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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
E DO MEIO AMBIENTE
GIANELLI BARBOSA RODRIGUES
DIREITO E SAÚDE: DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTOS JURÍDICOS AOS
PROFISSIONAIS DA ÁREA MÉDICA
VOLTA REDONDA 2015
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
E DO MEIO AMBIENTE
DIREITO E SAÚDE: DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTOS JURÍDICOS AOS
PROFISSIONAIS DA ÁREA MÉDICA
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional em Ensino em
Ciências da Saúde e do Meio Ambiente
do UniFOA como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Mestre.
Aluna: Gianelli Barbosa Rodrigues
Orientador: Prof. Dr. Júlio Cesar Soares
Aragão
VOLTA REDONDA 2015
FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316
R696d Rodrigues, Gianelli Barbosa. Direito e saúde: disseminação de conhecimentos jurídicos aos
profissionais da área médica. / Gianelli Barbosa Rodrigues. - Volta Redonda: UniFOA, 2015.
56 p. : Il
Dissertação (Mestrado) - UniFOA / Mestrado Profissional em Ensino
em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2015. 1. Direito à saúde – dissertação . 2. Formação médica. 3. Ensino
jurídico. I. Centro Universitário de Volta Redonda. II. Título.
CDD – 344.02
Dedico ao meu pai Fernando in
memoriam por mostrar que eu tenho asas,
a minha mãe Glória por lembrar que eu
tenho raízes e ao meu irmão Gianni por
desejar que eu as equilibre.
Agradeço a Julio César Aragão, meu
querido orientador, pela confiança em
mim depositada e por ser modelo de
profissional, professor e pesquisador. Aos
professores Carlos Alberto Sanches,
Maria da Conceição Vinciprova e Sylvia
Alves Cibreiros, pelas sugestões e
conselhos profícuos. Ao amigo Carlos
José Pacheco pelo incentivo e
generosidade em compartilhar livros,
materiais e artigos. Aos amigos de
jornada Marcelo Haddad, Marise Baptista,
Úrsula Fraga Amorim, Daniel Jordão,
Cláudia Robert, Cora Haigino e Junya
Barletta pelo bem-querer. A amiga Ana
Paula Zarur pelo carinho e diagramação
do Manual (produto desse mestrado). Ao
meu companheiro Victor Gabriel pelo
exemplo, amor e parceria.
RESUMO
Esta dissertação busca demonstrar a importância de noções jurídicas aos
profissionais médicos, traçando uma interdisciplinaridade entre Direito e Medicina.
Através de uma breve síntese do histórico legislativo do ensino da saúde em nosso
país e da observância da evolução na concepção da saúde, constatamos que o
comportamento entre os sujeitos da relação médico/paciente alterou-se
sobremaneira. Antes dava-se de forma vertical, porém com o advento da
Constituição de 1988, que alçou a saúde ao patamar de direito fundamental e
acessível à todos, esse comportamento começou a ganhar formatação horizontal. O
paciente possui mais autonomia e é recepcionado como consumidor desse direito
social e inafastável. Assim, o produto dessa dissertação é um manual com
conhecimentos jurídicos voltado aos profissionais da área médica. A necessidade de
disseminação de conhecimentos na área jurídica tem o escopo de ampliar a
capacitação desses profissionais ao exercício racional e jurídico de seu ofício,
propiciando atuações planejadas por parte do médico de forma a lastreá-lo frente às
implicâncias jurídicas e legais.
Palavras-chave: Direito à saúde; formação médica; ensino jurídico.
ABSTRACT
This work intends to demonstrate the importance of legal concepts to medical,
drawing a interdisciplinarity between law and medicine. Through a summary of the
legislative history of health in Brazil and the observance of the evolution of legal
concept of health. It was found that the behavior of the medical/patient relationship
has changed. That relationship was vertical before the Constitution of October 5,
1988, that enforces the fundamental right to health accessible to all. After that, the
professional-patient relationship has changed to horizontal format, patients have
more autonomy and are seen as consumers of this social right to health care. The
dissertation’s product is a manual with legal knowledge geared to medical
professionals. Therefore, the spread of knowledge in Law aims to support the training
of health care medical so that they will act ballasted before in legal implications.
Keywords: the Right to health; medical training; legal education.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9
2 A PERTINÊNCIA DA EDUCAÇÃO JURÍDICA NA FORMAÇÃO DOS MÉDICOS ......................................................................................................... 12
3 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA SAÚDE .................................................... 14
3.1 Um breve histórico legislativo acerca do ensino da saúde em nosso país .......................................................................................................................... 15
4 APRENDENDO O DIREITO PARA UMA MEDICINA MELHOR ...................... 25
5 O DIREITO À SAÚDE ...................................................................................... 30
6 A CONSTITUIÇÃO E A SAÚDE POLITIZADA ................................................ 33
7 UM NOVO RAMO DO DIREITO: O DIREITO MÉDICO ................................... 35
8 O PRODUTO DA DISSERTAÇÃO, JUSTIFICATIVA, MÉTODOS E OBJETIVOS ..................................................................................................... 38
8.1 Justificativa para o Ensino do Direito aos profissionais da área médica .. 38
8.2 Método ............................................................................................................. 43
8.3 Objetivos do Produto ..................................................................................... 45
8.4 A Educação como forma de intervenção no mundo ................................... 48
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 52
9
1 INTRODUÇÃO
Aprender é antes de mais nada se transformar, é mudar de forma substantiva
a condução de nossas habilidades e competências, principalmente quando o campo
a ser explorado é novo, o que sugere uma quebra de paradigmas e a inafastável
tomada de consciência frente à nossa inserção no meio social em que vivemos e na
condução do nosso atuar enquanto profissionais.
Há uma grande conexão entre Direito e a Medicina pela ótica dos sujeitos
envolvidos nesses dois campos e suas aspirações. No Direito, busca-se a
pacificação social mediante a composição de conflitos, culminando num desfecho
que seja aceito e acatado, voluntariamente, pelas partes envolvidas. Na Medicina,
busca-se a pacificação pessoal através do manejo de recursos técnicos que tragam
ao paciente a cura ou a sobrevida digna. Em ambos, a grosso modo, vemos que o
interesse é fornecer ao individuo certo tipo de conforto, de amparo, para que a vida
tome seu rumo de forma razoável dentro dos liames do normal.
Tanto o ensino do Direito como o da Medicina sofrem do mesmo dilema: o
que se aprende de forma asséptica nas universidades e cursos de especialização
precisa ser aprimorado através das experiências vividas diariamente no exercício
profissional com seus mais comuns dramas, principalmente naqueles que envolvem
as pessoas e seu bem maior: a vida.
Ao conceber a saúde como um produto ou mesmo como um direito garantido,
cria-se uma falsa expectativa na população de que todos os seus males estarão
resolvidos. Portanto, chega um momento em que a união se faz presente, pois um
profissional médico com conhecimentos jurídicos atuará de forma mais próxima à
realidade onde encontramos uma sociedade informada e preocupada com seus
direitos.
Muitos acreditam que o Direito é apenas um repositório de regras, normas,
obrigações e proibições. Porém o Direito vai mais além, ao conceber a complexidade
que envolve as relações pessoais e sociais de um povo através de sua história, sua
experiência e sua cultura, onde a necessidade de regramento e controle possa
proporcionar a tão almejada pacificação social.
10
Da outra ponta, a atuação dos médicos extrapola a parte clínica e
medicamentosa ao trazer consequências diretas que influenciarão a vida dos
pacientes, seja de forma física ou também psicológica, por relacionar-se
umbilicalmente com os desejos, medos e fragilidades de qualquer ser humano frente
à aspiração de uma vida saudável.
Na prática, a interseção entre Direito e Medicina ocorre nas variadas
demandas jurídicas em que os pacientes insatisfeitos com a atuação médica
recorrem ao Poder Judiciário visando uma compensação pecuniária pelos danos
sofridos. Se os médicos detivessem conhecimentos jurídicos, certamente, boa parte
dessas ações não seria distribuída.
Assim, aqueles que atuam nos diversos espaços atinentes à saúde humana
como Médicos em geral, necessitam hoje de conhecimentos também jurídicos que
venham a nortear suas condutas, seja nos consultórios particulares como em
ambulatórios, hospitais públicos ou privados.
Paulo Freire, na sua obra Pedagogia da autonomia, propõe uma mudança de
atitude, de modo que o educador, além de atuar em sala de aula como professor de
disciplinas acadêmicas, possa conscientizar, orientar e preparar seus alunos para a
vida, guiando-os sempre para os caminhos corretos, capazes de fazer desses
alunos, no futuro, verdadeiros cidadãos com senso crítico, munidos de inteligência e
valores (FREIRE, 1996).
Essa tomada de consciência acerca da inserção do Direito na formação
Médica mostra uma realidade imutável: a atuação Médica também necessita do
lastro jurídico para o seu bom desempenho prático.
Assim, como resultado dessa dissertação de Mestrado Profissional, foi
elaborado um Manual visando compartilhar informações técnico-jurídicas conexas à
atuação médica, de forma a municiá-los juridicamente para o exercício de seu mister
diário e tangenciá-los sobre como proceder frente ao atual paciente travestido de
consumidor e receptor do chamado direito à saúde.
O ensino é o instrumento mais potente de transformação social e individual,
pois exige a apreensão e análise crítica da realidade através da nossa tomada de
11
consciência. A conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera
espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na
qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma
posição epistemológica. Através da conscientização temos um teste de realidade
Quanto mais conscientização, mais se “desvela” a realidade, mais se penetra na
essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para analisá-lo
(FREIRE, 1979).
A interdisciplinaridade entre medicina e direito, ganha relevância na formação
do profissional que irá lidar com a saúde do próximo, o que justifica a produção
desse Manual, que traz dentre outros assuntos: direitos dos pacientes como
consentimento informado e sigilo médico, documentos gerados pelos médicos,
responsabilidade dos médicos e hospitais, judicialização da saúde e análises de
casos concretos julgados pelo Tribunal de Justiça. Todas essas expertises
envolvem, necessariamente, um lastro jurídico, uma vez que hoje, a saúde é um
direito e todo o paciente é o sujeito desse direito. Portanto, o Manual com Noções
Jurídicas aos profissionais da área médica propugna por uma tomada de
consciência, tanto no processo de formação do profissional como no seu exercício
diário ao clinicar.
12
2 A PERTINÊNCIA DA EDUCAÇÃO JURÍDICA NA FORMAÇÃO DOS MÉDICOS
Hoje, a relação entre o profissional que atua na área médica e seu paciente,
vista pela ótica jurídica, é um vínculo estabelecido entre fornecedor de um serviço e
consumidor desse serviço. Como o médico possui formação, teórica, técnica, know
how e expertises, a lei irá olhar para o paciente como vulnerável ou, tecnicamente
falando, como um hipossuficiente, em razão da sua ignorância acerca da ciência
médica. Como conseqüência, esse consumidor terá uma gama de proteções e
benefícios no caso de algum dano ocorrido em decorrência do serviço prestado por
esse profissional (FRANÇA, 2010).
