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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO AMBIENTAL PÓS-GRADUAÇÃO: LATU SENSU MÓDULO: GESTÃO DE RESIDUOS SÓLIDOS Brasília , dias 24 e 25 de maio e 14 e 15 de junho 2002 DOCENTE: PROF. DRA. VIVIANA MARIA ZANTA e-mail: zanta @ufba.br

GestÃo de Residuos sÓlidos

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO AMBIENTAL

PÓS-GRADUAÇÃO: LATU SENSU

MÓDULO: GESTÃO DE RESIDUOS SÓLIDOS

Brasília , dias 24 e 25 de maio e 14 e 15 de junho 2002

DOCENTE:

PROF. DRA. VIVIANA MARIA ZANTA

e-mail: zanta @ufba.br

Page 2: GestÃo de Residuos sÓlidos

SUMÁRIO

1-TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE

RESÍDUOS SÓLIDOS (SUB-MÓDULO II) 1

1.1- FUNDAMENTOS DA DIGESTÃO ANAERÓBIA EM ATERROS

SANITÁRIO 2

1.1. Origem e características dos resíduos sólidos urbanos. 3

1.2.Condições ambientais físico-químicas da digestão anaeróbia dos

resíduos sólidos urbanos. 5

1.3.Aspectos microbiológicos e bioquímicos. 13

2- DESTINO FINAL : ATERRO SANITÁRIO 31

(I - EP)>0 têm-se PER= P- ES- AS-EP 40

Considerações Finais 40

3-COMPOSTAGEM 49

1

Page 3: GestÃo de Residuos sÓlidos

1-Tecnologias de Tratamento e Destinação Final de Resíduos

Sólidos (Sub-módulo II)

As tecnologias de tratamento para resíduos sólidos urbanos podem ser

fundamentadas em princípios biológicos, físico –químicos ou térmicos.

A aplicabilidade de cada tratamento é função das características e

propriedades intrínsecas ao tipo de resíduo ,da quantidade gerada, como

também da disponibilidade e viabilidade das adoção de determinadas

tencologias frente das condições locais existentes.

Para os resíduos sólidos urbanos constituídos por resíduos domésticos,

comerciais, resíduos verdes, resíduos de serviços de saúde, resíduos

especiaism, as tecnologias de tratamento mais usuais no Brasil são a

compostagem, a reciclagem e a incineração. A forma de destinação final para

estes resíduos, após o tratamento, ainda é o aterro sanitário ou os aterros

industriais.

Cabe mencionar que para a fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos,

o aterro sanitário, desde que concebido para este fim , pode ser considerado

como uma forma de tratamento por processo biológico.

Neste sub-modulo será abordado, inicialmente, os fundamentos, as

etapas ,aspectos de dimensionamento, construtivos e operacionais relativos aos

processos biológicos anaérobios e aeróbios e a técnica de confinamento em

aterros sanitários.

1.1- Fundamentos da Digestão Anaeróbia em Aterros Sanitário

Os estudos relativos ao processo de estabilização de resíduos sólidos

urbanos em aterros sanitários iniciaram-se na década de quarenta, tendo se

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intensificado na década de setenta, devido à crise energética e a conseqüente

procura por fontes de energia alternativa.

As pesquisas realizadas em grande parte visaram a determinação e

análise das características físicas, químicas e ambientais peculiares ao aterro

sanitário, que indicassem parâmetros para o seu projeto e operação eficiente.

O aterro sanitário, por conter alta concentração de sólidos totais, também

pode ser considerado como um biorreator de digestão anaeróbia com alto

conteúdo de sólidos, operado em batelada e tratando a fração orgânica dos

resíduos sólidos urbanos (FORSU), inserido em uma proposta de gerenciamento

que contenha a coleta seletiva como etapa preliminar.

De acordo com KAYHANIAN et al. (1991), a digestão anaeróbia com alto

teor de sólidos, tem sido estudada recentemente, utilizando-se reatores

operados em batelada. Segundo esses autores, a digestão anaeróbia com alto

teor de sólidos, é definida como sendo a digestão que se processa com

conteúdos de sólidos totais acima de 22 %. Na literatura, esse processo

biológico denominado de modo diferente em vários trabalhos, BRUMMELER

(1993) utilizou a denominação digestão a seco (“dry digestion”), enquanto que

DeBAERE et al. (1986) apud KAYHANIAN et al. (1991), utilizaram compostagem

anaeróbia a seco (“dry anaerobic composting”) para nomear o sistema DRANCO,

PERES et al. (1990) utilizaram fermentação a seco (“dry fermentation”) ou, ainda

KAYHANIAN et al. (1991) utilizaram digestão anaeróbia com alto teor de sólidos

(“high solids anaerobic digestion”).

Assim, para o maior entendimento do comportamento dos compostos

orgânicos durante a degradação da FORSU, em sistemas anaeróbios operados

com elevado conteúdo de sólidos totais, tais como o aterro sanitário, aborda-se

aspectos relativos ao substrato, condições ambientais físico-químicas,

microbiologia e bioquímica da digestão anaeróbia de resíduos sólidos .

1.1. Origem e características dos resíduos sólidos urbanos.

Os resíduos sólidos urbanos, que compõem o substrato de sistemas

biológicos, possuem composição física heterogênea, em termos qualitativos e

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quantitativos. Isto é devido à influência de fatores diversos, tais como hábitos e

costumes da população, crescimento demográfico, nível educacional,

crescimento industrial e tipo de coleta praticada.

CHRISTENSEN E KJELDSEN (1991) comentaram que a fração orgânica

dos resíduos sólidos urbanos é extremamente variada, podendo ser constituída

por compostos orgânicos facilmente degradáveis, como os resíduos alimentares,

e aqueles dificilmente degradáveis, como por exemplo, a lignina. Essa

diversidade influencia fortemente as taxas de degradação em sistemas

biológicos como os aterros sanitários.

MATA-ALVAREZ (1991) em sua revisão sobre a biotecnologia utilizando a

digestão anaeróbia de alto teor de sólidos totais para tratar a fração orgânica dos

resíduos sólidos urbanos, afirmou que a composição da fração orgânica é o

principal fator que afeta o rendimento do processo biológico.

Os componentes físicos dos resíduos sólidos gerados pelas atividades

humanas podem ser agrupados de acordo com o seu grau de biodegradabilidade

em: facilmente degradáveis (matéria orgânica putrescível); moderadamente

degradáveis (papel, papelão, etc.), dificilmente degradáveis (trapo, couro,

borracha, etc.) e não degradáveis (vidro, pedra, terra, etc.), conforme

BOWERMAN apud GOMES (1989).

Outra forma de caracterizar os resíduos sólidos é analisar a sua

composição química. De acordo com REES (1980a), durante a degradação dos

resíduos sólidos urbanos predomina o metabolismo dos carboidratos sobre o de

proteínas e lipídeos, que juntos correspondem cerca de 8 % do resíduo em peso

seco.

BARLAZ et al. (1989a) citaram que os resíduos sólidos municipais são

constituídos tipicamente por aproximadamente 40 a 50 % de celulose, 10 a 15 %

de lignina, 12 % de hemicelulose e 4 % de proteína.

PERES et al. (1990) analisaram a fração orgânica proveniente de

resíduos sólidos domiciliares da cidade de São Paulo, obtendo quanto à

composição química, os seguintes percentuais, em sólidos totais (S.T.): 32,9 %

de celulose; 12,5 % de lignina; 9,61 % de proteína; 5,94 % de lipídeo e 5,1 %

de hemicelulose. Em relação ao conteúdo elementar as amostras continham em

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termos de S.T., 42,6 % de carbono; 5,90 % de hidrogênio, 1,54 % de nitrogênio

total, 17 % de enxofre e 0,19 % de fósforo. Os autores destacaram o baixo teor

de fósforo encontrado nas amostras estudadas.

De acordo com GLAUSER et al. (1987) entre os resíduos orgânicos, os

complexos de lignina e ligninocelulose são os mais refratários à decomposição

anaeróbia.

Trabalhos desenvolvidos por HAM e BOOKTER (1982) sobre a

decomposição dos resíduos sólidos em lisímetros, e por LECKIE et al. (1979)

em aterros controlados pelo teor de umidade, não apresentaram deficiências

quanto ao conteúdo de nutrientes. Segundo CHRISTENSEN e KJELDSEN

(1991) em um aterro sanitário os resíduos bem homogeneizados não

apresentam limitações de nitrogênio e fósforo.

Em relação à toxicidade em processos anaeróbios, podem estar

presentes nos resíduos sólidos agentes tóxicos como: cátions alcalinos terrosos,

amônia, sulfetos, metais pesados, detergentes, antibióticos e produtos químicos

(GUNNERSON et al., 1986). A inexistência de coletas diferenciadas ou

especiais para resíduos de serviço de saúde e industriais, respectivamente é

responsável pela presença destes compostos.

Uma característica a ser observada é a dimensão das partículas que

compõem os resíduos sólidos, uma vez que a sua redução pode levar a um

incremento na hidrólise de polímeros, já que uma maior área superficial estará

disponível ao ataque enzimático. DEWALLE e CHIAN (1978) mostraram que se

reduzindo o tamanho da partícula de 250 mm a 25 mm, nas mesmas condições

operacionais, a taxa de produção de gás foi aumentada em um fator de 4,4,

sendo o gás dióxido de carbono, o único gás produzido, provavelmente devido à

atividade bacteriana acidogênica.

1.2.Condições ambientais físico-químicas da digestão anaeróbia dos

resíduos sólidos urbanos.

O processo de estabilização dos resíduos sólidos urbanos em aterro

sanitário ocorre através da seqüência de eventos previsíveis, cuja magnitude e

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Page 7: GestÃo de Residuos sÓlidos

duração variam de acordo com as condições ambientais externas e internas ao

ambiente do aterro, de acordo com POHLAND et al. (1985a).

POHLAND et al. apud POHLAND E HARPER (1985b), descreveram as

fases de estabilização dos resíduos sólidos urbanos em aterro sanitário com

apresentado a seguir:

Fase I- Ajustamento inicial-Nesta fase ocorre a disposição dos resíduos e

o aumento da umidade, observando-se o início do processo de estabilização

pela modificação das condições ambientais;

Fase II - Transição - Com o aumento da umidade a capacidade de campo

é excedida, e o percolado passa a ser liberado da massa de resíduos. Ocorre

transição das condições aeróbias para anaeróbias sendo o oxigênio substituído

por aceptores de elétrons como o nitrato e o sulfato tornando-se o meio mais

redutor. Os ácidos graxos voláteis começam a ser detectados no percolado;

Fase III - Formação de ácidos - Os ácidos graxos orgânicos voláteis

tornam-se predominantes, e há continuidade da hidrólise e fermentação dos

resíduos bem como do percolado. Ocorre a diminuição brusca do pH, com a

concomitante mobilização e complexação de metais. Os nutrientes, tais como,

nitrogênio e fósforo, são liberados e utilizados para o crescimento da biomassa.

O gás hidrogênio é detectado no gás influenciando a formação de produtos

intermediários.

Fase IV - Fermentação metânica - Os produtos intermediários que

aparecem na fase anterior são convertidos a metano e dióxido de carbono. O

pH é controlado pelo sistema de tamponamento a bicarbonato e o potencial

redox é extremamente baixo. Os nutrientes continuam a ser consumidos. A

complexação e precipitação das espécies metálicas continuam. A carga orgânica

do percolado é drasticamente diminuída com o correspondente incremento da

produção de gás.

Fase V - Maturação Final - Há a diminuição da atividade biológica,

nutrientes e a produção de gás cessa. O oxigênio e substâncias químicas

oxidadas começam vagarosamente a reaparecer possibilitando que matéria

orgânica refratária possa ser convertida, possivelmente, a substâncias húmicas,

capazes de complexação e remobilização de metais pesados.

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Entre os parâmetros ambientais do processo, a umidade é provavelmente

o mais importante, por fornecer o meio aquoso essencial para a digestão dos

resíduos, como também por transportar nutrientes e microrganismos pelo interior

do aterro. (EMCOM associates, 1981).

FARQHUAR, ROVERS; e MARRIOT apud SENIOR E BALBA (1987)

encontraram como umidade ótima em suas pesquisas, valores na faixa de 60 a

80 % e 55% a 60 %, respectivamente, enquanto DE WALLE et al. (1978)

verificaram uma ótima produção de gás com altos teores de umidade, em torno

de 99 % em peso seco.

