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nº2 nov.13 «Não há aquela tradição, ou hábito das pessoas saírem à rua e interessarem-se pela cultura que existe na sua própria cidade.» CAMARATA 3 JOSÉ GONÇALVES CINECLUBE DE AMARANTE CULTURA GRATIS Dezoito anos de Resitência

Gatilho nº2 @ Novembro 2013

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nº2

nov

.13

«Não há aquela tradição,ou hábito das pessoassaírem à rua einteressarem-se pelacultura que existena sua própria cidade.»

CAMARATA 3

JOSÉ GONÇALVES

CINECLUBE DE AMARANTE CULTURAGRATISDezoito anos de Resitência

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Gilberto Bento Pinto Carla Vera Bento

Bruno Bento, Verena Basto, João Duro

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Cruz & Cruz Artes Gráficas

RIP * Lou Reed

Morreu aos 71 anos de idade (a 27 de Outubro de 2013) deixando marcas no cenário

rock and roll mundial. Mentor dos Velvet Underground até 1970, altura em que sai da

banda autora de “Heroín” e se muda para Inglaterra, dando o pontapé da sua carreira

a solo. O seu primeiro álbum foi da responsabilidade de David Bowie, “Transformer”.

Um ano mais tarde é lançado: “Take a walk on the Wild Side” um autêntico sucesso

que se Imortalizou ao longo dos anos.

Algumas curiosidades apontadas pelo site Mirror.Uk para conhecer melhor o percurso

deste Homem mistério que embalou milhões de pessoas com a sua música “cheia de

Sentimento”…

1 . Os pais de Lou Reed mandavam-no ao médico, 3 vezes por semana para fazer

terapia de electrochoques, com o intuito de curar as suas tendências homossexuais;

2 . Lou usava óculos de sol em palco porque, segundo o que ele dizia, “não suportava a

visão dos seus fãs”;

3 . Em 2008 casa-se com a sua companheira de longa data, a artista Laurie Anderson.

4 . Em 2012, várias rádios americanas divulgaram a notícia falsa da sua morte após

receberem um e-mail dizendo que o cantor havia tido uma overdose de analgésicos.

5 . Lou Reed fez um transplante de fígado em Maio, tendo declarado pouco tempo

depois que se sentia "maior e mais forte do nunca."

Foram “dias perfeitos”!

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“ A História separa por vezes os povos, mas

nem sempre os desirmana, e as afinidades

sanguíneas, étnicas, espirituais e éticas

mantém-se através dos séculos e

prendem-nos por cima das fronteiras

e para além de constituições

nacionais” Círculo de Estudos

Galaico-Portugueses,

“ Estatutos “ 1961

Apresentado a 1 de Dezembro de 2012, no

âmbito do Congresso “Pensamento Memória e

Criação no Primeiro Centenário da Renascença

Portuguesa”, na Casa das Artes em Amarante, o

Prémio de Jornalismo Literário Luso-galego Teixeira

de Pascoaes/Vicente Risco , tem como fim destacar a

importância que tiveram as relações entre intelectuais

galegos e portugueses nas primeiras décadas do

século XX, marcas bem patentes em textos inéditos

ou publicados em jornais e revistas como a “Nossa

Terra”, “ Nós” ou “ A águia”. Aliás, na Correspondência

entre estes dois intelectuais – Teixeira de Pascoaes,

embrionário do saudosismo/universalismo, e Vicente

Risco, pensador do nacionalismo galego - vê-se um

empolgar dos dois poetas para uma maior

aproximação das energias criadoras da Galiza e

Portugal, na procura de “novidades literárias e

cul tura is que possib i l i tem e enr iqueçam

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Artes Gráficas, [email protected] / [email protected]

Rua Edificio Pássaro de Fogo, N.º 62S. Gonçalo 4600-018 AMARANTETelef/Fax: 255 426 034

sinergicamente a criação de uma nova cidadania europeia “.

Apesar do diálogo assimétrico, (Pascoaes tinha poucos conhecimentos sobre a Galiza,

aquando do início da correspondência com Vicente Risco), havia uma falta de reciprocidade no

interesse que Portugal, até mesmo nas políticas institucionais desenvolvidas, tinha por este território

“irmão”, cheio de afinidades. Lisboa, no início do século chamava-lhe “uma extravagância regionalista”.

