁ

Da casca aos frutos, árvore oferece remédio para quem precisa e alimento para quem deseja.

Página 4

Folha

04

n Da - CBa co de dos I V

buscam também melhorar a

produção das propriedades, com o

uso mais eficientes dos recursos

naturais como solo, água e luz

solar.

Maurício Hoffman, engenheiro

agrônomo e especialista em

agroflorestas, afirma que implan-

tar o sistema é fácil, ajuda a

recuperar propriedades com áreas

degradadas e ainda tem retorno

garantido: “Se você pegar um área

que está empobrecida e começar a

enriquece-la com fruteiras e

outras árvores, você aumenta a

produtividade, recupera a área, e

tem outros produtos que você

pode vender e ganhar até mais

dinheiro do que com o gado por

hectare”.

Numa área aberta na qual é

retirada a vegetação, naturalmen-

Receita Amazônica

Biodiversidade em Cena Portal da Amazônia

Ano III - n° XIII - Agosto/2007 - Portal da Amazônia Mato Grosso - Projeto Gestar - www.estacaovida.org.brFolha

Um Jornal a serviço do Desenvolvimento sustentável do território

JatobáHymenaea courbaril L.

Agricultor de Nova Guarita inicia manejo em pequena área de agrofloresta

te surgem plantas que servem de

cicatrizantes para o solo degrada-

do. As plantas daninhas, ou inde-

sejadas que formam as capoeiras

por exemplo, nada mais são que

parte da estratégia da natureza

para a proteger o solo.

Para Maurício, agricultor e

agricultora precisam criar novos

padrões de olhar para a natureza.

“Aceitar, por exemplo, as folhas

caídas no chão, a diversidade de

plantas. Isso é natural, qualquer

lugar que tenha floresta tem essas

características. E é isso que faz a

harmonia do ambiente. É preciso

ter essa experiência de rever seu

olhar para a natureza. Olhar a

natureza como algo perfeito,

sábio, que é fonte de inspiração

para sua ação”, acrescenta.

Modelos de AgroflorestasSistema silviagrícola

Caracterizado pela combinação de árvores ou arbustos com espécies agrícolas, exemplos: sistemas simples do tipo café/feijão, ou mais complexos como pupunha/cupuaçu/casta-nheira/mogno.

Sistema silvipastoril

Caracterizado pela combinação de árvores e arbustos com plantas forrageiras para a criação de animais. Exemplo: combinação de pasto com Teca, sendo uma pastagem arborizada. Mas, para Maurício Holfman, agrônomo especialista em Agrofloresta, este modelo de produção não deve ser considerado proveitoso do ponto de vista ambiental. “ Hoje em dia chamam de agrofloresta até pasto com teca e isso do ponto de vista ambiental não tem significado nenhum. Se a gente quer falar em termos de mudança climática, em termos de manter o equilíbrio ambiental, em termos de sustentabilidade, são sistemas biodiversos que resolvem, não é qualquer plantio agroflorestal”, justifica Maurício.

Sistema agrosilvipastoril

É a utilização do mesmo espaço para a plantação de uma agrofloresta em conjunto com a criação de animais. Maurício explica porque este modelo gera efeitos positivos na produção: “A galinha e o gado são animais da Índia, que vivem em florestas, e eles estão acostumados a comer manga, jaca e folhas de árvores. A alimentação de um boi é 70% folhas de árvores e frutos, e 30% capim, isso quando ele pode escolher. Agora quando ele é cercado por arames com uma dieta de braquiária, para não morrer de fome ele come braquiária. Mas ele gosta muito mais de folhas de árvores e frutos, que engorda mais e dá mais leite”.

Árvore encontrada na Amazônia e Mata Atlântica, onde ocorre naturalmente desde o Piauí até o Norte do Paraná. Ocorre com frequência em solos argilosos e pobres. O jatobá é uma árvore grande, com 30 a 40 metros de altura, e possui tronco reto, com cerca de 2 metros de diâmetro e casca espessa de até 3 centímetros.

