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GENEROSO: UMA LENDA E UM MISTÉRIO1
Eliane Martins Coelho2
Alessandra Schettert Fava3
Resumo: Uma cidade é formada por uma complexidade de fatores, dentre eles a sua
população e os aspectos culturais. No entanto, alguns atrativos culturais parecem não receber
o reconhecimento necessário e ficam à disposição da comunidade, mas em situação de
esquecimento e, consequentemente, sem um aproveitamento mais adequado, como seu uso
para desenvolvimento ou valorização do turismo cultural. Este artigo abordará a situação do
mural de pastilhas vitrificadas com a imagem de um Índio Laçador Charrua, exposto na
parede externa de um prédio no Centro da cidade de São Borja, apresentando sua história, as
dificuldades de apresentar informações sobre este atrativo e sugestão de melhor
aproveitamento para o mesmo.
Palavras-chave: Turismo cultural, atrativo cultural, valorização cultural.
Introdução
Como a sociedade tem sua arte apresentada de diferentes formas, algumas expressões
causam maior impacto ou chamam a atenção, outras ficam escondidas e de acesso restrito, e
algumas, mesmo que explícitas a todo público, perdem seu sentido ou atrativo com o tempo,
seja porque a sociedade local acostumou com a paisagem e não se encanta mais, ou porque o
patrimônio se transforma pela ação do tempo e perde seu brilho, ou porque a rotina atual é tão
rápida e intensa que uma expressão de arte não prende a atenção.
Uma destas situações atingiu um painel de pastilhas vitrificadas, com a figura de um
índio, exposto numa das paredes externas do prédio que fica localizado na esquina das ruas
Cândido Falcão e Coronel Lago, no bairro Centro da cidade de São Borja.
1 Grupo de Trabalho (GT) Gastronomia e Turismo – 01 2Bacharel em Turismo pela PRC/RS e mestre em Turismo pela UCS. Docente do curso tecnológico de Gestão
do Turismo do IF Farroupilha, campus São Borja. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso tecnológico de Gestão de Turismo do IF Farroupilha, campus São Borja. E-mail:
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Este estudo foi motivado pela curiosidade em relação ao mural pelo fato de que
atualmente uma das autoras reside no prédio. Caracteriza-se como uma pesquisa exploratória,
pois observou-se a falta de materiais e documentos a respeito do objeto pesquisado. Também
há o suporte bibliográfico e a realização de uma entrevista estruturada com uma antiga
moradora do prédio.
O problema motivador deste estudo foi a averiguação quanto a representação expressa
no painel, pois o primeiro morador e idealizador do prédio escreveu um livro usando como
base uma lenda local de um índio chamado Generoso, e ficou a questão: seria este mural a
representação desta figura lendária?
O objetivo geral deste trabalho é buscar informações sobre esta figura, identificando
sua representação e origem. Como objetivos específicos busca-se compreender a história
desta expressão artística, valorizá-la como patrimônio cultural municipal e sugerir seu
aproveitamento em atividades turísticas locais.
Acredita-se que São Borja é uma cidade com real potencial turístico, e além dos
patrimônios culturais que são reconhecidos pela população e poder público, é possível que
existam mais atrativos não identificados e explorados, caracterizados como bens materiais e
imateriais, que poderão ampliar a estrutura do produto turístico local, motivando a
movimentação de turistas.
Turismo Cultural
O turismo é um fenômeno social complexo, de caráter humano, envolvendo a mútua
relação entre produção e serviços em uma localidade, visando o seu desenvolvimento
(econômico e social), a preservação ambiental, o prazer e a auto realização dos envolvidos.
É uma atividade dinâmica que envolve deslocamento, alojamento, alimentação,
aspectos culturais, paisagens, hospitalidade, trocas (econômicas, socais e culturais) entre os
envolvidos, oportunizando aos visitantes momentos de informação, lazer e entretenimento.
O fenômeno turístico, ou a atividade turística, tem um aspecto social tão importante
quanto o desenvolvimento econômico, isto é, a possibilidade de expansão do ser humano,
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seja pelo divertimento ou pela possibilidade de conviver com novas culturas e enriquecer os
conhecimentos através das viagens.
Dentre as possibilidades de ações de desenvolvimento turístico de uma localidade está
a exploração dos atrativos culturais, que podem ser compreendidos como ações humanas que
geram produtos materiais e imateriais, que distinguem os povos entre si e, por isso, se tornam
atraentes (MARTINS, 2003).
