A Sociologia da Educação no final dos

anos 60/ início dos anos 70: o

nascimento do paradigma da reprodução

Maria Alice Nogueira

Profa. Rosana Heringer

Março/2014

Introdução

• Paradigma da reprodução: sistemas de

ensino como mecanismos sociais de

perpetuação e de legitimação de hierarquias

e divisões sociais,

• e como instrumentos de integração

ideológica e de inculcação de saberes

“dominantes”

• Sistemas de ensino como agentes de

reprodução das relações de dominação

entre as classes sociais

Introdução

• Maria Alice Nogueira vai buscar recompor o

quadro social e a conjuntura teórica em que

emergiram as chamadas “teorias da

reprodução”

• Afirma que as décadas de 1950 e 60

presenciaram a constituição da Sociologia

da Educação como campo de pesquisa

• Razões para esta ampliação:

Introdução

1) Ampliação do aparelho escolar, incluindo:

- Universalização do ensino secundário

- Necessidade do Estado de administrar as

grandes máquinas do sistema de ensino

2) Ganha força um novo ideário relativo ao

papel social da escola, incluindo debate

sobre desigualdades educacionais e

democratização de oportunidades escolares

As condições históricas de emergência

do paradigma da reprodução

1) O contexto econômico, social e político

• Longo ciclo de prosperidade da economia

mundial no pós II Guerra (30 anos

gloriosos), interrompidos com recessão

econômica mundial a partir dos anos 1970

• Estado de abundância e estabelecimento do

Estado de Bem Estar (welfare state), com o

objetivo de promover a igualdade social

Período 1945-1965:

Contexto: pós-guerra nos países de capitalismo

avançado Acelerada modernização Expectativas de renovação social Compromisso redistributivo entre

classes antagônicas

O contexto econômico, social e

político

• Desenvolvimento econômico e

modernização tecnológica levam à demanda

por mão de obra qualificada

• Conjuntura da guerra fria acirrando disputa

de superioridade tecnológica

• Forte retomada da natalidade no pós-guerra

(baby-boom)

O quadro educacional

• Expansão massiva das taxas de

escolarização (explosão escolar), tanto pelo

aspecto demográfico quanto pelas

transformações sociais

• Necessidade de modernização dos

sistemas de ensino

• Preocupação em detectar o potencial

disponível de talentos visando atender às

necessidades tecnológicas

Período 1945-1965:

A educação é parte importante de

implementação deste projeto político (mão de

obra qualificada, desenvolvimento da ciência

e tecnologia e direito à educação)

Condição para desenvolvimento econômico

Desenvolvimento do aparelho escolar

visando democratização do ensino

Expansão do ensino médio e superior

Período 1945-1965: uma visão

funcional e reformista da escola

Sociologia busca estabelecer parâmetros de

uma sociedade aberta e funcional

Ação educativa como instância importante de

transformação social e modernização

Crescente importância da educação como

objeto da Sociologia

Período 1945-1965: uma visão

funcional e reformista da escola

Ate então: educação vista mais como prática

social visando formação de professores

Importância do funcionalismo na Sociologia

neste momento (herança de Durkheim)

Talcott Parsons: educação como instância de

socialização de valores, normas e saberes

garantindo integração social e instância de

seleção social

Período 1945-1965: uma visão

funcional e reformista da escola Portanto, educação vista neste período com uma

DUPLA LEGITIMIDADE:

1- papel de alavanca do crescimento econômico e

2- instrumento de equalização de

oportunidades

Ênfase nos mecanismos de seleção escolar, e

mobilidade social vai abrir caminho para evidência

das desigualdades escolares e futura necessidade

de reforma dos sistemas de ensino

Se mantém a visão otimista do papel da educação

na mudança social

O quadro educacional

• EUA: programas de “educação compensatória”,

através de medidas assistenciais e pedagógicas

visando compensar as desvantagens materiais e

carências culturais

• Uso da escola para romper o círculo da pobreza nos

anos 1960

• Programas de intervenção precoce (5-6 anos),

sendo o mais conhecido o Head Start

• Avaliações em geral negativas destes programas

que buscavam a redução de déficits culturais

O contexto econômico, social e

político • Apesar do otimismo do período, década de 60

termina com revoltas sociais e diferentes conflitos

• EUA: insatisfação com disparidades sociais levando

a acirramento de conflitos políticos (guerra do

Vietnã, conflitos raciais, lutas feministas etc.)

• Inglaterra: forte movimento de contracultura;

surgimento de uma “nova esquerda”

• França: estudantes questionam organização e

funções sociais da universidade; conflitos que levam

às manifestações de maio de 1968

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• Desenvolvimento da Sociologia e em

particular da Sociologia da Educação no

período 1950-60, influenciado:

- pela ampliação do papel dos Estados

nacionais no setor de Ciências Sociais

- Pela criação de organismos internacionais

como UNESCO e OCDE

• Mudança social como tema chave da

Sociologia....

