6

Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985

Embed Size (px)

Citation preview

5/8/2018 Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/futre-por-vitor-serpa-julho-de-1985 1/6

5/8/2018 Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/futre-por-vitor-serpa-julho-de-1985 2/6

 

PAULO FUTRE

UM IDOLO AOS 19 ANOS

••

A F A M A N A O

ME SUB IU• •

A C A B E Ç A

PAULO Futre é, hoje, um dos meninos bonitos do fu-teb?lp?rtuguês.' mas a sua ines~erada transferência,no mlCIO desta epoca, do Sporting para o F. C. Por-

to, obrigou-o a tornar-se no primeiro grande caso da épocafutebolística. O seu nome surgiu nas primeiras páginas dosjornais e muitos se interrogaram sobre até onde poderia ir a

nefasta influência de tudo o que se disse e escreveu sobre ojovem jogador, de personalidade ainda em formação, atira-do, de um momento para o outro, para a grande fogueiradas notícias de maior impacto dos jornais. .Passados alguns meses, pode dizer-se que Paulo Futre

conseguiu resistir. O seu espírito jovem amadureceu, a suacapacidade técnica, como jogador de inesgotáveis recursos,consolidou-se e Paulo Futre é, hoje, um sólido valor do fu-tebol português.Nasceu no Montijo, a 28 de Fevereiro de 1966. Curiosa-

mente, um ano de oiro do futebol português, no qual os«Magriços» conseguiram um brilhante terceiro lugar no«Mundial» de futebol, em Inglaterra. Um grande jogadorse revelava, esse ano, como um dos melhores do Mundo -

12

5/8/2018 Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/futre-por-vitor-serpa-julho-de-1985 3/6

5/8/2018 Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/futre-por-vitor-serpa-julho-de-1985 4/6

 

E . ío, O seu nome ultra-passou fronteiras e aindahoje é admirado. Só que osanos vão passando, quasesem se dar por isso, e PauloFu re, sentado na nossafrente, falando de Eusébiocom admiração não deixa denos dizer:- Sempre ouvi dizer ma-

ravilhas de Eusébio e tenho

muita pena de nunca o tervisto jogar.Claro. Paulo Futre nasce-

ra no ano de oiro de Eusé-

bio ...

Um benfiquistano Sporting

Filho de um empregadode escritório e de uma «do-na de casa», Futre passou asua infância no Montijo.Tem um irmão, sete anosmais velho do que ele e que,actualmente, dirige um«snack» que é propriedadedo irmão - resultado doprimeiro investimento como dinheiro ganho no fute-bol. O futebol que PauloFutre sempre amou desdecriança, desde os seus tem-pos da escola primária, emque depois de sair das aulasia para o largo jogar com oscompanheiros.Terminada a escola, Pau-

lo Futre entrou para o ciclo,

mas o seu sonho era o de vira ser profissional de futebol.Aos 11 anos integra umaequipa da Direcção Geraldos Desportos, que vai jo-gar a.Franca. É consideradoo melhor jogador do torneioe é esse facto que desperta ointeresse do Sporting. Eleconta:

- Quando cheguei a Lis-boa, estava à minha esperao treinador das escolas e dosiniciados do Sporting, Auré-

lio Pereira. E eu, que era doBenfica, acabei por ir, as-sim, para o Sporting.Não foi fácil esses primei-

ros passos nas escolas doSporting. Relembra:- Tinha só onze anos e

já ia do Montijo para A lva-lade, acompanhado com,uns amigos mais velhos, quetambém jogavam no Spor-ting, Treinava-me duas ve-zes por semana. Foi assim,durante três anos. Depoisfui ganhando ainda mais

4

gosto pelo futebol e, aos 14anos, decidi arriscar. OSporting tinha-me propostoO meu primeiro contrato deprofissional e eu decidi ten-tar fazer aquilo de que gos-tava mesmo de fazer.Paulo Futre confessa-nos

que foi uma opção arrisca-da. A mãe insistia que eledeveria continuar a estudar

(ainda tinha uma secreta es-perança de que o filho pu-desse vir a ser médico). OPaulo não sentia vocaçãopara prosseguir e na sua ca-beça ganhava força a pro-posta do Sporting. Conse-guiu convencer os pais deque podia tentar o profissio-nalismo e aceitou.Para trás ficava o tempo