O turismo é uma atividade que pode ser classificada mediante o tipo de atração que
promoverá o interesse pela viagem. Dentre as opções está o turismo cultural, que compreende
as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do
patrimônio4 histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens
materiais e imateriais da cultura (BRASIL, 2006).
A partir disso, é possível interpretar que o turismo cultural se utiliza de cada fato,
história, lenda, paisagem e atrativo que torna aquele local único para motivar o turista a
conhecer o destino. Portanto, uma lenda pode também ser uma forma de atrair pessoas.
São Borja é uma cidade rica em patrimônio cultural e histórico e é evidente sua
potencialidade turística. No entanto, aspectos como a distância de outras localidades e o
acesso apenas por via terrestre no momento, fazem com que o local tenha a necessidade de
oferecer um roteiro bem estruturado, diversificado e repleto de possibilidades que ocupem o
tempo do turista e motivem seu deslocamento.
De acordo com Rodrigues (2009, p. 15)
O turismo cultural, tal qual o concebemos atualmente, implica não apenas na
oferta de espetáculos ou eventos, mas também a existência e preservação de
um patrimônio cultural representado por museus, monumentos e locais
históricos. Além do valor cultural específico, do ponto de vista do turismo
cultural, esses bens materiais possuem outro valor, o de serem objetos
indispensáveis, cujo consumo constitui a base de sustentação da própria
atividade.
4 Patrimônio é um bem, algo com valor agregado que se torna importante para uma sociedade e pode ser
identificado como natural, cultural ou histórico (FURNARI; PELEGRINI, 2009).
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Sendo assim, cada espaço ou expressão identificado com significados diferenciados
deve ser analisado pelos agentes do desenvolvimento turístico local, buscando ampliar as
possibilidades de atrativo da cidade. Neste sentido, o painel de pastilhas vitrificadas do Índio,
no Centro da cidade de São Borja, torna-se um interessante objeto de estudo.
Atrativos e Representações culturais
Os atrativos estão relacionados com a motivação de viagem do turista e a avaliação
que os mesmos fazem deste elemento. Conforme Ignarra (2002, p. 28) “atrativo turístico é o
recurso natural ou cultural que atrai o turista para visitação”.
De maneira geral, as diferentes formas de manifestação da cultura são constituídas a
partir da convivência em sociedade, e a valorização e reconhecimento destas expressões
estabelecem os patrimônios, que se constituem na materialização das tradições, costumes,
modo de viver, através de expressões artísticas, religiosas, comportamentais, entre outros.
Conforme Martins (2003, p. 45), “a ideia de patrimônio cultural abarca todos os
aspectos da atividade humana e conduz a uma revalorização do natural e do meio ambiente
como algo relacionado com o homem e manipulado por ele”. Desta forma, cada grupo social
desenvolve sua própria cultura e institui seus patrimônios, que são revelados de forma
material e imaterial, através de experiências e vivências, e passados de uma geração a outra
de diferentes formas.
As lendas são exemplos de patrimônios culturais. Tratam-se de narrativas transmitidas
oralmente pelas pessoas com o objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou
sobrenaturais (ARAÚJO, 2016). As lendas podem envolver e mesclar fatos reais e fantasiosos
e, por vezes, representar uma forma de atrativo turístico a um local ou comunidade.
A representação cultural de uma lenda pode ser manifestada não apenas pela
expressão tradicional que ocorre pelo relato oral, mas também através de outras
representações como a forma escrita, esculturas e murais, passando a conviver com o
cotidiano da comunidade local de forma física e, por vezes, tornando-se um atrativo que
motiva outras pessoas a conhecer aquele local ou, de forma mais modesta, integrá-lo em um
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roteiro turístico, juntamente com um conjunto de outros atrativos, que torna um destino
atraente.
Ignarra (2002, p. 48) destaca que “é bastante usual que elementos que compõem o
cotidiano das pessoas que residem em determinada localidade não lhes chame a atenção e se
mostrem extremamente atrativos para os visitantes que não participam deste cotidiano”.
Situação semelhante a esta parece ocorrer com o mural do Índio, localizado em um prédio no
Centro da cidade de São Borja, uma obra de arte que é corriqueira aos olhos locais, apesar da
sua beleza e história intrigante.
