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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA LAURA ALVES DE SOUZA Desfecho clínico dos pacientes residentes em Porto Alegre, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), entre 1999 e 2007, com hepatite B aguda. Porto Alegre 2010

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA … · bem como o de pacientes que evoluíram ao óbito decorrente da doença hepática. Ações voltadas para a educação em saúde,

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DE PORTO ALEGRE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA

LAURA ALVES DE SOUZA

Desfecho clínico dos pacientes residentes em Porto Alegre,

notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN), entre 1999 e 2007, com hepatite B aguda.

Porto Alegre 2010

LAURA ALVES DE SOUZA

Desfecho clínico dos pacientes residentes em Porto Alegre,

notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), entre 1999 e 2007, com hepatite B aguda.

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Hepatologia Básica da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, como requisito para obtenção do título de Mestre em Hepatologia.

Orientador: Prof. Dr. Angelo Alves de Mattos

Co-orientadora: Enfa. Maristela Fiorini

Porto Alegre

2010

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S729e Souza, Laura Alves de

Desfecho clínico dos pacientes residentes em Porto Alegre, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), entre 1999 e 2007, com hepatite B aguda / Laura Alves de Souza. ! Porto Alegre, 2010.

67 f. : il.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Hepatologia – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, 2010.

Orientador: Angelo Alves de Mattos Co-orientador: Maristela Fiorini

1. Hepatologia. 2. Hepatite B. 3. Hepatite crônica. 4. Vacinação. I.

Título. II. Mattos, Angelo Alves de. III. Fiorini, Maristela.

CDD 616.362 3 CDU 616.36-002

Eleonora Liberato Petzhold CRB10/1801

Dedico esse trabalho a uma pessoa muito importante, minha

psicanalista Adeane Fleury, PRINCIPAL responsável pelo meu

amadurecimento profissional e emocional, pela atenção e cuidado

dedicados a mim.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo amor, pelo estímulo e compreensão nas minhas ausências.

À Vida, pelo amor incondicional.

Ao meu irmão Junior, minha cunhada Célia e meus sobrinhos Hérick e Leonardo,

pelo simples fato de existirem na minha vida.

À minha avó Otávia por ter superado uns dos momentos mais difíceis da sua vida e,

mesmo nesse momento.

À minha madrinha Edith e à minha tia Eliete, por me ouvir várias vezes, pelos

estímulos e pelas orações, ainda que eu seja agnóstica.

À minha prima Érica, pela companhia nas madrugadas a fora, por ouvir minhas

angústias, frustrações, dissabores e alegrias.

Ao meu primo Junior, meu eterno amigo, porto seguro e por quem tenho um amor

quase que incondicional.

À minha amiga Fernanda Nogueira, pelo simples fato de existir na minha vida e por

ser tão completa, carinhosa e dedicada.

Ao André Guimarães pela dedicação e ajuda ofertada do início ao fim desse árduo

trabalho.

Ao meu orientador Prof. Dr. Angelo Mattos, pelo ensinamento, profissionalismo,

competência, compreensão, paciência, amizade e respeito.

À minha co-orientadora Enfa. Maristela Fiorini, pelo incentivo, confiança e disposição

para encarar essa difícil tarefa.

À Fátima Rigati, Lisiane Costa, Maria da Graça, Maria Regina, André Machado,

Dimas, ao motorista Antônio, Isete Maria Estella, à técnica de enfermagem Paulina

Cruz e demais colegas da Coordenação Geral de Vigilância Epidemiológica de Porto

Alegre, por acreditarem no sucesso do trabalho.

Aos colegas do Centro Estadual de Vigilância em Saúde – SES/RS.

Ao Coordenador do Programa Nacional para Prevenção e o Controle das Hepatites

Virais (PNHV/MS), Ricardo Gadelha, por acreditar nesse trabalho.

Aos colegas do PNHV, Nilton Gomes, Márcia Tauil, Michael Lise, Evilene

Fernandes, Thiago Amorim, Leandro Santi, Carmen Regina, Rochelle Ferraz, Katia

Crestine, Rafaela Alvarenga e Márcia Colombo pelo auxílio e compreensão nas

ausências.

À Polyanna Ribeiro por se tornar grande amiga, se debruçando nessa dissertação,

ajudando nas tabulações, me estimulando a todo momento.

À Luciana Lara, Cathana Oliveira e Andrea Domanico, pelo estímulo, atenção e

encorajamento.

À Andressa Michels pela amizade, companheirismo e trocas de conhecimentos.

Ao Professor Elias pela correção gramatical dessa dissertação.

Ao José Ewerton de Santana pelo carinho, auxílio, paciência e abdicação da minha

companhia nessa reta final.

Aos Professores Doutores, Francisco Souto, Gerusa Figueiredo e Raymundo Paraná

por ofertarem humildemente os conhecimentos, ensinamentos e também pela

amizade.

Aos pacientes, familiares e acompanhantes que gentilmente aceitaram participar

desta pesquisa.

II

À Luciani Spencer pela atenção e disponibilidade.

Aos profissionais inseridos nos serviços de saúde do SUS e privados, que se

dispuseram a ajudar enviando resultados de exames dos pacientes.

RESUMO

Introdução: As hepatites virais constituem um problema de saúde pública no Brasil

e no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 2 bilhões de pessoas no

mundo já tiveram contato com o vírus da hepatite B (VHB) sendo que 350 a 400

milhões são portadores do mesmo, compreendendo aproximadamente 5% da

população mundial. O risco de desenvolver a cronificação após a infecção é de 90%

em recém nascidos de mães com o Antígeno "e" do VHB (HBeAg) positivo, 25 a

30% em crianças menores de 5 anos e menos de 5% em adultos. Portadores

crônicos possuem risco acrescido de 15 a 40% de desenvolver cirrose,

descompensação hepática e carcinoma hepatocelular, resultando em um milhão de

mortes ao ano.

Objetivo: Descrever o desfecho clínico dos pacientes confirmados com hepatite

aguda por vírus B, no Sistema de Informações de Agravos e Notificações (SINAN),

do município de Porto Alegre, no período de 1999 a 2007.

Pacientes e métodos: Trata-se de um estudo descritivo baseado em dados

secundários obtidos do SINAN e em dados primários colhidos junto aos pacientes

através da aplicação de questionário estruturado com perguntas objetivas e

subjetivas. Foram estudados 103 pacientes confirmados no SINAN, do município de

Porto Alegre, com hepatite B aguda, entre os anos de 1999 a 2007. Após

esclarecimentos sobre a natureza e os objetivos do estudo, os pacientes que

concordaram em participar dele assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Resultados: Nos 103 pacientes notificados com hepatite B aguda prevaleceu o

gênero masculino 67 (65%), na faixa etária de 20 a 49 anos. A maior parte dos

pacientes, 69 (67%) tiveram de 4 a 11 anos de escolaridade, e quanto à profissão, a

maioria, 69 (67%) eram profissionais ativos. Dentre os 103 pacientes notificados, 78

apresentaram desfecho clínico conhecido: 56 (71,8%) “curaram”, 11(14,1%)

cronificaram e 11(14,1%) faleceram por diversas causas (4 por hepatite fulminante).

Desses 78 (75,7%) pacientes, a entrevista foi realizada com 59 (75,6%). O perfil

vacinal dos pacientes notificados, demonstrou que 65 (63,1%) eram não vacinados e

apenas 3 (2,9%) tinham a vacinação completa. A coinfecção esteve presente em 17

pacientes, sendo 12 (70,6%) com vírus da imunodeficiência humana (HIV), 4

(23,5%) com HIV e vírus da hepatite C (VHC) e 1 (5,9%) com VHC. Na população

dos pacientes que evoluíram para a cronificação, 2 apresentaram coinfecção, sendo

1 com HIV e 1 com HIV/VHC. Questionando sobre o que os pacientes consideram

como possíveis formas de transmissão do VHB, 54 (91,5%) relataram a via sexual

como a mais importante e 52 (88,1%), o uso de drogas injetáveis como potencial

fator de risco. Ao perguntar-se sobre de que modo acreditaram ter adquirido o VHB,

24 (40,7%) referiram não saber, 16 (27,1%) citaram a via sexual e 9 (15,3%) a

realização de procedimentos odontológicos. Dos pacientes entrevistados, 45

(76,3%) relataram que no momento da notificação receberam orientações dos

profissionais da saúde sobre as medidas de prevenção adequadas. Como resultado,

foi referido o uso de preservativos por 34 (57,6%) pacientes e a vacinação dos

comunicantes sexuais e domiciliares foram realizadas em 30 (50,8%) dos casos.

Conclusão: O número de pacientes que evoluíram para cronificação foi elevado,

bem como o de pacientes que evoluíram ao óbito decorrente da doença hepática.

Ações voltadas para a educação em saúde, como vacinação e acompanhamento

integral dos pacientes e comunicantes são medidas imprescindíveis para a

prevenção e o controle dessa infecção.

Palavras-chave: Hepatite B. Hepatite crônica. Coinfecção. Vacinação.

ABSTRACT

Introduction: Viral hepatitis is a public health problem in Brazil and worldwide.

According to World Health Organization, 2 billion people worldwide have had contact

with the hepatitis B virus (HBV); 350 to 400 million are carriers, comprising

approximately 5% of the world population. The risk of developing chronic infection

after contact is 90% in newborns of mothers with "e" antigen of HBV (HBeAg)

positive, 25 to 30% in children under 5 years and less than 5% in adults. Chronic

carriers have an increased risk of 15 to 40% of developing cirrhosis, hepatic

decompensation and hepatocellular carcinoma, resulting in one million deaths a year.

Objective: To describe the clinical outcome of patients with confirmed acute hepatitis

B virus in the System Diseases Information & Notices (SINAN), in the city of Porto

Alegre, from 1999 to 2007.

Patients and methods: This was a descriptive study based on secondary data

obtained from the SINAN and primary data collected from patients via a structured

questionnaire with objective and subjective questions. We studied 103 patients

confirmed by SINAN, in the city of Porto Alegre, with acute hepatitis B, between 1999

to 2007. After informed about the nature and objectives of the study, patients who

agreed to participate signed the informed consent form, approved by the Ethics

Committee of the Federal University of Health Sciences of Porto Alegre.