O Direito e as obrigações que advém da relação particular entre profissional
da área médica e o paciente, dos vínculos que se estabelecem entre estes e o
Sistema Único e o Complementar de Saúde, favorecem o surgimento de disciplinas,
cursos e manuais que possam focalizar reflexivamente os temas controversos na
intersecção Medicina-Direito.
A graduação médica necessita de uma ferramenta que coloque o profissional
em contato com a realidade jurídica visando afastá-lo e prepará-lo a enfrentar as
variadas demandas judiciais que acometem sua classe (POLICASTRO, 2013).
Rego e Agati reconhecem a medicina como uma das ocupações que mais
cedo se organizou como profissão e, juntamente com a advocacia, o sacerdócio e a
profissão militar, é um modelo para todas as demais que até hoje buscam se
organizar. O ideal de serviço confere aos profissionais grande responsabilidade: a
de tomar decisões voltadas ao maior interesse do paciente. Esta virtude proposta é
também um ônus, pois confere ao profissional a responsabilidade e as
consequências morais de sua decisão, sejam elas boas ou más:
A era moderna, também chamada por Norberto Bobbio de “a Era dos Direitos”, caracterizou-se também pelo surgimento da medicina científica, que levou à sua profissionalização desde o final do século XIX em diferentes regiões do mundo. Mas é a partir de meados do século XX, com o grande desenvolvimento das biotecnociências, que grandes desafios se apresentam aos profissionais de saúde e de forma muito particular aos médicos, por sua inserção no processo de trabalho em saúde. Se até então a moral médica codificada era suficiente para resolver os problemas oriundos da prática médica, a partir da segunda metade do século as transformações culturais ocorridas no mundo ocidental tornaram a assistência à saúde um processo mais complexo. Esta revolução na terapêutica e nos meios diagnósticos trouxe novos questionamentos
13
relacionados a esta prática profissional. Associe-se a isso o reconhecimento de direitos individuais e sociais referentes à saúde (REGO; AGATI et al, 2011, p. 114).
Ainda segundo esses autores, o processo de trabalho em saúde transformou-
se então em definitivo. O médico que carregava em sua maleta todos os seus
instrumentos de trabalho deixou de existir. O trabalho em saúde tornou-se um
trabalho de equipe, e os instrumentos de trabalho passaram a ser mais bem
representados pelas unidades hospitalares. O paciente, antes passivo e submisso
na relação médico-paciente, é hoje cada vez mais sujeito de sua própria vida e
reconhecido como titular de inúmeros direitos relacionados a essa sua condição.
Não é à toa que em tantas ocasiões passe a ser chamado de cliente ou usuário. Sua
condição tira o foco da relação de tratamento/cuidado, e a relação econômica passa
a ganhar relevância, seja no setor privado, seja no público (REGO; AGATI, 2011).
A Constituição de 88 alçou o Direito à Saúde à classe dos Direitos Sociais,
alicerçou-o na justiça distributiva e da organização da solidariedade entre os
cidadãos, com a máxima: “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”.
Dessa forma, sugiram várias discussões doutrinárias, jurisprudenciais e legislativas,
envolvendo conflitos éticos, bioéticos e jurídicos na seara desse Direito Social. Como
a discussão é dinâmica, exige-se uma atualização permanente por parte de todos
profissionais que atuam na área da Saúde (BRASIL, 1988).
Torna-se mister analisarmos a importância da educação em saúde para
vislumbrarmos sua ampliação de forma a alcançar também determinadas noções
jurídicas e de direito àqueles que optaram em formar-se em medicina.
14
3 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA SAÚDE
De acordo com o Ministério da Saúde, na Cartilha O SUS de A a Z, o
processo educativo de construção de conhecimentos em saúde objetiva a
apropriação da temática pela população, tornando-se um conjunto de práticas do
setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado, a fim
de alcançar uma atenção de acordo com suas necessidades (BRASIL, 2005).
Essa construção de conhecimento potencializa o exercício do controle social
sobre as políticas e os serviços de saúde para que esses respondam às
necessidades da população. Assim, as ações educativas têm como objetivo
promover na sociedade a inclusão social e a promoção da autonomia das
populações na participação em saúde (BRASIL, 2005).
Busca-se, através de divulgação de conhecimentos, uma autonomia que
coloque o cidadão numa posição ativa, onde ele possa estar ciente do que deve
fazer para alcançar os recursos disponíveis pelo poder público, mas também que
existe uma carga de responsabilidade particular e pessoal para garantir seu próprio
bem estar.
Segundo Silvain Nahum Levy, a educação em saúde objetiva “encorajar as
pessoas a adotar e manter padrões de vida saudáveis, tomar suas próprias
decisões, tanto individual como coletivamente, visando melhorar suas condições de
saúde e as do meio em que vive” (LEVY, 1997).
Esse processo educativo de construção de conhecimentos em saúde expõe
um lado muito positivo quando vislumbramos que todo profissional de saúde é um
educador em potencial, sendo a educação em saúde uma atividade essencial para a
sua prática e seu próprio reconhecimento enquanto sujeito do processo educativo,
bem como o reconhecimento dos usuários enquanto sujeitos em busca de sua
autonomia (ALVES, 2005).
A educação como ampliação da capacidade pessoal tem por significado e
finalidade a adaptação do indivíduo à sociedade e deve reforçar a sua integração ao
todo social. Para tanto, atua na formação da personalidade do indivíduo para o
15
desenvolvimento de suas habilidades e para a veiculação dos valores éticos
necessários à convivência social (ALVES, 2005).
Segundo o Ministério da Saúde, na Cartilha “A educação que Produz Saúde”,
“na relação entre saúde e escola surge a possibilidade de construirmos juntos a
"escola que produz saúde": uma proposta que envolva estudantes, trabalhadores da
educação, comunidade escolar, órgãos governamentais de educação, gestores de
sistemas de saúde e educação, movimentos sociais, associações, grupos, famílias e
toda a população (BRASIL, 2005).
3.1 Um breve histórico legislativo acerca do ensino da saúde em nosso país
No período do Brasil Colônia, pensar em saúde era recorrer aos pajés ou aos
boticários, com suas ervas, folhagens, misturas e superstições (INDRIUNAS, 2008).
As mudanças vieram com a chegada da família real, em 1808, e a
organização de uma mínima estrutura sanitarista mais especificamente na cidade do
Rio de Janeiro (POLIGNANO, 2008).
Os reclames da família real, no aspecto sanitário e higiênico, proporcionaram
a criação das duas primeiras escolas de medicina do nosso país: o Colégio Médico -
Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador, na Bahia, e a Escola de
Cirurgia na capital do Rio de Janeiro, anexa ao real Hospital Militar (INDRIUNAS,
2008).
Até 1850 as atividades de saúde estavam limitadas a dois itens básicos:
delegação das atribuições sanitárias as juntas municipais e o controle de navios e
saúde dos portos (POLIGNANO, 2008).
A carência de profissionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era
enorme, a título de exemplo, na capital do Rio de Janeiro, em 1789, só havia quatro
médicos exercendo a profissão. Tal lacuna fez com que proliferassem pelo País os
Boticários (farmacêuticos) aos quais, cabia a manipulação das fórmulas prescritas
pelos médicos, ou, na maior parte das vezes eles próprios tomavam a iniciativa das
prescrições medicamentosas (POLIGNANO, 2008).
16
A ausência de um modelo sanitário para o País deixava a sociedade brasileira
a mercê das epidemias, gerando uma urgente necessidade de domínio sobre
epidemias de varíola, peste, febre amarela, tuberculose, entre outras, nos grandes
centros urbanos, visto que estas acarretavam transtornos para a economia
agroexportadora. Assim, desenvolveram-se as primeiras práticas sistemáticas de
educação em saúde. Como acontecimento ilustrativo desse momento, temos a
polícia sanitária liderada por Oswaldo Cruz, que empregou recursos como a
vacinação compulsória e vigilância sobre atitudes e moralidade dos pobres com a
finalidade de controlar a disseminação de doenças (ALVES, 2005).
Em resposta à vacinação obrigatória criada por Oswaldo Cruz, com a Lei
Federal nº 1261, de 31 de outubro de 1904, surge então um grande movimento
popular de revolta que ficou conhecido na história como a Revolta da Vacina. Apesar
das arbitrariedades e dos abusos cometidos no cumprimento dessa Lei é inegável
que o estado obteve importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas,
conseguindo inclusive erradicar a febre amarela da cidade do Rio de Janeiro. Neste
período Oswaldo Cruz procurou organizar a diretoria geral de saúde pública, criando
um laboratório bacteriológico, serviços sanitaristas, de profilaxia, inspetoria,
isolamento, desinfecção e soroterápico, o que é hoje o Instituto Oswaldo Cruz
(POLIGNANO, 2008).
Oswaldo Cruz propagava que os problemas de saúde eram decorrentes da
não observância das normas de higiene pelos indivíduos e que a mudança de
atitude e do comportamento individual iria garantir a solução dos problemas de
saúde. Este discurso, fortalecido em 1908 com a criação do Instituto Oswaldo Cruz,
predominou no campo da educação em saúde durante as décadas seguintes,
podendo ser encontrado ainda hoje como orientador de práticas educativas (ALVES,
2005).
Seguindo o aspecto temporal, podemos fixar, de forma específica e
direcionada, o início da educação em Saúde no Brasil na cidade de São Gonçalo,
com a criação do 1º Pelotão de Saúde numa escola estadual, em 1924. Tal iniciativa
foi copiada e adotada nas escolas primárias do Distrito Federal (LEVY, 1997).
17
Em 1925 criou-se no estado de São Paulo a Inspetoria de Educação Sanitária
e Centros de Saúde, fazendo surgir pela primeira vez o título de Educador Sanitário
cuja missão era divulgar noções de higiene para alunos das escolas primárias
estaduais. Lembremo-nos que com a urbanização surge a necessidade de uma
“educação sanitária” geradora de amplos debates na política nacional. No final do
século XIX, a Educação em Saúde pautava-se exclusivamente em controlar as
epidemias, era a chamada “educação higiênica” impondo medidas e campanhas
compulsórias (LEVY, 1997).
Em 1930, a fundação do Ministério da Educação e Saúde concentrou
administrativamente as atividades sanitárias dos municípios, gerando o Serviço
Nacional de Educação Sanitária. Nesse período, o estado abranda sua postura em
culpa individual pelos problemas de saúde que acometem determinada pessoa ao
conceber que a educação em saúde deve estar pautada em processo educativo
(LEVY, 1997).