do futebol a brincar. O tem-po em que a sua mãe se zan-gava mais com ele, quandoaparecia a cheirar a gasoli-na, porque o campo em quejogava ficava junto a umabomba. A partir de então, ofutebol ia ser coisa séria enão uma divertida brinca-deira de criança-oPaulo Futre agarrou bem

a oportunidade. A pouco .epouco o seu nome foi-se tor-nando mais conhecido, vie-ram as primeiras internacio-nalizações (ainda em catego-rias jovens) e muito cedo ga-nhou fama. Fama, hoje em

dia, bastante aumentada, jáse vê, mas que o não temmodificado: «Eu sei que afama pode ser perigosa -diz-nos Paulo Futre; já esta-va alertado para isso. Poroutro lado, eu também fuiconseguindo defender-memelhor, no princípio, por-que os meus pais continua-ram a ver-me sempre comoum menino e não como uma«estrela» do futebol portu-guês.

Um menino que, bemmais cedo do que, muitoprovavelmente, os seus paisdesejariam, teve de sair decasa e passar a viver sozi-nho, a mais de trezentosquilómetros de distância dacasa dos pais. A transferên-cia para o F. C. Porto a issoobrigou e Paulo Futre nãoesconde que durante os pri-meiros meses os pais anda-vam bastante preocupadoscom a nova situação. Paulovive sozinho num aparta-

5/8/2018 Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/futre-por-vitor-serpa-julho-de-1985 5/6

 

Paulo Futre: «O grande problema dosjovens portugueses tem a ver com a crise social em que vivemos. Acho que é por isso e pelo desemprego quesurge o maior flagelo - a droga». «E no entanto, quantos Futres e quantos Litos se perdem por causa da droga•••».

mento, em Gaia, na margemsul do Douro. É uma novavida aquela a que se vai já, habituando e, segundo nosdiz, com um certo gosto:- Decorei o apartamento

a meu gosto, à base do bam-bu. Tenho tudo, não me sin-lo nada infeliz. Quandoquero, vejo vídeo, oiço mú-sica, leio e, sobretudo, des-canso muito, porque a vida

de um profissional de fute-bol obriga a grandes perío-dos de descanso. Claro quenão fico sempre metido emcasa. Às vezes saio comami-gos, mas faço uma vida cui-dada e sei controlar-me paranão fazer disparates. Aliás,se eu não tivesse cuidadopodia estar a sofrer bastantecom isso. Às vezes não éfá-cil ser-se uma pessoa conhe-cida. Há por aí muita «málíngua» e a tendência é '(J defabricar pequenos escânda-

los. Se eu vou a um café eme vêem com um copo deágua na mão, há sempre al-guém que, no outro dia, vaidizer que viu o Futre metidonos copos. Eu que nem beboálcool ...

A crise e a droga

Mas com dezanove anosde idade, Paulo Futre nãodeixa de ser um jovem do

seu tempo. Tem uma predi-lecção especial pela músicarock, e conhece os grandesproblemas da juventude:- O grande problema

dos jovens portugueses tema ver com a crise social emque vivemos. Acho que épor isso e pelo desempregoque surge o maior flagelo -a droga. Acho que a maiorparte dos jovens que se dro-gam, o fazem para se esque-cerem de tudo o que os ro-deia e, em minha opinião,

muitos deles entram por es-ses caminhos porque nãoconseguem descobrir algode interessante para ocuparo muito tempo livre de quedispõem. E precisamentepor isso que pensa que o fu-tebol, em particular, e o des-porto, em geral, é um mag-nífico meio de afastar a ju-ventude da droga.Paulo Futre diz-nos que,

na maior parte dos casos, ojovem de hoje sente-se in-compreendido e acaba sem-pre por procurar uma fuga.Muitos começam aexperi-mentar a droga porque é«moda» ou por mera brin-cadeira e acabam por ficarinteiramente dependentes.Paulo Futre revela-nos:- Posso-lhe dizer que te-

nho alguns amigos que têmesse problema e, por isso,sei o que digo, Aconselho-osa tratarem-se, a deixarem,

definitivamente, a droga,mas poucas vezes esses meusconselhos serão ouvidos. Eno entanto, quantos Futrese quantos Litos se perdempor causa da droga ...Claro que também há ví-

cios nos jogadores de fute-bol. Conhecem-se casos, al-guns bem significativos. Po-rém, Futre logo diz:'- Um futebolista de alta

competição sabe que só setiver uma vida regrada podeir longe. A alta competiçãoé muito exigente e não per-mite que se façam grandesasneiras. No meu caso, eusei que o que mais gosto defazer na vida ,é jogar fute-bol. É quanto basta para eunão cometer erros desses.Mas Futre está ainda aler-

tado para outros riscos dasua profissão. Diz-nos queestá atento aos casos exem-plarmente tristes de alguns