A Cidade de São Borja
Localizada na fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul, a cidade de São Borja é
rica em questões patrimoniais e culturais.
Originada a partir da instalação da Redução Jesuítica de São Francisco de Borja, no
ano de 1682, a cidade é conhecida como o primeiro dos sete povos das missões, pois foi a
primeira redução a ser criada no lado oriental do rio Uruguai (RODRIGUES et. Al., 2013).
Enquanto município, São Borja nasceu a partir do desmembramento do município de
Rio Pardo em 12/12/1887, através da Lei nº 1.614. A Comarca foi criada através da lei 1.020,
de 11/03/1833 desmembrado de Rio Pardo. É sem contestação, o núcleo habitacional
permanente mais antigo do território rio-grandense do sul. Até a derrocada em 1756, os
Jesuítas incrementaram a pecuária extensiva, o artesanato, o cultivo da terra e deixaram o
primeiro plano diretor do município (SÃO BORJA, 2016).
A área total de São Borja é de 3.371.051 Km², sendo que apenas 71 Km² se
caracterizam como área urbana, sendo a restante área rural. Conforme censo do IBGE5 de
2010 a população do município é de 61.433 habitantes. Não foram encontrados registros
exatos, mas sabe-se que a maior parte da população reside na área urbana.
5 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dados do censo de 2010, disponíveis em
http://www.saoborja.rs.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=68&Itemid=1331. Acesso em
julho de 2016.
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Apesar de não existir resquícios edificados deste período inicial, São Borja ainda
apresenta a mesma estrutura urbana no Centro da cidade que remete ao período missioneiro.
Também possui estatuárias e artefatos sacros em locais com acesso público (igrejas e
museus), além que alguns lugares e espaços do município apresentarem nomes guaranis.
A riqueza cultural de São Borja ainda se apresenta através do slogan “Terra dos
Presidentes”, fazendo referência aos políticos Getúlio Vargas e João Goulart, tendo
patrimônios materiais vinculados a suas memórias. A população também tem seus artistas
locais, que se destacam em diferentes formas de expressão cultural, além de mitos e santos
populares, e todo este conjunto de itens formam um patrimônio cultural representativo da
sociedade são-borjense.
Os Angüeras e a Lenda do Índio Generoso
O Grupo Amador de Arte “Os Angüeras” foi criado em 10 de março de 1962, com
atuação nos campos da música, do teatro, da literatura regional e da pesquisa do folclore. O
grupo surgiu a partir do chamado “clube dos dez”, composto por um conjunto de amigos que
se reuniam com objetivo de passar o tempo.
A palavra “anguera”, de acordo com o dicionário guarani (Diaz, 1991), significa alma.
De acordo com Rillo (2016), Angüera significa espírito que volta ou alma que volta ao corpo.
Conforme a lenda, o "Angüera" antes triste e caladão, virou cantador e tocador de
viola, depois que os padres das Missões o batizaram e lhe deram o nome de Generoso e,
assim, na mitologia missioneira "Angüera" pode ser considerado o patrono da música e da
alegria gaúcha.
O Grupo Amador de Arte “Os Angüeras”, desde outubro de 1982, mantém à
disposição da comunidade o Museu da Estância, espaço especializado em ergologia
campeira, com peças e cenários que remetem a história de desenvolvimento das lidas do
campo.
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Além disso, o grupo ainda possui um espaço de eventos, para realização de atividades
privadas ou com entrada por adesão, sempre com o enfoque nativista. Este grupo também é
responsável por promover o Festival da Barranca6.
Tratar sobre a lenda do Índio Generoso sem mencionar este grupo de arte amador é
deixar de estabelecer um vínculo importante entre a origem deste patrimônio imaterial e sua
disseminação local.
Painel do Índio
O Generoso é uma figura emblemática, ou misteriosa, enaltecida pelo Grupo Amador
de Arte Os Angüeras através da música “Canto a Angüera”. Apesar da comunidade são-
borjense conhecer e fazer referência aos Angüeras, nem todos conhecem o significado do
nome de origem indígena.
Rillo (2012, p. 44), ao tratar sobre o tema crendice popular, explica que a lenda local
do Generoso, não se trata da mesma figura expressa pelos Angüeras como sendo o índio
missioneiro que tomou este nome após haver sido batizado pelos Padres das Reduções.