MCBEAM e FARQUHAR (1980) observaram, investigando a influência da

umidade e temperatura em aterro sanitário, que o aumento da umidade estimulou

a produção de gás até um certo nível de saturação, mas uma infiltração

excessiva retardou a produção de gás. Uma possível explicação, baseada em

comentário feito por CHIAN (1977), seja que um alto grau de umidade nos

resíduos sólidos favoreceria a fermentação ácida da matéria orgânica,

conseqüentemente, liberaria grandes quantidades de ácidos graxos voláteis, o

que poderia gerar inibição da etapa metanogênica.

KASALI et al. (1990a) verificaram a influência do aumento do teor de

água nas etapas de degradação anaeróbia de amostras de resíduos sólidos

urbanos, com um mês de aterramento. As amostras foram coletadas a 2,0

metros de profundidade em um aterro sanitário. O experimento foi conduzido em

reatores em triplicata utilizando-se reatores de volume igual a 150 mL, contendo

30 g da fração orgânica homogeneizada dos resíduos, Os reatores foram

incubados a temperatura ambiente (temperatura média indicada de 24,3 oC) e

com diferentes teores de umidade de 60, 65, 70, 75 e 80 % em peso, ajustados

com água destilada, e a pH=7,7. A umidade do reator controle foi de 55 %. Estes

reatores foram desmantelados para amostragem de ácidos voláteis, pH e

metano. O experimento também utilizou colunas de vidro (940 mL) com 380 g de

amostra nos mesmos teores já mencionados, tendo sido utilizados para o

monitoramento da produção de gás. Os resultados obtidos, em relação ao

conteúdo de umidade e a produção de metano indicaram que o volume total de

metano foi maior para os substratos com maiores teores de umidade, com

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Page 9: GestÃo de Residuos sÓlidos

exceção do reator com 80 % de umidade, cuja produção de gás metano foi

sensivelmente menor.

SUFLITA et al. (1992) realizaram uma pesquisa envolvendo a análise dos

aspectos microbiológicos, químicos e “arqueológicos” (denominação usada

pelos autores para referir-se a caracterização e datação dos componentes dos

resíduos) com amostras coletadas a diferentes profundidades no aterro de Fresh

Kills, implantado em 1948 e com término de operação previsto para meados do

ano 2000, localizado em “Standen Island” NY-EUA. Estes pesquisadores

verificaram que a produção de gás metano era mais acentuada com maiores

conteúdos de umidade, que variaram entre 10 a 75% em peso nas amostras

coletadas a diferentes profundidades.

Outro fator que influencia a digestão anaeróbia dos resíduos sólidos é a

temperatura. De acordo com GUNNERSON e STUCKEY (1986), o aumento da

temperatura causa um aumento na velocidade das reações químicas, desde que

não provoque a degradação das enzimas liberadas pelos microrganismos.

PFEFFER (1974) investigou o efeito da temperatura na faixa de 30 a 60

C, em reatores de mistura completa utilizando como substrato resíduos sólidos

orgânicos. Os resultados indicaram duas temperaturas ótimas para a digestão:

uma a 42 oC na condição mesofilica, e outra a 60oC na condição termofílica.

Sob condições termofílicas, o reator apresentou o maior rendimento.

Em simulações do processo de degradação em aterro, de acordo com

BUIVID, EHRIG; e SCHARF apud CHRISTENSEN e KJELDSEN, (1991) a taxa

de produção de metano aumentou significativamente com o aumento de

temperatura de 20 a 30 e 40 oC.

CHRISTENSEN e KJELDSEN (1991) afirmaram que apenas os

organismos mesofílicos são relevantes para a decomposição anaeróbia em

aterros sanitários. Possivelmente, esta afirmação possa ser justificada pelo fato

da maioria dos aterros sanitários em climas temperados não apresentarem

temperaturas acima de 30oC, segundo SUMNER apud REES, (1980b). No

entanto, não se encontraram dados de literatura quanto a influência da

temperatura ambiente em aterros sanitários em climas tropicais ou semi-áridos,

como os encontrados no norte e nordeste do Brasil.

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Page 10: GestÃo de Residuos sÓlidos

Resultados obtidos por SUFLITA et al. (1992) indicaram que 46 amostras

de resíduos coletadas no aterro de Fresh Kills (mencionado anteriormente) a

temperatura média de 29,4 oC com teor médio de umidade de 36 %. LEITE

(1991) determinou com o uso de termopares temperaturas internas na faixa de

26 a 31 oC para resíduos com umidade média de 47%, na fase metanogênica,

em dois aterros sanitários experimentais. Estes aterros foram implantados na

cidade de São Carlos, estado de São Paulo, cujo clima é ameno, com

temperaturas médias diárias em torno de 25 oC.

Afim de avaliar a influência da temperatura nas etapas fermentativa e

metanogênica, KASALI et al. (1989b), utilizaram como substrato amostras de

resíduos sólidos com um mês de degradação, coletadas a 2,0 metros de

profundidade em aterro sanitário. Alíquotas de 400 g da fração orgânica dos

resíduos foram homogeneizadas e incubadas em diferentes temperaturas, com

uma umidade de 60 %, e uma porcentagem de sólidos voláteis de 58,4 %. As

temperaturas examinadas foram: a temperatura ambiente (temperatura média de

18,7 oC) e a temperaturas de 30, 40 e 55 oC. Nas temperaturas ambiente e a

30 oC, observou-se a ocorrência de uma fase "lag” de produção de gás 30 e 19

dias, respectivamente. Os reatores a 55oC não apresentaram a fase “lag”,

porém a geração de gás cessou após 53 dias de incubação. Constatou-se então,

que apenas o pH da amostra havia diminuído para pH=5,7. Afim de avaliar se a

temperatura havia exercido um efeito bactericida ou bacteriostático, os autores

(KASALI et al., 1989b) reincubaram, por 45 dias, a amostra a 55oC com o pH

corrigido com uma solução bicarbonato de sódio (10 % peso/volume). Nesse

período não se observou produção de gás. Posteriormente, reduziu-se a

temperatura para 40oC, e novamente não ocorreu a produção de gás.

Com base nestes resultados, os autores (KASALI et al., 1989b)

supuseram que o efeito da temperatura 55oC foi bactericida, e que devido à

baixa concentração de metano no biogás gerado no início do experimento, a

população bacteriana termofílica era possivelmente pequena. As taxas de gás

obtidas neste estudo para as temperaturas: ambiente, 30 oC e 40oC foram,

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Page 11: GestÃo de Residuos sÓlidos

respectivamente, de 402, 987 e 3020 cm 3 de biogás. (Kg resíduo seco)-1.dia-1

correspondendo a 171, 502 e 1210 cm 3 de metano. (Kg resíduo seco)-1.dia1.

O pH é um parâmetro ambiental crítico que afeta o balanço entre as várias

populações de microrganismos, como também o nível de atividade microbiana

(EMCOM Ass., 1981).

SUFLITA et al. (1992) verificaram que o pH das amostras, coletadas em

perfis de sondagem no aterro sanitário de Fresh Kills, variou entre 5,8 a 8,1, não

existindo uma relação marcante com a taxa de produção do gás metano.

DEVLIN (1990) realizou uma série de análises de alcalinidade e ácidos

voláteis em amostras de percolado concluindo que os sais de ácidos graxos de

cadeia curta, particularmente os acetatos, podem contribuir substancialmente

para a alcalinidade total das amostras de percolado. Portanto, nas análises para

se determinar a alcalinidade deve-se considerar a contribuição de substâncias

outras além do carbonato, afim de se verificar a probabilidade de geração de

metano.

As conclusões de DEVLIN (1990) parecem ser plausíveis uma vez que

a alcalinidade total é composta pelas parcelas da alcalinidade a bicarbonato e a

acetato. Quando os ácidos voláteis acumulam-se no meio são neutralizados pelo

sistema tampão dióxido de carbono-bicarbonato, dando lugar a alcalinidade a

ácidos voláteis ou a acetato, uma vez que este é o principal ácido encontrado.

O pH do meio controlado pela alcalinidade a acetato situa-se na faixa de 3,75

a 5,75, e, portanto, a capacidade tampão do acetato - ácido acético, não favorece

a digestão anaeróbia. Somente a capacidade tampão da alcalinidade a

bicarbonato é desejável, pois se situa na faixa de pH 6,0 a 8,0, favorável ao

processo anaeróbio.

NYNS e PAUSS apud SENIOR E BALBA (1987), usando reatores de

mistura completa concluíram que resíduos com baixa alcalinidade podem

resultar no acúmulo de ácidos voláteis, e, portanto, na redução da produção de

metano. EHRIG (1983) apud SENIOR E BALBA (1987) demonstrou através de

medidas em aterros sanitários, que uma relação de ácido acético e alcalinidade

menor que 0,8 era necessária para o início da metanogênese.

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Page 12: GestÃo de Residuos sÓlidos

Contrariamente a estes resultados, CHRISTENSEN E KJELDSEN (1991)

afirmaram que, no ambiente do aterro sanitário as concentrações de ácidos

voláteis raramente alcançariam níveis tais capazes de produzir efeitos inibitórios

sobre a produção de metano.

No entanto, KUGELMAN e CHIN apud CHRISTENSEN e KJELDSEN

(1991) observaram o efeito inibitório à atividade bacteriana causado pelas

concentrações de ácido acético, propiônico e butírico em concentrações acima

de 6000 mg/L. Além disso, vários trabalhos (BARLAZ et al. (1989a) e

BALDOCHI (1990)) indicaram o acúmulo de ácidos voláteis como característico

da degradação anaeróbia de resíduos jovens (com pouco tempo de aterramento)

em aterros sanitários, supondo-se que este acúmulo retarde a metanogênese.

BRUMMELER et al. (1989) ao avaliarem a quantidade necessária de

agentes de tamponamento para a partida de reatores de digestão anaeróbia com

alta concentração de sólidos totais, inoculados com lodo de reator de manta de

lodo, concluíram que a adição de 0,06 Kg de NaHCO3/ Kg de sólidos totais

controlava o pH e estimulava a produção de metano, enquanto o Ca(OH)2

exerceu pequeno efeito sobre o pH. O CaCO3 não controlou o pH e inibiu a

metanogênese.

De acordo com BARLAZ et al. (1989c), a inibição pela presença de

cátions pela adição de soluções de tamponamento não foi estudada para o

ecossistema dos resíduos sólidos. No entanto, conforme KUGELMAN et al. apud

BARLAZ et al. (1989c), que estudaram a toxicidade do cátion Na em digestores

anaeróbios, concentrações variando entre 6900 mg/L a 8000 mg/L não foram

consideradas inibitórias desde que o acúmulo de sódio fosse lento e outros

cátions estivessem presentes.

HANSON e MOLIN apud CHRISTENSEN e KJELDSEN (1991) obtiveram

uma diminuição das taxas de degradação do acetato frente ao aumento da

pressão parcial de 0,2 a 1,0 atm de CO2. Com base nestes resultados

CHRISTENSEN e KJELDSEN (1991) sugerem que a pressão parcial típica de

CO2 em aterros de 0,5 atm pode ser desfavorável à geração de metano a partir

do acetato.

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Page 13: GestÃo de Residuos sÓlidos

SCHALCH (1992) realizou estudos comparativos e de evolução temporal

entre dados de pH, Eh, alcalinidade total, dureza total, nitrogênio total, fósforo

total, condutividade, demanda química de oxigênio, demanda biológica de

oxigênio, sólidos totais, suspensos e dissolvidos, metais pesados e ácidos

voláteis, com a finalidade de verificar a possibilidade de reprodutibilidade das

tendências comportamentais da decomposição anaeróbia dos resíduos sólidos

urbanos, da cidade de São Carlos, em dois aterros sanitários experimentais. As

análises estatísticas realizadas permitiram concluir que há reprodutibilidade entre

o comportamento dos dois aterros sanitários, sendo que os parâmetros que não

foram reprodutíveis não afetaram o sistema como um todo.

Através da manipulação do substrato ou das condições ambientais pode-

se obter um desenvolvimento equilibrado do processo de degradação dos

resíduos sólidos em aterros sanitários.

Uma das formas mais promissoras de manipulação das condições

ambientais é a recirculação do percolado produzido, que pode estimular o

processo, segundo LIMA (1989).

LEE et al. (1986) comentaram que várias pesquisas obtiveram uma

redução do tempo de estabilização dos resíduos sólidos em aterro sanitário com

recirculação do percolado in natura.

POHLAND et al. (1994) afirmaram que a operação de um aterro sanitário

com recirculação do percolado “in natura” possibilita o estabelecimento das

relações simbióticas bacterianas durante as fases ácida e metanogênica,

permitindo o contato mais eficiente e uniforme entre os microrganismos e os

substratos orgânicos, tornando o processo de estabilização em aterro sanitário

mais previsível.