Em 1942 criou-se o Serviço Especial de Saúde Pública, que foi o precursor
em preparar os professores da rede pública de ensino como agentes educacionais
da saúde (LEVY, 1997).
Em 10 de dezembro de 1948 a Organização das Nações Unidas, ao
apresentar o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, amplificou o
alcance da expressão saúde e do direito à saúde, vejamos:
Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (ONU, 1948).
Outros dois grandes eventos também influenciaram a Educação em Saúde
como vista hoje no nosso País. Em 1958, ocorreu a 12ª Assembleia Mundial da
Saúde, em Genebra e em 1962 ocorreu a 5ª Conferência de Saúde e Educação
Sanitária, na Filadélfia. Tais ideários serviram como fonte de inspiração para a
reformulação da estrutura do Serviço Nacional de Educação Sanitária e para a
integração das atividades de educação no planejamento das ações do Ministério da
Saúde (LEVY, 1997).
18
Com o advento da Lei 5692/71, a educação em saúde adentra nas escolas,
nos currículos de 1º e 2º graus, de forma obrigatória através da disciplina
“Programas de Saúde”. Essa lei fixava diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º
graus e, em 1996 no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi
substituída pela nova lei de diretrizes e bases de educação, a Lei 9394. (MOREIRA,
2000).
Em 1978, na Conferência Mundial de Saúde realizada em Alma Ata, cria-se a
“meta saúde para todos no ano 2000”. E reafirma, enfaticamente, que a saúde é um
direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de
saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de
muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde (BRASIL, 2002).
Nos fins da década de 70 operou-se a mudança terminológica de “Educação
Sanitária” para “Educação em Saúde”. Nessa época surgem os movimentos sociais
pleiteando uma Reforma Sanitária (também chamada de Movimento Sanitário). Tal
movimento propõe a universalidade, unificação e a descentralização como princípios
norteadores para uma reforma democrática no setor da saúde (LEVY, 2003).
Em 1986, ocorre a I Conferência Mundial de Promoção à Saúde em Otawa,
Canadá, retomando a promoção da saúde através da assistência primária. Esta
conferência foi, antes de tudo, uma resposta às crescentes expectativas por uma
nova saúde pública. As discussões focalizaram principalmente as necessidades em
saúde nos países industrializados através de processos de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma
maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo
bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar
aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A
saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver
(BRASIL, 2002).
Em 05 de outubro de 1988 é promulgada a Constituição da República
Federativa do Brasil. Após amplos debates de uma Assembléia Nacional
Constituinte onde estiveram presentes representantes de diversas classes sociais e
profissionais, alçou-se a saúde como um direito fundamental e, portanto determinou-
19
se a criação do Sistema Único de Saúde visando a efetivação dessa garantia
(BRASIL, 1988).
Após o surgimento do Direito à Saúde todo curso, toda graduação que
visasse formar um profissional para atuar nessa seara, deveria trazer em seu
conteúdo programático algum esclarecimento jurídico acerca dessa nova concepção
da saúde. Porém a sociedade ainda necessitaria de uma fase de maturação para
não só receber a nova Constituição como também para adequar-se frente aos
comandos trazidos por ela. A Constituição só traçou a diretriz básica: os
mandamentos que trariam efetividade ao exercício desse novo direito ainda seriam
criados por Leis direcionadas a essas questões, tanto na parte de acesso ao direito
à saúde como na parte da educação em saúde (BRASIL, 1988).
Depois da VIII Conferencia Nacional da Saúde (CNS) e da promulgação da
Constituição da República Federativa do Brasil em 05 de novembro de 1988, a
saúde passa a ser recepcionada como “um direito de todos e dever do Estado”. O
direito a saúde ao ser alçado como direito fundamental gerou a implantação do
Sistema Único de Saúde – SUS (Leis 8.080/90 e 8.142/90), que é um sistema de
alcance nacional e público, com diretrizes unificadas para todo o País (LEVY, 2003).
Em 1990, a Organização Pan-americana de Saúde – OPAS sistematizou a
ideia de Educação Permanente, criando uma teoria e metodologia para constituir os
Programas de Educação Permanente em Saúde. Hoje esses programas são ações
políticas do SUS, visando transformar as práticas de formação, gestão, participação
populares e controle social no setor da saúde (LEVY, 2003).
Vemos duas bases conceituais para ações de educação em Saúde: a
primeira estabelece funções de técnicas, métodos e meios de veiculação e a
segunda aborda tópicos de epistemologia alicerçado num tripé da ciência/ educação/
comunicação. Naquela época podemos perceber a mutação do trabalho profissional
para o trabalho cultural que abandona o autoritarismo, adotando posturas educativa
e conscientizadora (LEVY, 2003).
Ao pautarmos nosso estudo na formação médica, veremos que a mesma é
regulamentada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em
20
medicina com a Resolução da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional
de Educação (CNE/CES) nº 4, publicada em 07 de novembro de 2001.
Em janeiro de 2002, recebemos o novo código civil com a lei 10.406/02, que
inaugura em solo pátrio o Direito da Personalidade em harmonia com a Constituição
da República de 1988 ao determinar que os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária. Esse comando vem dar lastro e amplificar o direito à saúde física e
mental (BRASIL, 2002).
O então Senador Benício Sampaio apresentou ao Senado, em 12 de
dezembro de 2002, o Projeto de Lei nº 268 que, bem com o do Senador Geraldo
Althoff, o Projeto de Lei 25/2002, buscam dispor sobre o exercício da medicina, na
ocasião, denominado ato médico (BRASIL, 2002).
Tais projetos encontram-se apensados. O projeto 25 define o campo de
atuação do médico, regula sua atividade em seus aspectos trabalhistas e éticos,
tratando dos conselhos profissionais de medicina, como se processa e as sanções
disciplinares. Já o projeto 268 elenca atividades que serão privativas de médico:
formulação e determinação do diagnóstico, a prescrição terapêutica medicamentosa,
intervenção cirúrgica, indicação e a execução de procedimentos diagnósticos e
terapêuticos invasivos e a determinação do prognóstico. Os projetos aguardam a
decisão final na Câmara dos Deputados (BRASIL, 2002).
Em 13 de fevereiro de 2004, o Ministério da Saúde, através da Portaria 198,
institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Considerando ser a
Educação Permanente o conceito pedagógico, no setor da saúde, para efetuar
relações orgânicas entre ensino e as ações e serviços e entre docência e atenção à
saúde. Este conceito restou ampliado, na Reforma Sanitária Brasileira, para as
relações entre formação e gestão setorial, desenvolvimento institucional e controle
social em saúde (BRASIL, 2004).
Na mesma portaria um dos objetivos da Educação Permanente em Saúde
seria realizar a agregação entre aprendizado, reflexão crítica sobre o trabalho e
resolutividade da clínica e da promoção da saúde coletiva. Em suma, a Educação
21
Permanente é aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se
incorporam ao quotidiano das organizações e ao trabalho (BRASIL, 2004).
Em 2005, o Ministério da Saúde definiu a Agenda de Compromisso pela
Saúde baseada em três eixos: Pacto em Defesa do SUS, Pacto em Defesa da Vida
e Pacto Gestão (BRASIL, 2006).
Em 2006 o Ministério da Saúde divulgou o Pacto pela Saúde - portaria 399 de
22 de fevereiro – implementando, dentre outras políticas, o Colegiado de Gestão
Regional – CGR (BRASIL, 2006).
Em 2007 o Ministério da Saúde mais o Conselho Nacional de Secretários de
Saúde – CONASS criaram a portaria 1996 publicada em 22 de agosto visando
definir novas diretrizes e estratégias para a implementação da Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2009).
O Ministro da Educação, em 2014 publica no Diário Oficial da União,
considerando o estabelecido pela Lei n.º 12.871, de 22 de outubro de 2013, as
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, onde entre
outras providências merecem destaque:
Art. 3° O graduado em Medicina terá formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, com capacidade para atuar nos diferentes níveis de atenção do processo saúde-doença, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, nos âmbitos individual e coletivo, com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cidadania e da dignidade humana, objetivando-se como promotor da saúde integral do ser humano.
Art. 4° Dada a necessária articulação entre conhecimentos, habilidades e atitudes requeridas do egresso, para o futuro exercício profissional do médico, a formação do graduado em Medicina desdobrar-se-á em nas seguintes áreas:
I - Atenção à Saúde;
II - Gestão em Saúde;
III - Educação na Saúde.
Art. 7° Na Educação em Saúde, o graduando deverá estará apto à corresponsabilidade com a própria formação inicial e continuada, para conquistar autonomia intelectual, responsabilidade social, bem como para compromisso com a formação das futuras gerações de profissionais de saúde, de modo a estimular a promoção da mobilidade acadêmica e profissional, objetivando:
22
(...)
d) Envolvimento na Formação do Médico, conciliando ensino, pesquisa e extensão e observando o dinamismo das mudanças sociais e científicas que afetam o cuidado e a formação dos profissionais de saúde, a partir dos processos de auto-avaliação e de avaliação externa dos agentes e da instituição, promovendo o conhecimento sobre as escolas médicas e sobre seus egressos; (Grifos nossos)
Como vemos, não faltam normas no tocante ao ensino na área da saúde,
como também não faltam leis para explicitar o direito à saúde e seu alcance. Sobram
ao profissional da área médica fontes de informação legislativa no tocante a sua
formação, seus deveres e sobre toda logística ao exercício de seu ofício; mas esse
rico manancial de evolução legislativa cria um efeito colateral: a falta de
conhecimento jurídico que forneça a esse profissional um filtro para saber a
relevância de cada comando e sua aplicabilidade.
Hoje a saúde é um direito social e fundamental, motivo pelo qual o paciente
será visto juridicamente como consumidor e, consequentemente, o médico um
fornecedor, pois estaremos diante de uma relação de consumo. Ao lembrarmos que
existe o Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/90) vemos que o direito estará
presente de forma efetiva no dia a dia do profissional da área da saúde
(POLICASTRO, 2013).
Nas palavras de Francisco Barbosa Neto em seu artigo “O hospital como
cenário de aprendizagem”:
(...) A clássica tríade – professor, aluno e paciente – encontrou no hospital seu mais poderoso “nicho ecológico”. A diversidade do ambiente, a variabilidade dos recursos disponíveis e a dinâmica cultural das “espécies” tem proporcionado situações que oscilam entre a mais interativa “simbiose” até a mais terrível “predação”, em que a segurança do paciente é negligenciada ao extremo. Não raro, o padrão de relacionamento que se desenvolve entre o estudante e o paciente tende a ser uma réplica da relação que o professor estabelece com o aluno.