Results: In 103 patient reported with acute hepatitis B male gender was 67 (65%),

aged 20 to 49 years. Most patients, 69 (67%) had 4-11 years of schooling, and for

the profession, the majority, 69 (67%) were active professionals. Among the 103

patients reported, 78 had a known clinical outcome: 56 (71.8%) were “cured”, 11

(14.1%) had a chronic course and 11 (14.1%) died from various causes (4 by

fulminant hepatitis). Among 78 (75.7%) patients, the interview was conducted with 59

(75.6%). The vaccine profile of the patients reported showed that 65 (63.1%) were

not vaccinated, and only 3 (2.9%) were completely vaccinated. The coinfection was

present in 17 patients, 12 (70.6%) with human immunodeficiency virus (HIV), 4

(23.5%) with HIV and hepatitis C virus (HCV) and 1 (5.9%) with HCV. In the

population of chronic patients, 2 had coinfection, one with VHC and one HIV / HCV.

Wondering which were the possible ways of transmission of HBV, 54 (91.5%)

reported sexual route as the most important and 52 (88.1%), injection drug use as a

potential risk factor. To wonder about how they believed to have acquired HBV, 24

(40.7%) reported not to know, 16 (27.1%) cited the sexual route and 9 (15.3%) the

performance of dental procedures. Of the patients interviewed, 45 (76.3%) reported

that at the time of notification received guidance from health professionals about the

preventive measures. The result was that condom was used by 34 (57.6%) patients

and vaccination of household and sexual contacts were made in 30 (50.8%) cases.

Conclusion: The number of patients who progressed to chronicity was high as well

as the patients who progressed to death due to liver disease. Actions for health

education, such as immunization and comprehensive evaluation of patients and

contacts are essential measures for the prevention and control of infection.

Keywords: Hepatitis B. Chronic Hepatitis. Coinfection. Immunization.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura do VHB. ................................................................................ 17

Figura 2 – Distribuição geográfica da infecção crônica pelo VHB ........................ 18

Figura 3 – Perfil vacinal dos 103 pacientes notificados, com hepatite B aguda, de

1999 a 2007, em Porto Alegre. ............................................................................. 42

Figura 4 – Distribuição das coinfecções dentre os casos notificados de 1999 a 2007

em Porto Alegre. ................................................................................................... 42

Figura 5 – Distribuição dos pacientes quanto ao conhecimento sobre as vias de

transmissão da hepatite B..................................................................................... 43

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perfil sócio-demográfico dos 103 pacientes notificados com hepatite B

aguda, de 1999 a 2007, em Porto Alegre. ............................................................ 39

Tabela 2 – Perfil sorológico dos 103 pacientes notificados com hepatite B aguda, de

1999 a 2007, em Porto Alegre .............................................................................. 40

Tabela 3 – Perfil sócio-demográfico dos 78 pacientes notificados com hepatite B

aguda, de 1999 a 2007, em Porto Alegre, com desfecho clínico conhecido. ....... 41

Tabela 4 – Avaliação das medidas de prevenção adotadas pelos portadores de

hepatite B (n=59)................................................................................................... 44

LISTA DE SIGLAS

ALT Alanino Aminotransferase

Anti-HBc Anticorpo contra o antígeno do centro do VHB

Anti-HBc IgM Anticorpo da classe IgM contra o antígeno do centro do VHB

Anti-HBe Anticorpo contra o antígeno "e" do VHB

Anti-HBs Anticorpo contra o antígeno de superfície do VHB

AST Aspartato Aminotransferase

CDC Center for Disease of Control

CGVS Coordenação Geral de Vigilância em Saúde

CID Classificação Internacional de Doenças

DNA Ácido Desoxirribonucléico

ELISA Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

HBcAg Antígeno do centro do VHB

HBeAg Antígeno "e" do VHB

HBsAg Antígeno de superfície do VHB

HCC Carcinoma Hepatocelular

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

IgM Imunoglobulina M

mL Mililitro

MS Ministério da Saúde

NR Não quis responder

NS Não sabe

OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Panamericana da Saúde

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

PNHV Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais

PNI Programa Nacional de Imunizações

PS/E Paciente submetido/exposto à

SES Secretaria Estadual da Saúde

SIA Sistema de Informação Ambulatorial

SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

SIH Sistema de Informação Hospitalar

SIM Sistema de Informação sobre Mortalidade

SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SMS Secretaria Municipal da Saúde

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UI Unidades Internacionais

UPE Universidade de Pernambuco

VHB Vírus da hepatite B

VHC Vírus da hepatite C

VHD Vírus da hepatite D

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17

1.1 Epidemiologia ................................................................................................ 18 1.2 Genótipos....................................................................................................... 20 1.3 Transmissão .................................................................................................. 20 1.4 Manifestações Clínicas ................................................................................. 21

1.5 História Natural da Hepatite Viral Crônica B .............................................. 22 1.6 Hepatite Oculta e Carcinoma Hepatocelular............................................... 24 1.7 Exames Complementares............................................................................. 25 1.8 Vacinação....................................................................................................... 27

1.9 Vigilância Epidemiológica ............................................................................ 28 1.10 Tratamento ................................................................................................... 29 2 OBJETIVO ......................................................................................................... 30 2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 30

2.2 Objetivos específicos ................................................................................... 30 3 PACIENTES E MÉTODOS ................................................................................ 31 3.1 Delineamento do Estudo .............................................................................. 31 3.2 População de Estudo e Período de Referência .......................................... 31

3.3 Unidades Notificadoras ................................................................................ 31 3.4 Desfecho de Interesse .................................................................................. 31 3.5 Critérios de Inclusão e Exclusão ................................................................. 32 3.5.1 Critérios de Inclusão .................................................................................. 32

3.5.2 Critérios de Exclusão................................................................................. 32 3.6 Fluxograma .................................................................................................... 32 3.6.1 Levantamento do número de pacientes notificados e busca ativa....... 33 3.6.2 Entrevistas e encaminhamentos .............................................................. 33 3.6.3 Resultados laboratoriais ........................................................................... 34

3.6.4 Pacientes não encontrados....................................................................... 35 3.6.5 Pacientes especiais e menor de idade..................................................... 35 3.6.6 Pacientes com coinfecções associadas .................................................. 35 3.7 Problemas encontrados durante as visitas domiciliares .......................... 36

3.8 Conduta adotada frente aos comunicantes................................................ 36

3.9 Considerações Éticas ................................................................................... 36 3.10 Análise estatística ....................................................................................... 37 4 RESULTADOS................................................................................................... 38 5 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 45

6 CONCLUSÃO .................................................................................................... 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 52 Anexo A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................... 60 Anexo B - Questionário para realização da busca ativa dos pacientes HBsAg

(+) e anti-HBc IgM (+) .......................................................................................... 62

17

1 INTRODUÇÃO

As hepatites virais constituem um problema de saúde pública no Brasil e no

mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 2 bilhões de pessoas no

mundo já tiveram contato com o vírus da hepatite B (VHB) sendo que 350 a 400

milhões são portadores do mesmo, compreendendo aproximadamente 5% da

população mundial. O risco de desenvolver cronificação, após a infecção, é de 90%

em recém nascidos de mães com o antígeno "e" do VHB (HBeAg) positivo, 25% a

30% em crianças menores de 5 anos, e menos de 5% a 10% em adultos. (1,2,3,4,5)

Portadores crônicos possuem risco acrescido de 15% a 40% de desenvolver cirrose,

descompensação hepática e carcinoma hepatocelular (HCC), resultando em um

milhão de mortes por ano.(6, 7, 8, 9, 10)

A hepatite B é causada por um vírus pertencente à família dos

hepadnaviridae, de forma esférica, com dupla camada, de 42 nm de diâmetro,

composta por um envelope lipídico, o antígeno de superfície do VHB (HBsAg), que

envolve um nucleocapsídeo interior, o antígeno do centro do vírus hepatite B

(HBcAg). Apresenta no seu genoma um ácido desoxirribonucléico (DNA) circular e

parcialmente duplicado de aproximadamente 3.200 pares de bases e peso de 3.2 kb

e uma DNA polimerase (11) (Figura 1).

Figura 1 – Estrutura do VHB

Fonte: ABCDE do Diagnóstico para as Hepatites Virais.(12)

O hospedeiro natural do VHB é o homem, mas vírus similares constituídos de

DNA foram isolados em animais, como marmotas, esquilos e patos. O vírus tem

18

como preferência as células hepáticas, porém foi encontrado no pâncreas, rins e

células mononucleares.(10,13)

1.1 Epidemiologia

A prevalência global do vírus da hepatite B varia em muitos países, podendo

ser definida, segundo a presença de HBsAg, como alta (! 8%), moderada (2% a 7%)

e baixa (<2%), conforme Figura 2. Nos países desenvolvidos, a prevalência é alta

entre imigrantes asiáticos, 15% a 20%, e naqueles que apresentam comportamento

de risco.(2,3,14,15)

Figura 2 – Distribuição geográfica da infecção crônica pelo VHB.(16, 17)

No Brasil, com toda a sua diversidade étnica, econômica e regional, a

prevalência da infecção pelo VHB também tem distribuição muito heterogênea, com

19

tendência considerada aumentada no sentido sul-norte, sendo na região sul de 0,5%

a 1,1%, centro e noroeste de 1,5% a 3,0%, podendo alcançar até 15% na região

amazônica. Entretanto, esse padrão não deve ser generalizado, uma vez que já

foram identificadas áreas de prevalência elevada no Espírito Santo, Paraná e Santa

Catarina, e de baixa prevalência no Estado do Amazonas.(17, 18,19)

O Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais –

Ministério da Saúde (PNHV/MS) numa ação conjunta com a Universidade de

Pernambuco (UPE) e a Organização Panamericana da Saúde/Organização Mundial

da Saúde (OPAS/OMS), desenvolveu o inquérito nacional de base populacional nas

capitais brasileiras, que irá fornecer a real dimensão sobre a prevalência dessa

infecção, por macrorregiões. Dados mostram que a prevalência do HBsAg na

população não vacinada de 13 a 19 anos de idade é de 0,19% na região Nordeste,

0,47% no Centro-Oeste e 0,60% no Distrito Federal, apresentando assim uma

prevalência total de menos de 1% nessas regiões, representando uma estimativa

total de 30.000 portadores crônicos.(20,21)

Na região sul, dados ainda preliminares, não publicados, revelam baixa

endemicidade, sendo a prevalência do HBsAg, em indivíduos de 10 a 19 anos, de

0,12%, e nos de 20 a 69 anos, de 0,5%, e para o anticorpo contra o antígeno do

centro do VHB (anti-HBc), em indivíduos de 10 a 19 anos, de 1,18%, e nos de 20 a

69 anos, de 11,2%.(22)

Estudo realizado em um banco de sangue num hospital público de Porto

Alegre com 4499 doadores de sangue demonstrou que 347 (7,7%) pacientes foram

impedidos de realizar doação por apresentarem pelo menos uma sorologia positiva.