O Generoso são-borjense é uma espécie de bom fantasma que
aparece para aqueles que, especialmente pobres e doentes, têm
dificuldades em levar a cabo uma tarefa: carpir uma roça, cortar
lenha, repontar uma ponta de gado, lavrar uma pequena lavoura
com arado de boi. Revestido de forma humana, vestido como um
gaúcho pobre, faz com que seu protegido, logo após dar-se conta da
sua presença, adormeça. Assume, ele, a tarefa difícil. Ao acorda-se
o auxiliado, minutos após, o “Generoso” já desapareceu e o serviço
está pronto e acabado.
Seguindo esta representação são-borjense, o médico e escritor Ivo Drago7 lança em
2002 a obra “Generoso... A lenda que o rio levou”, e demonstra seu apreço pela cidade e sua
beleza patrimonial imaterial, expressa na utilização da lenda como base para seu livro. No
6 Festival de música nativista que ocorre às margens do rio Uruguai desde 1972.Tem como características
ocorrer durante a Semana Santa, não permite a presença de mulheres e as composições são realizadas em
período inferior a 24 horas. 7 O médico Ivo Schiavo Drago, nasceu em São Borja, dia 26 de outubro de 1924 e faleceu em 2008. Autor dos
livros: Generoso, A lenda que o Rio Levou, No Caminho das Estrelas. E seu último livro, lançado in memoriam,
“O Contador de Histórias – Causos do Rio Grande”. Fonte: http://palavrasfrancas2.blogspot.com.br/2013/09/o-
imortal-apaixonado-pelo-rio-grande.html.
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entanto, percebe-se que esta admiração ultrapassa a literatura e atinge a expressão visual,
concretizada através de um mural exposto em uma parede externa de sua residência.
Conforme entrevista concedida pela senhora Rejane Maria Drago8, o prédio de dois
andares localizado na esquina das ruas Cândido Falcão e Coronel Lago levou 7 anos para ser
construído, entre os anos de 1953 e 1960. Abriga na totalidade da parede desta segunda rua
(lado norte do prédio), um mural com dimensões de aproximadamente 7 X 4 metros, feito em
pastilhas vitrificadas, com autoria do artista Danúbio Gonçalves9. A entrevistada acrescentou
a informação de que obras feitas em metal e pastilhas o autor não costumava assinar.
Figura 1: Mural do Índio.
Fonte: Acervo das autoras.
Nas primeiras páginas do livro anteriormente referendado aparece a imagem desta figura e a
indicação de que se trata de um Índio Laçador Charrua. No entanto fica um questionamento:
A figura do mural é também a representação do índio Generoso? A entrevistada informou que
8 Rejane Maria Drago é filha do Dr. Ivo Drago e informou que a casa foi construída durante sua infância, além
de confirmar o laço de amizade entre seu pai e o artista plástico Danúbio Gonçalves. 9 Danúbio Gonçalves, nascido em Bagé/RS no ano de 1925, é conhecido principalmente por sua atuação como
gravurista. Retrata camponeses e trabalhadores, seu cotidiano e suas festas. A partir de 1960 parra a utilizar
técnicas variadas, como tinta acrílica, aquarela e gravura. Fonte:
https://www.escritoriodearte.com/artista/danubio-goncalves/
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esta obra é uma homenagem aos índios Charruas, e que o Generoso foi um personagem
criado para homenagear o índio Charrua.
Através de pesquisa bibliográfica foi identificado que Ivo Drago, além dos livros,
escreveu uma monografia sobre os Índios Charruas. Isto demonstra seu interesse e afeição
pela figura e história indígena, justificando a obra artística elaborada na parede externa de sua
residência. No entanto, a construção do prédio e elaboração do mural são anteriores aos
trabalhos escritos mencionados.
Ainda conforme expresso pela senhora Rejane Drago, “a cidade de São Borja, não
valoriza essa obra que foi feita por um artista plástico de gama mundial. O Danúbio
Gonçalves, entre tantas obras, fez também os painéis da sede da ONU”.
Também foi informado que esta obra foi doada pelo Dr. Ivo Drago para a prefeitura
de São Borja e o poder público municipal deixou a obra sem manutenção, mas existe uma
ação junto ao Ministério Público, encaminhada em 2015, com o objetivo de proteger imóveis
considerados patrimônios culturais do município de São Borja e esta ação inclui o Mural do
Índio Laçador Charrua. O prédio não pertence à família Drago desde o ano de 2012, quando
foi adquirido por outra família que desde então reside no local.