Por isso, um dos motores principais da aprendizagem é o exemplo que o professor inscreve nos corações e mentes de seus alunos ao mobilizar recursos (de cognição, de habilidades e de atitudes) para solucionar o problema do paciente, da família ou da comunidade. Muitos fazem isso quase intuitivamente, seguindo os passos dos “exemplos” de sua própria formação. Outros procuram aperfeiçoar e entender “o que é ensinar e o que é aprender”. Outros, ainda, apenas reproduzem o que aprenderam (ou desaprenderam) com seus “maus exemplos do passado”, reduzindo pacientes e alunos a objetos e o ensino médico a adestrar procedimentos fomentando insensibilidade, e, com a desculpa de estarem “cumprindo o programa”, tiranizam alunos, funcionários e, não raro, pacientes (BARBOSA NETO, 2011, p.184).
23
Na visão de Jadete Barbosa Lampert:
Por sua vez, a educação médica também sofre grandes variações em distintos eixos, quanto: a ser pública ou privada; a vocação institucional ser de alta tecnologia, de investigação ou comunitária; a estar em metrópole ou em cidades menores. Ainda, a heterogeneidade não se verifica somente entre as escolas; também em uma mesma instituição se podem observar perspectivas distintas entre disciplinas e departamentos, uma mais estabelecidas em uma organização liberal da prática, outras que aderem ao modelo tecnológico-dependente, e um terceiro tipo com enfoque comunitário.
Os programas do Ministério da Saúde, interagindo com o Ministério da Educação, que homologa as novas diretrizes curriculares dão indicações na direção das reformas na formação do perfil médico na graduação, conferindo espaços para as singularidades dos contextos institucionais (LAMPERT, 2009, p. 104).
No âmbito do ensino das ciências da saúde, não podemos compreender a
educação apenas como processo normativo, baseado na prescrição de regras e
meios operacionais, culminando num racionalismo objetivista de seus personagens,
reduzindo o professor a um mero transmissor de informações e o aluno a um mero
receptor passivo. Nesse diapasão, o médico poderia reduzir-se a um operador de
protocolos e condutas que teria no paciente um objeto para receber o ato-médico.
Embora o desenvolvimento do processo educativo do ensino em saúde tenha
seu início marcado pela educação sanitária que, num primeiro momento, não
contemplava a dimensão social, hoje observamos um conceito amplificado da
expressão saúde, que há muito deixou de ser caracterizada pela ausência de
doença.
A educação em saúde moderna promove a ideia de uma dimensão
ontológico-social, divulgando a crença de que ter acesso à saúde não é ter apenas
acesso aos serviços de saúde, é ter condições de vida digna. Essa nova dimensão
demonstra a educação em saúde como um processo emancipatório, ainda mais na
era da informação na qual estamos inseridos atualmente, em que as aspirações
individuais se transformam em movimentos sociais, capazes de criar e transformar a
realidade, através de ações políticas extraídas das várias dimensões da educação:
científica, cultural, ética, política, social e individual.
Paulo Freire deixou um forte legado ao conceber o processo ensino-
aprendizagem como um processo de diálogo, de troca, entre educador e educando,
24
donde o verdadeiro benefício surge no dia a dia, numa realidade experienciada.
Apodera-se do conhecimento através de uma análise crítica sobre a realidade vivida
e a almejada e constrói-se o conhecimento em concomitância à percepção do
homem como um sujeito de direitos, não cabendo relações verticais entre educador
e educando, ou a transferência de conhecimentos de forma normatizada e objetivista
(FREIRE, 1996).
Todo esse decurso histórico acerca do ensino da saúde em nosso País
demonstra claramente que o médico não pode reduzir sua formação e atuação
apenas no aspecto sanitário e biológico. É obrigatória a percepção da influência
jurídica no exercício da medicina, visando proporcionar um diálogo entre o ensino do
direito e a formação/atuação daquele que trabalha na área médica.
25
4 APRENDENDO O DIREITO PARA UMA MEDICINA MELHOR
Para aprender uma ciência jurídica é necessário reestudar a história. Afinal o
Direito só surgiu porque existe o ser humano, espécime dotada de consciência,
desejos, vontades e ideais.
A existência do ser humano só pode ser concebida de forma dinâmica; como
tal, esse exercício gera consequências na esfera alheia. Vivêssemos sozinhos, não
haveria necessidade do Direito.
Vários estudiosos do Direito costumam citar a história de Robinson Crusoé,
herói do romance escrito por Daniel Defoe e publicado em 1719 no Reino Unido,
para explicar a necessidade inafastável da presença de regras que auxiliem a vida
em sociedade.
No atual estágio dos conhecimentos científicos sobre o direito, é predominante o entendimento de que não há sociedade sem direito (...) não haveria, pois, lugar para o direito, na ilha do solitário Robinson Crusoé, antes da chegada do índio Sexta-Feira (CINTRA, 2008, p.25).
Por vivermos em sociedade é necessário um lastro de normas capazes de
nos lembrar de forma constante que não estamos sozinhos, assim essas regras são
importantes para conter nossos desejos individuais. Nossas ações, sejam elas
positivas (comissivas) ou negativas (omissivas), poderão criar consequências
jurídicas, como obrigações e deveres, cuja inobservância gerará sanções.
Essas normas são criadas pelo Poder Legislativo, mas podemos dizer que
são redigidas pelo próprio povo, através de seus representantes indiretos eleitos
democraticamente, visando à pacificação social dentro de uma delimitação político-
geográfica a qual chamamos de Estado (LENZA, 2009).
Brasil é um mero apelido para denominar República Federativa do Brasil,
nome verdadeiro da nossa nação que se constitui em um Estado social Democrático
de Direito (DANTAS, 2012).
O Estado também pode ser visto com uma ficção jurídica, ao vislumbrarmos
sua criação intelectual como elemento estruturador da sociedade. Nas palavras do
professor Ataliba Nogueira: “Estado é a sociedade soberana, surgida com a
26
ordenação jurídica, cuja finalidade é regular globalmente as relações sociais de
determinado povo fixo em dado território sob um poder” (NOGUEIRA, 1969).
Extraímos dessas palavras os elementos formadores do Estado, qual sejam:
Povo, Território e Governo (Poder). Numa estrutura piramidal (território), a base seria
formada pelo povo que mantém o vértice (poder) numa relação bilateral de direitos e
deveres. E como garantia da existência e permanência dessa estrutura triangular o
Direito apresenta-se como elemento de primordial importância (MORAIS, 2005).
Uma das finalidades do Direito é o bem comum, a chamada pacificação
social, e para tal desiderato é necessária a existência de normas lógicas, leis,
regras, que coloquem uma ordem no comportamento coletivo, e por que não dizer,
individual (KELSEN, 2003).
O Estado de Direito é previsível e essa característica fornece aos cidadãos
uma sensação de segurança, pelo fato de conhecermos, de forma prévia, as
conseqüências jurídicas para nossas ações, como por exemplo: qualquer pessoa
que não paga uma conta na data aprazada sabe que terá que arcar também com a
incidência de juros e correção monetária sobre o valor do débito não honrado. Da
mesma forma, qualquer pessoa que estacione em local não permitido sabe que
poderá receber uma multa por seu ato e, inclusive, ter o carro rebocado.
Resumidamente, um Estado Social Democrático de Direito, é um Estado feito
pelo povo e para o povo, através de seus representantes capazes de criarem as leis.
Essas leis, essas regras, essas normas são a materialização do Estado de Direito
(LENZA, 2009).
Percebemos então, a importância do poder legislativo, uma vez que compete
aos nossos representantes (vereadores, deputados e senadores) a criação das leis
que irão reger nosso comportamento.
Dentre as quase duzentas mil leis existentes em nosso país, a Constituição
da República fulgura como lei maior, uma vez que foi elaborada por uma Assembléia
Nacional Constituinte, promulgada em 05 de outubro de 1988, com o seguinte
preâmbulo:
27
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte, para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. (BRASIL, 1988).
Lembremo-nos que o mundo todo elogiou nossa constituição como exemplo
de legislação cidadã, porém, após 26 anos de sua promulgação e recebendo mais
de 80 emendas, nossa lei maior hoje é apenas um espectro do ideário da
Constituinte de 1988.
A lei é um dos elementos mais importantes de qualquer Estado de Direito. No
Brasil, de forma flagrante e incontestável, vemos que há uma efervescente produção
de leis. Para muitos juristas esse excesso legislativo é prejudicial, uma vez que o
comportamento político na criação de leis visando alcançar os mais diversos
comportamentos individuais e coletivos demonstra um engessamento na conduta de
todos os cidadãos e na consequente criação de maior burocracia.
Nesse diapasão e, em especial, após o advento da lei 8078/90, Código que
Regula a Política Nacional das Relações de Consumo, popularmente conhecido
como Código de Defesa do Consumidor, obrigatoriamente a atuação dos médicos
estará monitorada pelo olhar jurídico com consequências previstas em lei.
Na obra “Educação médica: gestão, cuidado, avaliação”, Suely Grosseman e
Zuleica Karnopp levantam a questão da transmutação na relação médico-paciente:
Nas últimas décadas, a temática Relação Médico-Paciente (RMP) tem sido bastante abordada em estudos e também incorporada ao cotidiano, por meio de reflexões críticas acerca da qualidade da atenção médica e satisfação da população atendida.
A maior preocupação em relação a essa questão originou-se da constatação de que, apesar do aumento da eficácia terapêutica da medicina propiciada pelos avanços científicos e tecnológicos, fatores diversos causaram diminuição do vínculo médico paciente e da confiança do paciente no profissional médico ao longo do século XX (GROSSEMAN; KARNOPP, 2011, p. 223 e 224)
O médico necessita de uma visão ampla das implicâncias geradas pelo dever
de cuidado, não só o julgamento hipocrático o exige como a nova formatação da
relação médico-paciente, como demonstra Feuerwerker:
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Tomar a necessidade de saúde do usuário como referência traz muitas implicações. A começar pelo lugar do usuário na produção do cuidado. Apesar de já há algum tempo se reconhecer que o usuário é o gestor de sua própria vida, que ele faz suas escolhas (com a nossa autorização ou não); e de se reconhecer também que a ampliação de sua autonomia para configurar os modos de conduzir sua própria vida, enfrentando seus (velhos e novos) agravos, deve ser um dos produtos desejáveis do processo de cuidado. (...)
De saída, pode haver um desencontro de expectativas. O que um considera problemas e necessidade não necessariamente coincide com que o outro considera. Um sabe de seus desconfortos; os outros olham para os usuários utilizando diferentes filtros (risco, vulnerabilidade, prioridades, etc.). Com frequência, o usuário deseja a contribuição dos trabalhadores de saúde para que o problema com que se defronta incomode o menos possível os modos como organiza sua vida. Já os trabalhadores de saúde, muitas vezes, esperam que o usuário reorganize sua vida à luz do saber técnico-científico em função dos agravos que enfrenta (FEUERWERKER, 2011, p. 100).