E, dentre esses pacientes, 146 (42,1%) foram positivos para os marcadores do VHB. (23)

20

1.2 Genótipos

Existem, no mundo, oito tipos de genótipos da hepatite B (A-H), distintos entre

si pela sequência de nucleotídeos no genoma e que variam quanto à distribuição

geográfica. Pequenas variações nos genótipos do vírus B estabelecem quatro

subtipos: adw, ayw, adr, e ayr.(10,13,24)

Enquanto a relevância clínica e terapêutica dos genótipos do VHB continua a

ser investigada, evidências se acumulam, sugerindo que as mesmas possam afetar

a história natural da doença hepática, e provavelmente possam ter um papel definido

no manuseio do paciente com hepatite pelo vírus B.(25)

No Brasil há diferenças regionais com predominância dos genótipos A (50% a

89%), seguido pelo D (24% a 36%), sendo menos frequente o C e F (3% a 4%), em

algumas áreas da região ameríndia. Por outro lado, em populações de áreas

urbanas da região sudeste há franco predomínio dos genótipos A e D. Esses

genótipos foram os predominantes na região sudoeste do estado do Paraná.(10,13)

Em Porto Alegre, conforme estudo realizado num hospital geral, foram

avaliados 67 pacientes com HBsAg positivos, para verificar prevalência dos

genótipos do vírus da hepatite B. Destes 67 pacientes, 53 apresentaram DNA-VHB

positivo, pelo método Reação em Cadeia de Polimerase (PCR). Como resultado

encontrado, 32 pacientes apresentaram o genótipo D, 18, o A, e 3, o F (26); esse

resultado difere dos estudos em outras regiões do país.(25,27)

1.3 Transmissão

Os portadores do VHB correspondem a reservatórios humanos de vírus, que

tem a parenteral como principal via de disseminação da infecção. A transmissão

ocorre através de fluidos corpóreos ou sangue. Estão bem documentadas as

transmissões desse vírus pela exposição a sangue ou derivados, uso de drogas

injetáveis (compartilhamento de agulhas, seringas), inaláveis (cocaína) e “pipadas”

(crack), relações sexuais desprotegidas, exposições perinatais, transplantes de

21

órgãos ou tecidos, hemodiálise, no uso de instrumentos contaminados durante

procedimentos odontológicos e cirúrgicos, na aplicação de piercings, acupuntura,

tatuagem e por procedimentos realizados em manicures/pedicures. Outros líquidos

orgânicos como sêmen, secreção vaginal e leite materno, apresentam o vírus,

porém o potencial de infecção é menos documentado. Grupos populacionais com

comportamentos sexuais de risco acrescido, como profissionais do sexo, homens

que fazem sexo com homens, além dos usuários de drogas injetáveis que

compartilham agulhas e seringas, profissionais de saúde e pessoas submetidas a

hemodiálise, apresentam prevalência maior de infecção. Possivelmente, na década

de 60, a propagação do VHB ocorreu, prioritariamente, de forma transfusional. Em

1971, foram introduzidos avanços no controle dessa forma de transmissão, como a

triagem através de marcadores sorológicos em doadores de sangue, que se tornou

mais rigorosa.(28, 29,30,31)

1.4 Manifestações Clínicas

Cerca de dois terços dos pacientes com hepatite B aguda têm uma doença

assintomática e/ou com manifestações inespecíficas que geralmente passam

despercebidas. Aproximadamente um terço dos adultos com hepatite B aguda pode

desenvolver sintomas e sinais clínicos, que variam entre leves a intensos e

infrequente a insuficiência hepática aguda. O período de incubação do vírus é em

média de 2 a 3 meses, podendo variar de 1 a 6 meses após a exposição (a duração

do período de incubação pode ser relacionada com o nível de exposição ao vírus).

Manifestações extra-hepáticas da hepatite B podem estar presentes em 1% a 10%

dos pacientes infectados pelo VHB. Embora a patogênese destas desordens seja

obscura, a mediação por complexo imune relacionado com os elevados níveis de

antigenemia do VHB deve ser pensada.(10,32,33)

Conforme referido anteriormente, uma porcentagem variada de indivíduos

infectados pelo VHB pode evoluir para a forma crônica.(32)

22

1.5 História Natural da Hepatite Viral Crônica B

Para um melhor entendimento, a história natural da hepatite crônica é dividida

em cinco fases distintas: a fase de imunotolerância, a de reação imune; a do estado

de portador inativo do VHB, a de hepatite B crônica HBeAg negativo e a fase do

HBsAg negativo. Ressalta-se que as mesmas não são necessariamente

sequenciais. (34)

I. Fase da Imunotolerância: caracterizada pela presença do HBeAg positivo

com altos níveis de replicação viral, as aminotransferases estão normais ou com

baixos níveis, sem atividade necroinflamatória, ausência ou lenta progressão para

fibrose. Durante esta fase, a perda espontânea do HBeAg é muito baixa, sendo mais

frequente e mais prolongada em indivíduos infectados no período perinatal ou nos

primeiros anos de vida. Em virtude do nível da viremia, estes pacientes apresentam

alto potencial de transmissibilidade.(34)

II. Fase da reação imune: é caracterizada pelo HBeAg positivo, baixos níveis

de replicação viral, aumento ou flutuação nos níveis das aminotransferases,

atividade necroinflamatória moderada ou intensa e maior progressão para fibrose,

quando comparada à fase anterior. Pode durar semanas ou até anos. Além disso, a

taxa de perda do HBeAg espontânea é maior do que a da fase de imunotolerância.

Esta fase pode ocorrer vários anos após a fase anterior sendo mais frequente em

adultos infectados.(34)

III. Fase do estado de portador inativo: ocorre quando da soroconversão do

HBeAg para o anticorpo contra o antígeno "e" do VHB (anti-HBe). É caracterizada

pelo baixo ou indetectável nível do DNA-VHB. Esta situação é favorável por

apresentar baixo risco de evolução para cirrose ou HCC, resultando em controle

imunológico da infecção. A perda do HBsAg e a soroconversão para o anticorpo

contra o antígeno de superfície do VHB (anti-HBs) pode ocorrer espontaneamente

em 1% a 3% dos casos ao ano, geralmente após vários anos, com persistência do

DNA-VHB indetectável.(34)

23

IV. Fase da hepatite B crônica HBeAg - negativo: durante a fase

imunorreativa, pode ocorrer a soroconversão HBeAg para anti-HBe, representando

uma fase tardia da história natural da hepatite B crônica. É caracterizada por

reativação periódica, com flutuação nos níveis de DNA-VHB, das

aminotransaminases e com atividade histológica hepática. Estes pacientes são, em

regra, portadores do vírus B com mutações na região precore e ou core-promoter,

sendo incapazes de expressar o HBeAg. Portadores crônicos HBeAg negativos

estão associados com baixas taxas de remissão espontânea. Algumas vezes pode

ser difícil distinguí-lo do verdadeiro portador inativo. O portador inativo tem bom

prognóstico, com baixo risco de complicações, enquanto este paciente apresenta um

dano hepático com alto risco de progressão a uma doença hepática crônica

avançada.(34)

V. Fase do HBsAg negativo – nesta fase, observa-se baixo nível de

replicação viral, após a perda do HBsAg, podendo persistir com DNA-VHB

detectável no fígado. Geralmente o DNA-VHB não é detectável no soro, enquanto o

anti-HBc, com ou sem anti-HBs, são detectáveis. A perda do HBsAg está associada

a um melhor prognóstico com importante redução do risco de cirrose e HCC. A

reativação da atividade da doença pode ocorrer mesmo nesta fase, quando, por

exemplo, o paciente for submetido a algum processo que leve a imunodepressão.(34)

Deve ser lembrado que, nas formas graves, fulminantes da hepatite B, o

HBsAg desaparece rapidamente, em geral, dentro de 4 (quatro) semanas, após o

surgimento do quadro clínico. Nessa forma de evolução da doença, o diagnóstico

pode se basear na presença do anticorpo da classe IgM contra o antígeno do núcleo

do VHB (anti-HBc IgM), que indica infecção aguda pelo vírus B; ou mais

frequentemente pela detecção do DNA viral, que se mostra presente na fase inicial

do processo e deve ser solicitado rotineiramente. Se o indivíduo sobrevive ou é

submetido ao transplante hepático, o anti-HBs pode surgir precocemente, denotando

“resolução” do quadro.(31,35)

A percentagem de cirrose hepática relacionada ao vírus B varia conforme a

idade em que o paciente foi infectado, o gênero do paciente (sexo masculino), tempo

para soroconversão do HBeAg, a magnitude da carga viraI, a gravidade da atividade

necroinflamatória hepática, a presença de mutação precore, o tabagismo crônico, o

24

uso crônico de bebidas alcoólicas, elevados níveis séricos de alanino

aminotransferase (ALT), coinfecção ou superinfecção aguda viral com o vírus da

hepatite C, D (VHC, VHD) ou vírus da imunodeficiência humana (HIV), paciente com

hepatite viral B do genótipo C (em regra pacientes asiáticos), homens que fazem

sexo com homens, portadores de hepatite crônica e HIV reativo. A taxa de incidência

anual de cirrose em portadores inativos é inferior a 1% ao ano, enquanto que em

HBeAg positivos é de 1,6% a 3,8%, com incidência cumulativa de 8% a 17%. Nos

HBeAg negativos a taxa é de 2,8% a 9,7% ao ano, com incidência cumulativa entre

13% a 38%.(10,11,36)

1.6 Hepatite Oculta e Carcinoma Hepatocelular

No que refere a hepatite oculta, algumas investigações mostraram que, em

30% a 35% dos indivíduos HBsAg negativos, pode ser detectado o DNA-VHB no

soro em baixos níveis ou no fígado. A região amazônica é uma das regiões, no

mundo, com maior acometimento da doença e suas consequências. (35)

Em Porto Alegre foi realizado um estudo para verificar a freqüência e as

consequências da infecção oculta pelo VHB em 46 pacientes com infecção crônica

pelo VHC, parcela dos quais com HCC. Como resultado, a infecção oculta pelo VHB

foi diagnosticada no tecido hepático de 9 (19,5%) pacientes com infecção pelo VHC.