O jatobazeiro floresce durante a estação seca e frutifica depois de 3 a 4 meses. A produção de jatobá varia muito. Uma árvore normalmente não produz frutos todos os anos. Muitas “descansam” em um ano e produzem no outro. Enquanto

algumas árvores produzem pouco, outras chegam a produzir até 2 mil frutos.

Do jatobá se aproveitam muitos produtos. Sua casca é usada para fazer chá contra gripe, bronquite, cistite,

catarro no peito, diarréia, vermes, fraqueza, cólicas, infecções na bexiga e

para ajudar na digestão. Além disso, a casca da árvore ou mesmo a casca do fruto pode combater a tosse: é só mastigá-la e chupá-la como se fosse uma bala.

Chá contra gripe ou como fortificante:Ferver 3 dedos de casca (20 g) em 1 litro de água por 15 minutos.Tomar 1 copo de chá 3 vezes ao dia.

Farinha de JatobáAs propriedades nutricionais da farinha de jatobá são semelhantes às do fubá de milho e maiores do que as da farinha de mandioca.Modo de fazer:Raspe as sementes com uma faca para obter a polpa. Em seguida, soque a polpa no pilão ou bata no liquidificador e peneire. A farinha resultante serve para fazer bolos, biscoitos, pães e licores.

MingauIngredientes:Leite, polpa, açúcar.Modo de fazer:Retire a polpa amarela do caroço. Em uma panela, misture a polpa e o leite. Adicione açúcar e canela a gosto e leve a mistura ao fogo até engrossar. Sirva quente.

Antônio Francimar nasceu e Açaré, no Ceará. Veio com sua família para Carlinda com apenas um ano e meio de idade. Hoje com seus 25 anos, viu a região deixar de ser garimpo para se transformar em um conjunto de comunidades agrícolas. Morador da comunidade Nazaré, Francimar lembra que sua família veio para o norte de Mato Grosso em busca de um sonho: um futuro melhor, com qualidade de vida.

“A gente veio na época que era o auge do garimpo do ouro, sem saber nada sobre isso porque éramos agricultores lá no nordeste. Eu me lembro que existia uma motivação muito forte, mas não existia um perfil de sustentabilidade do que seria aquilo, que era simplesmente uma coisa passageira”.

Aos poucos a atividade garimpei-ra foi acabando e veio a agricultura. Francimar se recorda das famílias plantando seus alimentos e para ele a região apresentava um perfil de desenvolvimento (o que vc quis dizer com perfil de desenvolvimento?). “Na época em que não tinha energia as pessoas tinham bastante vontade

de se visitarem, a gente como criança tinha bastante brincadeiras que hoje se perderam. A gente percebia uma felicidade muito grande em torno de tudo aquilo que existia”, e complementa: “Chegou a energia e com ela os mecanismos de comunicação, a televisão por exem-plo. E tudo isso foi se perdendo. De repente parece que alguma coisa mostrou que existia outro lugar melhor, as pessoas começaram a enxergar outro lugar melhor e começaram também a sair do próprio sítio para a cidade”.

A atuação como liderança comu-nitária aflorou no jovem quando ele participou do Projeto Buriti, um curso de formação de jovens mobili-zadores sociais realizado em 2005, mas ele acredita que aprendeu com seus pais a trabalhar pelo bem coletivo. Hoje Francimar faz parte da equipe de monitores do Centro Comunitário de Gestão Ambiental Integrada, financiado pelo PDA/ PAdeq do Ministério do Meio Ambi-ente (MMA) e que abrange seis comunidades de Carlinda.

“A gente leva nosso trabalho

também para as questões socioam-biental e cultural. A gente se mete em tudo porque queremos que a comunidade esteja inserida num processo participativo, que ela saiba o que quer e o que tem. Que ela saiba de suas fraquezas e suas fortalezas, suas oportunidades e também suas ameaças e é preciso estar organizada de uma forma que possa lidar com essas situações”, acrescenta o agricultor familiar.

Francimar é também um agente de leitura em sua comunidade, e cuida de uma Arca das Letras. A Arca é uma biblioteca comunitária pensada e estruturada pela própria comunidade, que decide onde os livros vão ficar e quais livros ela quer ter. Sua casa está sempre aberta para quem está em busca de mais conhecimento através dos livros. “Um Agente de Leitura é um voluntário, um membro que tem o papel de fomentar a leitura dentro da comunidade, e deve estar em contato direto com ela. É um exer-cício de conhecimento e nós somos carentes de leitura nesse país, a gente sabe disso” acrescenta.