Toda prestação de serviço envolve expectativas, todo enfermo deseja sua
cura, todo profissional busca desempenhar bem o seu mister e todo paciente
necessita de um tratamento adequado, mas infelizmente problemas podem surgir e
só o Direito para compor tais conflitos.
O Médico deve levar em conta que o paciente é um sujeito de direito e, como
tal, haverá de agir segundo o regramento jurídico, seja na realização de uma
anmenese, seja na elaboração do consentimento informado contendo todos os
dados acerca do tratamento e seus prováveis danos iatrogênicos, seja na escrita
que irá proceder no prontuário médico com letra legível. Para tal, o Médico
necessitará de uma educação jurídica.
Capitaneados pelos ensinamentos de Paulo Freire, onde o aprendizado
profícuo se desenvolve através de uma análise crítica sobre a realidade
experienciada, vemos que o médico precisa conceber que saúde, hoje, é um direito.
Direito esse posto e positivado em nossa Constituição da República. Assim, nos
capítulos seguintes faremos uma breve explicação acerca do Direito à Saúde para
justificar a necessidade da absorção dessa realidade jurídica e social, que além de
trazer reflexos direitos na atuação dos médicos altera sobremaneira o
comportamento da sociedade.
Ainda, na ótica da realidade crítica veremos na seqüência o fenômeno da
politização da saúde, onde esse Direito Social se transforma em manobra política e
partidária nas mãos do Poder Executivo e Legislativo. E a menção a um novo ramo
29
do Direito, o Direito Médico, que objetiva estudar os aspectos jurídicos no trabalho
de todos os profissionais envolvidos na assistência médica e suas conseqüências.
30
5 O DIREITO À SAÚDE
O surgimento do “direito à saúde” no Brasil remonta ao século XVIII, quando o
acesso ocorria mediante o comportamento filantrópico de pessoas com recursos
financeiros e a atuação gratuita por parte de profissionais na área da saúde.
No século XIX, em decorrência da Revolução Industrial, surgiu no Brasil uma
necessidade de iniciativas públicas no campo da saúde, notadamente na área de
vigilância sanitária.
No século XX, ainda no rastro do fortalecimento da classe operária, em 1910
é criada a CAPS (Caixa de Aposentadoria e Pensões), considerada a semente do
sistema previdenciário atual. Após a Revolta da Vacina e com o aumento da pressão
social surge o IAPS (instituto da Previdência), oferecendo serviços de saúde de
caráter meramente curativo, que mais tarde vem a ser substituído pelo SUDS -
Sistema Unificado e descentralizado de saúde (BRASIL, 1988).
Porém o momento culminante foi a criação pela Assembléia Nacional
Constituinte, do Sistema Único de Saúde (SUS), e a garantia do Direito à Saúde nos
artigos 196 a 200 da Constituição da República (BRASIL, 1988).
É interessante mencionar que no Brasil, antes do advento da Constituição de
1988, o direito à Saúde pertencia apenas aos trabalhadores que contribuíam para a
previdência social. Os demais cidadãos ou acessavam a saúde de forma privada ou
contavam com o auxílio de algumas entidades filantrópicas.
Hoje, apesar de termos a saúde como um Direito Público legalmente ofertado
mediante políticas públicas, essas apenas não bastam para distribuir tal direito a
todos os cidadãos, sendo necessário contar com um sistema privado.
Assim, há três formas de oferta do direito à saúde: a) aquele que temos
acesso através do SUS (Sistema Único de Saúde); b) via Planos de Saúde; c)
diretamente através do contato direto com os profissionais da área.
31
Essas formas de acesso conduzirão o comportamento das partes envolvidas
nessa cadeia de serviços, por exemplo, responsável será o Poder Público pelas
consequências dos serviços prestados pelo SUS.
Na Grécia Antiga usava-se o brocardo que originou a definição de saúde:
"Mens Sana In Corpore Sano". Num Estado como o nosso esse direito é
fundamental e obrigatório à todo cidadão.
De modo similar, nossa Constituição da República (15.10.1988), positiva esse
direito em seu artigo 196:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).
Para organização e o funcionamento de um sistema de saúde é obrigatório o
manejo de quatro funções básicas: a) formulação e planejamento de políticas; b)
financiamento das ações de saúde; c) prestação de serviços de saúde; d) regulação
e coordenação do setor. Dessa forma, o papel dos setores Público e Privado será
definido pela sociedade por meio de um processo de construção e negociação
políticas. No Brasil, através do comando Constitucional no artigo 199: a assistência à
saúde é livre à iniciativa privada (SOUTO, 2009).
Porém, o acesso a determinado direito social, principalmente o Direito à
Saúde, encontra uma barreira em seu alcance que é chamada de “assimetria de
informação”. Essa barreira costuma ser enfrentada pelo poder público por meio de
dois tipos de ação: a) disseminação e facilitação do acesso à informação; e b)
legislação de proteção do consumidor:
É na dimensão político-operacional que se encontra o maior desafio: implementar novas praticas de atenção à saúde que garantam à população o acesso universal, a integralidade e a equidade, numa rede hierarquizada de serviços resolutivos. A adoção de novos pressupostos e métodos, compartilhados por membros de uma comunidade para a resolução de problemas é um desafio permanente (MONTEIRO E TEIXEIRA, 2011, p. 204).
O Brasil, ao imprimir uma amplitude e universalidade do Direito à Saúde, cria
um fornecimento pulverizado desses serviços, o que gera uma imensa quantidade
de demandas jurídicas que buscam não só tratamentos variados como
32
medicamentos gratuitos. Basta lembramos que cada cidadão é um potencial
consumidor desse serviço inquestionavelmente fundamental.
Há várias vias para o acesso à saúde, seja pelo sistema público seja de forma
particular, porém em cada busca pela saúde haverá no outro pólo um profissional da
área médica que necessita também de amparo, auxílio e novos conhecimentos que
extrapolam a parte clínica para o bem desempenhar de sua atividade.
33
6 A CONSTITUIÇÃO E A SAÚDE POLITIZADA
Após o advento da Assembléia Nacional Constituinte, que foi exemplo prático
do exercício da democracia, tivemos como produto a Constituição da República
Federativa do Brasil, popularmente denominada de “Constituição cidadã” ao elencar
direito e garantias fundamentais e individuais. Uma verdadeira Constituição
compromissória repleta de cláusulas gerais ou janelas abertas onde a lei ganha uma
elasticidade e um alcance estratégico por parte de seu intérprete.
Lembremo-nos que houve uma ampla discussão na elaboração da
constituição por parte de várias classes, sejam trabalhadores, sindicatos,
empresários, sanitaristas, enfim, a população participou do processo elaborativo da
Constituição.
Mas devemos retroceder um pouco na história para relembrar que a saúde
passou a ser um direito aspirado pela população, mas só concedido àqueles que
possuíam vinculo empregatício, ou seja, os que não estavam sob o regime da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não tinham esse direito, a esses cabiam
na época o Sistema Único de Saúde, ou as Santas Casas. Deve-se ao governo do
Getúlio Vargas a popularização do direito à saúde, assim percebemos que o próprio
estado inseriu no imaginário popular que saúde pode ser vista como um direito,
acessível a todos, desde que estivessem numa relação trabalhista formalizada.
O direito não consegue definir o que é saúde; na verdade, saúde é um
conceito metajurídico, e os sanitaristas o ideal não é fechar o conceito de saúde e
sim ampliá-lo. Não podemos conceber a saúde apenas como prevenção, tratamento
e cura, há que se deixar em aberto.
Há um grande dilema em se conceber a saúde como direito, uma vez que,
pela própria constituição, tal direito deve estar na pasta de políticas de estado,
porém vemos que o direito à saúde é na realidade uma política de governo, pois
muda-se o governo e muda a política da saúde. Assim esse direito se transmuta em
manobra política, sendo que deveria ser apenas uma política de estado, em que a
alteração do partido no poder não representasse mudanças significativas. Os
problemas relacionados à saúde não são jurídicos, são também políticos e
econômicos.
34
Nossa Constituição institui em seu artigo 5º, em seu parágrafo primeiro, que
“as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata”, e em seu parágrafo segundo que os direitos e garantias fundamentais
expressos constitucionalmente não excluirão outros decorrentes dos tratados
internacionais dos quais a República Federativa do Brasil faça parte. No parágrafo
seguinte, ainda do mesmo artigo, há a previsão da equivalência de tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos às emendas constitucionais, caso
sejam aprovadas em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros (BRASIL, 1988).
No art. 23, inciso II, a Constituição estabelece a obrigação de cuidar da saúde
como competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
fundamentando assim a responsabilidade solidária do poder público em garantir o
direito à saúde. No artigo 24, inciso XII e 30, inciso II, atribui competência para
legislar de forma concorrente aos entes federativos: União, Estados e Municípios,
sobre proteção e defesa da saúde. Cabe à União o estabelecimento de normas
gerais (art. 24, § 1o); aos Estados, suplementar a legislação federal (art. 24, § 2o); e
aos Municípios, legislar sobre os assuntos de interesse local, podendo igualmente
suplementar a legislação federal e a estadual, no que couber (art. 30, I e II) (BRASIL,
1988).
35
7 UM NOVO RAMO DO DIREITO: O DIREITO MÉDICO
Uma nova área surge no ambiente jurídico, o direito médico, que trata das
várias vertentes envolvendo a relação médico-paciente, relação essa de suma
importância por lidar com aquilo que o ser humano tem de mais precioso: sua vida.
Qualquer interação entre médico e paciente trará reflexos diretos à integridade física,
moral e psíquica da pessoa que busca um tratamento, seja ele mais simples ou mais
complexo, visando cuidar de sua saúde.
Alguns doutrinadores, de forma equivocada, chamam de “erro médico” as
atuações do profissional da saúde quando trazem resultados não desejados. Porém
tal nomenclatura é criticável frente ao pré-julgamento de culpa, melhor seria usar-se
a expressão “responsabilidade médica”, uma vez que cada caso deve ser analisado
dentro da sua singularidade e contexto.
Infelizmente vivemos a era do dano moral, onde o cliente inescrupuloso
recorre ao poder judiciário visando uma indenização mesmo tendo sido desidioso
frente ao seu comportamento como paciente e não tendo levado à risca as
determinações médicas para as fases pré ou pós-operatórias.
Porém, como se trata de relação entre pessoas, poderão ocorrer resultados
clínicos não desejados e a responsabilidade do profissional será investigada dentro
de duas vertentes: clínica e jurídica, contando ainda com a presença de um perito
para esclarecer pontos técnicos.