15

5/8/2018 Futre por Vítor Serpa - Julho de 1985 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/futre-por-vitor-serpa-julho-de-1985 6/6

 

Paulo Futre: «Gosto imenso dejogar futebol». «Hoje posso dizer que ter vindo para o F. C. do Porto deve ter sido uma das melhores coisas que meaconteceram durante a minha, ainda curta, carreira».

jogadores que acabaram as

suas carreiras, ficaram semdinheiro e parecem incapa-zes de fazer o que quer queseja. Diz-nos que um profis-sional de futebol, que mui-tas vezes é acusado de ga-nhar muito dinheiro, devesaber que a sua profissão émuito curta e que há que tercabeça e organização. Afir-ma-nos também que todosos futebolistas estão depen-dentes da sorte e do azar. Àsvezes, basta uma lesão grave

para que isso signifique ofim de uma carreira e o fimde um sonho. São os riscosda profissão. Uma profissãoque, no entanto, Paulo Fu-tre continua a amar. É comum imenso brilho nos olhosque nosdiz:- Gosto imenso de jogar

futebol de alta competição etenho-me sentido bem no F.C. do Porto. Acho que te-nho feito uma boa época,'mas também já me têm:

acontecido tardes em que

tudo me sai mal. No entan-

to, e felizmente, as alegriastêm sido bem maiores doque as tristezas e hoje possodizer que ter vindo para oF.

C. do Porto deve ter sidouma das melhores coisasque me aconteceu durante aminha, ainda curta, carrei-ra. Adaptei-me muito bemao clube e à cidade e tenhofeito muitos amigos.

«Conheço-me melhor»

Paulo Futre é hoje umídolo da juventude. No en-tanto, há uns anos atrás elerecorda que o seu grandeídolo era o Chalana, que elecontinua a considerar comoo melhor médio esquerdo daEuropa. Quanto a jogado-res estrangeiros, as suas pre-ferências vão para Rumme-nigge, Maradona e Robson.Diz-nos que a sua maior de-silusão, enquanto futebolis-ta, foi a eliminação do F. C.

do Porto pela frágil equipa

do Wrexham. «Nunca maishei-de esquecer essa elimina-tória» - acrescenta.

Fora do Estádio, PauloFutre mantém, segundo nosdiz, uma preocupação cons-tante: «continuar a ser o quesempre fui, não deixar que afama me suba à cabeça eser, sempre, uma pessoa hu-milde».

Por isso nos revela:

- Muito do meu tempo

livre passo-o a responder acartas, que me enviam de to-da a parte. Muitos jovensme escrevem, rapazes e ra-parigas e eu respondo sem-pre a todos.

E, logo a seguir, uma con-fidência:

- Estes meses, que eu te-nho vivido sozinho, têm-meajudado a crescer. Acho quetenho aprendido muito nes-tes últimos tempos e julgoque também aprendi a co-

nhecer-me melhor. É preci-

so saber-se ser independen-te, é preciso conhecer a nos-sa própria personalidade.Fora do futebol, as maio-

res preocupações de PàuloFutre vão para o perigo deurna guerra nuclear:- Muitas vezes dou co-

migo a pensar que basta umlouco carregar num botão,para dar cabo da Terra. Issopreocupa-me.Por fim, fala-nos das suas

perspectivas de futuro:

- Continuar a evoluir naminha profissão e continuara ser o que sou. Sempre queposso, gosto de estar com osamigos e, sobretudo, com aminha família, que semprefoi muito unida. Quanto aprojectos de casamento,ainda é cedo. O casamento é

algo de muito sério, obriga aque haja amor e uma grandeconfiança entre o casal. Senão for assim, o casamentonão faz sentido.

Vítor Serpa

17