Mas, no mundo underground das Artes os Ideais foram-se desenhando, e a 20 de Fevereiro de 1920

Pascoaes escrevia a Risco: “É para mim uma grande alegria travar relações de amizade com um jovem

espírito que tão bem representa a Alma da raça galega, irmã muito amada da alma lusitana.” E continua,

“Sim. Eu também creio que o nosso sentimento saudoso (galaico-lusitano) inclui uma nova e original

maneira de encarar a Vida e o Universo. Daí o seu valor para os dois povos irmãos e para a sua Futura e

comum Civilização e preponderância na Ibéria. Nós, portugueses e galegos, somos a gente mais

idealista da Península.” Subentende-se, aqui, a génese da saudade, o regresso à origem épico-

filosófica, Idealista da Humanidade. O saudosismo de Teixeira de Pascoaes é um elo altamente

“creador” que fortifica a identidade do todo colectivo. Há originalidade de Ideia e Sensação. Há portanto,

progressão. Vicente, por sua vez, veio despertar o Ideal do Universo de Teixeira de Pascoaes levando a

um relacionamento que em certas alturas para Lisboa, poderia mesmo ser considerado “subversivo”.

Risco sempre teve a escutá-lo jovens fascinados pela sua estética romântica com laivos surrealistas “ la

mayoria d'ellos militaban ya en la causa del compromiso antifranquista y muchos, casi todos los más

jóvenes, incluso en formaciones socialistas e comunistas”…

O prémio tem um valor pecuniário de seis mil euros e terá a periodicidade anual, a ser entregue

alternadamente am Amarante e Allariz no sábado imediatamente anterior a 14 de Dezembro, data do

falecimento de Teixeira de Pascoaes.

Por último, refira-se que a promoção do Prémio é da Câmara Municipal de Amarante, da

Fundação Vicente Risco e da Universidade do Porto, que contam com a colaboração das universidades

de Santiago de Compostela, Corunha, Vigo, Minho e Trás os Montes e Alto Douro e da Deputación

Provincial de Ourense.

PRÉMIO DE JORNALISMO

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CAMARATA 3 Apesar de uma existência relativamente recente, os Camarata 3

acusam uma maturidade de uma banda que «leva as coisas a sério».

A alma intimista e existêncialista da banda aliam uma forte capacidade técnica. São quatro anos a

lutar contra a maré.

«Portugal não é mais um país de rock». Cinco músicos que em 2009, quase por formalidade criam os

Camarata 3, que também podiam ter sido os «Quarto1» ou os «Arrumos» explicam a rir. «Numa altura em

que andavam a mostrar a Casa da Juventude, que disponibilizava sala de ensaios a todas as bandas

«formalmente constítuidas» - «as chaves da divisões da casa estavam todas em cima do balcão da

recepçãoe, não me perguntes porquê, mas a chave com o porta-chaves cor de rosa da Camarata 3 foi o

que nos saltou à vista». O caso seria para levado a sério.

Apesar da vida facilitada, instrumentos, sala de ensaios e motivação, o que há uns anos eram

dificuldades para bandas rock de província, a sobrevivência não é fácil até porque «há um forte

desinteresse cultural em Amarante. Não importa se é rock alternativo, pop ou hip hop, tem a ver com a

mentalidade das pessoas e o apoio das instituições. Em Amarante não há aquele hábito das pessoas

saírem à rua e interessar-se pela cultura que existe na sua própria cidade onde há muitas coisas boas

que continuam escondidas ou passam simplesmente despercebidas. Está mais fácil para outros

universos» subentende-se.

Cabe aos artistas que se movem na vanguarda, explorando e aprofundando novas noções de «ritmo» e

têm como responsabilidade promover e partilhar o conhecimento, estar atento e registar os fragmentos,

pormenores e percursos de vida. A obra dos Camarata 3 é «pessoal, introspectiva» nas letras ajudada,

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CAMARATA 3

por guitarras que transparecem «a envolvência» do revivalismo ao

imaginarium do rock dos anos 70, com a sua própria personalidade

criativa. Como dizem: «é impossível não sermos influenciados por

bandas antigas ou que já estão extintas», acrescentando que «são

apenas referências na maneira como compomos.» O processo da

banda parece ser um caso sério de inspiração e não de imitação.