Como já vimos, antigamente a relação entre médico e paciente dava-se de
forma vertical, pelo endeusamento que o médico recebia do paciente através do
desejo de milagre em sua cura. Hoje a relação dá-se num nível horizontal
principalmente ao lembrar que o paciente não está numa posição de subordinação e
sim de consumidor.
Nas palavras de Suely Grosseman:
Nas últimas décadas, a temática Relação Médico-Paciente (RMP) tem sido bastante abordada em estudos e também incorporada ao cotidiano, por meio de reflexões críticas acerca da qualidade da atenção médica e satisfação da população atendida.
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A maior preocupação em relação a essa questão originou-se da constatação de que, apesar do aumento da eficácia terapêutica da medicina propiciada pelos avanços científicos e tecnológicos, fatores diversos causaram diminuição do vínculo médico paciente e da confiança do paciente no profissional médico ao longo do século XX (GROSSEMAN, 2011, p. 223 e 224).
O Direito médico funciona como instrumento de auxilio, seja para o
profissional da aérea médica como o da aérea jurídica, e nas palavras do professor
Genival Veloso França:
A Medicina, principalmente nesses últimos trinta anos, sofreu um extraordinário e vertiginoso progresso, o que obrigou o médico a enfrentar novas situações, muitas delas em sensível conflito com sua formação e com o passado hipocrático. O médico teve sempre como guias sua consciência e uma tradição milenar; porém, dia a dia, surge a necessidade de conciliar esse pensamento e o interesse profissional com as múltiplas exigências da coletividade (FRANÇA, 2010, p. 11).
O médico Yama Pinto Souto salienta a necessidade de atentar para uma nova
realidade onde os profissionais encontram pacientes mais independentes num
cenário com maiores e melhores tecnologias e a fiscalização jurídica na promoção
da saúde:
A Medicina, nos tempos atuais, leva os médicos a se depararem com os seguintes pontos nevrálgicos:
a) a atual consciência da autonomia do paciente;
b) as transformações tecnológicas da prática médica; e
c) o problema da justiça na assistência médica (SOUTO, 2009, p.76).
A prática médica descreve sempre uma missão de risco e o profissional de
saúde não guarda a responsabilidade de lograr pleno sucesso em sua atuação, o
que não o livra do dever cardinalíssimo de a tudo proceder no sentido desse mesmo
êxito, pelo emprego legal dos procedimentos que elegeu em seu ofício, no âmbito de
suas competências. Tudo isso visando obter a minimalização dos riscos, já que a
saúde é um direito de todos (FERRAZ; NOGUEIRA, 2009).
Embora o ramo Direito Médico tenha surgido para tratar das consequências
indesejáveis advindas da relação médico e paciente, suas obrigações, deveres e
direitos, hoje esse Direito vai além por discutir questões éticas, bioéticas, filosóficas,
jurídicas e até religiosas. Podemos tomar um único exemplo que abarca todas essas
variáveis: a morte digna, afinal a vida é o bem maior a ser defendido pelo direito,
37
porém hoje, vemos que há estudiosos defendendo o direito à morte, especificamente
naqueles casos onde o paciente não possui esperança de cura e sua sobrevida se
transforma num luta diária repleta de dor e sofrimento.
A título de exemplo, são temas do Direito Médico: Modelos de Gestão e
Assistência na Saúde; Direito à Saúde; Direito e Proteção Ambiental;
Responsabilidade Civil e Criminal de Médicos, Hospitais e Clínicas; Ética, Bioética e
Biodireito; Gestão e Legislação do Sistema Único de Saúde; Gestão e Legislação do
Sistema Suplementar de Saúde; Saúde e Código do Consumidor; Gerenciamento de
Riscos em Saúde; Mediação, Arbitragem e outros Métodos Alternativos de
Resolução de Conflitos em Saúde, entre outros.
38
8 O PRODUTO DA DISSERTAÇÃO, JUSTIFICATIVA, MÉTODOS E OBJETIVOS
8.1 Justificativa para o Ensino do Direito aos profissionais da área médica
No Capitulo Dois falamos brevemente sobre a pertinência da educação
jurídica na formação dos médicos. No Capitulo Quatro mencionamos a necessidade
de aprender o direito para o exercício dessa prática médica. Buscamos nessa
dissertação justificar a pertinência de um manual jurídico que possa ser objeto de
consulta tanto para quem está graduando-se como para os graduados em medicina,
pois esses profissionais encontrarão uma sociedade onde a saúde é,
constitucionalmente, um direito social e fundamental.
Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve necessariamente
estar precedida de uma reflexão sobre o homem e de uma análise do meio de vida
desse homem a quem queremos educar, ou melhor, a quem queremos ajudar a
educar-se (FREIRE, 1979).
Um produto de mestrado em ensino em Ciências da Saúde e do Meio
Ambiente deve buscar a conscientização da realidade na qual estamos inseridos. A
realidade atual justifica o ensino do direito aos profissionais da área médica, onde
deve tomar-se como objeto de uma nova reflexão crítica, tomando posse da
realidade.
Pela ausência de uma análise do meio cultural, histórico e jurídico, corre-se o
perigo de realizar uma educação que não está adaptada ao homem concreto a que
se destina. Como leciona Paulo Freire na obra “Conscientização: teoria e prática da
libertação”:
O homem chega a ser sujeito por uma reflexão sobre sua situação, sobre seu ambiente concreto. Quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua situação concreta, mais emerge, plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para mudá-la. Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciência e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz com muita freqüência a educação em vigor num grande número de países do mundo, educação que tende a ajustar o indivíduo à sociedade, em lugar de promovê-lo em sua própria linha. (FREIRE, 1979, p. 19).
Atuar na área da saúde envolve direta e obrigatoriamente trabalhar com
pessoas. Se usarmos o exemplo do médico, lembraremos que antigamente havia
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uma postura de subordinação do paciente perante o profissional, o que gerava uma
estrutura vertical ao imaginar que o paciente acatava sem questionar as
determinações vindas do profissional (POLICASTRO, 2013).
O Ministério da Saúde na Cartilha Educação que produz Saúde, demonstra a
extensão do conceito saúde ao dizer que ela está presente em todos os momentos
da vida nos quais somos capazes de pensar, sentir e assumir nossos atos e
decisões. É impossível falar de saúde sem pensar nas condições de moradia, de
trabalho, na alimentação, na educação, nos serviços de saúde, no lazer, na forma
como nos relacionamos com as pessoas, na forma como protegemos a natureza e o
meio ambiente, na força da nossa organização, na decisão política, enfim, nas
condições de vida da comunidade (BRASIL, 2005).
Hoje, após o surgimento da Constituição da República que alçou o direito à
saúde como direito fundamental de todo cidadão, observamos que a relação entre
médico e paciente se dá numa estrutura horizontal, de paridade, levando o paciente
a ser recepcionado como consumidor de um serviço e o médico como fornecedor.
Tal formatação propicia uma quantidade exagerada de demandas judiciais
envolvendo médicos e pacientes e a necessidade de informar os profissionais da era
médica acerca dos meandros da ciência jurídica (POLICASTRO, 2013).
O ensino da medicina baseia-se em evidências, se tivermos em mente que a
atuação dá-se em situações concretas e existentes. Já o direito trabalha na hipótese
do “dever ser”, visando a pacificação social, partindo de premissas estocásticas,
analisando o comportamento social, o que poderia ser feito para afastar
determinadas condutas e propiciar determinado comportamento aceitável (GIOSTRI,
2011).
A atuação médica é permeada pela ciência e tecnologia, porém cada paciente
é um universo em si com suas particularidades e aspirações. Uma anamnese mal
realizada por trazer graves danos ao paciente, que poderão ser discutidos também
juridicamente.
Não se propõe que os médicos estudem as ciências jurídicas, mas sugere-se
que conheçam as vertentes legais que apresentam intersecção com atuação desses
40
profissionais, razão da confecção do Manual “Noções Jurídicas para o Profissional
da Área Médica”.
Antigamente trabalhávamos no âmbito da medicalização da vida; hoje,
vislumbrando a saúde como um produto, há a possibilidade inafastável do paciente
colocar-se numa posição superior de exigências, assim é aconselhável que os
médicos nunca tomem decisões de forma unilateral, e sim participem ao paciente
todas as possibilidades de tratamento e suas prováveis consequências positivas ou
negativas (FRANÇA, 2010).
Claro que não há como afastar todo o tecnicismo e expertise que envolve a
atuação dos profissionais na área da saúde, porém o domínio técnico não pode se
sobrepor frente à necessidade de informação por parte do paciente e suas
inseguranças (GOMES, 2012).
Os julgados colacionados no Manual demonstram que, quando o tribunal
acata haver responsabilidade dos profissionais que atuam nas mais variadas áreas
da saúde, gerando o dever de indenizar, a compensação se dá por imperícia,
imprudência ou negligência. Isso leva, grosso modo, à suposição de que esses
técnicos não estão procedendo da forma desejada e, havendo a ocorrência de dano,
consequentemente, surge o dever de repará-lo.
Em outro diapasão, a atuação dos profissionais na área da saúde envolve
riscos de forma inerente, uma vez que, em várias situações o profissional vê-se
premido a agir dentro de um mínimo espaço de tempo, inclusive para reflexão,
exigindo-se um rápido diagnóstico seguido de pronta ação. Tal rapidez, não
afastando os casos emergenciais, é manancial perfeito para eventuais
intercorrências indesejadas, e mesmo que o perigo imediato esteja afastado podem
surgir outros danos acessórios àquele procedimento.
Atuar na área da saúde é estar presente num cenário onde vários fatores se
mesclam à atividade desempenhada, por isso a educação formadora dos
profissionais dessa seara deve ser ampla, extrapolando os limites do tecnicismo
médico e biológico para adentrar nas especificidades e idiossincrasias dos seres
humanos o que, inevitavelmente, leva a maior consciência desse profissional no que
tange a sua influencia na vida alheia.
41
Em 2007 o Ministério da Saúde, elabora o documento chamado de Educação
em Saúde - Diretrizes, que estabelece as diretrizes a serem adotadas no âmbito da
Funasa na elaboração de projetos e de ações de Educação em Saúde e que
corrobora tal ideia:
A prática educativa em saúde amplia-se, visto que ultrapassa uma mera relação de ensino/aprendizagem didatizada e assimétrica; extrapola o cultivo de hábitos e comportamentos saudáveis; incorpora a concepção de direção e intencionalidade, visando à um projeto de sociedade; será sempre construída tendo por referência situações de saúde de um grupo social ou de uma classe específica; supõe uma relação dialógica pautada na horizontalidade entre os seus sujeitos; recoloca-se como atribuição de todo o trabalhador de saúde. Isto porque não são as atividades formais de ensino que educam, mas sim, as relações mediante as quais, num processo de trabalho, transformamos a nossa consciência em uma nova consciência (BRASIL, 2007, p. 11).