No entanto, LIMA apud TEIXEIRA (1993) observou que a recirculação

direta do percolado “in natura” causou a inibição do processo de degradação,

em particular da metanogênese, gerando um excesso de ácidos voláteis.

TEIXEIRA (1993) avaliou a degradação anaeróbia dos resíduos sólidos

urbanos, não triturados e triturados, em seis lisímetros isolados termicamente de

volume igual a 200 L, inoculados inicialmente com chorume tratado

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Page 14: GestÃo de Residuos sÓlidos

anaerobiamente e esterco bovino, nos quais realizaram-se recirculações de

percolado “in natura”, não tendo sido observada a aceleração do processo.

LIMA (1989) conduziu em escala de laboratório, um experimento

comparando seis tipos de inóculos (lodo de esgoto em digestão, percolado

tratado em reator anaeróbio, percolado "in natura" com alta e baixa DQO, esterco

de gado “in natura" e em digestão) e observou após 360 dias, que a recirculação

de chorume tratado em reator anaeróbio acelerava mais eficientemente a

degradação dos resíduos sólidos urbanos.

BARLAZ et al. (1987) estudando em reatores (em triplicata) de 208 L a

fração orgânica triturada observaram que a recirculação do percolado in natura

não estimulou a metanogênese, que ocorreu após a neutralização com carbonato

de sódio em dois reatores. Os autores não puderam explicar conclusivamente o

motivo da ausência de metano para uma das triplicatas já que a concentração

de 3,16 g de Na/L adicionada ao reator não foi considerada inibitória.

Em outra pesquisa, BARLAZ et al. (1989c) conduziram um experimento

em reatores de 2 L contendo resíduos orgânicos triturados com e sem

recirculação do percolado neutralizado, e incubados a 41oC. O percolado foi

recirculado diariamente (6 dias por semana). Inicialmente utilizou-se uma

solução de bicarbonato de sódio 100 g/L para a neutralização e após sete

semanas, uma solução de carbonato de potássio 176g/L. A maior parte dos

reatores operados nestas condições apresentaram aceleração do processo

embora alguns poucos tenham apresentado inibição do processo cuja causa

potencial não foi determinada. Os autores supuseram que o baixo teor de

fosfatos ou a presença de algum composto solúvel não identificado possam ter

contribuído para a inibição.

BARLAZ et al (1990) concluíram, a partir dos experimentos mencionados

anteriormente, que a recirculação do percolado sem neutralização estimulou o

acúmulo de ácidos carboxílicos, enquanto a neutralização do percolado

favoreceu a produção de metano.

1.3.Aspectos microbiológicos e bioquímicos.

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Page 15: GestÃo de Residuos sÓlidos

As populações bacterianas, através de seu metabolismo para obtenção

de energia a partir de um substrato orgânico e de uma fonte de carbono para

biossíntese, influenciam as características físico químicas das fases do processo

de degradação anaeróbia da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos

descritas no item 1.2.

A digestão anaeróbia é um processo em que várias populações

bacterianas interagem através de associações sintróficas, resultando na

produção de metano e dióxido de carbono a partir da degradação de materiais

poliméricos complexos.

NOVAES (1986) descreveu a digestão anaeróbia em quatro estágios

indicando as populações bacterianas envolvidas, conforme representado na

Figura 1 Inicialmente, os compostos orgânicos complexos, tais como proteínas,

carboidratos e lipídeos, são hidrolisados por enzimas liberadas por bactérias

fermentativas, resultando em compostos orgânicos mais simples: açúcares,

aminoácidos, e peptídeos. No segundo estágio, denominado de acidogênese,

ocorre a conversão dos compostos mais simples em ácidos graxos de cadeia

longa, tais como o ácido propiônico e butírico, como também a formação de

hidrogênio, dióxido de carbono e acetato. No terceiro estágio, a acetogênese

ocorre a transformação dos ácidos orgânicos produzidos na fase anterior a

acetato, hidrogênio, e dióxido de carbono pela atividade das bactérias

acetogênicas, havendo também a utilização do hidrogênio e do dióxido de

carbono para a formação de acetato pelas bactérias homoacetogênicas. O

último estágio envolve as bactérias metanogênicas acetoclásticas que

transformam acetato a metano e as bactérias metanogênicas utilizadoras de

hidrogênio, que convertem hidrogênio e dióxido de carbono a metano.

13

Page 16: GestÃo de Residuos sÓlidos

Figura 1 Etapas metabólicas e grupos microbiológicos envolvidos na

digestão anaeróbia. (NOVAES, 1986).

SENIOR E BALBA (1987), em sua revisão da literatura abrangendo o

período de 1934 a 1984 sobre a biotecnologia do aterro sanitário, abordaram,

entre outros temas, a biodegradação dos resíduos sólidos via catabolismo

aeróbio e anaeróbio.

Conforme SENIOR E BALBA (1987), durante o metabolismo aeróbio

forma-se água, dióxido de carbono, além de produtos provenientes da hidrólise

enzimática da matéria orgânica complexa, sendo o acetato, o propionato e o

dióxido de carbono os produtos terminais mais importantes, desde que são os

principais intermediários no subseqüente metabolismo anaeróbio. Com a

depleção do oxigênio no interior da massa de resíduos, reações químicas de

redução do nitrato, sulfato e a metanogênese tornam-se favoráveis, sendo

catalisadas por grupos fisiológicos anaeróbios diferentes.

HUGHES apud SENIOR E BALBA (1987) afirmaram que, inicialmente, o

metabolismo dos resíduos é dominado pelo processo aeróbio, envolvendo uma

14

Page 17: GestÃo de Residuos sÓlidos

grande variedade de organismos incluindo invertebrados (nematóides,

protozoários, etc), fungos, bactérias e actinomicetos.

Após o estabelecimento das condições anaeróbias em um aterro

sanitário, segundo REES (1980a), a celulose é hidrolisada a celobiose e glicose

por um complexo enzimático denominado celulase. Esses açúcares são

fermentados a dióxido de carbono, hidrogênio, etanol, acetato, propionato,

butirato, valerato e caproato. Formiato, lactato e succinato não são observados

no percolado de aterros sanitários. Os aminoácidos, provavelmente, são a única

fonte de isobutirato e isovalerato, os quais são encontrados em baixas

concentrações no percolado. Os lipídeos são hidrolisados a glicerídeos que por

sua vez, são fermentados a ácidos graxos de cadeia longa, os quais são

catalisados a acetato e hidrogênio ou a acetato, propionato e hidrogênio,

respectivamente, dependendo do número par ou ímpar de carbonos presentes

na cadeia. Os ácidos voláteis de cadeia maior do que a do acético, como

também, os compostos neutros maiores que o metanol, são metabolizados a

hidrogênio e acetato.

Poucos são os substratos metabolizados pelas bactérias metanogênicas,

além do acetato, hidrogênio e dióxido de carbono, tais como: formiato, metanol,

monóxido de carbono e metilaminas secundárias, terciárias ou quaternárias

(GLAUSER et al. 1987).

Considerando-se que o principal componente da fração orgânica dos

resíduos sólidos são os carboidratos, estes serão enfocados quanto à sua

biodegradação.

De acordo com vários pesquisadores (MCINNERNEY e BRYANT;

THAUER apud MARTY, 1986; GLAUSER et al., 1987) a acidogênese é

fortemente influenciada pela pressão parcial de hidrogênio no meio. A baixa

pressão parcial de hidrogênio (menor que 10-4 atm), o metabolismo das bactérias

é direcionado para a formação de H2, CO2 e acetato, uma vez que a oxidação

da molécula transportadora de elétrons a nicotinamida adenina dinucleotídeo

(NADH+ em NAD+e H2)torna-se favorável. No entanto, se a pressão parcial de

hidrogênio torna-se alta, a reação de oxidação do NADH+ torna-se desfavorável

15

Page 18: GestÃo de Residuos sÓlidos

(energia livre positiva), e segundo McINNERNEY e BRYANT (1978) o piruvato é

utilizado para reoxidação do NADH+ com a conseqüente formação de produtos

reduzidos como propionato, butirato, e outros. A Figura 2 apresenta um

esquema das vias de fermentação a partir do piruvato adaptado dos esquemas

indicados por McINNERNEY e BRYANT (1981) e LYNCH apud MARTY (1984)

no qual observa-se a presença constante do hidrogênio nos caminhos de

fermentação a produtos intermediários extracelulares, como o succinato e

lactato, e aos demais produtos finais. A partir de carboidratos, pela via Embden-

Meyerhof-Parnas, obtém-se o piruvato.

piruvatopiruvatolactato

Acetaldeído

Etanol

Acetil-CoA+Fórmico

2H

2H

Acrilato

propionato

2H

Oxaloacetato

Succinato

4H

H2 CO2

etanol

acetato

acetocetil CoA

acetona

iso propanol

butiril CoA

butanolbutirato

4H

4H

4H

2H

PH2 baixa

PH2 alta

Figura.2 - Esquema das vias bioquímicas a partir do piruvato. Fonte:

Modificado de McINERNEY et al.(1981) e LYNCH et al.apud MARTY (1984).

16

Page 19: GestÃo de Residuos sÓlidos

As fermentações de alguns substratos da fase acidogênica, apresentados

na Figura 3. serão abordadas simplificadamente, com base na revisão realizada

por GOTTSHALCK (1988).

A fermentação láctica dos carboidratos pode ocorrer por três vias

metabólicas que se diferenciam pelos produtos obtidos e pelo rendimento

energético em ATP.

As vias de fermentação láctica são:

Via homofermentativa que produz 1 mol de lactato para cada mol de

glicose fermentada, com um rendimento de 2 ATP.

Via heterofermentativa, que produz 1 mol de lactato, etanol e dióxido de

carbono por mol de glicose, com rendimento de 1 ATP.

Via “Bifidum” que produz acetato e lactato na proporção de 3 para 2 para

cada mol de glicose fermentada, com o rendimento de 2,5 moles de ATP.

Existem algumas bactérias que produzem etanol a partir da glicose,

produzindo cerca de 2 moles de etanol e dióxido de carbono para cada mol de

glicose fermentada. Estas bactérias possuem a enzima piruvato-descarboxilase,

cuja presença nas células bacterianas é rara. No entanto, como mencionado,

outras bactérias como as produtoras de ácido láctico ou clostrídios, podem

produzir consideráveis quantidades de etanol durante a fermentação da glicose

empregando a síntese a partir do acetaldeído ou do acetil-CoA (Figura 3.3.2).

A fermentação butírica ocorre através da fosforilação em nível de

substrato. Cada mol de glicose produz 1 mol de butirato, gerando 3 ATPs.

Um certo número de bactérias do gênero Clostridium sp, produtoras de

butirato, pode produzir pequenas quantidades de butanol. Apenas poucas

espécies, no entanto, desviam a produção de butirato para a produção de

solventes (butanol e acetona ou iso-propanol) tais como a C. acetobutylicum. O

gênero de C. acetobutylicum produz acetona e butanol a partir da glicose na

proporção de 2:1, desde que o pH da cultura seja menor ou igual a 5.

A produção do propionato é realizada por uma grande variedade de

bactérias anaeróbias. Estas bactérias podem fermentar glicose ou lactato, sendo

estes os substratos preferenciais destas espécies bacterianas.

As vias metabólicas da produção do propionato são:

17

Page 20: GestÃo de Residuos sÓlidos

Via do acrilato, na qual 3,0 moles de lactato produzem 2 moles de

propionato, 1 mol de acetato e 1 mol de dióxido de carbono, com rendimento de

1 ATP.

Via do succinato, que é empregada pela maioria dos organismos

produtores de propionato. Nesta via, o succinato é um produto intermediário,

mas pode também ser um produto final, porém em baixa concentração. Por esta

via, 1 mol de lactato produz 1 mol de propionato, com um rendimento

energético de 1 ATP.

A produção de acetato é realizada por bactérias homoacetogênicas,

bactérias redutoras de prótons obrigatórias e bactéria redutoras de prótons

facultativas, que constituem o grupo de bactérias acetogênicas.

De acordo com MARTY (1984), as bactérias redutoras de prótons

facultativas são bactérias fermentativas, cujo metabolismo produz álcoois, ácidos

voláteis, acetato e hidrogênio quando em culturas puras. No entanto, quando em

culturas mistas com bactérias metanogênicas, que retiram o hidrogênio do meio,

o seu metabolismo é direcionado para a produção de acetato e hidrogênio. As

bactérias redutoras obrigatórias de prótons dependem das relações sintróficas

com outras espécies utilizadoras de hidrogênio para que possam catabolizar o

substrato disponível da etapa acidogênica, cujas reações químicas são

termodinamicamente desfavoráveis, sendo possíveis quando em co-cultura como

se pode observar pelo exemplo clássico apresentado por ZINDER (1991), com

relação à fermentação do etanol a acetato.

