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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social Antropologia da Arte – ANT 3153004 Profº Dr. Rafael José de Menezes Bastos Resenha Aluno: Rafael Mondini Bueno Matrícula: 201500256 – FRANZONI, Tereza M. 2012. "Artes cênicas e antropologia: um diálogo a partir das manifestações populares de caráter dramático", In DA Pesquisa 9: 51-63. Este texto, de caráter revisional, se inicia afirmando que os chamados “folguedos” e as manifestações públicas com um aspecto espetacular foram estudados pela antropologia no Brasil e se tornaram os precursores de uma tentativa de integração entre a antropologia e os estudos teatrais acadêmicos, ainda que muitos de seus autores, tais quais os folcloristas, não intencionavam tal coisa quando conceberam suas pesquisas. No entanto, com o passar dos anos e a tomada de importância destes temas para antropologia, assim como a consolidação dos estudos acadêmicos em artes cênicas, as duas áreas foram paulatinamente se aproximando, ainda que o panorama atual seja de uma produção incipiente na etnocenologia. Com isso em mente, a autora determina que o objeto do trabalho é entender a maneira como as duas áreas têm colaborado entre si na atualidade. Com o advento do conceito de cultura imaterial, e suas consequentes políticas públicas de salvaguarda de patrimônio imaterial, a divisa que existia entre as artes cênicas e a antropologia sofreu uma grande redução, resultando numa interdisciplinaridade que permitiu que ambas as áreas compartilhassem propostas teóricas, tal qual a proposta dos estudos sobre a performance e a antropologia da performance. Outro fator que teve um impacto local sobre a produção de uma etnocenologia à brasileira foi a consolidação da produção acadêmica nacional acerca das artes cênicas, o que deu oportunidade para que se iniciasse o trânsito de pesquisadores da antropologia para as artes cênicas e vice-versa. No entanto, ainda

FRANZONI - Artes Cênicas e Antropologia - Resenha

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Page 1: FRANZONI - Artes Cênicas e Antropologia - Resenha

Universidade Federal de Santa CatarinaCentro de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Antropologia SocialAntropologia da Arte – ANT 3153004

Profº Dr. Rafael José de Menezes Bastos

Resenha

Aluno: Rafael Mondini BuenoMatrícula: 201500256

– FRANZONI, Tereza M. 2012. "Artes cênicas e antropologia: um diálogo a partir das manifestações populares de caráter dramático", In DA Pesquisa 9: 51-63.

Este texto, de caráter revisional, se inicia afirmando que os chamados “folguedos” e as manifestações públicas com um aspecto espetacular foram estudados pela antropologia no Brasil e se tornaram os precursores de uma tentativa de integração entre a antropologia e os estudos teatrais acadêmicos, ainda que muitos de seus autores, tais quais os folcloristas, não intencionavam tal coisa quando conceberam suas pesquisas. No entanto, com o passar dos anos e a tomada de importância destes temas para antropologia, assim como a consolidação dos estudos acadêmicos em artes cênicas, as duas áreas foram paulatinamente se aproximando, ainda que o panorama atual seja de uma produção incipiente na etnocenologia. Com isso em mente, a autora determina que o objeto do trabalho é entender a maneira como as duas áreas têm colaborado entre si na atualidade.

Com o advento do conceito de cultura imaterial, e suas consequentes políticas públicas de salvaguarda de patrimônio imaterial, a divisa que existia entre as artes cênicas e a antropologia sofreu uma grande redução, resultando numa interdisciplinaridade que permitiu que ambas as áreas compartilhassem propostas teóricas, tal qual a proposta dos estudos sobre a performance e a antropologia da performance. Outro fator que teve um impacto local sobre a produção de uma etnocenologia à brasileira foi a consolidação da produção acadêmica nacional acerca das artes cênicas, o que deu oportunidade para que se iniciasse o trânsito de pesquisadores da antropologia para as artes cênicas e vice-versa. No entanto, ainda que exista esse contato, os estudos resultantes deles ainda são incipientes, mas um aumento de volume tanto de contato quanto de produção entre as áreas refinaria os debates propostos em ambos os campos e permitiria que políticas públicas mais esclarecidas fossem criadas.

Sendo assim, a autora propõe delinear os pressupostos teóricos que vêm influenciando o pessoal de pesquisa deste campo voraz por interdisciplinaridade. O primeiro destes pressupostos, oriundo de Geertz e que defende que as manifestações populares de caráter espetacular podem ser consideradas como meios de expressão da vida coletiva, me soa um pouco tal qual a efervescência coletiva de Durkheim nas Formas Elementares (1996). As perguntas provocadas por essa noção foram adotadas e ampliadas por uma série de outros investigadores americanos até os dias de hoje.

O pressuposto seguinte é aquele das manifestações de aspecto espetacular como espaços de sociabilidade (entendida de acordo com o

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conceito de Simmel), de intensa produção social e de criatividade. Essa perspectiva tende a focar-se no aspecto de quebra de (algumas) hierarquias no universo dos fenômenos dramáticos, que por serem espaços utópicos, já que intencionam não refletir o que a realidade propõe, permitem a emergência de formas muito particulares e impactantes de criatividade, fazendo a ponte entre a subjetividade e a cultura. A terceira proposta teórica que a autora nos brinda é a que observa manifestações dramáticas como “mecanismos de reconhecimento e promoção de determinados coletivos” (p. 58), a respeito da qual não se delonga além de mencionar algumas obras que adotam esse ponto de vista. Ao fim, Franzoni afirma que outras propostas oriundas da antropologia vêm influenciando na criação de novos campos, como a antropologia da performance e os estudos de patrimônio.

Levando-se em conta que a proposta do texto me parece ser a de fazer um panorama das zonas de contato entre antropologia e artes cênicas, afim de introduzir leitores oriundos de uma audiência das artes cênicas ao assunto, acredito que os pontos defendidos por Franzoni são transmitidos de uma maneira acessível o suficiente para informar os que não pretendem enveredar por este campo, além de dar um subsídio inicial aos interessados pela área.

Referências

DURKHEIM, Emile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.