Tal assimetria diz respeito ao fato de que essas práticas educativas tem se
realizado na perspectiva da passagem de um saber ou de uma informação
focalizada apenas no desenvolvimento de comportamentos ou hábitos saudáveis,
em que os profissionais da saúde figuram como “os que sabem” e os usuários dos
serviços desenvolvem o papel “dos que desconhecem” (BRASIL, 2007).
Não basta traçar diretrizes para o paciente seguir, retirando o diálogo que
deveria ser o fundamento dessa relação, pois o saber da clientela deve ser
considerado importante e significativo. Através desse diálogo há a necessidade de
uma contínua capacitação e estudo dos que trabalham na área da saúde, não só por
envolver seres humanos como também por tocar num direito fundamental que todos
podem almejar: o direito à saúde.
Assim, a transferência de conhecimentos e expertises da área jurídica aos
graduados na área da saúde surge como um viés de continuidade na educação,
uma vez que a sociedade é dinâmica e tudo o que afeta a existência do ser humano
também o será. Já o estudo de conhecimentos jurídicos para os graduandos
demonstra a inafastável ótica dessa mutação em que o profissional em
desenvolvimento aprende que sempre deverá estar atento às mudanças e anseios
sociais.
Em seu texto Educação permanente em saúde, Eliana Claudia de Otero
Ribeiro, dispõe:
42
No contexto de transformações vertiginosas de nossos tempos, a importância da educação permanente é reiterada de forma crescente. A noção temporal de continuidade nela implícita ganha cada vez mais sentido diante da reconhecida transitoriedade do saber e das marcantes transformações no mundo do trabalho.
A força de uma demanda socialmente construída por novas alternativas de formação, capazes de dar conta da revisão permanente da base cognitiva de práticas profissionais cambiantes, traduz-se freqüentemente, entretanto, na imagem de uma empreitada autônoma e solitária, que repousa na capacidade individual de seguir aprendendo e da qual depende nossa possibilidade de ser alguém num futuro incerto. Vaz expressa o sentimento de incerteza cotidiana que essa situação traz: “As coisas duram menos que nossas vidas. Ser um médico, há oitenta anos atrás, durava menos do que a vida do médico. Hoje, o conceito de ser médico vai durar menos do que a vida de qualquer indivíduo. Daqui a vinte anos, ser médico será outra coisa”. Possivelmente, reside nessa incerteza a força do discurso de resumir os desafios contemporâneos de qualificação para o trabalho no desenvolvimento da capacidade dos indivíduos de “aprender a aprender”.
A rapidez das transformações em curso e a volatilidade da base cognitiva dos perfis profissionais impõem uma formação cada vez mais ampla, requerendo a construção de uma sólida base científica, ética e cultural, e o domínio de ferramentas de avaliação crítica do conhecimento e das transformações mundiais, atributos necessários a um exercício profissional especializado, instável e mutante (RIBEIRO, 2004, p. 294).
Não dá para desassociar a práxis da teoria e no quesito saúde, faz-se
obrigatória uma atualização permanente dos conhecimentos da área médica
agregados a outros conhecimentos, visando uma formação ampla frente à
volatilidade dos tratamentos e da constante mutação na relação médico – paciente,
ainda mais na era da informação na qual estamos inseridos hoje.
A internet mudou por completo o comportamento social, as mudanças
tecnológicas e a inclusão digital repercutem num curioso fenômeno de queda de
fronteiras, um encolhimento do mundo. Essa contração não só aproxima todos os
lugares como coloca o indivíduo num “estado de emergência”. Paulo Freire já dizia
em 1996: “O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o amanhã já está
feito. Tudo muito rápido” (FREIRE, 1996).
Existe uma expressão que representa o estudo da velocidade: dromologia.
Esse termo é utilizado pelo escritor, filósofo e arquiteto Paul Virilio, pensador francês
e percussor em disseminar os reflexos da velocidade numa sociedade bombardeada
por informações e desinformações (VIRILIO, 1996).
Essa urgência se reflete no comportamento dos clientes na área da saúde;
eles buscam resultados mais rápidos e mais baratos, técnicas e procedimentos
43
novos, sem ao menos pesquisar se estão ou não aprovadas pelos órgãos
competentes. Antes de ir ao médico, basta inserir os sintomas na tela do computador
que algum site lhe dará um pseudo diagnóstico e um provável tratamento.
Tal situação altera o diálogo entabulado nas salas de consulta e a relação
profissional paciente, e não pode ser esquecida no ensino dos profissionais da
saúde. Justamente porque a internet nem sempre trará a melhor fonte e a tecnologia
nem sempre poderá substituir um profissional. Cada caso deverá ser analisado
dentro das suas especificidades e não de forma padrão, pois cada paciente é um
universo próprio com suas aspirações e angústias pessoais.
A autonomia do paciente, o acesso a informações ou desinformações sobre
saúde, as transformações sociais, econômicas e tecnológicas, a presença da saúde
como direito social e acessível a todos, a concepção do paciente como consumidor,
a visualização do médico como prestador de serviço, dentre outras acepções, traz
para a relação médico paciente a presença constante da justiça.
Coaduna-se com a realidade atual a interdisciplinaridade entre saúde e
conhecimentos jurídicos. Há a necessidade de diálogo entre essas duas ciências e
sua presença na formação e atuação dos profissionais no exercício da medicina.
8.2 Método
Além do disposto no item anterior, como justificativa da elaboração do Manual
valemo-nos do método de estudo descritivo utilizado pelo professor Carlos José
Pacheco em sua dissertação de Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da
Saúde e do Meio Ambiente, intitulada: “Noções de Direito na prática do profissional
de Medicina e seus reflexos na relação Médico-Paciente”.
Visando propugnar a necessidade de um aprimoramento na formação dos
profissionais da área médica, o Professor Pacheco realizou uma pesquisa de campo
“aplicando um questionário em 171 (cento e setenta e um) estudantes de medicina
dos 04 (quatro) últimos períodos (9º, 10, 11 e 12) do Curso de Medicina do Centro
Universitário de Volta Redonda“ (PACHECO, 2013).
44
Nesse estudo, os discentes responderam e sem identificar-se individualmente
a um questionário elaborado com base na “Escala de Likert”, contendo diversas
afirmativas sobre o conhecimento de institutos jurídicos pertinentes á relação
médico-paciente e á percepção quanto à importância destes institutos (PACHECO,
2013. p.75).
Tal questionário possuía cinco alternativas de respostas: DI - Discordo
inteiramente desta declaração; D - Discordo desta declaração; N - Não concordo
nem discordo desta declaração /não sei; C - Concordo com esta declaração e CP -
Concordo plenamente com esta declaração (PACHECO, 2013, p. 76).
Selecionamos cinco afirmativas que se correlacionam diretamente no
conhecimento jurídico, são elas:
Afirmativa 1: “O médico deve conhecer as normas penais/criminais referentes
a atividade médica”. Respostas: 95,32% escolheram letra CP (concordo plenamente
com esta declaração) + C (concordo com esta afirmativa); 1,75% escolheram letra D
(Discordo desta declaração) + DI (discordo inteiramente desta declaração)
(PACHECO, 2013, p. 76).
Afirmativa 10: “O médico sabe o que é erro médico”: Respostas: 64,33%
escolheram C + CP, contra 14,62% que escolheram D + DI (PACHECO, 2013, p.
82).
Afirmativa 11: “O estudante de medicina sabe a diferença entre imprudência,
imperícia e negligencia”: 46,79% dos entrevistados responderam letra DI + D, contra
33,33% que escolheram CP + C (PACHECO, 2013, p. 83).
Afirmativa 13: “O médico sabe a diferença entre “obrigação de meio” e
“obrigação de resultado”: 48,54% escolheram DI + D contra 24,56% que escolheram
CP + C (PACHECO, 2013, p. 84).
Afirmativa 21: “O médico deve conhecer os direitos e deveres da relação
médico-paciente”: 95,32% CP + C (PACHECO, 2013, p. 89).
45
As cinco afirmativas colacionadas e seus respectivos percentuais de
respostas delatam a importância e a necessidade de um estudo transversal entre o
direito e a ciências da saúde.
Como substrato do trabalho de mestrado elaborado pelo Professor Pacheco,
fica evidente que há uma flagrante lacuna acerca de temas jurídicos que envolvam a
atuação do profissional na área médica.
Não podemos olvidar que o exercício da medicina é dinâmico, mutável e pode
encontrar-se preso a modismos criados pela cultura dominante da época, tornando
uma obrigação para o profissional esse olhar meticuloso visando sua formação e
aperfeiçoamento frente os anseios da sua clientela, portanto é oportuna a
observação de Ribeiro:
A rapidez das transformações em curso e a volatilidade da base cognitiva dos perfis profissionais impõem uma formação cada vez mais ampla, requerendo a construção de uma sólida base científica, ética e cultural, e o domínio de ferramentas de avaliação crítica do conhecimento e das transformações mundiais, atributos necessários a um exercício profissional especializado, instável e mutante (RIBEIRO, 2004, p. 294).
Tal discussão é dinâmica e exige uma atualização permanente por parte de
todos os profissionais que atuam na área da Saúde, permeadas não só por uma
visão científica, ética e cultural, mas também, histórica, social e jurídica.
8.3 Objetivos do Produto
De forma geral, busca-se trazer ao debate temas jurídicos conexos à área
médica. Insurge a necessária tentativa de dialogar dois conhecimentos que estão
diariamente sendo repensados e questionados pela sociedade: o jurídico e o
médico, nessa dissertação, representados pelo Direito e pela Medicina. Como a
“saúde é um direito de todos”, surgem várias discussões doutrinárias,
jurisprudenciais e legislativas, envolvendo conflitos éticos, bioéticos e jurídicos.
Ficou cristalino o reclame dos entrevistados por maiores informações acerca
de conhecimentos jurídicos; assim, o objetivo específico desse manual é trazer
alguns temas conexos à medicina que tangenciam alguns ramos do direito.
46
Nesse mesmo diapasão, as estatísticas do Conselho Federal de Medicina
(CFM) e os registros contabilizados pelo conselho Regional (Cremerj) acerca das
demandas judiciais envolvendo profissionais da área médica demonstram que os
pacientes, de forma progressiva, estão recorrendo ao judiciário quando insatisfeitos
com os serviços prestados. Só a titulo de exemplo o Conselho Federal de Medicina
através da contagem dos processos recebidos expõe que o aumento de demandas
contra cirurgiões, pediatras, ginecologistas e outras especialidades foi de 155% no
Supremo Tribunal de Justiça (STJ), saindo de 120 casos em 2002 para mais de mil
casos em 2010. 1
Dentro dos objetivos específicos o Manual expõe sua vertente teórica, ao
trazer tópicos acerca do Direito Civil, Direito Penal, Direito do Consumidor e Direito
Processual Civil. Tais conhecimentos são de suma importância para aqueles que
trabalham na prestação de serviço como é o caso dos médicos.