“É necessário que a gente faça algo mais pela nossa comunidade, pelo nosso planeta, pelo nosso mundo”

“O desafio da gente é grande. A gente sonha com um país melhor onde as pessoas tenham direito de ir e vir, que exista uma partilha melhor. Que exista também um comprometimento maior de toda a sociedade.”

“A gente é feliz morando aqui no Território Portal da Amazônia, e a gente precisa criar um mecanismo de alternativas sustentáveis aqui.”

Ao ser cortada, a árvore derrama uma seiva vermelha que

possui alto valor. A seiva pode ser usada como combustível, remédio, verniz vegetal, polimento e impermea-bilizador de canoa. Também tem poder medicinal: serve como tônico, remédio para problemas respiratórios. urinários e como fortificante. Tome cuidado ao extrair a seiva com facão, você pode ferir a árvore.

Essa seiva transforma-se em resina (chamada jutaicica) quando entra em contato com o ar. A jutaicica normal-mente é encontrada no pé da árvore, escorrida das “feridas” que os insetos abrem na casca do tronco, ou em forma de bolas que caem de árvores arrebentadas. Essa resina pode ser mastigada para aliviar dores no estômago, pode ser queimada para fazer inalação no caso de resfriados e dores de cabeça, além de ser um ótimo verniz vegetal usado nas louças de barro.

A madeira do Jatobá é dura, pesada e com excelente aceitação no mercado. É utilizada na construção civil nas cidades e para fazer canoas. É valorizada por causa da durabilidade - é excelente porque não racha. O fruto pode ser comido naturalmente ou, de sua polpa, faz-se farinha e gemada, usado para aliviar problemas pulmonares. Suas folhas possuem uma substância química chamada terpenoide, que mata fungos e repele as saúvas. Essa substância tem efeitos tóxicos e repelentes nas lagartas.

Retirando a casca:Tome cuidado na hora de retirar a

casca de jatobá, que se regenera lentamente porque é atacada por insetos (abelhas) que se alimentam de sua resina. Retire a casca com cuidado e em pequenas porções de cada árvore. Você pode conseguir uma quantidade maior de casca se aproveitar aquelas que sobram nas serrarias. Assim, você não precisa estragar uma árvore viva.

Antônio Francimar de Souza

PerfilPerfil

Coordenador:José Alesando [email protected]

Redação e Reportagem:Maria Elisa Corrêa Silva (DRT/MS 379) Projeto Gráfico:Robson Quintino de OliveiraElenor Cecon Júnior

Editoração Eletrônica:Elenor Cecon Jr - Editora EGM

Jornalista Responsável:Gisele Neuls - (DRT/RS 12874)

Tiragem:4.000 exemplares

Endereço:Avenida Ariosto da Riva, nº 3473 - CentoAlta Floresta/MT - (66) 3521 [email protected]

Apoio:

Projeto GestarEste jornal é distribuído no território Portal da Amazônia: Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Colíder, Guarantã do Norte, Marcelândia, Matupá, Nova Bandeirantes, Nova Canaã do Norte, Nova Guarita, Nova Monte Verde, Nova Santa Helena, Novo Mundo, Paranaíta, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do Norte.

ENTENDA COMO FUNCIONA A DINÂMICA DA

FLORESTA

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FolhaPortal da Amazônia

IMPLANTANDO UMA AGROFLORESTAPara desenvolver uma agricultura sustentável é preciso respeitar e

conservar as características da vegetação nativa, no nosso caso a floresta

amazônica, além de preservar as nascentes e matas ciliares. A sustenta-

bilidade do sistema de produção pode ser medida pela sua capacidade de

permanecer ativo ao longo dos anos. Assim, as monocultura são menos

sustentáveis, porque favorecem a superpopulação de insetos e doenças –

as conhecidas pragas das lavouras e do gado. E podem colocar os agricul-

tores em situação de risco conforme as demandas do mercado: se você

planta apenas uma espécie na propriedade e o preço dela cai no mercado,

você perde renda.