Organismos Reação Go’

(Kj/reação)

Organismo S” 2CH3CH2OH + 2H2O2CH3COO-+2H++4H2

+19,3 (1)

Metanogênica 4H2 +HCO3- + H+CH4 +3H2O - 135,6 (2)

Soma 2CH3CH2OH+ HCO3- 2CH3COO-+ H++CH4+ H2O -116,3 (3)

As homoacetogênicas que podem utilizar, segundo ZEHNDER (1982) e

GOTTSHALCK (1988), substratos como hexoses, produzem 3 moles de acetato

através da via Enbden-Meyerhof-Parnas ou pela redução do CO2. Outros

18

Page 21: GestÃo de Residuos sÓlidos

substratos são o hidrogênio, o dióxido de carbono e o metanol como indicam as

seguintes reações:

Substrato Reação Go’

(Kj/reação)

Dióxido de carbono e

hidrogênio

4 H2 +2 CO2 CH3COOH + 2H20 -107,1(4)

Metanol 4CH3OH + 2 CO2 3CH3COOH + 2 H20 -706,3 (5)

As bactérias metanogênicas são capazes de utilizar apenas certos

substratos (NOVAES, 1986), como citado anteriormente, sendo as reações

químicas termodinamicamente favoráveis, como pode ser visto pelas reações

descritas por McINNERNEY e BRYANT apud THAUER et al. (1978).

Substratos Reação química Go’ (Kj/reação)

Hidrogênio e

bicarbonato

4H2 + HCO3- + H+ CH4 + 3 H2O -135,6 (6)

Fórmico HCOO- + H2O + H+ CH4 + 3 HCO3- -130,6 (7)

Acético CH3COO- + H2O CH4 + HCO3- -31,0 (8)

Metanol CH3OH 3CH4 + HCO3- + H2O + H+ -314,7 (9)

MARTY (1984) apresentou uma relação de gêneros metanogênicos com

suas respectivas morfologias e substratos utilizados, como pode ser visto na

Tabela 1..

Tabela 1- Gêneros metanogênicos isolados em culturas puras

19

Page 22: GestÃo de Residuos sÓlidos

Espécies Morfologia Substrato

Methanobacterium sp Bacilos, livres ou

formadores de

filamentos.

H2, formiato.

Methanobrevibacter sp Bacilos curtos H2, formiato.

Methanomicrobium sp Bacilos móveis. H2, formiato.

Methanococcus sp Pequenos cocos. H2, formiato, metanol,

acetato, metilaminas.

Methanospirillum sp Bacilos curvos. H2, formiato.

Methanosarcina sp Sarcinas. H2, acetato, metanol,

metilaminas.

Methanothrix sp Bacilos formadores de

filamentos longos.

Acetato.

Fonte: modificada de MARTY (1984)

As características microbiológicas e químicas da decomposição dos

resíduos sólidos foram determinadas por BARLAZ et al (1989a), que utilizaram

reatores de 2 L preenchidos com resíduo triturado e mantidos a temperatura de

41oC. Os autores buscaram simular um aterro sanitário. Para diminuir o tempo de

degradação, recirculou-se o percolado produzido, após neutralização, até que

fosse detectado metano no biogás ou que o pH atingisse valores próximos a

7,0. A umidade inicial foi de 73 %.

No experimento de BARLAZ et al (1989a) foram observadas quatro fases

no processo, a fase aeróbia (i), e fases anaeróbias ácida (ii), metânica acelerada

(iii) e metânica desacelerada (iv). Na fase aeróbia, os açúcares presentes nos

resíduos frescos foram oxidados a CO2 e H2O. A fase anaeróbia ácida é

caracterizada pelo acúmulo de ácidos carboxílicos e diminuição do pH de 7,5

para valores entre 5,7 e 6,2. Os autores atribuíram o acúmulo de ácidos

carboxílicos à oxidação de apenas uma fração dos açúcares presentes nos

resíduos durante a fase aeróbia, à baixa atividade das bactérias anaeróbias

20

Page 23: GestÃo de Residuos sÓlidos

acetogênicas e metanogênicas e à dissolução do dióxido de carbono. A hidrólise

durante a fase ácida e a fase metânica acelerada foi pequena, possivelmente

devido à inibição pelo produto ocasionada pelo acúmulo de ácidos carboxílicos.

Conforme ZOETEMEYER et al.(1982), os ácidos voláteis podem inibir ou

estimular o crescimento bacteriano dependendo da concentração. Presume-se

que os ácidos voláteis na sua forma não dissociada permeiam facilmente a

membrana celular. Dependendo do pH intracelular, dissociam-se, diminuindo o

pH interno, criando condições fisiologicamente desfavoráveis, que ativam o

mecanismo de troca de prótons, possivelmente contra íons potássio, consumindo

energia destinada à síntese da biomassa.

No experimento realizado por BARLAZ et al (1989a) foi observado que

durante a fase metânica acelerada ocorreu aumento do pH para valores entre

6,2 a 7,9, com o concomitante decréscimo de ácidos carboxílicos. A produção de

gás metano alcançou níveis de concentração de 60 % no biogás. Na fase

metânica desacelerada, a concentração de metano, o valor de pH e as

concentrações das populações celulolíticas e metanogênicas permaneceram a

níveis similares a da fase (iii). Simultaneamente, a taxa de produção de metano

diminuiu, a concentração de ácidos carboxílicos ficou abaixo do limite de

detecção, as populações de bactérias acetogênicas aumentaram, e ocorreu um

aumento na taxa de hidrólise da celulose e hemicelulose. Com base nestes

resultados, os autores, concluíram que nas fases (ii) e (iii), a utilização dos

ácidos voláteis limitou a metanogênese, enquanto na fase (iv) foi a hidrólise dos

polímeros o fator limitante.

Ainda, nesta pesquisa, observou-se as variações dos grupos chaves

bacterianos ao longo do tempo. Para tanto se preparou um extrato com uma

fração da amostra sólida retirada dos reatores, segundo procedimento elaborado

por BARLAZ et al. (1989b). A evolução dos grupos metabólicos de bactérias

hemicelulolíticas, celulolíticas, acetogênicas produtoras de hidrogênio e

metanogênicas utilizadoras de hidrogênio e dióxido de carbono foi avaliada

empregando-se a enumeração pela técnica do Número Mais Provável com

meios contendo celulose, xilana, butirato, acetato, e hidrogênio mais dióxido de

carbono, respectivamente. Observou-se um incremento de 2, 4, 5, 5 e 6 vezes de

21

Page 24: GestÃo de Residuos sÓlidos

ordem de magnitude entre o resíduo fresco e a fase de produção metânica,

respectivamente, para bactérias hemicelulolíticas, celulolíticas, acetogênicas

catabolizadoras de butirato e as metanogênicas utilizadoras de acetato e de

hidrogênio e dióxido de carbono. A ordem de grandeza das populações

celulolíticas acetogênicas e metanogênicas no início do experimento foi de

aproximadamente 10 2 células /g resíduo seco. Ao final do experimento, as

populações bacterianas alcançaram valores de aproximadamente 10 8 células /g

resíduo seco para as metanogênicas, 10 7 células /g resíduo seco para as

acetogênicas e 10 5 células /g resíduo seco para as celulolíticas.

Durante a realização desse estudo, BARLAZ et al. (1989c) observaram

que, dos vinte reatores controle, com umidade de 45%, três reatores

apresentaram concentrações traços de metano no biogás, enquanto os demais

apresentaram concentrações de metano com valores máximos de 1,2 %. Os

reatores controles não apresentaram produção de percolado. Os reatores com

recirculação do percolado produzido neutralizado apresentaram os seguintes

comportamentos: doze reatores apresentaram uma evolução satisfatória da

produção de metano, após a fase anaeróbia ácida; vinte reatores apresentaram

inibição, definida pelos autores, como sendo a estagnação por três semanas

consecutivas da produção de metano. Destes vinte reatores, onze não

produziram quantidade de metano mensurável e nove apresentaram sinais de

recuperação após a inibição.

BARLAZ et al. (1989c) coletaram amostras nos reatores controles com

concentração traço de metano no início (14o dia), no meio do experimento (77o

dia) e ao final do experimento (118o dia). Até o 14o dia, ocorreu o

desenvolvimento das fases aeróbia e anaeróbia ácida, caracterizada pela queda

do pH e pela acumulação de ácidos voláteis, principalmente acético e butírico e

em menores quantidades, láctico, propiônico, isobutírico e valérico. Não se

obteve durante o experimento produção de metano embora tenha sido relatado

o aumento da população metanogênica, mesmo em condições ácidas (pH menor

que 6,3). Nestes reatores, foi verificada a presença simultânea de nitrato e ácidos

carboxílicos, o que sugeriu a existência de decomposição não uniforme dos

resíduos, uma vez que a utilização do nitrato como aceptor terminal de elétrons é

22

Page 25: GestÃo de Residuos sÓlidos

mais favorável energeticamente do que a fermentação do açúcar a ácidos

carboxílicos. Com base nos resultados obtidos, os autores supuseram que,

possivelmente, o baixo pH ou a presença de algum composto tóxico tenha sido a

causa da inibição.

Neste experimento, os reatores com recirculação foram classificados por

BARLAZ et al (1989c) como inibidos, não apresentaram características

químicas ou microbiológicas que explicassem a inibição. Os autores relataram

que ocorreu acúmulo de acetato, não existindo produção de metano em

quantidade mensurável e, mesmo assim, a população metanogênica aumentou

da ordem de 3 a 4 vezes de magnitude com relação à população presente no

resíduo fresco. Assim, acreditam que a atividade metanogênica assimilatória

pode ocorrer na ausência de atividade desassimilatória. A causa potencial para a

inibição não foi encontrada pelos pesquisadores.

BARLAZ et al. (1989d) também determinaram o balanço de massa dos

principais constituintes degradáveis do resíduo nos reatores com recirculação

de percolado neutralizado. Para tanto estimaram o potencial metanogênico da

decomposição anaeróbia das principais frações constituintes através da

estequiometria das reações químicas de conversão a metano, no momento em

que o resíduo fresco foi incubado e ao longo do experimento, após a

determinação das frações constituintes (celulose, hemicelulose, ácidos e

açúcares). Os valores obtidos através deste balanço estiveram, conforme os

autores, sujeitos a várias fontes potenciais de erros experimentais, tais como, as

medidas gasosas, carbono convertido à massa celular, a mineralização não

metanogênica do carbonato e outros.

Assim, neste trabalho determinou-se que a recuperação média de

carbono foi de 88,4 %, isto é, o quanto foi metabolizado a produtos

intermediários e a metano com relação ao carbono inicialmente presente na

amostra. O potencial metanogênico dos resíduos, baseado nas medidas de

metano, foram de no mínimo 77,6 a 106,8 L de CH4 /kg de resíduo seco, em

reatores operados com recirculação de percolado neutralizado. Estes valores

23

Page 26: GestÃo de Residuos sÓlidos

foram compatíveis com os encontrados na literatura sobre trabalhos

experimentais de HALVADAKIS apud BARLAZ et al. (1989d).

De acordo com KASALI et al., (1990a), grande parte dos estudos

realizados sobre o processo de degradação anaeróbia dos resíduos sólidos

abordaram principalmente a fase de formação de metano. Apenas algumas

pesquisas mais recentes passaram a relatar as fases hidrolítica e fermentativa

quanto as populações bacterianas e aos seus produtos metabólicos.

KASALI et al. (1989a., 1990a) realizaram uma série de pesquisas

abordando, com maior ênfase, as características bioquímicas da etapa

fermentativa frente a várias condições ambientais, tais como, umidade e

tamponamento. Estes estudos foram conduzidos em reatores em escala de

laboratório, utilizando como substrato a fração orgânica homogeneizada com um

mês de aterramento, coletada a 2,0 metros de profundidade em aterro sanitário.

Basicamente dois tipos de reatores foram utilizados com propósitos diferentes,

ou seja, utilizaram-se colunas de vidro com 940 mL de capacidade providas de

medição de produção de gás por deslocamento de líquidos para o

monitoramento da composição e volume de biogás e reatores de 164 mL para

análise de produtos intermediários e alguns parâmetros físico-químicos de

interesse. Esses reatores eram desmontados para a amostragem.