Os cinco elementos que compõem a banda, são inspirados pelo

momento , para o acto criativo musical. Tudo parece servir de

desculpa para uma música «pessoas, barulhos, frases, coisas do

quotidiano. Há muito por onde a inspiração nos possa chamar. É

preciso dar-lhe ouvidos,explicam sempre marcados pela «atitude

do improviso». A banda diz que «a nível de composição e

performance há sempre um carácter inconsciente». Diferente por

exemplo, de estar em estúdio. Em finais de 2011, os Camarata 3

gravaram o 1º EP com 4 originais «en Vacances». Um nível

diferente de criação. Uma nova experiência «onde aprendemos o

que é não gostar das nossas próprias músicas (risos)», dizem.

«É cansativo a quantidade de vezes que tens que ouvir e tocar

determinada parte de uma música, para que saia a vez que

realmente queres». Camarata 3 no caminho da «perfeição»? A

prova foi no mítico Hardclub, Guitarmaggedon, concurso no qual

saíram vencedores e que apresenta a tendência mais

«descotrolada» que implica sempre uma actuação ao vivo, «aqui

tentamos também ser realistas e fazer as coisas um bocado mais

pensadas para conseguirmos com que as músicas saiam bem ao

vivo»,por lá já passaram os melhores nacionais como Mão Morta,

Bizarra Locomotiva, Primitive Reason e muitas outras.

Apesar de não haver uma mensagem definida«tipo guerra ou paz

ou intervenção» o essencial para estes «putos» é levar as pessoas

a «sentir coisas cada uma à sua maneira e associar isso às suas

próprias vidas, dando-lhe um sentido que pode ser abstracto». A

re-interpretação é individual. A ordem agora, é de esxpressar.

«Coisas» do filme de estrada _ «Andar na estrada» é um dos capítulos do livro de qualquer banda

rock. Os músicos são na maioria das vezes, protagonistas de um filme em que se vive mundos de

aventuras e surpresas estonteantes, típicas da sensibilidade artística. Há sempre situações engraçadas

a registar para a memória colectiva da banda. Fomos revisitar, e encontramos uma história divertida, de

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CAMARATA 3

uma banda divertida, mas que quando sobe ao palco exprime uma alta intensidade de sentimento,

aprofundando emoções como o «cultivo» da tristeza do da solidão, trazendo novas significações. Em

escuta: «Paa, lembro-me que quando fomos tocar a Celorico, à festa da Rádio Região de Basto, que nos

quiseram fazer crer que tocar ao vivo era errado e praticamente os obrigaram a fazer playback. O que é

certo é que nós tocamos ao vivo e ainda fomos presenteados com uma viagem num autocarro ou camião,

ou lá o que era, de caixa aberta, enquanto um grupo de bombos lhe dava valente em cima do camião, pela

rua fora.»

« A arte faz-se para curtir» Entrevista disponível em www.gatilho.org

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CINECLUBE DE AMARANTE Em passo adulto de Resistência há 18 anos, o Cineclube move-se pela paixão ao cinema! Quando a arte se faz por amor à camisola para educar o colectivo.

Foi a 9 de Junho de 1994 - «data que todos os anos é celebrada»- se reuniu em Amarante um grupo de cinéfilos, para combater a falta de uma sala de cinema na cidade e, como tal, poder proporcionar às populações locais, alternativas ao conhecimento e entretenimento através da Sétima Arte. Aliás, actualmente com cerca de 50 activistas que «transpiram amor à camisola», «alternativo» é uma palavra que se pode usar para o Cineclube de Amarante, já que há quase duas décadas continua a resistir por “fora dos circuitos comerciais”, pautando-se pela qualidade do cinema de autor, recorrendo a curtas metragens, documentários e por vezes, «fugas controladas», como diz Paulo Martins um dos responsáveis pelo CA, ao cinema de massas. Até porque não existe mais nenhuma sala de exibição em Amarante, sendo «uma forma de rendibilizar a sala Teixeira de Pascoaes», já que o único financiamento provém da Câmara Municipal de Amarante, desde que adquiriu o imóvel, em alternativa a uma potencial aquisição por parte de uma igreja. Por outro lado, os 18 anos de resistência traduzem-se numa tentativa de proporcionar um relacionamento educativo entre CA e populações locais. Não sendo «uma sala de aula» como refere Paulo Martins, «é uma boa maneira de obrigar a pensar, indagar». «Programação de fazer inveja a muitas cidades bem maiores do que Amarante; o público de Coimbra ou Braga não tem acesso a uma programação de qualidade como o público de Amarante tem», remata.