Figura 2: Denúncia ao Ministério Público.
Fonte: Site do Ministério Público.
A senhora Rejane indicou, ainda, que na prefeitura municipal existe o documento de
doação, e que pessoas vinculadas a área do patrimônio histórico entraram em contato e foram
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na residência do artista plástico Danúbio Gonçalves, situação em que foi confirmada a autoria
da obra.
Até o momento da entrega desde artigo não foi possível verificar os documentos na
prefeitura, situação que impede uma análise mais elaborada sobre a informação concedida.
No entanto, este estudo continuará mesmo após a data de entrega deste material.
Possibilidades do Uso Turístico
Uma obra de arte como o Mural do Índio Laçador Charrua é um patrimônio que não
deve ser ignorado ao desenvolver um roteiro turístico no município de São Borja. Entende-se
que apenas esta obra não gera motivação suficiente para uma movimentação turística, mas
aliar este patrimônio ao contexto da cidade pode ampliar o interesse do turista.
Importante destacar que a localização do mural é bastante acessível e está no caminho
de deslocamento a atrativos turísticos já reconhecidos e procurados. Esta situação é um
incentivo ao aproveitamento deste recurso cultural, pois de acordo com Ignarra (2002, p. 48)
“o turista procura sempre conhecer aquilo que é diferente de seu cotidiano. Assim, aquele
atrativo que é único, sem outros semelhantes possui maior valor para o turista”.
Desperdiçar a oportunidade de explorar, de forma gratuita, uma obra de importante
artista plástico gaúcho e estabelecer uma relação com a origem indígena do município e com
uma lenda que caracteriza um dos atrativos mais visitados na cidade, como é o caso do
Museu Ergológico de Estância (conforme dados da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura
e Eventos), do Grupo de Arte Amador Os Angüeras, significa retroceder no processo de
desenvolvimento turístico.
O turismo cultural evolui de forma mais dinâmica quando há valorização e
reconhecimento do patrimônio por parte de sua comunidade. Perceber o orgulho e
envolvimento da comunidade com a atividade turística também a torna atraente. Desta forma,
a inclusão desta representação artística em um roteiro turístico de São Borja somará
resultados positivos, pois agregará valor através do reconhecimento de mais uma atração
cultural.
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Considerações Finais
O desenvolvimento deste estudo possibilitou conhecer um pouco mais da história de
São Borja e redescobrir um patrimônio que parece estar sendo negligenciado pela população
local. O turismo precisa de diversidade de atrações para conquistar o turista e provocar sua
movimentação. Cada atrativo que é reconhecido e acrescentado a um roteiro agrega valor aos
que já foi desenvolvido até o momento.
No entanto, percebe-se a necessidade de uma ação de incentivo à valorização da
cultura local junto à população. Uma comunidade que não entende e conhece sua história,
dificilmente conseguirá ter no turismo cultural uma forma de desenvolvimento econômico,
pois não percebe sua importância enquanto sociedade.
A dificuldade para encontrar informações sobre uma obra artística e de relevante
representação cultural, que está exposta de forma gratuita em uma localização movimentada
da cidade, chama a atenção de maneira desfavorável e provoca uma nova indagação: Por que
a sociedade, aqui interpretada como o conjunto formado pelos cidadãos e instituições
públicas, ignora este atrativo?
No entanto, acredita-se que este estudo conseguirá cumprir parcialmente seu objetivo,
através do fornecimento de informações à comunidade sobre esta obra e incentivo de seu
aproveitamento como atrativo turístico. Entende-se também que este trabalho pode servir de
motivação para outras pesquisas semelhantes a esta, não apenas relacionada a este mural, mas
apresentando outros atrativos ainda não explorados na cidade de São Borja.
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REFERÊNCIAS
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http://www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda/. Acesso: maio de 2016.
BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC , 2000.
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Ministério do Turismo, 2006.
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ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. 4ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson
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RODRIGUES, José Fernando C.; PINTO, Muriel; COLVERO, Ronaldo B. História
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13
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http://www.saoborja.rs.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=66&Itemid
=1329. Acesso: julho de 2016.