Em um dos experimentos realizados, KASALI et al. (1990a) observaram o

comportamento de produtos intermediários frente a diferentes teores de umidade

(55,60, 65, 70, 75 e 80 %), utilizando reatores (164 mL) com 30 gramas de

substrato, incubados à temperatura ambiente, sob atmosfera de nitrogênio . Os

resultados mostraram que as concentrações dos ácidos isovalérico, valérico e

capróico não foram influenciadas pelos diferentes teores de umidade. No

entanto, as concentrações dos ácidos acético, propiônico, butírico e isobutírico

aumentaram com o acréscimo da umidade no início do experimento, quando a

metanogênese era baixa. Posteriormente, particularmente com o acetato, os

autores observaram que os reatores com umidade igual a 70,75 e 80 %

apresentaram concentrações máximas de ácidos primeiro do que os reatores

com 55, 60 e 65 % de umidade. Este comportamento foi explicado, pelos

24

Page 27: GestÃo de Residuos sÓlidos

autores, como sendo, possivelmente devido à inibição pelo produto nos

reatores com menores conteúdos de umidade.

De acordo com WANG e WANG apud KASALI et al. (1990a), o fator chave

da inibição pelo produto é a concentração crítica, embora o baixo pH possa

contribuir. Para organismos anaeróbios, a acumulação de ácidos voláteis limita a

geração glicolítica de ATP. Através da interação entre acidogênicas e

metanogênicas utilizadoras de H2 é possível reverter esta situação.

O efeito da adição de concentrações diferentes de solução de

bicarbonato de sódio para o tamponamento das fases intermediária e

metanogênica, também foi observado por KASALI et al. (1989a), durante 90

dias de fermentação dos resíduos orgânicos, em amostras de 350 g do

substrato dispostas em colunas de vidro com 940 mL e amostras com 10 g

foram colocadas em frascos de 164 mL em triplicata. Foram adicionadas

alíquotas de bicarbonato de sódio na concentração de 1; 2,5; e 5 %, e água

destilada a pH 7,0, de modo a atingir-se nas amostras a umidade de 77%

equivalente à capacidade de campo do resíduo. A Tabela 2 resume os

resultados obtidos ao final do experimento.

Tabela 2. Valores acumulados de metano e biogás frente a diferentes

concentrações de soluções de bicarbonato de sódio.

Adição Metano acumulado

(dm3 .kg resíduo seco-1)

Biogás acumulado

(dm3 .kg resíduo seco-1)

NaHCO3(1%) 55,7 81,9

NaHCO3 (2,5%) 63,9 103,9

NaHCO3 (5%) 16,2 48,8

Controles 17,0 32,3

Fonte: KASALI et al. (1989a)

Através destes resultados, os autores constataram a inibição da

produção de metano e o acúmulo de acetato e propionato nos reatores tratados

25

Page 28: GestÃo de Residuos sÓlidos

com a solução tampão de 5 %, A causa provável indicada foi a toxicidade do

cátion Na. Nos reatores com solução tampão de 2,5 % também se observou o

acúmulo de propionato, o que não afetou a atividade metanogênica. Ainda,

concluíram que a adição de 2,5 % de NaHCO3, o equivalente a 0,084 g NaHCO3.

(g resíduo seco -1) foi mais benéfica ao processo.

Para avaliar as interferências de diferentes valores de pH, nos caminhos

metabólicos, KASALI et al. (1988) adicionaram soluções de fosfato de potássio e

fosfato de sódio a 0,2 mol/L, em amostras de 400 g de resíduo colocadas em

colunas de vidro (940 mL), e em amostras de 10 g de resíduo colocadas em

reatores de 170 mL incubados a valores de pH 5,3; 6,2; 7,4 e 8,3 por 14

semanas a 30 oC. O pH dos reatores controles foi de 7,7. Ao término do

experimento, a pH 7,4, observou-se as maiores concentrações de ácidos

voláteis, com exceção do ácido propiônico que acumulou em maior

concentração a pH 8,3. A metanogênese no início do experimento foi favorecida

com o incremento do pH. No entanto, no decorrer do experimento, as taxas de

biogás foram decaindo, com exceção do pH 6,2. Os solventes etanol e propanol

estavam presentes em todos os reatores. Butanol e metanol somente em pH 5,3

e 6,2, acetona em pH 7,4 e 7,7 enquanto a presença de iso-propanol foi

verificada em pH de 6,2; 5,3 e 7,4. Ao final do experimento, somente o pH 7,4 e

8,3 apresentaram acúmulo de solventes, especificamente acetona e propanol.

O efeito do aumento da temperatura foi relatado por KASALI et al (1989b),

em amostras de 400 g a 60 % de umidade incubadas a temperaturas de 30, 40,

55 oC e a temperatura ambiente. O acréscimo de temperatura foi favorável a

metanogênese com exceção da temperatura termofílica de 55 oC, que se

caracterizou pelo acúmulo de solventes e não pelo de ácidos voláteis.

Ainda, KASALI et al (1989c), verificaram com o auxílio de traçador

(Carbono 14), em amostras de substrato de 12 e 24 g colocadas em frascos

de 28 e 50 mL e em colunas com 90 g de resíduos, que o principal precursor de

metano foi o acetato. Verificaram também que, para o substrato metanol a

conversão a metano foi elevada, estando presente acetato no meio.

SUFLITA et al (1992) avaliaram a atividade de várias enzimas hidrolíticas

como uma indicação geral do processo de decomposição das características

26

Page 29: GestÃo de Residuos sÓlidos

microbiológicas em amostras de resíduos retiradas do aterro sanitário de Fresh

Kills. Foram analisadas a distribuição e a atividade relativa de três enzimas em

vinte e oito amostras datadas de 1965 a 1988. Estereases, amilases, e proteases

estavam presentes em todas as amostras e apresentaram faixa de amplitude

moderada ao longo do período de vinte e três anos. O intervalo de tempo de

aterramento não mostrou ser um fator determinante na distribuição da atividade

das três enzimas, A atividade da celulase só foi positiva em duas amostras

testadas, o que pode ser devido à dificuldade de extração dessas enzimas, como

sugerido por KHAN et al apud SUFLITA et al. (1992), ou pelo grau de

heterogeneidade no tamanho da amostra analisada.

Nesta pesquisa em amostras de resíduo selecionadas no aterro de Fresh

Kills, foram determinados valores de bactérias aeróbias entre 104 a 106 UFC/g

resíduo seco. As células eram tipicamente associadas a superfícies dos

resíduos. Ensaios em meio de cultivo e técnicas de microscopia revelaram

inúmeras morfologias de células e colônias. Em relação aos microrganismos

anaeróbios fermentativos, foram encontrados valores entre 105 e 107 UFC/g

resíduo seco, sob condições anaeróbias de cultivo. Observou-se que as

bactérias degradadoras de proteínas variaram entre 2 a 15 %, e de 0 a 4% do

total de bactérias fermentativas, quando incubadas a 22 e 37C, respectivamente.

As degradadoras de amido variaram entre 0,4 a 12 % e 3 a 4 % da população

fermentativa quando incubadas as mesmas temperaturas. As bactérias

anaeróbias degradadoras de celulose não foram avaliadas quantitativamente.

A atividade de degradação da celulose de uma cultura bacteriana oriunda

de amostra de percolado de vazadouro de lixo a céu aberto foi avaliada por

GOMES (1995) através de ensaios de acompanhamento do crescimento celular

e produção de metabólitos, sob condição de anaerobiose estrita. As culturas

anaeróbias celulolíticas não foram purificadas, mas através dos procedimentos

microbiológicos, obteve-se o predomínio de bacilos celulolíticos formadores de

esporos. A cultura foi capaz de utilizar diferentes açúcares, amido, álcoois como

o glicerol e propanol, bem como proteína gelatina.

27

Page 30: GestÃo de Residuos sÓlidos

BALDOCHI (1990) identificou as fases anaeróbias ácida e metânica

instável do processo de estabilização em dois aterros sanitários experimentais,

segundo o modelo proposto por POHLAND et al. (1983) apud POHLAND e

HARPER (1985b), relacionando o comportamento dos ácidos voláteis com o

comportamento do gás, da demanda química de oxigênio, pH e alcalinidade do

percolado. O comportamento qualitativo e quantitativo dos ácidos voláteis

individuais e totais foram obtidos através de análises cromatográficas gasosas.

Os resultados indicaram que os ácidos mais significativos quantitativamente em

ordem decrescente foram o acético, propiônico, butírico, isobutírico, valérico e

isovalérico, os quais contribuíram com até 98 % da DQO solúvel encontrada nas

amostras de percolado dos aterros sanitários experimentais.

VILLAS BÔAS (1990) estudou a microbiota anaeróbia hidrolítica

fermentativa nas amostras de resíduo sólido coletadas a dois metros de

profundidade em aterros sanitários empregando técnicas de bacteriologia para

anaeróbios. Contagens desse grupo bacteriano foram realizadas nas amostras

de percolado do aterro sanitário experimental 1 e nos resíduos sólidos da cidade

de São Carlos aterrados há cinco e dez anos. Quatro cepas foram isoladas e

identificadas. Além disso, mediu-se o potencial de biodegradabilidade dos

resíduos aterrados. Os valores de contagens obtidos foram na faixa de 105 a

108 UFC/g de resíduo seco nos aterros 1 e 2. No percolado, encontrou-se 107

UFC/g de resíduo seco amostras coletadas em aterros com cinco e dez anos.

Das quatro cepas isoladas uma pertencia ao gênero Megasphaera sp, sendo que

as outras três provavelmente eram do gênero Selemonas sp Os potenciais de

produção de CH4 nos aterros sanitários 1 e 2 foram de 97,8 e 85, 1 NLCH4/ kg

de resíduo seco volátil, respectivamente, medidos através do teste de

biodegradabilidade.

BADRA (1993) isolou e identificou culturas de bactérias metanogênicas,

em nível de gênero, provenientes de amostras de resíduos sólidos coletadas a

2,0 metros de profundidade em aterro sanitário experimental na fase

metanogênica. As fontes de carbono utilizadas para o cultivo das amostras foram

acetato de sódio, metanol e formiato de sódio. Segundo a análise morfológica e

28

Page 31: GestÃo de Residuos sÓlidos

das fontes energéticas utilizadas, obteve-se, a acetato de sódio, uma co-

cultura formada por um organismo utilizador de acetato e uma metanogênica

semelhante ao gênero Methanobrevibacter sp; em metanol, uma cultura

semelhante ao gênero Methanosarcina sp; em formiato de sódio, uma cultura

semelhante ao gênero Methanobacterium sp.

BARLAZ et al. (1990) em sua revisão sobre a produção de metano,

técnicas de otimização e dinâmica microbiológica concluíram que os trabalhos

recentes em microbiologia têm permitido uma melhor compreensão do

ecossistema do resíduo. BARLAZ et al (1989a) mostraram que todos os grupos

tróficos requeridos para a metanogênese dos resíduos estão presentes no

resíduo fresco e que, inicialmente, a não disponibilidade do acetato e,

posteriormente à baixa hidrólise do polímero, limitaram a taxa de produção de

metano. Afim de otimizar o processo, evitando-se a acidificação inicial e a queda

do pH, propuseram como possíveis soluções a recirculação e neutralização de

percolado, ou a adição de resíduo anaerobiamente degradado aos resíduos

frescos como inoculo de bactérias metanogênicas capazes de metabolizar os

ácidos produzidos. Estes autores disseram, que embora se tenha um bom

conhecimento das características do percolado relacionadas com o estado de

decomposição, ainda permanecem dificuldades em se estimar com precisão o

potencial de produção de metano em aterros sanitários.

29

Page 32: GestÃo de Residuos sÓlidos

2- Destino Final : Aterro Sanitário

O projeto de aterro sanitário de acordo com a definicão da norma

NBR- 8419 (1984), é um método de confinamento de resíduos sólidos,

segundo técnicas de engenharia de modo a minimizar os riscos de impactos

ambientais e à saúde pública.

O aterro sanitário pode ser projetado para atender a esta definição, ou

seja de confinamento seguro , ou pode ter como proposta o tratamento

biológico com ou sem interesse de uso do biogás gerado como fonte

energética.

Os principais elementos que um projeto de aterro sanitário deve

contemplar são descritos na seqüência

Seleção da Área do Aterro

A escolha da área para a implantação de um aterro sanitário deve ser

realizada com base em critérios técnicos, sócio econômicos e politico-sociais

que minimizem os riscos ambientais e a comunidade. As características que

devem ser avaliadas e alguns valores de referência são apresentados a

seguir:

Solo

Capacidade de retenção de contaminantes (o teor de matéria

orgânica, o teor e a natureza dos argilo-minerais presentes, o teor de

ferro e manganês, pH e ambiente redox , Permeabilidade,

Erodibilidade: (textura, estrutura, composição, teor de umidade,

coesão, espessura, relação textural entre os horizontes ou camadas, e

plasticidade do solo).