No entanto, o critério base, o “ ADN do cineclube «é passar cinema que faça pensar», e como tal não é tão reconhecível para as massas, tanto a nível de forma - planos que chocam - como a nível de conteúdo, mais Existencialista, Paulo Martins diz mesmo, «quanto mais subliminar melhor é o filme», acrescentando, «não gosto de filmes mastigados, se é que me faço entender. Quando sais da sala de cinema e ficas a pensar no que viste, mesmo que não tenhas percebido o «quadro todo» isso é um bom sinal porque vai obrigar-te a saber mais. (…) Um filme pode ter muitas coisas escondidas e quanto mais difícil é captar a mensagem do realizador mais aliciante se torna”.

«Muita atenção ao Cinema que se faz em Portugal». É outra das mensagens implícitas na filosofia deste «núcleo duro» que não desiste, apesar das dificuldades em assegurar uma programação com frequência cinematográfica de realizadores portugueses, até porque em Portugal faz-se «bom cinema» tendo desde as origens, ocupado um patamar decisivo na programação do CA, Paulo Martins é peremptório «não existe uma única obra importante do nosso cinema que não tenha passado pela sala Teixeira de Pascoaes desde 1995, isso posso garantir». E se o que é «nacional é bom», sendo frequentemente nomeado na Europa, há que garantir meior para que a Sétima Arte não deixe de existir por terras culturais de Amadeo ou Teixeira de Pascoaes e para que se possa continuar a «formar mentes» predispostas para a cultura artística, que envolve, faz respirar, faz imaginar. Para já, não estão previstos Ciclos mas fica a promessa de novos Cinema ao Luar, em noites de Verão. A chamada é premente para quem Sente na «maioridade» do CA: «ainda vamos fazer coisas muito bonitas nesta cidade». Entrevista a Paulo Martins disponível em www.gatilho.org

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JOSÉ GONÇALVES

Gatilho – O teu livro Bicho Homem começa com uma citação de traição a Deus (…). Para uns, pensamento “colorido” e opiáceo porque são movidos pela Hipocrisia com a Vida; para outros, um carrasco nazi da Gestapo da época, neste caso os mediadores “superiores “ da Igreja Católica. Como diz Clara, “ditador”… Nada mudou em ti como escritor e Homem, depois deste primeiro Bicho Homem? Tem alto impacto emocional, e leva-nos do Sublime à repugnância… Como foi o processo de escrita ?

José Gonçalves - O processo de escrita foi algo desconcertante, quer pelas temáticas, pela minha indignação perante tanta cegueira, acefalia, conformismo e comodismo que emprenha grande parte dos cidadãos, quer pelos locais onde ia escrevendo o livro. Um deles foi em alto-mar. Prestei serviço na Marinha Portuguesa ao longo de 6 anos e recordo que durante as semanas de mar, nas vagas que tinha entre o meu serviço, ia para o computador da minha Seção e escrevia por algumas horas, deixando horas de sono órfãs. E acreditem que os navios abanam mesmo. A cadeira estava peada ao chão e eu enquanto escrevia era como se estive no carrossel. Mas talvez essa linguagem corporal e algumas limitações físicas associadas, tenham desempenhado involuntariamente um papel determinante para a intensidade e o ritmo da estória. Tudo isto em estrita orquestração com a disciplina e rigor que tal entidade delimita, os quais decalcam na personalidade da pessoa determinadas variáveis. O decorrer da conceção da obra, foi algo muito instintivo, que me levava sempre a pedir opinião a amigos e pessoas mais chegadas perante capítulos que já tinha finalizado. Gosto sempre de ter receber o feedback por quem nutro Amizade, mesmo que posteriormente em nada altere o que já está escrito. Mas sinto-me confortável por esta troca de opiniões. O que mudou em mim? Talvez a acentuação do entendimento do que é isto de se ser humano. Um termo mal aplicado, se formos analisar todo o seu conceito e a adaptação a determinados seres. Por outro lado, após o lançamento do livro, a certeza de que existe ainda muita intolerância por parte de quem professa determinada Fé, mais concretamente “palas nas fontes”, que interdita uma análise institucional e individual de forma a identificar, assumir e anular os erros até então celebrados. No estudo sociológico desta epidemia de raquitismo inteletual e de leprosidade sentimental e vinculação do indivíduo no cerne da entidade e do coletivo, facilmente se dá razão à análise de Karl Marx quando defende que a Religião é o “ópio do povo”, assim como a V.I. Lenine, em que a Religião era como que uma “aguardente moral”. Desta podemos diluir uma conclusão óbvia e intemporal; estamos perante uma bebedeira socialmente aceite, mesmo que demente, desumana, limitadora, sem solidariedade credível e intolerante, numa tela pintada com uma ortodoxia que chega em muitos a ser doentia.Mas não culpo os deuses, mas sim parte dos seus mediadores, os trabalhadores da Igreja Católica, os Padres. Esses sim, que constituem a multinacional transcendente com várias filiais e de lucros extensíveis, têm culpa da deturpação de muitos bons valores inerentes à instituição que deveriam servir decentemente.