A prevalência foi avaliada nos pacientes com VHC com e sem HCC, estando

presente em 7 (77,7%) deste último grupo, conferindo 35% de infecção oculta pelo

VHB nos pacientes com HCC.(37)

Alguns dos fatores que contribuem para a progressão da doença hepática,

acelerando a evolução para a cirrose e ou HCC, são as coinfecções com o VHC e

VHD, o HIV, alterações metabólicas (doença hepática gordurosa não alcoólica) e

ingestão crônica de álcool.(10,38)

O HCC é uma complicação com incidência em ascensão nas ultimas décadas

em vários países sendo frequente, onde a hepatite B é endêmica, acometendo entre

2% e 8% nos casos em que o vírus da hepatite B for o agente agressor.(10,11,39)

25

1.7 Exames Complementares

Para a detecção, investigação, acompanhamento e tratamento da hepatite B,

é indispensável a realização de exames complementares.

Os testes sorológicos específicos, apesar de todos os avanços em relação ao

diagnóstico das hepatites virais, se mantêm como um método simples de avaliar o

decorrer da infecção viral determinando as fases da infecção e os procedimentos a

serem seguidos.

Como metodologia de referência, é utilizado o ensaio imunoenzimático

ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay), que pode ser realizado para a

pesquisa do HBsAg, anti-HBc total, anti-HBc IgM, anti-HBs, HBeAg e anti-HBe.

Visando determinar a conduta a ser estabelecida frente ao paciente, é

necessário conhecer e interpretar os marcadores.

HBsAg – primeiro marcador a surgir após a infecção, em torno de 30 a 45

dias, e pode permanecer detectável por até 180 dias, nos casos de hepatite aguda.

Ao persistir além de seis meses, caracteriza a infecção crônica. Existem mutações

que podem alterar a conformação do HBsAg e consequentemente, inibir a sua

detecção pelos testes imunoenzimáticos usuais. Nestes casos, a sorologia para o

HBsAg apresenta-se negativa. Sua negatividade também pode caracterizar uma

infecção oculta, na qual recomenda-se detectar o DNA-VHB, utilizando testes de

biologia molecular.(40)

Anti-HBc IgG - marcador que indica contato prévio com o vírus. Permanece

detectável por toda a vida nos indivíduos que tiveram a infecção.(40)

Anti-HBc IgM - marcador de infecção recente, encontrado no soro até 32

semanas após a infecção e portanto confirma o diagnóstico de hepatite B aguda.(40)

Anti-HBs - marcador que indica “imunidade” ao VHB. Está presente no soro

após o desaparecimento do HBsAg, sendo indicador de “cura”. Está presente

isoladamente em pessoas vacinadas.(40)

HBeAg - indicativo de replicação viral e, portanto, de alta infectividade. Na

fase aguda surge após o aparecimento do HBsAg e pode permanecer por até dez

semanas. Na hepatite B crônica, a presença do HBeAg indica replicação viral e,

portanto, atividade da doença. Em pacientes infectados por cepas com mutação

precore ou do promoter (não produtoras da proteína “HBeAg”) este marcador

26

apresenta-se não reagente. Neste caso, recomenda-se avaliar a carga viral do VHB,

utilizando testes de biologia molecular.(40)

Anti-HBe - Seu surgimento é um marcador de bom prognóstico na hepatite

aguda pelo VHB. A soroconversão HBeAg para anti-HBe indica alta probabilidade de

resolução da infecção nos casos agudos. Na hepatite crônica, a presença do anti-

HBe, de modo geral, indica ausência de ou baixa replicação viral, e, portanto, menor

atividade da doença. No entanto pode estar presente em pacientes com mutações

precore e do promoter. (40) Dentre os exames complementares necessários para a definição e o

acompanhamento da doença hepática destacam-se as aminotransferases, aspartato

aminotransferase (AST) e a ALT, a traduzir a agressão hepatocelular. Em geral,

essas enzimas começam a elevar-se uma semana antes do início da icterícia e

normalizam-se em cerca de três a seis semanas de curso clínico da doença aguda.

Nas formas crônicas, na maioria das vezes, a elevação não é grande e, por vezes, é

o único exame laboratorial sugestivo de doença hepática.(40)

Testes de biologia molecular para detectar e ou quantificar a presença de

DNA para o VHB são de grande relevância:

DNA-VHB qualitativo - detecta a presença do DNA viral no indivíduo infectado. A

pesquisa de DNA do VHB no soro é o marcador mais sensível na avaliação da

presença do vírus em paciente portadores do vírus da hepatite B. Pode ser utilizado

para detectar a presença do vírus no período da janela imunológica, na hepatite

fulminante, no diagnóstico de infecção oculta e em indivíduos com suspeita de

infecção recente, a exemplo os profissionais da saúde no caso de acidente

ocupacional.(41)

O teste de DNA-VHB qualitativo é uma alternativa nas situações onde o

HBsAg pode não ser esclarecedor, tanto ta fase aguda como na crônica. Não

acrescenta, em regra, maiores informações ao diagnóstico, sendo, por isso,

substituído pelo DNA-VHB quantitativo.(41)

DNA-VHB quantitativo - Detecta e quantifica a carga do DNA viral circulante no

indivíduo infectado. Atualmente existem testes ultra-sensíveis que podem detectar

menos de 5 cópias (aproximadamente 1 UI/mL). Nos casos de hepatite crônica pelo

VHB, a solicitação desse exame está cada vez mais frequente. O diagnóstico da

hepatite B crônica pode ser feito pela presença de níveis elevados de DNA-VHB (>

2.000 UI/mL), com elevação dos níveis de aminotransferases e sinais sugestivos de

27

hepatite B na biópsia hepática. Por outro lado, pacientes com baixa carga viral (<

2.000 UI/mL), com níveis normais de aminotransferases, com ausência do HBeAg e

presença de anti-HBe, são considerados portadores inativos. A carga viral é

ferramenta fundamental no tratamento do paciente com hepatite crônica pelo

VHB.(41)

A genotipagem do vírus da hepatite B ainda não é um teste adotado na rotina

clínica, embora possa ser de auxílio para definir o tipo de tratamento (uso do

interferon), especialmente em indivíduos HBeAg positivos.(25,41) Atualmente é

aconselhado para fins de pesquisa, embora alguns estudos evidenciam a relação

entre genótipo e a gravidade da doença, como: complicações mais graves e maior

probabilidade de HCC.(42)

O exame anatomopatológico, obtido por biópsia hepática, em muitos casos, é

fundamental para a avaliação da gravidade e da extensão das lesões hepáticas

nesta população de pacientes. Esse procedimento eventualmente pode mostrar,

quando realizado imunohistoquímica, a presença de marcadores do vírus.(43)

1.8 Vacinação

A medida mais eficaz para prevenção da hepatite B é a vacinação. Obtida por

processo de DNA - recombinante, é eficaz e segura, sendo que as três doses de

vacina induzem títulos protetores de anticorpos contra o antígeno de superfície do

VHB (anti-HBs ! 10 UI/ml) em mais de 90% dos casos em adultos e jovens sadios e

em mais de 95% em lactentes.(44,45) A imunogenicidade é reduzida em neonatos

prematuros, indivíduos com mais de 40 anos, imunocomprometidos, obesos,

fumantes, etilistas, pacientes em programas de hemodiálise ou portadores de

cardiopatia, cirrose hepática ou doença pulmonar crônica.(40,46)

Instituída no Brasil em 1992, como uma estratégia de campanhas nas regiões

consideradas hiperendêmicas, em 1998 foi proposta de forma universal para

menores de um ano e, posteriormente, ampliada para menores de 20 anos.(47) A

partir de 2001, a vacinação foi estendida para populações vulneráveis: profissionais

de saúde; bombeiros; policiais militares, civis e rodoviários envolvidos em atividade

de resgate; carcereiros de delegacias e penitenciárias; usuários de drogas injetáveis

28

e inaláveis; pessoas em regime carcerário; pacientes psiquiátricos; homens que

fazem sexo com homens; profissionais do sexo; populações indígenas;

comunicantes domiciliares de portadores de HBsAg positivos; pacientes em

hemodiálise; politransfundidos; talassêmicos; portadores de anemia falciforme;

portadores de neoplasias; portador de HIV; portadores do VHC; coletadores de lixo

hospitalar e domiciliar. Para pacientes imunocomprometidos, com insuficiência renal

(fazendo hemodiálise) ou transplantados o volume de cada dose deve ser

dobrado.(46)

1.9 Vigilância Epidemiológica

Instituído em 2003, o Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das

Hepatites Virais apresentando como um dos principais componentes, a Vigilância

Epidemiológica, apresenta como finalidade de controlar as hepatites virais no Brasil;

conhecer o comportamento epidemiológico das hepatites virais quanto ao agente

etiológico, pessoa, tempo e lugar; identificar os principais fatores de risco para as

hepatites virais; ampliar estratégias de imunização contra as hepatites virais;

detectar, prevenir e controlar os surtos de hepatites virais; reduzir a prevalência de

infecção das hepatites virais e avaliar o impacto das medidas de controle.(48)

As hepatites virais são doenças de notificação compulsória, conforme portaria

n°. 2472 de 31 de agosto de 2010 e, portanto, todos os casos suspeitos devem ser

notificados utilizando a ficha de notificação e investigação padronizada no Sistema

de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e encaminhados ao nível

hierarquicamente superior ou ao órgão responsável pela vigilância epidemiológica:

municipal, regional, estadual ou federal.(49)

As principais fontes notificadoras são: comunidade, serviços de assistência

médica, hemocentros e bancos de sangue, clínicas de hemodiálise, laboratórios,

escolas, creches e outras instituições. Além disso, casos podem ser “capturados” no

Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação

Ambulatorial e Sistema de Informação Hospitalar (SIA e SIH) e nos sistemas de

informação da Vigilância Sanitária e Ambiental.(40)

29

1.10 Tratamento

O Ministério da Saúde publicou, em outubro de 2009, a Portaria n°. 2561 que

estabelece as novas diretrizes no que tange fundamentalmente ao tratamento dos

pacientes com VHB.(50)

Considerando que as hepatites virais são caracterizadas como um problema

de saúde pública em determinadas regiões do Brasil, entende-se o interesse de

conhecer o desfecho clínico dos pacientes notificados como hepatite B aguda, para

a adoção de medidas eficazes na prevenção, tratamento e o controle dessa doença.