Compressibilidade e recalques

Colapsividade e capacidade de suporte (SPT)

30

Page 33: GestÃo de Residuos sÓlidos

CETESB (1993) indica os solos classificados como CL ,. CH , SH ou OH

( classificação de Casa Grande ) , que tenham um percentual de mais de 30 %

passando pela peneira nro 200, que apresentem um Limite de Liquidez maior

ou igual a 30 %; que apresentem um Índice de Plasticidade maior ou igual a

15, pH maior ou igual a 7,0 e um coeficiente menor ou igual a 10 –7 cm/s.

Topografia e Declividade

Segundo ZUQUETTE (1987) e McBEAN et al. (1995), a faixa de declividade

ideal situa-se entre 2 e 5%.Para ZUQUETTE (op. cit.), terrenos com declividades de

até 10% podem ser utilizados.

Geologia/hidrogeologia

Geologia/Hidrogeologia

Alguns valores de espessuras mínimas para camadas adjacentes ao

aterro e os respectivos coeficientes de permeabilidade e a espessura da

camada insaturada.

Permeabilidades e espessuras propostas para a camada subjacente ao

aterro.

Fonte Coeficiente de

permeabilidade

Espessura mínima do meio

Brasil(1) 1x10-5 cm/s 1,5 m (resíduos não perigosos)

França(2) 1x10-7 cm/s 5,0 m (resíduos perigosos)

Comunidade Européia(3)

1x10-7 cm/s1x10-7 cm/s1x10-5 cm/s

5,0 m (resíduos perigosos)1,0 m (resíduos não perigosos)1,0 m (resíduos inertes)

Canadá(4) 1x10-6 cm/s 2,0 m (resíduos não perigosos)

Estados Unidos da América(5)

1x10-7 cm/s 1,5 m (resíduos domésticos)

(1) NBR 13.896 – Aterros de resíduos não perigosos – critérios para projeto,

implantação e operação, 1997.

(2) Ministere de l’amenagement du territoire et de l’environnement, 1998.

31

Page 34: GestÃo de Residuos sÓlidos

(3) Commission of the european communities – proposal for a council directive

on the landfill of waste,1997.

(4) Ministry of environment, lands and parks, 1988.

(5) US EPA (1991) apud Lee & Jones-Lee, 1998.

TABELA 01. Distâncias mínimas entre a base do aterro e o nível do lençol

freático na estação chuvosa.

Fonte Distância (m)

Brasil(1) 1,5

Estados Unidos da América(2) 1,5

Canadá(3) 1,2

Bolívia(4) 1,5

(1) NBR 13.896 – Aterros de resíduos não perigosos – critérios para projeto,

implantação e operação, 1997.

(2) US EPA (1991) apud Lee & Jones-Lee, 1998.

(3) Ministry of environment, lands and parks, 1988.

(4) Norma Boliviana de Residuos Sólidos NB 757, apud Valeriano & Escalera

(1998).

Água Superficial

CETESB (1993) considera que deve ser observada uma distância

mínima de 200 m entre o aterro e o corpo d’água. Para LEITE (1995), a

distância mínima do aterro às drenagens não deve ser inferior a 300 m. Já

ZUQUETTE (1993) apud SARAIVA & RODRIGUES (1994), considera como

favorável distâncias maiores que 500 m. A seguir apresenta-se as distâncias

mínimas recomendadas por alguns países.

Distâncias mínimas entre um aterro e um corpo de água superficial.

Fonte Distância

32

Page 35: GestÃo de Residuos sÓlidos

Estados Unidos da América Wyoming(1) Mananciais – 305 m

Lago ou lagoa perene – 305 m

Lagoa intermitente – 91 m

Rio ou córrego perene – 91 m

Novo

México(2)

61 m

Georgia (3) Mananciais – 3.220 m

Rios perenes – 30 m

Comunidade Européia(4) 500 m de qualquer corpo d’água

Canadá(5) Mananciais – 300 m

Outros corpos d’água – 100 m

Bolívia(6) 500 m de qualquer corpo d’água

(1) Wyoming environmental quality act, 1997.

(2) Davis, 1996.

(3) Department of natural resources, 1997.

(4) Commission of the european communities – proposal for a council

directive on the landfill of waste,1997.

(5) Ministry of environment, lands and parks, 1988.

(6) Norma Boliviana de Residuos Sólidos NB 757, apud Valeriano & Escalera

(1998).

Uso e ocupação do solo

As distâncias mínimas no entorno da área ocupada um aterro e alguns

tipos de ocupação humana propostas por diferentes países são

indicadas .

Fonte Tipo de ocupação Distâncias

França(1) Residências, áreas de

expansão urbana e

estabelecimentos

públicos

200 m

(aterros de resíduos

perigosos)

Comunidade européia(2) Áreas urbanas, de

recreação e agrícolas

500 m no caso de

aterros sanitários e

33

Page 36: GestÃo de Residuos sÓlidos

2.000 m para aterros de

resíduos perigosos

Estados

Unidos da

América

Wyoming(

3)

Residências, escolas e

hospitais

300 m

Carolina

do Sul(4)

305 m

Canadá(5) Residências e

estabelecimentos

públicos

300 m

(1) Ministere de l’amenagement du territoire et de l’environnement, 1998.

(2) Commission of the european communities – proposal for a council directive

on the landfill of waste,1997.

(3) Wyoming environmental quality act, 1997.

(4) Department of health and environmental control, 1998.

(5) Ministry of environment, lands and parks, 1988.

2- Descrição e justificativa da concepção adotada

A concepção do projeto escolhida deve ser compatível com o tipo de

resíduo a ser aterrado, com as características ambientais da área selecionada

e com disponibilidades de recursos ( técnicos, humanos e financeiros ).

3- Memorial Técnico e Descritivo

O memorial técnico deve conter :

Projeção da Produção de Resíduos Sólidos

A projeção de Resíduos Sólidos deve ser determinada para a vida útil

do Aterro Sanitário, a qual recomenda-se ser de vinte anos.

34

Page 37: GestÃo de Residuos sÓlidos

A produção atual de resíduos sólidos pode ser determinada através de

dados de campo referente a quantidade coletada pelo serviço de limpeza

púbica ou ser estimada correlacionando-se com dados populacionais e cota

per capita de geração de resíduos sólidos.

Para o caso de aterro sanitário para resíduos sólidos domiciliares a

CETESB (1997) sugere os seguintes valores de geração per capita:

População ( hab) Produção de Lixo per Capita

( kg/hab.dia)

Até 100 mil 0,4

100 mil a 200 mil 0,5

200 mil a 500 mil 0,6

< 500 mil 0,7

Assim ,

Pa= A x B onde

A – geração de resíduos per capita

B – população atual

Para a estimativa da produção futura de resíduos pode-se considerar a

influência da taxa de crescimento populacional, taxa de incremento do

serviço de limpeza pública e a taxa de incremento da geração per capita

segundo a relação :

Pf = {(1+D) x [ A x ( 1+ E )] x [B x ( 1 +C)]} sendo

A – produção per capita ( kg / hab. Dia)

B- população do município

C- taxa de crescimento populacional

D – taxa de incremento do serviço de limpeza pública

E- taxa de incremento da geração per capita

35

Page 38: GestÃo de Residuos sÓlidos

2.2 –Dimensionamento e configuração geométrica da área de

disposição

A estimativa da área necessária para a disposição dos resíduos deve

considerar o método de escavação escolhido com base nas características do

local e na quantidade de resíduos a ser aterrada.

Os métodos de escavação são definidos como

trincheira ( abaixo do nível do terreno): local plano ou levemente

inclinado . As dimensões da trincheira dependem da quantidade de resíduos a

ser aterrada e da vida útil desejada.

rampa ou escavação progressiva ( acima do nível do terreno) : áreas

planas e secas , que disponham de solo para cobertura do lixo .

método da área ( abaixo do nível do terreno): locais com depressões ,

fundos de vale , cavas abandonadas.

Além da área destinada especificamente a disposição de resíduos

deve-se adotar um percentual de 20 a 40 % para acesso, circulação e

estruturas de apoio.

Sistemas de Proteção ao Meio Ambiente

Sistema de Impermeabilização Inferior e nos Taludes.

Os sistemas de impermeabilização podem se constituídos por barreiras

naturais ou artificiais. As barreiras naturais são construídas com solos

compactados ou com adição de polímeros enquanto as artificiais, são

constituídas por mantas sintéticas ( vide texto em anexo)

Sistema de drenagem superficial de águas

A drenagem superficial de águas pluviais tem com finalidade evitar a

percolação e infiltração de água no maçico de resíduos aterrados,

36

Page 39: GestÃo de Residuos sÓlidos

minimizando-se a geração de percolado e a erosão das camadas de

selamento e taludes.

Os drenos superficiais podem ter caráter provisório ou definitivo.

O dimensionamento deste sistemas se baseia nos fundamentos do

hidráulica referentes ao escoamento livre. (vide texto em anexo)

Sistemas de Drenagem sub-superficial de percolado

Um método expedito para a estimatica de percolado, denominado de

Método Suíço é :

Q= 1 x P x AX K onde:

T

Q= vazão média do líquido Percolado ( L/s)

P = precipitação média anual ( mm)

A = área do aterro ( m2)

t= número de segundos em 1 ano

K= coeficiente que depende do grau de compactação de acordo com

Peso Específico dos Resíduos no aterro k

0,4 a 0,7 ton / m3 0,25 a 0,5

> 0,7 ton/m3 0,15 a 0,25

Para situações de maior responsbilidade recomenda-se o uso do

Balanço Hídrico

A precipitação que cae em uma área de aterro sanitário passa por

processos de dois tipos: superficiais e sub-superficiais.

Os processos superficiais incluem a retenção, evaporação, infiltração e

escoamento superficial. Os processos sub-superficiais seguem-se à infiltração

e incluem a evapotranspiração. percolação e fluxo lateral .

Estes processos podem ser definidos por :

37

Page 40: GestÃo de Residuos sÓlidos

Retenção Superficial: é a porção de água que é armazenada

superficialmente. Inclue a interceptação pela vegetação e o armazenamento

em depressões do terreno. Pode ser reduzida pela infiltração e evaporação

Escoamento superficial: é a porção de água que escoa superficialmente

sobre o solo. Esta variável depende das características do solo ( capacidade

de infiltração) e da quantidade de água precipitada ( precipitação menos a

retenção superficial)

Infiltração : é a quantidade de água que flue através do solo. Este fator

é dependente de condições existentes, tais como : tipo de solo ( umidade,

matéria orgânica, permeabilidade, porosidade não capilar) , cobertura vegetal

e estação do ano.

Armazenamento : é o volume de água acumulada no solo . A água do

solo está sujeita as forças de atração molecular, à tensão superficial e à

atração gravitacional. Em função dessas forças e da natureza do terreno , as

águas podem se encontrar na zona de aeração, próxima à superfície, ou na

zona saturada . A zona de aeração , denominada como zona de solo, pode

perder água por evaporação ou transpiração . A espessura desta camada é

definida, em geral, pelo comprimento médio das raízes da vegetação de

cobertura. A zona de saturação é aquela em que a água ocupa todos os vazios

e está sob pressão hidrostática. Assim a quantidade de água presente no solo

é vista sob dois aspectos : 1-a reserva permanente , que corresponde a água

que não pode ser removida do solo, ou seja, que não pode ser removida por

capilaridade , gravidade ou por osmose , e é medida pelo teor de umidade no

ponto de murchamento ; 2- A capacidade de campo , que corresponde à

umidade retida em um solo previamente saturado após sua drenagem natural

por gravidade.

Evaporação: é a transformação da água no estado líquido para vapor .

É dependente de temperatura do ar, radiação solar, pressão do vapor, vento e

pressão atmosférica. A taxa de evaporação da superfície do solo saturado é

aproximadamente igual a taxa de evaporação da superfície da água sob

condições similares. A evaporação pode ser medida por evaporímetros tais

como o tanque classe A , que de forma simplista pode ser descrito como um

38

Page 41: GestÃo de Residuos sÓlidos

recipiente cilíndrico de eixo vertical ( enterrado ou não ) , aberto para a

atmosfera , contendo água no estado líquido. Para avaliar a evaporação em

superfícies do solo , utiliza-se lisímetros ( caixas estanque contendo o solo a

ser estudado , aberta na parte superior)

Transpiração : é a água absorvida pelas raízes das plantas e que é

transpirada em forma de vapor . Este processo é dependente d tipo de

vegetação de cobertura , da densidade de vegetação e da quantidade de

água disponível no solo. Pode ser medida através de fitômetro ( recipiente

estanque com terra e planta) .