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José Gonçalves

Gatilho – É um livro com uma alta “ cadência rítmica” – veloz – que acompanha o desenrolar dos

acontecimentos, até à morte pavorosa – o assassinato - do frade amoroso de Madalena, torturado

primeiro pelos tais “mediadores superiores “ e apedrejado no largo pela população de Amarante,

só porque amava. Em que século se podia passar este livro? Ou o tempo foi controlado para se

protegerem eternamente – “os da Igreja “ – da Verdade Histórica dos factos? “Imprópria para

consumo?”

JG - A Igreja Católica cala aquilo que não lhe convém. Mas atualmente muitos dos mediadores de deus já

nem olham a meios para atingir os seus fins e não tem uma gota que seja de humildade, solidariedade e

humanismo, pedindo e impondo quotas às pessoas pelos serviços praticados em nome da Igreja

Católica. Igreja esta, que em conversa com alguns padres do meu círculo de amigos (sim, ainda existem

padres corretos e com muitas qualidades) nunca foi o que as bases queriam. O deus deles e o seu mais-

que-tudo não pediram que se erguessem templos majestosos banhados a prepotência e a ouro, muito

pelo contrário. E quem acredita em deus, basta simplesmente rezar e falar diretamente com ele, não

precisa de um mediador, ainda por cima que se aproveita do pouco que os crentes têm e sem esquecer o

enquadramento económico que aniquila imensos lares.

Presenciei algumas missas em que por exemplo após a época pascal, um padre, em plena homilia, disse

que as pessoas andavam a abrir pouco as portas ao compasso e que, consequentemente, o montante

capital a entrar nos cofres da igreja se via minorizado. O mesmo padre que na Páscoa, dois dos três

pedidos são diretamente para os seus bolsos (côngrua e folar) conseguiu arrecadar de uma única

freguesia, sem sujeição a impostos, 11 mil euros. Isto é pouco? Eu ouvi isto. E quando falo, tudo que

escrevo, é com conhecimento de causa, palpável e presencial. Outro caso foi o pedir que as pessoas

humildemente justificassem perante o padre o porquê de não pagarem. E que se deveria para as

despesas internas dar 10 euros. Caso não conseguissem, pelo menos 5 euros tinham de pagar. Isto vem

escrito em papéis distribuídos nas Igrejas! Outro exemplo foi em plena missa, no ofertório, o pároco dizer

que não queria ouvir moedas a tilintar nos cestos. Logo, a opção viável seria, somente, oferecer notas.

Perante isto devemos considerar que a Igreja está saudável, recomenda-se e é própria para consumo?

Tirem as vossas conclusões. O que sei é que a Igreja sendo feita de Homens, poderia ser uma melhor

Igreja, a viver em Humanismo, Solidariedade e Verdade com toda a sociedade envolvente. Esperemos

que um dia isso mude, para bem da Humanidade.

Quanto à questão temporal que me colocam, facilmente de depreende com a estrutura do livro. Decidi

colocar o século XVIII e a atualidade em alternância, com pontos de ligação para enublar essa diferença

secular, de forma a linear e apagar marcas temporais, aproximando e demonstrando que se pode passar

tanto hoje, com ontem, pois apesar dos métodos serem diferentes, a essência mantém-se afim.

Acho mesmo que se Jesus voltasse à Terra, só poderia ser Ateu, tamanho golpe deram nos seus

ensinamentos e princípios.

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José Gonçalves

Gatilho - Obrigas o leitor a reagir, a recriar… Como foi a reacção dos amarantinos a este romance, em que pareces

atingir uma “ objectividade literária, fecunda em descrições…?

JG - Tudo o que escrevo tem caráter interventivo. Não uma simples história de Amor, mas sim da intervenção desse

sentimento na sociedade e tudo o que o limite, como neste preciso exemplo, os dogmas de uma instituição, onde a

falsidade de valores e a deturpação das suas bases, são o pão-nosso de cada dia. É saudável que o leitor, entre no

enredo e reaja, recrie, imagine, debata, desassossegue, se intrigue constantemente.