30

2 OBJETIVO

2.1 Objetivo geral

Descrever o desfecho clínico dos pacientes confirmados com hepatite aguda

por vírus B, no SINAN do município de Porto Alegre no período de 1999 a 2007.

2.2 Objetivos específicos

- Avaliar o perfil demográfico dos pacientes notificados no SINAN do município de

Porto Alegre no período de 1999 a 2007, cujos casos foram “encerrados’’ como

hepatite aguda por vírus B.

- Avaliar o perfil vacinal dos pacientes notificados no SINAN do município de Porto

Alegre no período de 1999 a 2007.

- Identificar a presença de coinfecção dentre os pacientes notificados com hepatite

aguda no SINAN.

- Descrever o conhecimento dos “pacientes” entrevistados no que tange às formas

de transmissão do VHB, bem como a via de transmissão envolvida no seu caso.

- Descrever o percentual de pacientes que receberam algum tipo de orientação

preventiva dos profissionais de saúde e quais as medidas de prevenção contra a

hepatite B adotadas pelos pacientes em relação aos comunicantes domiciliares.

31

3 PACIENTES E MÉTODOS

3.1 Delineamento do Estudo

Estudo descritivo baseado em dados secundários obtidos do SINAN e em

dados primários colhidos junto aos pacientes através da aplicação de questionário

estruturado com perguntas objetivas e subjetivas.

3.2 População de Estudo e Período de Referência

Foram estudados 103 pacientes confirmados no SINAN do município de Porto

Alegre, com hepatite B aguda, entre os anos de 1999 a 2007.

3.3 Unidades Notificadoras

As unidades notificadoras foram os serviços do Sistema Único de Saúde

(SUS) que compreendem as unidades básicas de saúde, hospitais universitários e

federais, a própria vigilância epidemiológica, bem como serviços privados, como

hospitais e laboratórios.

3.4 Desfecho de Interesse

Cura, cronicidade e óbito dos pacientes notificados com hepatite B aguda.

32

3.5 Critérios de Inclusão e Exclusão

3.5.1 Critérios de Inclusão

Foram incluídos no estudo os pacientes notificados no SINAN, no período de

janeiro de 1999 a dezembro de 2007, os quais apresentaram marcador sorológico

HBsAg e anti-HBc IgM reagentes. A presença desses dois marcadores encerra o

caso como hepatite B aguda, pelo critério da ‘‘confirmação laboratorial”.

3.5.2 Critérios de Exclusão

Foram excluídos os pacientes não encontrados, por mudança de endereço;

os que não apresentaram informações no prontuário sobre a procura do serviço de

saúde, notificados à época, após os 6 meses; os que não fizeram contato, após

visitas domiciliares e ligações telefônicas realizadas.

3.6 Fluxograma

Faremos uma breve descrição das atividades realizadas no que diz respeito

ao critério de seleção dos pacientes, bem como encontrá-los, entrevistá-los,

encaminhá-los para sorologia, e aqueles que tiveram conhecimento sobre a

cronificação, os encaminhamentos necessários.

33

3.6.1 Levantamento do número de pacientes notificados e busca ativa

A vigilância epidemiológica do município de Porto Alegre, utilizando duas

versões do SINAN (a versão Windows de 1999 a 2006 e a SINAN Net em 2007),

realizou a busca dos pacientes que apresentavam qualquer marcador positivo que

indicava o contato com o VHB.

Entre os anos de 1999 e 2006, foram realizadas 592 notificações, e no ano de

2007, foram 139, totalizando assim 731 notificações. Porém, o critério de inclusão

proposto nesse estudo contemplou pacientes que apresentaram marcadores

positivos para o HBsAg e anti-HBc IgM, e, desta forma foram identificados 103

pacientes.

De posse das fichas de notificação, chegamos aos endereços e telefones dos

pacientes. Os não localizados foram verificados no SIM e, quando identificados, de

posse das declarações de óbito, foram coletadas as informações sobre causa da

morte pela Classificação Internacional de Doenças (CID).

3.6.2 Entrevistas e encaminhamentos

Os pacientes encontrados foram convidados a participar da pesquisa e

informados quanto ao objetivo do estudo e, após isso, assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Anexo A). Realizamos uma

contextualização sobre as informações contidas na ficha de notificação, à época

preenchida pelos profissionais da saúde lotados nos hospitais, unidades de saúde,

laboratórios e ou na vigilância epidemiológica como: data da notificação, fonte

notificadora e situação sorológica e todos confirmaram. Após isto, as pesquisadoras

aplicaram o questionário (Anexo B), conforme as instruções para o preenchimento.

Aos pacientes que conheciam a situação de saúde, deles, solicitamos cópia dos

exames laboratoriais e, caso não os tivessem, perguntamos o nome do serviço onde

realizou a sorologia para buscar os resultados in loco. Aos que desconheciam,

questionamos sobre o interesse em realizar a sorologia nos serviços de saúde

previamente indicados pela Vigilância Epidemiológica de Porto Alegre, quais sejam,

34

as Unidades de Saúde Bom Jesus e Posto de Atendimento Médico 3 – Vila dos

Comerciários. Os locais foram selecionados visando o melhor acesso para os

pacientes. Deixamos a critério dos pacientes que não quiseram ou não puderam se

deslocar a esses serviços já mencionados, a opção para procurar o médico ou

laboratório privado da preferência deles, porém os custos não seriam pagos pelo

serviço público da saúde.

Nas situações nas quais em que os pacientes não se dispuseram a ir até o

laboratório, mas queriam participar da pesquisa, deslocamo-nos até a residência ou

local de trabalho deles, para coleta do material.

Esclarecemos ainda aos pacientes que, caso apresentassem o resultado

positivo para cronificação, seriam encaminhados ao serviço de referência para os

procedimentos necessários.

As solicitações para realização dos exames foram disponibilizadas na

Vigilância Epidemiológica de Porto Alegre, de segunda a sexta-feira, no período

integral. Nos casos nos quais os pacientes não puderam se deslocar até o serviço

para retirar a solicitação, entregamo-lhes no ato da visita domiciliar.

3.6.3 Resultados laboratoriais

Consideramos como critério de cura, pacientes que apresentaram, após 06

meses, HBsAg não reagente e ou anti-HBs reagente e, como crônico, os que

apresentaram, no mesmo período, HBsAg reagente.

Os pacientes foram convidados a ir até a Coordenação Geral de Vigilância em

Saúde (CGVS) para retirar o resultado do exame.

Os pacientes curados foram orientados, mais uma vez, quanto às medidas de

prevenção. Aqueles que cronificaram e residiam em Porto Alegre foram

imediatamente agendados para acompanhamento no serviço de referência. E

aqueles que nesse intervalo de tempo, mudaram de município, foram orientados a

procurar o serviço de saúde local.

35

3.6.4 Pacientes não encontrados

Quanto aos pacientes não encontrados, buscou-se os dados correspondentes

nos prontuários das unidades de saúde onde ocorriam as consultas de rotina. Os

prontuários que continham informações sobre o retorno dos pacientes, após os seis

meses, foram inseridos no banco de dados para análise posterior, porém o

questionário não foi aplicado.

3.6.5 Pacientes especiais e menor de idade

Para os pacientes que apresentavam algum distúrbio psiquiátrico e para os

menores de idade aplicamos o questionário ao parente familiar ou ao responsável.

3.6.6 Pacientes com coinfecções associadas

Visando conhecer o número de pacientes coinfectados, procuramos as fichas

de notificação com as informações referentes à coinfecção pelo VHC e pelo HIV.

Os pacientes que informaram coinfecção com o HIV foram registrados, porém

essas informações não foram confirmadas, pois os laboratórios privados não

liberaram resultados dos exames. Cabe ressaltar que o SINAN, contém informações

somente dos indivíduos que estão com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

(SIDA).

Os pacientes residentes, atualmente, em Porto Alegre que referiram

coinfecções com o VHC foram confirmados no banco do SINAN.

36

3.7 Problemas encontrados durante as visitas domiciliares

Por conta da epidemia do H1N1, ocorrida entre os meses de junho a

setembro de 2009, e com alto número de casos e óbitos, em Porto Alegre, as visitas

domiciliares foram suspensas, em virtude do número reduzido de profissionais e

veículos. À época, solicitamos autorização ao serviço de vigilância para que

somente a pesquisadora, locando um veículo particular, fizesse as visitas, mas

CGVS indeferiu o pedido, pois a visitação deveria contar, obrigatoriamente, com a

presença de uma funcionária ou estagiária do serviço e estar em carro oficial, pois

algumas áreas de visita eram regiões que representavam riscos para segurança da

equipe.

3.8 Conduta adotada frente aos comunicantes

Os comunicantes sexuais e domiciliares que não realizaram a sorologia

foram encaminhados para o laboratório de referência e aqueles não vacinados foram

orientados e encaminhados para unidade de saúde para vacinação.

3.9 Considerações Éticas

Antes da inclusão, informamos aos pacientes a natureza e o objetivo do

estudo e explicamo-lhes os procedimentos.

Cabe ressaltar que os pacientes leram e, juntamente com as pesquisadoras,

assinaram o TCLE, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade

Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, e uma cópia desse documento foi

arquivada e a outra, entregue ao paciente.

A versão final do projeto e o documento de consentimento livre e esclarecido

foram revisados pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Ciências da

Saúde de Porto Alegre, como Projeto 09/467, em 23/03/2009; e Parecer 855/09 em

14/05/2009.

37

3.10 Análise estatística

A análise dos dados foi realizada utilizando o software SPSS (Statistical

Package for the Social Sciences), versão 13.0.

As variáveis categóricas foram descritas através de frequências absolutas e

relativas. O tempo de acompanhamento foi descrito por meio de mediana e

amplitude de variação.

Para avaliar a associação entre as variáveis, foi aplicado o teste qui-quadrado

de Pearson.

O nível de significância estatística considerado foi de 5% (p " 0,05).

38

4 RESULTADOS

No período de 1999 a 2007, notificou-se, no SINAN de Porto Alegre, 103

casos confirmados como hepatite aguda pelo VHB.

Do total das 103 notificações, 67 (65%) eram do gênero masculino e 77

(74,8%) estavam na faixa etária entre 20 e 49 anos. Foram considerados raça

branca 33 pacientes (32%), porém, em 56 (54,4%) não havia registro. Dos pacientes

que residiam na zona norte de Porto Alegre, 40 (38,8%) procuraram, com mais

frequência, os serviços de saúde para conhecer seu status sorológico. Quanto ao

nível de escolaridade predominante, 35 (34%) referiram que estudaram por um

período de 8 a 11 anos. Ressalta-se que 34 (33%) tinham o nível de escolaridade

que variou de 4 a 7 anos. Os serviços públicos de saúde foram os que mais

notificaram, em torno de 81,6%.