Evapotranspiração: é a combinação das ações da evaporação e

transpiração . Pode ser definida como a água perdida oriunda de uma

superfície completamente coberta por vegetação se existir uma quantidade

de água suficiente no solo para a vegetação. A evaporatranspiração

denominada de potencial é a perda d’água observada em superfície natural

que esteja totalmente coberta por vegetação e que o teor de umidade esteja

próximo da capacidade de campo. É a perda de água obtida em superfície

coberta por grama Batatais em fase de crescimento ativo , bem suprida de

umidade , no centro de uma área irrigada com dimensões que permitam

desprezar o transporte horizontal de vapor d’água. A evapotranspiração

denominada de real ou atual é a perda de água nas condições reinantes

( condições naturais de vegetação e de umidade o solo)

Deve-se lembrar que neste balanço hídrico não está sendo

considerada a água proveniente da decomposição da matéria orgânica e a

variação de armazenamento de umidade na camada de resíduos. As

condições que influem em cada parâmetro e os fatores intervenientes são:

Fatores que afetam a geração do volume de percolado

Condições Parâmetro Fatores intervenientes

Disponibilidade de

água

Precipitação Chuva: quantidade ; intensidade; frequência;

duração

39

Page 42: GestÃo de Residuos sÓlidos

Escoamento

superficial

Topografia da superfície, material de

cobertura, vegetação, permeabilidade,

condições de umidade do solo, precipitação.

Condições

superficiais do

aterro

Evapotranspiração Temperatura, vento, umidade, pressão

atmosférica , material de cobertura ,

vegetação, radiação solar.

Escoamento

superficial

Topografia da superfície, material de

cobertura, vegetação, permeabilidade,

condições de umidade do solo, precipitação,

Infiltração Topografia da superfície, material de

cobertura, vegetação, escoamento superficial

evaporação, condições de drenagem .

Descreve-se a seguir o exemplo de um balanço hídrico, apresentado

por CETESB (1993). Este exemplo considera o aterro como um maciço

homogêneo constituído de material poroso. ( As tabelas citadas encontram-

se no texto em anexo)

Parâmetros empregados :

-Precipitação ( P): valores médios mensais (obtidos através de métodos

de medição direta em instrumentos como pluviômetros ou pluviógrafos )

-Evapotranspiração Potencial ( EP): valores médios mensais (obtidos

através de métodos de medição direta em instrumentos como evaporímetros)

-Escoamento Superficial (ES): valores médios mensais determinados

por

ES= C’ x P

` Sendo P- precipitação

ES – Escoamento superficial

C’ = x C onde

40

Page 43: GestÃo de Residuos sÓlidos

C a razão entre o volume escoado superficialmente e o volume

precipitado influenciado por tipo de solo, cobertura, tipo de ocupação , tempo

de retorno e intensidade da precipitação . Portanto, encontra-se na literatura

valores de C fornecidos em função do tipo de superfície ( Ex.:asfalto , grama,

solo ) , ou em função do tipo de ocupação ( Ex.:área comercial , industrial ,

parques , cemitérios) ou ainda, com base na densidade de ocupação ( Ex.:

edificação muito densa , surbúbios com alguma edificação ). Neste exemplo,

os valores para o coeficiente de escoamento (C’) foram dados em função do

tipo de solo arenoso ou argiloso ( C) , da declividade para terrenos planos e

com inclinação média e para a intensidade de precipitação ( ) . A tabela

5.15 indica os valores para C e

-Infiltração ( I) : Valores médios dados pela diferença entre a

precipitação e o escoamento superficial

I=P - ES

-Perda potencial de água acumulada é obtida somando-se mês a mês os

valores negativos de (I-EP) ou seja obtém-se a parcela mensal de água foi

introduzida no solo. Atribue-se o valor zero ao último valor positivo de I-EP

porque , neste mês a infiltração superou a precipitação não havendo déficit (a

água contida no solo atingiu a capacidade de campo* no fim da estação

úmida). Para os meses subsequentes a evapotranspiração potencial supera a

infiltração ocorrendo portanto déficit de entrada de água , que são

acumulados mensalmente.

*Capacidade de campo – o solo está totalmente saturado com água .

NEG( I-EP)

-Armazenamento de água no solo (AS): valor inicial de água disponível

no solo dado pelo produto da quantidade de água disponível no solo ( tabela

5.16) pela espessura da camada de solo , valor este atribuído ao penúltimo e

último meses da estação úmida ( I-EP>0), ou seja, a capacidade de campo foi

atingida. Para os meses subsequentes (I- EP<0) nos quais há deficit de

41

Page 44: GestÃo de Residuos sÓlidos

água no solo, os valores de AS são dados em função dos valores da

evapotranspiração potencial acumulados e da quantidade AS inicial existente (

valor dado a ultimo mês da estação úmida). Estes valores AS de são

fornecidos nas tabelas 5.17 a 5.19. Observa-se que o valor de AS

encontrado para o último mês da estação seca deve ser somado ao valor de

(I-EP ) positivo do mês subsequente. Os valores obtidos que forem acima da

capacidade de armazenamento significam fluxo de percolação.

AS= Água disponível x Camada de solo superficial

onde

Água disponível = capacidade de campo – ponto de murchamento

-Troca de armazenamento de água no solo (AS) é a diferença entre o

valor armazenado em um dado mês e o valor armazenado de água do mês

anterior.

AS = ASn-ASn-1

-Evapotranspiração real (ER) :representa a quantidade real de perda de

água em um mês. Para os meses em que a infiltração é maior que a

evapotranspiração potencial, a evapotranspiração real ( ER) é igual a

evapotranspiração potential (EP) , pois neste caso o que infiltrou é suficiente

para compensar o AS até o valor total de água disponível e a

evapotranspiração real, sendo restante o que percola. . Quando a infiltração é

menor que a evapotranspiração potencial, a evaporação real que irá ocorrer é

condicionada ao valor real armazenado de água. Deste modo, para

(I - EP)>0 ER=EP

( I - EP)<0 ER= EP + [(I- EP)- AS] ou seja ER= I- AS

-Percolação (PER): é dada por

PER= P- ES- AS-ER isto é

42

Page 45: GestÃo de Residuos sÓlidos

PARA

(I - EP)>0 têm-se PER= P- ES- AS-EP

PARA

( I - EP)<0 têm-se PER= P- ES- I

VAZÃO MENSAL (QM em (L/s)) : valores médios mensais de percolado

QM= PER x A cont

2.592.000

Sendo Acont – área de contribuição do Aterro e 2.592.000 o número de

segundos em um mês

Considerações Finais

O balanço hídrico apresentado e ilustrado numéricamente pela tabela

2, é recomendado, como já mencionado, pela CETESB , orgão ambiental do

estado de São Paulo , para situações de maior responsabilidade.

Cabe ressaltar que a análise do Balanço Hídrico descrito

considera apenas os parâmetros relativos a hidrologia local sem avaliar a

contribuição da camada de resíduos . Ainda, observa-se que os meses que irão

gerar percolado são aqueles em que a infiltração supera a evapotranspiração

real ( igual a evapotranspiração potencial ) e a variação mensal de água

acumulada.

43

Page 46: GestÃo de Residuos sÓlidos

Balanço Hídrico adaptado para Aterro Industrial. (Fonte Cetesb , 1993)

Parâmetros

(mm)

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL

EP 96,2 103,2 107,1 61,0 54,8 49,3 65,6 89,7 87,6 101,6 110,5 89,0 1015,6

P 238,0 173,0 135,0 65,7 29,1 47,7 35,2 25,9 60,9 116,1 149,3 225,4 1301,2

C’ 0,22 0,22 0,22 0,18 0,18 0,18 0,18 0,18 0,18 0,22 0,22 0,22

ES 52,4 38,1 29,7 11,8 5,2 8,6 6,3 4,6 11,0 25,5 32,8 49,6 275,6

I 185,6 134,9 105,3 53,9 23,9 39,1 28,9 21,2 49,9 90,6 116,5 175,8 1025,6

I-EP +89,4 +31,7 -1,8 -7,1 -30,9 -10,2 -36,7 -68,5 -37,7 -11 +6,0 +86,8 +10

NEG(I-EP) (0) -1,8 -8,9 -39,8 -50,0 -86,7 -155,2 -192,9 -203,9

AS 150 150 148 141 114 107 83 52 40 37 43 129,8

AS 20,2 0,0 -2 -7 -27 -7 -24 -31 -12 -3 6 +86,8

ER 996,2 1-3,2 107,3 60,9 50,9 46,1 52,9 52,2 61,9 93,6 110,5 89,0 924,7

PER 69,2 31,7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 100,9

44

Page 47: GestÃo de Residuos sÓlidos

Sistemas de Drenagem de Gases

O dimensionamento dos drenos de gás dependem da vazão de gás

gerada. Existem modelos que possibilitam uma estimativa do potencial de gás,

não a’te o momento um modelo que possa ser empregado sem restrições.

Deste modo , na prática utilizam-se tubos com diâmetros que variam

de acordo com a altura do aterro de 0,20 a 1,0 metro. Para aterros de até 15

metros de altura recomenda-se empregar tubos com até 0,40 m .

O espaçamento entre os drenos , baseando-se em dados construtivos

reais, pode varia entre 30 a 50 metros.

Sistemas de tratamento de gases e percolado.

O tratamento mais comum aos gases de aterro é a queima através de

queimadores construídos na saída dos drenos de gases .

O tratamento do percolado é bem mais complexo que o tratamento de

águas residuárias , uma vez que sua carga orgânica ( D.Q. O) pode atingir

valores até 200 vezes maiores que os correspondentes aos esgotos

domésticos por exemplo.

Ainda sua composição e volume variam ao longo do tempo

consideravelmente em função da idade do resíduo aterrado e das condições

climáticas.

Algumas das alternativas para o tratamento dos percolados são:

-Recirculação do percolado

-Evaporação do percolado

-Tratamento conjunto com esgotos sanitários

-Tratamento biológico aeróbio

-Tratamento biológico anaeróbio

-Tratamento físico químico : precipitação química , oxidação química ,

adsorção com carvão ativado, osmose inversa , flotação.

45

Page 48: GestÃo de Residuos sÓlidos

Algumas das limitações de emprego destas alternativas citadas em

literatura são :

-A recirculação é recomendada par áreas com baixa pluviometria

-O co-tratamento com esgotos domésticos pode ser viável

dependendo dos custos de transportes envolvidos.

-Os tratamentos físicos não apresentaram grande eficiência quanto a

DQO e utilizam substâncias químicas que podem elevar os custos do

tratamento

- A viabilidade dos processos biológicos está condicionada as

características do percolado (presença de compostos tóxicos aos

microrganismos). Para os processos aeróbio deve se considerar o custo de

energia e a produção de lodo. O processo anaeróbio não possue estas

desvantagens.

Sistemas de monitoramento

O monitoramento do aterro sanitário tem como finalidade avaliar a

influência do mesmo sobre o meio ambiente. Em geral este monitoramento

restringe-se a avaliação dos mananciais superficiais e subterrâneos.

Os métodos empregado para detecção da pluma de contaminação

no aquífero livre é através de poços de filtro longo que penetram na camada

saturada possibilitando a retirada de amostras para a análise laboratorial.

Caso se deseje obter a posição exata da pluma no aquífero deve-

se empregar poços multi - níveis, que são uma combinação de vários poços

simples de filtro curto em uma única escavação.

O número mínimo de poços a serem instalados para fins de

controle é quatro , sendo 1 à montante e 3 à jusante do aterro considerando o

fluxo do aquífero.

O controle da qualidade da água superficial é feito coletando

amostras à montante e à jusante do aterro e comparando com os valores

admissíveis para os usos da água .

O sistema de tratamento de percolado deve ser monitorado

quanto à sua eficiência .

46

Page 49: GestÃo de Residuos sÓlidos

Estruturas de Controle

Para que o Aterro Sanitário tenha uma operação adequada faz-se

necessário a existência de instalações que o controlem e o protejam. Estas

unidades são

-Cercas: para o isolamento do aterro visando impedir a entrada de

catadores , animais ou outros elementos que possam prejudicar o andamento

dos serviços. Em regiões de ventos intensos recomenda-se utilizar cercas de

tela móveis para retenção de materiais leves arrastados da frente de

operação.

-Cinturão verde: consiste numa faixa de isolamento de 5 a 10 metros de

largura , composta por arbustos e árvores que impeçam a visualização do

aterro.