O Bicho Homem, na altura apresentado na Biblioteca Municipal de Amarante, prefaciado pela Professora Elsa

Cerqueira, teve uma boa aceitação, esgotando em pouco tempo, e por isso tenciono reeditar o livro em breve.

Contudo, teve várias reações. Algumas previsíveis, principalmente no que toca a devotos à empresa multinacional

Igreja Católica, que cegos pela ortodoxia, tocando muitas vezes o doentio, não são capazes de olhar para si

mesmos, detetar e assumir os erros, na tentativa de os evitar num futuro próximo, para o bem de toda a sociedade.

Mas tive vários católicos praticantes que se revêem nas críticas decalcadas no livro, o que me faz ter um pouco mais

de esperança no ser humano, não permitindo que ele atinja o estado de Bicho Homem. A maior aceitação foi por

parte da juventude, que demonstrou uma forte capacidade de debate e intervenção em torno das temáticas

inerentes ao livro, sempre que me deslocava para apresentações do mesmo. Desde livros que não paravam quietos

nas estantes das bibliotecas escolares e lista de espera para o ler, até casos em que professores o indicaram para os

discentes lerem e refletirem acerca do lido. Várias foram as pessoas que passaram a descobrir Amarante através do

guião literário presente no livro. À medida que iam lendo, deslocavam-se aos locais físicos da cidade, que ainda

hoje passamos por eles diariamente, e começaram a olhar para eles de outra maneira, mais atenta, mais

construtiva, com mais valor. Surgiram algumas situações caricatas, realmente, com as quais me diverti bastante.

Tudo isto motiva quem escreve, obviamente. E é com essa motivação que não cessarei de produzir. Tal como o

grande cronista amarantino A. Magalhães disse numa entrevista recente “Quanto à produção propriamente dita,

desejo aproveitar tudo o que os meus neurónios me derem. Quando eles se cansarem, seria bom deitar-me a

dormir e esquecer-me de acordar”.

Gatilho -Através dos teus personagens, analisas o simulacro existencial – no Fim o vazio de nada ter “possuído” –

que a Igreja Católica cria e recria segundo manipulações da verdade, mais ainda porque há recorrências ao

Imaginário colectivo da cidade. Coisas que ouvimos falar desde “pequeninos”, como as supostas ossadas de

bebés encontradas beira Tâmega, há muito tempo atrás, supostamente fruto do pecado e como tal deviam ser

banidos. Não houve retaliações?

JG - Seja o Realismo ou Ficção presentes nos meus livros, tenho consciência que valorizei algo que muitos agentes

políticos não fazem há muito. Amarante. A princesa do Tâmega serve de leito para as minhas obras e isso é um

facto. Valorizo cada recanto e mesmo o património religioso é exponenciado sentimentalmente. Dediquei tempos

de estudo no âmbito da construção, arquitetura, pintura e escultura existentes nos espaços físicos que ainda hoje

podemos visitar.

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José Gonçalves

E esse caso das ossadas está presente num dos espaços mais especiais

da história do frade e da freira.

As retaliações foram particulares, originadas de um ou outro indivíduo,

ora clerical ora um simples crente, mas nunca querendo entender os

argumentos e fundamentos da minha análise. Pois para esses só a

opinião deles é que serve e é a máxima a ser bebida no altar comum

que é a polis. Erro! Olá, eu chamo-me José Gonçalves, não bebo nem

como das vossas crenças e não pertenço a nenhum rebanho que bale

ao som do sino, sem opinião própria, consumidos pelo medo da

retaliação social, numa sociedade em que preza pela pseudo

moralidade pública e por outro lado pela devassidão privada.

Gatilho - Qual a mensagem que pretendes passar como escritor, nesta tua história de Amor, cujos

protagonistas do segundo livro Espinhos do pecado, Afonso (o professor da Escola Secundária

de Amarante) e Clara, ex freira, investigadora em Teologia parecem ter reencarnado ou pelo

menos imortalizaram, o amor do frade e da freira, Madalena – com hábito no Convento Santa

Clara?

JG - O livro “Espinhos do Pecado” é como que uma continuação descontinuada do “Bicho Homem”. Os

personagens dão continuidade ao já despoletado em Bicho Homem, mas focando-se mais no presente

século, fazendo a analogia temporal, crucial para a compreensão da minha crítica direcionada à

instituição católica.