Quanto à profissão, 69 (67%) eram profissionais ativos, 17 (16,5%),

estudantes, e 7 (6,8%), aposentados ou pensionistas. Em 10 pacientes (9,7%), não

se obteve o registro da profissão.

A caracterização total dos pacientes, conforme o gênero, está apresentado na

(Tabela 1). Percebe-se que homens e mulheres com hepatite B aguda têm

características semelhantes.

39

Tabela 1 – Perfil sócio-demográfico dos 103 pacientes notificados com hepatite B aguda, de 1999 a 2007, em Porto Alegre.

Amostra total

(n=103)

Gênero masculino

(n=67)

Gênero feminino

(n=36) Variáveis

n (%) n (%) n (%)

P*

Idade (anos)

0-9 1 (1,0) 0 (0,0) 1 (2,8) 0,351

10-19 6 (5,8) 5 (7,5) 1 (2,8)

20-49 77 (74,8) 53 (79,1) 24 (66,7)

"50 19 (18,4) 9 (13,4) 10 (27,8)

Raça/cor

Branca 33 (32,0) 19 (28,4) 14 (38,9) 0,649

Preta 7 (6,8) 4 (6,0) 3 (8,3)

Parda 7 (6,8) 5 (7,5) 2 (5,6)

IG** 56 (54,4) 39 (58,2) 17 (47,2)

Região de residência

Centro 13 (12,6) 11 (16,4) 2 (5,6) 0,354

Leste 17 (16,5) 9 (13,4) 8 (22,2)

Norte 40 (38,8) 26 (38,8) 14 (38,9)

Sul 24 (23,3) 14 (20,9) 10 (27,8)

IG** 9 (8,7) 7 (10,4) 2 (5,6)

Escolaridade (anos)

Nenhuma 1 (1,0) 1 (1,5) 0 (0,0) 0,565

1 – 3 5 (4,9) 2 (3,0) 3 (8,3)

4 – 7 34 (33,0) 21 (31,3) 13 (36,1)

8 – 11 35 (34,0) 23 (34,3) 12 (33,3)

! 12 12 (11,7) 10 (14,9) 2 (5,6)

IG** 16 (15,5) 10 (14,9) 6 (16,7)

Fonte Notificadora

SUS 84 (81,6) 54 (80,6) 30 (83,3) 0,940

Privado 19 (18,4) 13 (19,4) 6 (16,7)

Fonte: SINAN

* teste qui-quadrado de Pearson

** Ignorado

40

Quanto ao perfil sorológico dos 103 pacientes notificados, observa-se que,

embora o marcador HBeAg tenha sido solicitado ou informado na ficha de

notificação somente em 13 casos, em 4 (3,5%) apresentaram resultado negativo

(Tabela 2).

Tabela 2 – Perfil sorológico dos 103 pacientes notificados com hepatite B aguda, de 1999 a 2007, em Porto Alegre.

Reagente Não reagente Não

realizado Ignorado

Perfil laboratorial

n (%) n (%) n (%) n (%)

HBsAg 103 (100,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

HBeAg 9 (8,7) 4 (3,9) 88 (85,4) 2 (1,9)

Anti-HBc IgM 103 (100,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

Anti-HBc 49 (47,6) 0 (0,0) 52 (50,5) 2 (1,9)

Fonte: SINAN

Dos 103 casos avaliados, 78 (75,7%) apresentaram o desfecho e, em 25

(24,3%), não era conhecida a situação atual, a despeito inclusive das buscas

realizadas no SIM da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (não

constatou-se óbitos).

Dentre os 78 casos conhecidos, 56 (71,8%) foram considerados “curados” da

infecção, segundo o critério utilizado, 11 (14,1%) cronificaram e 11 (14,1%) foram a

óbito.

Dentre os 67 pacientes com os desfechos conhecidos, excetuando-se os

óbitos, entrevistou-se 59 (88,0%). E para saber o desfecho dos 8 (11,9%)

remanescentes, recorremos aos prontuários e laboratórios.

O perfil sócio-demográfico dos 78 casos com os respectivos desfechos

clínicos conhecidos estão descritos a seguir (Tabela 3).

41

Tabela 3 – Perfil sócio-demográfico dos 78 pacientes notificados com hepatite B aguda, de 1999 a 2007, em Porto Alegre, com desfecho clínico conhecido.

Curados

(n=56)

Crônicos

(n=11)

Óbito por

hepatite B

(n=4)

Óbito por

outras causas

(n=7) Variáveis

n (%) n (%) n (%) n (%)

P*

Idade (anos)

0-21 7 (12,5) 0 (0,0) 0 (0,0) 1 (14,3) 0,543

" 22 49 (87,5) 11 (100,0) 4 (100,0) 6 (85,7)

Gênero

Masculino 38 (67,9) 5 (45,5) 0 (0,0) 4 (57,1) 0,038

Feminino 18 (32,1) 6 (54,5) 4 (100,0) 3 (42,9)

Raça/cor

Branca 18 (32,1) 7 (63,6) 1 (25,0) 2 (28,6) 0,202

Não branca 7 (12,5) 3 (27,3) 1 (25,0) 1 (14,3)

IG** 31 (55,4) 1 (9,1) 2 (50,0) 4 (57,1)

Escolaridade (anos)

Nenhuma – 11 37 (66,1) 9 (81,8) 4 (100,0) 7 (100,0) 0,437

! 12 9 (16,1) 1 (9,1) 0 (0,0) 0 (0,0)

IG** 10 (17,9) 1 (9,1) 0 (0,0) 0 (0,0)

Fonte Notificadora

SUS 42 (75,0) 9 (81,8) 4 (100,0) 6 (85,7) 0,622

Privado 14 (25,0) 2 (18,2) 0 (0,0) 1 (14,3)

Fonte: SINAN * teste qui-quadrado de Pearson

** Ignorado

Dos 11 pacientes que cronificaram, em 9 (81,8%) não havia indicação de

tratamento, em 2 (18,1%) havia prescrição de entecavir, sendo que um deles

participava de uma pesquisa clínica, iniciada em 2008, e estava sem o uso da

medicação, desde novembro de 2009, e o outro solicitou medicação via judicial.

Dentre os 11 óbitos, 4 (36,4%) decorreram de doença hepática (hepatite

fulminante), 2 (18,2%), de HIV e doenças associadas, 4 (36,4%), de câncer, e 1

(9,1%), de insuficiência renal. Todos os pacientes que foram a óbito devido a doença

hepática eram mulheres (p= 0,038).

O perfil vacinal dos 103 pacientes notificados está apresentado a seguir na

Figura 3 . Nota-se que a maioria dos pacientes não fez a vacinação contra a hepatite

B. Apenas 3 (2,9%) pacientes informaram que fizeram a vacinação completa. Todos

eram do sexo feminino, com a idade maior ou igual a 22 anos.

42

Figura 3 – Perfil vacinal dos 103 pacientes notificados, com hepatite B aguda, de 1999 a 2007, em Porto Alegre. Fonte: SINAN

Dos 103 pacientes notificados, 17 (16,5%) apresentaram coinfecções,

podendo-se observar que a coinfecção com o HIV predominou nesta amostra,

conforme Figura 4.

Figura 4 – Distribuição das coinfecções dentre os casos notificados de 1999 a 2007, em Porto Alegre. Fonte: SINAN

43

Dos pacientes coinfectados com HIV, todos estavam na faixa etária entre 20 e

49 anos e o gênero masculino, 13 (81,3%), foi predominante.

Não houve associação entre o tipo de coinfecção e a situação do paciente

(crônico, curado ou óbito), (p=0,747).

Dentre os pacientes que cronificaram, 2 apresentaram coinfecções, sendo um

com HIV e outro com HIV/VHC.

Ao questionarmos os 59 pacientes entrevistados sobre o que eles consideram

como possíveis formas de transmissão do VHB observamos que 54 (91,5%)

consideram a via sexual como a mais importante e 52 (88,1%), o uso de drogas

injetáveis como potencial fator de risco. No entanto, outras formas foram também

apontadas, conforme descritos a seguir (Figura 5).

Figura 5 – Distribuição dos pacientes quanto ao conhecimento sobre as vias de

transmissão da hepatite B

E ao serem indagados sobre de que modo acreditaram ter adquirido o VHB,

24 (40,7%) referiram não saber, 16 (27,1%) citaram a via sexual, e 9 (15,3%), a

realização de procedimentos odontológicos. Foram relatadas outras vias como:

44

procedimentos em salão de beleza 4 (6,8%), água e alimentos contaminados 3

(5,1%), uso de drogas 1 (1,7%), e 7 (11,9%) referiram outras causas.

Cabe mencionar ainda que, dentre os entrevistados, 45 (76,3%) foram

orientados pelos profissionais da saúde, no momento da notificação, sobre as

medidas de prevenção adequadas.

Na Tabela 4, observa-se as medidas de prevenção adotadas pelos

portadores, após a notificação e ou acompanhamento no serviço de saúde.

Tabela 4 – Avaliação das medidas de prevenção adotadas pelos portadores de hepatite B (n=59).

Sim Não NS/NR* Não se aplica**

Variáveis

n (%) n (%) n (%) n (%)

Uso de preservativos

34 (57,6) 17 (28,8) 0 (0,0) 8 (13,6)

Vacinação dos comunicantes

sexuais e domiciliares

30 (50,8) 17 (28,8) 5 (8,5) 7 (11,9)

* NS/NR: Não sabe ou não quis responder ** Não se aplica: não tem parceiro sexual e mora só

Dentre as mulheres entrevistadas, 2 (6,4%) eram gestantes, à época da

notificação, sendo que uma referiu não saber se houve a administração da

imunoglobulina no recém nascido.

45

5 DISCUSSÃO

Na literatura mundial há consenso de que as hepatites virais representam um

grave problema de saúde pública e que necessitam de medidas eficazes para a sua

prevenção e controle.(9, 51,52)

Considerando que a hepatite B é agravo que requer eficazes medidas de

prevenção e controle, procuramos verificar a evolução e a conduta tomada junto aos

pacientes notificados com hepatite B aguda.