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• No período seguinte o tema da mudança

social dá lugar ao tema da “reprodução das

estruturas sociais”

• Com a crise da ideologia modernizadora,

tem início a “era da suspeita” (A. Touraine):

ideia emergente de que o homem é produto

de estruturas que o determinam e não o

sujeito de sua ação

• Influência do marxismo e estruturalismo na

academia

O quadro educacional

• Todo um conjunto de políticas educacionais será

posto em questão no final dos anos 1960

• Percepção por alguns analistas de que “as políticas

igualitárias falharam”

• Expansão/transformação do aparelho escolar não

havia correspondido a uma modificação das

estruturas sociais

• Nem mesmo a uma alteração importante das

desigualdades de oportunidades educacionais

• “o clima de otimismo cedia lugar ao

desencanto...”

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• Realização de pesquisa quantitativas sobre

desigualdades educacionais:

- Características demográficas

- Carência cultural

- Estudos macro

• Abordagem da “aritmética política”: origem

nos estudos sobre estratificação social

• Coletânea de textos: “Education, Economy

and Society”, de Halsey, Floud e Anderson

(1961)

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• Longa série de relatórios nacionais

ingleses e norte-americanos

encomendados e financiados pelos

poderes públicos nas décadas de 1950

e 60, com a finalidade de conhecer o

funcionamento dos sistemas nacionais

(Plowden, Coleman, entre outros)

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• França: demografia escolar – estudos do

INED (Instituto Nacional de Estudos

Demográficos)

• Estudos sobre características dos

estudantes, condições de seleção e

frequência ao sistema escolar, estratificação

social das escolaridades

• Pesquisa longitudinal 1962-1972 (17.461

alunos acompanhados por 10 anos)

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação • Este conjunto de estudos revelou as grandes

disparidades sociais quanto às oportunidades de

acesso e de sucesso na escola

• A partir daí, o estudo das desigualdades

educacionais passaria a ocupar um lugar central na

Sociologia da Educação

• Neste “contexto desencantado” emergiram

as teorias explicativas das relações entre

escola e estrutura social que se

convencionou chamar de “paradigma da

reprodução”

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• O caráter fragmentado dos dados

estatísticos coletados nas pesquisas

mencionadas pediam uma análise mais

abrangente para falar das relações entre

sistema educacional e outras instituições

sociais

• Novas teorias vinham se contrapor à

ideologia reformista das políticas de

combate às desigualdades escolares

(influência do marxismo)

A conjuntura histórica: Sociologia

e Sociologia da Educação

• Não se pode deixar de reconhecer a

importância da pesquisa empírica dos anos

1950/60 para a elaboração desta sociologia

da reprodução

• O paradigma da reprodução constituiu-se

numa “nova maneira de olhar velhos dados”,

uma reinterpretação radical

Período 1965-1975: O olhar radical

Contexto:

Crise das sociedades/ crise da escola

Avanço social no pós-guerra atinge o máximo

no começo dos anos 1970

Crise econômica: concentração da produção,

superprodução, esgotamento recursos

naturais, exclusão dos países periféricos

Guerra do Vietnã

Crise social e cultural (movimentos

estudantis); frustração de aspirações

Período 1965-1975: O olhar radical

expansão do ensino superior e influência das

ciências humanas, principalmente do

marxismo

influência de autores como Marcuse,

Touraine e Bourdieu

expansão do ensino superior não conseguiu

responder as aspirações e expectativas dos

estudantes que tinham acesso à

universidade

Período 1965-1975: O olhar radical

identificou-se o papel do aparelho escolar na

reprodução das relações de poder, no

processo de dominação

crise estudantil dos anos 1960 deu grande

visibilidade à escola

porem ao invés de vê-la como alavanca de

transformação da sociedade passa a ser

vista como mecanismo de manutenção da

desigualdade (educação não contribuiu para

fazer surgir o homem novo)

Período 1965-1975: O olhar radical

Marxismo e nova sociologia da educação

crítica crescente ao funcionalismo

(principalmente Parsons)

desenvolveu-se análise mais radical

inspirada no marxismo

desenvolveram-se também análises neo-

weberianas e interacionismo simbólico

Período 1965-1975: O olhar radical

Marxismo e nova sociologia da educação

Principais trabalhos marcantes do período:

Os Herdeiros (P. Bourdieu e J. Passeron)

Touraine e Lipset

Collins

Período 1965-1975: O olhar radical

• Anos 1970: novos trabalhos que evidenciam

escola como local de exercício do poder

• levam a uma espécie de inversão do sentido da

educação: de instância de emancipação e

progresso (mobilidade-saber) a educação torna-

se instância de controle simbólico e reprodução

social

• ação pedagógica é violência simbólica

(Bourdieu e Passeron, 1970)

• Althusser: aparelho escolar com principal rede

de difusão da ideologia dominante.

Período 1965-1975: O olhar radical

análises reconhecem poder limitado da

escola na luta contra as desigualdades

Inglaterra: NSE (Nova Sociologia da

Educação)

se detém nos processos de organização,

seleção e transmissão de conhecimentos e

saberes na e pela escola (Sociologia do

Currículo)

educação como campo de conflitos culturais

Questões para discussão:

1) Em que medida percebemos elementos

deste debate no período pós-segunda

Guerra na Europa presentes no contexto da

educação de hoje?

2) Vocês consideram que a educação tem o

objetivo de promoção da igualdade? Isto é

viável? É possível? Como deve ser feito?