Uma das várias mensagens que vinculam as minhas palavras é que se temos o direito a professar

alguma religião, seja ela qual for, também temos o direito de ser ateus e não acreditar em algo

transcendente, principalmente em algo que nunca se viu e se baseia num livro com contos de índole

moral, já assumido por muitos investigadores católicos dos escritos bíblicos, como um conjunto de

metáforas, não coincidentes com a realidade da época.

Todas as pessoas têm o direito de ter Fé. E, tanto em Bicho Homem como em Espinhos do Pecado,

dedico capítulos ao que a Religião pode ter de bom na conduta das pessoas. Mas pessoas que são

capazes de pensar por elas próprias.

Poderão perguntar o porquê de Ateus terem sempre A Religião e Deus como base dos nossos escritos e

críticas. Prontamente responderei. Pela urgência de sanidade coletiva e individual num contexto em que

a luta é essencial para que possamos seguir em frente com o nosso eu e nosso nós. Pois tudo que limita a

capacidade de reação do indivíduo irá ter fortes consequências em sociedade e no progresso da mesma

nos seus mais diversos prismas. Um longo processo de Desumanização com que nos deparamos. E é

contra este processo que tem tentáculos voluntariamente religiosos, que me oponho frontalmente.

Em poucas palavras; eu penso coletivo, a médio e longo prazo e não somente individual, como a maior

parte dos seres que habitem este planeta.

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José Gonçalves

Cafe sta. luziaamarante

do

Gatilho – Estes dois romances abordam questões extremamente delicadas porque “envolve” o

“satanismo doente” de altas credenciais católicas, e continua ao longo dos séculos a Impulsionar

a cegueira, de facto, dedicado a Saramago, também. Adequado talvez … Na tentativa de criar

homens sem pensamento próprio e “ precisa de ajuda divina “; a submissão a supostos

representantes da mensagem de Deus que seria, Paz Amor Unidade e Respeito… Sonâmbulos

sem alma deambulantes pelo limbo? Seria uma boa descrição tendo em conta o final reservado a

Madalena, Francisco, Clara e Afonso, os amantes da saga. Se a arte é Imortal seja lá qual for o

tempo, recria; o sentimento de Amor que tanto medo mete à Instituição religiosa, por ser

subversivo, nos teus livros eterniza-se e é recuperado de uma forma quase “transcendental” por

Afonso e Clara. Ouvi dizer que andas a preparar um novo livro? O que podemos esperar dele???

Já tem título?

JG - No que diz respeito a novos projetos, a conceção de um novo livro ainda está por truncar. Devido a

várias questões, como por exemplo responsabilidades profissionais e a investigação final para a minha

Tese de Doutoramento no âmbito dos Estudos Saramaguianos, a nova estória a que me propus, sofreu

alguma lesão no tempo. Está numa fase inicial. O enredo está definido, apesar de as surpresas e a

imaginação e criatividade, assim como as vivências diárias possam ser motivo de umas alterações

espontâneas, não programadas na obra. Os personagens estão definidos, faltando enquadrá-los na

janela de tempo e no espaço. Posso avançar que este livro é um grande desafio para mim, no que

concerne à estética, ao conceito, à estrutura. Algo completamente diferente do que as pessoas estão

habituadas a ler nos meus livros. O romance será centrado nos Direitos Humanos, pois é um tema que

impera ser debatido na polis cada vez mais e com caráter de urgência antes que se percam mais valores

nesta sociedade cada vez mais individualista e sectária. Quanto ao título não o divulgarei para já, por

motivos de fácil compreensão. Mesmo antes de lançar este romance pode ser que surja um outro livro.

Uma antologia de artigos de opinião que fui editando em alguns jornais e revistas, que demonstram um

lado bastante interventivo, e contra tudo o que se podia esperar, foram o pontapé de partida para uma

Censura num órgão de comunicação social local. Afinal não estamos assim tão desligados dos

resquícios de uma ditadura, pois não? E é contra esta limitação da liberdade de expressão que luto

diariamente, fiel aos meus princípios e ideologias. Escrevendo sempre para desassossegar. Porque

desassossegando, despoleta o diálogo, o raciocínio. E raciocinar é uma emergência!