A implantação de uma Agrofloresta é feita com o que o agricultor e a

agricultora encontram em sua propriedade. De acordo com Maurício, o

mais importante é ter disposição para aprender algumas técnicas e come-

çar a praticar em uma área pequena, mais próxima de casa. Assim fica

mais fácil fazer o acompanhamento, observar a sucessão natural entre as

diferentes plantas ao longo do tempo e aprender quais delas convivem

bem em um mesmo ambiente e quais prejudicam umas às outras.

“Para o agricultor é uma dádiva se tornar independente. Nesse siste-

ma ele não precisa de nada além dele, das ferramentas que possui e

saber como quer produzir. Se você não precisa de adubos, de agrotóxicos

e nem de maquinário, então você só precisa de você mesmo, uma enxa-

da, um facão e colher sementes”, e completa Maurício, “Você pode enri-

quecer uma capoeira para virar uma floresta melhor, ou pegar uma pasta-

gem degradada e fazer virar agrofloresta”.

O agrônomo ainda traz uma novidade na técnica de plantio de árvo-

res. Geralmente se escolhe plantar mudas para fazer um pomar, mas o

custo dessas mudas pode ficar alto, se considerarmos o investimento

desde o viveiro até a propriedade – incluindo as perdas pelas plantinhas

que não vingam. Maurício Hoffman vem utilizando a técnica do plantio de

sementes, em vez de mudas. “Isso faz baixar custo e aumentar a eficiên-

cia técnica do plantio. Você consegue botar mais mudas em um metro

quadrado por um preço menor”.

Maurício sugere que todas as espécies escolhidas para comporem a

agrofloresta sejam plantadas de uma só vez, com a técnica chamada

muvuca de sementes. A técnica, que consiste na mistura de todas as

sementes, imita o que ocorre espontâneamente na natureza. Semeadas

ao mesmo tempo e juntas, as espécies germinam e assim começa a coo-

peração entre elas para que a floresta cresça em equilíbrio.

As plantas em uma agrofloresta encontram todos os nutrientes que

precisam dentro do próprio sistema. A adubação é feita com a matéria

orgânica das próprias plantas (ex: folhas secas, galhos podados e fru-

tos).,Além disso, as plantas em consórcio também trazem o equilíbrio da

luz, da temperatura e da umidade, necessários para uma boa produção.

“Como a pessoa não usa insumos a adubação vem da poda, existem

plantas nesse sistema que estão nele apenas para serem podadas e com

isso adubarem o chão”, acrescenta Maurício.

Durante a implantação e os primeiros anos, as agroflorestas exigem

bastante mão-de-obra, que é responsável pelo seu desenvolvimento

rápido. Os cuidados com as podas e o monitoramento do crescimento das

plantas tem que ser permanente. Cabe ao agricultor observar se uma

planta cresceu demais e está impedindo outras de crescerem, fazer as

podas e adubar a terra com o material coletado na própria agrofloresta.

“O manejo é fundamental, ele é que faz o sistema evoluir rápido e

produzir bastante. Se você simplesmente pega uma área abandonada ou

que não seja abandonada, só com braquiária, uma pastagem degradada

ou uma área de lavoura e implanta uma agrofloresta sem manejo, daqui

cem anos você vai ter uma floresta. Agora se você manejar, ela vai produ-

zir muito nos primeiros anos e em seis anos você já tem uma floresta”,

explica o agrônomo.

Para Camila Horiye, engenheira florestal, é

preciso entender como as florestas funcionam. “

Você precisa ficar adubando e regando a floresta?

Como é que ela faz isso sozinha? Como é sua

manutenção ao longo do tempo? E a partir daí

tentar aprender. Se ela ensina como manter o solo

melhor, porque que eu não vou aprender?”, diz

Camila.

Em uma floresta, as plantas e animais vivem

em harmonia e seu conjunto funciona como o

corpo humano, no qual todos os órgãos estão em

estreita relação. Esses princípios são, em desta-

que, a diversidade de espécies em uma mesma

área e a cooperação entre elas na sucessão natu-

ral. Em termos práticos, algumas plantas prepa-

ram o ambiente para que outras plantas mais

fortes e exigentes possam nascer e sobreviver

naquele meio.