Em paralelo ao estudo teórico, o Manual traz breves análises de estudos de
casos advindos do Tribunal do Estado do Rio de Janeiro, propiciando uma
visualização da prática de forma crítica, uma vez que há direitos e deveres
inafastáveis na relação entre o médico e seus pacientes.
Ainda no objetivo específico, os leitores do Manual poderão conciliar os
fundamentos teóricos, advindo da assimilação de conceitos e características
jurídicas ao exercício diário da medicina. Esta vertente reflexiva auxiliará os
profissionais a repensar suas formas de agir, acaso estivessem diante das situações
apresentadas.
Assim, para uma melhor compreensão didática, nos próximos parágrafos
mencionaremos a topografia do Manual, produto do Mestrado Profissional em
Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, intitulado “Noções Jurídicas aos
Profissionais da Área Médica”.
1 Jornal Eletrônico Último Segundo: Conselho recebe 75 processos contra médicos por mês Tendência é de aumento nacional; formação ruim é apontada como uma das culpadas por erros e negligência. Disponível em <http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/conselho-recebe-75-processos-contra-medicos-por-mes/n1237730708510.html>. Acesso em: 18 out. 2013.
47
No capitulo inaugural o Manual aborda temas do Direito Civil como: a Pessoa
no Direito, o Nascimento e o Início da Personalidade Civil, a Capacidade e os Graus
de Incapacidade, a Emancipação, a Morte e o Fim da Personalidade Civil, e a Morte
Presumida e suas implicações.
Ainda no capítulo inicial, mantendo o foco no Direito Civil, lastreado pelo
Direito Constitucional e Conselho Federal de Medicina, o Manual traz os aspectos
jurídicos dos assuntos que envolvam a morte, como: o Cadáver, o Direito à Morte
Digna, e, sucintamente, menciona o que seja Eutanásia, Ortotanásia, Morte
Assistida, Distanásia e Mistanásia.
Adentrando numa seara prática, focada no dia a dia do profissional da área
médica, o Segundo Capítulo aborda os documentos exarados por esse profissional,
como o Prontuário Médico e o Atestado Médico e, de forma concisa, quais as
diligencias e preocupações inerentes ao manejo de tais papéis, a serventia dos
mesmos e quais as implicâncias no tocante ao preenchimento errado. O Manual
também aborda acerca do Consentimento Informado, sua obrigatoriedade e
pertinência, bem como o Segredo Médico.
O Capítulo Terceiro, de forma exclusiva, aborda a questão da Judicialização
da Saúde, que ocorre quando o paciente, através de um processo judicial, postula o
direito à saúde. Tema importante a ser analisado principalmente para aqueles
profissionais que atuam em hospitais públicos seja exercendo função administrativa
ou médica. O Poder Judiciário obriga o Estado a fornecer medicamento, atendimento
médico e/ou hospitalar, cirurgia e tratamento ou qualquer insumo terapêutico dentro
de um prazo marcado pelo juiz e ainda sob pena de alguma sanção caso essa
sentença não seja cumprida (SOUZA NETO, 2008).
O Capítulo Quatro do Manual traz a concepção jurídica para o Erro Médico, já
que no dia a dia da prática médica há acontecimentos que são inevitáveis e estarão
fora do controle do profissional. Mantendo esse cenário, o capítulo seguinte aborda
as Repercussões Jurídicas da atuação dos Profissionais na Área Médica,
notadamente: a Responsabilidade Ética, a Responsabilidade Penal, a
Responsabilidade Civil, a Responsabilidade Administrativa, a Responsabilidade do
Código de Defesa do Consumidor e a Responsabilidade do Hospital, incluindo a
48
IRAS – Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Após o estudo de cada tipo de
Responsabilidade há menção às suas repercussões e sanções, como os Tipos de
Indenização.
O capítulo subseqüente trata de Aspectos Processuais, como a Litigância de
Má-Fé, o Local e os Prazos para o ingresso nas ações de indenização.
Finalizando o Manual, colacionamos vinte e sete Estudos de Casos, visando
demonstrar o comportamento do Tribunal de Justiça frente a situações reais onde
pessoas buscaram o poder judiciário reclamando falha por parte de um profissional
na área médica e postulando uma indenização por isso.
8.4 A Educação como forma de intervenção no mundo
O profissional da área médica, pretenso leitor do Manual “Noções Jurídicas
aos Profissionais da Área Médica”, produto desse mestrado, certamente estará em
sintonia com a visão de Paulo Freire de que aprender é fazer uma imersão da qual
iremos emergir capacitados para fazermos uma verdadeira inserção na realidade
que iremos descortinar:
Desta maneira a inserção é um estado maior que a emersão e resulta da conscientização da situação. É a própria consciência histórica. Daí que seja a conscientização o aprofundamento da tomada de consciência, característica, por sua vez, de toda emersão. Neste sentido é que toda investigação temática de caráter conscientizador se faz pedagógica, e toda autentica educação se faz investigação do pensar. Quanto mais investigo o pensar do povo com ele, tanto mais nos educamos juntos. Quanto mais nos educamos, tanto mais continuamos investigando (FREIRE, 1987, p. 58).
Atuar na área médica envolve obrigatoriamente trabalhar com o outro e para o
outro. O juramento de Hipócrates propugna por esse “ir além” sob o argumento de
que os deveres que o médico deve ter para com a profissão são: a integridade de
vida e a assistência aos doentes. Essa assistência não pode ser dada se o médico
não conhece e reconhece seu paciente, numa visão biológica, ontológica, social e
por que não dizer, jurídica.
A atualidade coloca os pacientes no rol de destinatários do direito à saúde, e
compreender o que é esse direito, suas vertentes e desdobramentos é curiosidade
inafastável a todo aquele que milita nesse fronte.
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Paulo Freire nos ensina que a curiosidade possui várias faces: podemos
concebê-la como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo,
como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de
atenção que sugere e alerta. Também faz parte integrante do fenômeno vital, como
um impulso que nos move e que nos põe impacientes diante do mundo que não
fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. Pedagogicamente, a curiosidade
humana vem sendo histórica e socialmente construída e reconstruída e uma das
tarefas precípuas da prática educativa-progressista é exatamente o desenvolvimento
da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil (FREIRE, 1996).
Na formação de qualquer profissional o momento fundamental é o da reflexão
crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que
se pode melhorar a próxima prática. Não basta ao aluno do curso de fisioterapia
aprender acerca dos tendões, grupos musculares e estrutura óssea. É necessário
que o mesmo saia pelas ruas e observe as pessoas, a forma como andam, como
param, de que jeito se equilibram; ele terá um mapa, um recorte, terá um ponto de
observação. Como perceberá que, não só física, mas psicologicamente, a postura
ou os vícios de postura podem dizer muito de uma pessoa. E é com essa pessoa
que ele irá trabalhar. Numa visão até poética, tratar o dilema do seu paciente é dar a
ele a possibilidade de mudar sua forma de vida, seus hábitos e até a concepção de
existir.
Aqui reside o aspecto da educação como forma de intervenção no mundo:
através da conclusão do estudioso de que se tornou consciente. A capacidade de
aprender se agiganta não apenas para nos adaptar à realidade, mas sobretudo para
transformá-la, intervindo e recriando-a. Somos os únicos seres capazes de aprender
e para nós o aprendizado é uma aventura criadora, aprender para nós é construir,
reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à
aventura do espírito (FREIRE, 1996).
Valendo-nos desse norte proposto por Paulo Freire em intervir no mundo
onde estamos inseridos municiados de forte carga de curiosidade e autonomia, o
Manual “Noções jurídicas aos profissionais das áreas médicas” mostra a
necessidade de interação entre direito e atuação médica, ao propor discussões
acerca de questões jurídicas e éticas, como por exemplo: a) o que é pessoa no
50
direito; b) como se dá a morte da pessoa no direito; c) o que significa eutanásia,
distanásia, ortotanásia, mistanásia e morte assistida; d) o que são segredo médico e
prontuário médico numa visão jurídica; e) o que ocorre quando os juízes são
acionados pelas pessoas a receberem um tratamento ou medicamento; f) quais
crimes um médico pode cometer; g) diferença entre curandeirismo, charlatanismo e
exercício ilegal de medicina; h) estudos de casos julgados pelos tribunais e etc.
Esses tópicos elencados no manual procuram atender o ideário da pedagogia
Freireana por um ensino que realmente transforma constituído por um saber
necessário e teórico do contorno social em que vivemos e mais o saber teórico-
prático da realidade concreta na qual os profissionais da saúde irão trabalhar.
51
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo da premissa entabulada por Paulo Freire de que a educação é um
instrumento de intervenção no mundo com potencialidade direta para interferir na
ideologia dominante, nada mais atual do que sugerir a intersecção entre direito e
medicina, dois ramos que vinculam-se exatamente por dizer respeito ao aspecto
mais caro de qualquer indivíduo: a vida.
A autonomia propugnada por Freire encontra voz no produto desta
dissertação de mestrado: um manual com informações jurídicas para os profissionais
que atuam na área médica. Esse manual visa ampliar a capacitação de todos
aqueles profissionais das áreas da saúde ao exercício racional, jurídico, e, por que
não dizer, crítico de seu oficio.
Mediante a capacitação o conhecimento e as habilidades são engrandecidos
propiciando atuações planejadas por parte do profissional de forma a lastreá-lo
frente às implicâncias jurídicas e legais.
Tal capacitação almeja a aprendizagem individual e autônoma do profissional,
que o leve a ampliar sua capacidade para desenvolver novas formas de atuar, bem
como solucionar problemas existentes e evitar problemas futuros.
Não podemos olvidar que a relação entre o profissional e seu paciente é
extremamente dinâmica e complexa, portanto o agir desse profissional deve ser
coerente com as regras jurídicas.
Há que se realizar uma aproximação entre o aprendizado e a experiência da
vida cotidiana, uma vez que existe um farto manancial em ensino gerado pelas
situações diárias no exercício da medicina. Essa expertise pode ser amplificada
através da transversalidade jurídica presente em todo atuar humano.
Conhecer noções que envolvem a ciência do Direito é valorizar o exercício do
profissional, melhorá-lo através da criação de novos hábitos nas formas de atuar e
de relacionar-se com os pacientes, promovendo uma autonomia mais efetiva no
exercício de seu mister e protegendo-o em sua prática.
52
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