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JOSÉ ANTÓNIO ALVES

“Nós estamos atrasados em relação ao real, atrasados

em relação ao tempo presente.” As palavras são do professor

Manuel Curado na apresentação da última obra de José António

Alves, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira. A temática

pertence ao domínio das Ciências cognitivas recente e defende

a ideia de que a “consciência dos seres humanos está sempre

meio segundo atrasada em relação aos acontecimentos físicos

do mundo” já que todas as realidades do mundo têm equações

temporais a cumprir e “a consciência é uma realidade do

mundo”. Imagine, o processo que o leitor tem de seguir para ser

consciente das palavras que tem estado a ler. “Os seus olhos

têm de captar a imagem, depois transmitir a imagem ao cérebro

e este tem de produzir a adequação neural, necessária ao

emergir da consciência das palavras que está a ler”. Isto traduz,

de facto, algum desfasamento temporal. Uma das hipóteses

estudada na obra do investigador amarantino, na Universidade

do Minho é a de que “a maior parte da vida dos seres humanos se

desenvolve de modo automático, sem o recurso à consciência”,

tendo como sequência possível a ideia polémica de que a

liberdade humana é ilusória”, se considerarmos que o Homem é

livre se a sua acção é resultado de uma deliberação

consciente?»

Já disponível ao público, a ler e a debater

LIMITES DA CONSCIÊNCIA O MEIO SEGUNDO DE ATRASO

E A ILUSÃO DA LIBERDADE

Page 15: Gatilho nº2 @ Novembro 2013

ó flip,vou concorrer

ao prémio dE jornalismo

literário

luso-galego.tú?! ahahah.

essa foi pra rir?!

BEAT & FLIP

és muita...

e tamos aqui

pra quê?

???!!!

1 - comum; conhecido

2 - arte de movimentar expressivamente o corpo

3 - apresentação de uma

história a um público

4 - civilização

(manifestações sociais,

artísticas)

5 - sétima arte

6 - combinação de sons

e pausas

7 - registo de imagem e som

8 - tinta; pincel...

9 - publicação encadernada

10 - composição literária

em versos, harmonia...

10

1

2

3

4 5

6

7

8

9

1- Popular

2 - Dança

3 - Teatro

4 - Cultura

5 - Cinema

6 - Música

7 - Video

8 - Pintura

9 - Livro

10 - Poesia

SoluçõesCriado por Verena Basto

Page 16: Gatilho nº2 @ Novembro 2013

PAULA REGO ou atitude “shocking”de fazer pensar?

“Adorei, é marcante ser confrontado com tanta “mensagem artística” que tem

sempre algo de espantoso: o “interior” - a essência - da sua obra. Os jogos, a

forma como nos “enleva” em recordações de tempos idos, uma sensação que me

provoca, os desenhos infantis “sensitivos” que ganham uma espécie de “vida

interior” ajudada à forma como usa o pincel (o espalhanço); o traço; o desenho; ao

choque das suas telas mais “criticas” à sociedade e que contrariam a

Humanização do consciente colectivo. Há sempre uma tentativa de transmitir

uma mensagem, que nem sempre é clara mas, mexe com as nossas emoções

pela dimensão do “desequilíbrio” que transmite”. Paulo Duarte

OPINIÃO

O Museu Amadeo de Souza Cardoso apresenta até dia 7 de Dezembro uma viagem ao

imaginarium da artista Paula Rego, numa visão “singular” do mundo das interpretações artísticas

inconscientes que marcam as suas obras. A exposição decorre no âmbito do Prémio Amadeo de

Souza Cardoso, um dos mais conceituados a nível nacional e que traz, agora, a Amarante, o

“abstrascionismo” e o “inconformismo” da artista que teima em denunciar, apropriando-se da

“narratividade” que surge nos fundos das suas criações “que lhe é exterior-fundos literários populares,

dados do quotidiano próximo ou longínquo temas políticos sociais”. A “Arte” como resultado de uma

certa irracionalidade “fantástica” e, também, característica de quem age por instinto e confere, por

isso, um carácter “bidimensional” ao real que Paula Rego transmite. Libertação pela imaginação que

se serve de múltiplos recursos como colagens ao recorte silhuetado à pintura ao desenho em jogos

fantasmagóricos que dão início a uma vertiginosa “descida” à tomada de consciência humana. O

estado é de alerta sensorial.

No fundo a autora do “Retrato de Jorge Sampaio” patente na exposição, constroi vários

“teatros do mundo” onde se misturam memórias e contos de infância às figuras “cruelmente

desfiguradas” que chocam a Intelegência Humana conferindo às suas obras um carácter fortemente

“interventivo”. O “observador” é obrigado a questionar a validade da existência humana? “O mundo é

frio e absurdo”. A não perder!

Paulo Duarte

Visitante daExposição dePaula Rego.