Assim, procuramos conhecer o desfecho clínico, ou seja, as evoluções para

cura, cronicidade e óbito dos 103 pacientes notificados.

Apesar da subnotificação ainda presente nos serviços de saúde, de uma

forma geral, as unidades do SUS foram as que mais notificaram.

O número total de notificados com hepatite B aguda prevaleceu no gênero

masculino (65%) na faixa etária de 20 a 49 anos. No que tange à raça, apesar do

número de pacientes com raça ignorada ter prevalecido, a raça branca foi a que

predominou. Na maior parte dos pacientes, 69 (67%) tiveram de 4 a 11 anos de

escolaridade e, quanto à profissão, a grande maioria 69 (67%) eram profissionais

ativos. A região norte de Porto Alegre apresentou maior número de notificação. Vale

destacar que, nessa região, está presente o Grupo Hospitalar Conceição, que

consiste em Unidades Básicas de Saúde altamente especializadas para o

atendimento à população.

Quanto ao perfil sorológico, dos 103 pacientes notificados, observa-se que,

embora o marcador HBeAg tenha sido solicitado ou informado na ficha de

notificação em somente 13 casos, em 4 o resultado foi negativo. A explicação para

isso é que esses pacientes coletaram o exame em momento diferente do inicial.

Do total dos pacientes notificados, observou-se a evolução clínica em 78

(75,7%) casos. Dessa forma, no que tange aos desfechos, notou-se que 56 (71,8%)

“curaram” a infecção, 11(14,1%), cronificaram, e 11(14,1%) foram a óbito.

A cronificação encontrada neste estudo foi elevada, estando acima do

esperado, equiparando à prevalência na região amazônica, e a algumas populações

europeias, africanas e asiáticas.(9, 21,53)

46

No presente estudo, a cronificação ocorreu em pacientes com idade maior ou

igual a 22 anos. Quanto à etnia, a raça branca prevaleceu, sendo que os pacientes

do gênero feminino foram os que mais cronificaram, embora, sem diferença

estatística. Esses dados contradizem outros autores, referindo que a maior

ocorrência da cronificação apresentou-se em indivíduos do gênero

masculino.(54,55,56,57,58,59)

A Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre publicou, no boletim

epidemiológico, um levantamento realizado no banco de dados do SINAN, no ano de

2002, em 164 pacientes, para verificar a incidência de cronicidade entre os

pacientes que apresentavam algum marcador positivo para hepatite B. Entre esses

pacientes, 69 (42%) foram excluídos do estudo e houve uma perda de 62 (38%).

Dentre os pacientes com hepatite aguda por VHB, num total de 33 (20,1%), 04

(12%) cronificaram.(60)

Deve-se ressaltar que o índice de cronificação, no presente estudo, foi

elevado (14,1%), ao se comparar com a literatura, onde observa-se que o índice de

cronificação é inversamente proporcional à idade em que houve a infecção. Assim,

menos de 5% dos adultos imunocompetentes com hepatite aguda, pelo VHB,

evoluem para a infecção crônica, mas, ao redor de 90% daqueles infectados durante

a infância pode ter outro tipo de evolução.(61) Os Guidelines da Associação

Americana para o Estudo do Fígado referem que o risco de desenvolver infecção

crônica, após uma exposição aguda, é de 90% nos nascidos de mães HBeAg

positivas, e 25% a 30% em crianças com menos de 5 anos, e inferior a 5% em

adultos.(62) Cabe destacar que há autores que referem que aproximadamente 10%

dos pacientes que contraem o VHB, quando adultos, e 98%, quando infectados em

idade neonatal, não irão clarear o HBsAg após 6 meses.(63)

Houve dificuldade de encontrar trabalhos que avaliam a história natural da

hepatite aguda pelo VHB, em virtude da escassa literatura. Essa assertiva é

confirmada em artigo publicado recentemente que, nos últimos 21 anos, pouco se

ter produzido sobre a prevalência da hepatite crônica B nos Estados Unidos da

América.(64)

No que refere aos 11 (14,1%) de óbitos, 4 (36,4%) foram devido à doença

hepática (todos os pacientes do gênero feminino), 2 devido ao HIV e infecções

associadas, 1 por insuficiência renal, 2 por câncer de pâncreas, 1 por Linfoma de

Não Hodking e 1 por câncer de fígado.

47

Estudo retrospectivo realizado no Reino Unido, entre os anos de 1992 a 2008,

com 1237 pacientes que se internaram por insuficiência hepática aguda, em 32

(2,6%), a causa atribuída foi o VHB. Dentre os pacientes com hepatite B, 6 (18,7%)

foram para transplante e 26 (81,2%), não. Aqueles que não transplantaram, 13

(50%) faleceram nos primeiros 30 dias de internação.(65)

Estudo realizado em Bangladesh, entre os anos de 2003 a 2008, 67 pacientes

foram diagnosticados com hepatite fulminante. Visando acompanhar os desfechos

desses casos, 9 (13,4%) tinham o VHB e 58 (86,6%) apresentaram outras causas.

Dentre os pacientes acometidos por hepatite fulminante, 49 (73,1%) faleceram, e

desses, 08 (89%) pelo VHB.(66)

Com o objetivo de estimar o impacto econômico da hepatite pelo VHB, ou

seja, os custos com procedimentos e medicamentos, exceto os antivirais, foi

realizado um estudo, em 2005, sobre o gasto médio anual em cada estágio da

hepatite crônica no SUS. O resultado do estudo mostrou que o gasto por paciente

variou de R$ 980,89, na hepatite crônica sem tratamento antiviral, até R$ 87.372,60,

no primeiro ano após transplante hepático.(67) Na grande maioria dos casos, esses

custos seriam evitados, uma vez que a hepatite viral B é uma doença 100%

previnível, com, custo aproximado de R$ 3,60 quando a administração das três

doses da vacina.

A instituição frequente da vacinação contra a VHB, nos últimos 30 anos, em

diversos países, como os Estados Unidos, em 1981, Taiwan, em 1984, e Brasil, em

1998, tem trazido uma mudança no cenário dessa “epidemia”. (15,47,52,68,69)

No Brasil, segundo o Programa Nacional de Imunizações (PNI), considera-se

adequado, para a faixa etária de 1 a 19 anos, a cobertura vacinal igual ou superior a

95%, e almeja atingir essa meta no ano de 2010. Para tanto houve aquisição de

aproximadamente 4 milhões de doses a serem aplicadas tanto nos jovens, naquela

faixa etária, como também nas populações consideradas vulneráveis. Informações

desse Programa mostram que, no Brasil, entre os anos de 1993 a 2008, a cobertura

vacinal atingiu 77,41%, e no Rio Grande do Sul, 73,55%. Em Porto Alegre, entre os

anos de 1994 a 2008, a cobertura vacinal chegou a 64,52%.(70)

Na presente coorte, 65 (63,1%) dos pacientes não haviam feito a vacina e

somente 3 (2,9%) informaram ter realizado a vacinação completa. Como esses

pacientes não tiveram o anti-HBs avaliado após a vacinação não pode-se tecer

comentários em relação ao seu perfil imunológico.

48

Na faixa etária dos pacientes que apresentaram a hepatite aguda pelo VHB

aguda, 77 (74,8%) encontravam-se entre 20 a 49 anos. Esse intervalo não está

contemplado no PNI, o que permite sugerir a inclusão dessa faixa etária no esquema

vacinal.

Estudos demonstram que níveis protetores de anticorpos se desenvolvem

após a primeira dose, em 30% a 50% dos adultos saudáveis, e em 75%, após duas

doses.(1) Assim, entende-se facilmente o porquê dos pacientes que contraíram a

doença, após um esquema incompleto de vacinação, a despeito da maior parte dos

casos não ter vacinado ou ignorado o fato.

Para verificar a resposta imunológica à vacinação em 360 profissionais de um

laboratório público de São Paulo, 316 (87,8%) receberam três doses, 36, (10%) duas

doses, e 8, (2,2%) uma única dose. Dentre os profissionais que completaram o

esquema, 259 realizaram a determinação do anti-HBs e, entre eles, 242 (93,4%)

apresentaram concentração maior ou igual a 10 UI/l do anti-HBs,(71) demonstrando a

eficácia da vacinação.

Indo ao encontro desses dados, outro estudo realizado para verificar a

resposta imune à vacinação contra a hepatite B, em recém nascidos pré-termo e

recém nascidos à termo, apresentou as taxas de soroproteção em 92,6% e 100%,

respectivamente.(72)

No que se refere aos 17 pacientes que apresentaram coinfecção, 12 (70,6%)

estavam com HIV, 4 com HIV/VHC e 1 com VHC. A coinfecção VHB/HIV ocorre em

número considerável de pacientes e é explicada pelas vias de transmissão comuns

a esses dois vírus, basicamente sexual, parenteral e vertical.(73)

Um estudo retrospectivo realizado num hospital público de Porto Alegre, com

587 pacientes com HIV, buscou-se pacientes com marcador positivo para VHB

(HBsAg, anti-HBs, anti-HBc), tendo como resultado: 14/306 (4,6%) tinham HBsAg

positivo, 40/154 (26,0%), anti-HBs e, 79/205 (38,5%) anti-HBc.(74)

Num Centro de Testagem e Aconselhamento de São Paulo, verificou-se em

404 pacientes que realizavam triagem para detecção do HIV, a prevalência dos

marcadores sorológicos para hepatite B. Como resultado, 28 (6,9%) estavam com

sorologia positiva para o HIV e, neste grupo, 12 (42,9%) apresentavam marcadores

de infecção pelo VHB.(75)

49

É interessante ressaltar que dois dos pacientes que cronificaram eram

coinfectados. A literatura refere ser mais frequente uma pior evolução quando há

coinfecção.(76,77)

Ao questionarmos os 59 pacientes entrevistados sobre o que eles consideram

como possíveis formas de transmissão do VHB, observou-se que 54 (91,5%)

consideram a via sexual como a mais importante e 52 (88,1%), o uso de drogas

injetáveis como potencial fator de risco. Esses dados demonstram que,

teoricamente, a população avaliada conhecia as principais rotas epidemiológicas do

VHB.(29,30,31) Na aplicação do questionário, sobre de que modo acreditam ter

adquirido o VHB, 24 (40,7%) referiram não saber, 16 (27,1%) citaram a via sexual e

9 (15,3%), a realização de procedimentos odontológicos.

O conhecimento da doença, as formas de transmissão e a aquisição do VHB

foram citados em estudo realizado com 52 pacientes que vivem na Grã-Bretanha.