-Portaria : sua função é o controle de entrada e saída de veículos da

área do aterro, bem como do tipo de resíduos que carregam .

- Balança: sua função é avaliar a quantidade de resíduos que entram

no aterro , bem como fornece dados para o controle da vida útil do aterro.

-Escritórios: para o desenvolvimento de atividades administrativas

visando o controle de materiais , equipamentos e funcionários.

-Refeitórios, Vestiários e Sanitários : para atendimento das

necessidades dos funcionários

-Galpões para abrigo de veículos e equipamentos e pátio de estocagem

de materiais .

-Estradas internas : devem ser mantidas em condições de operação

garantindo-se o trânsito de veículos mesmo durante períodos de chuva. As

estradas podem ser de uso permanente ou de uso temporário As de uso

permanente devem ser construídas com largura mínima de 8,0 metros com

inclinação longitudinal máxima de 10 %, enquanto as de caráter provisório

devem ter uma largura mínima de 6,0 metros e no máximo uma inclinação

47

Page 50: GestÃo de Residuos sÓlidos

longitudinal de 15 %. Ambas devem ter inclinação transversal da ordem de 2

%.

-Iluminação: em aterros operados em período integral há necessidade

de iluminação nos acessos e frente de trabalho afim de ser ter condições de

operacionalidade e segurança.

- Procedimentos Operacionais

-Preparação da área

Esta fase compreende atividades de limpeza da área e o planejamento

das etapas de implantação do aterro indicando as atividades a serem para a

configuração da área para recebimento dos resíduos realizadas ( abertura da

área, implantação de sistemas de proteção ambiental ).

-Execução das Células Sanitárias

Os resíduos devem ser dispostos em células sanitárias . Estas são

executadas compactando-se os resíduos de encontro a um desnível natural do

terreno , ou contra o talude da trincheira ou mesmo o talude de uma camada

de lixo ( célula-mãe), na forma de um tronco de pirâmide, disposta sobre o

terreno .

A compactação é feita em movimentos ascendentes por um trator

esteira formando uma rampa com taludes de inclinação aproximada de 1 (v) :

3( H). Para uma melhor compactação os resíduos são espalhados sobre essa

rampa formando camadas com espessuras aproximadas de 0,4 metros ,

sobre as quais o trator esteira passa de 3 a 5 vezes .

A sobreposição destas camadas irá formar uma célula de lixo de

formato prismático que deverá ser recoberta com camada de terra com

espessura mínima variando de 0,15 a 0,30 cm até cerca de 0,5 m dependendo

das características do material empregado ( susceptibilidade à processos de

erosão) .

48

Page 51: GestÃo de Residuos sÓlidos

As dimensões das células dependem da quantidade de resíduos a

serem aterrados . A altura da célula pode varias de 2,0 a 6,0 metros .

Dimensionamento da célula de lixo

Dimensões típicas: b- 3 a 9 m

h-2,4 a 3,6 m

Fórmulas:

h = 3 v (1) fazendo-se L =b= 2 v = 3 p x v (2)

p2 h

A= b2 + 2 x b x h x p (3)

onde

h : altura da célula (m)

v = volume diário ( m3)

p= Talude de rampa de trabalho (1(v) :3 (H=p))

L= profundidade de célula (m)

b= frente de operação (m)

A= área a ser coberta com solo ( m2)

1

h

b p=3

L

h

49

Page 52: GestÃo de Residuos sÓlidos

Encerramento do Aterro

Após o encerramento das atividades de disposição de resíduos ainda

se faz necessário a manutenção das superfície final e dos taludes que ficam

sujeitas a recalques e a erosão . Para evitar este processo de deterioração

deve-se evitar o escoamento de águas de chuvas construindo –se um sistema

de drenagem de águas de chuva no entorno do aterro e taludes , como

também executando a camada final com declividade adequada .

Os taludes e patamares do aterro, em toda a sua extensão, devem ser

protegidos como plantio de vegetação adequada, por exemplo, grama

imediatamente após a sua construção . Deste modo recomenda-se que as

obras de encerramento sejam realizadas a medida que o aterro se desenvolve .

A proposta para uso futuro da área deve considerar que o processo de

degradação é longo podendo alcançar períodos superiores a 10 anos e que

após a estabilização ser atingida o aterro apresentará uma resistência

semelhante a turfa.

4-Equipamentos e Mão de Obra

As principais operações realizadas em um aterro são : compactação

e a cobertura de resíduos , corte e transporte de terra , abertura de drenos e

estradas e o nivelamento das superfícies .

Para estas atividades o conjunto básico de equipamentos é constituído

por:

Trator de esteiras: atividades de compactação, cobertura dos

resíduos, corte de terras, preparação e manutenção de estradas e

drenos.

Pás-carregadeiras: corte da terra e transporte , se a jazida de terra

se localizar próxima ao local de utilização. Mais empregada em

aterros de grande dimensões.

Retroescavadeiras: aberturas de valas, execução de drenos,

assentamento de tubulações.

Caminhões basculantes: transporte de materiais diversos.

Motoniveladoras

50

Page 53: GestÃo de Residuos sÓlidos

Dados para pré –seleção do Trator de esteiras

Tipo de Operação Quantidade de

lixo (ton/dia)

Potência

indicada (HP)

Compactação e cobertura do lixo

Serviços diversos (adicional de 30%

do tempo de operação)

< 50

< 250

< 500

40 a 50

70 a 90

140 a 160

Compactação e cobertura do lixo

Serviços diversos (adicional de 30%

do tempo de operação)

Corte de terra a uma distância

máxima de 60 m para uso na

cobertura do lixo

< 30

<150

<300

40 a 50

70 a 90

140 a 160

51

Page 54: GestÃo de Residuos sÓlidos

3-Compostagem

2.1-Conceito

A compostagem é a transformação biológica aeróbia de matéria

orgânica em material estabilizado ou húmus., que é uma substância escura ,

uniforme com consistência amanteigada e aspecto de massa amorfa , rica em

partículas coloídais.

O composto pode ser utilizado como recondicionador de solos

representando uma fonte de macro e micro nutrientes. Os principais efeitos do

uso do composto no solo são: melhoria da estrutura do solo , aumento da

capacidade de absorção de água , ativação susbtancial da vida microbiana,

melhor aeração, aumento da estabilidade do pH .

3.1 Métodos de compostagem

Basicamente, a compostagem pode ocorrer promovendo-se a

aeração natural através de revolvimentos manuais ou mecanizados ou aplicando-

se a aeração forçada por meio de insuflamento de ar por tubulações perfuradas

ou através de cilindros giratórios denominados de bioestabilizadores .

São exemplos de métodos naturais , o processo tipo “windrow” e de

aeração forçada as pilhas estáticas aceleradas e o uso de bioestabilizadores , o

processo DANO .Os dois primeiros são recomendados para municípios de

pequeno e médio porte e o último para municípios de grande porte.

52

Page 55: GestÃo de Residuos sÓlidos

3.2-Etapas de uma usina de compostagem

A usina de compostagem, em geral, por várias etapa, como

apresentado a seguir:

Recepção , triagem primária, bioestabilizador, peneira rotativa, pátio de

maturação primária , pátio de maturação secundária , beneficiamento.

Recepção , triagem primária, trituração, pátio de maturação primária , pátio

de maturação secundária .

Recepção , triagem primária, peneira rotativa, pátio de maturação primária ,

pátio de maturação secundária , beneficiamento

Algumas recomendações para as unidades que compõe a usina são:

recepção : prever balança rodoviária; fosso coberto e com sistema de

drenagem de percolado

triagem: utilizar motores a prova de água e pó , esteira com largura útil

mínima de 1 m e velocidade entre 6 a 12 m / min ; no caso de peneira usar tipo

rotativo, com seção circular ou sextavada , malha de , no mínimo 5 cm , e

rotação entre 12 a 20 rpm.

Pátio de compostagem : área deve incluir setores de peneiramento,

secagem e armazenamento do composto curado; leiras com altura entre 1,2 e

1,80 e larguras entre 2,5 a 4,5 m com formas que podem ser piramidal em cunha

ou tronco piramidada; sistema de drenagem de percolado.

Beneficiamento: peneiras rotativas de seção circular ou hexagonal , com

malha de cerca de 20 mm de abertura.

Outras instalações: posição adequada de acesso e segurança para

administração , viveiros de mudas e horta, e aterro com capacidade mínima de 10

anos de operação.

53

Page 56: GestÃo de Residuos sÓlidos

3.3 Processo biológico de compostagem

O processo de compostagem pode ser definido como um processo

controlado de decomposição da microbiana de oxidação e oxigenação de uma

massa heterog6enea de matéria orgânica no estado sólido e úmido.

O processo possue duas fases:

Fase 1 ou de bioestabilização: a temperatura eleva-se até , temperaturas

termofílicas na faixa ótima de 55 a 60 oC a qual deve ser controlada pela

revolvimento e pela unidade. Nesta fase , o composto possue características de

pH ( 6,0) e relação C: N ( 18:1) não danosas ao cultivo de espécies vegetais,

Fase 2 , denominada de cura, na qual as temperaturas são mesofílicas

( 45oC a 55 oC ) . Nesta fase a matéria atinge as características de húmus ( C:N

de 12:1 e pH entre 6,0 e 8,0)

3.4- Fatores que influenciam no processo

Os fatores que intervêm no processo e que portanto devem ser

controlados são:

Microrganismos: Os principais microrganismos são as bactérias , fungos

e actinomicetos. As bactérias são mais ativas na fase termófila , decompondo a

matéria orgânica em compostos menores, os fungos e o actinomicetos tem o

papel de decompor resíduos resistentes tais como materiais celulósicos

Unidade : a umidade é importante para permitir a atividade biológica. O

teor de umidade ótimo é 55 %

Oxigenação: é essencial para o processo, deve existir um concentração na

fase termófila de 5 % de O2 . Para o dimensionamento de equipamentos de

insuflamento recomenda-se uma taxa de 0,3 a 0,6 m3 de ar /kg de STV .dia

54

Page 57: GestÃo de Residuos sÓlidos

Temperatura: deve-se manter o processo inicialmente na faixa ideal de

temperatura em torno de 55 oC para a eliminação de ervas daninhas e

microrganismos patogênicos.

Relação C:N: a proporção ótima situa-se na faixa de 30 :1 e ao final do

processo deve ser 10:1. Relações mais elevadas tornam o processo mais lento,

enquanto proporções menores não possibilita a mineralização do carbono até a

eliminação do excesso de N na forma de amônia. Se o composto for disposto

com alta relação C:N haverá consumo do N do solo, em caso contrário, se a

relação for baixa, ocorrerá liberação de amônia que pode causas danos ao cultivo

pH : o processo conduz o pH incialmente ácido para alcalino

.Tamanho da partícula: o tamanho ideal está entre 1 a 5 cm, pois deve-se

permitir a aeração adequada.

3.5- Controle dos Impactos

Emanação de vetores: localização , ventos predominantes, cinturão verde,

operação eficiente, recobrimento de leiras durante os primeiros dez dias com uma

camada de composto maturado ( 45 % de umidade e 20 cm de espessura)

Proliferação de vetores: operação eficiente, limpeza de áreas e

equipamentos, cobertura da leira com material maturado

Produção de Percolado: operação das leiras com umidade de projeto,

aumento do ciclo de reviramento, incorporar composto maturado seco.

Produção de rejeitos: aterramento adequado.

3.6-Exemplo:

-Escolha do local de acordo com os critérios ambientais

-Dimensionamento da área necessária

-Dados:

produção : 13 toneladas de resíduo orgânico

peso específico 0,6 ton/m3

55

Page 58: GestÃo de Residuos sÓlidos

Dimensões adotadas para as leiras:altura: 1,50 m e largura de 3,0 m

Método natural ; Tempo do processo: 100 dias

-Área da seção reta (As)

-Volume da Leira (V) Comprimento da leira (C)

As = 3,0 x 1,5 =2,25

2

V = 13 = 21,67 m3

0,6

C = 21,67 = 9,63 m

2,25

adotado: 10 m

Dimensão da Leira: 1,50 x 3,00 x 10,00

Área da base: 10 x 3,00= 30,00 m2

Área para revolvimento: 30,00 m2

Área útil: 100 x 60= 6000 m2

Adota-se:

-área de estocagem de produtos recicláveis: 70 m2

-área de circulação e estacionamento : 10% da área útil

-área das estruturas de apoio (escritório, equipamentos): 100 m2

Área total: 6770 m 2

56

Page 59: GestÃo de Residuos sÓlidos

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Page 64: GestÃo de Residuos sÓlidos

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