Característica marcante da floresta amazôni-

ca, a biodiversidade se deve às condições favorá-

veis para o surgimento de inúmeras formas de

vida. Essa diversidade de plantas e animais dá

estabilidade à floresta. Um exemplo disso é o

papel das pragas e doenças, aqui chamado de

controle biológico, que transformam a matéria

orgânica, melhorando o solo e fazendo a poda

natural das plantas. Isso se deve pelo equilíbrio

entre todos os organismos vivos, plantas, animais,

insetos, microorganismos, fungos, bactérias, etc.

Ao contrário do que acontece em áreas des-

matadas, a fertilidade encontrada no solo das

florestas nativas nunca se perde, e sim aumenta e

se renova. Existe uma cobertura grossa de matéria

orgânica que serve de adubo para as plantas. Em

uma floresta as raízes das árvores estão em dife-

rentes profundidades, fazendo com que haja um

equilíbrio na distribuição de nutrientes. A vegeta-

ção densa assegura que não sequem as reservas

de água e que o solo permaneça sempre úmido.

Essa umidade garante também a proteção contra

incêndios.

Nas florestas existe a sucessão natural, uma

forma de relação entre as plantas. Ela é a prepara-

ção das condições do ambiente feita por algumas

espécies para que outras, mais exigentes e dura-

douras possam germinar e viver. Existem espécies

que crescem rapidamente, a pleno sol – são as

chamadas espécies pioneiras. Há aquelas que

crescem mais devagar mesmo no sol, aquelas que

crescem devagar e necessitam de sombra quando

jovens, que são conhecidas como secundárias, e

há também as que vivem sempre na sombra,

chamadas climax ou não-pioneiras.

E porque ter uma agrofloresta no sítio é um bom negócio? E porque ter uma agrofloresta no sítio é um bom negócio?

* aumenta a variedade de frutas, legumes, verduras e sementes na mesa,

proporcionando uma alimentação mais rica e saudável e diminuindo os custos com

mercado;

* o custo de implantação e a manutenção são de acordo com a realidade da família;

* recupera a capacidade produtiva do solo;

* melhora a alimentação dos animais da propriedade;

* com o tempo e planejamento pode gerar e garantir renda (pela diversificação de

produtos);

* torna o trabalho na roça mais confortável e prazeroso, pela sombra e o clima;

* recuperam áreas degradadas e contribuem para a proteção do ambiente;

* traz de volta os animais silvestres para perto de casa, quem não gosta de acordar com

o canto dos pássaros?;

* melhora a qualidade da água dos rios e córregos, uma vez que as árvores e arbustos

funcionam como filtro e esponja: filtram os resíduos das chuvas não deixando que

corram para os cursos d'água, o que impede o assoreamento e a erosão; e como

esponja porque capturam água na estação chuvosa e liberam parte dessa água

capturada quando há seca.

Princípios da Floresta

Todas as espécies são plantadas juntas, mas pela dinâmica da natureza, cada planta germinará em seu tempo, e diferentes espécies irão predominar ao longo dos anos.

Sucessão Natural

De 3 a 4 meses surgem as primeiras plantas do sistema, as chamadas pioneiras. Exemplo: milho, feijão-gandu, arroz, verduras e abóbora.

Dentro de 1 ano e 6 meses predominam as plantas com ciclo de vida curto. Exemplo: mandioca, abacaxi, mamão, banana da terra, inhame.

Até 4 ou 5 anos predominam as plantas de ciclo médio. Exemplo: Banana prata, café, últimos abacaxis e primeiras pupunhas e espécies de árvores madeiráveis para o fim do ciclo.

De 15 a 18 anos em diante. Surgimento das plantas com ciclo de vida longos e consolidação da floresta. Exemplo: Cupuaçú, açaí, café, pupunha, cacau, castanheira, seringueira, bacaba, manga, árvores de resina e madeiraveis.

Primeira Etapa Segunda Etapa Terceira Etapa Quarta Etapa