Desses, somente 40 (77%) aceitaram participar. Quanto à percepção de como

contraíram a doença, 19 (47,5%) pacientes (18 dos quais eram homossexuais ou

bissexuais) acharam que tinham adquirido o vírus sexualmente, 6 (15%)

provavelmente por infecção parenteral (2 por abuso de drogas endovenosas, 1

múltiplas transfusões e 3 por acidente ocupacional/profissionais da saúde) e 15

(37,5%) não tinham idéia da origem da infecção.(78)

Quanto às orientações ofertadas pelos profissionais da saúde, durante a

notificação, 45 (76,3%) relataram que receberam orientações sobre as medidas de

prevenção adequadas. Como resultado, foi referido o uso de preservativos por 34

(57,6%) pacientes e a vacinação dos comunicantes sexuais e domiciliares foi

realizada em 30 (50,8%) dos casos.

Sobre as orientações, compete ao profissional que presta atendimento ao

paciente, no serviço de saúde, orientar sobre as medidas de prevenção do VHB

adequadas, ofertando preservativos, palestras, material informativo impresso, bem

como alertar para o diagnóstico das parcerias sexuais e de outros comunicantes.(79)

Para verificar as orientações sobre as medidas de prevenção ofertadas pelos

profissionais da saúde, realizou-se um estudo em 69 pacientes com VHB crônica.

Como resultado, somente 8 (16%) pacientes relataram que receberam orientações

dos profissionais e dos 42 pacientes que tinham comunicantes sexuais ou

domiciliares, 20 (48%) relataram que receberam recomendações para que os

mesmos fizessem a testagem sorológica ou vacinação.(80)

50

Por tudo o que foi exposto, entende-se que é fundamental que sejam

enaltecidas as medidas de controle e avaliação epidemiológica em pacientes

portadores do VHB, uma vez que, na população avaliada, foi elevado o índice de

cronificação e de mortalidade.

Ações eficazes que permitam a quebra da cadeia de transmissão do VHB,

bem como, o acompanhamento adequado, dos pacientes e comunicantes

(domiciliares e ou sexuais), tornam-se fundamentais para o bem estas da nossa

população.

51

6 CONCLUSÃO

- Dentre os 103 pacientes notificados com hepatite B aguda, foi avaliado o

desfecho clínico de 78. Desses, 56 (71,8%) “curaram”, 11(14,1%) cronificaram e,

11(14,1%), faleceram.

- O número total de notificados com hepatite B aguda prevaleceu em

indivíduos do gênero masculino 65% e, quanto à faixa etária, 74,8% estavam entre

20 a 49 anos.

- Quanto ao perfil vacinal, 65 (63,1%) dos pacientes não haviam feito a vacina

e somente 3 (2,9%) informaram ter realizado a vacinação completa.

- No que refere a coinfecção, dentre os 103 pacientes, 17 (16,5%)

apresentaram coinfecção, sendo que 12 (70,6%) estavam com HIV, quatro com

HIV/VHC e um com VHC. Dentre os 11 (14,1%) pacientes que cronificaram, um

(9,1%) tinha HIV e um (9,1%) HIV/VHC.

- Dentre os 59 entrevistados quanto às possíveis formas de transmissão do

VHB, observa-se que 54 (91,5%) relataram a via sexual como a mais importante e

52 (88,1%), o uso de drogas injetáveis como potencial fator de risco.

- Sobre o modo como os entrevistados acreditaram ter sido contaminados

pelo VHB,, 24 (40,7%) referiram não saber, 16 (27,1%) citaram a via sexual e 9

(15,3%), a realização de procedimentos odontológicos.

- Quanto às orientações prestadas pelos profissionais da saúde, 45 (76,3%)

dos pacientes relataram tê-las recebido.

- Sobre as medidas de prevenção adotadas pelos pacientes, 34 (57,6%)

referiram que usaram preservativos nas relações sexuais e, a vacinação dos

comunicantes sexuais e domiciliares foi referida por 30 (50,8%) pacientes.

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59

ANEXOS

60

ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Desfecho clínico dos pacientes residentes em Porto Alegre,

notificados no Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN), entre 1999 e 2007, com hepatite B aguda.

As hepatites virais constituem um problema de saúde pública no Brasil e no

mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 2 bilhões de pessoas no mundo

já tiveram contato com o vírus da hepatite B, 350 milhões de portadores tiveram a

cronificação da doença distribuídos no mundo, ou seja, aproximadamente 5% da

população mundial. Portadores de hepatite B possuem risco acrescido de

desenvolver cirrose, descompensação hepática e hepatocarcinoma (câncer de

fígado).

A transmissão da hepatite B se dá por via parenteral (agulhas, seringas,

piercings), procedimentos odontológicos e cirúrgicos com instrumento não

esterilizado corretamente, sexual (heterossexuais, homossexuais e bissexuais) e

vertical (mãe para filho).

De acordo com a Vigilância Epidemiológica do Município de Porto Alegre, foi

detectado que o Sr.(a) __________________________________foi portador(a) da

hepatite aguda por vírus da hepatite B.

Sendo assim, faz-se necessária nova coleta de sangue (gratuitamente) para

verificar se houve a cronificação da doença ou cura espontânea.

Portanto, caso o resultado dê positivo, Sr. (a) será encaminhado, pela

Secretaria Municipal da Saúde, a um serviço de especialidades do Sistema Único de

Saúde, para realização da avaliação que o médico julgar pertinente. Posteriormente,

caso haja indicação, o médico iniciará o tratamento.

Em caso de desistência, o senhor poderá se retirar a qualquer momento do

estudo.

61

Maiores informações, o Sr. (a) poderá entrar em contato com o Comitê de

Ética e Pesquisa no telefone 51. 3303 8804 e também com a pesquisadora Laura

Souza através do telefone 51. 3276 9995.

Data: ___/__/_____

Entrevistado – Nome e Assinatura

Entrevistador – Nome e Assinatura

62

ANEXO B - Questionário para realização da busca ativa dos

pacientes HBsAg (+) e anti-HBc IgM (+)

1. Nome:

_______________________________________________________________

2. Data de Nascimento: ___/___/_____ 3. Idade: ______

4. Sexo: ( ) M ( ) F

5. Data de óbito: ____/____/______

5.1 Nome do Informante: _________________________________________

5.2 Causa básica do óbito:

SIM:__________________________________________________________

5.3 Número da declaração de óbito (DO) - ____________________________

6. Data do exame inicial: ___/___/____

7. O (a) senhor (a) esteve no serviço de saúde, no intervalo ou seis meses após,

para realizar novo exame de sangue para saber se é portador crônico?

( ) sim ( ) não

8. Caso afirmativo, quando foi a data do ultimo exame? __/__/____

9. O (a) senhor (a) tem conhecimento do resultado de seu exame?

( ) sim ( ) não ( ) não sei

63

10. Tendo conhecimento, o (a) senhor (a) é:

( ) positivo ( ) negativo

11. Caso não tenha realizado e exame, o (a) senhor (a) tem disponibilidade para ir

até o laboratório de referência e fazer uma nova coleta de sangue?

( ) sim ( ) não

12. O (a) Senhor (a) está tomando algum medicamento?

( ) lamivudina ( ) interferon ( ) nenhum

( ) outros qual(is):

__________________________________________________________

( ) demanda judicial:

________________________________________________________

13. Há quanto tempo está fazendo tratamento?

( ) 1-12 meses ( ) 13 meses – 9 anos

14. O (a) senhor (a) abandonou alguma vez o uso da medicação?

( ) sim ( ) não

15. Caso tenha abandonado, quais as razões:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________

64

16. O acompanhamento médico para tratamento da hepatite B crônica é feito na

rede pública ou privada (particular ou convênio)?

( ) pública ( ) privada

17. O (a) parceiro (a) sexual realizou exame para detecção do vírus da hepatite?

( ) sim ( ) não ( ) não sabe

18. Quando teve conhecimento de ser portador de hepatite B (crônica ou aguda) o

(a) senhor (a) fez ou tem feito uso de preservativo durante as relações sexuais?

( ) sim ( ) não ( ) não pratica

20. Nesse intervalo de tempo o (a) senhor (a) trocou de parceiros sexuais?

( ) sim ( ) não ( ) não quis responder

21. As pessoas que residem na mesma casa do (a) senhor (a) foram vacinadas

contra hepatite B?

( ) sim ( ) não ( ) não sabe

22. Caso não tenha vacinado, porque?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

__________________________________________________________

23. Quando teve conhecimento da hepatite aguda, o (a) senhor (a) recebeu

orientações no serviço de saúde para realizar o exame durante ou após o intervalo

de 6 meses?

( ) sim ( ) não ( ) não lembro

65

24. O (a) senhor (a) recebeu orientações no serviço de saúde sobre as medidas de

prevenção (uso individual de materias cortantes e preservativo) importante contra a

hepatite B?

( ) sim ( ) não

25. O senhor tem conhecimento de ter outra doença infecciosa (HIV, hepatite C ou

outras)?

( ) sim ( ) não

26. Se sim, qual (is)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________

27. Como o (a) senhor (a) acha que contraiu o vírus da hepatite B?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________

28. O (a) senhor (a) considera como via de transmissão da hepatite B:

28.1 Relação sexual desprotegida

( ) sim ( ) não

28.2 Procedimento em consultório dentário com materiais sem esterilização correta

( ) sim ( ) não

28.3 Uso de drogas injetáveis

( ) sim ( ) não

66

28.4 Uso de drogas inaláveis

( ) sim ( ) não

28.5 Uso de drogas pipadas “crack”

( ) sim ( ) não

28.6 Inserção de piercings

( ) sim ( ) não

28.7 Realização de tatuagem

( ) sim ( ) não

28.8 Realização de acupuntura

( ) sim ( ) não

28.9 Realização de transfusão de sangue

( ) sim ( ) não

28.10 Realização de hemodiálise

( ) sim ( ) não

28.11 Procedimento em salão de beleza (manicures, pedicures, corte de cabelo com

utilização de navalha)

( ) sim ( ) não

67

28.12 Realização de cirurgia

( ) sim ( ) não

28.13 Outras

( ) sim ( ) não

Em caso de mulheres gestantes:

29. Foi detectado o vírus da hepatite B durante o pré-natal?

( ) sim ( ) não

30. Se sim, foram adotadas medidas profiláticas com o recém nascido, como vacina

e imunoglobulina?

( ) sim ( ) não